Palavras Obscuras - 1x03 - O Rei de Copas


Sinopse: Meses após lidarem com o caso do maníaco Lázaro, a polícia do Distrito Federal agora está enfrentando uma nova ameaça: Um psicopata muito mais perigoso e sagaz. Seu nome é Igor Ventura, que recebeu o codinome de “Rei de Copas”. Diego, um detetive que participou do caso do maníaco, agora está movendo céus e terras para deter este novo criminoso, mas a tarefa não será nada fácil. Igor tem recursos, informantes por todos os lados e consegue facilmente manipular quem ele quiser. Para Igor, matar não é apenas um crime, é uma obra de arte! As cartas estão na mesa, todas as peças estão em seu devido lugar, a cidade de Brasília será o palco de uma caçada brutal e violenta, e nessa caçada, vence o último que ficar de pé.



O Rei de Copas
de Melqui Rodrigues

 

“Matar não é um crime, matar é uma obra de arte”.
-Igor Ventura
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O que leva alguém a se tornar um criminoso? Qual conceito patológico é comprovado de que uma pessoa tenha tendência a ser um psicopata? Teria sido a criação dos pais? Teria sido algum trauma de infância? Um amor não correspondido? Uma meta não alcançada?

Vivemos e morremos e seguimos repetindo essa onda de crimes por todo o Brasil. Pai matando filho, filho matando pai, discussões banais que resultam em morte. Hoje em dia tudo é motivo de provocar briga e nos mais extremos casos: A morte. Diferenças políticas, religião, orientação sexual, e até mesmo casos mais banais como falar mal do seu time do coração, ou quando alguém prefere a janela fechada no ônibus e outro prefere aberta.

Tudo isso citado acima pode transformar a mente de um ser humano, mas existem aqueles que conseguem se sobressair, que estão completamente atrelados ao mal extremo... Muitos até dizem que essas pessoas têm pacto com o próprio demônio.

Verdade ou não, sabemos que o verdadeiro inferno é onde nós vivemos, e na cadeia alimentar da vida, se você é jogado em uma jaula de feras, a única forma de escapar... É se tornar uma delas.

Lago Norte, Brasília-DF. 18 de Dezembro de 2021.

Uma jovem de aparentemente 20 anos, rosto angelical, cabelo castanho e amarrado pra trás, está juntamente com sua mãe, uma mulher de uns 40 anos, cabelo loiro e curto até os ombros, elas estão correndo em uma casa gigantesca e se escondem debaixo da mesa da cozinha.

A garota está chorando e bastante nervosa, sua mãe tenta acalmá-la.

— Shh, shh! Você precisa ficar calma, filha. A gente vai sair dessa, eu prometo.

— Não! O papai tá morto, os cuidadores da casa também... Vamos morrer!

— Não, eu não vou deixar você morrer. Escuta, fique aqui escondida, eu vou tentar alcançar o telefone.

— Não, mãe! Não, pelo amor de Deus, não me deixa aqui sozinha, ele vai me matar! Ele vai matar a gente, mãe. Por favor, por favor...

— Shh, fala baixo, filha, por favor! Ele tá lá encima, se eu consegui chegar a tempo no telefone da sala, vamos ligar pra polícia e assim a gente dá um jeito de sair sem sermos vistas, entendeu?

— Tá bom!

— Eu te amo!

A mãe sai debaixo da mesa e vai andando a passos “de gato” até a sala, ela se assusta ao ver um de seus criados no chão com a garganta cortada.

— Meu Deus, meu Deus!

Ela ouve um barulho, precisa se apressar e tentar achar o telefone o mais rápido o possível.

De lá de cima, do topo das escadas, vemos a silhueta de um homem, ele está vestindo um traje preto e usando uma máscara prateada de lobo. Ele pega uma faca, começa a descer as escadas e fica passando a faca na parede pra que possa ser ouvido um barulho agoniante.

A mulher está discando pra polícia, ela se agacha no canto da mesinha do telefone. Uma policial atende.

