Os Estranhos Sussurros do Internato Santa Helena





OS ESTRANHOS SUSSURROS DO INTERNATO SANTA HELENA

Série

star 35min | Suspense, Terror
Classificação: 16 anos
Formato: Minissérie
Autora: Marcos Vinícius da Silva
Gênero: Suspense, Terror
Episódios: 3
Do mesmo autor: Incontro a Venezia, A Escudeira - Novos Rumos

Sinopse


Quando a pequena Alicia Stela é levada pela bisavó Magali para um novo internato no alto da colina de Santa Helena, ninguém jamais imaginava o que estava para acontecer. Ao resolver bisbilhotar o que há no quarto trancado do último andar do internato Santa Helena, ela desperta uma onda de eventos sobrenaturais que estavam inativos há cem anos. Agora, além de correr perigo ela coloca a vida de seus colegas em risco e todos precisam lutar contra a ira das almas que se alastram sem piedade. ​

Curiosidade


História que teve inspiração a partir de Invocação do Mal. O que seria apenas um conto, tornou-se uma minissérie literária dividida em três partes.



espaço




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ALICIA

Alicia Stela (Cailey Fleming)

Criança órfã de pai e mãe é levada pela bisavó para o internato Santa Helena. Com sua curiosidade aguçada, decide ver o que há dentro do cômodo fechado do terceiro andar, desencadeando uma onda de acontecimentos sobrenaturais.

ALLEGRA

Allegra Doménic (Bonnie Aarons)

Mulher sofrida. Perdeu o marido e o filho pequeno há 10 anos em um trágico acidente naquela mesma rodovia que levava até o internato Santa Helena. Sofreu todo este tempo em silêncio entrando em uma profunda depressão que quase a levou para o túmulo. Com uma quantia razoável herdada do marido falecido, comprou o casarão antigo datado de 1861 e reformou-o para reabrir ali o internato.

MAGALI

Magali (Vanessa Redgrave)

Bisavó de Alicia. A criou desde que seus pais e a avó faleceram misteriosamente em uma viagem. É conhecida na região pelo dom da paranormalidade desde a sua adolescência, quando os primeiros sinais vieram à tona. Em um passado remoto, presenciou algo que fugiu ao seu controle e ela prometeu para si mesma que queria ficar longe deste dom. Mas isso não é algo que se pode escolher. Este dom pode estar adormecido por um longo tempo, mas se algo acontece que ele precise de manifestar, assim será.




Cyber Awards

Melhor Título
Enredo Criativo
Melhor Autor de Websérie

Os Estranhos Sussurros do Internato Santa Helena - Capítulo 03

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0:06:00 min    


WEBTVPLAY ORIGINAL APRESENTA
OS ESTRANHOS SUSSURROS DO INTERNATO SANTA HELENA


Capítulo 03

Produção
4Elements & webtvplay

Minissérie de
Marcos Vinícius da Silva


© 2021, webtvplay.
Todos os direitos reservados.

PARTE III - AS CRIANÇAS SEM ROSTOS


Casa de Magali no Subúrbio de Santa Helena


Duas Semanas Depois


Magali despertou assustada sentando na cama em seu quarto escuro. Ficou imóvel por alguns segundos e, só então, que criou coragem e acendeu o abajur em cima do criado - mudo. A pouca claridade revelou um ambiente pequeno e simples. Magali vestia uma camisola branca comprida e estava com os cabelos desdenhados. Passou a mão sobre a testa limpando o suor. Estava voltando à si. Já era a sétima vez que acordava desta forma desde que deixou a pequena Alicia no internato na colina.


Levantou-se e caminhou com uma certa dificuldade normal para a sua idade avançada. Parou diante de uma cômoda na parede em frente a sua cama. Baixou a cabeça e fechou os olhos pronunciando algumas palavras indecifráveis. À sua frente, em cima do móvel, várias imagens de santos espalhadas e quatro velas brancas acesas dispostas uma em cada canto.


Magali era conhecida na região pelo dom da paranormalidade desde a sua adolescência, quando os primeiros sinais vieram à tona. Em um passado remoto, Magali presenciou algo que fugiu ao seu controle e ela prometeu para si mesma que queria ficar longe deste dom. Mas isso não é algo que se pode escolher. Este dom pode estar adormecido por um longo tempo, mas se algo acontece que ele precise de manifestar, assim será. E você não terá escolha. Deixar a pequena bisneta no internato Santa Helena no alto da colina foi o estopim para que a sua paranormalidade voltasse a aflorar. Ela viu que algo fora do normal estava presente naquele lugar. Ela ouviu uma voz lhe dizer para salvar a menina. Mas ela ignorou. E agora estava pagando por isso, e iria pagar pelos poucos dias que ainda lhe restavam de vida se não fizesse algo para impedir.


