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Palavras Obscuras - 1x05 - A Dama de Ouros


Sinopse: Cíntia é uma escrivã que aos trinta e sete anos, tem uma rotina estabelecida. Durante o dia, cuida de uma papelada burocrática e tediosa, mas, à noite, sonha com Artur Alessandro, o homem da sua vida. Porém, a prisão de Artur Alessandro, exatamente no distrito em que Cíntia trabalha, fará com que o mundo dela vire do avesso. Cíntia será capaz de cometer atrocidades para fazer com que o seu amor saia dessa em liberdade. Um conto repleto de sangue e paixão, desejo e loucura. Até onde a obsessão de uma mulher será capaz de chegar?



A Dama de Ouros
de Hugo Martins

 

O despertador tocou às sete horas. Estridente e persistente não parava de cantar uma música aguda. Cíntia segurou o celular e no automático desligou com o dedão. Precisava levantar, enfim. Jogou o corpo para o lado da cama, buscou apoio no colchão, mas a gordura acumulada na barriga não lhe deixou sentar. Virou-se ainda mais, se aproximando da beirada e colocou as pernas para fora da cama. Levantou, com muito esforço. 

Passou alguns segundos olhando para o pôster de Artur Alessandro que estava na parede em frente à cama. No mesmo instante, arrumou os cabelos assanhados na cabeça. Não podia ficar mal arrumada diante do seu amado. Foi até o pôster e deu um beijinho no sorriso iluminado do galã.

Bom dia, meu deus grego sussurrou.

Tomou um banho rápido, café também rápido. Precisava estar na delegacia às oito.

Tudo o que ela queria era ter um dia calmo. Sentar na sua poltrona acolchoada, registrar seus boletins de ocorrência, formalizar algum inquérito, digitar um depoimento. E assim, desejou que fosse, mas ledo engano, o dia foi permeado de ocorrências. Muito movimento. Um ônibus inteiro havia sido assaltado. Dezesseis boletins registrados. Uma grávida que vomitou em cima da sua mesa. E a merda de um policial que lhe passou a mão na bunda. Estava a ponto de ter um colapso.

Às dezoito e quinze, Cintia ainda estava finalizando o registro do último processo. Saiu às pressas para não perder o horário. Ela tinha um encontro marcado às dezenove horas e não podia atrasar.

Ao chegar em seu apartamento, correu até a cozinha e organizou a mesa de jantar. Os pratos de porcelana, taças de cristal e os talheres de alumínio. Um vinho tinto, e velas brancas para decoração.

Na sala de estar, onde iria acontecer o primeiro contato, Cintia jogou pétalas de rosas. Passou um pano úmido na Tv e organizou no sofá a almofada com a foto de Artur Alessandro.   

Estava quase tudo pronto. Precisava tomar banho com óleo e essências. Correu para o banheiro. Não tinha muito tempo, mas precisava ficar cheirosa. Banhou-se com pressa. E no final, secou os cabelos na toalha.

Ainda parou diante da penteadeira para passar um batom rosa. Borrifou um perfume doce sobre si e deu um sorriso amarelo. Vestiu a camisola de seda vermelha e se sentiu pronta para mais uma noite de amor.

Antes de ligar a TV, o celular tocou. Sentiu que não era coisa boa. Com o telefone em mãos, observou que sua irmã lhe perturbava no seu horário sagrado com Artur Alessandro. Atendeu de mau gosto.

Oi Tina, tudo bem? perguntou Cintia, mais por obrigação do que por interesse genuíno.

Tá tudo ótimo sim. E vai ficar melhor quando eu chegar aí levando pizza comemorou Cristina, com uma energia na voz que Cíntia não tinha em si.

Não! Não dá! cortou seca.

Não faz isso, Cíntia. Tô no caminho. Preciso conversar contigo.

O Alessandro tá em casa. Nós vamos fazer um jantar romântico.

De novo? Toda vez que eu quero ir aí, vocês estão comemorando algo ou fazendo um jantar romântico. Eu vou aí e quero conhecer esse seu namorado misterioso decretou a irmã.

Não você não vai vir!

Abre a porta. Já tô aqui gritou Cristina.

Cíntia correu até a janela da sala e viu o perfil da irmã do outro lado da porta. Que saco! Não podia acreditar nisso.

Não posso abrir! Eu tenho compromisso e não posso desmarcar. Você precisa voltar, Cristina!

Abre logo essa porta! insistiu.

Não! Vai embora agora!

Se você não abrir eu vou arrombar!

Cíntia abriu a porta em um rompante. Cristina olhou para a irmã, mas seus olhos não refletiam surpresa ou alegria, mas sim, puro horror, pois diante de si, Cíntia estava com as mãos estendidas segurando uma arma em cima da sua testa.

Dá meia volta com a droga da sua pizza Cíntia disse, com uma raiva contida, que transbordava entre os dentes trincados.

Eu...eu...volto outro dia, então.

Cíntia trancou a porta com força. Guardou a arma na escrivaninha e com muita calma, encheu sua xícara com vinho. Sentou-se no sofá, pronta para ver o seu amado.

Agora era somente ela e Artur Alessandro. Olhou para a xícara com a foto do ator e beijou-lhe a face.

Eu amo você.

Era o penúltimo episódio de Coisas do Amor, e Cíntia se derramava em lágrimas vendo Artur carregar uma loira pela floresta. Ela desejava com todas as forças ser aquela atriz, mas se conformava em imaginar aquele homem sarado lhe carregando com seus músculos rígidos.

Quando Cintia acordou no dia seguinte, o despertador ainda não tinha disparado. Pensou na irmã e em como foi insensível com ela. Quis ligar e pedir desculpas, mas preferiu falar pessoalmente, tudo o que fizera precisava de um bom diálogo. 

Tomou um banho rápido e seguiu para o décimo terceiro distrito de policial. Ficou surpresa quando viu a calçada do DP coberta de jornalistas e câmeras. Eles faziam manchetes e noticiavam algo com muita excitação. Aquilo não era normal. 

Cintia teve que dar a volta no prédio e entrar pela porta dos fundos. Atravessou o quintal onde ficavam as viaturas e penetrou no edifício que também estava borbulhando de homens de terno preto. Percebeu que se tratava de advogados e buscou se esconder o mais rápido que podia em sua sala.

A escrivã Bruna Carla estava sentada no canto da sala. Parecia ter um grande peso na cabeça, pois suas mãos mal conseguiam segurá-la. Cíntia foi ao seu encontro.