— Polícia Militar, boa noite!

— (Sussurrando) Por favor, por favor, eu preciso que... Eu preciso que venham até a minha casa no Lago Norte. Fica perto da administração regional, é a casa 6. Meu marido foi morto por um homem e agora ele está atrás de mim e da minha filha.

— Ok, senhora, já estamos providenciando a ajuda.

— Por favor, sejam rápidos.

O barulho da faca passando na parede aumenta a cada vez mais e a mulher fica desesperada. Ela tenta se esconder atrás da enorme árvore de natal posta em sua sala.

O criminoso desce as escadas e vai andando tranquilamente e não parece ter pressa nenhuma em terminar o que começou. Ele para por instantes, observa o local, tenta ver se ouve algum barulho incomum.

Na cozinha, a garota está tão desesperada que sua respiração fica ofegante, a ponto de poder ser ouvida a uma certa distância. O assassino parece ter escutado os gemidos vindo da cozinha e se direciona pra lá.

A mulher estando escondida atrás da árvore percebe que ele está indo pra lá e pensa em fazer alguma coisa. A jovem continua debaixo da mesa, apenas a toalha a está escondendo, ela percebe passos se aproximando dela e tenta segurar o máximo a respiração.

O assassino parece gostar de fazer tudo em passos lentos sem a menor pressa de ver o resultado, ele está parado de pé bem atrás da mesa, lá debaixo a garota está com os olhos fechados lacrimejando e quase tendo um ataque de pânico. Ele vai se agachando aos poucos pronto para levantar a toalha da mesa, nesse instante a mulher aparece por trás o atingindo com um vaso na cabeça.

— Deixa a minha filha em paz!

O criminoso parece nem ter sentido a pancada, a mulher observa a relutância dele e grita:

— Janete, corre!

Janete sai de baixo da mesa e corre para o lado, o criminoso tenta alcança-la e sua mãe agarra o seu braço com força.

— Mãe!

— Corre, filha! Corre!

Janete sai correndo dali, enquanto isso o assassino bate com a testa na mãe da garota, ela cai no chão atordoada. Ele a levanta e a apunhala com uma facada no estômago.

— Aaaai!

Em seguida, ele levanta a mulher e a encosta na parede. Ele sussurra pra ela:

— Não deveria se meter, sua corrupta do caralho!

Ele pega a faca e mergulha várias vezes contra o pescoço da mulher, o sangue jorra por todos os lados e suja a sua máscara de lobo. Ao ver que a mulher já está completamente sem vida, ele tira sua máscara e finalmente podemos ver o teu rosto.

Ele é Igor Ventura, 1,70, cabelo acizentado, barba por fazer, tem uma tatuagem no braço esquerdo, algumas pequenas tatuagens nas mãos, usa anéis exóticos e um brinco em formato de cruz na orelha esquerda.

Ele tira todo o traje que está usando naquela ocasião e observa a carnificina que ele mesmo fez.

— Ai que droga! Odeio me sujar com o sangue desses porcos!

Enquanto isso, Janete está tentando sair de casa e não consegue, todas as portas foram trancadas.

— Por favor, alguém me ajuda! Socorro! Alguém!

Enquanto clama por ajuda na porta de vidro, Igor a pega pelo pescoço arrastando-a pra trás.

— Shh, shh, ninguém pode te salvar, querida.

— Por favor, deixa a gente em paz! O que nós fizemos?

— “O que nós fizemos”? Pergunta pro filho da puta do teu pai e pra vadia da tua mãe. Ah é, eles não podem te responder agora, pois estão bem mortinhos.

— (Em desespero) Não, meu Deus!

— Gosto desse teu cheiro, esse cheiro de uma jovem virgem, é tão excitante matar jovens virgens. (Fala lambendo as orelhas da garota)

— Eu não fiz nada! Me deixa ir embora, por favor!

