Antologia A Magia do Natal 1x02

    0:00 min       A MAGIA DE NATAL     ANTOLOGIA
0:10:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
ANTOLOGIA A MAGIA DO NATAL


Conto de
Diva Olsen e Gabo Olsen

Conto 02 de 05
"a Maior Riqueza"



© 2020, Webtvplay.
Todos os direitos reservados.




No interior de Rondônia, em Cacoal, mora uma família bem humilde em uma casa de madeira. Francisca, perdeu o esposo há 5 anos e desde então cuida sozinha dos quatro filhos. 

Depois de várias tentativas fracassadas de conseguir emprego, ela decidiu juntar latinhas e materiais reciclados no lixo para se manter. Às vezes, ela chega com brinquedos encontrados no lixo e a garotada se diverte e faz a maior festa.

Francisca é uma mulher guerreira, toda sua batalha é por seus filhos. Apesar dos cabelos brancos mesclados com fios pretos, sua pele queimada, ela faz da sua luta diária o melhor de si, colocando em casa bons ensinamentos aos filhos.

Todos os dias no final das tarefas auxiliadas com a ajuda carinhosa de seus filhos, eles se reúnem em um círculo no chão e jantam. Após o jantar, como de costume sob uma pequena luz de uma lamparina, ela conta uma linda história para seus filhos. Eles adoram esse momento. Assim o tempo passa... Até que um dia ela contou a história do nascimento do menino Jesus, e falou que ele sempre considerou as pessoas como seus FILHOS, e sempre teve muito AMOR para oferecer. Essa é a maior riqueza que todo ser humano possui, o amor. Durante a história, no momento da morte de Jesus, ela percebeu que seus filhos ficaram emocionados. Sua mãe contava histórias lindas todas as noites, porém essa eles amaram, pelo fato de que é uma história verdadeira.

Ao final de mais uma luta diária, Francisca foi até a sucata vender o que havia conseguido.

- Só isso? - questionou Francisca.
- Francisca, cada vez que passa você diminui a quantidade de latinhas.
- É a idade, meu amigo. Olha minhas mãos, estão desgastadas.
- Infelizmente eu não posso fazer nada.
- O importante é juntar para sobreviver. É o que me resta.

Francisca guardou o dinheiro no bolso e seguiu seu rumo. Ao caminhar pela rua, observou uma mulher jogando um saco no lixeiro. Ela se aproximou.

- Moça, é latinha?
- Não, a patroa queimou o frango e pediu para jogar.
- Jogando comida fora?
- Sim, qual o problema?
- Tanta gente passando fome.

Francisca pega a sacola.

- O que você vai fazer? - perguntou a mulher.
- Levar para meus filhos, eles vão amar.
- Vão amar comida queimada?
- Dona, não ligamos para isso. O que importa é matar a fome. Faz tanto tempo que eles não comem frango.

A mulher faz pouco caso, observa Francisca ir embora levando a sacola. No olhar de Francisca, seus olhos brilhavam de felicidade. No caminho ela encontrou uma mulher cabisbaixa sentada em baixo de uma árvore.

- Está tudo bem?
- Estou fraca.
- O que você está sentindo? 
- Tô com fome, sinto sede e estou tão cansada. Trabalhei o dia todo no sol quente e para piorar uns moleques roubaram meu saco com latinha.
- Não acredito.
- Estou sozinha em casa, sem nada para comer, só me resta dormir. 
- Olha, eu não tenho muito, mas o pouco que eu tenho eu posso dividir com você.
- Sério?
- Sim, lá em casa somos em 5, e hoje você é a nossa convidada especial. Vamos?

Com dificuldade, Maria se levanta.

- Qual o seu nome?
- Maria.

- O meu é Francisca.

Em casa, Francisca apresentou a senhora aos filhos, que a recepcionaram, conversaram. Deram risada. No fogão, a mãe esquentou o frango.

- Que cheiro é esse mamãe? - perguntou um dos filhos
- Hoje a nossa ceia de natal será especial, meus filhos. Temos uma janta deliciosa e na companhia da dona Maria. 