O que tá acontecendo aqui? Prenderam o presidente?  perguntou Cíntia.

Já vi que você não lê jornal pela manhã - respondeu Bruna, com tédio na voz.

Não gosto de sofrer pela manhã. Mas, conta! O que houve?

Prenderam um famoso aí. Acusado de estupro de vulnerável e agressão à mulher. Tá passando em todos os canais, é só ligar a tv.

Quem será?

Não sei, não. Só sei que esse aí não vai ter fama nunca mais. Tem vídeo dele molestando a criança e depois espancando a mulher. É um negócio nojento de se ver.

Nossa que triste.

Cíntia pegou o celular e buscou pesquisar sobre um famoso que molestou uma criança e agrediu a esposa. Tomou um susto quando viu a foto do homem. Não conseguiu segurar o celular na sua mão.

Nao pode ser! É mentira! gritou Cíntia.

Bruna a observou de canto de olho.

Você sabe quem é? —  perguntou Bruna.

Ele é o meu… Cíntia gaguejou.

O seu o quê?

Deixa pra lá.

Cíntia não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Foi até a um segundo policial e confirmou que quem estava detido, justamente no seu distrito, era o amor de sua vida, Artur Alessandro. Sonho ou pesadelo? Ela tinha que conferir com os próprios olhos.

Saiu pontualmente às dezoito e seu único destino era sua casa. Ao chegar na porta do apartamento deu de cara com sua irmã, loira, suada, com roupa de academia, uma bolsa cheia de alters e suplementos.

Precisamos conversar — decretou Cristina.

Cíntia virou a chave na fechadura, e em um silêncio constrangedor apontou com a cabeça a entrada para sua irmã.

Espero que aquilo não aconteça nunca mais. Você não pode apontar a merda de uma arma para mim e achar que vai ficar tudo normal. Você não pode mais fazer isso, tá ouvindo Cíntia! - gritou Cristina, histérica.

Fala baixo.

Você tá bem?

Na verdade, não — respondeu Cíntia. Sem demora ela ligou a tv da cozinha e se deparou com a mesma notícia. Artur Alessandro: molestador e espancador.

Isso só pode ser brincadeira — reclamou Cíntia.

Esse bandido merece ser executado.

Não fale assim dele. O Artur não faria isso. Eu conheço ele.

Conhece? Da onde?

Não interessa — desconversou.

Cristina segurou a irmã pelos braços.

Preciso saber que você tá bem.

Eu tenho que ficar bem, Cristina. Agora me solta e volta pra sua academia. Vai ser magra e esbelta — disse Cíntia, com um sorriso sarcástico.

Depois que sua irmã saiu, Cíntia teve a notícia mais trágica do dia: a série estrelada por Artur Alessandro fora cancelada.

No dia seguinte, a delegacia ainda estava borbulhando de repórteres. Cíntia teve que entrar novamente pelos fundos, mas dessa vez, na ala que ficava as celas de detenção.

Se aproximou da cela que Artur Alessandro se encontrava e observou-lhe conversando com os advogados. Ele parecia ainda mais bonito de perto. 

Cínta encostou-se à parede e suas pernas começaram a tremer. Precisou sentar-se para não cair.

Ai como ele é lindo. É todo meu! — disse suspirando.

Quando os advogados se retiraram, Cíntia se aproximou, como quem não quer nada. Ela fixou os olhos no homem e suspirou em um sonho lúcido. Percebeu, quando o ator cuspiu e abanou-se com calor.

Posso te trazer um copo com água? — ela perguntou quase a balbuciar.

Ele lhe lançou um olhar desconfiado. Surpreso. Ficou em silêncio por alguns segundos e parecia refletir naquela pergunta.

É claro — disse por fim.

Cíntia apressou o passo até o bebedouro. Encheu dois copos com água e voltou para a cela. Não havia ninguém no corredor, a não ser mais dois detentos que observavam a cena em silêncio.

Você está sendo bem tratado aqui? — ela perguntou, passando os copos através das grades.

Até o momento, sim.

Ela não pode deixar de notar as veias pulsando nos dedos do amado. O músculo do antebraço rígido e os pelos que cobriam todo o braço. Um arrepio subiu-lhe os cabelos da nuca. 

Ela não podia deixar passar a oportunidade e ao entregar os copos, roçou sua mão no braço do garanhão. Um calor subiu por entre o ventre e estremeceu seu coração.

Artur Alessandro percebeu o toque e o olhar apaixonado de Cíntia.

Você deve me conhecer, né? — ele perguntou com uma voz grave e profunda.

Ela sorriu sem graça.

Eu devo ser a sua fã número um. Te acompanho desde Mulheres Enlouquecidas. Você salvou a minha vida. Eu te agradeço todos os dias por existir. Eu não sei o que seria da minha vida sem você — ela disse, tremendo e segurando as barras com as duas mãos.

Ahh, então, você é minha fã!

Ai me desculpe. Eu perdi a noção. Eu simplesmente tinha que me declarar pra você. Precisava. Juro de coração.

Mas você não viu os noticiários. As mentiras que maquinaram contra mim? 

Sim, eu vi. Eles são loucos. Perturbados. Meu Deus quem em sã consciência abusaria da própria enteada? 

Você conhece a protagonista que faz par romântico comigo? Foi ela que armou tudo para me substituir da série. Nós nunca nos entendemos e eu disse que aquele era o meu posto e que ninguém iria me derrubar. Ela jurou na minha cara que iria me destruir. Iria destruir minha reputação, minha honra e que iria me matar e me deixar vivo ao mesmo tempo. Disse que iria me cancelar. Você acredita em mim?

Claro que acredito meu amor. Você sempre foi e será o meu homem. Que sempre esteve ao meu lado. Você é o meu salvador. Sei que nunca faria uma atrocidade dessas. E, aquela mocreia loira, ela vai pagar o que fez com você. Essas loiras, magras e belas são as piores. Eu tenho uma irmã que pertence à mesma classe. Mas, eu vou acabar com isso — disse Cíntia segurando as mãos de Artur Alessandro.

Ele percebeu o distintivo da polícia civil pendurado no pescoço dela.

O amor é só uma palavra, se não houver a ação. Você concorda comigo? — ele perguntou. E ela concordou com a cabeça. — Por isso quero te pedir algo. Preciso que me ajude!

O que você quiser eu faço.

