Palavras Obscuras - 1x04 - Vingança Enigmática


Sinopse: Aparecida é uma escritora, uma mulher forte e decidida que, ao se dirigir até uma cidade vizinha para assistir à peça que ela mesmo escreveu, um misterioso acidente a leva ser considerada morta e o seu corpo carbonizado sepultado. Porém, antes mesmo que tivesse entrado no seu carro, Aparecida foi sequestrada e presa no porão da casa do inimigo de seu pai. Agora, diante de tal revés e ironia do destino, qual será o fim de Aparecida?



Vingança Enigmática
de Tânia Tonelli

 

Aparecida se dirigiu ao teatro municipal para assistir uma peça. Ela estava contente, pois era a autora da peça. Os personagens principais eram a sua irmã Josiane e o noivo dela Rodrigo. Todos os ingressos desta peça foram vendidos, pois estava fazendo sucesso na cidade. O teatro estava lotado, quase todos os alunos que estudavam na faculdade foram assistir à peça: O inimigo do meu pai. Assim que acabou a representação os atores foram aplaudidos. Depois essas pessoas se dirigiram ao buffet onde teve um coquetel para homenageá-los.

Josiane e Rodrigo estavam sendo parabenizados pela representação da peça. Então o convencido Sidnei se aproximou deles e falou:

- Meus amigos vocês são excelentes atores, a peça está fazendo sucesso na cidade Amora e daqui a alguns dias em todo Brasil.

- Obrigado Sidnei, a peça está fazendo sucesso porque foi escrita pela Aparecida, falou Josiane.

- Um bom texto nunca faria sucesso se não fosse representado por bons atores, falou Sidnei.

Rodrigo abraçou a sua noiva e falou:

- Meu amigo, obrigado pelos seus elogios, mas devemos reconhecer que o roteiro desta peça está ótimo.

Aparecida se aproximou deles e falou:

- Nós estamos de parabéns porque o roteiro e os atores desta peça são excelentes.

Assim que Aparecida terminou de falar essas palavras Rodrigo começou a aplaudir, todas pessoas que estavam neste coquetel também aplaudiram a moça. A cidade Amora localizava-se no centro do Estado de São Paulo, com quarenta e dois mil habitantes e se destacava na agricultura com o cultivo de laranja. Durante o dia Aparecida trabalhava em uma loja, à noite ela estudava no curso de letras. Às dezoito horas e quarenta e cinco minutos quando chegou na faculdade Felipe se aproximou dela e falou:

- Boa noite Aparecida, meus parabéns, no dia anterior eu assisti a peça O Inimigo Do Meu Pai, a estória é impressionante.

Emocionada, Aparecida falou:

- Obrigado Felipe, parabenize os atores, a representação deles estava ótima.

- Eu já elogiei Josiane e Rodrigo, agora estou parabenizando a escritora da peça, falou Felipe.

Aparecida ficou envergonhada, Felipe era um rapaz bonito que estudava jornalismo. Ela sempre disfarçava, mas gostava dele, então falou:

- Obrigado Felipe, se a sorte estiver do meu lado esta peça fará sucesso em todo Brasil.

- Sidnei pediu para lhe entregar este envelope, falou Felipe e entregou um envelope de carta a Aparecida.

Os dois conversaram por alguns minutos e se dirigiram às salas de aula. Aparecida achava Sidnei um cara convencido, ele era bonito, mas já havia ficado junto com quase todas as moças solteiras da cidade. Como a estava paquerando não lhe deixava em paz. Quando se sentou na carteira abriu o envelope, nele tinha um pedaço de papel escrito a seguinte poesia:

No final dos contos de fada

Branca de Neve, Bela Adormecida e Cinderela.

Ficaram com os seus príncipes encantados

Minha adorável escritora será que eu tenho

Chance de conquistar o seu coração?

Brava ela percebeu que detestava este cara, então pegou outro pedaço de papel e escreveu este poema:

Com A escrevo Amor

Com P escrevo Paixão

No céu, na lua e nas estrelas.

Estão escritos que você nunca conquistará o meu coração.

Porque somos apenas amigos!

No horário do intervalo ela se dirigiu a lanchonete da faculdade, quando se aproximou do Sidnei ele perguntou:

- Minha gata você aceita sair comigo no sábado à noite?

- Neste envelope está a resposta de sua poesia.

Ao acabar de falar essas palavras, Aparecida retornou para a sala de aula. Animado, Sidnei abriu o envelope e leu a poesia. Os seus amigos quando leram o poema tiraram sarro dele. Terminadas as aulas, Aparecida se dirigiu ao estacionamento, entrou no seu automóvel e voltou para casa. Ela era loira, solteira e com seus vinte quatro anos estava no quinto semestre do curso de letras. Os seus pais se chamavam Vanderlei e Mara, o seu pai trabalhava em uma padaria e a mãe era do lar.

A padaria em que Vanderlei trabalhava foi vendida, o novo patrão se chamava Gilberto Neves. Este homem era bom e deu um aumento salarial de vinte por cento aos seus funcionários. No domingo, como era dia de folga do Vanderlei, convidou o seu patrão para almoçar em sua casa.

Gilberto Neves era um homem alegre, ele tinha cinquenta e um anos, era solteiro e morava sozinho em um sobrado luxuoso. Enquanto faziam a refeição Josiane perguntou:

- Senhor Gilberto, não é difícil morar sozinho naquela mansão?

Sorrindo este homem respondeu:

- Não porque os meus três cachorros dobermann me fazem companhia.

A refeição prosseguiu alegremente. Passaram-se quinze dias, Josiane e Rodrigo foram convidados para fazerem a representação da peça na cidade vizinha. Contentes aceitaram o convite, pois exibiram a peça na sexta-feira, sábado e domingo. No sábado Aparecida se dirigiu a este município e foi ao teatro. Assim que terminou a peça os atores foram convidados para irem a uma festa. Aparecida recusou o convite porque iria a um baile e faria uma declaração amorosa ao Felipe. Ela se despediu dessas pessoas, e se dirigiu ao estacionamento. Enquanto voltava à cidade de Amora o seu automóvel bateu em uma árvore e se incendiou.

Passadas uns quarenta minutos uma família que estava no automóvel viu aquele veículo incendiado. Eles chamavam a polícia, os policiais acharam o corpo de uma mulher deformado. Então chamaram uma ambulância para levá-lo ao hospital. Felizes, Josiane e seu noivo voltaram para casa, quando viram os policiais e a ambulância Rodrigo estacionou o seu carro. Enquanto conversavam com o policial Josiane viu no chão perto do que sobrou do veículo queimado um pedaço de fotografia da sua família. Desesperada e chorando falou que a mulher que havia sofrido acidente era a sua irmã Aparecida. Como ela estava sofrendo demais, o seu noivo a levou ao hospital.

Rodrigo conversou com o médico que fazia plantão no hospital. Este homem comentou que o corpo daquela mulher estava irreconhecível, eles precisavam chamar o dentista para reconhecer o corpo através da arcada dentária. Como Josiane estava desesperada, o médico a mandou tomar um calmante. Na madrugada Rodrigo se dirigiu a casa do doutor Fabrício. O rapaz explicou ao dentista que a Aparecida tinha sofrido um acidente. Por ordem da polícia ele precisava ir ao hospital para reconhecer esse corpo através da arcada dentária.

O dentista ficou abalado, preocupado ligou o seu automóvel e o dirigiu ao hospital. Nervoso, ele entrou onde estava aquele corpo e pela arcada dentária reconheceu que aquela mulher era Aparecida Gomes. Às cinco horas Josiane voltou a sua casa, com a ajuda do seu noivo acordou os seus pais, chorando contou que Aparecida sofreu um acidente de automóvel e havia falecido. A dona Mara e o Vanderlei ficaram inconformados e choravam desesperados.