Sentados ao chão, Francisca colocou o frango no chão e a família começou a jantar. Em um certo momento, ela se distanciou um pouquinho, sentou-se em um velho banco e de longe observa sua família.

Só ela não imaginava que todos tinham uma surpresa. Exatamente a meia-noite se fez um silêncio enorme, ela ficou assustada, os filhos se aproximaram dela cada um com uma simples rosa e cantaram:

- Noite feliz! Noite feliz!
- Oh, Senhor, Deus do amor
- Pobrezinho nasceu em Belém
- Eis na Lapa Jesus nosso bem
- Dorme em paz, oh, Jesus
- Dorme em paz, oh, Jesus

Todos estavam felizes, ela não se aguentou, lágrimas correram em seus olhos, foi aonde que ninguém sabe como um convidado bateu a porta. Ela abriu:

- Filhos, parabéns, este é o verdadeiro natal.

Francisca sorriu. O homem fechou a porta. A alegria e felicidade, reinava na humilde casa dessa família. Francisca abriu a porta a procura daquele homem, mas ninguém sabia quem era, ninguém conhecia, ele simplesmente sumiu.

Então, Francisca olhou para o céu:

- Obrigada Jesus, o senhor é o aniversariante e nos deu a honra da sua presença. Feliz Natal!

Os filhos e dona Maria se aproximaram.

- Mãe, muitas famílias estão reunidas na noite de hoje e durante toda a nossa vida você nos ensinou que a maior riqueza da vida é o amor, por isso, nossa família é tão unida e feliz.

Francisca novamente se emocionou, abraçou os filhos.

- Passar o natal com vocês foi o melhor presente que eu poderia receber. Se não fosse a mãe de vocês, nessa hora eu estaria em casa sozinha, sem companhia, sem um alimento. A mãe de vocês é um anjo. - comentou Maria.

Francisca abraçou Maria.

- Feliz Natal, saiba que a partir de hoje você ganhou uma amiga.

Elas sorriram, se abraçaram. O espírito natalino estava presente naquela humilde família e a maior riqueza que eles possuem é o amor, a verdadeira riqueza que devemos ter em nossas vidas.




conto escrito por
Diva Olsen e Gabo Olsen

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

Antologia A Magia do Natal 1x03

    0:00 min       A MAGIA DE NATAL     ANTOLOGIA
0:10:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
ANTOLOGIA A MAGIA DO NATAL


Conto de
Douglas Barres

Conto 03 de 05
"Gatinho de Natal"



© 2020, Webtvplay.
Todos os direitos reservados.



            Somos educados desde a infância de que o Papai Noel só vai dar presentes para quem se comportar. Escovar os dentes, respeitar os pais, ser um bom aluno, e por aí vai. Por mais que seja uma forma de controle dos pais sobre os filhos, no fim das contas todos acabam ganhando presentes. Com os animais isso é diferente? Eles também ganham presentes?


            Nosso protagonista, o gato, nasceu em uma tarde chuvosa num beco isolado. Acompanhado somente da mãe e de seus irmãos, seus primeiros dias foram tranquilos. Por vezes, o dono do bar, do outro lado da rua, doava alguns restos de comida para a mãe gato que ainda recuperava as forças. Não demorou muito para os filhotes aprenderem a falar. 


— Mamãe, o que é aquilo? — queriam saber todos os gatinhos curiosos ao avistarem algo novo. Todo dia era uma descoberta diferente, claro que somente até o fim do beco. Assim que algum espertinho resolvesse sair do limite estipulado pela mãe gato, a mesma o trazia de volta junto de um belo sermão - acompanhado da mais calorosa lambida. 


            Logo no fim de janeiro - não que a data importasse para os felinos - uma das piores chuvas de todos os tempos alagou toda cidade. O gato, em meio ao caos do alagamento, se perdeu de sua mãe e irmãos. Miados de desespero da mãe eram ouvidos por pelo menos duas ruas, não longe o bastante para chegar no seu filhote perdido que estava no final da quarta rua. Não muito tempo depois, a mãe e os filhotes foram acolhidos por um casal de mendigos. 