Você precisa me tirar daqui.

Mas… - ela gaguejou.

Sente — ele disse, puxando a mão dela e encostando em seu peito sarado. — Meu coração está apertado. Eu vou morrer se não sair daqui hoje.

Mas, como assim?

Eles vão me transferir para a unidade prisional de Itaitinga. Lá, já está tudo pronto para me estuprarem até a morte. Eles querem me ver sangrar até não restar mais nada em mim. Querem sugar toda a minha dignidade até na hora da morte.

Isso nao pode acontecer — ela falou, derramando lágrimas.

Não vai restar nada meu nesta terra. Todas as séries, filmes e novelas que estrelei serão canceladas e queimadas. Ninguém irá lembrar da minha existência.

Não posso permitir que isso ocorra.

Então, me tira daqui.

Quando saiu da ala das celas, Cíntia refletia em como havia chegado até aquele momento.

Ela conseguia ver com nitidez, seu pai brincando aos sábados no jardim. Eles se divertiam, enquanto a mãe observava pela janela, com muito ódio no olhar. Ela detestava o carinho que o pai devotava à única filha.

Até que a Cristina nasceu. 

Acabou-se as brincadeiras. Cintia ficou de lado. Todo o mundo se curvava diante daquela criança linda de olhos azuis. E Cíntia, com seus dez anos de idade, começou a ganhar peso, e a ficar isolada de todos.

Quando Cíntia fez vinte anos, o centro das atenções ainda era Cristina. A irmã mais nova, mais bonita e mais inteligente. Tudo girava em torno das competições que Cristina disputava, dos troféus que a garota ganhava e do amor que os pais lhe davam.

Mas, as coisas tornaram-se insuportáveis, quando vindo de uma competição dessas que Cristina sempre participava, o pai capotou o carro, e acabou falecendo.

Cíntia culpou sua irmã, e nunca mais lhe perdoou.

Aos trinta, Cíntia havia passado no concurso da polícia civil. Era uma escrivã.

Casou-se com um amigo de infância, que era preguiçoso e beberrão. 

Engravidou aos trinta e um. Mas abortou com quatro meses. Teve que extrair o útero. Nunca mais poderia ter filhos.

No leito do hospital, seu marido anunciou “Não quero mais essa vida. Até mais”. E nunca mais voltou.

Foi naquela noite, que assistindo a tv no leito do hospital, que Cíntia viu Artur Alessandro pela primeira vez. Ele interpretava um enfermeiro que cuidava de crianças e idosos. Em um diálogo emocionante ele disse para uma das crianças “Não se preocupe. Eu sempre estarei ao seu lado”. E Cíntia ouviu a voz de Deus dizendo para ela que Artur era o homem da sua vida.

Foi então que decidiu se reerguer. Foi ao shopping e comprou tudo que tinha o nome e o rosto de Artur Alessandro. Assistiu às séries que ele estrelou, mais de cinco vezes seguidas. E sonhou com ele durante muitos e muitos dias. Aquele era o seu homem. O homem que sempre estaria ao seu lado. E ninguém iria tirá-lo dela. Ninguém.

Entrou na sala do delegado e deparou-se com três policiais conversando com o chefe.

Trouxe café, Cíntia? — perguntou o delegado Borges, alisando o bigode grisalho.

Tô preparando um bem quentinho — ela respondeu, baixando o olhar.

O que você quer aqui? A sala já é pequena e você ainda se mete de entrar — disse, abrindo o braços e fazendo um desenho de uma bola ao redor da cintura.

Os outros três policiais não se contiveram e começaram a rir.

Por que vocês já vão transferir o Artur? 

Prisão temporária, e esse cara merece ser feito de mulherzinha na cadeia, né Cíntia? — brincou o delegado.

Ele não oferece nenhum risco à investigação. É réu primário e tem domicilio fixo — argumentou.

Ele que vá pra puta que o pariu com seu domicílio. Eu quero é que estuprador morra! Dá o fora daqui, sua baleia — gritou.

Cíntia puxou a chave que estava sobre a mesa do delegado e saiu em disparada. Os outros policiais correram imediatamente atrás dela.

Pega a gorda! — gritavam os policiais pelos corredores.

Ela entrou na ala das celas e trancou a porta por dentro. 

O delegado se aproximou, e com força, batia na porta.

Abre isso agora, sua vadia gorda! O que você pensa que está fazendo? — gritava pela janela de vidro que havia na porta.

Cíntia respondeu mostrando o dedão do meio.

Se aproximou da cela que prendia Alessandro e notou suas mãos trêmulas. 

Isso é loucura. Eu vou morrer por conta disso — ela afirmou, tremendo as chaves em sua mão.

Você só tá mostrando o seu amor por mim, minha querida.

Promete que não vai me abandonar?

Claro! Claro que eu prometo. Agora abre essa cela antes que os policiais notem o sumiço da chave.

Mas, eles já notaram. Eu peguei a chave na frente deles e saí correndo.

Alessandro agarrou as barras, e esbravejando gritou: — Como você pode ser tão burra, sua gorda imbecil?! Você deveria pegar a chave às escondidas e não diante de todos! Como você conseguiu se tornar escrivã?!!

Ainda segurando as chaves, Cíntia se afastou abraçando o corpo com seus braços.

Por que você está agindo assim? Por que você está gritando comigo? Eu te amo tanto! — ela gritava e chorava ao mesmo tempo.

Eu nunca vi ninguém ser tão idiota como você! Como eu posso sair daqui, se você chamou a atenção dos policiais? Você não pensa?

Ninguém vai sair daqui. Nós vamos ficar juntos e você vai me amar como sempre me amou.

Eu nunca te amei sua tonta. Você sempre esteve enganada — ele disse, com ódio na voz.

Naquele instante, um buraco se abriu e engoliu Cintia. Ela sentiu que entrou em um turbilhão e se desequilibrou. Caiu e a chave foi parar na cela à frente. 

Um homem magro, usando touca preta e cheio de tatuagens, levantou, deu alguns passos, e se agachando, pegou as chaves. Deu um sorriso cheio de maldade para Artur Alessandro. 

O ator deu alguns passos para trás e se jogou contra a parede. Em seu rosto havia uma expressão de horror.

É hora da diversão — disse o detento de toca preta.

O homem abriu a cela e se dirigiu à cela ao lado. Destrancou o portão, libertando os outros dois detentos. 