— Você é tão corrupta como os teus pais! Pensa que eu não sei você adulterou o resultado da bolsa da faculdade da tua amiga pra que ela não conseguisse passar?

— O quê? Eu não...

— É, mocinha. Eu sei de tudo e não adianta me enganar. Agora você vai se juntar aos seus pais lá no inferno, adoraria transar com você antes de te matar, mas felizmente pra você eu não sou um estuprador... Então, diga adeus, meu anjinho!

Igor enfia faca no estômago de Janete.

— Ahhhhh!!

— Shh, shh, calma, tá tudo bem, tá tudo bem.

Ele volta a enfiar a faca novamente.

— Não vou estragar seu rostinho como fiz com os outros, você terá uma morte pura.

Ele dá outra facada nela, esta começa a agonizar aos poucos. Ele beija a sua boca e de maneira doentia começa a lamber o sangue que escorre dela.

— Que delícia! O sangue das virgens são sempre os mais saborosos!

Janete não consegue mais ter nenhuma reação, ela lentamente fecha os olhos e morre.

Igor se levanta, observa a garota morta, em seguida ele vai até o telefone e disca pra alguém.

— Oi, é da polícia? Eu sinto muito pelo ocorrido, a minha esposa estava discutindo com o cunhado e qualquer coisinha ela já fica paranoica querendo chamar a polícia, mas tá tudo resolvido, não precisam mandar ninguém pra casa próxima da administração regional. Eu sinto muito por fazer vocês perderem o tempo de vocês... Até logo e feliz natal antecipado!

Igor desliga o telefone, ele vai até um canto da sala onde tem um bar, ele pega uma garrafa, liga o rádio e diz:

— Bom, agora sim vou poder fazer minha moldura.

Nesse meio tempo, Igor reuniu todas as pessoas que ele matou dentro daquela casa até a sala, ele pega umas cordas, um machado e vários outros acessórios, não se sabe necessariamente o que ele vai fazer com isso.

Mas ele está sempre com uma taça de vinho toda vez que pega alguma coisa, ou muda algo do lugar.

Mais tarde, ele pega galões de gasolina e joga por toda a sala, a árvore de natal está um pouco mais atrás.

O trabalho durou horas, mas depois que aparentemente terminou, ele pega uma poltrona e coloca na frente da sala. Ele se senta, pega uma taça de vinho e de maneira elegante observa o que acabara de fazer. Ele pega um isqueiro, acende um cigarro, dá uma tragada de leve, seu olhar pleno, sexy, sem demonstrar nenhum tipo de emoção... Ele acende o isqueiro novamente e joga no meio da sala e o fogo começa a se espalhar.

Quando o fogo está subindo, vemos uma imagem macabra talvez nunca antes vista ou feita por alguém, o corpo de Janete está amarrado no meio da sala no alto, e partes de braços e pernas de outras pessoas estão costuradas no dela. De longe, dá-se a ilusão de que são asas de anjo, e ela está bem na frente da árvore de Natal. Um verdadeiro cenário de caos, um verdadeiro crime com requintes de crueldade...

Igor pega uma carta de baralho, olha para a sua “arte” e diz:

— Mais um trabalho bem feito... Não é a toa que eu sou o Rei de Copas.

Em todos os noticiários locais e também nacionais, repórteres e jornalistas estão anunciando os crimes feitos por Igor Ventura.

— Igor Ventura, o psicopata conhecido como “Rei de Copas” fez novas vítimas...

— As vítimas dessa vez foi a família do secretário da administração regional no Lago Norte...

— Esse já é o quinto caso em menos de 3 meses...

— O Modus Operandi do assassino é sempre deixar uma carta de baralho como símbolo de seu crime após matar as vítimas...

— Igor Ventura é procurado por toda a polícia do Distrito Federal e nunca se sabe onde ele está localizado...

— A PM do Distrito Federal disse que esse é o caso mais difícil desde o maníaco Lázaro que assassinou uma família inteira na cidade da Ceilândia e acabou sendo pego em Águas Lindas de Goiás após uma operação de 20 dias...