Amanheceu um dia nublado e triste em Santa Helena, como quase todos os últimos dias nasceram. Magali carregou uma mala e colocou no banco traseiro do seu Fiat 147, entrou, ligou o veículo e pegou a estrada que levava para a colina. Ela precisava agir antes que fosse tarde demais. Ela não poderia deixar acontecer com sua bisneta o mesmo que aconteceu no seu passado recente.


Internato Santa Helena


A chuva caía incessantemente sem dar nenhuma trégua. Allegra, parada diante da janela do seu quarto tomando sua xícara de chá, olhava incrédula para além da floresta. Os últimos acontecimentos tinham mexido demais com sua pessoa e isso era nítido na sua aparência. Mais magra, pálida e com os olhos profundos com enormes olheiras demonstravam uma mulher que não sabia mais de onde reunir forças para salvar à si própria e as crianças sob seus cuidados. Sem que percebesse, uma lágrima escorreu pela sua face e suas últimas forças pareceram encontrar seu fim. A xícara de chá espatifou-se no chão e o seu corpo caiu de joelhos, logo vindo a desabar. Na janela embaçada à sua frente a imagem disforme de uma criança...cabelos encaracolados...sem orelhas, sem olhos, sem nariz e sem boca. Mas mesmo assim podia se ouvir a sua risada maquiavélica e, então, suas mãozinhas começaram a bater sem parar no vidro enquanto um sangue escorria pelo canto da boca de Allegra.


A pequena Manu estava assustada em seu quarto. Encolhida na sua cama ela abraçou suas pernas enquanto, com sua respiração ofegante e seus olhos arregalados, encarava a porta fechada. Ouviu passos leves se aproximando e parando do outro lado. Viu a maçaneta girar lentamente e a porta rangir abrindo calmamente. Seu grito apavorado podia ser escutado por toda a colina e além. Uma menina de longos cabelos encaracolados apareceu diante dela na porta. Ela não tinha rosto, mas ouvia-se sua risada diabólica enquanto ela se aproximava da cama. Manu estava paralisada. Aquela menina se apossou de um porta retrato com a foto de Manu e sua mãe, quebrou-o e segurou um pedaço de vidro entre seus dedos. Subiu na cama e começou a atingir Manu sem parar. Sem dó e nem piedade, enquanto o sangue jorrava na cama, nas roupas e na parede.


Kevin chorava sem parar sentado ao lado do vaso sanitário, abraçado em suas pernas no banheiro do segundo andar. Carregava, pendurado em seu pescoço, um cordão com uma pequena foto sua, junto de seus pais. Agarrou-se a ela e a beijou como se pedindo proteção aos pais que já não estavam mais entre os vivos. Ouviu um estrondo no corredor e arregalou os olhos. Na janelinha no alto viu um relâmpago cortar o céu e um trovão soar sem parar por longos segundos. A chuva havia aumentado nas últimas horas. Ele só queria saber onde estavam Allegra e as demais crianças, mas não criava coragem para se levantar dali e procurar. Não tinha forças. Não conseguia se locomover.


De repente ouviu o chuveiro ser ligado. Espantou-se, pois estava sozinho naquele lugar. A porta do box então se abriu e um menino negro, de cabelo raspado e sem rosto, apareceu...ficou parado de frente para Kevin, que estava petrificado e, como um raio se aproximou. Se agachou e segurou Kevin pelos cabelos. Levantou-o e empurrou sua cabeça dentro do vaso sanitário segurando-a enquanto ele se debatia. A luz começou a piscar sem parar e as risadas do menino negro sem rosto ecoavam pelo local.


Já passavam das 17h30m e a chuva insistia em cair. Magali estacionou seu Fiat 147 em frente à construção antiga. Saiu debaixo de toda aquela água e puxou sua mala com dificuldade até a varanda, em frente a porta. Estranhou o silêncio perturbador do lugar e desconfiou quando viu a velha cadeira de balanço de Allegra começar a oscilar sozinha.


Através da pequena janela viu uma luz ser acesa e passos apressados correrem até a porta. Alicia abriu-a e correu para os braços da bisavó. Magali sentiu o medo no olhar e no toque da pequena. Confortou-a por alguns segundos enquanto olhava o local tentando decifrar o que estava acontecendo.


"O que está acontecendo aqui?" , disse Magali como se perguntando para si mesma.


Alicia olhou para cima encarando a sua bisa.


"A culpa é minha", lhe respondeu com uma voz chorosa.


Magali abraçou novamente a bisneta.


"Não se culpe, minha querida".