No velório de Aparecida teve muita dor e sofrimento. O enterro aconteceu no domingo às dezessete horas. Um repórter pediu ao cinegrafista para filmar o sepultamento desta mulher e esta reportagem apareceu no jornal de televisão. Com tanto sofrimento ninguém viu no sábado, mas enquanto Aparecida estava no estacionamento um homem colocou um pedaço de pano com sonífero no rosto dela fazendo-a desmaiar. Com a ajuda do seu parceiro colocaram ela no porta malas de um automóvel. Este homem entrou no veículo e foi embora, o outro entrou no carro de Aparecida, o ligou e entrou na estrada que conduzia a cidade de Amora.

No domingo às dezoito horas e quinze minutos enquanto passava o jornal a reportagem na televisão Aparecida ficou desesperada. Ela estava presa em uma sela com quatro metros quadrados. Naquele lugar tinha uma cama de solteiro, uma geladeira pequena, um sofá, no canto à direita tinha uma patente, perto dela estava a pia com uma torneira.

A televisão estava do outro lado das grades, em cima de uma prateleira a dois metros de altura. Chorando, Aparecida desesperada, tentava abrir a porta da cela e falava:

- Papai, mamãe não chorem por causa de minha morte. Eu estou viva!

Naquele momento abriram uma porta de madeira, apareceu na frente dela Gilberto Neves e falou rindo:

- Coitada! Esta moça deve estar sofrendo bastante!

Sem compreender o que estava acontecendo Aparecida falou:

- Senhor Gilberto Neves, por favor, me solte desta prisão.

Aquele homem deu uma gargalhada e falou:

- O meu verdadeiro nome não é Gilberto Neves, mas sim Guiomar Pereira.

Desesperada Aparecida falou chorando:

- O que eu fiz para o senhor mandar dois homens me sequestrar e simulou um acidente, os meus pais pensam que estou morta.

- Você não me fez nada, fiz este plano perfeito para me vingar dos seus pais, falou Guiomar rindo.

- O que o meu pai e a minha mãe fizeram para o senhor, pois deseja se vingar deles? Perguntou Aparecida.

- A vinte cinco anos eu, Vanderlei Gomes e Mara Silva morávamos na cidade de Jaú. Eu me apaixonei pela Mara, mas ela preferiu ficar com o seu pai. E para completar este homem me denunciou aos policiais porque desviei dinheiro do supermercado, respondeu Guiomar.

Furiosa Aparecida falou:

- Lugar de ladrão é na cadeia.

- Eu fiquei preso durante três anos, quando me libertaram fui a outro estado, falsifiquei os meus documentos, estudei, desviei dinheiro de vários burgueses e me tornei um homem rico, falou Guiomar.

Brava, Aparecida falou:

- Droga! Esta sua estória é muito parecida com a peça de teatro que escrevi.

Rindo ele falou:

- A minha vingança foi baseada na sua peça de teatro.

- Mentiroso! Aquele homem louco que sequestrou Aline usou a gargalhada de estimação dela para chamar a atenção da família e deixar pistas de sua armação, falou Aparecida.

Guiomar pegou do bolso direito de sua calça uma gargantilha com um crucifixo e falou:

- Esta joia é um dos seus objetos de estimação!

Furiosa, Aparecida gritou:

- Por favor, devolva o meu cordão!

Guiomar colocou esta jóia no seu pescoço e falou:

- Eu usarei este crucifixo para chamar a atenção de sua família.

- Tonto! Ninguém da minha família percebe que esta jóia é minha, falou Aparecida.

Aquele homem deu uma gargalhada, pegou do bolso esquerdo de sua calça um pedaço de papel e falou:

- Direi as pessoas que uma admiradora secreta me mandou esta poesia: Com A escrevo Amor

Com P escrevo Paixão

No céu, na lua e nas estrelas

Estão escritos o grande amor, que sinto por você

Pois lhe acho um homem especial

Meu querido príncipe encantado!

Sentindo raiva Aparecida falou:

- Fui eu que escrevi esta poesia, o senhor está roubando os meus direitos autorais.

- Acalma-se garota, acho melhor você comer algum alimento que está perto da geladeira, falou Guiomar.

Ao acabar de falar essas palavras ele foi embora, Aparecida ficou desesperada e chorou.

Na segunda-feira cedo, Guiomar se dirigiu a padaria. Ele deixou bem à vista no seu pescoço a gargantilha que pertencia a Aparecida. Sorrindo lia para as pessoas a poesia que recebeu de sua admiradora secreta. O seu Vanderlei ficou abatido com o falecimento de sua filha e não foi trabalhar. O patrão decidiu visitá-lo. Mara estava inconformada com o falecimento de sua filha e chorava. Vanderlei cumprimentou Gilberto Neves, mas estava triste.

Vendo o sofrimento desta família, Guiomar disfarçava, sentiu vontade de rir porque sua vingança foi perfeita. A prisão de Aparecida era na dispensa do sobrado daquele homem que foi construído no subsolo. Depois ele visitou sua prisioneira. Quando a viu falou:

- Garota, se por acaso você desejar comer algum alimento que não está ao seu alcance, por favor, avise-me.

Aparecida odiava aquele homem, disfarçando falou:

-Senhor Guiomar quem era esta mulher que foi enterrada no meu lugar?

- Era uma andarilha da cidade de São Paulo, respondeu Guiomar.

- Assassino! Gritou Aparecida.

- Garota você está enganada, pois nada fiz a aquela mulher, foram os dois homens que eu contratei que a eliminaram, falou Guiomar.

Algumas lágrimas saíram dos olhos de Aparecida quando falou:

- O senhor deve ter pagado bastante dinheiro para o meu dentista falar que a arcada dentária daquela mulher era minha.

- Eu entreguei para aquele mentiroso apenas cinco mil dólares, falou Guiomar.

- Quando eu sair deste lugar darei uma surra naquele homem, falou Aparecida.

- Você nunca o encontrará porque ele me falou que vai fugir com a sua amante, falou Guiomar.

Apavorada Aparecida falou:

- Aquele incompetente vai abandonar a esposa e os dois filhos pequenos.

- Fabricio sabe aproveitar a vida, falou Guiomar.

No dia seguinte cedo as pessoas ficaram inconformadas, pois o dentista abandonou sua esposa e os dois filhos.

Às dez horas Felipe se dirigiu ao escritório de Sidnei, quando ficaram sozinhos na sala ele falou:

- Meu amigo, por favor, me diga que eu estou maluco, pois tenho certeza que a gargantilha que está no pescoço do senhor Gilberto Neves é de Aparecida Gomes.

Sidnei ficou intrigado e falou:

- Aparecida Gomes está morta, no domingo nós fomos no velório dela. O dentista que reconheceu a arcada dentária dela nesta madrugada fugiu com outra mulher.

Surpreso Felipe falou:

- Então este homem pode ter mentido, talvez alguém deseja se vingar de Aparecida.

- Precisamos pegar as impressões digitais do Gilberto Neves para verificarmos a sua verdadeira identidade.

Os dois rapazes saíram do escritório e foram procurar aquele homem. Na praça em frente a padaria ele estava sentado em um banco fumando cigarro. Felipe disfarçou e comprou um maço de cigarros no bar. Então se aproximaram de Gilberto, como estavam fingindo que fumaram cigarros começaram a conversar com ele. Passados três minutos ofereceram cigarro ao novo amigo. Gilberto aceitou, com a mão esquerda segurou o maço e a direita pegou o cigarro. Depois de alguns minutos se despediram dele, afobados foram à delegacia.