— O Rei de copas, assim está sendo conhecido esse criminoso que atende pelo nome Igor Ventura...

— Voltaremos com mais informações em breve e esperamos descobrir o paradeiro do criminoso...

Lago Norte, Brasília-DF, 19 de Dezembro de 2021.


A perícia juntamente com alguns policiais se encontram na casa onde ocorreu o crime na noite passada. Entre eles está o detetive Diego (1,75 de altura, físico delgado, cabelo ondulado, olhos claros). Ele está olhando toda a bagunça que o assassino deixou, um de seus colegas vai até ele entregando-lhe uma carta de baralho.

— Chefe! Encontramos isso aqui.

Diego pega a carta e fica enfurecido se segurando pra não esmaga-la. Neste momento, sua outra colega Salete (loira, usa o cabelo preso pra trás, pele clara) chega até ele.

— Pelo visto ele fez de novo, não é?

— Quem esse maldito pensa que é? Ele está brincando com a polícia, fazendo de todos nós gato e sapato.

— E olha que pensávamos que o Lázaro fosse dar trabalho pra a gente, hein? Veja só a situação que estamos.

— Mas o pior de tudo é que o Lázaro era “bicho do mato”, vivia fugindo pela mata e era extremamente escorregadio, esse aqui não. Ele gosta de deixar evidente o que faz, não tem medo de ser pêgo, parece que gosta de exibir seus triunfos.

— E sabe o que mais me intriga, Diego? Ele só mata pessoas que tem uma certa relevância ou... Cargo de muito prestígio. Ainda não vi nenhum caso dele matar uma dona de casa de classe média, por exemplo.

— Sim, isso também me deixa...

Alguém da perícia interrompe.

— ... Senhores! Vão gostar de ver isso.

— O que aconteceu?

— Nós tivemos acesso ao notebook do secretário. Encontramos depósitos feitos na conta bancária dele e adivinha? Ele e a mulher extraviavam o dinheiro recebido da administração regional para as suas contas pessoais.

— Puta que o pariu!

— É, e tem mais! A filha deles, Janete, ela falsificou uma carta de admissão de uma amiga pra que ela não conseguisse a bolsa pra faculdade. Tudo isso foi deixado mastigado aqui no notebook, até parece que queriam que a gente encontrasse.

Salete argumenta:

— Com certeza queria que a gente encontrasse.

— Aquele filho da puta... Isso não vai ficar assim... A gente vai dar um jeito de pegar esse desgraçado.

Igor está muito mais a frente que qualquer pessoa ali, e isso é notório. Passou-se o natal, as notícias sobre “O rei de copas” continuam a circular. Antes temido e procurado pelas pessoas, Igor agora está sendo idolatrado,amado... Pessoas começam a imprimir cartazes com o seu rosto alegando total aprovação a ele.

A polícia se sente recuada, como pode a população está defendendo um bandido descaradamente? Diego está bastante incomodado com toda essa situação.

Dias depois...

Já é Janeiro de 2022, Igor está em seu apartamento e tem dois homens ali com ele. Ele termina de carimbar alguns convites e entrega para os rapazes.

— Bom, faça o possível pra que esses convites sejam entregues e assegurem a vinda de todos eles. Esse baile de máscaras tem que ser inesquecível! Vai ser a noite onde eu vou colocar os pingos nos “I” na porra dessa cidade. Ah! Não se esqueça de convidar nossos amigos policiais também, eles não vão querer perder a oportunidade de virem atrás de mim.

— Ás suas ordens, senhor!

E como foi pedido, o convite para o baile de máscaras foi chegando para várias pessoas em vários cantos do Distrito Federal, pelo visto são pessoas escaladas a dedo pelo próprio Igor. O mais curioso é que ele não é um bandido qualquer, possui recursos e consegue lucrar com tudo o que faz, onde está o segredo de tanto sucesso mesmo sendo um procurado pela polícia? Os convites não param de chegar e até surpreende algumas pessoas.

