Palavras Obscuras - 1x05 - A Dama de Ouros


Sinopse: Cíntia é uma escrivã que aos trinta e sete anos, tem uma rotina estabelecida. Durante o dia, cuida de uma papelada burocrática e tediosa, mas, à noite, sonha com Artur Alessandro, o homem da sua vida. Porém, a prisão de Artur Alessandro, exatamente no distrito em que Cíntia trabalha, fará com que o mundo dela vire do avesso. Cíntia será capaz de cometer atrocidades para fazer com que o seu amor saia dessa em liberdade. Um conto repleto de sangue e paixão, desejo e loucura. Até onde a obsessão de uma mulher será capaz de chegar?



A Dama de Ouros
de Hugo Martins

 

O despertador tocou às sete horas. Estridente e persistente não parava de cantar uma música aguda. Cíntia segurou o celular e no automático desligou com o dedão. Precisava levantar, enfim. Jogou o corpo para o lado da cama, buscou apoio no colchão, mas a gordura acumulada na barriga não lhe deixou sentar. Virou-se ainda mais, se aproximando da beirada e colocou as pernas para fora da cama. Levantou, com muito esforço. 

Passou alguns segundos olhando para o pôster de Artur Alessandro que estava na parede em frente à cama. No mesmo instante, arrumou os cabelos assanhados na cabeça. Não podia ficar mal arrumada diante do seu amado. Foi até o pôster e deu um beijinho no sorriso iluminado do galã.

Bom dia, meu deus grego sussurrou.

Tomou um banho rápido, café também rápido. Precisava estar na delegacia às oito.

Tudo o que ela queria era ter um dia calmo. Sentar na sua poltrona acolchoada, registrar seus boletins de ocorrência, formalizar algum inquérito, digitar um depoimento. E assim, desejou que fosse, mas ledo engano, o dia foi permeado de ocorrências. Muito movimento. Um ônibus inteiro havia sido assaltado. Dezesseis boletins registrados. Uma grávida que vomitou em cima da sua mesa. E a merda de um policial que lhe passou a mão na bunda. Estava a ponto de ter um colapso.

Às dezoito e quinze, Cintia ainda estava finalizando o registro do último processo. Saiu às pressas para não perder o horário. Ela tinha um encontro marcado às dezenove horas e não podia atrasar.

Ao chegar em seu apartamento, correu até a cozinha e organizou a mesa de jantar. Os pratos de porcelana, taças de cristal e os talheres de alumínio. Um vinho tinto, e velas brancas para decoração.

Na sala de estar, onde iria acontecer o primeiro contato, Cintia jogou pétalas de rosas. Passou um pano úmido na Tv e organizou no sofá a almofada com a foto de Artur Alessandro.   

Estava quase tudo pronto. Precisava tomar banho com óleo e essências. Correu para o banheiro. Não tinha muito tempo, mas precisava ficar cheirosa. Banhou-se com pressa. E no final, secou os cabelos na toalha.

Ainda parou diante da penteadeira para passar um batom rosa. Borrifou um perfume doce sobre si e deu um sorriso amarelo. Vestiu a camisola de seda vermelha e se sentiu pronta para mais uma noite de amor.

Antes de ligar a TV, o celular tocou. Sentiu que não era coisa boa. Com o telefone em mãos, observou que sua irmã lhe perturbava no seu horário sagrado com Artur Alessandro. Atendeu de mau gosto.

Oi Tina, tudo bem? perguntou Cintia, mais por obrigação do que por interesse genuíno.

Tá tudo ótimo sim. E vai ficar melhor quando eu chegar aí levando pizza comemorou Cristina, com uma energia na voz que Cíntia não tinha em si.

Não! Não dá! cortou seca.

Não faz isso, Cíntia. Tô no caminho. Preciso conversar contigo.

O Alessandro tá em casa. Nós vamos fazer um jantar romântico.

De novo? Toda vez que eu quero ir aí, vocês estão comemorando algo ou fazendo um jantar romântico. Eu vou aí e quero conhecer esse seu namorado misterioso decretou a irmã.

Não você não vai vir!

Abre a porta. Já tô aqui gritou Cristina.

Cíntia correu até a janela da sala e viu o perfil da irmã do outro lado da porta. Que saco! Não podia acreditar nisso.

Não posso abrir! Eu tenho compromisso e não posso desmarcar. Você precisa voltar, Cristina!

Abre logo essa porta! insistiu.

Não! Vai embora agora!

Se você não abrir eu vou arrombar!

Cíntia abriu a porta em um rompante. Cristina olhou para a irmã, mas seus olhos não refletiam surpresa ou alegria, mas sim, puro horror, pois diante de si, Cíntia estava com as mãos estendidas segurando uma arma em cima da sua testa.

Dá meia volta com a droga da sua pizza Cíntia disse, com uma raiva contida, que transbordava entre os dentes trincados.

Eu...eu...volto outro dia, então.

Cíntia trancou a porta com força. Guardou a arma na escrivaninha e com muita calma, encheu sua xícara com vinho. Sentou-se no sofá, pronta para ver o seu amado.

Agora era somente ela e Artur Alessandro. Olhou para a xícara com a foto do ator e beijou-lhe a face.

Eu amo você.

Era o penúltimo episódio de Coisas do Amor, e Cíntia se derramava em lágrimas vendo Artur carregar uma loira pela floresta. Ela desejava com todas as forças ser aquela atriz, mas se conformava em imaginar aquele homem sarado lhe carregando com seus músculos rígidos.

Quando Cintia acordou no dia seguinte, o despertador ainda não tinha disparado. Pensou na irmã e em como foi insensível com ela. Quis ligar e pedir desculpas, mas preferiu falar pessoalmente, tudo o que fizera precisava de um bom diálogo. 

Tomou um banho rápido e seguiu para o décimo terceiro distrito de policial. Ficou surpresa quando viu a calçada do DP coberta de jornalistas e câmeras. Eles faziam manchetes e noticiavam algo com muita excitação. Aquilo não era normal. 

Cintia teve que dar a volta no prédio e entrar pela porta dos fundos. Atravessou o quintal onde ficavam as viaturas e penetrou no edifício que também estava borbulhando de homens de terno preto. Percebeu que se tratava de advogados e buscou se esconder o mais rápido que podia em sua sala.

A escrivã Bruna Carla estava sentada no canto da sala. Parecia ter um grande peso na cabeça, pois suas mãos mal conseguiam segurá-la. Cíntia foi ao seu encontro.

O que tá acontecendo aqui? Prenderam o presidente?  perguntou Cíntia.

Já vi que você não lê jornal pela manhã - respondeu Bruna, com tédio na voz.

Não gosto de sofrer pela manhã. Mas, conta! O que houve?

Prenderam um famoso aí. Acusado de estupro de vulnerável e agressão à mulher. Tá passando em todos os canais, é só ligar a tv.

Quem será?

Não sei, não. Só sei que esse aí não vai ter fama nunca mais. Tem vídeo dele molestando a criança e depois espancando a mulher. É um negócio nojento de se ver.

Nossa que triste.

Cíntia pegou o celular e buscou pesquisar sobre um famoso que molestou uma criança e agrediu a esposa. Tomou um susto quando viu a foto do homem. Não conseguiu segurar o celular na sua mão.

Nao pode ser! É mentira! gritou Cíntia.

Bruna a observou de canto de olho.

Você sabe quem é? —  perguntou Bruna.

Ele é o meu… Cíntia gaguejou.

O seu o quê?

Deixa pra lá.

Cíntia não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Foi até a um segundo policial e confirmou que quem estava detido, justamente no seu distrito, era o amor de sua vida, Artur Alessandro. Sonho ou pesadelo? Ela tinha que conferir com os próprios olhos.

Saiu pontualmente às dezoito e seu único destino era sua casa. Ao chegar na porta do apartamento deu de cara com sua irmã, loira, suada, com roupa de academia, uma bolsa cheia de alters e suplementos.

Precisamos conversar — decretou Cristina.

Cíntia virou a chave na fechadura, e em um silêncio constrangedor apontou com a cabeça a entrada para sua irmã.

Espero que aquilo não aconteça nunca mais. Você não pode apontar a merda de uma arma para mim e achar que vai ficar tudo normal. Você não pode mais fazer isso, tá ouvindo Cíntia! - gritou Cristina, histérica.

Fala baixo.

Você tá bem?

Na verdade, não — respondeu Cíntia. Sem demora ela ligou a tv da cozinha e se deparou com a mesma notícia. Artur Alessandro: molestador e espancador.

Isso só pode ser brincadeira — reclamou Cíntia.

Esse bandido merece ser executado.

Não fale assim dele. O Artur não faria isso. Eu conheço ele.

Conhece? Da onde?

Não interessa — desconversou.

Cristina segurou a irmã pelos braços.

Preciso saber que você tá bem.

Eu tenho que ficar bem, Cristina. Agora me solta e volta pra sua academia. Vai ser magra e esbelta — disse Cíntia, com um sorriso sarcástico.

Depois que sua irmã saiu, Cíntia teve a notícia mais trágica do dia: a série estrelada por Artur Alessandro fora cancelada.

No dia seguinte, a delegacia ainda estava borbulhando de repórteres. Cíntia teve que entrar novamente pelos fundos, mas dessa vez, na ala que ficava as celas de detenção.

Se aproximou da cela que Artur Alessandro se encontrava e observou-lhe conversando com os advogados. Ele parecia ainda mais bonito de perto. 

Cínta encostou-se à parede e suas pernas começaram a tremer. Precisou sentar-se para não cair.

Ai como ele é lindo. É todo meu! — disse suspirando.

Quando os advogados se retiraram, Cíntia se aproximou, como quem não quer nada. Ela fixou os olhos no homem e suspirou em um sonho lúcido. Percebeu, quando o ator cuspiu e abanou-se com calor.

Posso te trazer um copo com água? — ela perguntou quase a balbuciar.

Ele lhe lançou um olhar desconfiado. Surpreso. Ficou em silêncio por alguns segundos e parecia refletir naquela pergunta.

É claro — disse por fim.

Cíntia apressou o passo até o bebedouro. Encheu dois copos com água e voltou para a cela. Não havia ninguém no corredor, a não ser mais dois detentos que observavam a cena em silêncio.

Você está sendo bem tratado aqui? — ela perguntou, passando os copos através das grades.

Até o momento, sim.

Ela não pode deixar de notar as veias pulsando nos dedos do amado. O músculo do antebraço rígido e os pelos que cobriam todo o braço. Um arrepio subiu-lhe os cabelos da nuca. 

Ela não podia deixar passar a oportunidade e ao entregar os copos, roçou sua mão no braço do garanhão. Um calor subiu por entre o ventre e estremeceu seu coração.

Artur Alessandro percebeu o toque e o olhar apaixonado de Cíntia.

Você deve me conhecer, né? — ele perguntou com uma voz grave e profunda.

Ela sorriu sem graça.

Eu devo ser a sua fã número um. Te acompanho desde Mulheres Enlouquecidas. Você salvou a minha vida. Eu te agradeço todos os dias por existir. Eu não sei o que seria da minha vida sem você — ela disse, tremendo e segurando as barras com as duas mãos.

Ahh, então, você é minha fã!

Ai me desculpe. Eu perdi a noção. Eu simplesmente tinha que me declarar pra você. Precisava. Juro de coração.