            O mundo da solidão era descoberto pelo gato. Ruas enormes, prédios, pessoas caminhando alegremente, cães, outros gatos, tudo no geral bem assustador. Sua fonte de alimento eram as lixeiras da cidade. 


— Ei rapaz, essa área é minha! — enquanto se deliciava em um líquido, nosso gato foi surpreendido por outro gato. — Vai vazando.

— Não estou vendo seu nome aqui! — respondeu o gato, abusado.

— Oras, mas você nem gato é, é um projeto de gato. Olha pra esse tamanho.

Continuou comendo.

— Qual seu nome, jovenzinho? — a voz rouca do gato estranho se aproximava do filhote cada vez mais. Com passos lentos, sua cor cinza encardida se destacava.

— Não tenho um. Onde já se viu gato ter nome? — o gato cinza riu.

— E quem disse que você não pode ter um? — pausa para lamber a pata esquerda. — O meu é Adalberto, foi minha antiga dona que deu.

— Então o meu é Adalborto — a fome do filhote ainda resistia. Adalberto deu um pulo ao escutar o filhote.

— Blasfêmia! Você não pode se dar um nome, ora pelos! Seu nome deve ser merecido.


            Com bastante agilidade, Adalberto se dirigia para a entrada da rua, enquanto sentava e lambia a pata traseira. O olhar que deu para trás foi suficiente para o filhote notar que ele devia seguir o seu possível novo amigo. 


— Para onde vamos? — perguntou o filhote ainda lambendo os lábios.

— Te conseguir um nome!


            Conhecendo a manha das ruas, Adalberto guiou o filhote pelos lugares que mais tinham pessoas. O gatinho não sabia, mas o velho gato de rua queria era conseguir uma família para ele. O tal nome, no caso, viria junto de uma casa quentinha para passar o natal -  quem sabe uns petiscos também. 


— Logo ali, o lugar perfeito!


            Gritos, correria, choro, sons de ferros enferrujados definiam o parquinho. Crianças de todas idades desfrutavam enquanto os pais conversavam sobre qualquer coisa. Os primeiros dois adultos acariciados por Adalberto foram bem infelizes com o gesto de amor oferecido pelo felino. O gatinho até ficou encabulado de tentar alguma coisa, mas sua coragem era maior. Seu tamanho ajudava muito, um gatinho no meio do parque chamava muita atenção. Muitas crianças pegavam no colo, sacudiam, jogavam pra cima, até puxavam o rabo - selvagens!


— Mamãe, podemos ficar com ele?

— Você tá louca? Gato preto dá azar!


            Foi assim que o pequeno felino não conseguiu uma família. As crianças, livre de superstições bestas dos adultos, adoravam o gatinho, mas não podiam levar pra casa. Adalberto até sentiu pena por alguns instantes. 


— Ora ora, parece que você conseguiu um nome. - Uma lambida para animar o seu novo amigo. — Você vai se chamar Gatinho!

— Mas isso é um nome? - perguntou Gatinho, cabisbaixo.

— Agora é! 


            A dupla das ruas ficou bastante amiga. Adalberto até deixava o Gatinho comer na sua lixeira! Era um avanço e tanto! Com a chegada do frio, os dois precisavam achar um lugar para se aquecer. Conseguir uma família não era uma boa ideia por questões raciais. Em meio a uma fuga de cachorros sedentos por gatos que os dois encontraram Os Rebeldes. 


            O galpão da companhia de alimentos Coma Bem ou Morra com Fome fora abandonado anos atrás quando a empresa faliu - por que será? Para evitar que sem tetos tomassem o prédio, a empresa responsável pelo terreno resolveu lacrar todas entradas e janelas. O bom nisso é que somente animais de pequeno porte conseguiam entrar pelos buracos do galpão. Foi assim que surgiu a base dos Rebeldes. 


            Os cachorros ficaram com a parte do térreo. Sua área era categorizada por latidos descontrolados e randômicos durante o dia. Brigas constantes e o cheiro de merda. Ainda no térreo, em meio a caixas grandes, era o território dos inimigos mortais dos gatos. Os ratos viviam em harmonia, uma vez ou outra fugindo dos cachorros. No segundo piso que começava o território dos gatos. Com acesso somente pelo teto, os habitantes do térreo não conseguiam chegar. Obviamente só os ratos esguios conseguiam, mas eles não eram burros suficientes para chegar no paraíso dos felinos.