Foi então que Magali sentiu o perigo real, o verdadeiro mal que impregnava aquele lugar. A luz se apagou de repente e um grito ensurdecedor se ouviu no segundo andar. "É o Phelipe, ele está em perigo!", disse Alicia puxando a bisavó pela mão. "Cadê Allegra e as outras crianças?", perguntou Magali. O olhar da pequena Alicia se perdeu fitando o chão. "Eles se foram.", respondeu a menina chorando.


Subiram as escadas depressa e quando chegaram no andar superior um cheiro de podre exalava pelo ar. Tentaram à todo custo abrir a porta do quarto de Phelipe, sem sucesso. Ele gritava desesperado do lado de dentro pedindo por socorro.


Repentinamente tudo silenciou. Longos minutos assim. E o cheiro. Ahhh, o cheiro de podre se dissipou.


A porta do quarto se abriu sozinha e a claridade de uma luz forte foi de encontro aos olhos de Alicia e de Magali, que colocaram as mãos no rosto protegendo-se. Quando a luz, aos poucos, foi enfraquecendo, as duas tiraram as mãos da face e se apavoraram com que estava diante de seus olhos. Um menino raquítico e de cabelos encaracolados, sem rosto, estava ajoelhado segurando uma faca ensanguentada. Levantou a cabeça na direção da porta e gargalhou sem parar. Diante dele estava o corpo de Phelipe estirado ao chão. No lugar dos seus olhos havia dois grandes buracos de onde ainda escorria um sangue grosso e escuro. "Nãaaaaaaoooo!", gritou Alicia sendo amparada por Magali.


Magali se impôs diante daquela criança sem rosto. Ordenou que a pequena Alicia ficasse para trás e caminhou na direção do menino raquítico que ainda gargalhava. Ele também se impôs. Se levantou segurando a faca em sua mão e a posicionou para o alto, pronto para atacar se necessário. Magali proferia palavras indecifráveis enquanto se aproximava, mas foi surpreendida pelos vultos de outras crianças sem rostos que se posicionavam ao lado daquele garoto raquítico de cabelos encaracolados. Sentiu que não seria páreo para eles. Acanhou-se. Tentou retornar e evitar aquele confronto, mas os vultos se tornaram reais e a rodearam. Magali, com lágrimas nos olhos, vendo que não haveria volta, pediu para que Alicia fugisse dali. "Corra!", disse ela chorando copiosamente.


As gargalhadas das crianças se tornavam cada vez mais altas e assustadoras. Elas, passo à passo, se aproximavam de Magali enquanto que Alicia dava pequenos passos de costas para fora do quarto.


"1, 2, 3...bate na parede! 1, 2, 3...bate na parede! 1, 2, 3...bate na parede!", repetiam as crianças uma à uma até chegarem bem próximas de Magali. Todas estenderam suas pequenas mãos tocando a velha senhora, que olhou para o alto e se deixou cair de joelhos sendo consumida por aquelas crianças sem rostos...


Alicia, chorando, se virou e saiu correndo. Desceu as escadas, errou o passo e caiu rolando. Levantou-se já no andar inferior sentindo as dores da pancada e caminhou se arrastando até a porta abrindo-a. Lá fora a chuva caía intensamente e Alicia não teve escolha a não ser se arrastar para além do internato, debaixo de muita água, sem saber para onde ir, sem a ajuda de ninguém...sem um caminho certo para seguir.


Quando já se encontrava na estrada de terra batida além da colina, Alicia criou coragem e olhou para o internato. O mesmo carregava uma áurea jamais vista. Luzes brancas saíam pelas janelas clareando o céu escuro e nas mesmas podia se ver as crianças sem rostos, uma em cada janela, como se mostrando que naquele lugar elas que mandavam e que ninguém jamais poderia interferir.


"As forças malignas existem até agora. O conto de fadas é real. Deus existe. O Diabo existe. Nosso caminho é saber qual escolher"


Um carro preto cruzou a estrada de terra batida mais adiante e parou ao ver a pobre menina sozinha. Um homem alto, de andar arcado e usando cartola saiu do veículo e, sorridente, chamou Alicia fazendo sinal com a mão. Sem escolha, a pequena correu até o carro e ele deu lado para ela entrar no banco de trás. Entrou no veículo e deu a partida. Olhou pelo retrovisor a pequena Alicia ainda atordoada com os acontecimentos. Sorriu. "Relaxa, menina. Está à salvo agora. Quer ouvir uma música?", perguntou ele já ligando o rádio.