Mas você não viu os noticiários. As mentiras que maquinaram contra mim? 

Sim, eu vi. Eles são loucos. Perturbados. Meu Deus quem em sã consciência abusaria da própria enteada? 

Você conhece a protagonista que faz par romântico comigo? Foi ela que armou tudo para me substituir da série. Nós nunca nos entendemos e eu disse que aquele era o meu posto e que ninguém iria me derrubar. Ela jurou na minha cara que iria me destruir. Iria destruir minha reputação, minha honra e que iria me matar e me deixar vivo ao mesmo tempo. Disse que iria me cancelar. Você acredita em mim?

Claro que acredito meu amor. Você sempre foi e será o meu homem. Que sempre esteve ao meu lado. Você é o meu salvador. Sei que nunca faria uma atrocidade dessas. E, aquela mocreia loira, ela vai pagar o que fez com você. Essas loiras, magras e belas são as piores. Eu tenho uma irmã que pertence à mesma classe. Mas, eu vou acabar com isso — disse Cíntia segurando as mãos de Artur Alessandro.

Ele percebeu o distintivo da polícia civil pendurado no pescoço dela.

O amor é só uma palavra, se não houver a ação. Você concorda comigo? — ele perguntou. E ela concordou com a cabeça. — Por isso quero te pedir algo. Preciso que me ajude!

O que você quiser eu faço.

Você precisa me tirar daqui.

Mas… - ela gaguejou.

Sente — ele disse, puxando a mão dela e encostando em seu peito sarado. — Meu coração está apertado. Eu vou morrer se não sair daqui hoje.

Mas, como assim?

Eles vão me transferir para a unidade prisional de Itaitinga. Lá, já está tudo pronto para me estuprarem até a morte. Eles querem me ver sangrar até não restar mais nada em mim. Querem sugar toda a minha dignidade até na hora da morte.

Isso nao pode acontecer — ela falou, derramando lágrimas.

Não vai restar nada meu nesta terra. Todas as séries, filmes e novelas que estrelei serão canceladas e queimadas. Ninguém irá lembrar da minha existência.

Não posso permitir que isso ocorra.

Então, me tira daqui.

Quando saiu da ala das celas, Cíntia refletia em como havia chegado até aquele momento.

Ela conseguia ver com nitidez, seu pai brincando aos sábados no jardim. Eles se divertiam, enquanto a mãe observava pela janela, com muito ódio no olhar. Ela detestava o carinho que o pai devotava à única filha.

Até que a Cristina nasceu. 

Acabou-se as brincadeiras. Cintia ficou de lado. Todo o mundo se curvava diante daquela criança linda de olhos azuis. E Cíntia, com seus dez anos de idade, começou a ganhar peso, e a ficar isolada de todos.

Quando Cíntia fez vinte anos, o centro das atenções ainda era Cristina. A irmã mais nova, mais bonita e mais inteligente. Tudo girava em torno das competições que Cristina disputava, dos troféus que a garota ganhava e do amor que os pais lhe davam.

Mas, as coisas tornaram-se insuportáveis, quando vindo de uma competição dessas que Cristina sempre participava, o pai capotou o carro, e acabou falecendo.

Cíntia culpou sua irmã, e nunca mais lhe perdoou.

Aos trinta, Cíntia havia passado no concurso da polícia civil. Era uma escrivã.

Casou-se com um amigo de infância, que era preguiçoso e beberrão. 

Engravidou aos trinta e um. Mas abortou com quatro meses. Teve que extrair o útero. Nunca mais poderia ter filhos.

No leito do hospital, seu marido anunciou “Não quero mais essa vida. Até mais”. E nunca mais voltou.

Foi naquela noite, que assistindo a tv no leito do hospital, que Cíntia viu Artur Alessandro pela primeira vez. Ele interpretava um enfermeiro que cuidava de crianças e idosos. Em um diálogo emocionante ele disse para uma das crianças “Não se preocupe. Eu sempre estarei ao seu lado”. E Cíntia ouviu a voz de Deus dizendo para ela que Artur era o homem da sua vida.

Foi então que decidiu se reerguer. Foi ao shopping e comprou tudo que tinha o nome e o rosto de Artur Alessandro. Assistiu às séries que ele estrelou, mais de cinco vezes seguidas. E sonhou com ele durante muitos e muitos dias. Aquele era o seu homem. O homem que sempre estaria ao seu lado. E ninguém iria tirá-lo dela. Ninguém.

Entrou na sala do delegado e deparou-se com três policiais conversando com o chefe.

Trouxe café, Cíntia? — perguntou o delegado Borges, alisando o bigode grisalho.

Tô preparando um bem quentinho — ela respondeu, baixando o olhar.

O que você quer aqui? A sala já é pequena e você ainda se mete de entrar — disse, abrindo o braços e fazendo um desenho de uma bola ao redor da cintura.

Os outros três policiais não se contiveram e começaram a rir.

Por que vocês já vão transferir o Artur? 

Prisão temporária, e esse cara merece ser feito de mulherzinha na cadeia, né Cíntia? — brincou o delegado.

Ele não oferece nenhum risco à investigação. É réu primário e tem domicilio fixo — argumentou.

Ele que vá pra puta que o pariu com seu domicílio. Eu quero é que estuprador morra! Dá o fora daqui, sua baleia — gritou.

Cíntia puxou a chave que estava sobre a mesa do delegado e saiu em disparada. Os outros policiais correram imediatamente atrás dela.

Pega a gorda! — gritavam os policiais pelos corredores.

Ela entrou na ala das celas e trancou a porta por dentro. 

O delegado se aproximou, e com força, batia na porta.

Abre isso agora, sua vadia gorda! O que você pensa que está fazendo? — gritava pela janela de vidro que havia na porta.

Cíntia respondeu mostrando o dedão do meio.

Se aproximou da cela que prendia Alessandro e notou suas mãos trêmulas. 

Isso é loucura. Eu vou morrer por conta disso — ela afirmou, tremendo as chaves em sua mão.

Você só tá mostrando o seu amor por mim, minha querida.

Promete que não vai me abandonar?

Claro! Claro que eu prometo. Agora abre essa cela antes que os policiais notem o sumiço da chave.

Mas, eles já notaram. Eu peguei a chave na frente deles e saí correndo.

Alessandro agarrou as barras, e esbravejando gritou: — Como você pode ser tão burra, sua gorda imbecil?! Você deveria pegar a chave às escondidas e não diante de todos! Como você conseguiu se tornar escrivã?!!

Ainda segurando as chaves, Cíntia se afastou abraçando o corpo com seus braços.

Por que você está agindo assim? Por que você está gritando comigo? Eu te amo tanto! — ela gritava e chorava ao mesmo tempo.

Eu nunca vi ninguém ser tão idiota como você! Como eu posso sair daqui, se você chamou a atenção dos policiais? Você não pensa?

Ninguém vai sair daqui. Nós vamos ficar juntos e você vai me amar como sempre me amou.

Eu nunca te amei sua tonta. Você sempre esteve enganada — ele disse, com ódio na voz.

Naquele instante, um buraco se abriu e engoliu Cintia. Ela sentiu que entrou em um turbilhão e se desequilibrou. Caiu e a chave foi parar na cela à frente. 

Um homem magro, usando touca preta e cheio de tatuagens, levantou, deu alguns passos, e se agachando, pegou as chaves. Deu um sorriso cheio de maldade para Artur Alessandro. 

O ator deu alguns passos para trás e se jogou contra a parede. Em seu rosto havia uma expressão de horror.

É hora da diversão — disse o detento de toca preta.

O homem abriu a cela e se dirigiu à cela ao lado. Destrancou o portão, libertando os outros dois detentos. 

Você achou mesmo que iria fugir? — perguntou o de toca preta em direção ao ator.

Os outros dois homens se ajoelharam e tomaram as chaves da mão de Cíntia, que ainda estava desacordada no meio do corredor.

Não precisamos partir para a violência. Eu posso recompensar vocês financeiramente — clamou Artur, juntando as mãos em petição.

Você vai morrer e não temos acordo — sentenciou o toca preta.

Um dos detentos abriu a cela, mas, no primeiro passo que deu dentro do compartimento, foi surpreendido pelo cano de um trinta e oito que roçou na sua nuca. Um único disparo e os miolos do homem explodiram para todos os lados. Cíntia recarregou o revólver, e com uma mira certeira, atirou no segundo detento. A bala perfurou o pescoço, jogando o homem contra a parede. Ele morreu afogado em uma poça de sangue.

O detento da touca preta foi esperto. Entrou na cela de Artur Alessandro e sacando uma gilete do bolso, encostou a lâmina no pescoço do ator, fazendo-o refém.

Aquieta esse cano aí moça! — gritou o touca preta — Aquieta isso ai, senão o seu grande amor aqui morre.

Cíntia mirava o revólver na cabeça do vagabundo, no entanto, ele se escondia atrás de Artur. Uma tensão percorria o ambiente. O delegado e mais dois policiais, assistiam a tudo pela janela de vidro. Duas viaturas encostaram na porta do Distrito. E mais três carros de emissora estacionaram na praça em frente ao DP. Um grande circo estava montado.

Os principais canais de televisão noticiavam um incidente na delegacia em que o ator Artur Alessandro estava detido. Era seu último dia no DP e ele seria encaminhado para a prisão. Mas, parece que as coisas não correram muito bem, e um novo espetáculo era oferecido ao público. O que será que estava acontecendo com o ator acusado de agressão e estupro de vulnerável?

Cíntia ouviu quando um helicóptero sobrevoou o DP. Imaginou que um caos havia se formado lá fora. E agora, como limpar toda essa merda?

O delegado fez conchinha com a mão contra o vidro e gritou: — É melhor baixar essa arma e se render, policial Cíntia! Vocês estão cercados. Não tem como escapar!

Cíntia, sem tirar os olhos do detento touca preta, respondeu: — Prefiro morrer aqui dentro do que me render a você. Seu porco imundo!

O detento fez um movimento rápido, levando o ator a se abaixar um pouco.

É melhor ouvir o delegado, dona. Se você teimar nisso aqui, o exército vai invadir esse lugar e não vai sobrar ninguém vivo — alertou o meliante.

Tenho uma proposta! — disse Artur Alessandro.

Você não fala nada que preste — murmurou o detento.

Todos querem sair daqui vivos, não é mesmo? — argumentou Alessandro — e, eu quero que nós saiamos daqui vivos, ok!

Aonde você quer chegar com isso? — perguntou Cíntia.

O meu advogado conseguiu entrar com uma maleta recheada com barras de ouro. Vocês me soltam e eu juro que deixo a maleta para vocês dois. O que acham? Três milhões para cada um? É um excelente valor, concordam? — perguntou Artur.

O detento observou a maleta embaixo de uma cadeira. Seus olhos brilharam. Cíntia percebeu o interesse do homem, mas continuou mirando na cabeça dele. Artur focava na escrivã, tentando adivinhar seus pensamentos.

Por favor, fiquem com as barras. Eu preciso viver — pediu quase em prantos.

Acho que podemos negociar — disse o touca preta.

Eu não vou negociar com bandido — reagiu Cíntia.