Você achou mesmo que iria fugir? — perguntou o de toca preta em direção ao ator.

Os outros dois homens se ajoelharam e tomaram as chaves da mão de Cíntia, que ainda estava desacordada no meio do corredor.

Não precisamos partir para a violência. Eu posso recompensar vocês financeiramente — clamou Artur, juntando as mãos em petição.

Você vai morrer e não temos acordo — sentenciou o toca preta.

Um dos detentos abriu a cela, mas, no primeiro passo que deu dentro do compartimento, foi surpreendido pelo cano de um trinta e oito que roçou na sua nuca. Um único disparo e os miolos do homem explodiram para todos os lados. Cíntia recarregou o revólver, e com uma mira certeira, atirou no segundo detento. A bala perfurou o pescoço, jogando o homem contra a parede. Ele morreu afogado em uma poça de sangue.

O detento da touca preta foi esperto. Entrou na cela de Artur Alessandro e sacando uma gilete do bolso, encostou a lâmina no pescoço do ator, fazendo-o refém.

Aquieta esse cano aí moça! — gritou o touca preta — Aquieta isso ai, senão o seu grande amor aqui morre.

Cíntia mirava o revólver na cabeça do vagabundo, no entanto, ele se escondia atrás de Artur. Uma tensão percorria o ambiente. O delegado e mais dois policiais, assistiam a tudo pela janela de vidro. Duas viaturas encostaram na porta do Distrito. E mais três carros de emissora estacionaram na praça em frente ao DP. Um grande circo estava montado.

Os principais canais de televisão noticiavam um incidente na delegacia em que o ator Artur Alessandro estava detido. Era seu último dia no DP e ele seria encaminhado para a prisão. Mas, parece que as coisas não correram muito bem, e um novo espetáculo era oferecido ao público. O que será que estava acontecendo com o ator acusado de agressão e estupro de vulnerável?

Cíntia ouviu quando um helicóptero sobrevoou o DP. Imaginou que um caos havia se formado lá fora. E agora, como limpar toda essa merda?

O delegado fez conchinha com a mão contra o vidro e gritou: — É melhor baixar essa arma e se render, policial Cíntia! Vocês estão cercados. Não tem como escapar!

Cíntia, sem tirar os olhos do detento touca preta, respondeu: — Prefiro morrer aqui dentro do que me render a você. Seu porco imundo!

O detento fez um movimento rápido, levando o ator a se abaixar um pouco.

É melhor ouvir o delegado, dona. Se você teimar nisso aqui, o exército vai invadir esse lugar e não vai sobrar ninguém vivo — alertou o meliante.

Tenho uma proposta! — disse Artur Alessandro.

Você não fala nada que preste — murmurou o detento.

Todos querem sair daqui vivos, não é mesmo? — argumentou Alessandro — e, eu quero que nós saiamos daqui vivos, ok!

Aonde você quer chegar com isso? — perguntou Cíntia.

O meu advogado conseguiu entrar com uma maleta recheada com barras de ouro. Vocês me soltam e eu juro que deixo a maleta para vocês dois. O que acham? Três milhões para cada um? É um excelente valor, concordam? — perguntou Artur.

O detento observou a maleta embaixo de uma cadeira. Seus olhos brilharam. Cíntia percebeu o interesse do homem, mas continuou mirando na cabeça dele. Artur focava na escrivã, tentando adivinhar seus pensamentos.

Por favor, fiquem com as barras. Eu preciso viver — pediu quase em prantos.

Acho que podemos negociar — disse o touca preta.

Eu não vou negociar com bandido — reagiu Cíntia.

Um grito agudo veio da porta à direita. Todos olharam com espanto. Cristina, a irmã de Cíntia, gritava e implorava à plenos pulmões: — Meu Deus, para com isso! Você precisa parar, Cíntia! Você é minha irmã. Por favor, larga essa arma, deixa esses homens e vem comigo! — implorava.

Cala a boca, sua vaca! — respondeu Cíntia no mesmo tom de voz. — Você nunca se importou comigo, e agora vem dar um show pra mim. Você não engana ninguém sua vadia loira!

Você precisa parar com isso. Precisa parar de se sentir tão inferior. Eu te amo mesmo você sendo gorda e feia. Eu te amo, mesmo você sendo anormal.

Você que é a anormal aqui. Roubou o papai de mim, e agora quer roubar o meu homem? — disse Cíntia.

Eu nunca roubei o papai de você. Mas, você que se isolou com inveja de mim.

Cala a boca! — gritou Cíntia, atirando em direção à janela em que a irmã estava. O vidro espatifou-se e a bala arrancou um pedaço da orelha de Cristina.

O detento aproveitou para pegar a maleta e sair da cela, carregando Artur como escudo.

O que você está fazendo? — ela perguntou.

Olha! Muita calma nessa hora. Nós podemos sair daqui e ainda ficarmos milionários. Essa é a nossa grande chance — disse o detento, eufórico. — Na minha cela, tem um túnel. Eu terminei de cavar ontem. Ele vai dar na praça. Nós podemos sair e tentar escapar. Temos o bonitão de refém e você tem uma arma. Por que não tentar?

Como assim um túnel? Vocês fizeram um túnel?

Sim, os detentos da minha facção começaram esse túnel. E sempre que um de nós vinha pra cá, dava continuidade no trabalho aí! — explicou o touca preta.

O delegado se preparava para arrombar a porta. Três agentes da tropa de choque se alinhavam para entrar na ala.

Ou a gente faz isso agora, ou é caixão e vela preta. Não sai ninguém vivo daqui — disse o detento.

Isso é loucura! — falou Cíntia.

O detento ergueu a maleta e a atirou sobre a mão da escrivã. O revólver foi lançado para longe e Cíntia caiu com a mão sangrando.

O touca preta ainda tentou juntar algumas barras de ouro que estavam espalhadas, mas Cíntia lhe alcançou e segurando uma das barras, acertou a cabeça do detento.

Uma vez, duas vezes, três vezes, e ela esmagava os crânio do homem contra o chão. A barra de ouro antes brilhante, agora estava coberta com o sangue carmesim. O rosto de Cíntia gotejava sangue e o líquido escorria de sua boca. 

Mas que merda você fez? — exclamou Artur.

Eu só quero que você fique bem, meu amor — com olhos esbugalhados e com uma expressão de loucura — Não posso te perder meu amor. Sempre ao meu lado.

Você é louca!

