WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA 3
Série
de
Cristina Ravela
Episódio 17 de 17
"Ato de Contrição"
© 2014, Webtv.
Todos os direitos reservados.
TELA PRETA
= = FLASH-FORWARD = =
CENA
1
IGREJA [INT. / TARDE]
Abre
no rosto de Marco, ansioso. Ele está de terno preto, gravata preta
de listras cinzas, perto do padre.
Um grande clarão ilumina a entrada,
de onde, aos poucos, surge Raíza toda de branco e segurando um
buquê.
RAÍZA (V.O):
Em 8 anos, tentei renegar o meu dom...
DCR (V.O):
...Após acordar do coma, achei que eu pudesse salvar a minha
esposa...
RAÍZA (V.O):
E admito: Deixei alguns destinos se cumprirem.
As vozes se emendam com a expressão
incomodada de Cael, dando uma conferida em seu celular.
Em João
ao lado de Ana, que olha preocupada para o seu relógio.
DCR (V.O):
Abracei o meu inimigo, quando eu precisava de consolo.
RAÍZA (V.O):
Convivi com ele e me entreguei às trevas.
Raíza vem adentrando, apreensiva,
olhando um por um.
Roger tira fotos, enquanto Lila não se
mostra confortável.
DCR (V.O):
Conheci pessoas, desconheci outras...
RAÍZA (V.O):
Me desconheci.
De repente, Marco fecha a expressão,
aflito. Todos olham na direção da noiva, tensos.
RAÍZA (V.O):
Mas independente do que fiz, ou do que me fizeram...
DCR (V.O):
...Eu tenho uma história para terminar.
MARCO:
NÃO!
Ouvimos um DISPARO
Gritos dos
convidados, muito burburinho
ZOOM
rápido para Raíza, trêmula, deixa o buquê cair.
[Efeito Câmera Lenta]
Marco correndo em sua direção
Cael
atordoado, não consegue se mover.
No que Raíza desaba no chão,
revela-se na entrada, um sujeito de sobretudo e capa cinza. Ele ainda
apontando uma arma.
Raíza está de bruços, olhos
abertos, MORTA.
Marco, ajoelhado, tenta conter o
choro, mas é impossível. Dois policiais o levantam, enquanto ele
reluta, diz alguma coisa a qual não ouvimos, apontando para a
entrada.
CORTA PARA
EXT. DA IGREJA
Onde o sujeito vem correndo, até
parar, se ergue firme. No que ele vai retirar o capuz...
FADE TO BLACK
PRIMEIRO
ATO
FADE IN
Vista frontal do prédio onde mora
Marco / Manhã
Legenda: 10 horas antes
CENA
2
APTº 30 – SALA [INT. / MANHÃ]
Marco diante do espelho, na dúvida
entre duas gravatas. Uma cinza de listras brancas, e outra preta de
listras cinzas.
MARCO (pra si):
Esse ou esse? (T) Esse ou esse?
Pelo reflexo do espelho, Cael se
mostra impaciente.
CAEL:
Será que o donzelo pode me ouvir um instante?
MARCO:
Notícia ruim no dia do meu casamento, dispenso. Se a Marina esteve
na sua casa, é questão de afinidade.
Cael pega Marco pelos ombros e os
dois se encaram.
CAEL:
Ela esteve rondando a minha casa há 1 mês e ontem ela apareceu de
novo.
MARCO:
(deboche) Você contou no dedo, foi? (Cael bufa) A Marina está morta
há 10 anos, Cael. Morreu naquele manicômio judiciário, e você vem
lembrar dela justo hoje?
CAEL:
Na época eu não quis saber dos detalhes, mas eu estive lá. O local
sofreu um incêndio misterioso e todas as fichas foram perdidas.
Marco...Ela tá viva!
Marco se solta dele, meio incrédulo,
começa a guardar as gravatas.
MARCO:
Sabe do que estou me lembrando? Que você fez a mesma coisa há 18
anos, um dia antes de eu me casar com a Sarah.
Cael engole a seco.
MARCO (cont.):
Você me procurou, só que foi pra pedir que eu parasse de implicar
com a Marina. Que ela era a melhor amiga de sua noiva, que ela só
precisava de ajuda. (T) E ela matou a Sarah.
CAEL:
Por isso você fez tudo que fez, não é? Você quis tirar a Raíza
de mim por vingança.
MARCO (altera a voz):
Ela já não te pertence há muito tempo, Cael. Você quer ouvir a
verdade? Sim! Queria te ver assim, sofrendo como eu sofri um dia. Eu
tava no meu direito.
CAEL (indignado):
Você acha que eu não sofri a morte da minha noiva? Acha que não
foi o suficiente?
MARCO:
Foi você quem deu o tiro, Cael. Não eu. Eu não vou deixar essa
alma penada da Marina acabar com o meu dia de novo.
Na troca de olhares rancorosos.
Vista aérea da cidade / Corta
CENA
3
CARRO DE MARCO [INT. / MANHÃ]
Marco dirige, gesticula para Cael, ao
seu lado.
MARCO:
Você não se conforma de me ver casando com a Raíza, e agora quer
que eu desista usando o nome de uma defunta, não é?
CAEL:
Eu lamento muito que vocês dois tenham dado tantas voltas pra
acabarem juntos. Mas eu não to querendo que a história se repita.
MARCO:
Não vai se repetir, porque a Marina ESTÁ MORTA!
No que Marco bate no volante,
SOA A BUZINA
Um carro vermelho se joga na frente
do
CARRO DO MARCO
Que freia bruscamente.
Cael e Marco saem do carro,
indignados.
MARCO (para o motorista):
Você quer nos matar?
Ouvimos uma porta bater. Na cara de
estupefato de Marco.
ZOOM RÁPIDO
Em Marina, cabelos loiros amarrados e
usando o mesmo vestido branco do episódio anterior.
MARINA:
Desculpe, não quis assustar os rapazes.
No estranho sorriso dela.
CENA
4
LANCHONETE [INT. / MANHÃ]
Numa colher mexendo na xícara de
café.
Marina toma um gole e encara Marco.
MARINA (mente):
Foram 18 anos difíceis da minha vida. Quando fui diagnosticada com
pneumonia, um enfermeiro que já cuidava de mim, sentiu pena. Queria
me libertar.
Marina fala de maneira doce, mas seu
olhar inquieto, parece meio vago.
CAEL:
Você fugiu da clínica?
MARINA:
Tecnicamente estou morta, Micael. O enfermeiro tratou de conseguir o
meu falso óbito e me levou pra casa dele. Só que ele era um
psicopata, me trancava no porão, e assim eu fui ficando por 10 anos,
até ele enfartar na minha frente.
MARCO:
Ou você o enfartou, não é querida? Acho estranho que dois
psicopatas não tenham tido uma boa convivência.