Um grito agudo veio da porta à direita. Todos olharam com espanto. Cristina, a irmã de Cíntia, gritava e implorava à plenos pulmões: — Meu Deus, para com isso! Você precisa parar, Cíntia! Você é minha irmã. Por favor, larga essa arma, deixa esses homens e vem comigo! — implorava.

Cala a boca, sua vaca! — respondeu Cíntia no mesmo tom de voz. — Você nunca se importou comigo, e agora vem dar um show pra mim. Você não engana ninguém sua vadia loira!

Você precisa parar com isso. Precisa parar de se sentir tão inferior. Eu te amo mesmo você sendo gorda e feia. Eu te amo, mesmo você sendo anormal.

Você que é a anormal aqui. Roubou o papai de mim, e agora quer roubar o meu homem? — disse Cíntia.

Eu nunca roubei o papai de você. Mas, você que se isolou com inveja de mim.

Cala a boca! — gritou Cíntia, atirando em direção à janela em que a irmã estava. O vidro espatifou-se e a bala arrancou um pedaço da orelha de Cristina.

O detento aproveitou para pegar a maleta e sair da cela, carregando Artur como escudo.

O que você está fazendo? — ela perguntou.

Olha! Muita calma nessa hora. Nós podemos sair daqui e ainda ficarmos milionários. Essa é a nossa grande chance — disse o detento, eufórico. — Na minha cela, tem um túnel. Eu terminei de cavar ontem. Ele vai dar na praça. Nós podemos sair e tentar escapar. Temos o bonitão de refém e você tem uma arma. Por que não tentar?

Como assim um túnel? Vocês fizeram um túnel?

Sim, os detentos da minha facção começaram esse túnel. E sempre que um de nós vinha pra cá, dava continuidade no trabalho aí! — explicou o touca preta.

O delegado se preparava para arrombar a porta. Três agentes da tropa de choque se alinhavam para entrar na ala.

Ou a gente faz isso agora, ou é caixão e vela preta. Não sai ninguém vivo daqui — disse o detento.

Isso é loucura! — falou Cíntia.

O detento ergueu a maleta e a atirou sobre a mão da escrivã. O revólver foi lançado para longe e Cíntia caiu com a mão sangrando.

O touca preta ainda tentou juntar algumas barras de ouro que estavam espalhadas, mas Cíntia lhe alcançou e segurando uma das barras, acertou a cabeça do detento.

Uma vez, duas vezes, três vezes, e ela esmagava os crânio do homem contra o chão. A barra de ouro antes brilhante, agora estava coberta com o sangue carmesim. O rosto de Cíntia gotejava sangue e o líquido escorria de sua boca. 

Mas que merda você fez? — exclamou Artur.

Eu só quero que você fique bem, meu amor — com olhos esbugalhados e com uma expressão de loucura — Não posso te perder meu amor. Sempre ao meu lado.

Você é louca!

Cíntia correu até a cela do detento e tateando o chão, encontrou o piso oco. Removeu a pedra de azulejo e verificou o buraco abaixo de si.

Vamos! Você vai na frente — disse a escrivã.

Artur Alessandro entrou no buraco com facilidade. Cíntia desceu logo em seguida. Ela carregava a maleta com algumas barras de ouro. O ator se arrastava pelo chão lamacento, enquanto Cíntia vinha em seguida passando pelo espaço com muita dificuldade.

Eu não posso ficar aqui, eu preciso sair! Volta, volta, volta! — praguejava Artur, tendo uma crise de pânico. Ele respirava com dificuldade. Seu peito subia e descia acelerado, ao mesmo tempo em que o som de sua voz causava um ruído assustador, como de um porco prestes a ser abatido.

Volta! Eu quero sair daqui. Não posso mais ir adiante!

Cala a boca! Continua! Vai em frente! Para de gritar — Cíntia respondeu com outro grito.

Sua porca! Idiota! Estúpida! Você merece morrer! — ele praguejava dentro do buraco claustrofóbico.

Cíntia deu um grito ensurdecedor: — Cala a merda da boca!!!! — e ela apertou o gatilho no rosto do ator. Um clique seco ecoou dentro do buraco. Acabou-se a munição.

Artur lhe encarou assustado. — Você ia me matar? — perguntou de boca aberta.

Cíntia respondeu retirando uma barra de ouro e enfiando na boca do ator. Ele recuou sem conseguir falar nada.

Cíntia, com mais força, continuou a empurrar a barra, até que ela dilatou a mandíbula do infeliz, que começou e cuspir jatos de sangue e sufocar com o próprio vômito. 

Ela não parava, e continuava a pressionar, pressionar até que a barra entrou de vez na garganta dele.

Artur tombou morto. Cíntia sorriu satisfeita.

 A voz dos policiais se aproximava do buraco em que ela estava. Arrastou-se para frente até chegar ao fim do túnel. Ergueu seu corpo acima do buraco e viu a praça apinhada de repórteres que lhe filmavam e fotografavam.

Cíntia jogou a maleta com o resto das barras. Sustentou o tronco volumoso acima da terra, mas sua cintura entalou no pequeno orifício.

Ninguém lhe ajudava. As lentes somente assistiam, espantadas, A Dama de Ouros, entalada em um buraco.

Mas ela não desistia. Com muita impulsão, remexia a barriga para o lado. Remexia a gordura para o outro, e nada lhe fazia sair dali. Os repórteres por perto caíam na gargalhada. E isso, revoltou ainda mais a escrivã. Ela ergueu seu corpo com tanta força que o solo ao redor do buraco começou a ceder. As pernas de Cíntia apareceram sobre a superfície, cheias de sangue e ossos expostos. Ela conseguiu sair do buraco, mas o osso da sua perna esquerda estava dilacerado.

Naquela mesma tarde, foi levada para o hospital. Os médicos fizeram o impossível, mas tiveram que amputar sua perna esquerda. 

Ela estava medicada e lúcida. Foi deixada sozinha no leito. Ligaram a televisão. O último episódio de Coisas do Amor estava sendo exibido. No lugar de Artur Alessandro, contrataram Gilberto Menezes para fazer o par romântico com a loira protagonista. 

Gilberto Menezes era tão bonito quanto Artur Alessandro. E ele acabava dizendo para a protagonista: — Eu sempre vou te amanhar. Você sempre terá um pedaço do meu coração!

Cíntia suspirou com as palavras do ator. Pronto, tudo estava resolvido. Seu novo amor havia se revelado. Gilberto Menezes era o nome. E Cíntia foi para a prisão amando outro galã.

FIM




Conto escrito por
Hugo Martins

Produção Four Elements
Marcos Vinícius da Silva
Melqui Rodrigues
Hugo Martins
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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Palavras Obscuras - 1x04 - Vingança Enigmática


Sinopse: Aparecida é uma escritora, uma mulher forte e decidida que, ao se dirigir até uma cidade vizinha para assistir à peça que ela mesmo escreveu, um misterioso acidente a leva ser considerada morta e o seu corpo carbonizado sepultado. Porém, antes mesmo que tivesse entrado no seu carro, Aparecida foi sequestrada e presa no porão da casa do inimigo de seu pai. Agora, diante de tal revés e ironia do destino, qual será o fim de Aparecida?



Vingança Enigmática
de Tânia Tonelli

 

Aparecida se dirigiu ao teatro municipal para assistir uma peça. Ela estava contente, pois era a autora da peça. Os personagens principais eram a sua irmã Josiane e o noivo dela Rodrigo. Todos os ingressos desta peça foram vendidos, pois estava fazendo sucesso na cidade. O teatro estava lotado, quase todos os alunos que estudavam na faculdade foram assistir à peça: O inimigo do meu pai. Assim que acabou a representação os atores foram aplaudidos. Depois essas pessoas se dirigiram ao buffet onde teve um coquetel para homenageá-los.

Josiane e Rodrigo estavam sendo parabenizados pela representação da peça. Então o convencido Sidnei se aproximou deles e falou:

- Meus amigos vocês são excelentes atores, a peça está fazendo sucesso na cidade Amora e daqui a alguns dias em todo Brasil.

- Obrigado Sidnei, a peça está fazendo sucesso porque foi escrita pela Aparecida, falou Josiane.

- Um bom texto nunca faria sucesso se não fosse representado por bons atores, falou Sidnei.

Rodrigo abraçou a sua noiva e falou:

- Meu amigo, obrigado pelos seus elogios, mas devemos reconhecer que o roteiro desta peça está ótimo.

Aparecida se aproximou deles e falou:

- Nós estamos de parabéns porque o roteiro e os atores desta peça são excelentes.

Assim que Aparecida terminou de falar essas palavras Rodrigo começou a aplaudir, todas pessoas que estavam neste coquetel também aplaudiram a moça. A cidade Amora localizava-se no centro do Estado de São Paulo, com quarenta e dois mil habitantes e se destacava na agricultura com o cultivo de laranja. Durante o dia Aparecida trabalhava em uma loja, à noite ela estudava no curso de letras. Às dezoito horas e quarenta e cinco minutos quando chegou na faculdade Felipe se aproximou dela e falou:

- Boa noite Aparecida, meus parabéns, no dia anterior eu assisti a peça O Inimigo Do Meu Pai, a estória é impressionante.

Emocionada, Aparecida falou:

- Obrigado Felipe, parabenize os atores, a representação deles estava ótima.

- Eu já elogiei Josiane e Rodrigo, agora estou parabenizando a escritora da peça, falou Felipe.

Aparecida ficou envergonhada, Felipe era um rapaz bonito que estudava jornalismo. Ela sempre disfarçava, mas gostava dele, então falou:

- Obrigado Felipe, se a sorte estiver do meu lado esta peça fará sucesso em todo Brasil.

- Sidnei pediu para lhe entregar este envelope, falou Felipe e entregou um envelope de carta a Aparecida.

Os dois conversaram por alguns minutos e se dirigiram às salas de aula. Aparecida achava Sidnei um cara convencido, ele era bonito, mas já havia ficado junto com quase todas as moças solteiras da cidade. Como a estava paquerando não lhe deixava em paz. Quando se sentou na carteira abriu o envelope, nele tinha um pedaço de papel escrito a seguinte poesia:

No final dos contos de fada

Branca de Neve, Bela Adormecida e Cinderela.

Ficaram com os seus príncipes encantados

Minha adorável escritora será que eu tenho

Chance de conquistar o seu coração?

Brava ela percebeu que detestava este cara, então pegou outro pedaço de papel e escreveu este poema:

Com A escrevo Amor

Com P escrevo Paixão

No céu, na lua e nas estrelas.

Estão escritos que você nunca conquistará o meu coração.

Porque somos apenas amigos!

No horário do intervalo ela se dirigiu a lanchonete da faculdade, quando se aproximou do Sidnei ele perguntou:

- Minha gata você aceita sair comigo no sábado à noite?

- Neste envelope está a resposta de sua poesia.

Ao acabar de falar essas palavras, Aparecida retornou para a sala de aula. Animado, Sidnei abriu o envelope e leu a poesia. Os seus amigos quando leram o poema tiraram sarro dele. Terminadas as aulas, Aparecida se dirigiu ao estacionamento, entrou no seu automóvel e voltou para casa. Ela era loira, solteira e com seus vinte quatro anos estava no quinto semestre do curso de letras. Os seus pais se chamavam Vanderlei e Mara, o seu pai trabalhava em uma padaria e a mãe era do lar.