Cíntia correu até a cela do detento e tateando o chão, encontrou o piso oco. Removeu a pedra de azulejo e verificou o buraco abaixo de si.

Vamos! Você vai na frente — disse a escrivã.

Artur Alessandro entrou no buraco com facilidade. Cíntia desceu logo em seguida. Ela carregava a maleta com algumas barras de ouro. O ator se arrastava pelo chão lamacento, enquanto Cíntia vinha em seguida passando pelo espaço com muita dificuldade.

Eu não posso ficar aqui, eu preciso sair! Volta, volta, volta! — praguejava Artur, tendo uma crise de pânico. Ele respirava com dificuldade. Seu peito subia e descia acelerado, ao mesmo tempo em que o som de sua voz causava um ruído assustador, como de um porco prestes a ser abatido.

Volta! Eu quero sair daqui. Não posso mais ir adiante!

Cala a boca! Continua! Vai em frente! Para de gritar — Cíntia respondeu com outro grito.

Sua porca! Idiota! Estúpida! Você merece morrer! — ele praguejava dentro do buraco claustrofóbico.

Cíntia deu um grito ensurdecedor: — Cala a merda da boca!!!! — e ela apertou o gatilho no rosto do ator. Um clique seco ecoou dentro do buraco. Acabou-se a munição.

Artur lhe encarou assustado. — Você ia me matar? — perguntou de boca aberta.

Cíntia respondeu retirando uma barra de ouro e enfiando na boca do ator. Ele recuou sem conseguir falar nada.

Cíntia, com mais força, continuou a empurrar a barra, até que ela dilatou a mandíbula do infeliz, que começou e cuspir jatos de sangue e sufocar com o próprio vômito. 

Ela não parava, e continuava a pressionar, pressionar até que a barra entrou de vez na garganta dele.

Artur tombou morto. Cíntia sorriu satisfeita.

 A voz dos policiais se aproximava do buraco em que ela estava. Arrastou-se para frente até chegar ao fim do túnel. Ergueu seu corpo acima do buraco e viu a praça apinhada de repórteres que lhe filmavam e fotografavam.

Cíntia jogou a maleta com o resto das barras. Sustentou o tronco volumoso acima da terra, mas sua cintura entalou no pequeno orifício.

Ninguém lhe ajudava. As lentes somente assistiam, espantadas, A Dama de Ouros, entalada em um buraco.

Mas ela não desistia. Com muita impulsão, remexia a barriga para o lado. Remexia a gordura para o outro, e nada lhe fazia sair dali. Os repórteres por perto caíam na gargalhada. E isso, revoltou ainda mais a escrivã. Ela ergueu seu corpo com tanta força que o solo ao redor do buraco começou a ceder. As pernas de Cíntia apareceram sobre a superfície, cheias de sangue e ossos expostos. Ela conseguiu sair do buraco, mas o osso da sua perna esquerda estava dilacerado.

Naquela mesma tarde, foi levada para o hospital. Os médicos fizeram o impossível, mas tiveram que amputar sua perna esquerda. 

Ela estava medicada e lúcida. Foi deixada sozinha no leito. Ligaram a televisão. O último episódio de Coisas do Amor estava sendo exibido. No lugar de Artur Alessandro, contrataram Gilberto Menezes para fazer o par romântico com a loira protagonista. 

Gilberto Menezes era tão bonito quanto Artur Alessandro. E ele acabava dizendo para a protagonista: — Eu sempre vou te amanhar. Você sempre terá um pedaço do meu coração!

Cíntia suspirou com as palavras do ator. Pronto, tudo estava resolvido. Seu novo amor havia se revelado. Gilberto Menezes era o nome. E Cíntia foi para a prisão amando outro galã.

FIM




Conto escrito por
Hugo Martins

Produção Four Elements
Marcos Vinícius da Silva
Melqui Rodrigues
Hugo Martins
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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Proibida a cópia ou a reprodução


Palavras Obscuras - 1x04 - Vingança Enigmática


Sinopse: Aparecida é uma escritora, uma mulher forte e decidida que, ao se dirigir até uma cidade vizinha para assistir à peça que ela mesmo escreveu, um misterioso acidente a leva ser considerada morta e o seu corpo carbonizado sepultado. Porém, antes mesmo que tivesse entrado no seu carro, Aparecida foi sequestrada e presa no porão da casa do inimigo de seu pai. Agora, diante de tal revés e ironia do destino, qual será o fim de Aparecida?



Vingança Enigmática
de Tânia Tonelli

 

Aparecida se dirigiu ao teatro municipal para assistir uma peça. Ela estava contente, pois era a autora da peça. Os personagens principais eram a sua irmã Josiane e o noivo dela Rodrigo. Todos os ingressos desta peça foram vendidos, pois estava fazendo sucesso na cidade. O teatro estava lotado, quase todos os alunos que estudavam na faculdade foram assistir à peça: O inimigo do meu pai. Assim que acabou a representação os atores foram aplaudidos. Depois essas pessoas se dirigiram ao buffet onde teve um coquetel para homenageá-los.

Josiane e Rodrigo estavam sendo parabenizados pela representação da peça. Então o convencido Sidnei se aproximou deles e falou:

- Meus amigos vocês são excelentes atores, a peça está fazendo sucesso na cidade Amora e daqui a alguns dias em todo Brasil.

- Obrigado Sidnei, a peça está fazendo sucesso porque foi escrita pela Aparecida, falou Josiane.

- Um bom texto nunca faria sucesso se não fosse representado por bons atores, falou Sidnei.

Rodrigo abraçou a sua noiva e falou:

- Meu amigo, obrigado pelos seus elogios, mas devemos reconhecer que o roteiro desta peça está ótimo.

Aparecida se aproximou deles e falou:

- Nós estamos de parabéns porque o roteiro e os atores desta peça são excelentes.

Assim que Aparecida terminou de falar essas palavras Rodrigo começou a aplaudir, todas pessoas que estavam neste coquetel também aplaudiram a moça. A cidade Amora localizava-se no centro do Estado de São Paulo, com quarenta e dois mil habitantes e se destacava na agricultura com o cultivo de laranja. Durante o dia Aparecida trabalhava em uma loja, à noite ela estudava no curso de letras. Às dezoito horas e quarenta e cinco minutos quando chegou na faculdade Felipe se aproximou dela e falou:

- Boa noite Aparecida, meus parabéns, no dia anterior eu assisti a peça O Inimigo Do Meu Pai, a estória é impressionante.