"Ele pode até não ter olhos

Mas sabe onde você se esconde

Ele parece estar feliz

Em ver o medo que te consome


Homenzinho torto

Bela cartola você tem

Cartola você tem

Homenzinho torto

Com seu andar de morto

Monstro que vem do além


Um, dois não olhe pra trás

Três, quatro correr não adianta mais

Cinco, seis chegou a sua vez

Sete, oito, nove, dez ele vai puxar seus pés


Um, dois não olhe pra trás

Três, quatro correr não adianta mais

Cinco, seis chegou a sua vez

Sete, oito, nove, dez ele vai puxar seus pés


Lá, lá, lá, lá


Ele senta em uma cadeira

Ao lado da sua cama

Ele sorri vendo você se debatendo enquanto

Corta sua garganta"


FIM

Os Estranhos Sussurros do Internato Santa Helena - Capítulo 02

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0:05:00 min    


WEBTVPLAY ORIGINAL APRESENTA
OS ESTRANHOS SUSSURROS DO INTERNATO SANTA HELENA


Capítulo 02

Produção
4Elements & webtvplay

Minissérie de
Marcos Vinícius da Silva


© 2021, webtvplay.
Todos os direitos reservados.


PARTE I - A Chegada



A mão de dedos alongados e unhas compridas pegou e abriu um caderno sobre a mesa, apanhou uma caneta e começou a escrever...


Primeira noite de Alicia


"Já passavam das 23h30m e o silêncio perpetuava por toda a colina. Terminei de tomar meu chá diante da janela entreaberta observando a escuridão e escutando o chirriar das corujas. Senti que precisava me deitar, mas antes, como de costume, passaria de quarto em quarto para ver como estavam as crianças, principalmente a nossa nova moradora.


Subi as escadas, passei pelo quarto de Manu e ela dormia de bruços espalhada pela cama toda. O segundo quarto é o de Kevin. Quando empurrei a porta vi que ele se escondeu debaixo das cobertas fingindo estar dormindo. Fiz que acreditei. Ele sabia que não gosto que fiquem lendo histórias até tarde, mas aquele dia eu deixei passar... Phelipe estava dormindo feito um anjo, é um menino muito querido por todos e...sim, ele já passou por muita coisa nesta vida.


Saí do quarto de Phelipe após ficar alguns minutos observando o seu sono tranquilo. Vi a porta do quarto de Alicia aberta pela metade. Notei a luz amarelada do abajur ainda acesa e, mal e mal, conseguia se ver a cortina balançando suavemente. Senti um arrepio percorrer todo o meu corpo e, passo pós passo, me encaminhei para aquele cômodo.


Entrei e sentei na beira da cama observando aquela menina dormir. Passei a mão lentamente naqueles cabelos e ela sequer acordou, apenas virou-se de lado trocando de posição e encolheu-se continuando o seu sono dos anjos...ou assim me pareceu ser.


Notei que havia algo debaixo do seu travesseiro. Puxei devagar e vi que se tratava de uma fotografia. Era Alicia, uma mulher que parecia ser sua mãe, uma outra mais velha aparentando ser sua avó e a outra era aquela senhora que deixou Alicia no internato mais cedo. Gerações de uma família que pareciam ser algo especial para aquela menina. Fiquei mais alguns minutos apenas olhando Alicia dormir. Ouvi um barulho como se fosse uma batida vindo de dentro da parede e arregalei meus olhos. Fui até a janela e, por Jesus, Maria e José, como os arredores daquela colina ainda me causavam um estranho medo à noite. Fechei rápido a janela e puxei as cortinas. Encarei a cama e lá estava Alicia ainda na mesma posição. Fechei os olhos por uns instantes: "você precisa dormir, Allegra", pensei comigo mesma."


Allegra Doménic dormia debruçada sobre o caderno em que escrevia. Levantou o corpo assustada ao ouvir o toque incessante do despertador tocando e marcando 07h00m e custou a desligá-lo. Manu foi a primeira criança a aparecer. De pés descalços ainda estava com sua roupa de dormir e os seus cabelos bagunçados. Espreguiçou-se e sentou na mesa vazia do café da manhã. Allegra passou os olhos sobre o que tinha escrito e fechou o caderno guardando-o na parte mais alta da estante.


Após o desjejum feito por todas as quatro crianças, Allegra ordenou que fossem brincar no pátio da frente enquanto ela cuidava dos afazeres. Aquele seria um ótimo momento para a pequena Alicia se enturmar com os novos amigos. Manu, Kevin e Phelipe saíram na frente e, só depois que já se encontravam brincando no gramado, é que Alicia resolveu sair, tímida, receosa com o novo lar e com as novas pessoas ao seu redor.


Mas não demorou muito para que as crianças fizessem amizade. Quando espiou pela janela da cozinha, Allegra pôde notar que Alicia já demonstrava um sorriso em seu rosto angelical enquanto conversava e corria com os demais.