Marina fica sem graça, abaixa a
cabeça.
MARINA:
Eu era muito desequilibrada, e sei que tudo pelo qual passei não foi
o bastante. Mas eu lutei muito pra estar aqui de novo e pedir perdão.
CAEL (irônico):
Só falta dizer que se converteu.
MARINA:
Se quiserem me entregar à justiça de novo, tudo bem. Só quero que
saiba, Marco, que eu te amei de verdade; E a você, Micael, eu me
arrependo de ter usado a Tita pra me aproximar dele (Marco). Eu era
só uma adolescente. Agi sem pensar.
CAEL:
Você quer passar uma borracha em tudo que aconteceu? Eu não consigo
passar uma borracha em tudo, Marina. Porque todo dia (olha para Marco
rapidamente) alguém me lembra do que fiz.
Cael se levanta com raiva e sai de
cena. Marco também se levanta, mas Marina o segura, humilde.
MARINA:
Marco...Eu vi nos jornais que você vai se casar. Eu desejo de todo o
coração que tudo dê certo.
MARCO:
Dispenso os seus votos.
Marco sai furioso. Marina ainda o vê
indo embora, saca do decote do vestido um celular. Disca, ainda
fazendo ar de sofrida.
MARINA:
Você tinha razão. (muda o semblante / maliciosa) Os dois ainda
estão magoados pelo que fiz. Vai ser divertido matar a Raíza e
culpar o Cael.
Marina sorri, diabólica.
CORTA PARA
Erom, que acaba de desligar o
celular.
CENA
5
DEPÓSITO [INT. / MANHÃ]
Erom olha para trás
Onde há um
pequeno altar iluminado por duas velas ao redor de fotografias (já
visto no ep3x13). Na parede, um círculo envolvendo um pentagrama com
a inscrição “Vida longa aos que nos seguem – Círculo Fechado”.
Erom pega a foto de Raíza.
EROM:
Há um reino, e dois mestres no mesmo lugar. Afasta-te, portanto,
Cipriano!
Na imagem de Raíza sendo queimada.
FADE TO BLACK
ATO
DE CONTRIÇÃO
Season Finale
SEGUNDO ATO
FADE IN
CENA 6
APTº 3011 – SALA [INT. / MANHÃ]
Mãos femininas acabam de fechar um
vestido branco nas costas de alguém.
DCR (O.S):
Ainda não me decidi. Nunca pensei em ser jornalista.
Sam ajuda Raíza, que experimenta um
lindo vestido de noiva ”Tomara que caia”.
RAÍZA:
Nem eu de assistente do Roger.
DCR:
Você também não se via casando com o Marco, né?
Joana, já sem a tipoia - está
sentada no sofá, acessando o tablet.
JOANA:
Bem dizem que os opostos se atraem.
RAÍZA:
Não tá sendo fácil pra mim ter que encarar o Cael, o mundo...A mim
mesma. Se meu pai estivesse vivo eu também não ia querer encará-lo.
Dcr segura suas mãos, abre um
sorriso motivador.
DCR:
Seu pai te apoiaria no que você quisesse. Marco mostrou que
realmente te ama. Salvou sua vida e se declarou diante das câmeras.
RAÍZA:
O Cael deve tá me odiando. Mas vai doer muito mais em mim entrar
naquela igreja, do que nele.
SAM:
Ué, Como assim? Você não ama o Marco?
Raíza desvia o olhar, disfarça.
RAÍZA:
É que não tenho ninguém pra me levar ao altar.
DCR:
Ah, Raíza, deixa comigo. Sou quase o seu irmão mais velho.
Raíza e Sam riem.
JOANA (V.O):
Eu não acredito que ele fez isso?
Joana salta do sofá, olhando pro
tablet.
SAM:
O que houve, menina?
Joana mostra a tela do tablet.
JOANA:
O Roger jogou a bomba na internet: (lendo) “Empresário era líder
de seita satânica. Segundo investigações, Gustavo O’nara seria
responsável por várias mortes e sequelas causadas por seus produtos
de beleza”. Só se fala nisso na internet!
No rosto apreensivo de cada um.
CORTA PARA
CENA 7
REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / MANHÃ]
Roger por ali, conversando com Lila e
alguns colegas. Alexandre chegando, agitado.
ALEXANDRE:
Roger! A sua matéria tá repercutindo mais do que a novela Avenida
Brasil.
ROGER:
Fico feliz. Em pouco tempo esse vampiro de almas vai pra cadeia.
ALEXANDRE:
Esse é o problema. Ele não foi encontrado na empresa, nem em casa,
e menos ainda no depósito. Está foragido!
LILA:
Gente, mas ele é perigoso! Esse negócio de seita deve ter mais de
20 pessoas envolvidas, todas dispostas a fazer o que ele quiser.
ALEXANDRE:
Vai ser o apocalipse, se for assim. Um colega meu da polícia disse
ter encontrado uma foto queimada de Raíza. Isso pode ser um aviso.
ROGER:
A sociedade quer matá-la? Que estranho...
LILA:
O que podemos fazer?
ALEXANDRE:
Preciso que vocês conversem com a Raíza. Talvez ela saiba o motivo
da perseguição.
Roger e Lila fazem que sim.
CENA
8
RUA DA CIDADE [MANHÃ]
Ana e João vêm caminhando pela
calçada, aos risos.
ANA:
Tentar convencer o cara de que a gente podia pagar meia entrada no
cinema por sermos parentes de heróis, foi dose.
JOÃO:
Mas ele ficou tentado em pedir autógrafo, você viu.
Os dois param um diante do outro, se
olham sem graça.
ANA:
Você já foi visitar o seu pai?
JOÃO:
Fui. Mas ele só sabe repetir que os dias de Raíza estão contados.
Que se o dia que ele sair ela ainda estiver viva, ele a matará. Ele
tá louco, Ana.
ANA:
Fico feliz que pense assim. Que seja diferente do seu pai.
João sorri, olhando-a apaixonado.
JOÃO:
E eu fico feliz que você não seja como o seu primo.
Risos.
ANA:
Mas ele é uma ótima pessoa, tá?
JOÃO:
Só que ele é um herói dos livros. Seria chato dividir você com
seus fãs.
ANA:
Hmmm...Possessivo você.
JOÃO:
Totalmente.
Os dois quase se beijando, quando
HELENA SURGE NO SUSTO e arremessa Ana
para o meio da pista.
JOÃO:
ANA!
João empurra uma Helena desfigurada em ódio e se
joga em Ana, a tempo de um carro frear rente aos dois.
Eles se encaram com medo da cena.