Felipe era amigo de um detetive da polícia, com calma contaram que estavam desconfiados que o dentista tinha mentido quando confirmou que a arcada dentaria daquele cadáver era de Aparecida. Sidnei pediu para analisar as impressões digitais de Gilberto Neves, pois ele era o principal suspeito dessa possível armação. O detetive mandou o maço de cigarros ao laboratório, dentro de vinte e quatro horas ficaram sabendo de quem eram aquelas impressões digitais. No dia seguinte às oito horas Felipe e Sidnei retornaram à delegacia porque o detetive havia telefonado para eles. Após se cumprimentarem o detetive falou:

- Gilberto Gomes está usando identidade falsa, as impressões digitais do maço de cigarros pertencem ao Guiomar Pereira. Aquele homem é louco, já faz mais de seis meses que ele fugiu do sanatório.

Aparecida ficou à noite inteira acordada, então teve uma ideia de acabar com aquele pesadelo. Guiomar havia deixado algumas roupas na prisão para ela vesti-la, se tivesse vontade. Às sete horas colocou um vestido e calçou um par de sandálias. Assim que lavou o seu rosto penteou os cabelos, para completar passou batom nos seus lábios. Às sete horas e trinta minutos Guiomar foi visitá-la, quando o viu sorrindo falou:

- Bom dia Guiomar!

Espantado ele perguntou:

- Nossa! O que aconteceu que você está tão feliz?

- A sua presença me traz muita alegria, respondeu Aparecida.

- Garota pare de contar mentiras, falou Guiomar.

- Guiomar, estou com vontade de comer torta de presunto com muçarela e bolo de chocolate, falou Aparecida.

Bravo Guiomar falou:

- Eu sou um homem muito ocupado, mas como sou um cavaleiro atenderei o seu pedido.

- Por favor, traga uma garrafa de champanhe, falou Aparecida.

- Com licença garota, vou precisar ir à padaria comprar esta comida, falou Guiomar.

Passados vinte e cinco minutos aquele homem retornou ao local onde Aparecida estava presa sorrindo falou:

- Garota se sente na cama para eu poder abrir a porta.

Ela obedeceu às ordens de Guiomar, ele pegou o chaveiro do bolso direito de sua caça e com uma chave abriu a porta da sela. Ele colocou três sacolas plásticas no sofá. Sorrindo Aparecida perguntou:

- O senhor aceita tomar café da manhã junto comigo?

Ele pensou um pouco e respondeu:

- Como você é uma garota bonita aceito o seu convite.

Sorrindo, Aparecida pegou das louças sujas dois copos, dois pratos e dois garfos, os lavou na pia e os colocou sobre a cama. Ela abriu as três sacolas, pegou um prato plástico com a torta, na outra tinha uma bandeja pequena com o bolo de chocolate e na última a garrafa de champanhe. Sorrindo Aparecida falou:

- Guiomar, por favor, abre o champanhe.

Irritado ele pegou a garrafa de champanhe e a abriu, depois a entregou para Aparecida. Ela colocou esta bebida nos dois copos, então o convidou para comer os alimentos deliciosos. Guiomar comeu um pedaço de torta e outro de bolo, animado tomou dois copos de champanhe. Passados alguns minutos ele falou:

- Eu estou me divertindo com a sua companhia, mas preciso ir porque tenho vários compromissos.

Rapidamente Aparecida se levantou da cama, abraçou aquele homem e falou:

- Meu amor, você é o dono do meu coração!

Confuso Guiomar falou:

- Garota desde domingo estou com vontade de beijar a sua boca.

Aparecida deu um chute que acertou no estômago do carrasco. Enquanto ele ficou gemendo de dor, ela pegou o chaveiro para abrir a porta da cela. Apavorada pegou a primeira chave e não conseguiu abri-la, a segunda tentativa também foi negativa. Na terceira chave conseguiu abrir a porta, como Guiomar havia melhorado correu atrás de Aparecida e a derrubou no chão. Desesperada ela falou:

- Por favor, Guiomar não me machuque.

Rindo aquele homem pegou o canivete que carregava na cinta, o abriu e falou:

- Garota eu te libertarei dos sofrimentos deste inferno.

Guiomar queria enfiar o canivete no coração de Aparecida, neste momento abriram a porta de madeira. O detetive Alfredo pegou o seu revólver, deu um tiro que acertou na mão direita do bandido antes que ele machucasse a moça. Ele gritou porque sentiu dor e foi preso pelo policial. Felipe quando viu Aparecida deitada no chão, se abaixou e falou:

- Aparecida eu tinha certeza que você estava viva.

Ela abraçou o Felipe e falou:

- Felipe eu tive tanto medo que aquele homem fosse me matar.

O detetive chamou o delegado para vir naquela casa. Junto com os policiais vieram duas ambulâncias, Aparecida e Guiomar foram levados ao hospital. Sidnei telefonou aos jornalistas que trabalhavam no jornal, rádio e televisão e os avisou sobre esta notícia impressionante. Josiane, Rodrigo, Mara e Vanderlei ficaram surpresos e felizes quando souberam que Aparecida estava viva. Eles se dirigiam ao hospital para verem a moça. Quando viram Aparecida emocionados se abraçaram e ficaram felizes. Apesar do susto o médico confirmou que ela estava boa, mas precisou ir à delegacia depor e voltou para a sua casa. Guiomar assim que recebeu o atendimento médico foi transferido ao sanatório.

Esta notícia foi divulgada em todo o Brasil, os jornalistas comentaram que Sidnei desconfiou que Aparecida estava viva. Sidnei por ser o herói muitas fãs queriam manter contato com ele.

Na segunda-feira às dezoito horas e trinta minutos Aparecida retornou a faculdade. Emocionada viu Felipe e entregou um cartão com esta poesia.

Felipe agora que estou olhando nos seus olhos

Perderei o medo e confessarei

Como o amo demais

Enquanto estava naquele pesadelo

A única coisa que eu queria

Era poder vê-lo pessoalmente

Para poder abraçá-lo e beijar a sua boca!

- Aparecida eu também estou apaixonado por você, falou Felipe.

Felizes os dois se abraçaram e beijaram-se.




Conto escrito por
Tânia Tonelli

Produção Four Elements
Marcos Vinícius da Silva
Melqui Rodrigues
Hugo Martins
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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Palavras Obscuras - 1x03 - O Rei de Copas


Sinopse: Meses após lidarem com o caso do maníaco Lázaro, a polícia do Distrito Federal agora está enfrentando uma nova ameaça: Um psicopata muito mais perigoso e sagaz. Seu nome é Igor Ventura, que recebeu o codinome de “Rei de Copas”. Diego, um detetive que participou do caso do maníaco, agora está movendo céus e terras para deter este novo criminoso, mas a tarefa não será nada fácil. Igor tem recursos, informantes por todos os lados e consegue facilmente manipular quem ele quiser. Para Igor, matar não é apenas um crime, é uma obra de arte! As cartas estão na mesa, todas as peças estão em seu devido lugar, a cidade de Brasília será o palco de uma caçada brutal e violenta, e nessa caçada, vence o último que ficar de pé.



O Rei de Copas
de Melqui Rodrigues

 

“Matar não é um crime, matar é uma obra de arte”.
-Igor Ventura
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O que leva alguém a se tornar um criminoso? Qual conceito patológico é comprovado de que uma pessoa tenha tendência a ser um psicopata? Teria sido a criação dos pais? Teria sido algum trauma de infância? Um amor não correspondido? Uma meta não alcançada?

Vivemos e morremos e seguimos repetindo essa onda de crimes por todo o Brasil. Pai matando filho, filho matando pai, discussões banais que resultam em morte. Hoje em dia tudo é motivo de provocar briga e nos mais extremos casos: A morte. Diferenças políticas, religião, orientação sexual, e até mesmo casos mais banais como falar mal do seu time do coração, ou quando alguém prefere a janela fechada no ônibus e outro prefere aberta.