— Quê? Baile de máscaras? O que esse filho da puta tá pensando? – Esbravejou Diego após receber o convite. Salete e Eduardo tentam acalmá-lo.

— Calma, Diego. Talvez essa seja a oportunidade de pegarmos de vez esse infeliz.

— Ela tem razão, Diego. Senão por que ele iria mandar esse convite?

— E se for uma armadilha? Talvez esse idiota queira pregar uma peça na gente.

— Mesmo se for uma peça, nós iremos preparados. Colocaremos policiais apaisana pra estarem na festa e nós também estaremos lá fingindo que somos convidados normais.

— Diego, o Eduardo tá certo. Com certeza o delegado Marcelo vai aprovar a operação, essa pode ser nossa única chance de pegar ele.

— Droga! Droga! Ok, vamos à essa maldita festa! Mas eu só vou porque quero ter o prazer de prender pessoalmente aquele desgraçado.

Horas depois, Igor está em seu apartamento terminando de conversar com seus comparsas.

— Já foi tudo entregue como combinado?

— Sim, senhor!

— E os policiais? Receberam o convite?

— Sim, senhor! Só não temos certeza se virão.

— Com certeza eles virão... Ah, Fábio! Lembre-se que no dia da festa você terá uma outra missão pra mim, não ouse falhar.

— Deixa comigo, chefe!


— Bom, sábado teremos a maior festa de nossas vidas... Esse baile de máscaras será o renascimento de uns... E a sepultura de outros.

Sábado- 8 de Janeiro, dia do Baile de Máscaras.


Diego, Salete e Eduardo estão devidamente trajados para o baile promovido por Igor. O delegado Miguel dá as ordens.

— Eu sei que no fundo vocês estão achando essa missão até mesmo “ridícula”, mas esse é o único jeito de pegar esse infeliz, finjam o quando puderem. Nós vamos mandar guardas armados disfarçados. Se as coisas piorarem, chamem reforços!

Todos falam em uníssono:

— Sim, senhor!

Casa de Festas, Asa Sul, Brasília-DF.

Chegou a grande noite da festa, os convidados estão aos poucos chegando ao local, todos eles muito bem vestidos usando suas máscaras exóticas. Em um local do salão, há mulheres seminuas fazendo danças sensuais com máscaras, a festa de luxo também é um mar de drogas, bebidas e tudo o que o “diabo gosta”.

Diego, Salete e Eduardo chegam à recepção, eles entregam os seus convites e entram no salão. Salete argumenta:

— Pra um criminoso, até que ele tem bom gosto pra ornamentação, hein?

— Deixa de ser tola, Salete! Esse lugar é praticamente um prostíbulo!

— Desculpa, é apenas a minha humilde opinião.

Lá dentro há um palco com uma passarela típica de desfiles, um homem aparece ali pegando um microfone pra dar um recado a todos.

— Senhoras e senhores, sejam bem vindos à essa noite especial! Espero que estejam desfrutando de todo o conforto e melhor atendimento possível aqui. Mas antes de darmos continuidade a esta festa, quero que aplaudam o nosso anfitrião e responsável pela realização desse evento.

Todos começam a aplaudir, Igor aparece muito bem vestido e com uma máscara de ferro dourada, ele vai até a ponta do palco, pega o microfone pra si e espera até que todos façam silêncio. Diego está lá atrás observando juntamente com os outros.

— Boa noite, miladies! Boa noite, milordes! Não vou tomar o tempo de vocês, só vim avisar que... O proibido não existe nesta festa, estão liberados pra fazer o que bem entender. Esta noite, sintam-se à vontade para cair nas tentações e sejam quem vocês quiserem ser... Aproveitem a festa!

Todos o aplaudem eufóricos, Igor sai de retirada ainda ovacionado pelo público que segue os festejos brindando. Diego decide ir atrás dele.

— Eu vou procurá-lo.