            Anna era a gata mais velha do local. Gostava de chamar todos os habitantes de Rebeldes, os que insurgiram contra sociedade. Com a chegada da nossa dupla preferida de gatos, ambos já foram bombardeados por regras da chefa. Alimento deve ser compartilhado. Lambidas sempre que possível. Lamber o próximo. Ser lambido - e sem ficar bravo! Coisas simples que, segundo ela, faziam dos Rebeldes o melhor lugar para se viver em toda cidade. 


            Quando o sol ia embora, todos se reuniam em baixo da parte aberta do telhado. A luz da lua iluminava de um modo que parecia um acampamento humano, com todos em volta de uma fogueira. Anna contava histórias de sua vida - eram muitas. A que mais atraiu todos foi de histórias de Natal. Por mais que a maioria de suas histórias fossem verdade, essas de natal eram todos inventadas. O imaginário era uma escapatória para ela e para todos os gatos sobreviventes desse mundo doido. 


            A história da noite foi de quando ela viu pela primeira vez o Gato Noel. Quando ainda era uma pequenina, sua mãe levava todos filhotes para o telhado do prédio onde viviam para ver as estrelas. Num desses dias, como se fosse mágica, exatamente na noite de Natal, o Gato Noel apareceu largando coisas gostosas para todos eles comerem. Foi a melhor noite de todas, segundo Anna. 


— E nesse natal ele vai aparecer pra gente? — perguntou o Gatinho com uma inocência invejável.

Silêncio.

— Se você se ser um bom gato, sim, querido. — respondeu Anna, com um tom de esperança com aquela pitada de descrença. Os outros gatos, talvez até esperando uma resposta positiva mais concreta, saíram desanimados.






            A história de Natal da chefia deixou o Gatinho pensando bastante. Por mais que Anna tivesse dito que ele aparecia caso fosse um bom gato, por que nos anos anteriores ele não apareceu? Ela estava mentindo! Mas claro que não de um modo ruim, pensou, foi para tranquilizar todos. Foi nesse momento que Gatinho teve uma ideia. Do outro lado do galpão, Adalberto dormia com as patas para cima.


— Adalberto, acorda. — Gatinho subia em cima do amigo. — Tive uma ideia, preciso da sua ajuda, vamos fazer o nosso próprio Natal com o pessoal.

— Deixa disso, garoto. — o dorminhoco se virou para evitar de perder o sono. — Seja um bom gato, só isso, escute o que a velha disse.

— Ela só falou isso pra gente não ficar triste! — outro pulo em cima de seu amigo que dessa vez levantou, ainda com os olhos quase fechados.


            Os dois então partiram para fora do galpão, na madrugada. Como fossem ninjas da noite, os prédios eram seu meio de locomoção mais rápido. Mesmo ainda não sabendo os planos do filhote, Adalberto seguiu sem resmungar. Aquela aventura era necessária para o jovem gato, pensou. Só pararam quando chegaram bem acima de uma certa rua, onde avistaram um frango bem chamativo. A janela que saia o cheiro estava completamente aberta, como se chamasse os dois para o melhor banquete de suas vidas. Ao se aproximarem, notaram que lá dentro a família estava reunida na sala assistindo televisão. 


— Vamos entrar. — ordenou Gatinho, já se pondo na entrada da janela. Adalberto até se assustou com a iniciativa do garoto. O que um frango não fazia nos gatos!? O cinzento também entrou.


            Na cozinha, além do frango no forno, tinha outro ainda cru no balcão. Estava enrolado em uma sacola. Sem fazer muito barulho, Gatinho tentava puxar com a boca a sacola para a janela. Adalberto ajudou o pequenino. Com a força dos dois e um belo trabalho em equipe, conseguiram levar o frango para fora. Tiveram mais dificuldade em se locomover com aquela sacola. Depois de várias quedas, finalmente conseguiram chegar a uma distância considerável da casa. 