Tudo isso citado acima pode transformar a mente de um ser humano, mas existem aqueles que conseguem se sobressair, que estão completamente atrelados ao mal extremo... Muitos até dizem que essas pessoas têm pacto com o próprio demônio.

Verdade ou não, sabemos que o verdadeiro inferno é onde nós vivemos, e na cadeia alimentar da vida, se você é jogado em uma jaula de feras, a única forma de escapar... É se tornar uma delas.

Lago Norte, Brasília-DF. 18 de Dezembro de 2021.

Uma jovem de aparentemente 20 anos, rosto angelical, cabelo castanho e amarrado pra trás, está juntamente com sua mãe, uma mulher de uns 40 anos, cabelo loiro e curto até os ombros, elas estão correndo em uma casa gigantesca e se escondem debaixo da mesa da cozinha.

A garota está chorando e bastante nervosa, sua mãe tenta acalmá-la.

— Shh, shh! Você precisa ficar calma, filha. A gente vai sair dessa, eu prometo.

— Não! O papai tá morto, os cuidadores da casa também... Vamos morrer!

— Não, eu não vou deixar você morrer. Escuta, fique aqui escondida, eu vou tentar alcançar o telefone.

— Não, mãe! Não, pelo amor de Deus, não me deixa aqui sozinha, ele vai me matar! Ele vai matar a gente, mãe. Por favor, por favor...

— Shh, fala baixo, filha, por favor! Ele tá lá encima, se eu consegui chegar a tempo no telefone da sala, vamos ligar pra polícia e assim a gente dá um jeito de sair sem sermos vistas, entendeu?

— Tá bom!

— Eu te amo!

A mãe sai debaixo da mesa e vai andando a passos “de gato” até a sala, ela se assusta ao ver um de seus criados no chão com a garganta cortada.

— Meu Deus, meu Deus!

Ela ouve um barulho, precisa se apressar e tentar achar o telefone o mais rápido o possível.

De lá de cima, do topo das escadas, vemos a silhueta de um homem, ele está vestindo um traje preto e usando uma máscara prateada de lobo. Ele pega uma faca, começa a descer as escadas e fica passando a faca na parede pra que possa ser ouvido um barulho agoniante.

A mulher está discando pra polícia, ela se agacha no canto da mesinha do telefone. Uma policial atende.

— Polícia Militar, boa noite!

— (Sussurrando) Por favor, por favor, eu preciso que... Eu preciso que venham até a minha casa no Lago Norte. Fica perto da administração regional, é a casa 6. Meu marido foi morto por um homem e agora ele está atrás de mim e da minha filha.

— Ok, senhora, já estamos providenciando a ajuda.

— Por favor, sejam rápidos.

O barulho da faca passando na parede aumenta a cada vez mais e a mulher fica desesperada. Ela tenta se esconder atrás da enorme árvore de natal posta em sua sala.

O criminoso desce as escadas e vai andando tranquilamente e não parece ter pressa nenhuma em terminar o que começou. Ele para por instantes, observa o local, tenta ver se ouve algum barulho incomum.

Na cozinha, a garota está tão desesperada que sua respiração fica ofegante, a ponto de poder ser ouvida a uma certa distância. O assassino parece ter escutado os gemidos vindo da cozinha e se direciona pra lá.

A mulher estando escondida atrás da árvore percebe que ele está indo pra lá e pensa em fazer alguma coisa. A jovem continua debaixo da mesa, apenas a toalha a está escondendo, ela percebe passos se aproximando dela e tenta segurar o máximo a respiração.

O assassino parece gostar de fazer tudo em passos lentos sem a menor pressa de ver o resultado, ele está parado de pé bem atrás da mesa, lá debaixo a garota está com os olhos fechados lacrimejando e quase tendo um ataque de pânico. Ele vai se agachando aos poucos pronto para levantar a toalha da mesa, nesse instante a mulher aparece por trás o atingindo com um vaso na cabeça.

— Deixa a minha filha em paz!

O criminoso parece nem ter sentido a pancada, a mulher observa a relutância dele e grita:

— Janete, corre!

Janete sai de baixo da mesa e corre para o lado, o criminoso tenta alcança-la e sua mãe agarra o seu braço com força.

— Mãe!

— Corre, filha! Corre!

Janete sai correndo dali, enquanto isso o assassino bate com a testa na mãe da garota, ela cai no chão atordoada. Ele a levanta e a apunhala com uma facada no estômago.

— Aaaai!

Em seguida, ele levanta a mulher e a encosta na parede. Ele sussurra pra ela:

— Não deveria se meter, sua corrupta do caralho!

Ele pega a faca e mergulha várias vezes contra o pescoço da mulher, o sangue jorra por todos os lados e suja a sua máscara de lobo. Ao ver que a mulher já está completamente sem vida, ele tira sua máscara e finalmente podemos ver o teu rosto.

Ele é Igor Ventura, 1,70, cabelo acizentado, barba por fazer, tem uma tatuagem no braço esquerdo, algumas pequenas tatuagens nas mãos, usa anéis exóticos e um brinco em formato de cruz na orelha esquerda.

Ele tira todo o traje que está usando naquela ocasião e observa a carnificina que ele mesmo fez.

— Ai que droga! Odeio me sujar com o sangue desses porcos!

Enquanto isso, Janete está tentando sair de casa e não consegue, todas as portas foram trancadas.

— Por favor, alguém me ajuda! Socorro! Alguém!

Enquanto clama por ajuda na porta de vidro, Igor a pega pelo pescoço arrastando-a pra trás.

— Shh, shh, ninguém pode te salvar, querida.

— Por favor, deixa a gente em paz! O que nós fizemos?

— “O que nós fizemos”? Pergunta pro filho da puta do teu pai e pra vadia da tua mãe. Ah é, eles não podem te responder agora, pois estão bem mortinhos.

— (Em desespero) Não, meu Deus!

— Gosto desse teu cheiro, esse cheiro de uma jovem virgem, é tão excitante matar jovens virgens. (Fala lambendo as orelhas da garota)

— Eu não fiz nada! Me deixa ir embora, por favor!

— Você é tão corrupta como os teus pais! Pensa que eu não sei você adulterou o resultado da bolsa da faculdade da tua amiga pra que ela não conseguisse passar?

— O quê? Eu não...

— É, mocinha. Eu sei de tudo e não adianta me enganar. Agora você vai se juntar aos seus pais lá no inferno, adoraria transar com você antes de te matar, mas felizmente pra você eu não sou um estuprador... Então, diga adeus, meu anjinho!

Igor enfia faca no estômago de Janete.

— Ahhhhh!!

— Shh, shh, calma, tá tudo bem, tá tudo bem.

Ele volta a enfiar a faca novamente.

— Não vou estragar seu rostinho como fiz com os outros, você terá uma morte pura.

Ele dá outra facada nela, esta começa a agonizar aos poucos. Ele beija a sua boca e de maneira doentia começa a lamber o sangue que escorre dela.

— Que delícia! O sangue das virgens são sempre os mais saborosos!

Janete não consegue mais ter nenhuma reação, ela lentamente fecha os olhos e morre.

Igor se levanta, observa a garota morta, em seguida ele vai até o telefone e disca pra alguém.

— Oi, é da polícia? Eu sinto muito pelo ocorrido, a minha esposa estava discutindo com o cunhado e qualquer coisinha ela já fica paranoica querendo chamar a polícia, mas tá tudo resolvido, não precisam mandar ninguém pra casa próxima da administração regional. Eu sinto muito por fazer vocês perderem o tempo de vocês... Até logo e feliz natal antecipado!

Igor desliga o telefone, ele vai até um canto da sala onde tem um bar, ele pega uma garrafa, liga o rádio e diz:

— Bom, agora sim vou poder fazer minha moldura.