FADE OUT
FADE IN
CENA 9
CEMITÉRIO [INT. / MANHÃ]
Na lápide onde há a inscrição:
“Bruno M. Ferraz
04/06/1968 – 31/10/2012
“Nunca esqueceremos de você”
Raíza olha pensativa, depois encara
ao léu.
= = FLASHBACK = =
CENA EM QUE RAÍZA REVÊ O PAI APÓS
3 MESES INTERNADA (EP3X04 | CENA 7)
BRUNO:
Você tinha mais confiança na sua vidência do que em mim (Raíza se
mostra sem graça). Se tivesse me contado que você jogou o João
daquele viaduto, talvez as coisas não tivessem chegado a esse ponto.
= = FIM DO FLASHBACK = =
Raíza deixa escapar uma lágrima.
RAÍZA:
Eu estraguei tudo, né pai?
Ao fundo, aparece a imagem desfocada
de Marina.
MARINA:
Sinto muito.
Raíza se assusta, Marina a olha
fingindo compaixão.
MARINA:
Eu também já perdi o meu pai.
RAÍZA:
Ahn...Você...?
Marina estende a mão, as duas se
cumprimentam.
MARINA:
Desculpe, não quis te assustar. Meu nome é Marina Martins.
Raíza desfaz o cumprimento, arredia.
MARINA (cont.):
Sou amiga da família do Marco e vim para o casamento.
RAÍZA:
Ah, claro...É amiga há muito tempo?
MARINA:
Não se preocupe. Marco só tem olhos pra você. Eu só vi ele assim
quando ia se casar com a Sarah.
Raíza se mostra incomodada e
desconfiada.
MARINA:
Ele te falou sobre ela?
RAÍZA (mente):
Em partes. Desculpe, eu tenho que ir agora.
Marina a segura, Raíza não gosta.
MARINA:
Proteja-se! Marco não tem muita sorte no amor.
Marina abre um sorriso singelo e
estranho. Raíza ali, tensa, quando Cael surge de repente e a abraça,
preocupado.
CAEL:
Olá, Marina. (para Raíza) Vamos? Ainda falta acertar alguns
detalhes pro casório.
Raíza sai ainda encarando Marina.
Esta apenas
observa, maliciosa.
CENA
10
CURTO-CIRCUITO [INT. / MANHÃ]
Cael e Raíza sentados diante da
mesa. Ela meio sem graça.
RAÍZA:
Eu sei que você deve tá chateado comigo. Não fui muito sincera,
né?
CAEL:
Na verdade, agradeço por isso. Passei os melhores momentos da minha
vida com você, e isso não teria sido possível, se tivesse me
falado a verdade.
Raíza toca suas mãos, no impulso.
RAÍZA:
Eu realmente te amei, Cael. Do meu jeito, mas amei.
CAEL:
Ou apenas tentou renegar o que sentia pelo Marco. Custou a aceitar
que não amamos quem queremos, mas quem precisamos.
Raíza abaixa a cabeça, reflete.
RAÍZA:
Falou bonito.
Risos.
RAÍZA:
Acho que também no fundo eu não queria que ele cumprisse a vingança
contra você.
CAEL:
Ele te contou?
RAÍZA:
Fazia parte da tentativa dele de me convencer o quanto mau elemento
você é.
CAEL:
Ou medo que eu fizesse contigo o mesmo que...(pensativo) Escuta,
quero que fique longe da Marina. Ela é persuasiva, mas veio com um
papo de arrependimento. Não acreditei.
RAÍZA:
E se ela se arrependeu de verdade, Cael? Quem dera eu pudesse voltar
no tempo. Talvez a Ari, meu pai... Talvez todos estivessem vivos.
Cael acaricia suas mãos, sorri
disfarçando o pesar.
CAEL:
Não podemos trazê-los de volta, mas eu posso evitar que mais alguém
sofra. Marina não voltou no dia do seu casamento à toa, Raíza.
RAÍZA (firme):
Ela não poderá fazer nada contra mim, se não for o meu destino,
Cael. Não se pode evitar o inevitável.
Na troca de olhares, até que os dois
se abraçam.
RAÍZA (tom de despedida):
Foi muito bom ter feito parte da sua vida.
Na expressão triste de Cael.
CENA
11
REDAÇÃO CARIOCA NEWS – ESTACIONAMENTO [INT. / MANHÃ]
Lila e Roger caminhando em meio a
vários carros, enquanto conversam.
ROGER:
Dizem que é lenda, mas no século 18 havia uma sociedade chamada
Círculo Fechado e era comandada pelo ministro da Inglaterra,
Benjamin Gouverth. Parece que ele tinha envolvimento com magia, coisa
ruim, sabe?
LILA:
Você acha que essa nova sociedade tem a ver com essa do século 18?
ROGER:
Não sei, amiga. Mas o que sei de certas sociedades é que todas têm
o objetivo de chegar ao poder.
Lila aciona um controle e ouvimos a
porta do carro sendo destrancada.
LILA (sarcástica):
Talvez o que procuramos está em Brasília...
Lila e Roger entram no carro, mas
Lila não chega a fechar a porta.
ROGER:
Você não acha estranho que essa gente queira matar a Raíza e não
a mim?
Lila gira a chave na ignição.
LILA:
Eu acho mais estranho que ainda estejamos vivos.
OUVIMOS um barulho, como um TIC-TAC.
ROGER:
Que barulho é esse?
Os dois param para ouvir melhor
Ambos
trocam olhares arregalados, expressão de pavor.
CORTA PARA
O EXTERIOR DO PRÉDIO
OUVIMOS UMA EXPLOSÃO
que quebra os vidros das janelas do
primeiro andar
Pessoas em pânico correm dali,
muita confusão.
Vista aérea da cidade, som de corpo de
bombeiros/
CENA
12
APTº 3011 [INT. / MANHÃ]
Na cara assustada de Dcr que cai
sentado no sofá.
DCR:
Isso...Isso não pode ter acontecido...Não pode...
Dcr apoia os cotovelos sobre os
joelhos e cobre o rosto, querendo chorar.
Ana o abraça, sentida.
ANA:
Não fica assim. O João tava lá comigo. Foi só um susto.
Dcr se levanta, exaltado.
DCR:
Só um susto? A tua mãe quase te mata, Ana! Ela tá fora de si, você
precisa se cuidar.
JOÃO:
Não seria o caso de chamar a polícia?
DCR:
Se a polícia conseguisse pegar todos...
João não entende, ouvimos a
CAMPAINHA tocar.
Dcr vai atender
João se senta
ao lado de Ana, confortando-a.
Quando Dcr abre a porta, recebe
um abraço de Lila, trêmula e suja de poeira e fumaça.
DCR:
Lila? O que houve?
Roger, no mesmo estado que Lila,
entra e abraça os dois, em transe.