— Hou, hou, hou. Gatinho Noel chegou! — Adalberto acordou todos com a canção adaptada. Uma luz de alegria tomou os olhos de todos os gatos do lugar. Mal acreditavam que iriam comer um frango inteiro! Como fossem animais selvagens em busca de uma presa, alguns até se estapearam por causa da comida. Claro que até a chefia chegar. 


— Sejam gatos civilizados! Tem pedaço para todo mundo, então vamos dividir. — ordenou Anna enquanto se aproximava da dupla responsável por trazer o alimento.

— Vocês são o símbolo do Natal. Se vocês tivessem trazido grãos de ração, já teria sido suficiente para serem amados por todos aqui presentes. Gatinho, você é um anjo.


            Assim a noite de Natal de todos os gatos foi a melhor de todas. Gatinho recebeu lambidas para a vida toda naquela noite. Adalberto preferiu só ficar dormindo mesmo.


            Feliz natal. 



conto escrito por
Douglas Barres

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

Antologia A Magia do Natal 1x04

    0:00 min       A MAGIA DE NATAL     ANTOLOGIA
0:10:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
ANTOLOGIA A MAGIA DO NATAL


Conto de
César L. Theis

Conto 04 de 05
"O Bom Velhinho"



© 2020, Webtvplay.
Todos os direitos reservados.



E, naquela manhã de quarta-feira começaram a retirar os objetos natalinos do depósito, e a decoração começou nas lojas do shopping, pessoas andando pra lá e pra cá, enfeitaram a praça central, enquanto aguardava receber a mesma ligação em de todos os anos, pois era comum o shopping colocar um Papai Noel, para ouvir os pedidos das crianças, e também contratar um fotografo.


E, próximo do meio-dia a ligação, o extra natalino está garantido, e fui conversar com os responsáveis pelo cenário, e combinar os horários de trabalho, passei pela cidade que ainda não estava vestida a caráter para a época festiva do natal, sem decorações ou luzes nas casas e pelas ruas, cenário oposto ao da praça do shopping, que ostentava uma decoração capaz de fazer qualquer criança se sentir no próprio polo norte.


Então, poucos dias depois tudo estava preparado, e várias famílias transitavam de loja em loja, as crianças na fila esperando sua vez concentradas pensando no que pedir ao velhinho de barba branca e roupa vermelha, mas, ninguém ousava afirmar as crianças que aquele era o verdadeiro Papai Noel, afinal as crianças de hoje não acreditam em qualquer história.


E muitos pais orgulhosos, alguns mais zelosos e cheios de recomendações sobre a foto, ansiosos por publicá-las nas redes sociais, alguns quase chegavam a pular na frente da câmera, porém, muitos pareciam mais empolgados que as crianças, hipnotizadas pelo brilho das telas dos smartphones e alheias a realidade com seus fones de ouvido. 


O representante de Papai Noel com seus ajudantes, controlavam o fluxo de crianças no local, como verdadeiros ajudantes a fazer brinquedos, atuavam aplicadíssimos na tarefa para dar conta de ouvir os pedidos com eficiência e não ultrapassar o horário do fechamento das lojas do shopping... para depois voltar para casa e aproveitar a época com a família.


Eu, parecia o único que não tinha um propósito, apenas a tarefa de esperar o momento da foto, que era um instante, e voltar a invisibilidade, o que permitia ser o observador das reações das crianças e as expressões dos pais naquele ambiente de faz de conta natalino.


Percebi que os detalhes revelavam um universo particular, a família, na fila algumas crianças inquietas, algumas choravam outras batiam nos pais, outras mantinham a atenção na tela dos seus smartphones, em um universo particular, destes que os pais também adentram quando a atenção ficava no aparelho, e a criança escapava a perambular sozinha.


Estava tão envolto em analisar aquela fila que por hora precisava ser chamado a atenção, pois esquecia de fotografar, então click... click... e minha atribuição no espetáculo estava momentaneamente cumprida.