Nesse meio tempo, Igor reuniu todas as pessoas que ele matou dentro daquela casa até a sala, ele pega umas cordas, um machado e vários outros acessórios, não se sabe necessariamente o que ele vai fazer com isso.

Mas ele está sempre com uma taça de vinho toda vez que pega alguma coisa, ou muda algo do lugar.

Mais tarde, ele pega galões de gasolina e joga por toda a sala, a árvore de natal está um pouco mais atrás.

O trabalho durou horas, mas depois que aparentemente terminou, ele pega uma poltrona e coloca na frente da sala. Ele se senta, pega uma taça de vinho e de maneira elegante observa o que acabara de fazer. Ele pega um isqueiro, acende um cigarro, dá uma tragada de leve, seu olhar pleno, sexy, sem demonstrar nenhum tipo de emoção... Ele acende o isqueiro novamente e joga no meio da sala e o fogo começa a se espalhar.

Quando o fogo está subindo, vemos uma imagem macabra talvez nunca antes vista ou feita por alguém, o corpo de Janete está amarrado no meio da sala no alto, e partes de braços e pernas de outras pessoas estão costuradas no dela. De longe, dá-se a ilusão de que são asas de anjo, e ela está bem na frente da árvore de Natal. Um verdadeiro cenário de caos, um verdadeiro crime com requintes de crueldade...

Igor pega uma carta de baralho, olha para a sua “arte” e diz:

— Mais um trabalho bem feito... Não é a toa que eu sou o Rei de Copas.

Em todos os noticiários locais e também nacionais, repórteres e jornalistas estão anunciando os crimes feitos por Igor Ventura.

— Igor Ventura, o psicopata conhecido como “Rei de Copas” fez novas vítimas...

— As vítimas dessa vez foi a família do secretário da administração regional no Lago Norte...

— Esse já é o quinto caso em menos de 3 meses...

— O Modus Operandi do assassino é sempre deixar uma carta de baralho como símbolo de seu crime após matar as vítimas...

— Igor Ventura é procurado por toda a polícia do Distrito Federal e nunca se sabe onde ele está localizado...

— A PM do Distrito Federal disse que esse é o caso mais difícil desde o maníaco Lázaro que assassinou uma família inteira na cidade da Ceilândia e acabou sendo pego em Águas Lindas de Goiás após uma operação de 20 dias...

— O Rei de copas, assim está sendo conhecido esse criminoso que atende pelo nome Igor Ventura...

— Voltaremos com mais informações em breve e esperamos descobrir o paradeiro do criminoso...

Lago Norte, Brasília-DF, 19 de Dezembro de 2021.


A perícia juntamente com alguns policiais se encontram na casa onde ocorreu o crime na noite passada. Entre eles está o detetive Diego (1,75 de altura, físico delgado, cabelo ondulado, olhos claros). Ele está olhando toda a bagunça que o assassino deixou, um de seus colegas vai até ele entregando-lhe uma carta de baralho.

— Chefe! Encontramos isso aqui.

Diego pega a carta e fica enfurecido se segurando pra não esmaga-la. Neste momento, sua outra colega Salete (loira, usa o cabelo preso pra trás, pele clara) chega até ele.

— Pelo visto ele fez de novo, não é?

— Quem esse maldito pensa que é? Ele está brincando com a polícia, fazendo de todos nós gato e sapato.

— E olha que pensávamos que o Lázaro fosse dar trabalho pra a gente, hein? Veja só a situação que estamos.

— Mas o pior de tudo é que o Lázaro era “bicho do mato”, vivia fugindo pela mata e era extremamente escorregadio, esse aqui não. Ele gosta de deixar evidente o que faz, não tem medo de ser pêgo, parece que gosta de exibir seus triunfos.

— E sabe o que mais me intriga, Diego? Ele só mata pessoas que tem uma certa relevância ou... Cargo de muito prestígio. Ainda não vi nenhum caso dele matar uma dona de casa de classe média, por exemplo.

— Sim, isso também me deixa...

Alguém da perícia interrompe.

— ... Senhores! Vão gostar de ver isso.

— O que aconteceu?

— Nós tivemos acesso ao notebook do secretário. Encontramos depósitos feitos na conta bancária dele e adivinha? Ele e a mulher extraviavam o dinheiro recebido da administração regional para as suas contas pessoais.

— Puta que o pariu!

— É, e tem mais! A filha deles, Janete, ela falsificou uma carta de admissão de uma amiga pra que ela não conseguisse a bolsa pra faculdade. Tudo isso foi deixado mastigado aqui no notebook, até parece que queriam que a gente encontrasse.

Salete argumenta:

— Com certeza queria que a gente encontrasse.

— Aquele filho da puta... Isso não vai ficar assim... A gente vai dar um jeito de pegar esse desgraçado.

Igor está muito mais a frente que qualquer pessoa ali, e isso é notório. Passou-se o natal, as notícias sobre “O rei de copas” continuam a circular. Antes temido e procurado pelas pessoas, Igor agora está sendo idolatrado,amado... Pessoas começam a imprimir cartazes com o seu rosto alegando total aprovação a ele.

A polícia se sente recuada, como pode a população está defendendo um bandido descaradamente? Diego está bastante incomodado com toda essa situação.

Dias depois...

Já é Janeiro de 2022, Igor está em seu apartamento e tem dois homens ali com ele. Ele termina de carimbar alguns convites e entrega para os rapazes.

— Bom, faça o possível pra que esses convites sejam entregues e assegurem a vinda de todos eles. Esse baile de máscaras tem que ser inesquecível! Vai ser a noite onde eu vou colocar os pingos nos “I” na porra dessa cidade. Ah! Não se esqueça de convidar nossos amigos policiais também, eles não vão querer perder a oportunidade de virem atrás de mim.

— Ás suas ordens, senhor!

E como foi pedido, o convite para o baile de máscaras foi chegando para várias pessoas em vários cantos do Distrito Federal, pelo visto são pessoas escaladas a dedo pelo próprio Igor. O mais curioso é que ele não é um bandido qualquer, possui recursos e consegue lucrar com tudo o que faz, onde está o segredo de tanto sucesso mesmo sendo um procurado pela polícia? Os convites não param de chegar e até surpreende algumas pessoas.

— Quê? Baile de máscaras? O que esse filho da puta tá pensando? – Esbravejou Diego após receber o convite. Salete e Eduardo tentam acalmá-lo.

— Calma, Diego. Talvez essa seja a oportunidade de pegarmos de vez esse infeliz.

— Ela tem razão, Diego. Senão por que ele iria mandar esse convite?

— E se for uma armadilha? Talvez esse idiota queira pregar uma peça na gente.

— Mesmo se for uma peça, nós iremos preparados. Colocaremos policiais apaisana pra estarem na festa e nós também estaremos lá fingindo que somos convidados normais.

— Diego, o Eduardo tá certo. Com certeza o delegado Marcelo vai aprovar a operação, essa pode ser nossa única chance de pegar ele.

— Droga! Droga! Ok, vamos à essa maldita festa! Mas eu só vou porque quero ter o prazer de prender pessoalmente aquele desgraçado.

Horas depois, Igor está em seu apartamento terminando de conversar com seus comparsas.

— Já foi tudo entregue como combinado?

— Sim, senhor!

— E os policiais? Receberam o convite?

— Sim, senhor! Só não temos certeza se virão.

— Com certeza eles virão... Ah, Fábio! Lembre-se que no dia da festa você terá uma outra missão pra mim, não ouse falhar.

— Deixa comigo, chefe!


— Bom, sábado teremos a maior festa de nossas vidas... Esse baile de máscaras será o renascimento de uns... E a sepultura de outros.

Sábado- 8 de Janeiro, dia do Baile de Máscaras.


Diego, Salete e Eduardo estão devidamente trajados para o baile promovido por Igor. O delegado Miguel dá as ordens.