ROGER:
A gente foi vítima de atentado, amigo! Quase viramos peças de
quebra-cabeças, foi horrível!
LILA:
Conseguimos pular do carro a tempo. Foi por pouco.
JOÃO:
Isso tem a ver com a prisão do Josué?
Dcr fecha a porta e conduz Lila até
o sofá.
ROGER:
Não, isso tem a ver com a minha matéria de hoje. Gente, coisas
estranhas andam acontecendo na cidade, pessoas sendo atacadas e
supermercados roubados. Já tem gente achando que isso tudo é
manobra de políticos para tirar o governador do poder.
LILA:
Vocês se lembram do que o Josué disse, né? Ele insinuou que
Cipriano deseja ser político.
DCR:
Seria por isso que o Erom reuniu um clã de insanos? Para causar a
desordem na cidade e a renúncia do governador?
ROGER:
E já sabemos que liberdade de expressão não está nas leis desses
loucos.
Ana se levanta, aturdida.
ANA:
Gente, please! Eu não to entendendo nada! Vocês estão dizendo que
a minha mãe faz parte desse clã, é isso?
JOÃO:
Quem é Erom? O que o Cipriano tem a ver com isso?
Dcr ali sem saber como dizer.
Roger
toca o ombro de João.
ROGER:
Olha, amigo, a coisa é séria, viu? Parece que esse Cipriano está
envolvido numa sociedade secreta chamada Círculo Fechado. (para Dcr)
E a foto de Raíza foi encontrada queimada naquele depósito, além
de velas também.
DCR:
O quê? Isso quer dizer...?
LILA:
Que não somos os únicos nessa lista negra.
No olhar preocupado de cada um.
Fecha
na expressão de medo em Dcr.
CENA
13
CASA DE CIPRIANO – PORÃO [INT. / MANHÃ]
Cipriano, de capa preta, analisa uma
poção dourada. No que ele eleva a poção a frente do rosto, Raíza
é vista logo atrás.
RAÍZA (irônica):
Muito atrasada?
Cipriano nem se assusta, continua a
manusear seus produtos.
CIPRIANO:
Achei que nesta vida você nunca pisaria aqui.
RAÍZA:
Todo esse tempo e você agindo contra mim, não é?
CIPRIANO:
Nunca fiz nada contra você, Raíza. Aliás, lhe desejo vida longa.
RAÍZA:
Vida longa aos que te seguem...Como pode pregar isso depois que o seu
discípulo fiel
morreu de forma cruel?
Cipriano se volta, pensa um pouco
fazendo ar de lamentação.
CIPRIANO:
Todos nós cumprimos uma etapa da vida, Raíza. O seu pai fez por mim
o que um dia eu fiz por ele. Agradeça a mim pela praga de Bridget
Foley não ter pego nele ao me ressuscitar. Você não estaria entre
nós.
Raíza avança, mas para esboçando
ódio.
RAÍZA:
O meu pai não foi tão fiel assim a você. Ele tinha um diário onde
descreveu tudo que aconteceu.
CIPRIANO (por cima):
E você descobriu agora, não é? (Raíza engole a seco) Imagine se
fosse antes? Imagine se o meu caro amigo Bruno tivesse te contado/
RAÍZA:
Ele não era teu amigo!
CIPRIANO (por cima):
Não estaríamos tendo essa conversa. Certamente você não ia
aceitar a minha ajuda para desmascarar o João, porque, veja bem,
ninguém pede ajuda a quem não confia, concorda?
No olhar de raiva em Raíza.
CIPRIANO (cont.):
E sem se preocupar com o João, você teria salvo a Ari (Raíza
lacrimeja), o Erom não teria saído das trevas, Víctor não teria
morrido/
RAÍZA:
Isso não é verdade...
CIPRIANO (cont.):
Talvez nem o Matias, muito menos a mãe do seu amigo.
RAÍZA (perturbada):
Não é verdade...
CIPRIANO (cont.):
Se queres saber: Você foi perfeita.
RAÍZA:
PARA!
Raíza lhe acerta um
TAPA
Deixando o rosto de Cipriano
sangrando, até que o sangue seca instantaneamente.
RAÍZA:
Quer pôr a culpa no meu pai por tudo que aconteceu...Você é um
monstro.
CIPRIANO:
Quem mais julga, é quem merece ser julgado também. Você agiu
conforme sua natureza, impulsiva, destemida. Continua sendo a mesma
Elisabeth de antes.
RAÍZA:
Não...A Elisabeth de ontem você matou.
CIPRIANO (suspira):
Verdade. A ideia de você me trair era imperdoável. Mas não se
preocupe, desta vez o alvo será o Marco.
No semblante surpreso de Raíza.
RAÍZA:
Como é que é?
Cipriano caminha pelo porão,
manuseia outras poções, tranquilamente.
CIPRIANO: Seu
noivo é um ingrato, sabia? Tudo fiz para ele te conquistar, até a
vaga de sócio da HDM ele conseguiu.
RAÍZA (petrificada): Você
matou o Afonso? O tio de Joana?
CIPRIANO:
Pra você ver como sou capaz de atos benevolentes, não é? Marco
nunca soube, mas também nunca quis perguntar meus métodos.
Raíza tenta conter as lágrimas,
estagnada com tudo que ouviu.
RAÍZA:
E você tá me contando isso porquê? Tá esperando que eu fique
feliz?
CIPRIANO:
Devia. Todo herói merece uma recompensa no final. Nós podemos
conquistar o mundo, dominar massas, impor leis. Esqueça o casamento,
porque ele não vai existir.
RAÍZA:
Você não vai fazer nada! Não se esqueça que eu já salvei o Marco
diversas vezes, posso salvar de novo.
Cipriano a agarra pelo braço.
CIPRIANO:
Qual é o teu problema, Raíza? Você se dedicou a destruir, não só
o Marco, mas o João também. E agora que o chão está sujo de
sangue, você perdoa seus inimigos?
No olhar de Raíza, mesclando ódio e
medo.
CIPRIANO:
Foi por causa deles que você se aproximou de mim, do meu mundo.
(decepção) E agora você os perdoa? (Cipriano a larga) NO meu
mundo, não existe perdão.
Raíza o encara trincando os dentes.
CENA
14
CASA DE SAM - SALA [INT. / MANHÃ]
No livro aberto, antigo e amarelado,
onde há símbolos como um pentagrana, cruz, lua e sol, emoldurando
uma página escrita em latim.
Dcr visualiza, enquanto manuseia com
a outra mão um smarthphone.
DCR (lendo): Sunt
uno regna, atque in eodem loco duobus dominis. Tradução: Há um
reino, e os dois mestres no mesmo lugar. Dois mestres?
Sam observa enquanto guarda alguns
livros na estante.