A padaria em que Vanderlei trabalhava foi vendida, o novo patrão se chamava Gilberto Neves. Este homem era bom e deu um aumento salarial de vinte por cento aos seus funcionários. No domingo, como era dia de folga do Vanderlei, convidou o seu patrão para almoçar em sua casa.

Gilberto Neves era um homem alegre, ele tinha cinquenta e um anos, era solteiro e morava sozinho em um sobrado luxuoso. Enquanto faziam a refeição Josiane perguntou:

- Senhor Gilberto, não é difícil morar sozinho naquela mansão?

Sorrindo este homem respondeu:

- Não porque os meus três cachorros dobermann me fazem companhia.

A refeição prosseguiu alegremente. Passaram-se quinze dias, Josiane e Rodrigo foram convidados para fazerem a representação da peça na cidade vizinha. Contentes aceitaram o convite, pois exibiram a peça na sexta-feira, sábado e domingo. No sábado Aparecida se dirigiu a este município e foi ao teatro. Assim que terminou a peça os atores foram convidados para irem a uma festa. Aparecida recusou o convite porque iria a um baile e faria uma declaração amorosa ao Felipe. Ela se despediu dessas pessoas, e se dirigiu ao estacionamento. Enquanto voltava à cidade de Amora o seu automóvel bateu em uma árvore e se incendiou.

Passadas uns quarenta minutos uma família que estava no automóvel viu aquele veículo incendiado. Eles chamavam a polícia, os policiais acharam o corpo de uma mulher deformado. Então chamaram uma ambulância para levá-lo ao hospital. Felizes, Josiane e seu noivo voltaram para casa, quando viram os policiais e a ambulância Rodrigo estacionou o seu carro. Enquanto conversavam com o policial Josiane viu no chão perto do que sobrou do veículo queimado um pedaço de fotografia da sua família. Desesperada e chorando falou que a mulher que havia sofrido acidente era a sua irmã Aparecida. Como ela estava sofrendo demais, o seu noivo a levou ao hospital.

Rodrigo conversou com o médico que fazia plantão no hospital. Este homem comentou que o corpo daquela mulher estava irreconhecível, eles precisavam chamar o dentista para reconhecer o corpo através da arcada dentária. Como Josiane estava desesperada, o médico a mandou tomar um calmante. Na madrugada Rodrigo se dirigiu a casa do doutor Fabrício. O rapaz explicou ao dentista que a Aparecida tinha sofrido um acidente. Por ordem da polícia ele precisava ir ao hospital para reconhecer esse corpo através da arcada dentária.

O dentista ficou abalado, preocupado ligou o seu automóvel e o dirigiu ao hospital. Nervoso, ele entrou onde estava aquele corpo e pela arcada dentária reconheceu que aquela mulher era Aparecida Gomes. Às cinco horas Josiane voltou a sua casa, com a ajuda do seu noivo acordou os seus pais, chorando contou que Aparecida sofreu um acidente de automóvel e havia falecido. A dona Mara e o Vanderlei ficaram inconformados e choravam desesperados.

No velório de Aparecida teve muita dor e sofrimento. O enterro aconteceu no domingo às dezessete horas. Um repórter pediu ao cinegrafista para filmar o sepultamento desta mulher e esta reportagem apareceu no jornal de televisão. Com tanto sofrimento ninguém viu no sábado, mas enquanto Aparecida estava no estacionamento um homem colocou um pedaço de pano com sonífero no rosto dela fazendo-a desmaiar. Com a ajuda do seu parceiro colocaram ela no porta malas de um automóvel. Este homem entrou no veículo e foi embora, o outro entrou no carro de Aparecida, o ligou e entrou na estrada que conduzia a cidade de Amora.

No domingo às dezoito horas e quinze minutos enquanto passava o jornal a reportagem na televisão Aparecida ficou desesperada. Ela estava presa em uma sela com quatro metros quadrados. Naquele lugar tinha uma cama de solteiro, uma geladeira pequena, um sofá, no canto à direita tinha uma patente, perto dela estava a pia com uma torneira.

A televisão estava do outro lado das grades, em cima de uma prateleira a dois metros de altura. Chorando, Aparecida desesperada, tentava abrir a porta da cela e falava:

- Papai, mamãe não chorem por causa de minha morte. Eu estou viva!

Naquele momento abriram uma porta de madeira, apareceu na frente dela Gilberto Neves e falou rindo:

- Coitada! Esta moça deve estar sofrendo bastante!

Sem compreender o que estava acontecendo Aparecida falou:

- Senhor Gilberto Neves, por favor, me solte desta prisão.

Aquele homem deu uma gargalhada e falou:

- O meu verdadeiro nome não é Gilberto Neves, mas sim Guiomar Pereira.

Desesperada Aparecida falou chorando:

- O que eu fiz para o senhor mandar dois homens me sequestrar e simulou um acidente, os meus pais pensam que estou morta.

- Você não me fez nada, fiz este plano perfeito para me vingar dos seus pais, falou Guiomar rindo.

- O que o meu pai e a minha mãe fizeram para o senhor, pois deseja se vingar deles? Perguntou Aparecida.

- A vinte cinco anos eu, Vanderlei Gomes e Mara Silva morávamos na cidade de Jaú. Eu me apaixonei pela Mara, mas ela preferiu ficar com o seu pai. E para completar este homem me denunciou aos policiais porque desviei dinheiro do supermercado, respondeu Guiomar.

Furiosa Aparecida falou:

- Lugar de ladrão é na cadeia.

- Eu fiquei preso durante três anos, quando me libertaram fui a outro estado, falsifiquei os meus documentos, estudei, desviei dinheiro de vários burgueses e me tornei um homem rico, falou Guiomar.

Brava, Aparecida falou:

- Droga! Esta sua estória é muito parecida com a peça de teatro que escrevi.

Rindo ele falou:

- A minha vingança foi baseada na sua peça de teatro.

- Mentiroso! Aquele homem louco que sequestrou Aline usou a gargalhada de estimação dela para chamar a atenção da família e deixar pistas de sua armação, falou Aparecida.

Guiomar pegou do bolso direito de sua calça uma gargantilha com um crucifixo e falou:

- Esta joia é um dos seus objetos de estimação!

Furiosa, Aparecida gritou:

- Por favor, devolva o meu cordão!

Guiomar colocou esta jóia no seu pescoço e falou:

- Eu usarei este crucifixo para chamar a atenção de sua família.

- Tonto! Ninguém da minha família percebe que esta jóia é minha, falou Aparecida.

Aquele homem deu uma gargalhada, pegou do bolso esquerdo de sua calça um pedaço de papel e falou:

- Direi as pessoas que uma admiradora secreta me mandou esta poesia: Com A escrevo Amor

Com P escrevo Paixão

No céu, na lua e nas estrelas

Estão escritos o grande amor, que sinto por você

Pois lhe acho um homem especial

Meu querido príncipe encantado!

Sentindo raiva Aparecida falou:

- Fui eu que escrevi esta poesia, o senhor está roubando os meus direitos autorais.

- Acalma-se garota, acho melhor você comer algum alimento que está perto da geladeira, falou Guiomar.

Ao acabar de falar essas palavras ele foi embora, Aparecida ficou desesperada e chorou.

Na segunda-feira cedo, Guiomar se dirigiu a padaria. Ele deixou bem à vista no seu pescoço a gargantilha que pertencia a Aparecida. Sorrindo lia para as pessoas a poesia que recebeu de sua admiradora secreta. O seu Vanderlei ficou abatido com o falecimento de sua filha e não foi trabalhar. O patrão decidiu visitá-lo. Mara estava inconformada com o falecimento de sua filha e chorava. Vanderlei cumprimentou Gilberto Neves, mas estava triste.

Vendo o sofrimento desta família, Guiomar disfarçava, sentiu vontade de rir porque sua vingança foi perfeita. A prisão de Aparecida era na dispensa do sobrado daquele homem que foi construído no subsolo. Depois ele visitou sua prisioneira. Quando a viu falou:

- Garota, se por acaso você desejar comer algum alimento que não está ao seu alcance, por favor, avise-me.

Aparecida odiava aquele homem, disfarçando falou:

-Senhor Guiomar quem era esta mulher que foi enterrada no meu lugar?

- Era uma andarilha da cidade de São Paulo, respondeu Guiomar.

- Assassino! Gritou Aparecida.

- Garota você está enganada, pois nada fiz a aquela mulher, foram os dois homens que eu contratei que a eliminaram, falou Guiomar.

Algumas lágrimas saíram dos olhos de Aparecida quando falou:

- O senhor deve ter pagado bastante dinheiro para o meu dentista falar que a arcada dentária daquela mulher era minha.

- Eu entreguei para aquele mentiroso apenas cinco mil dólares, falou Guiomar.

- Quando eu sair deste lugar darei uma surra naquele homem, falou Aparecida.

- Você nunca o encontrará porque ele me falou que vai fugir com a sua amante, falou Guiomar.

Apavorada Aparecida falou:

- Aquele incompetente vai abandonar a esposa e os dois filhos pequenos.

- Fabricio sabe aproveitar a vida, falou Guiomar.

No dia seguinte cedo as pessoas ficaram inconformadas, pois o dentista abandonou sua esposa e os dois filhos.

Às dez horas Felipe se dirigiu ao escritório de Sidnei, quando ficaram sozinhos na sala ele falou:

- Meu amigo, por favor, me diga que eu estou maluco, pois tenho certeza que a gargantilha que está no pescoço do senhor Gilberto Neves é de Aparecida Gomes.

Sidnei ficou intrigado e falou:

- Aparecida Gomes está morta, no domingo nós fomos no velório dela. O dentista que reconheceu a arcada dentária dela nesta madrugada fugiu com outra mulher.

Surpreso Felipe falou:

- Então este homem pode ter mentido, talvez alguém deseja se vingar de Aparecida.

- Precisamos pegar as impressões digitais do Gilberto Neves para verificarmos a sua verdadeira identidade.

Os dois rapazes saíram do escritório e foram procurar aquele homem. Na praça em frente a padaria ele estava sentado em um banco fumando cigarro. Felipe disfarçou e comprou um maço de cigarros no bar. Então se aproximaram de Gilberto, como estavam fingindo que fumaram cigarros começaram a conversar com ele. Passados três minutos ofereceram cigarro ao novo amigo. Gilberto aceitou, com a mão esquerda segurou o maço e a direita pegou o cigarro. Depois de alguns minutos se despediram dele, afobados foram à delegacia.

Felipe era amigo de um detetive da polícia, com calma contaram que estavam desconfiados que o dentista tinha mentido quando confirmou que a arcada dentaria daquele cadáver era de Aparecida. Sidnei pediu para analisar as impressões digitais de Gilberto Neves, pois ele era o principal suspeito dessa possível armação. O detetive mandou o maço de cigarros ao laboratório, dentro de vinte e quatro horas ficaram sabendo de quem eram aquelas impressões digitais. No dia seguinte às oito horas Felipe e Sidnei retornaram à delegacia porque o detetive havia telefonado para eles. Após se cumprimentarem o detetive falou:

- Gilberto Gomes está usando identidade falsa, as impressões digitais do maço de cigarros pertencem ao Guiomar Pereira. Aquele homem é louco, já faz mais de seis meses que ele fugiu do sanatório.