— Espera, Diego! Não vá sozinho!

— Se formos juntos, Salete. Vamos levantar suspeitas.

— Então deixa pelo menos o Eduardo ir com você, ele pode tá armado.

— Mas e você?

— Eu? Eu vou “aproveitar a festa”. Ah brincadeira, vou tentar descobrir algo, vão depressa!

Diego e Eduardo entram no meio da multidão pra ir atrás de Igor, Salete vai até um bartender.

— Oi, me vê uma caipirinha, por favor!

— É pra já, moça!

Águas Claras, Brasília-DF, 20h30.

Jéssica, a esposa de Diego chega à sua casa após um dia de trabalho e com algumas sacolas de compras nas mãos. Ela deixa as sacolas encima da mesa e depois vai até a geladeira. Ela abre a porta, pega uma jarra de suco de laranja de lá de dentro e coloca na pia. Ela pega um copo, coloca o suco no mesmo e enquanto mata a sua sede, um ruído é ouvido no corredor da casa perto das escadas.

Jéssica para de beber o seu suco e fica em silêncio por alguns segundos até que ela decide chamar pelo marido.

— Diego? É você?

Nenhuma resposta ela obteve, então ela ignora qualquer coisa e volta a colocar o suco dentro da geladeira. Em seguida, ela começa a tirar as coisas que comprou das sacolas separando-as em cima da mesa. Enquanto faz isso, ela ouve um barulho de miado.

— Ai, Fadinha! É você? Espera um pouco, eu vou levar a ração pra você.

Jéssica abre o armário da cozinha e pega um pacote de ração, ela pega a vasilha da gata que fica próxima à pia e coloca a ração dentro e vaga pela casa procurando a gata.

— Fadinha, pss pss pss, cadê você, meu amor?

Ela ouve no andar de cima um barulho ainda mais forte e escuta a gata miando como se estivesse com muita raiva ou vendo algo que não se agradou.

— Fadinha?

Ela sobe as escadas ainda com a vasilha de ração nas mãos e chega ao corredor dos quartos.

— Fadinha? Cadê você?

Ela vê a porta de um dos quartos semiaberta. Jéssica se aproxima, começa a abrir a porta vagarosamente.

— Fadinha?

A gata aparece de vez pulando em cima dela arranhando o seu braço fazendo com que Jéssica derrube a ração no chão, e em seguida sai do quarto disparada e vai pelo corredor.

— Ahh! O que deu em você?

Jéssica com um arranhão no braço e de costas no corredor, não percebe que alguém está se aproximando dela vagarosamente sem que possa ser ouvido os seus passos.

Ela fica um tempo observando os seus arranhões e sente como se algo a estivesse observando. Ela começa a olhar vagarosamente pra trás e vê um homem de capuz usando uma roupa preta e uma máscara de lobo prateada.

— Aaaaahh!!

O homem tenta acertá-la com uma espécie de punhal e Jéssica desvia dele, ela cai no corredor, se rasteja indo pra trás, mas de frente pra ele.

— Quem é você? O que você quer de mim?

O homem a segura pelas suas pernas, ela fica de bruços no chão, começa a se debater e no embate acerta um chute na cara do homem. Jéssica se levanta, tenta correr pra alcançar a escada, mas o homem se recupera rápido, a alcança, puxa os seus cabelos e a arremessa contra a parede do corredor.

Ele a pega pelo pescoço, faz com que ela fique de pé contra a parede, a respiração dela começa a ficar fraca, quando estava prestes a perder as forças, Jéssica chuta as partes íntimas do criminoso e dá uma cabeçada nele. Ela tenta se recuperar, pega impulso pra escapar, chega até as escadas, começa a descer os degraus desesperada.

— Socorro! Socorro! Diego!

Ela vai até a porta, tenta abri-la, mas chaves não se encontram mais ali.

— DROGA! DROGA! ABRE!

No topo da escada, o assassino aparece zombando de Jéssica balançando a chave de sua casa.