A sala é pequena, pobre, sofá cinza
com quatro almofadas com estampa esotérica, piso na cor caramelo,
móveis de madeira antiga.
SAM:
Poderia ser o tal do Cipriano e o Erom. Dois reis não governam o
mesmo país, não é?
DCR (deboche):
Não imaginava que o Cipriano tivesse medo da concorrência.
SAM:
Talvez não seja ele.
Dcr encara Sam, que se mostra
esperta.
DCR:
O Erom? Mas sendo assim...Ele sabe que pra atingir o Cipriano ele
teria que atingir a Raíza.
SAM:
Isso explica a foto queimada. Melhor você correr. Não sabemos como
ele pretende eliminar a garota, né?
No ar apreensivo de Dcr. Até que
seus olhos ficam estagnados,
O LIVRO CAI DE SUAS MÃOS
Sam se preocupa, diz coisas as quais
não ouvimos. Dcr esfrega os olhos com as mãos, e quando
RETIRA AS MÃOS
= = EFEITO BORBOLETA = =
Dcr se vê no DEPÓSITO DE EROM.
Ouvimos vozes e Dcr segue pelo corredor.
Corte descontínuo para Dcr,
sorrateiro, parando rente a fresta de uma porta, por onde vemos Erom
ao telefone.
EROM:
Perfeito, Marina! Nada como o passado batendo a porta novamente.
Tenho certeza de que será mais eficiente do que o idiota do Hans.
Erom desliga o telefone, olha para
trás e segue até um altar iluminado por velas. Em seguida, pega uma
foto e queima.
EROM:
Há um reino, e dois mestres no mesmo lugar. Afasta-te, portanto,
Cipriano!
Dcr abre a porta no impulso a tempo
de ver a foto de Raíza queimando, mas Erom não o vê.
No rosto de Dcr aflito, até que
= = FIM DO EFEITO = =
Dcr permanece aflito.
SAM:
Danilo? Que cara é essa?
DCR:
É a Marina. É ela quem vai matá-la.
Em Sam, sem entender.
Suspense.
FADE TO BLACK
TERCEIRO ATO
FADE IN
Vista área da cidade/
CENA
15
COFFEE BREAK [INT. / TARDE]
Pouco movimento, pessoas sentadas,
outras perto do balcão.
Dcr adentra, cauteloso, procurando
alguém. Valentina se aproxima segurando uma bandeja.
VALENTINA:
Oi, Danilo. Tudo bem?
DCR:
Indo. E você?
VALENTINA:
Na mesma. Nessa droga de café e sem você. (Dcr se encabula) Eu
esperava te ver com um semblante mais leve, depois do peso que tirou
das costas.
DCR:
Sabe quando você passa de fase num jogo? O problema só aumenta. O
Marco tá por aí? Eu fui na casa dele, mas ele não estava, nem
atende o celular.
VALENTINA:
Deve tá em algum lugar relacionado a Raíza. (Valentina dá as
costas e deixa a bandeja no balcão) Apartamento, joalheria, salão,
igreja ou na cama dela.
Dcr faz cara de bobo.
VALENTINA:
Brincadeira. Ele veio aqui rapidinho, xingou a própria sorte e
mandou uma tal de Marina pro inferno.
DCR:
Marina?
VALENTINA:
É. Se não for amante indo de brinde nesse casório.
DCR:
Valeu, Valentina!
Dcr sai apressado, Valentina se
chateia.
CENA
16
IGREJA [INT. / TARDE]
A igreja está toda decorada com
flores brancas e amarelas pelo corredor. Adiante, Marco conversa com
uma mulher elegante que anota algo em seu tablet.
MULHER:
Será um lindo casamento, senhor Bedlin. A imprensa toda já
confirmou presença.
MARCO:
Meu casamento não poderia ser simples, não é?
MARINA (O.S):
Concordo.
Marco vê Marina entrando, e se
incomoda.
MULHER:
Com licença.
Marina vem olhando toda a decoração.
MARINA:
Você nunca foi simples, não é Marco?
MARCO:
Você está me cercando por quê? Quer que eu te leve de volta pro
manicômio?
MARINA:
Eu conheci a Raíza (Marco se arma, tenso). Bonitinha, arisca e
dramática. Deve ter dado trabalho conquistar alguém tão diferente
de Sarah.
MARCO:
Essa é a tua raiva, não é? Eu escolhi a Sarah, a Raíza, mas nunca
escolhi você (Marina fecha a cara). Se voltou só para pedir perdão,
pode ir embora.
Marco dá as costas, Marina o olha
com sarcasmo.
MARINA:
Lembro da sua cara no jornal quando ela morreu.
Marco para, olhar inquieto.
MARINA:
Chamava mais atenção do que a noiva morta na boate.
= = FLASHBACK = =
BOATE OPEN BAR – LOS ANGELES –
ESTADOS UNIDOS [INT. / NOITE]
Legenda: 1994
Ouvimos tocar Rock
My Heart (Extended Mix) – Haddaway
Marco, mais jovem, dança com uma
moça (branca, de estatura alta, cabelos loiros, toda maquiada) que
segura um coquetel, em meio a muita gente.
MARCO (gritando):
Você bebeu demais, minha querida. Não acha melhor pararmos?
SARAH (gritando):
A nossa boate é um sucesso, meu amor. Temos que comemorar!
Marco retira o copo de suas mãos.
MARCO:
Vou levar isso daqui, já volto.
Marco se esgueira até alcançar o
balcão.
OUVIMOS gritos
Marco se volta e
vê um tumulto fazendo círculo.
MARCO:
Sarah? Sarah?
Marco fura o bloqueio e se depara com
Sarah caída no chão, espumando pela boca, trêmula. Marco se
ajoelha e abraça, aflito.
A MÚSICA É DESLIGADA
MARCO:
Sarah! O que houve?
GAROTA (O.S):
Ela parece drogada...
GAROTO (O.S):
Deve ter entornado todas...
Sarah balbucia, mas não conseguimos
ouvir, até que dá um suspiro e morre, de olhos arregalados.
MARCO:
SARAH! SARAH! (desesperado) ALGUÉM AJUDA, POR FAVOR!
Algumas pessoas começam a se
dispersar, com desprezo, revelando Marina, mais jovem, fazendo
questão de mostrar uma pequena ampola vazia.
= = FIM DO FLASHBACK = =
Marco segura as lágrimas, enquanto
Marina atrás, prazerosa por relembrar os fatos.
MARINA:
Você nunca gostou de mim, mas se tivesse me dado uma chance, Sarah
estaria viva.
Marco se volta, enfurecido.
MARCO:
MENTIRA! Você matou seu primo quando ele se afastou da namorada.
Você é uma psicopata! Só o idiota do Cael acreditou em você, te
pagou advogado, caiu no teu papo de moça assediada que agiu em
legítima defesa.