O dia se foi e a noite chegou com uma neblina densa que tomou conta de toda a colina, não sendo possível enxergar um palmo à frente.


Segunda noite de Alicia


Ordenei que as crianças se acomodassem em seus quartos. Como o dia havia sido muito tranquilo, achei que não tinha com o que me preocupar. A pequena Alicia já parecia mais confortável no novo lar. Comeu bem, brincou, conversou e, exceto pelo momento em que ficou encarando a entrada da floresta no final da tarde como se tivesse vendo uma assombração, não houve mais nada de estranho.


Enchi minha xícara de chá e sentei-me na minha cadeira de balanço na varanda. À minha frente uma nuvem sem fim tomava conta de tudo e um vento gelado fez eu me aconchegar no meu xale. Aos poucos fui tomando meu chá, quando ouvi algo que soava como um sopro vindo pela estrada principal. Larguei a xícara sobre a mesinha ao lado, levantei e, lentamente, fui até ao lance de degraus. Ameacei descer, mas fui surpreendida pela pequena Alicia abrindo a porta principal agarrada na sua boneca. Me assustei. O sopro que estava próximo se dissipou e parece ter ido para além da floresta.


"O que houve, menina? Já pra cama!", disse para ela.


"Não consigo dormir", me respondeu ela com um certo medo na sua voz.


Respirei fundo, peguei em sua mão e nos dirigimos para dentro. Subimos as escadas passo por passo e ela segurava minha mão tão forte que chegava doer. "O que houve?", eu lhe perguntei. Ela me puxou até a porta do seu quarto e apontou com o dedinho para a parede ao lado do roupeiro. "Está uma noite muito barulhenta", me respondeu Alicia se aconchegando perto de mim.


Eu a encorajei entrar no quarto, algo que ela não queria de jeito nenhum. Deitei-a em sua cama e sentei ao seu lado. "Não há nada, minha pequena. É só o vento lá fora", lhe respondi sem ter certeza nas minhas próprias palavras. "Fica aqui comigo até eu dormir?", me perguntou ela. E então eu fiquei. Com uma mão ela agarrava sua boneca e com a outra apertava meu braço. Acariciei seus cabelos e comecei cantarolar baixinho uma melodia que minha mãe sempre cantarolava para eu me acalmar em dias de tempestades.


Parecia estar dando certo, não fosse por um estrondo que ouvimos vindo de onde ela tinha me mostrado. Alicia se levantou assustada e se agarrou em mim. Também me apavorei. Minha respiração ficou ofegante, assim como a dela, e o estrondo tornou-se mais forte e mais forte, até que cessou por completo e o silêncio perpetuou por alguns longos segundos..."


Allegra guardou o caderno e a caneta debaixo do seu travesseiro, apagou o abajur de luz amarelada e deitou de lado encolhendo-se em seu corpo. Não conseguia pregar os olhos, estava pensativa com os acontecimentos desta segunda noite. Olhou para o relógio em cima do seu criado mudo. O mesmo marcava 03h30m. Olhou para o chão e a pequena Alicia dormia agarrada em sua boneca deitada em um colchão.


Do lado de fora a neblina se dissipou, nuvens escuras e carregadas se formaram no céu e logo uma intensa chuva começou a cair sem parar. Sobre a floresta que cercava toda a colina e o internato Santa Helena começou a se ouvir sussurros, parecendo vozes de crianças pedindo por socorro.


Já passavam das quatro da manhã. Allegra finalmente conseguiu pregar os olhos depois de mais uma noite bastante conturbada. A janela do seu quarto abriu repentinamente com um vento soprando forte. Allegra se contorceu na cama virando para o outro lado enquanto a pequena Alicia acordou, se levantou e ficou lhe observando de pé diante da cama agarrada em sua boneca por mais ou menos uns dois minutos sem se mover.


A pequena calçou seus chinelos e abriu a porta do quarto com cuidado para não acordar Allegra. Saiu do quarto e caminhou pelo corredor escuro chegando na escada que levava até um outro andar. Observou o topo como se estivesse vendo alguém, e subiu passo por passo sem temer a escuridão que tomava conta e os trovões do lado de fora.


Há quem diga que as crianças são mais suscetíveis de pressentir o paranormal e, para Alicia, isso parecia ser algo extremamente comum sendo descendente de Magali, uma médium bastante conhecida no vilarejo, mas que deixou de exercer sua paranormalidade após eventos trágicos acontecerem.


Alicia deixou sua boneca cair e caminhou firmemente em direção à última porta no final do corredor. Conforme se aproximava do seu destino podia se ouvir batidas vindas de dentro daquele cômodo. Batidas que se tornavam mais altas, mais nítidas, mais perturbadoras. A pequena parou diante da porta, pôs sua mãozinha na maçaneta e forçou para abri-la...sem sucesso.