Emocionada, Aparecida falou:

- Obrigado Felipe, parabenize os atores, a representação deles estava ótima.

- Eu já elogiei Josiane e Rodrigo, agora estou parabenizando a escritora da peça, falou Felipe.

Aparecida ficou envergonhada, Felipe era um rapaz bonito que estudava jornalismo. Ela sempre disfarçava, mas gostava dele, então falou:

- Obrigado Felipe, se a sorte estiver do meu lado esta peça fará sucesso em todo Brasil.

- Sidnei pediu para lhe entregar este envelope, falou Felipe e entregou um envelope de carta a Aparecida.

Os dois conversaram por alguns minutos e se dirigiram às salas de aula. Aparecida achava Sidnei um cara convencido, ele era bonito, mas já havia ficado junto com quase todas as moças solteiras da cidade. Como a estava paquerando não lhe deixava em paz. Quando se sentou na carteira abriu o envelope, nele tinha um pedaço de papel escrito a seguinte poesia:

No final dos contos de fada

Branca de Neve, Bela Adormecida e Cinderela.

Ficaram com os seus príncipes encantados

Minha adorável escritora será que eu tenho

Chance de conquistar o seu coração?

Brava ela percebeu que detestava este cara, então pegou outro pedaço de papel e escreveu este poema:

Com A escrevo Amor

Com P escrevo Paixão

No céu, na lua e nas estrelas.

Estão escritos que você nunca conquistará o meu coração.

Porque somos apenas amigos!

No horário do intervalo ela se dirigiu a lanchonete da faculdade, quando se aproximou do Sidnei ele perguntou:

- Minha gata você aceita sair comigo no sábado à noite?

- Neste envelope está a resposta de sua poesia.

Ao acabar de falar essas palavras, Aparecida retornou para a sala de aula. Animado, Sidnei abriu o envelope e leu a poesia. Os seus amigos quando leram o poema tiraram sarro dele. Terminadas as aulas, Aparecida se dirigiu ao estacionamento, entrou no seu automóvel e voltou para casa. Ela era loira, solteira e com seus vinte quatro anos estava no quinto semestre do curso de letras. Os seus pais se chamavam Vanderlei e Mara, o seu pai trabalhava em uma padaria e a mãe era do lar.

A padaria em que Vanderlei trabalhava foi vendida, o novo patrão se chamava Gilberto Neves. Este homem era bom e deu um aumento salarial de vinte por cento aos seus funcionários. No domingo, como era dia de folga do Vanderlei, convidou o seu patrão para almoçar em sua casa.

Gilberto Neves era um homem alegre, ele tinha cinquenta e um anos, era solteiro e morava sozinho em um sobrado luxuoso. Enquanto faziam a refeição Josiane perguntou:

- Senhor Gilberto, não é difícil morar sozinho naquela mansão?

Sorrindo este homem respondeu:

- Não porque os meus três cachorros dobermann me fazem companhia.

A refeição prosseguiu alegremente. Passaram-se quinze dias, Josiane e Rodrigo foram convidados para fazerem a representação da peça na cidade vizinha. Contentes aceitaram o convite, pois exibiram a peça na sexta-feira, sábado e domingo. No sábado Aparecida se dirigiu a este município e foi ao teatro. Assim que terminou a peça os atores foram convidados para irem a uma festa. Aparecida recusou o convite porque iria a um baile e faria uma declaração amorosa ao Felipe. Ela se despediu dessas pessoas, e se dirigiu ao estacionamento. Enquanto voltava à cidade de Amora o seu automóvel bateu em uma árvore e se incendiou.

Passadas uns quarenta minutos uma família que estava no automóvel viu aquele veículo incendiado. Eles chamavam a polícia, os policiais acharam o corpo de uma mulher deformado. Então chamaram uma ambulância para levá-lo ao hospital. Felizes, Josiane e seu noivo voltaram para casa, quando viram os policiais e a ambulância Rodrigo estacionou o seu carro. Enquanto conversavam com o policial Josiane viu no chão perto do que sobrou do veículo queimado um pedaço de fotografia da sua família. Desesperada e chorando falou que a mulher que havia sofrido acidente era a sua irmã Aparecida. Como ela estava sofrendo demais, o seu noivo a levou ao hospital.

Rodrigo conversou com o médico que fazia plantão no hospital. Este homem comentou que o corpo daquela mulher estava irreconhecível, eles precisavam chamar o dentista para reconhecer o corpo através da arcada dentária. Como Josiane estava desesperada, o médico a mandou tomar um calmante. Na madrugada Rodrigo se dirigiu a casa do doutor Fabrício. O rapaz explicou ao dentista que a Aparecida tinha sofrido um acidente. Por ordem da polícia ele precisava ir ao hospital para reconhecer esse corpo através da arcada dentária.

O dentista ficou abalado, preocupado ligou o seu automóvel e o dirigiu ao hospital. Nervoso, ele entrou onde estava aquele corpo e pela arcada dentária reconheceu que aquela mulher era Aparecida Gomes. Às cinco horas Josiane voltou a sua casa, com a ajuda do seu noivo acordou os seus pais, chorando contou que Aparecida sofreu um acidente de automóvel e havia falecido. A dona Mara e o Vanderlei ficaram inconformados e choravam desesperados.

No velório de Aparecida teve muita dor e sofrimento. O enterro aconteceu no domingo às dezessete horas. Um repórter pediu ao cinegrafista para filmar o sepultamento desta mulher e esta reportagem apareceu no jornal de televisão. Com tanto sofrimento ninguém viu no sábado, mas enquanto Aparecida estava no estacionamento um homem colocou um pedaço de pano com sonífero no rosto dela fazendo-a desmaiar. Com a ajuda do seu parceiro colocaram ela no porta malas de um automóvel. Este homem entrou no veículo e foi embora, o outro entrou no carro de Aparecida, o ligou e entrou na estrada que conduzia a cidade de Amora.

No domingo às dezoito horas e quinze minutos enquanto passava o jornal a reportagem na televisão Aparecida ficou desesperada. Ela estava presa em uma sela com quatro metros quadrados. Naquele lugar tinha uma cama de solteiro, uma geladeira pequena, um sofá, no canto à direita tinha uma patente, perto dela estava a pia com uma torneira.