— Eu sei que no fundo vocês estão achando essa missão até mesmo “ridícula”, mas esse é o único jeito de pegar esse infeliz, finjam o quando puderem. Nós vamos mandar guardas armados disfarçados. Se as coisas piorarem, chamem reforços!

Todos falam em uníssono:

— Sim, senhor!

Casa de Festas, Asa Sul, Brasília-DF.

Chegou a grande noite da festa, os convidados estão aos poucos chegando ao local, todos eles muito bem vestidos usando suas máscaras exóticas. Em um local do salão, há mulheres seminuas fazendo danças sensuais com máscaras, a festa de luxo também é um mar de drogas, bebidas e tudo o que o “diabo gosta”.

Diego, Salete e Eduardo chegam à recepção, eles entregam os seus convites e entram no salão. Salete argumenta:

— Pra um criminoso, até que ele tem bom gosto pra ornamentação, hein?

— Deixa de ser tola, Salete! Esse lugar é praticamente um prostíbulo!

— Desculpa, é apenas a minha humilde opinião.

Lá dentro há um palco com uma passarela típica de desfiles, um homem aparece ali pegando um microfone pra dar um recado a todos.

— Senhoras e senhores, sejam bem vindos à essa noite especial! Espero que estejam desfrutando de todo o conforto e melhor atendimento possível aqui. Mas antes de darmos continuidade a esta festa, quero que aplaudam o nosso anfitrião e responsável pela realização desse evento.

Todos começam a aplaudir, Igor aparece muito bem vestido e com uma máscara de ferro dourada, ele vai até a ponta do palco, pega o microfone pra si e espera até que todos façam silêncio. Diego está lá atrás observando juntamente com os outros.

— Boa noite, miladies! Boa noite, milordes! Não vou tomar o tempo de vocês, só vim avisar que... O proibido não existe nesta festa, estão liberados pra fazer o que bem entender. Esta noite, sintam-se à vontade para cair nas tentações e sejam quem vocês quiserem ser... Aproveitem a festa!

Todos o aplaudem eufóricos, Igor sai de retirada ainda ovacionado pelo público que segue os festejos brindando. Diego decide ir atrás dele.

— Eu vou procurá-lo.

— Espera, Diego! Não vá sozinho!

— Se formos juntos, Salete. Vamos levantar suspeitas.

— Então deixa pelo menos o Eduardo ir com você, ele pode tá armado.

— Mas e você?

— Eu? Eu vou “aproveitar a festa”. Ah brincadeira, vou tentar descobrir algo, vão depressa!

Diego e Eduardo entram no meio da multidão pra ir atrás de Igor, Salete vai até um bartender.

— Oi, me vê uma caipirinha, por favor!

— É pra já, moça!

Águas Claras, Brasília-DF, 20h30.

Jéssica, a esposa de Diego chega à sua casa após um dia de trabalho e com algumas sacolas de compras nas mãos. Ela deixa as sacolas encima da mesa e depois vai até a geladeira. Ela abre a porta, pega uma jarra de suco de laranja de lá de dentro e coloca na pia. Ela pega um copo, coloca o suco no mesmo e enquanto mata a sua sede, um ruído é ouvido no corredor da casa perto das escadas.

Jéssica para de beber o seu suco e fica em silêncio por alguns segundos até que ela decide chamar pelo marido.

— Diego? É você?

Nenhuma resposta ela obteve, então ela ignora qualquer coisa e volta a colocar o suco dentro da geladeira. Em seguida, ela começa a tirar as coisas que comprou das sacolas separando-as em cima da mesa. Enquanto faz isso, ela ouve um barulho de miado.

— Ai, Fadinha! É você? Espera um pouco, eu vou levar a ração pra você.

Jéssica abre o armário da cozinha e pega um pacote de ração, ela pega a vasilha da gata que fica próxima à pia e coloca a ração dentro e vaga pela casa procurando a gata.

— Fadinha, pss pss pss, cadê você, meu amor?

Ela ouve no andar de cima um barulho ainda mais forte e escuta a gata miando como se estivesse com muita raiva ou vendo algo que não se agradou.

— Fadinha?

Ela sobe as escadas ainda com a vasilha de ração nas mãos e chega ao corredor dos quartos.

— Fadinha? Cadê você?

Ela vê a porta de um dos quartos semiaberta. Jéssica se aproxima, começa a abrir a porta vagarosamente.

— Fadinha?

A gata aparece de vez pulando em cima dela arranhando o seu braço fazendo com que Jéssica derrube a ração no chão, e em seguida sai do quarto disparada e vai pelo corredor.

— Ahh! O que deu em você?

Jéssica com um arranhão no braço e de costas no corredor, não percebe que alguém está se aproximando dela vagarosamente sem que possa ser ouvido os seus passos.

Ela fica um tempo observando os seus arranhões e sente como se algo a estivesse observando. Ela começa a olhar vagarosamente pra trás e vê um homem de capuz usando uma roupa preta e uma máscara de lobo prateada.

— Aaaaahh!!

O homem tenta acertá-la com uma espécie de punhal e Jéssica desvia dele, ela cai no corredor, se rasteja indo pra trás, mas de frente pra ele.

— Quem é você? O que você quer de mim?

O homem a segura pelas suas pernas, ela fica de bruços no chão, começa a se debater e no embate acerta um chute na cara do homem. Jéssica se levanta, tenta correr pra alcançar a escada, mas o homem se recupera rápido, a alcança, puxa os seus cabelos e a arremessa contra a parede do corredor.

Ele a pega pelo pescoço, faz com que ela fique de pé contra a parede, a respiração dela começa a ficar fraca, quando estava prestes a perder as forças, Jéssica chuta as partes íntimas do criminoso e dá uma cabeçada nele. Ela tenta se recuperar, pega impulso pra escapar, chega até as escadas, começa a descer os degraus desesperada.

— Socorro! Socorro! Diego!

Ela vai até a porta, tenta abri-la, mas chaves não se encontram mais ali.

— DROGA! DROGA! ABRE!

No topo da escada, o assassino aparece zombando de Jéssica balançando a chave de sua casa.

— Como que...? Quem é você? O que quer de mim?

Enfim podemos ouvir a voz do assassino:

— Você será a peça mais importante desse baralho.

Cerca de meia-hora se passou, Eduardo entra em quarto procurando por Igor na casa de eventos, ele vasculha aquele quarto e quando está prestes a sair, recebe um golpe na cabeça e cai desmaiado.

Minutos depois, vemos Diego entrando em uma sala espaçosa no subsolo daquele prédio. Ele está andando pela sala verificando o local, ele puxa a arma e a segura firme.

Enquanto faz isso, Igor aparece vindo pela outra porta.

— Ora, ora, ora... E não é que o nosso policial herói veio aqui?

— Parado aí mesmo, Igor! Você está preso pelas dezenas de homicídios que cometeu nos últimos meses.

— Ah, blá, blá, blá, blá... Sabe o que eu odeio em vocês policiais? Que vocês só enxergam aquilo que seus olhos querem ver, não enxergam que há muito mais podridão nesse mundo do que um assaltantezinho de esquina. Vocês vivem barrando o trabalho honesto dos camelôs na rodoviária, tratam os mendigos como aberrações... E acham que pessoas como eu que são os monstros? Eu vou te dizer uma coisa, detetive! E é bom que fique bem claro isso: Você tem muita sorte de não ser como os policias corruptos que eu conheço, mas tem uma coisa que eu odeio em você.

— Ah é? E o que é?

— Esse maldito dom de omitir aquilo que está debaixo do teu nariz.

Igor pega seu celular e mostra na tela um vídeo. Neste vídeo, está Jéssica amarrada em uma cadeira pedindo socorro.

— Por favor! Me deixa em paz! DIEGO!!

— Je... Jéssica, o que você fez, seu filho da puta?