Ouviu-se um leve rangido e aquela porta se abriu vagarosamente. Um vento forte soprou balançando a camisola de Alicia, que sorriu não demonstrando nenhum receio ao que acontecia. O quarto estava em uma penumbra assustadora, mas mesmo assim, Alicia deu três passos e entrou no cômodo. Um estrondo ensurdecedor fechou a porta às suas costas e um grito apavorado se escutou seguido de um silêncio perturbador...

Os Estranhos Sussurros do Internato Santa Helena - Capítulo 01

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WEBTVPLAY ORIGINAL APRESENTA
OS ESTRANHOS SUSSURROS DO INTERNATO SANTA HELENA


Capítulo 01

Produção
4Elements & webtvplay

Minissérie de
Marcos Vinícius da Silva


© 2021, webtvplay.
Todos os direitos reservados.


PARTE I - A Chegada


"Quando o mundo dos vivos se misturar ao mundo dos mortos eu serei tudo o que você sempre teve medo"


1920 - Vilarejo Santa Helena - Internato no alto da colina


Aquele menino raquítico, de cabelos encaracolados e olhar amedrontador que sempre infernizava a vida das outras crianças do internato, terminou de escrever estas palavras em uma parede de pedra do celeiro. Se virou para os seus "amiguinhos" e largou a pedra pontuda com que rabiscava. Todos estavam em colunas de frente para ele à vinte metros de distância. Encaravam-no com olhos arregalados. Tinham medo de suas brincadeiras. Tinham receio de suas atitudes.


"1, 2, 3, bate na parede". Disse o menino de frente para a parede rabiscada. Então virou a cabeça e os quatro amigos já estavam mais próximos.


Havia mais quatro rodadas e se ninguém tocasse seu ombro ao final da contagem, ele escolheria mais um para se juntar à Anne e Richard no quarto misterioso do segundo andar.


"1, 2, 3, bate na parede". Disse mais uma vez virando-se novamente para os colegas. Três deles estavam mais perto e um estava dois passos para trás.



Restavam três rodadas. Ele tinha plena certeza que iria mandar mais alguém para aquele quarto. Sorriu seu sorriso maléfico e voltou seu rosto para a construção.


"1, 2, 3, bate na parede". Disse ele e...


...quando virou-se nenhum dos amigos estavam ali. Arregalou os olhos sem reação. Atrás do internato nuvens escuras e carregadas prometiam chuva para qualquer momento. Um trovão cortou o céu. Ele estava sozinho. Ele agora sentia medo. Ele pressentiu que tinha perdido. Podia ouvir claramente as risadas das quatro crianças, mas não fazia a mínima ideia de onde elas estavam.


Olhou para a floresta fechada que rodeava o internato e decidiu sair para procurá-los antes que a chuva chegasse. Adentrou a mata quando as primeiras gotículas começaram a cair. Ouviu as vozes chamando pelo seu nome. Vozes que se tornavam mais nítidas. Vozes que se juntavam aos trovões. Vozes que tomavam conta do ambiente enquanto um vento soprava intensamente dobrando o topo das árvores.


Dois dias depois


Passos pesados subiram apressadamente os degraus da escada que levavam até o segundo andar. A senhorita Mercedes, uma freira magra e alta de cabelos negros como a noite ia na frente seguida de perto pelo padre Roges, um homem negro no auge dos seus 50 anos de idade. Ao chegarem no corredor escuro ambos se encolheram em seus braços sentindo um ar gelado que tomava conta do ambiente.


"Eu lhe disse, padre." Comentou Mercedes com uma voz rouca que fazia as palavras saírem tremulando de sua boca.


E então Mercedes se dirigiu para a porta vermelha daquele quarto no final do corredor. As tábuas largas e gastas do assoalho rangiam enquanto ela trocava os passos. Padre Roges permanecia parado no topo da escada observando o ambiente. Puxou de dentro da sua batina um crucifixo que carregava pendurado ao pescoço, fechou os olhos e beijou-o, aparentando já imaginar o que havia dentro daquele cômodo.



A fechadura dourada fez um estalo quando a mão fina e branca daquela freira forçaram-na para abrir. Ela fez cara feia ao sentir o odor que impregnava de dentro do cômodo. Respirou fundo e empurrou calmamente a porta. Olhou por sobre seus ombros e notou que o padre Roges já estava mais próximo, aflito pelo que estava por vir. No escuro, tateou com sua mão à procura do interruptor. Quando o encontrou não hesitou em acendê-lo.