Aparecida ficou à noite inteira acordada, então teve uma ideia de acabar com aquele pesadelo. Guiomar havia deixado algumas roupas na prisão para ela vesti-la, se tivesse vontade. Às sete horas colocou um vestido e calçou um par de sandálias. Assim que lavou o seu rosto penteou os cabelos, para completar passou batom nos seus lábios. Às sete horas e trinta minutos Guiomar foi visitá-la, quando o viu sorrindo falou:

- Bom dia Guiomar!

Espantado ele perguntou:

- Nossa! O que aconteceu que você está tão feliz?

- A sua presença me traz muita alegria, respondeu Aparecida.

- Garota pare de contar mentiras, falou Guiomar.

- Guiomar, estou com vontade de comer torta de presunto com muçarela e bolo de chocolate, falou Aparecida.

Bravo Guiomar falou:

- Eu sou um homem muito ocupado, mas como sou um cavaleiro atenderei o seu pedido.

- Por favor, traga uma garrafa de champanhe, falou Aparecida.

- Com licença garota, vou precisar ir à padaria comprar esta comida, falou Guiomar.

Passados vinte e cinco minutos aquele homem retornou ao local onde Aparecida estava presa sorrindo falou:

- Garota se sente na cama para eu poder abrir a porta.

Ela obedeceu às ordens de Guiomar, ele pegou o chaveiro do bolso direito de sua caça e com uma chave abriu a porta da sela. Ele colocou três sacolas plásticas no sofá. Sorrindo Aparecida perguntou:

- O senhor aceita tomar café da manhã junto comigo?

Ele pensou um pouco e respondeu:

- Como você é uma garota bonita aceito o seu convite.

Sorrindo, Aparecida pegou das louças sujas dois copos, dois pratos e dois garfos, os lavou na pia e os colocou sobre a cama. Ela abriu as três sacolas, pegou um prato plástico com a torta, na outra tinha uma bandeja pequena com o bolo de chocolate e na última a garrafa de champanhe. Sorrindo Aparecida falou:

- Guiomar, por favor, abre o champanhe.

Irritado ele pegou a garrafa de champanhe e a abriu, depois a entregou para Aparecida. Ela colocou esta bebida nos dois copos, então o convidou para comer os alimentos deliciosos. Guiomar comeu um pedaço de torta e outro de bolo, animado tomou dois copos de champanhe. Passados alguns minutos ele falou:

- Eu estou me divertindo com a sua companhia, mas preciso ir porque tenho vários compromissos.

Rapidamente Aparecida se levantou da cama, abraçou aquele homem e falou:

- Meu amor, você é o dono do meu coração!

Confuso Guiomar falou:

- Garota desde domingo estou com vontade de beijar a sua boca.

Aparecida deu um chute que acertou no estômago do carrasco. Enquanto ele ficou gemendo de dor, ela pegou o chaveiro para abrir a porta da cela. Apavorada pegou a primeira chave e não conseguiu abri-la, a segunda tentativa também foi negativa. Na terceira chave conseguiu abrir a porta, como Guiomar havia melhorado correu atrás de Aparecida e a derrubou no chão. Desesperada ela falou:

- Por favor, Guiomar não me machuque.

Rindo aquele homem pegou o canivete que carregava na cinta, o abriu e falou:

- Garota eu te libertarei dos sofrimentos deste inferno.

Guiomar queria enfiar o canivete no coração de Aparecida, neste momento abriram a porta de madeira. O detetive Alfredo pegou o seu revólver, deu um tiro que acertou na mão direita do bandido antes que ele machucasse a moça. Ele gritou porque sentiu dor e foi preso pelo policial. Felipe quando viu Aparecida deitada no chão, se abaixou e falou:

- Aparecida eu tinha certeza que você estava viva.

Ela abraçou o Felipe e falou:

- Felipe eu tive tanto medo que aquele homem fosse me matar.

O detetive chamou o delegado para vir naquela casa. Junto com os policiais vieram duas ambulâncias, Aparecida e Guiomar foram levados ao hospital. Sidnei telefonou aos jornalistas que trabalhavam no jornal, rádio e televisão e os avisou sobre esta notícia impressionante. Josiane, Rodrigo, Mara e Vanderlei ficaram surpresos e felizes quando souberam que Aparecida estava viva. Eles se dirigiam ao hospital para verem a moça. Quando viram Aparecida emocionados se abraçaram e ficaram felizes. Apesar do susto o médico confirmou que ela estava boa, mas precisou ir à delegacia depor e voltou para a sua casa. Guiomar assim que recebeu o atendimento médico foi transferido ao sanatório.

Esta notícia foi divulgada em todo o Brasil, os jornalistas comentaram que Sidnei desconfiou que Aparecida estava viva. Sidnei por ser o herói muitas fãs queriam manter contato com ele.

Na segunda-feira às dezoito horas e trinta minutos Aparecida retornou a faculdade. Emocionada viu Felipe e entregou um cartão com esta poesia.

Felipe agora que estou olhando nos seus olhos

Perderei o medo e confessarei

Como o amo demais

Enquanto estava naquele pesadelo

A única coisa que eu queria

Era poder vê-lo pessoalmente

Para poder abraçá-lo e beijar a sua boca!

- Aparecida eu também estou apaixonado por você, falou Felipe.

Felizes os dois se abraçaram e beijaram-se.




Conto escrito por
Tânia Tonelli

Produção Four Elements
Marcos Vinícius da Silva
Melqui Rodrigues
Hugo Martins
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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Palavras Obscuras - 1x03 - O Rei de Copas


Sinopse: Meses após lidarem com o caso do maníaco Lázaro, a polícia do Distrito Federal agora está enfrentando uma nova ameaça: Um psicopata muito mais perigoso e sagaz. Seu nome é Igor Ventura, que recebeu o codinome de “Rei de Copas”. Diego, um detetive que participou do caso do maníaco, agora está movendo céus e terras para deter este novo criminoso, mas a tarefa não será nada fácil. Igor tem recursos, informantes por todos os lados e consegue facilmente manipular quem ele quiser. Para Igor, matar não é apenas um crime, é uma obra de arte! As cartas estão na mesa, todas as peças estão em seu devido lugar, a cidade de Brasília será o palco de uma caçada brutal e violenta, e nessa caçada, vence o último que ficar de pé.



O Rei de Copas
de Melqui Rodrigues

 

“Matar não é um crime, matar é uma obra de arte”.
-Igor Ventura
______________________________________________________________

O que leva alguém a se tornar um criminoso? Qual conceito patológico é comprovado de que uma pessoa tenha tendência a ser um psicopata? Teria sido a criação dos pais? Teria sido algum trauma de infância? Um amor não correspondido? Uma meta não alcançada?

Vivemos e morremos e seguimos repetindo essa onda de crimes por todo o Brasil. Pai matando filho, filho matando pai, discussões banais que resultam em morte. Hoje em dia tudo é motivo de provocar briga e nos mais extremos casos: A morte. Diferenças políticas, religião, orientação sexual, e até mesmo casos mais banais como falar mal do seu time do coração, ou quando alguém prefere a janela fechada no ônibus e outro prefere aberta.

Tudo isso citado acima pode transformar a mente de um ser humano, mas existem aqueles que conseguem se sobressair, que estão completamente atrelados ao mal extremo... Muitos até dizem que essas pessoas têm pacto com o próprio demônio.

Verdade ou não, sabemos que o verdadeiro inferno é onde nós vivemos, e na cadeia alimentar da vida, se você é jogado em uma jaula de feras, a única forma de escapar... É se tornar uma delas.

Lago Norte, Brasília-DF. 18 de Dezembro de 2021.

Uma jovem de aparentemente 20 anos, rosto angelical, cabelo castanho e amarrado pra trás, está juntamente com sua mãe, uma mulher de uns 40 anos, cabelo loiro e curto até os ombros, elas estão correndo em uma casa gigantesca e se escondem debaixo da mesa da cozinha.

A garota está chorando e bastante nervosa, sua mãe tenta acalmá-la.

— Shh, shh! Você precisa ficar calma, filha. A gente vai sair dessa, eu prometo.

— Não! O papai tá morto, os cuidadores da casa também... Vamos morrer!

— Não, eu não vou deixar você morrer. Escuta, fique aqui escondida, eu vou tentar alcançar o telefone.

— Não, mãe! Não, pelo amor de Deus, não me deixa aqui sozinha, ele vai me matar! Ele vai matar a gente, mãe. Por favor, por favor...

— Shh, fala baixo, filha, por favor! Ele tá lá encima, se eu consegui chegar a tempo no telefone da sala, vamos ligar pra polícia e assim a gente dá um jeito de sair sem sermos vistas, entendeu?

— Tá bom!

— Eu te amo!

A mãe sai debaixo da mesa e vai andando a passos “de gato” até a sala, ela se assusta ao ver um de seus criados no chão com a garganta cortada.

— Meu Deus, meu Deus!

Ela ouve um barulho, precisa se apressar e tentar achar o telefone o mais rápido o possível.

De lá de cima, do topo das escadas, vemos a silhueta de um homem, ele está vestindo um traje preto e usando uma máscara prateada de lobo. Ele pega uma faca, começa a descer as escadas e fica passando a faca na parede pra que possa ser ouvido um barulho agoniante.

A mulher está discando pra polícia, ela se agacha no canto da mesinha do telefone. Uma policial atende.

— Polícia Militar, boa noite!

— (Sussurrando) Por favor, por favor, eu preciso que... Eu preciso que venham até a minha casa no Lago Norte. Fica perto da administração regional, é a casa 6. Meu marido foi morto por um homem e agora ele está atrás de mim e da minha filha.

— Ok, senhora, já estamos providenciando a ajuda.

— Por favor, sejam rápidos.

O barulho da faca passando na parede aumenta a cada vez mais e a mulher fica desesperada. Ela tenta se esconder atrás da enorme árvore de natal posta em sua sala.

O criminoso desce as escadas e vai andando tranquilamente e não parece ter pressa nenhuma em terminar o que começou. Ele para por instantes, observa o local, tenta ver se ouve algum barulho incomum.

Na cozinha, a garota está tão desesperada que sua respiração fica ofegante, a ponto de poder ser ouvida a uma certa distância. O assassino parece ter escutado os gemidos vindo da cozinha e se direciona pra lá.

A mulher estando escondida atrás da árvore percebe que ele está indo pra lá e pensa em fazer alguma coisa. A jovem continua debaixo da mesa, apenas a toalha a está escondendo, ela percebe passos se aproximando dela e tenta segurar o máximo a respiração.

O assassino parece gostar de fazer tudo em passos lentos sem a menor pressa de ver o resultado, ele está parado de pé bem atrás da mesa, lá debaixo a garota está com os olhos fechados lacrimejando e quase tendo um ataque de pânico. Ele vai se agachando aos poucos pronto para levantar a toalha da mesa, nesse instante a mulher aparece por trás o atingindo com um vaso na cabeça.

— Deixa a minha filha em paz!

O criminoso parece nem ter sentido a pancada, a mulher observa a relutância dele e grita:

— Janete, corre!

Janete sai de baixo da mesa e corre para o lado, o criminoso tenta alcança-la e sua mãe agarra o seu braço com força.

— Mãe!

— Corre, filha! Corre!