MARINA (mente):
Você nunca cometeu um erro na sua vida e quis reparar?
MARCO (por cima):
Você revelou o que eu tenho de pior. E agora você fala de erro,
como se fosse um objeto com defeito pra você querer reparar? Não,
Marina. Não tem reparação. Vai embora daqui.
MARINA:
Pelo visto, a Raíza não te fez esquecer da Sarah.
MARCO:
Não é porque eu a amo que vou esquecer da forma como a Sarah foi
tirada de mim. Agora, cai fora e nunca mais apareça!
Marina ainda reluta, sorrisinho de
deboche, mas sai.
Ao atravessar o corredor, ela nem percebe Dcr
à espreita de uma parede. Ele vai até Marco, preocupado.
DCR:
Marco.
MARCO (nervoso):
Oi, Danilo. Tudo bem?
Os dois se cumprimentam.
DCR:
O nome daquela mulher que acabou de sair, é Marina?
MARCO:
Deu pra ouvir conversa dos outros?
DCR:
Ela foi o pivô da briga entre você e o Cael, certo?
MARCO (sarcástico):
Ah, que interessante. Raíza contou tudo pro amigo confidente dela.
Qual o interesse?
DCR:
Marco...(semblante sofrido) Não me pergunte como eu sei, mas a
história pode se repetir.
MARCO:
Como assim “se repetir”?
DCR:
Ela voltou pra matar a Raíza.
No espanto de Marco.
Takes da cidade /
CENA
17
REDAÇÃO NOVO DIA [INT. / TARDE]
Beto está ao telefone, quando vê
Hans passar pelo corredor.
BETO:
Hans! Telefone pra você.
HANS:
Quem é?
BETO:
Disse que era seu amigo.
Hans apanha o telefone.
HANS:
Alô? (faz sinal para Beto sair) O que você quer, Gustavo? (T) Você
quer se despedir de mim? Se alguém me ver falando contigo/ (T) Ok,
ok! Mas vamos ser discretos, tá? Seu nome tá em todos os jornais.
Hans desliga o telefone,
bufando.
Beto observa.
CENA
18
GALPÃO – FACHADA [TARDE]
Um carro acaba de estacionar. A porta
é aberta e Hans desce, olha o galpão, meio hesitante.
CORTA PARA
O INTERIOR
Um galpão mal acabado, janelas
quebradas, chão molhado possivelmente de goteira.
OUVIMOS passos no assoalho. Hans anda
cautelosamente à procura de alguém.
HANS:
Gustavo? Você tá por aí?
Hans se assusta com o que vê.
Erom está sentado numa cadeira, de
costas para um janelão sem grade, segurando um revólver.
Hans dá um passo para trás,
medroso.
EROM:
Não se intimide, caro Hans. Não pretendo matá-lo.
HANS:
Ahn...Então?
EROM:
Você sabe que estou sendo procurado pela polícia, não é? Não me
agrada ser preso.
HANS:
Você vai se matar? Me chamou pra eu testemunhar sua morte?
EROM:
Não seja dramático, caro amigo. Eu estarei sempre por perto.
Reconheço que você tem me ajudado muito, e até te dispenso de
matar Raíza. Não quero que corra riscos. Quero que realize seu
sonho.
HANS:
Não entendi.
EROM:
Você não quer se tornar o jornalista mais famoso que Lila Machado?
Pois então. A partir de hoje, considere-se com sorte.
Erom aponta a arma para a própria
cabeça e atira.
Cenas muito rápidas mostram Erom caindo da
cadeira.
Hans cobre a boca, espantado e vai até a janela.
Erom está caído, sangue escorre
pelo rosto.
Corte descontinuo
para Hans se aproximando do corpo.
Uma forte ventania se abate
no local, zunidos estranhos, e Hans vai andando para trás, aturdido,
até chegar
NO CARRO
Onde Hans abre a porta e entra,
trêmulo. Apoia o rosto no volante rapidamente, e quando olha para a
câmera, seu semblante é diferente, maligno, malicioso. É notável
que ele foi possuído pelo espírito de Erom.
FADE TO BLACK
FADE IN
CENA 19
MANSÃO DE CAEL – ESCRITÓRIO [INT. / TARDE]
Cael está de pé, ao telefone.
CAEL:
Então foi marcado o julgamento? (finge pesar) Ah, que lástima, não
poderia ser num momento mais inoportuno. (T) Obrigado por informar.
Cael desliga o telefone e ao se
voltar, dá de cara com Lara.
LARA:
O que não poderia ser num momento mais inoportuno?
Cael contorna a mesa, tranquilo.
CAEL:
A sua presença furtiva, mãe, o que mais seria?
LARA:
Eu pensei que depois daquela conversa, a gente poderia se tratar
melhor.
CAEL:
É pra não perder o hábito (sorri forçado).
OUVIMOS alguém bater na porta
Marco aparece timidamente, como nunca
se viu.
MARCO:
Será que podemos conversar?
CAEL:
Pensei que estaria se arrumando para o casamento.
Marco abraça Lara e olha firme para
o irmão.
MARCO:
A Marina me procurou de novo. Ela deixa claro que a presença dela é
uma ameaça, e até andou cercando a Raíza.
Cael disfarça, sem jeito.
CAEL:
Eu sei. Eu a procurei para...Termos uma conversa definitiva. Foi
importante pra nós.
MARCO:
É engraçado isso...Passei 18 anos da minha vida desejando que isso
estivesse acontecendo. Quis me vingar de você, te fazer sentir o que
senti...Para mim, o que você sofreu não era o suficiente. Não era
nada.
CAEL:
Você sempre foi egocêntrico, Marco. Eu acho que todos nós somos um
pouco.
MARCO:
Nós éramos jovens demais, com aquela sensação de que toda mágoa
é para sempre. Mas ao me ver sem boate, sem credibilidade, e ainda
tendo que trabalhar para você, justo quem defendeu a Marina...Não
achei justo.
= = FLASHBACK = =
MANSÃO BEDLIN – ESCRITÓRIO - LOS
ANGELES – ESTADOS UNIDOS [INT. / MANHÃ]
Um cenário rústico, requintado.
Poltronas pretas, móveis de madeira, quadros de artistas famosos.
Cael está sentado atrás da mesa,
acaba de fazer uma ligação. Marco todo desalinhado, aparece
espumando de ódio.
MARCO:
Não bastou me ver sem boate, sem noiva e sem credibilidade, agora
você quer que eu trabalhe pra você na SUA casa noturna?
CAEL:
O nosso pai só quer te ajudar. Ele não quer que nos tornamos
inimigos por causa da Marina/
MARCO:
Por causa da Marina? Ou por causa da sua arrogância? Você preferiu
dar ouvidos a sua noiva, do que a mim que sou teu irmão.