Então a luz amarelada iluminou aquele cômodo. Um ambiente que exalava tristeza. Uma cama de madeira com cabeceira detalhada e com lençóis encardidos estendidos. Na janela lateral uma cortina vermelho sangue impedia que a luz exterior adentrasse no local e no fundo, ao lado do roupeiro antigo, havia uma cômoda com algumas bonecas que pareciam estarem sempre lhes observando.


"Então este é o quarto?" Perguntou o padre Roges parando ao lado de Mercedes na porta.


A freira olhou ao redor e demorou alguns instantes para responder a pergunta e também para criar coragem de entrar naquele quarto.


"Eu ainda não me conformo que eles ficaram aqui dentro presos por dois dias seguidos sem comer e clamando por ajuda sem que nós ouvíssemos os seus chamados." Disse Mercedes com a sua voz peculiar.


Padre Roges percorreu o olhar por cada centímetro daquele quarto até fixar os olhos em um crucifixo de madeira pendurado na parede acima da cabeceira da cama. A luz começou a piscar e o crucifixo começou a girar lentamente até ficar de cabeça para baixo. Mercedes arregalou os seus olhos enquanto Roges pressentiu o mal que se fazia presente. Arrancou o cordão com a cruz de seu Jesus do pescoço e segurou firme à frente do corpo. Risadas de crianças tomavam conta do lugar e não demorou para que os vultos das mesmas se fizessem presente pelo quarto. Um total de sete crianças. Todas rindo de forma amedrontadora e fechando o cerco em volta dos súditos de Deus.


"Em nome de Jesus!" Dizia o padre Roges enquanto apontava sua cruz na direção dos vultos...em vão.


Um menino raquítico e de cabelos encaracolados se aproximava cada vez mais dele até que o padre tombou para trás caindo de costas no chão. De imediato seus olhos reviraram e seu último suspiro pôde ser presenciado. A irmã Mercedes, apavorada, se aproximou, mas foi interrompida pelo vulto de uma menina loira que agarrou seu pescoço com ambas as mãos apertando-o. Esperneou, lutou e conseguiu se desvencilhar. Correu saindo do quarto e fechando a porta com força. Ajoelhou-se chorando no corredor. Não tinha mais forças para seguir. Aquele quarto. Aquele maldito cômodo estava tomado pelos fantasmas daquelas sete crianças...e quem entrasse ali dificilmente sairia com vida. Ela era uma sobrevivente. Deus tinha algo melhor planejado para ela. Respirou fundo, desceu as escadas, saiu porta afora sem olhar para trás e nunca mais pisou ali.


2020 - Estrada de terra batida


Alguns segredos devem permanecer para sempre escondidos nas entranhas da terra”


A frase escrita em uma placa empoeirada na beira da estrada chamou a atenção de Magali, uma senhora de cabelos curtos e brancos, óculos de grossas lentes e pele enrugada. Ela virou o rosto quando passou pela placa torta pendurada no tronco de uma árvore com o seu Fiat 147 caindo aos pedaços. Com a mão trêmula ajeitou o retrovisor e encarou o banco traseiro, onde uma menininha loira estava agarrada em uma boneca de pano. Emburrada. Triste. Ao seu lado no banco havia uma mala antiga.


Estamos quase chegando, Alicia!” Disse a senhora ficando sem respostas da menina de sete anos de idade, que fitava os seus olhos azuis nos campos verdes do lado de fora.


Algumas nuvens escuras já se formavam no céu ofuscando o brilho dos raios solares daquela manhã nitidamente estranha no vilarejo Santa Helena. O Fiat 147 de cor azul bebê de Magali estacionou no alto da colina em frente à imponente construção antiga que estava intacta após um século de vida.


Com imensa dificuldade, Magali saiu do veículo e puxou o banco para que a pequena Alícia descesse. Emburrada, a garota cruzou os bracinhos abraçada à sua boneca e ficou escorada no carro enquanto a bisavó puxava a mala para fora.


O silêncio do lugar só era quebrado pelo canto de alguns pássaros que sobrevoavam o casarão. Foi quando um estrondo chamou atenção de Magali e sua bisneta. A porta grande e com detalhes emoldurados foi aberta e uma mulher alta, de longos cabelos loiros e andar arcado, beirando os seus 50 anos de idade e usando um longo vestido preto surrado, apareceu sorridente convidando-as para se aproximarem já descendo o lance de cinco degraus e indo ao encontro delas para ajudar com a bagagem.


Sou Allegra Doménic” Disse a mulher sorridente estendendo a mão para a senhora.


Allegra Doménic perdeu o marido e o filho pequeno há 10 anos em um trágico acidente naquela mesma rodovia que levava até o internato Santa Helena. Sofreu todo este tempo em silêncio entrando em uma profunda depressão que quase a levou para o túmulo. Com uma quantia razoável herdada do marido falecido, comprou o casarão antigo datado de 1861 e reformou-o para reabrir ali o internato. Em um mês já contava com três crianças e agora chegava mais uma, a pequena Alicia Stela.