Janete sai correndo dali, enquanto isso o assassino bate com a testa na mãe da garota, ela cai no chão atordoada. Ele a levanta e a apunhala com uma facada no estômago.

— Aaaai!

Em seguida, ele levanta a mulher e a encosta na parede. Ele sussurra pra ela:

— Não deveria se meter, sua corrupta do caralho!

Ele pega a faca e mergulha várias vezes contra o pescoço da mulher, o sangue jorra por todos os lados e suja a sua máscara de lobo. Ao ver que a mulher já está completamente sem vida, ele tira sua máscara e finalmente podemos ver o teu rosto.

Ele é Igor Ventura, 1,70, cabelo acizentado, barba por fazer, tem uma tatuagem no braço esquerdo, algumas pequenas tatuagens nas mãos, usa anéis exóticos e um brinco em formato de cruz na orelha esquerda.

Ele tira todo o traje que está usando naquela ocasião e observa a carnificina que ele mesmo fez.

— Ai que droga! Odeio me sujar com o sangue desses porcos!

Enquanto isso, Janete está tentando sair de casa e não consegue, todas as portas foram trancadas.

— Por favor, alguém me ajuda! Socorro! Alguém!

Enquanto clama por ajuda na porta de vidro, Igor a pega pelo pescoço arrastando-a pra trás.

— Shh, shh, ninguém pode te salvar, querida.

— Por favor, deixa a gente em paz! O que nós fizemos?

— “O que nós fizemos”? Pergunta pro filho da puta do teu pai e pra vadia da tua mãe. Ah é, eles não podem te responder agora, pois estão bem mortinhos.

— (Em desespero) Não, meu Deus!

— Gosto desse teu cheiro, esse cheiro de uma jovem virgem, é tão excitante matar jovens virgens. (Fala lambendo as orelhas da garota)

— Eu não fiz nada! Me deixa ir embora, por favor!

— Você é tão corrupta como os teus pais! Pensa que eu não sei você adulterou o resultado da bolsa da faculdade da tua amiga pra que ela não conseguisse passar?

— O quê? Eu não...

— É, mocinha. Eu sei de tudo e não adianta me enganar. Agora você vai se juntar aos seus pais lá no inferno, adoraria transar com você antes de te matar, mas felizmente pra você eu não sou um estuprador... Então, diga adeus, meu anjinho!

Igor enfia faca no estômago de Janete.

— Ahhhhh!!

— Shh, shh, calma, tá tudo bem, tá tudo bem.

Ele volta a enfiar a faca novamente.

— Não vou estragar seu rostinho como fiz com os outros, você terá uma morte pura.

Ele dá outra facada nela, esta começa a agonizar aos poucos. Ele beija a sua boca e de maneira doentia começa a lamber o sangue que escorre dela.

— Que delícia! O sangue das virgens são sempre os mais saborosos!

Janete não consegue mais ter nenhuma reação, ela lentamente fecha os olhos e morre.

Igor se levanta, observa a garota morta, em seguida ele vai até o telefone e disca pra alguém.

— Oi, é da polícia? Eu sinto muito pelo ocorrido, a minha esposa estava discutindo com o cunhado e qualquer coisinha ela já fica paranoica querendo chamar a polícia, mas tá tudo resolvido, não precisam mandar ninguém pra casa próxima da administração regional. Eu sinto muito por fazer vocês perderem o tempo de vocês... Até logo e feliz natal antecipado!

Igor desliga o telefone, ele vai até um canto da sala onde tem um bar, ele pega uma garrafa, liga o rádio e diz:

— Bom, agora sim vou poder fazer minha moldura.

Nesse meio tempo, Igor reuniu todas as pessoas que ele matou dentro daquela casa até a sala, ele pega umas cordas, um machado e vários outros acessórios, não se sabe necessariamente o que ele vai fazer com isso.

Mas ele está sempre com uma taça de vinho toda vez que pega alguma coisa, ou muda algo do lugar.

Mais tarde, ele pega galões de gasolina e joga por toda a sala, a árvore de natal está um pouco mais atrás.

O trabalho durou horas, mas depois que aparentemente terminou, ele pega uma poltrona e coloca na frente da sala. Ele se senta, pega uma taça de vinho e de maneira elegante observa o que acabara de fazer. Ele pega um isqueiro, acende um cigarro, dá uma tragada de leve, seu olhar pleno, sexy, sem demonstrar nenhum tipo de emoção... Ele acende o isqueiro novamente e joga no meio da sala e o fogo começa a se espalhar.

Quando o fogo está subindo, vemos uma imagem macabra talvez nunca antes vista ou feita por alguém, o corpo de Janete está amarrado no meio da sala no alto, e partes de braços e pernas de outras pessoas estão costuradas no dela. De longe, dá-se a ilusão de que são asas de anjo, e ela está bem na frente da árvore de Natal. Um verdadeiro cenário de caos, um verdadeiro crime com requintes de crueldade...

Igor pega uma carta de baralho, olha para a sua “arte” e diz:

— Mais um trabalho bem feito... Não é a toa que eu sou o Rei de Copas.

Em todos os noticiários locais e também nacionais, repórteres e jornalistas estão anunciando os crimes feitos por Igor Ventura.

— Igor Ventura, o psicopata conhecido como “Rei de Copas” fez novas vítimas...

— As vítimas dessa vez foi a família do secretário da administração regional no Lago Norte...

— Esse já é o quinto caso em menos de 3 meses...

— O Modus Operandi do assassino é sempre deixar uma carta de baralho como símbolo de seu crime após matar as vítimas...

— Igor Ventura é procurado por toda a polícia do Distrito Federal e nunca se sabe onde ele está localizado...

— A PM do Distrito Federal disse que esse é o caso mais difícil desde o maníaco Lázaro que assassinou uma família inteira na cidade da Ceilândia e acabou sendo pego em Águas Lindas de Goiás após uma operação de 20 dias...

— O Rei de copas, assim está sendo conhecido esse criminoso que atende pelo nome Igor Ventura...

— Voltaremos com mais informações em breve e esperamos descobrir o paradeiro do criminoso...

Lago Norte, Brasília-DF, 19 de Dezembro de 2021.


A perícia juntamente com alguns policiais se encontram na casa onde ocorreu o crime na noite passada. Entre eles está o detetive Diego (1,75 de altura, físico delgado, cabelo ondulado, olhos claros). Ele está olhando toda a bagunça que o assassino deixou, um de seus colegas vai até ele entregando-lhe uma carta de baralho.

— Chefe! Encontramos isso aqui.

Diego pega a carta e fica enfurecido se segurando pra não esmaga-la. Neste momento, sua outra colega Salete (loira, usa o cabelo preso pra trás, pele clara) chega até ele.

— Pelo visto ele fez de novo, não é?

— Quem esse maldito pensa que é? Ele está brincando com a polícia, fazendo de todos nós gato e sapato.

— E olha que pensávamos que o Lázaro fosse dar trabalho pra a gente, hein? Veja só a situação que estamos.

— Mas o pior de tudo é que o Lázaro era “bicho do mato”, vivia fugindo pela mata e era extremamente escorregadio, esse aqui não. Ele gosta de deixar evidente o que faz, não tem medo de ser pêgo, parece que gosta de exibir seus triunfos.

— E sabe o que mais me intriga, Diego? Ele só mata pessoas que tem uma certa relevância ou... Cargo de muito prestígio. Ainda não vi nenhum caso dele matar uma dona de casa de classe média, por exemplo.

— Sim, isso também me deixa...

Alguém da perícia interrompe.

— ... Senhores! Vão gostar de ver isso.

— O que aconteceu?

— Nós tivemos acesso ao notebook do secretário. Encontramos depósitos feitos na conta bancária dele e adivinha? Ele e a mulher extraviavam o dinheiro recebido da administração regional para as suas contas pessoais.

— Puta que o pariu!

— É, e tem mais! A filha deles, Janete, ela falsificou uma carta de admissão de uma amiga pra que ela não conseguisse a bolsa pra faculdade. Tudo isso foi deixado mastigado aqui no notebook, até parece que queriam que a gente encontrasse.

Salete argumenta:

— Com certeza queria que a gente encontrasse.

— Aquele filho da puta... Isso não vai ficar assim... A gente vai dar um jeito de pegar esse desgraçado.

Igor está muito mais a frente que qualquer pessoa ali, e isso é notório. Passou-se o natal, as notícias sobre “O rei de copas” continuam a circular. Antes temido e procurado pelas pessoas, Igor agora está sendo idolatrado,amado... Pessoas começam a imprimir cartazes com o seu rosto alegando total aprovação a ele.

A polícia se sente recuada, como pode a população está defendendo um bandido descaradamente? Diego está bastante incomodado com toda essa situação.

Dias depois...

Já é Janeiro de 2022, Igor está em seu apartamento e tem dois homens ali com ele. Ele termina de carimbar alguns convites e entrega para os rapazes.

— Bom, faça o possível pra que esses convites sejam entregues e assegurem a vinda de todos eles. Esse baile de máscaras tem que ser inesquecível! Vai ser a noite onde eu vou colocar os pingos nos “I” na porra dessa cidade. Ah! Não se esqueça de convidar nossos amigos policiais também, eles não vão querer perder a oportunidade de virem atrás de mim.

— Ás suas ordens, senhor!

E como foi pedido, o convite para o baile de máscaras foi chegando para várias pessoas em vários cantos do Distrito Federal, pelo visto são pessoas escaladas a dedo pelo próprio Igor. O mais curioso é que ele não é um bandido qualquer, possui recursos e consegue lucrar com tudo o que faz, onde está o segredo de tanto sucesso mesmo sendo um procurado pela polícia? Os convites não param de chegar e até surpreende algumas pessoas.

— Quê? Baile de máscaras? O que esse filho da puta tá pensando? – Esbravejou Diego após receber o convite. Salete e Eduardo tentam acalmá-lo.

— Calma, Diego. Talvez essa seja a oportunidade de pegarmos de vez esse infeliz.

— Ela tem razão, Diego. Senão por que ele iria mandar esse convite?

— E se for uma armadilha? Talvez esse idiota queira pregar uma peça na gente.

— Mesmo se for uma peça, nós iremos preparados. Colocaremos policiais apaisana pra estarem na festa e nós também estaremos lá fingindo que somos convidados normais.

— Diego, o Eduardo tá certo. Com certeza o delegado Marcelo vai aprovar a operação, essa pode ser nossa única chance de pegar ele.

— Droga! Droga! Ok, vamos à essa maldita festa! Mas eu só vou porque quero ter o prazer de prender pessoalmente aquele desgraçado.

Horas depois, Igor está em seu apartamento terminando de conversar com seus comparsas.

— Já foi tudo entregue como combinado?

— Sim, senhor!

— E os policiais? Receberam o convite?

— Sim, senhor! Só não temos certeza se virão.

— Com certeza eles virão... Ah, Fábio! Lembre-se que no dia da festa você terá uma outra missão pra mim, não ouse falhar.

— Deixa comigo, chefe!


— Bom, sábado teremos a maior festa de nossas vidas... Esse baile de máscaras será o renascimento de uns... E a sepultura de outros.

Sábado- 8 de Janeiro, dia do Baile de Máscaras.


Diego, Salete e Eduardo estão devidamente trajados para o baile promovido por Igor. O delegado Miguel dá as ordens.