— Esse é o preço que se paga quando você não faz o seu trabalho de policial direito.

— Minha esposa não tem nada a ver com isso! Solta ela, seu desgraçado!

Diego fica furioso, está disposto a atirar em Igor.

— Isso! É assim, é assim que eu quero... Essa é a reação que eu queria que você tivesse.

— Eu vou matar você... EU VOU MATAR VOCÊ!

— Não, não vai não. Sabe por quê? Porque agora a tua esposa está nas minhas mãos, coleguinha. Um telefonema que eu fizer, e ela morre.

— Seu, seu imundo! A Jéssica é inocente! Ela é inocente, ela não...

— ... Eu também já fui inocente um dia, caralho! Mas essa vida... Essa sociedade de porcos mercenários... Me corrompeu. E agora eu sou o que sou (Ele tira a arma da cintura). Agora... Abaixa a sua arma.

— Não!

— Não me faça pedir de novo. Ou abaixa essa arma, ou eu mato a tua esposa. Espera, acha mesmo que eu não sou capaz? Um momento... (Ele disca um número no celular) Oi, Fábio? Sobre a vaca que tá com você... Pode se livrar de...

— ... Não! Não, por favor! Por favor, a Jéssica não, a Jéssica não!

— LARGA A PORRA DESSA ARMA... AGORA!

Diego não vê outra saída, coloca a sua arma no chão lentamente.

— Chuta ela pra longe!

Ele chuta a arma a uma distância que ele não possa alcançar.

— Agora sim... Somos só eu e você. Finalmente teremos a chance de ter o nosso acerto de contas, detetive Diego. Ou melhor dizendo... Priminho.


A vida tem maneiras cruéis de nos castigar, seja por um acidente, uma fatalidade, uma morte familiar, ou na pior das hipóteses... Ter o mesmo sangue de seu pior inimigo. Diego não tem mais saída, terá que enfrentar o verdadeiro demônio, terá que enfrentar... O rei de copas.

 

                                                               FIM?



Conto escrito por
Melqui Rodrigues

Produção Four Elements
Marcos Vinícius da Silva
Melqui Rodrigues
Hugo Martins
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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O Diabo Mora ao Lado Conto

O Diabo Mora ao Lado Conto

WEBTVPLAY APRESENTA
O DIABO MORA AO LADO



Conto de
Eduardo Canesin




© 2020, Wattpad.
Todos os direitos reservados.

 ***

– Cara, o diabo mora do nosso lado! – disse Guilherme, num misto de medo fingido e excitação.

Guilherme era meu amigo desde sempre. Juntos, metemo-nos nas mais variadas encrencas. Por causa dele, aliás, dei-me mal mais de uma vez. Fui expulso da faculdade, porque fomos flagrados furtando o gabarito das provas; fui demitido, pois faltava com frequência para participar de alguma aventura com meu camarada; até mesmo torrei todas as minhas economias, tentando abrir um negócio e me tornar um empreendedor, devido aos seus incentivos.

Ele sempre me botava nas maiores enrascadas, mas, também, me arrumava oportunidades únicas: lindas garotas e algumas drogas, quando íamos às festas e, além disso, internet e televisão ilimitadas, graças ao “gato” que ele deu nas companhias. Isso para não dizer que estava sempre do meu lado, para me ouvir e aconselhar, não importava a situação.

Em resumo, era uma amizade que fiz no jardim da infância e que me acompanhava ao longo do tempo, mesmo agora, quando já estava no começo da vida adulta. Por conta disso – e porque nenhum dos dois tinha muito dinheiro para o aluguel – decidimos dividir um apartamento. Foi uma decisão acertada e era muito legal.

Eu trabalhava como office boy num escritório de contabilidade. Não é um trabalho empolgante, mas é o que tínhamos para hoje. Não sei direito o que meu amigo fazia, mas sabia o que ele queria fazer: tornar-se um influenciador digital.

Teve, então, a ideia de criar um canal de terror. Não era uma ideia brilhante ou original, mas, mesmo assim, decidi apoiá-lo, já que é para isso que servem os amigos. Até lhe emprestei algum dinheiro, para que comprasse uma câmera nova.

Ele decidiu, então, fazer pesquisas na rede, para ver os principais tópicos do terror – e coisas que pudesse explorar em seus programas. Fazendo algumas buscas, eis que descobriu um blog com diversas teorias da conspiração e causos sinistros: os temas de sempre na internet. E, agora, surgia a ideia de que o diabo morava ao lado…

– Mas que papo doido é esse, cara?

– Vixi, olha só aqui… tá falando de um ser demoníaco que destrói a vida das pessoas, sugando a energia vital e tudo o mais. O “retrato falado” do bicho é igualzinho ao do nosso novo vizinho.

Isso não era completamente verdade: a ilustração que o blog trazia era genérica o bastante para que qualquer um se encaixasse nela, desde que usássemos a imaginação. Mas é certo que nosso vizinho até que levantava certa suspeita e seria um forte candidato a representar o mal encarnado.

Ele se mudara para nosso prédio havia pouco mais de um mês. Chegou sem causar estardalhaço, fazendo toda a mudança durante uma noite de sexta-feira. Quem se muda numa noite de sexta-feira? Ele era magro, alto, de meia idade e tinha os ombros curvados. Era tão pálido que, se não fosse o diabo, poderia ser um vampiro – não fosse a aparência de indivíduo doente e fragilizado, a qual tirava um pouco de sua aura vampírica. Além disso, era dentuço e usava óculos com aros grossos.

Tudo isso foi constatado após o ver uma ou duas vezes no corredor do prédio, sempre de noite, quando eu estava chegando em casa do trabalho e ele saindo (seja lá o que fosse fazer). Ele passava reto, de cabeça baixa, não cumprimentava e nem olhava para o lado. Era, indubitavelmente, uma figura estranha.

Não me surpreenderia se descobrisse que ele era pedófilo. Ou comunista. Ele tinha cara de pedófilo comunista. Nunca encontrei um pedófilo comunista na vida, mas sabia que, sem sombra de dúvida, teria aquela cara. Justamente por isso, antipatizei com ele logo de início.

Sequer sabia seu nome ou sua história, mas já tinha a certeza de que boa coisa ele não era. Guilherme me dissera, mais de uma vez, que o ouviu fazendo barulhos estranhos durante o dia. Sempre que não tinha trabalho (na maioria do tempo, portanto), meu amigo ficava em casa; ele me contou que nosso vizinho sempre fazia esse barulho estranho – ou alguma outra coisa suspeita, que chamasse a atenção, como dar pancadas na parede.

Aparentemente, o diabo também não trabalhava e só saía de casa esporadicamente, de noite.

Confesso que fiquei curioso com essa história de diabo. Não acreditava nessas coisas, tampouco que nosso vizinho pudesse sê-lo, caso o mal absoluto existisse, mas despertava um certo interesse. Ainda que não fosse o mal encarnado, ser pedófilo comunista era algo horrível, certo?

Olhando mais de perto para a imagem que meu camarada me mostrava, notei que, no fim das contas, ele até se parecia mesmo com o nosso vizinho. Sem dúvida uma coincidência. Falei isso para Guilherme, mas ele insistia que era bem possível que fosse um fato, dado que o sujeito era tão esquisito… “sempre duvidamos da existência do mal, até que sejamos arruinados por ele”, falou-me, taciturno.

Vimos as descrições que o blog colocava como sendo o modus operandi do monstro. Não era, aliás, nada muito diferente do que a maioria dos monstros fazem: arruinava a vida das pessoas, matava inocentes, perseguia as vítimas. Nada muito detalhado, apenas essas generalidades que descrevem o mal e os maus.

Dei de ombros e fui dormir. O dia fora cansativo, precisava descansar.