E voltava a minha invisibilidade, até que o choro de um menino irrompe contra o murmurinho das conversas, os gritos, se recusava a se aproximar, mesmo com a insistência da mãe que lhe segurava pelo braço, amedrontado receoso do velhinho barbudo de roupa vermelha sentado naquela cadeira em meio a todos aqueles ajudantes fantasiados, caixas de presente e enfeites coloridos. 


Mas, logo o choro foi contido, quando a mãe desiste do intento de obrigar o menino a falar com o Papai Noel, e deixa a fila, levando pela mão em passos rápidos o menino... e então dois passos para frente e... click, click, - outro momento de felicidade registrado. 


Observava as crianças e as confidências ao representante de Papai Noel, orgulhosos exemplos de bons comportamentos durante o ano, alguns apenas, isentando-se de peraltices, alguns mais audaciosos, assumiam a responsabilidade das traquinagens se justificando e faziam promessas de melhor comportamento, e finalmente a grande revelação, aquele que era o propósito da conversa com o velhinho barbudo de roupa vermelha, as vezes seguido de uma interrogativa - vou ganhar presente Papai Noel? 


Então, um entre olhar do representante de Papai Noel e os pais, um leve aceno com a cabeça e uma confirmação que alegrava a auspiciosa criança... e ouvia dos lábios escondidos atrás da barba branca solta que a toda hora mudava de lugar, uma confirmação, posteriormente nos bastidores do mundo real caberia não ao Papai Noel, mais a uma mãe ou pai esforçado, deixar na manhã de natal embaixo da pequena árvore o presente cuidadosamente embrulhado. E o momento de outro click, click, click.


Me parecia uma certa crueldade criar um mundo de fantasia, e aí utilizá-lo para barganhar por bom comportamento em troca de presente, foi então que me ocorreu, as crianças de hoje não guardam a inocência como as de antigamente, então, talvez muitas percebendo o embuste, se utilizam da barganha para conseguir o exposto nas vitrines das lojas do shopping?


Por parte dos pais, um orgulho do sucesso dos filhos brilhava nos olhos, e muitas vezes a forma de realizar os sonhos que seus próprios pais não pudera, embora seja complicado viver momentos especiais junto aos filhos enquanto estamos sempre envolvidos pela rotina do trabalho, então presenteá-los é desencargo de consciência,  compensação em face as ausências cotidianas.


E no contexto desta ausência, que produz o afastamento, e pela falta de tempo, as crianças deixadas na creche, e quando maiores na escola, verdadeiros depósitos de pequenos humanos, filhos da sociedade da falta de tempo. 


E neste momento um pensamento alheio, talvez no futuro estes filhos ocupados pelo trabalho deixarem os pais em um asilo com os cuidadores de velhos, e não serão acometidos por algum reclame da consciência, pois repetirão a si mesmos – lá eles serão bem cuidados, tem pessoas só pra isso! E novamente, click, click, click.


E a inquietação parece ter florescido no pensamento, será que na sociedade da falta de tempo e de compensações materiais pelas ausências, também esquecemos da infância? E que esquecemos que uma relação exige reciprocidade de afeto, o que só seres humanos e animais são capazes de proporcionar, e que mesmo uma tecnologia interativa nunca será capaz oferecer. E outra sequência, click, um silêncio, click.


E num relance vislumbro o colorido da decoração  natalina, e questiono as intenções implícitas,  sei que uma criança merece ter seus desejos ouvidos e realizados, mas será que alimentar a ilusão que um estranho, que um simpático velhinho barbudo de roupa vermelha que mora no polo norte, e que voa em um trenó puxado por renas mágicas distribuindo presentes pelo mundo, quanto esta figura é mais digna de realizar o desejo de uma criança que o esforço de uma mãe ou pai? E click, click, click.


E, então uma breve reflexão, uma relação mediada por coisas em vez de afeto, pode nos fazer tomar o mundo apenas como o lugar para satisfazer nossos desejos, e se tudo é desde a infância apenas percebido pelas coisas, então o único comportamento possível neste mundo é o de possuir coisas, assim também a felicidade em um mundo de coisas é só  momentânea, mas coisas ficam velhas e passaremos a querer novas coisas, mas não podemos nos enganar pois nenhuma coisa pode completar nossa humanidade. E click, click.