A televisão estava do outro lado das grades, em cima de uma prateleira a dois metros de altura. Chorando, Aparecida desesperada, tentava abrir a porta da cela e falava:

- Papai, mamãe não chorem por causa de minha morte. Eu estou viva!

Naquele momento abriram uma porta de madeira, apareceu na frente dela Gilberto Neves e falou rindo:

- Coitada! Esta moça deve estar sofrendo bastante!

Sem compreender o que estava acontecendo Aparecida falou:

- Senhor Gilberto Neves, por favor, me solte desta prisão.

Aquele homem deu uma gargalhada e falou:

- O meu verdadeiro nome não é Gilberto Neves, mas sim Guiomar Pereira.

Desesperada Aparecida falou chorando:

- O que eu fiz para o senhor mandar dois homens me sequestrar e simulou um acidente, os meus pais pensam que estou morta.

- Você não me fez nada, fiz este plano perfeito para me vingar dos seus pais, falou Guiomar rindo.

- O que o meu pai e a minha mãe fizeram para o senhor, pois deseja se vingar deles? Perguntou Aparecida.

- A vinte cinco anos eu, Vanderlei Gomes e Mara Silva morávamos na cidade de Jaú. Eu me apaixonei pela Mara, mas ela preferiu ficar com o seu pai. E para completar este homem me denunciou aos policiais porque desviei dinheiro do supermercado, respondeu Guiomar.

Furiosa Aparecida falou:

- Lugar de ladrão é na cadeia.

- Eu fiquei preso durante três anos, quando me libertaram fui a outro estado, falsifiquei os meus documentos, estudei, desviei dinheiro de vários burgueses e me tornei um homem rico, falou Guiomar.

Brava, Aparecida falou:

- Droga! Esta sua estória é muito parecida com a peça de teatro que escrevi.

Rindo ele falou:

- A minha vingança foi baseada na sua peça de teatro.

- Mentiroso! Aquele homem louco que sequestrou Aline usou a gargalhada de estimação dela para chamar a atenção da família e deixar pistas de sua armação, falou Aparecida.

Guiomar pegou do bolso direito de sua calça uma gargantilha com um crucifixo e falou:

- Esta joia é um dos seus objetos de estimação!

Furiosa, Aparecida gritou:

- Por favor, devolva o meu cordão!

Guiomar colocou esta jóia no seu pescoço e falou:

- Eu usarei este crucifixo para chamar a atenção de sua família.

- Tonto! Ninguém da minha família percebe que esta jóia é minha, falou Aparecida.

Aquele homem deu uma gargalhada, pegou do bolso esquerdo de sua calça um pedaço de papel e falou:

- Direi as pessoas que uma admiradora secreta me mandou esta poesia: Com A escrevo Amor

Com P escrevo Paixão

No céu, na lua e nas estrelas

Estão escritos o grande amor, que sinto por você

Pois lhe acho um homem especial

Meu querido príncipe encantado!

Sentindo raiva Aparecida falou:

- Fui eu que escrevi esta poesia, o senhor está roubando os meus direitos autorais.

- Acalma-se garota, acho melhor você comer algum alimento que está perto da geladeira, falou Guiomar.

Ao acabar de falar essas palavras ele foi embora, Aparecida ficou desesperada e chorou.

Na segunda-feira cedo, Guiomar se dirigiu a padaria. Ele deixou bem à vista no seu pescoço a gargantilha que pertencia a Aparecida. Sorrindo lia para as pessoas a poesia que recebeu de sua admiradora secreta. O seu Vanderlei ficou abatido com o falecimento de sua filha e não foi trabalhar. O patrão decidiu visitá-lo. Mara estava inconformada com o falecimento de sua filha e chorava. Vanderlei cumprimentou Gilberto Neves, mas estava triste.

Vendo o sofrimento desta família, Guiomar disfarçava, sentiu vontade de rir porque sua vingança foi perfeita. A prisão de Aparecida era na dispensa do sobrado daquele homem que foi construído no subsolo. Depois ele visitou sua prisioneira. Quando a viu falou:

- Garota, se por acaso você desejar comer algum alimento que não está ao seu alcance, por favor, avise-me.

Aparecida odiava aquele homem, disfarçando falou:

-Senhor Guiomar quem era esta mulher que foi enterrada no meu lugar?

- Era uma andarilha da cidade de São Paulo, respondeu Guiomar.

- Assassino! Gritou Aparecida.

- Garota você está enganada, pois nada fiz a aquela mulher, foram os dois homens que eu contratei que a eliminaram, falou Guiomar.

Algumas lágrimas saíram dos olhos de Aparecida quando falou:

- O senhor deve ter pagado bastante dinheiro para o meu dentista falar que a arcada dentária daquela mulher era minha.

- Eu entreguei para aquele mentiroso apenas cinco mil dólares, falou Guiomar.

- Quando eu sair deste lugar darei uma surra naquele homem, falou Aparecida.

- Você nunca o encontrará porque ele me falou que vai fugir com a sua amante, falou Guiomar.

Apavorada Aparecida falou:

- Aquele incompetente vai abandonar a esposa e os dois filhos pequenos.

- Fabricio sabe aproveitar a vida, falou Guiomar.

No dia seguinte cedo as pessoas ficaram inconformadas, pois o dentista abandonou sua esposa e os dois filhos.

Às dez horas Felipe se dirigiu ao escritório de Sidnei, quando ficaram sozinhos na sala ele falou:

- Meu amigo, por favor, me diga que eu estou maluco, pois tenho certeza que a gargantilha que está no pescoço do senhor Gilberto Neves é de Aparecida Gomes.

Sidnei ficou intrigado e falou:

- Aparecida Gomes está morta, no domingo nós fomos no velório dela. O dentista que reconheceu a arcada dentária dela nesta madrugada fugiu com outra mulher.

Surpreso Felipe falou:

- Então este homem pode ter mentido, talvez alguém deseja se vingar de Aparecida.

- Precisamos pegar as impressões digitais do Gilberto Neves para verificarmos a sua verdadeira identidade.

Os dois rapazes saíram do escritório e foram procurar aquele homem. Na praça em frente a padaria ele estava sentado em um banco fumando cigarro. Felipe disfarçou e comprou um maço de cigarros no bar. Então se aproximaram de Gilberto, como estavam fingindo que fumaram cigarros começaram a conversar com ele. Passados três minutos ofereceram cigarro ao novo amigo. Gilberto aceitou, com a mão esquerda segurou o maço e a direita pegou o cigarro. Depois de alguns minutos se despediram dele, afobados foram à delegacia.