Cael se levanta, Marco puxa uma arma
e assusta o irmão.
MARCO:
Você sabe o que é se sentir destruído por dentro? (T) Eu não
tenho mais nada a perder.
Muita tensão.
Cael é rápido,
se agacha no momento do TIRO.
CAEL:
Por favor, Marco! Me matar não vai resolver nada!
Cael ganha tempo e agarra o braço de
Marco.
MARCO:
Mas me deixará mais leve.
Muita luta, os dois acabam
CAINDO NA SALA
A arma de Marco desliza pelo chão
Os
dois medem força para ver quem pega primeiro
Cael alcança,
Marco vai pra cima e naquele embate, Cael ATIRA.
Silêncio, olho
no olho, e quando os dois se afastam.
UMA GAROTA MORENA, CABELOS LONGOS E
PRETOS ESTÁ FERIDA
Ela acabou de ser baleada e cai no
chão.
CAEL:
Tita? TITA!
= = FIM DO FLASHBACK = =
Cael enxugando as lágrimas.
CAEL:
Foi um acidente. A gente ia se casar em dois meses. (T) Se não fosse
o meu pai eu teria me suicidado.
MARCO:
Não tem como trazê-las de volta, mas...Não quero brigar contigo a
vida inteira.
LARA (surpresa):
A Raíza te enfeitiçou mesmo, filho. Você veio pedir perdão?
CAEL:
Até hoje cedo você parecia irredutível. O que mudou?
MARCO:
Somos irmãos, sofremos a mesma dor, mas eu escolhi viver para te
destruir. Conheci pessoas nobres capazes de arriscar a vida em prol
da justiça. Capazes de dar a vida por tantas outras...
LARA:
Filho, pelo amor de Deus, isso tá parecendo discurso de despedida.
Marco a envolve num abraço.
MARCO:
E é mesmo. Tenho que ir pra casa me arrumar. Te vejo lá, mãe?
Lara sem graça, olha para Cael.
MARCO:
Bom...Eu disse tudo que queria...Até!
Marco sai apressado, Lara segue
atrás.
Cael, inquieto, olha para o telefone, olha para a porta,
como se quisesse falar algo. Mas desiste.
CENA 20
APTº 3011 – QUARTO [INT. / TARDE]
Dcr folheia o diário de Ramona,
concentrado.
DCR (lendo):
“O amor verdadeiro separa; O ódio une para todo o sempre”. Que
coisa estranha...O amor deveria unir. (torna a ler) “Vejo a
humanidade em perigo, comandada pelas trevas, um mundo sombrio e
injusto, como não se vê há muito tempo. Mas se dois são um, e sem
um não há dois, a paz reinará também”.
Dcr olha ao léu, intrigado.
DCR:
E agora? Tá nas minhas mãos...
RAÍZA (O.S):
O quê?
Dcr fecha o livro rapidamente,
perturbado, escondendo na bolsa.
DCR (disfarça):
Você...Você estará nas minhas mãos hoje, afinal, entrarei contigo
na igreja, não é?
RAÍZA:
Isso que eu vim te pedir. Já que não tenho o meu pai pra me
conduzir, prefiro entrar sozinha.
Dcr se levanta, compadecido.
DCR:
Tem certeza?
RAÍZA:
Você é o meu melhor amigo e quero que se lembre disso pra sempre.
Mas na igreja (frisa) eu
quero entrar sozinha,
entende?
Dcr e Raíza dão as mãos, se olham
profundamente.
DCR:
Você sabe o quanto me importo contigo, não sabe? E que eu não
quero que nada de ruim lhe aconteça. Se quiser entrar na igreja de
bicicleta, patins ou invisível, por mim, terá o meu apoio.
Risos.
RAÍZA (emocionada):
Você é um irmão que eu não tive. (contém as lágrimas) Sei que
errei algumas vezes com você, mas...Não foi por maldade. Esteja
onde eu estiver, estarei sempre pensando em você, tá bom?
Dcr se mostra tenso, mas os dois se
abraçam, emocionados.
DCR:
Irei cobrar.
Raíza esconde o semblante sofrido;
Dcr está preocupado.
Corte descontínuo
em Dcr
SAINDO DA PORTARIA
apressado, enquanto fala ao telefone.
DCR:
Sam, como eu imaginava, ela sabe que vai morrer (T). Não sei, mas só
sei que farei de tudo pra essa tal de Marina não matá-la. Você tá
comigo?
CORTA PARA
CENA 21
APTº 30 [EXT. / TARDE]
A porta é aberta, Marco está
ajeitando a gravata.
MARCO:
Danilo! (dá as costas) Que bom que você chegou. Me ajuda aqui,
estou nervoso.
Dcr entra, cauteloso.
DCR:
Esperou muito por esse momento, não é?
MARCO:
Tanto que, se a Raíza atrasar um minuto, já vou achar que ela fugiu
para as colinas.
Marco ri, mas Dcr permanece sério,
enquanto ajeita a gravata.
DCR:
A Marina ainda representa um risco. Pensou no que eu te disse?
Dcr fecha a gravata, Marco vai para a
frente do espelho.
MARCO:
Pensei, mas...Se a Raíza estivesse correndo perigo, ela mesma
falaria, não é? Ou você acha que ela prefere a morte do que a mim?
DCR:
Não entendi.
MARCO:
Ora, meu querido, ela só não evitou a morte do pai, porque estava
muito longe. (Marco encara Dcr) Porque agora ela não ia prever o
próprio futuro?
Marco pisca o olho e sorri
Em
Dcr, estupefato.
FADE OUT
FADE IN
CENA 22
SÉRIE DE PLANOS
Dos pés a cabeça, Raíza vestida
de noiva
Uma arma sendo engatilhada por mãos
com luvas pretas
O buquê de rosas brancas segurados
por Raíza
As mãos enluvadas são de Marina
que sorri psicótica.
No pescoço de Raíza onde há um
colar com crucifixo amassado (o mesmo dado por Marco no ep2x14 e
atingido por um tiro).
Um homem de costas veste uma capa
preta. Quando se volta, é Cipriano, que apanha uma arma de cima de
uma mesa e anda na direção da câmera.
No rosto de Raíza, batom vermelho
escuro, olhos marcados, e um véu cobrindo seus cabelos soltos.
Outra pessoa aparece de capa cinza.
No que ela engatilha a arma...
A tela se fecha bruscamente.
FADE IN
QUARTO ATO
Ouvimos a marcha nupcial.
CENA
23 IGREJA
[INT. / NOITE]
Abre
no rosto de Marco, ansioso. Ele está de terno preto, gravata preta
de listras cinzas, perto do padre.
Um grande clarão ilumina a entrada,
de onde, aos poucos, surge Raíza toda de branco e segurando um
buquê.