Magali sentiu um arrepio percorrer a sua espinha. Sua paranormalidade, que há tempos andava escondida, parecia querer aflorar. Sua expressão congelou e ela fez questão de não aceitar o convite de Allegra. Uma voz ecoou dentro de sua cabeça e a fez refletir por alguns instantes. “Salve a menina! Não a deixe! Salve a menina!”


Tenho pressa pra voltar” Disse Magali pegando na mão de Alicia e a entregando para a mulher sorridente.


A pequena não esboçava qualquer reação. Baixou a cabecinha e ficou ao lado de Allegra. Apenas levantou o olhar tristonho e assustado quando ouviu o ronco do motor do Fiat 147 que logo ganhou a estrada descendo a colina.


O amplo salão da entrada estava preservado com os móveis de 1920. Armários grandes cobriam as paredes com a pintura escura renovada e os lustres cobertos de detalhes e com suas luzes amareladas, iluminavam sofás amadeirados com estofados verde musgo. Em um canto, em frente a uma porta dupla que levava direto para o jardim de trás, havia uma mesa grande que parecia estar posta para alguma refeição importante.


Allegra puxou uma das cadeiras estofadas e serviu duas xícaras de chá, convidando a pequena Alicia para sentar. Tímida e ainda emburrada, a garota sentou sempre com os olhinhos acesos na direção de um vidro de biscoitos. "Está com fome?" perguntou Allegra abrindo o recipiente e entregando um biscoito para a menina que assentia que sim com a cabeça.


Não demorou muito para as algazarras das outras crianças tomarem conta do ambiente. Manu, menina morena de 7 anos e Kevin, loiro de olhos claros de 9 anos, entraram correndo no grande salão seguidos por Phelipe, magro, moreno de 8 anos, que gargalhava enquanto tateava o lugar com a sua bengala, mostrando que mesmo sem visão já se adaptava ao ambiente.



Allegra logo fez questão de que as crianças se acomodassem para conhecer a nova colega. Alicia observava-os de canto de olho enquanto saboreava o seu biscoito. Foi quando as três crianças se sentaram quietas. Manu e Kevin, com seus olhinhos arregalados, encararam Alicia, que parecia já não se importar muito com a presença deles. Phelipe olhava pro nada. E foi em sua face que a pequena Alicia concentrou sua atenção de uma hora para a outra largando a xícara e o biscoito sobre a mesa.


Allegra estranhou aquela atitude da mais nova moradora do internato. Notou que algo estava fora do normal. Arrepiou-se com um vento repentino que adentrou o local e encolheu-se abraçando seus braços. "Ok, hora de ir conhecer seu quarto", disse ela se levantando e chamando Alicia para lhe acompanhar.



Havia uma cama velha de madeira, uma cômoda caindo aos pedaços e um roupeiro na parede ao lado da janela de cortinas amareladas. A mão de Allegra pousou no interruptor de luz ao lado da porta e, de repente, tudo clareou. Alicia, com os olhinhos esbugalhados, observou atentamente aquele cômodo. Allegra suspirou fundo, olhou para baixo em direção à menina ao seu lado e sorriu. "Pronto, este será o seu quarto, Alicia. Guarde suas coisas no roupeiro e pode descansar um pouco se quiser. Mais tarde te chamo".


Alicia deu dois passos para dentro e ouviu a porta às suas costas se fechar. Sentiu um frio na espinha, encarou um crucifixo de madeira pendurado acima da cabeceira da cama e puxou sua mala para perto do roupeiro começando a guardar seus pertences. Ouviu algazarras vindo do lado de fora, foi até a janela e espiou puxando o canto da cortina amarelada. Manu, Kevin e Phelipe brincavam no gramado. Perdeu-se no tempo ali observando aqueles que seriam seus companheiros de agora em diante.


Um sussurro acompanhado de três fortes batidas vindas de dentro do roupeiro assustaram a pequena Alicia. Ela virou o rosto rapidamente para o local de onde ouviu o barulho e seu corpo congelou. Seus olhos arregalaram-se e ela não teve forças para se mexer. "1, 2, 3...bate na parede", e ela ouviu repetir-se as três batidas. Tudo silenciou e Alicia virou-se novamente para a janela. Lá fora, Manu e Kevin corriam dando gargalhadas ao redor de Phelipe. Mas não foi isso que despertou a atenção de Alicia. Além deles, na entrada da floresta, um menino de capuz fazia sinal com a mão como que a chamando para lhe acompanhar...