E sem esperar outra inquietação reclama atenção - Será que alguém dispensa tamanha atenção para ouvir os pedidos das crianças do orfanato da cidade? Porém, talvez a maioria destes sejam como o meu, daqueles que que não vão se realizam na manhã de natal, - pois ainda criança perdi meu pai e depois minha mãe - e sendo filho único posso compreender o sentimento de não ter família.


 E o penúltimo click, e o click derradeiro, desliguei a câmera e fui a administração receber meu pagamento, mas, quando segurei o dinheiro, enquanto cruzava o corredor para o elevador, na memória as vozes e os desejos das crianças ainda estavam vividos na memória, e intimamente sabia que se o velhinho escrutina-se minhas ações, meu nome não estaria na lista dos meninos bons, e percebi que precisava tentar encontrar na minha humanidade o propósito do natal.


E sai do estacionamento do shopping, rumo a uma pequena loja que conhecia, afinal não poderia pagar pelas coisas das lojas do shopping, e curiosamente o dinheiro rendeu tantos brinquedos que recebi a compra em um grande saco vermelho, sai da loja levando apoiado no ombro, caminhando pela calçada cruzava que os transeuntes que sorriam como crianças quando avistavam o grande saco vermelho que carregava.


E segui para o orfanato da cidade, não com um trenó voador puxado por renas mágicas, nem com uma barba branca e roupa vermelha, embora precise admitir o saco era vermelho. 


E enquanto andava pelas ruas decoradas sem um motivo comecei a tentar lembrar os nomes das renas mágicas - Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago – e confiante que poderia reencontrar alguma humanidade toquei a campainha da porta do orfanato.

Feliz natal!




conto escrito por
Cesar L. Theis

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

Antologia A Magia do Natal - 1x05 (Season Finale)

    0:00 min       A MAGIA DE NATAL     ANTOLOGIA
0:10:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
ANTOLOGIA A MAGIA DO NATAL


Conto de
J.F Martignoni

Conto 05 de 05
"Paz"



© 2020, Webtvplay.
Todos os direitos reservados.



Depois de dez horas de trabalho estou na frente do portão da minha casa, aperto o botão do controle eletrônico e ele abre lentamente revelando para mim a vaga do carro da minha esposa vazia. Paz. Entro no espaço destinado ao meu carro, aperto o botão do portão e ele se fecha. No rádio do carro toca Metallica, a quarta faixa do meu CD favorito, que inclusive comprei original por respeito, coisa que raramente faço. Reload originalmente lançado em 1997. Esta é minha música favorita do meu CD favorito, Unforgiven II.

What I've felt. What I've known.

Turn the pages. Turn the stone.

Behind the door, should I open it for you?

Desligo o rádio e há um completo silêncio preenchendo o ar. Paz. Abro a porta do carro, desço e fecho a porta do carro. Ninguém vem correndo e gritando me abraçar. Nem criança, nem cachorro. Paz. Abro a geladeira e pego a última fatia de pizza Sadia de calabresa, e decido comer fria e com as mãos. Pude observar que as verduras estão apodrecendo, mas cuidarei disto depois. Pego a caixa de suco de laranja e está vazia. Provo a Coca-Cola e está sem gás. Mas ainda há três longnecks de Heineken. Pego uma e vou com minha pizza para comer em frente a televisão. Ligo e coloco no jogo do São Paulo contra o Botafogo pelo Campeonato Brasileiro. Ninguém incomoda para trocar de canal, ninguém reclama do volume da televisão. Paz.

Metade do segundo tempo e não saiu nenhum gol no jogo e acabaram as cervejas. Decido me masturbar ali na sala vendo o canal pornô. Qual o problema? Estou sozinho, sou um homem livre! Está na metade de uma cena, com uma oriental sendo fodida de quatro por um homem mais velho e careca. Sempre tive tesão por orientais. Começo a me masturbar e gozo junto com o ator, imaginando que sou eu gozando na boca dela. O tapete fica pura porra, mas limpo isso depois. É melhor eu dormir para estar disposto para o dia de amanhã, terei uma reunião com os vendedores e se não deixá-los inspirados para vender mais posso ter que demitir alguns, tenho que me preparar, em poucos dias começa um ano novo. A pensão está acabando com meu orçamento e logo terei que vender esta casa para comprar um apartamento para mim e outro para a minha esposa.