Na expressão incomodada de Cael,
dando uma conferida em seu celular.
Em João ao lado de Ana, que
olha preocupada para o seu relógio.
JOÃO:
Algum problema, Ana?
ANA:
O Danilo. O melhor amigo dela vai perder a cerimônia?
Raíza vem adentrando, apreensiva,
olhando um por um.
Roger tira fotos, enquanto Lila não se
mostra confortável.
De repente, Marco fecha a expressão,
aflito. Todos olham na direção da noiva, tensos.
MARCO:
NÃO!
Ouvimos um DISPARO
Gritos dos
convidados, muito burburinho
ZOOM
rápido para Raíza, trêmula, deixa o buquê cair.
[Efeito Câmera Lenta]
Marco correndo em sua direção
Cael
atordoado, não consegue se mover.
No que Raíza desaba no chão,
revela-se na entrada, um sujeito de sobretudo e capa cinza. Ele ainda
apontando a arma de luvas, quando a joga no chão.
Raíza está de bruços, olhos
abertos, MORTA.
Marco, ajoelhado, tenta conter o
choro, mas é impossível. Dois policiais o levantam, enquanto ele
reluta, diz alguma coisa a qual não ouvimos, apontando para a
entrada.
CORTA PARA
EXT. DA IGREJA
Onde o sujeito vem correndo, até
parar, se ergue firme. E ao retirar o capuz, BAQUE.
= = TOCANDO:
I Hope You Suffer – AFI = =
Se trata de DCR.
[Fim do efeito câmera lenta]
FUSÃO PARA
CENA
24
CASA DE CIPRIANO [INT. / NOITE]
Cipriano cambaleia pela sala, mãos
no pescoço, reclamando de dor.
Corte descontínuo
para Cipriano entrando no
PORÃO
Onde derruba os vidros da mesa, se
esgueira pelas paredes, como se estivesse se sufocando.
CIPRIANO (grita):
MALDITOS!
Nesse instante, o porão pega fogo,
Cipriano aos gritos de ódio.
CORTA PARA
CENA
25
RUA DA CIDADE [NOITE]
Janelas são estilhaçadas.
Pessoas transtornadas ocupam as ruas,
depredando monumentos históricos, carros e ateando fogo. Tudo muito
rápido. Entre eles estão Helena e Valquíria.
Alguns motoristas não param e passam
por cima, atropelando Helena.
Helena cai na calçada, MORTA.
OUVIMOS um clique
Hans acaba de
tirar uma foto, maravilhado com a cena.
CENA 26
PRAÇA [NOITE]
Uma pessoa de sobretudo e capa cinza,
começa a se levantar, põe a mão na cabeça e revela ser MARINA,
que não entende porque está vestida daquele jeito e sem luvas.
Ela
se assusta ao se deparar com policiais que a levantam, sem o menor
cuidado.
Ela diz coisas as quais não ouvimos
para se defender, mas é inútil.
CENA 27
TRIBUNAL [INT. / MANHÃ]
No martelo sendo batido na mesa. O
Juiz
acaba de dar a sentença.
Marco (barba por fazer e nitidamente
frustrado) está de pé, de costas para algumas pessoas como Cael,
Valentina e João. Lara vai até Marco e o abraça, desalentada.
Corte descontínuo
para Marco algemado, andando por entre policiais e jornalistas.
Muitas fotos sendo tiradas.
CENA 28
MANICÔMIO JUDICIÁRIO [INT. / MANHÃ]
Um grupo de detentos está reunido na
leitura de um jornal.
Josué os afasta de forma grosseira e
arranca o jornal da mão deles.
A página traz a seguinte manchete:
“Empresário é condenado a dois anos de detenção – Mal
enterrou sua noiva Raíza há duas semanas, o empresário Marco
Bedlin, que aguardava julgamento em liberdade, foi condenado a dois
anos de prisão por estelionato.”
Josué começa a rir.
JOSUÉ:
Você preferia estar morto, né, seu idiota? MORTO!
Josué gargalha, outros presos riem
também, sem entender.
Suas risadas emendam com a
Vista aérea de um hospital
MUSIC FADE
CENA 29
HOSPITAL CENTRAL [INT. / TARDE]
Um homem, visto da cintura para
baixo, anda por um corredor, até chegar numa porta.
Corta para
o seu
INTERIOR
Ouvimos o som de um monitor que marca
os sinais vitais.
O homem fecha a porta atrás de si e,
em clima de suspense, seu rosto é revelado. É Cael esboçando
prepotência.
CAEL:
Tenho uma novidade pra você. Marco foi preso. (sorri forçado) Tenho
que reconhecer que sem a sua ajuda não teria sido nada fácil.
(irônico) É uma pena que você não possa assistir essa vitória...
De pé.
Cael se aproxima da cama.
CAEL:
Mas reconheça que você teve o que mereceu. Não se pode enganar
quem te estende a mão. Espero que essa lição você leve para a
vida toda. Ou pelo tempo que lhe restar.
Cael abre a porta e sai
= = VOLTA
A TOCAR – I Hope You
Suffer – AFI = =
RAFAELA está inerte na cama, cheia de
tubos.
FUSÃO PARA
CENA 30
CEMITÉRIO [INT. / TARDE]
Mãos masculinas deslizam pelo
túmulo.
Na lápide, a inscrição:
Raíza M. Ferraz
07/10/1987 - 21/12/2012
“Mesmo sem armadura, escudo, mesmo
sem espada, você sempre será uma heroína”
Dcr está de terno preto diante do
túmulo.
DCR (V.O):
Depois de tudo pelo qual passei, ter feito o que fiz me torna
estranho. Mas os fins justificam os meios. Espero que você me perdoe
e me entenda. Mas um herói não precisa ser tão nobre assim.
Dcr dá as costas, caminha pela
trilha com algumas árvores ao redor, até sumir da câmera.
MUSIC OFF
CORTE DESCONTÍNUO / TRANSIÇÃO DA
TARDE PARA NOITE
O cemitério vazio, sombrio, vento
uivante, CAM adentrando um caminho de terra, estreito. Ouvimos apenas
o pulsar de um coração.
Por entre árvores secas uma paisagem
se faz mostrar adiante. A cena vai se aproximando, vira na curva e,
ao longe, poeira sai do chão iluminada por um pequeno foco de luz
que entra pelas folhagens.
A poeira cessa e revela uma sepultura
de costas.
Ouvimos o pulsar de um coração mais
forte e abafado.
CAM entra na sepultura, vaza pelo
caixão rapidamente e para no rosto de Raíza, inerte.
De repente, ela abre os olhos!
FADE TO BLACK
CONTINUA NA PRÓXIMA E ÚLTIMA
TEMPORADA