— Eu sei que no fundo vocês estão achando essa missão até mesmo “ridícula”, mas esse é o único jeito de pegar esse infeliz, finjam o quando puderem. Nós vamos mandar guardas armados disfarçados. Se as coisas piorarem, chamem reforços!

Todos falam em uníssono:

— Sim, senhor!

Casa de Festas, Asa Sul, Brasília-DF.

Chegou a grande noite da festa, os convidados estão aos poucos chegando ao local, todos eles muito bem vestidos usando suas máscaras exóticas. Em um local do salão, há mulheres seminuas fazendo danças sensuais com máscaras, a festa de luxo também é um mar de drogas, bebidas e tudo o que o “diabo gosta”.

Diego, Salete e Eduardo chegam à recepção, eles entregam os seus convites e entram no salão. Salete argumenta:

— Pra um criminoso, até que ele tem bom gosto pra ornamentação, hein?

— Deixa de ser tola, Salete! Esse lugar é praticamente um prostíbulo!

— Desculpa, é apenas a minha humilde opinião.

Lá dentro há um palco com uma passarela típica de desfiles, um homem aparece ali pegando um microfone pra dar um recado a todos.

— Senhoras e senhores, sejam bem vindos à essa noite especial! Espero que estejam desfrutando de todo o conforto e melhor atendimento possível aqui. Mas antes de darmos continuidade a esta festa, quero que aplaudam o nosso anfitrião e responsável pela realização desse evento.

Todos começam a aplaudir, Igor aparece muito bem vestido e com uma máscara de ferro dourada, ele vai até a ponta do palco, pega o microfone pra si e espera até que todos façam silêncio. Diego está lá atrás observando juntamente com os outros.

— Boa noite, miladies! Boa noite, milordes! Não vou tomar o tempo de vocês, só vim avisar que... O proibido não existe nesta festa, estão liberados pra fazer o que bem entender. Esta noite, sintam-se à vontade para cair nas tentações e sejam quem vocês quiserem ser... Aproveitem a festa!

Todos o aplaudem eufóricos, Igor sai de retirada ainda ovacionado pelo público que segue os festejos brindando. Diego decide ir atrás dele.

— Eu vou procurá-lo.

— Espera, Diego! Não vá sozinho!

— Se formos juntos, Salete. Vamos levantar suspeitas.

— Então deixa pelo menos o Eduardo ir com você, ele pode tá armado.

— Mas e você?

— Eu? Eu vou “aproveitar a festa”. Ah brincadeira, vou tentar descobrir algo, vão depressa!

Diego e Eduardo entram no meio da multidão pra ir atrás de Igor, Salete vai até um bartender.

— Oi, me vê uma caipirinha, por favor!

— É pra já, moça!

Águas Claras, Brasília-DF, 20h30.

Jéssica, a esposa de Diego chega à sua casa após um dia de trabalho e com algumas sacolas de compras nas mãos. Ela deixa as sacolas encima da mesa e depois vai até a geladeira. Ela abre a porta, pega uma jarra de suco de laranja de lá de dentro e coloca na pia. Ela pega um copo, coloca o suco no mesmo e enquanto mata a sua sede, um ruído é ouvido no corredor da casa perto das escadas.

Jéssica para de beber o seu suco e fica em silêncio por alguns segundos até que ela decide chamar pelo marido.

— Diego? É você?

Nenhuma resposta ela obteve, então ela ignora qualquer coisa e volta a colocar o suco dentro da geladeira. Em seguida, ela começa a tirar as coisas que comprou das sacolas separando-as em cima da mesa. Enquanto faz isso, ela ouve um barulho de miado.

— Ai, Fadinha! É você? Espera um pouco, eu vou levar a ração pra você.

Jéssica abre o armário da cozinha e pega um pacote de ração, ela pega a vasilha da gata que fica próxima à pia e coloca a ração dentro e vaga pela casa procurando a gata.

— Fadinha, pss pss pss, cadê você, meu amor?

Ela ouve no andar de cima um barulho ainda mais forte e escuta a gata miando como se estivesse com muita raiva ou vendo algo que não se agradou.

— Fadinha?

Ela sobe as escadas ainda com a vasilha de ração nas mãos e chega ao corredor dos quartos.

— Fadinha? Cadê você?

Ela vê a porta de um dos quartos semiaberta. Jéssica se aproxima, começa a abrir a porta vagarosamente.

— Fadinha?

A gata aparece de vez pulando em cima dela arranhando o seu braço fazendo com que Jéssica derrube a ração no chão, e em seguida sai do quarto disparada e vai pelo corredor.

— Ahh! O que deu em você?

Jéssica com um arranhão no braço e de costas no corredor, não percebe que alguém está se aproximando dela vagarosamente sem que possa ser ouvido os seus passos.

Ela fica um tempo observando os seus arranhões e sente como se algo a estivesse observando. Ela começa a olhar vagarosamente pra trás e vê um homem de capuz usando uma roupa preta e uma máscara de lobo prateada.

— Aaaaahh!!

O homem tenta acertá-la com uma espécie de punhal e Jéssica desvia dele, ela cai no corredor, se rasteja indo pra trás, mas de frente pra ele.

— Quem é você? O que você quer de mim?

O homem a segura pelas suas pernas, ela fica de bruços no chão, começa a se debater e no embate acerta um chute na cara do homem. Jéssica se levanta, tenta correr pra alcançar a escada, mas o homem se recupera rápido, a alcança, puxa os seus cabelos e a arremessa contra a parede do corredor.

Ele a pega pelo pescoço, faz com que ela fique de pé contra a parede, a respiração dela começa a ficar fraca, quando estava prestes a perder as forças, Jéssica chuta as partes íntimas do criminoso e dá uma cabeçada nele. Ela tenta se recuperar, pega impulso pra escapar, chega até as escadas, começa a descer os degraus desesperada.

— Socorro! Socorro! Diego!

Ela vai até a porta, tenta abri-la, mas chaves não se encontram mais ali.

— DROGA! DROGA! ABRE!

No topo da escada, o assassino aparece zombando de Jéssica balançando a chave de sua casa.

— Como que...? Quem é você? O que quer de mim?

Enfim podemos ouvir a voz do assassino:

— Você será a peça mais importante desse baralho.

Cerca de meia-hora se passou, Eduardo entra em quarto procurando por Igor na casa de eventos, ele vasculha aquele quarto e quando está prestes a sair, recebe um golpe na cabeça e cai desmaiado.

Minutos depois, vemos Diego entrando em uma sala espaçosa no subsolo daquele prédio. Ele está andando pela sala verificando o local, ele puxa a arma e a segura firme.

Enquanto faz isso, Igor aparece vindo pela outra porta.

— Ora, ora, ora... E não é que o nosso policial herói veio aqui?

— Parado aí mesmo, Igor! Você está preso pelas dezenas de homicídios que cometeu nos últimos meses.

— Ah, blá, blá, blá, blá... Sabe o que eu odeio em vocês policiais? Que vocês só enxergam aquilo que seus olhos querem ver, não enxergam que há muito mais podridão nesse mundo do que um assaltantezinho de esquina. Vocês vivem barrando o trabalho honesto dos camelôs na rodoviária, tratam os mendigos como aberrações... E acham que pessoas como eu que são os monstros? Eu vou te dizer uma coisa, detetive! E é bom que fique bem claro isso: Você tem muita sorte de não ser como os policias corruptos que eu conheço, mas tem uma coisa que eu odeio em você.

— Ah é? E o que é?

— Esse maldito dom de omitir aquilo que está debaixo do teu nariz.

Igor pega seu celular e mostra na tela um vídeo. Neste vídeo, está Jéssica amarrada em uma cadeira pedindo socorro.

— Por favor! Me deixa em paz! DIEGO!!

— Je... Jéssica, o que você fez, seu filho da puta?

— Esse é o preço que se paga quando você não faz o seu trabalho de policial direito.

— Minha esposa não tem nada a ver com isso! Solta ela, seu desgraçado!

Diego fica furioso, está disposto a atirar em Igor.

— Isso! É assim, é assim que eu quero... Essa é a reação que eu queria que você tivesse.

— Eu vou matar você... EU VOU MATAR VOCÊ!

— Não, não vai não. Sabe por quê? Porque agora a tua esposa está nas minhas mãos, coleguinha. Um telefonema que eu fizer, e ela morre.

— Seu, seu imundo! A Jéssica é inocente! Ela é inocente, ela não...

— ... Eu também já fui inocente um dia, caralho! Mas essa vida... Essa sociedade de porcos mercenários... Me corrompeu. E agora eu sou o que sou (Ele tira a arma da cintura). Agora... Abaixa a sua arma.

— Não!

— Não me faça pedir de novo. Ou abaixa essa arma, ou eu mato a tua esposa. Espera, acha mesmo que eu não sou capaz? Um momento... (Ele disca um número no celular) Oi, Fábio? Sobre a vaca que tá com você... Pode se livrar de...

— ... Não! Não, por favor! Por favor, a Jéssica não, a Jéssica não!

— LARGA A PORRA DESSA ARMA... AGORA!

Diego não vê outra saída, coloca a sua arma no chão lentamente.

— Chuta ela pra longe!

Ele chuta a arma a uma distância que ele não possa alcançar.

— Agora sim... Somos só eu e você. Finalmente teremos a chance de ter o nosso acerto de contas, detetive Diego. Ou melhor dizendo... Priminho.


A vida tem maneiras cruéis de nos castigar, seja por um acidente, uma fatalidade, uma morte familiar, ou na pior das hipóteses... Ter o mesmo sangue de seu pior inimigo. Diego não tem mais saída, terá que enfrentar o verdadeiro demônio, terá que enfrentar... O rei de copas.

 

                                                               FIM?



Conto escrito por
Melqui Rodrigues

Produção Four Elements
Marcos Vinícius da Silva
Melqui Rodrigues
Hugo Martins
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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O Diabo Mora ao Lado Conto

O Diabo Mora ao Lado Conto

WEBTVPLAY APRESENTA
O DIABO MORA AO LADO



Conto de
Eduardo Canesin




© 2020, Wattpad.
Todos os direitos reservados.

 ***

– Cara, o diabo mora do nosso lado! – disse Guilherme, num misto de medo fingido e excitação.

Guilherme era meu amigo desde sempre. Juntos, metemo-nos nas mais variadas encrencas. Por causa dele, aliás, dei-me mal mais de uma vez. Fui expulso da faculdade, porque fomos flagrados furtando o gabarito das provas; fui demitido, pois faltava com frequência para participar de alguma aventura com meu camarada; até mesmo torrei todas as minhas economias, tentando abrir um negócio e me tornar um empreendedor, devido aos seus incentivos.

Ele sempre me botava nas maiores enrascadas, mas, também, me arrumava oportunidades únicas: lindas garotas e algumas drogas, quando íamos às festas e, além disso, internet e televisão ilimitadas, graças ao “gato” que ele deu nas companhias. Isso para não dizer que estava sempre do meu lado, para me ouvir e aconselhar, não importava a situação.

Em resumo, era uma amizade que fiz no jardim da infância e que me acompanhava ao longo do tempo, mesmo agora, quando já estava no começo da vida adulta. Por conta disso – e porque nenhum dos dois tinha muito dinheiro para o aluguel – decidimos dividir um apartamento. Foi uma decisão acertada e era muito legal.