Felipe era amigo de um detetive da polícia, com calma contaram que estavam desconfiados que o dentista tinha mentido quando confirmou que a arcada dentaria daquele cadáver era de Aparecida. Sidnei pediu para analisar as impressões digitais de Gilberto Neves, pois ele era o principal suspeito dessa possível armação. O detetive mandou o maço de cigarros ao laboratório, dentro de vinte e quatro horas ficaram sabendo de quem eram aquelas impressões digitais. No dia seguinte às oito horas Felipe e Sidnei retornaram à delegacia porque o detetive havia telefonado para eles. Após se cumprimentarem o detetive falou:

- Gilberto Gomes está usando identidade falsa, as impressões digitais do maço de cigarros pertencem ao Guiomar Pereira. Aquele homem é louco, já faz mais de seis meses que ele fugiu do sanatório.

Aparecida ficou à noite inteira acordada, então teve uma ideia de acabar com aquele pesadelo. Guiomar havia deixado algumas roupas na prisão para ela vesti-la, se tivesse vontade. Às sete horas colocou um vestido e calçou um par de sandálias. Assim que lavou o seu rosto penteou os cabelos, para completar passou batom nos seus lábios. Às sete horas e trinta minutos Guiomar foi visitá-la, quando o viu sorrindo falou:

- Bom dia Guiomar!

Espantado ele perguntou:

- Nossa! O que aconteceu que você está tão feliz?

- A sua presença me traz muita alegria, respondeu Aparecida.

- Garota pare de contar mentiras, falou Guiomar.

- Guiomar, estou com vontade de comer torta de presunto com muçarela e bolo de chocolate, falou Aparecida.

Bravo Guiomar falou:

- Eu sou um homem muito ocupado, mas como sou um cavaleiro atenderei o seu pedido.

- Por favor, traga uma garrafa de champanhe, falou Aparecida.

- Com licença garota, vou precisar ir à padaria comprar esta comida, falou Guiomar.

Passados vinte e cinco minutos aquele homem retornou ao local onde Aparecida estava presa sorrindo falou:

- Garota se sente na cama para eu poder abrir a porta.

Ela obedeceu às ordens de Guiomar, ele pegou o chaveiro do bolso direito de sua caça e com uma chave abriu a porta da sela. Ele colocou três sacolas plásticas no sofá. Sorrindo Aparecida perguntou:

- O senhor aceita tomar café da manhã junto comigo?

Ele pensou um pouco e respondeu:

- Como você é uma garota bonita aceito o seu convite.

Sorrindo, Aparecida pegou das louças sujas dois copos, dois pratos e dois garfos, os lavou na pia e os colocou sobre a cama. Ela abriu as três sacolas, pegou um prato plástico com a torta, na outra tinha uma bandeja pequena com o bolo de chocolate e na última a garrafa de champanhe. Sorrindo Aparecida falou:

- Guiomar, por favor, abre o champanhe.

Irritado ele pegou a garrafa de champanhe e a abriu, depois a entregou para Aparecida. Ela colocou esta bebida nos dois copos, então o convidou para comer os alimentos deliciosos. Guiomar comeu um pedaço de torta e outro de bolo, animado tomou dois copos de champanhe. Passados alguns minutos ele falou:

- Eu estou me divertindo com a sua companhia, mas preciso ir porque tenho vários compromissos.

Rapidamente Aparecida se levantou da cama, abraçou aquele homem e falou:

- Meu amor, você é o dono do meu coração!

Confuso Guiomar falou:

- Garota desde domingo estou com vontade de beijar a sua boca.

Aparecida deu um chute que acertou no estômago do carrasco. Enquanto ele ficou gemendo de dor, ela pegou o chaveiro para abrir a porta da cela. Apavorada pegou a primeira chave e não conseguiu abri-la, a segunda tentativa também foi negativa. Na terceira chave conseguiu abrir a porta, como Guiomar havia melhorado correu atrás de Aparecida e a derrubou no chão. Desesperada ela falou:

- Por favor, Guiomar não me machuque.

Rindo aquele homem pegou o canivete que carregava na cinta, o abriu e falou:

- Garota eu te libertarei dos sofrimentos deste inferno.

Guiomar queria enfiar o canivete no coração de Aparecida, neste momento abriram a porta de madeira. O detetive Alfredo pegou o seu revólver, deu um tiro que acertou na mão direita do bandido antes que ele machucasse a moça. Ele gritou porque sentiu dor e foi preso pelo policial. Felipe quando viu Aparecida deitada no chão, se abaixou e falou:

- Aparecida eu tinha certeza que você estava viva.

Ela abraçou o Felipe e falou:

- Felipe eu tive tanto medo que aquele homem fosse me matar.

O detetive chamou o delegado para vir naquela casa. Junto com os policiais vieram duas ambulâncias, Aparecida e Guiomar foram levados ao hospital. Sidnei telefonou aos jornalistas que trabalhavam no jornal, rádio e televisão e os avisou sobre esta notícia impressionante. Josiane, Rodrigo, Mara e Vanderlei ficaram surpresos e felizes quando souberam que Aparecida estava viva. Eles se dirigiam ao hospital para verem a moça. Quando viram Aparecida emocionados se abraçaram e ficaram felizes. Apesar do susto o médico confirmou que ela estava boa, mas precisou ir à delegacia depor e voltou para a sua casa. Guiomar assim que recebeu o atendimento médico foi transferido ao sanatório.

Esta notícia foi divulgada em todo o Brasil, os jornalistas comentaram que Sidnei desconfiou que Aparecida estava viva. Sidnei por ser o herói muitas fãs queriam manter contato com ele.

Na segunda-feira às dezoito horas e trinta minutos Aparecida retornou a faculdade. Emocionada viu Felipe e entregou um cartão com esta poesia.

Felipe agora que estou olhando nos seus olhos

Perderei o medo e confessarei

Como o amo demais

Enquanto estava naquele pesadelo

A única coisa que eu queria

Era poder vê-lo pessoalmente

Para poder abraçá-lo e beijar a sua boca!

- Aparecida eu também estou apaixonado por você, falou Felipe.

Felizes os dois se abraçaram e beijaram-se.




Conto escrito por
Tânia Tonelli

Produção Four Elements
Marcos Vinícius da Silva
Melqui Rodrigues
Hugo Martins
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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