Nos dias e semanas seguintes, Guilherme cada vez mais enchia meu saco com essa história de o diabo morar ao nosso lado. Ele contou que os barulhos que nosso vizinho fazia eram, cada vez mais, sinistros e assustadores – e que ele estava preocupado.

Perguntava-me porque uma pessoa dessas não era despejada do prédio… provavelmente porque ninguém reclamava ou, talvez, porque ele apenas fizesse esses barulhos à tarde, quando as pessoas estavam trabalhando. Aparentemente, apenas Guilherme estava no edifício e, portanto, apenas ele seria incomodado.

– Cara, o diabo mora do nosso lado, tô te falando.

– Tá, mas o que você quer que eu faça? É melhor a gente se benzer, só isso.

– Pior que não, cara… acho que a gente pode fazer algo grande. Eu acho que os barulhos que eu ouço aqui são de crianças. Acho que ele tem reféns no apartamento dele.

– Isso parece absurdo – afirmei, desconfiado. Faria sentido um pedófilo ter crianças como reféns, por isso liguei um alerta na minha cabeça.

– Espero que sim, mas como a gente ficaria se depois descobríssemos que ele matou pessoas aqui e a gente não fez nada para impedir?

– Mas o que podemos fazer?

– Ora, a gente deveria entrar no apartamento dele algum dia, quando ele saísse. Pelo que percebi, ele sai toda sexta-feira de noite e fica algumas horas na rua. É só a gente chegar lá, ver o que tá acontecendo e, se não tiver nada de errado, cair fora antes de ele voltar.

– Você tá propondo que a gente invada a casa dele?

– Não, cara. A gente só vai abrir a porta. Temos a chave para emergências, que nosso antigo vizinho deixou conosco. Acho que o novo vizinho não trocou a fechadura…

– Sei não… essa ideia não me cheira bem.

– Pensa bem, mano. A gente não vai roubar nada. Entramos lá, vemos se tem algo de errado e, se não tiver, voltamos para casa, sem mexer em nada e deixando tudo direitinho. E encerramos esse assunto para sempre. Agora, se tiver algo errado, nós chamamos a polícia e salvamos a vida de pessoas inocentes.

– Isso faz sentido. Tô quase convencido. Mas se ele tiver sequestrado alguém, por quê só fazem barulho durante o dia, não de noite, quando os demais moradores estão no prédio e, principalmente, quando o sequestrador sai por aí?

– Não tenho nem ideia. Vai ver estão amordaçados e presos. Talvez só façam barulho durante o dia, na hora que são desamarrados para se alimentarem. Ou, talvez, na hora que ele vai fazer algo assustador e doentio com suas vítimas.

Essa afirmação fazia sentido, dentro de minhas convicções de que o vizinho era pedófilo. Poderia não ser o diabo, como Guilherme pensava (e, talvez, quisesse), mas certamente era uma pessoa horrível. Deveríamos investigar isso mais a fundo. Assim sendo, concordei com nossa campanha: na próxima sexta-feira, checaríamos a casa dele, para ver o que escondia.

Quando chegou o grande dia, estava trêmulo, mas animado. Não tão animado quanto Guilherme, é claro, mas, mesmo assim, tinha certa dose de ânimo que me fazia seguir em frente. Queria acabar com aquele maldito pedófilo comunista e trazer a paz para nosso prédio e para as pessoas inocentes que eram feitas de refém.

Assim que Guilherme deu o sinal, afirmando que o vilão tinha saído, atravessamos o saguão andando rápido. Coloquei a chave reserva na fechadura, girei-a e, então, a porta se abriu. Meu amigo acendeu as luzes, o que claramente foi uma burrice, mas tudo bem, já que estávamos afoitos para resolver aquele mistério.

O apartamento não aparentava nenhuma bizarrice, apenas mau gosto. Não tinha mobília, apenas uns caixotes velhos espalhados pela sala, com almofadas em cima (deviam desempenhar o papel de algum tipo de sofá ou cadeira de leitura). Uma estante cheia de livros, nada de televisão. O chão estava sujo e havia alguns quadros na parede. Além disso, uma mesa, repleta de remédios. Talvez os barulhos que Guilherme ouvia fossem apenas as angústias de um indivíduo enfermo. Não que eu tenha pensado nisso na hora. Apenas queria vasculhar cada canto do apartamento, pois sabia que tinha algo errado para ser encontrado. Ao menos, queria que houvesse.

– Mas o que está acontecendo aqui? – Ouvimos a voz rouca e sem forças vinda da porta. Talvez as luzes acesas tenham chamado a atenção de nosso vizinho, o qual retornou para ver se tinha esquecido de apagá-las. Recebeu, no entanto, essa bela surpresa.

– Mano, cuidado, ele tá armado! Ele vai atirar na gente!

Guilherme gritou na hora que nosso vizinho enfiou a mão no bolso do casaco, preparando-se para sacar algo. No susto, meu amigo tropeçou em um dos caixotes e caiu.

– Rápido, mano, não deixe ele nos matar!

Ele nem precisava gritar isso. Assim que ouvi sobre a arma, já dei um pulo em direção ao nosso inimigo. Não deixaria aquele cara doente e esquisito me matar. Ainda não tinha visto nada, mas provavelmente ele era um pedófilo comunista. Eu sentia que havia algo errado com ele.

Dei-lhe um empurrão com força e ele caiu no chão. Atraquei-me com ele e comecei a espancá-lo com toda a força que tinha. Aquele verme imprestável! Bandido esquisito! Estávamos fartos de gente da laia dele, que acha que pode se esconder nas sombras, impunes, enquanto nós, que trabalhamos e fazemos tudo direito, temos de viver com medo.

Muito sangue estava escorrendo, mas não parei de esmurrá-lo até que outros vizinhos chegassem e me agarrassem. Nesse meio tempo, Guilherme já tinha saído do apartamento e, agora, voltava, com cara de assustado.

Vi, na mão do cadáver, um celular. Ele não tinha uma arma, apenas queria pegar o telefone, talvez para chamar a polícia. Não precisou chamá-la, no entanto: em pouco tempo, ela veio – na certa quando algum dos outros moradores a chamou. Levaram-me para a delegacia e o corpo foi levado ao necrotério.

Guilherme deu seu depoimento e foi liberado pouco tempo depois. Eu fiquei preso, por ter sido apanhado em flagrante. Quando houve o julgamento, Guilherme foi chamado como testemunha. Ele disse que eu andava perturbado e estressado, que apresentava comportamento agressivo há já algum tempo e vivia reclamando do vizinho.

Disse que, na noite do crime, eu saí de casa e invadi o apartamento, apesar de ele tentar me dissuadir daquilo. Disse que só ao ouvir a confusão é que se deu conta do que tinha ocorrido e que só então se dirigiu ao outro apartamento.

Tentei contradizê-lo e contar que toda a ideia fora dele, mas o júri jamais acreditaria em alguém que foi capturado em flagrante. Era mais fácil aceitar a história e a lábia daquele que considerei meu amigo.

Na saída do tribunal, já condenado a muitos anos de prisão, olhei para Guilherme – e ele sorria. Piscou para mim. No fim, era verdade… o diabo morava ao meu lado.

***

O Diabo Mora ao Lado






O Diabo Mora ao Lado

Conto

star 05 min | Drama
Classificação: 16 anos
Formato: Conto
Autor: Eduardo Canesin
Estreia Original: 08 Jun 2020 (Wattpad)

Sinopse


Um estranho se muda para o apartamento ao lado, despertando a desconfiança de dois jovens amigos. Diante de seus medos e dúvidas, cabe a eles agir - ainda que o resultado não seja o esperado.

Curiosidades


Impedir o que ocorre neste conto é a premissa de "A nova e fantástica vida de Astrogildo Arantes", romance que foi publicado pelo autor em 2020.

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