Eu trabalhava como office boy num escritório de contabilidade. Não é um trabalho empolgante, mas é o que tínhamos para hoje. Não sei direito o que meu amigo fazia, mas sabia o que ele queria fazer: tornar-se um influenciador digital.

Teve, então, a ideia de criar um canal de terror. Não era uma ideia brilhante ou original, mas, mesmo assim, decidi apoiá-lo, já que é para isso que servem os amigos. Até lhe emprestei algum dinheiro, para que comprasse uma câmera nova.

Ele decidiu, então, fazer pesquisas na rede, para ver os principais tópicos do terror – e coisas que pudesse explorar em seus programas. Fazendo algumas buscas, eis que descobriu um blog com diversas teorias da conspiração e causos sinistros: os temas de sempre na internet. E, agora, surgia a ideia de que o diabo morava ao lado…

– Mas que papo doido é esse, cara?

– Vixi, olha só aqui… tá falando de um ser demoníaco que destrói a vida das pessoas, sugando a energia vital e tudo o mais. O “retrato falado” do bicho é igualzinho ao do nosso novo vizinho.

Isso não era completamente verdade: a ilustração que o blog trazia era genérica o bastante para que qualquer um se encaixasse nela, desde que usássemos a imaginação. Mas é certo que nosso vizinho até que levantava certa suspeita e seria um forte candidato a representar o mal encarnado.

Ele se mudara para nosso prédio havia pouco mais de um mês. Chegou sem causar estardalhaço, fazendo toda a mudança durante uma noite de sexta-feira. Quem se muda numa noite de sexta-feira? Ele era magro, alto, de meia idade e tinha os ombros curvados. Era tão pálido que, se não fosse o diabo, poderia ser um vampiro – não fosse a aparência de indivíduo doente e fragilizado, a qual tirava um pouco de sua aura vampírica. Além disso, era dentuço e usava óculos com aros grossos.

Tudo isso foi constatado após o ver uma ou duas vezes no corredor do prédio, sempre de noite, quando eu estava chegando em casa do trabalho e ele saindo (seja lá o que fosse fazer). Ele passava reto, de cabeça baixa, não cumprimentava e nem olhava para o lado. Era, indubitavelmente, uma figura estranha.

Não me surpreenderia se descobrisse que ele era pedófilo. Ou comunista. Ele tinha cara de pedófilo comunista. Nunca encontrei um pedófilo comunista na vida, mas sabia que, sem sombra de dúvida, teria aquela cara. Justamente por isso, antipatizei com ele logo de início.

Sequer sabia seu nome ou sua história, mas já tinha a certeza de que boa coisa ele não era. Guilherme me dissera, mais de uma vez, que o ouviu fazendo barulhos estranhos durante o dia. Sempre que não tinha trabalho (na maioria do tempo, portanto), meu amigo ficava em casa; ele me contou que nosso vizinho sempre fazia esse barulho estranho – ou alguma outra coisa suspeita, que chamasse a atenção, como dar pancadas na parede.

Aparentemente, o diabo também não trabalhava e só saía de casa esporadicamente, de noite.

Confesso que fiquei curioso com essa história de diabo. Não acreditava nessas coisas, tampouco que nosso vizinho pudesse sê-lo, caso o mal absoluto existisse, mas despertava um certo interesse. Ainda que não fosse o mal encarnado, ser pedófilo comunista era algo horrível, certo?

Olhando mais de perto para a imagem que meu camarada me mostrava, notei que, no fim das contas, ele até se parecia mesmo com o nosso vizinho. Sem dúvida uma coincidência. Falei isso para Guilherme, mas ele insistia que era bem possível que fosse um fato, dado que o sujeito era tão esquisito… “sempre duvidamos da existência do mal, até que sejamos arruinados por ele”, falou-me, taciturno.

Vimos as descrições que o blog colocava como sendo o modus operandi do monstro. Não era, aliás, nada muito diferente do que a maioria dos monstros fazem: arruinava a vida das pessoas, matava inocentes, perseguia as vítimas. Nada muito detalhado, apenas essas generalidades que descrevem o mal e os maus.

Dei de ombros e fui dormir. O dia fora cansativo, precisava descansar.

Nos dias e semanas seguintes, Guilherme cada vez mais enchia meu saco com essa história de o diabo morar ao nosso lado. Ele contou que os barulhos que nosso vizinho fazia eram, cada vez mais, sinistros e assustadores – e que ele estava preocupado.

Perguntava-me porque uma pessoa dessas não era despejada do prédio… provavelmente porque ninguém reclamava ou, talvez, porque ele apenas fizesse esses barulhos à tarde, quando as pessoas estavam trabalhando. Aparentemente, apenas Guilherme estava no edifício e, portanto, apenas ele seria incomodado.

– Cara, o diabo mora do nosso lado, tô te falando.

– Tá, mas o que você quer que eu faça? É melhor a gente se benzer, só isso.

– Pior que não, cara… acho que a gente pode fazer algo grande. Eu acho que os barulhos que eu ouço aqui são de crianças. Acho que ele tem reféns no apartamento dele.

– Isso parece absurdo – afirmei, desconfiado. Faria sentido um pedófilo ter crianças como reféns, por isso liguei um alerta na minha cabeça.

– Espero que sim, mas como a gente ficaria se depois descobríssemos que ele matou pessoas aqui e a gente não fez nada para impedir?

– Mas o que podemos fazer?

– Ora, a gente deveria entrar no apartamento dele algum dia, quando ele saísse. Pelo que percebi, ele sai toda sexta-feira de noite e fica algumas horas na rua. É só a gente chegar lá, ver o que tá acontecendo e, se não tiver nada de errado, cair fora antes de ele voltar.

– Você tá propondo que a gente invada a casa dele?

– Não, cara. A gente só vai abrir a porta. Temos a chave para emergências, que nosso antigo vizinho deixou conosco. Acho que o novo vizinho não trocou a fechadura…

– Sei não… essa ideia não me cheira bem.

– Pensa bem, mano. A gente não vai roubar nada. Entramos lá, vemos se tem algo de errado e, se não tiver, voltamos para casa, sem mexer em nada e deixando tudo direitinho. E encerramos esse assunto para sempre. Agora, se tiver algo errado, nós chamamos a polícia e salvamos a vida de pessoas inocentes.

– Isso faz sentido. Tô quase convencido. Mas se ele tiver sequestrado alguém, por quê só fazem barulho durante o dia, não de noite, quando os demais moradores estão no prédio e, principalmente, quando o sequestrador sai por aí?

– Não tenho nem ideia. Vai ver estão amordaçados e presos. Talvez só façam barulho durante o dia, na hora que são desamarrados para se alimentarem. Ou, talvez, na hora que ele vai fazer algo assustador e doentio com suas vítimas.

Essa afirmação fazia sentido, dentro de minhas convicções de que o vizinho era pedófilo. Poderia não ser o diabo, como Guilherme pensava (e, talvez, quisesse), mas certamente era uma pessoa horrível. Deveríamos investigar isso mais a fundo. Assim sendo, concordei com nossa campanha: na próxima sexta-feira, checaríamos a casa dele, para ver o que escondia.

Quando chegou o grande dia, estava trêmulo, mas animado. Não tão animado quanto Guilherme, é claro, mas, mesmo assim, tinha certa dose de ânimo que me fazia seguir em frente. Queria acabar com aquele maldito pedófilo comunista e trazer a paz para nosso prédio e para as pessoas inocentes que eram feitas de refém.

Assim que Guilherme deu o sinal, afirmando que o vilão tinha saído, atravessamos o saguão andando rápido. Coloquei a chave reserva na fechadura, girei-a e, então, a porta se abriu. Meu amigo acendeu as luzes, o que claramente foi uma burrice, mas tudo bem, já que estávamos afoitos para resolver aquele mistério.

O apartamento não aparentava nenhuma bizarrice, apenas mau gosto. Não tinha mobília, apenas uns caixotes velhos espalhados pela sala, com almofadas em cima (deviam desempenhar o papel de algum tipo de sofá ou cadeira de leitura). Uma estante cheia de livros, nada de televisão. O chão estava sujo e havia alguns quadros na parede. Além disso, uma mesa, repleta de remédios. Talvez os barulhos que Guilherme ouvia fossem apenas as angústias de um indivíduo enfermo. Não que eu tenha pensado nisso na hora. Apenas queria vasculhar cada canto do apartamento, pois sabia que tinha algo errado para ser encontrado. Ao menos, queria que houvesse.

– Mas o que está acontecendo aqui? – Ouvimos a voz rouca e sem forças vinda da porta. Talvez as luzes acesas tenham chamado a atenção de nosso vizinho, o qual retornou para ver se tinha esquecido de apagá-las. Recebeu, no entanto, essa bela surpresa.

– Mano, cuidado, ele tá armado! Ele vai atirar na gente!

Guilherme gritou na hora que nosso vizinho enfiou a mão no bolso do casaco, preparando-se para sacar algo. No susto, meu amigo tropeçou em um dos caixotes e caiu.

– Rápido, mano, não deixe ele nos matar!

Ele nem precisava gritar isso. Assim que ouvi sobre a arma, já dei um pulo em direção ao nosso inimigo. Não deixaria aquele cara doente e esquisito me matar. Ainda não tinha visto nada, mas provavelmente ele era um pedófilo comunista. Eu sentia que havia algo errado com ele.

Dei-lhe um empurrão com força e ele caiu no chão. Atraquei-me com ele e comecei a espancá-lo com toda a força que tinha. Aquele verme imprestável! Bandido esquisito! Estávamos fartos de gente da laia dele, que acha que pode se esconder nas sombras, impunes, enquanto nós, que trabalhamos e fazemos tudo direito, temos de viver com medo.

Muito sangue estava escorrendo, mas não parei de esmurrá-lo até que outros vizinhos chegassem e me agarrassem. Nesse meio tempo, Guilherme já tinha saído do apartamento e, agora, voltava, com cara de assustado.

Vi, na mão do cadáver, um celular. Ele não tinha uma arma, apenas queria pegar o telefone, talvez para chamar a polícia. Não precisou chamá-la, no entanto: em pouco tempo, ela veio – na certa quando algum dos outros moradores a chamou. Levaram-me para a delegacia e o corpo foi levado ao necrotério.

Guilherme deu seu depoimento e foi liberado pouco tempo depois. Eu fiquei preso, por ter sido apanhado em flagrante. Quando houve o julgamento, Guilherme foi chamado como testemunha. Ele disse que eu andava perturbado e estressado, que apresentava comportamento agressivo há já algum tempo e vivia reclamando do vizinho.

Disse que, na noite do crime, eu saí de casa e invadi o apartamento, apesar de ele tentar me dissuadir daquilo. Disse que só ao ouvir a confusão é que se deu conta do que tinha ocorrido e que só então se dirigiu ao outro apartamento.

Tentei contradizê-lo e contar que toda a ideia fora dele, mas o júri jamais acreditaria em alguém que foi capturado em flagrante. Era mais fácil aceitar a história e a lábia daquele que considerei meu amigo.

Na saída do tribunal, já condenado a muitos anos de prisão, olhei para Guilherme – e ele sorria. Piscou para mim. No fim, era verdade… o diabo morava ao meu lado.

***