Subo os degraus ouvindo meus passos ecoando no escuro como se estivesse desbravando um castelo abandonado. Tomo um banho demorado, pois não há ninguém para reclamar e pedir para apurar porque também quer tomar banho. Paz. Esqueci a toalha no chão do banheiro e agora está úmida e fedendo, saio em busca de outras toalhas no armário do banheiro. Encontro apenas uma de rosto limpa. Foda-se uso esta mesmo. Deito em minha cama nu, não há ninguém para se incomodar com isso mesmo e faz calor. Só falta um barulho de chuva para ser perfeito, mas mesmo assim: paz.

Estico-me bem na cama, afinal tenho uma king-size só para mim e não para dividir com três filhos, cachorro e mulher. Paz. Me reviro por uns trinta minutos, realmente está difícil dormir, mas isso é por que não estou cansado como deveria. Logo começo a academia e a esta hora estarei podre de cansado, e de quebra fico com um corpo melhor e quem sabe consigo uma mulher muito mais nova que minha esposa. Muito mais gostosa também. Quem sabe posso voltar a sair nas baladas, não estou tão velho. Trinta e oito anos, mas com um corpo melhor do que muitos jovens de vinte, e com minha experiência vou fazer as garotas gozarem mais do que pensavam que podiam. Elas estão acostumadas com esses garotos que saíram da punheta ontem, depois que eu comer uma como todas, uma vai contar para a outra.

Talvez seja melhor eu assistir um filme, depois programo a TV e ela se desliga sozinha enquanto eu durmo. Posso assistir qualquer um que eu quiser. Paz. Que merda só tem filmes familiares, quem gosta de filmes familiares? ‘Marley & Eu’ o caralho; ‘Pequena Miss Sunshine’ minha rola; ’12 é Demais’ que se foda!

Desligo a televisão e ligo para minha esposa. Só quero mostrar que serei um pai presente mesmo depois da separação. Não estou querendo voltar. Não estou sofrendo. Só sou um homem maduro, é sou um homem maduro e não causarei problemas pra família depois da separação. Vou comer todas as bocetas que não comi enquanto era casado e serei o melhor pai do mundo. Quem sabe darei algumas transadas com minha esposa, se ela quiser. Mas nem sinto tanta falta dela, o sexo era ótimo, mas eu estava meio enjoado. Ninguém atende o telefone. Que merda!

Pego um cigarro boto o roupão e vou fumar lá fora. Os vizinhos estão fazendo a ceia de Natal em família. Estão todos lá, avós, irmãos, filhos, netos e eu ali fumando no escuro. Tento ligar para minha mulher novamente. Ninguém atende.

Eu bebia demais, eu entendo. Eu mentia, eu entendo. Eu não me botava no lugar de vocês, eu entendo. Eu nunca estava em casa, eu entendo. Eu fui na zona algumas vezes, mas era para transar com mulheres diferentes sem ser traição. Eu sempre estava de mal humor, mas o trabalho que me estressava. Eu brigava com as crianças por coisas idiotas, eu entendo. Eu estava em crise de meia idade, eu entendo. Lágrimas correm pelo meu rosto e sei que é depressão. Essa casa não é um lar sem vocês, agora eu entendo.

Ligo novamente para minha mulher. Ninguém atende. Olho para o gancho da rede. Olho para a corda da rede. Subo em uma cadeira. Amarro a corda no gancho. Amarro a corda em meu pescoço. Chuto a cadeira. A vida vai deixando meu corpo aos poucos, uma fraqueza geral toma meu corpo, respirar é cada vez mais difícil. Evito fazer barulhos para morrer em paz, não tenho pelo que viver.

O gancho cai da parede, e dou de joelhos no chão. Vejo ainda zonzo meu celular vibrar no chão, era o telefone da minha ex-mulher chamando.

- Boa noite pai, ligamos para desejar um feliz natal, te amamos muito.




conto escrito por
JF Martignoni 

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.