— Como que...? Quem é você? O que quer de mim?

Enfim podemos ouvir a voz do assassino:

— Você será a peça mais importante desse baralho.

Cerca de meia-hora se passou, Eduardo entra em quarto procurando por Igor na casa de eventos, ele vasculha aquele quarto e quando está prestes a sair, recebe um golpe na cabeça e cai desmaiado.

Minutos depois, vemos Diego entrando em uma sala espaçosa no subsolo daquele prédio. Ele está andando pela sala verificando o local, ele puxa a arma e a segura firme.

Enquanto faz isso, Igor aparece vindo pela outra porta.

— Ora, ora, ora... E não é que o nosso policial herói veio aqui?

— Parado aí mesmo, Igor! Você está preso pelas dezenas de homicídios que cometeu nos últimos meses.

— Ah, blá, blá, blá, blá... Sabe o que eu odeio em vocês policiais? Que vocês só enxergam aquilo que seus olhos querem ver, não enxergam que há muito mais podridão nesse mundo do que um assaltantezinho de esquina. Vocês vivem barrando o trabalho honesto dos camelôs na rodoviária, tratam os mendigos como aberrações... E acham que pessoas como eu que são os monstros? Eu vou te dizer uma coisa, detetive! E é bom que fique bem claro isso: Você tem muita sorte de não ser como os policias corruptos que eu conheço, mas tem uma coisa que eu odeio em você.

— Ah é? E o que é?

— Esse maldito dom de omitir aquilo que está debaixo do teu nariz.

Igor pega seu celular e mostra na tela um vídeo. Neste vídeo, está Jéssica amarrada em uma cadeira pedindo socorro.

— Por favor! Me deixa em paz! DIEGO!!

— Je... Jéssica, o que você fez, seu filho da puta?

— Esse é o preço que se paga quando você não faz o seu trabalho de policial direito.

— Minha esposa não tem nada a ver com isso! Solta ela, seu desgraçado!

Diego fica furioso, está disposto a atirar em Igor.

— Isso! É assim, é assim que eu quero... Essa é a reação que eu queria que você tivesse.

— Eu vou matar você... EU VOU MATAR VOCÊ!

— Não, não vai não. Sabe por quê? Porque agora a tua esposa está nas minhas mãos, coleguinha. Um telefonema que eu fizer, e ela morre.

— Seu, seu imundo! A Jéssica é inocente! Ela é inocente, ela não...

— ... Eu também já fui inocente um dia, caralho! Mas essa vida... Essa sociedade de porcos mercenários... Me corrompeu. E agora eu sou o que sou (Ele tira a arma da cintura). Agora... Abaixa a sua arma.

— Não!

— Não me faça pedir de novo. Ou abaixa essa arma, ou eu mato a tua esposa. Espera, acha mesmo que eu não sou capaz? Um momento... (Ele disca um número no celular) Oi, Fábio? Sobre a vaca que tá com você... Pode se livrar de...

— ... Não! Não, por favor! Por favor, a Jéssica não, a Jéssica não!

— LARGA A PORRA DESSA ARMA... AGORA!

Diego não vê outra saída, coloca a sua arma no chão lentamente.

— Chuta ela pra longe!

Ele chuta a arma a uma distância que ele não possa alcançar.

— Agora sim... Somos só eu e você. Finalmente teremos a chance de ter o nosso acerto de contas, detetive Diego. Ou melhor dizendo... Priminho.


A vida tem maneiras cruéis de nos castigar, seja por um acidente, uma fatalidade, uma morte familiar, ou na pior das hipóteses... Ter o mesmo sangue de seu pior inimigo. Diego não tem mais saída, terá que enfrentar o verdadeiro demônio, terá que enfrentar... O rei de copas.

 

                                                               FIM?



Conto escrito por
Melqui Rodrigues

Produção Four Elements
Marcos Vinícius da Silva
Melqui Rodrigues
Hugo Martins
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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