Antologia A Magia do Natal: 2x18 - Um Sonho de Natal


Sinopse: Uma menina na ansiedade pelos presentes de Natal na expectativa da chegada do pai que foi buscar o tio e a avó para cearem em sua casa, mas na realidade, no caminho eles sofrem um acidente e a festa acontece apenas no seu imaginário.


2x18 - Um Sonho de Natal
de Edih Longo

            Era a quinta vez que ia ao portão. Nem meu pai. Nem meu tio. Nem minha avó. O meu tio tinha uma imaginação e tanto para comprar os presentes. Era meu ídolo. Nunca dava roupa. Sempre brinquedos criativos ou bons livros ilustrados. Nós moramos em Campinas. Papai tinha ido buscá-los na rodoviária vindos de São Paulo.

            Fui para meu lugar preferido. É lá onde cultivo segredos e colho minhas verdades: uma casinha feita numa pequena clareira que estava linda e organizada como sempre. Eu a escondia entre vários galhos para proteger a minha intimidade das investidas intempestivas de meu irmão. Ficava lá dentro lendo ou, simplesmente, inventando histórias e escrevendo. Tinha vários amigos de nacionalidades diferentes. Todos feitos de pedrinhas e durepox, ricamente pintados e caracterizados por mim.

            Eu os criei porque sempre discordei da história da torre de Babel e, por que tanta diferença também racial? Assim, eu os inventei com deficiências e os incitava a fazer coisas que eu gostaria de fazer; mas, enquanto estou sob a guarda de meus pais, não tenho a mínima condição financeira. Um dia, trabalharei e farei tudo o que tenho vontade.

            Shisue, a japonesa gaga que, não podendo fazer Teatro, praticava judô e karatê. O Jonathan, um pianista inglês, cuja maior qualidade era a polidez e as observações com uma leve ironia britânica. Era vesgo e usava grossas lentes. Igor era um russo que, por ser perneta (o durepox tinha acabado) e não poder dançar, ficava horas assistindo aos filmes e documentários sobre o Baryshnikov.

            Francesca era uma italianinha que falava muito com as mãos e tinha quatro braços (acho que o durepox acabou de tantos dedinhos que tive que fazer). Ela adorava viajar e como era muito pobre, contentava-se em olhar para um Globo e imaginar os lugares onde seus dedos paravam.

            Aí, os dedos brigavam entre si, pois eram vinte e quase sempre os indicadores, que eram quatro, paravam em lugares diferentes. Então, havia uma reunião para concluírem para qual lugar ela viajaria.

            Olhei pela janelinha que tinha feito cortando algumas folhagens para fugir das chineladas da mamãe quando, como sempre, atrasava-me para o jantar. Ninguém à vista e, pelo jeito, nem a prazo. A primeira lágrima pipocou, ardendo a retina. Limpei-a com raiva.

            ─ Disse-me que daria certo, não foi?

            Um lindo cachorrinho branco pulou da gravura de meu livro favorito e enxugou mais uma lágrima:

            ─ No es medionoche. Tengo uma buena noticia. Ella quiere hablar contigo.

            Pulei de excitação. Um misto de alegria e medo. Há meses, mudara-se para a casa da colina uma bruxa. Chegou numa vassoura elétrica e passou tão rápido por mim que a única coisa que pude ver foi a protuberância na ponta do nariz. Acho que só voava à noite.

            Sempre que eu passava pela rua que dava fundos para a janela da cozinha, eu via uma cestinha com mantimentos do supermercado na portinhola. Ela rapidamente pegava a cestinha. Parecia que tinha medo de ser vista. Devia ser horrorosa coitada com aquela protuberância toda e pelo tamanho da vassoura, devia ser obesa.

            Macabricho - nome fictício que lhe dei - uma mistura de macaco, com cabra e bicho, era muito alta. Devia ter uns dois metros. Acho que só estendia os braços para fora da janela e já alcançava a horta. Nunca a vi do lado de fora da casa. Ela parecia perceber que a bisbilhotava, pois fechava a cortininha xadrez em preto e vermelho que dava mais um ar de mistério à casa.

            ─ Javier, tem certeza que ela quer falar comigo?

            ─ Al igual que dos más dos es igual a cuatro.

            ─ Já disse que não admito que nenhum de vocês fale comigo nas suas línguas. Além de ser falta de educação para com os nossos leitores, eu não sei falar outras línguas e só entendo vocês porque eu os criei, entenderam?

             Bem, fui para casa. Tomei um belo banho e pus o meu melhor vestido. Perfumei-me de água de cheiro. Não estava com medo. A curiosidade em mim faz com que tome certas atitudes que até eu duvido.

            Enquanto esperava alguém abrir a porta, dei uma olhada no jardim. Incrível, parecia um morto que tinha voltado do além. Superflorido e bem cuidado. Do lado direito da casa, dava para ver uma horta simetricamente bem plantada com as verduras já boas para o uso. Levei o maior susto quanto senti a pressão delicada de uma mão em meu ombro.

            ─Pois não?

            Na minha frente estava a mulher mais linda que já vi. Nem as que aparecem nas revistas de modas eram tão refinadas e elegantes. Usava roupas clássicas em tons azuis coordenados que combinam perfeitamente com o azul penetrante de seus olhos.

            Nos pés, um mocassim branco que combinava com o colar de duas voltas de pérolas no pescoço delgado e com o anel também de pérolas na mão fina e pequena. Ao soltar a mão que ela me estendera, senti uma sensação prazerosa de aconchego.

            A sala de estar era bem arrumada e decorada. Na mesa central um vaso com flores recém-colhidas deixava no ar um cheiro de asseio. Embaixo de uma árvore de Natal em pinheiro natural, vários pacotes de presentes. Meus olhos brilharam.

            Ela desligou o pisca-pisca da árvore e acendeu a luz. Levei o maior susto. Pauline em carne e osso estava diante de mim. Ela é francesa, daí a elegância no vestir e andar. Sumiu de minha casa de repente.

            ─ Como você demorou!

            ─ Porque não me procurou mais cedo? Onde andou? O que aconteceu?

            ─Calma, mon chèri. Seu irmão quando fugiu de você deixou-me cair no caramanchão do quintal e, no primeiro temporal que teve, fui transportada para cá pelas águas.

            Ela foi a minha primeira criação com pedrinhas e durepox e me foi arrebatada pelo meu irmão do meu outro esconderijo. Desde aquela época, nós apenas nos suportamos, apesar de nos amarmos.

            ─ Parece triste. Hoje é Natal. Sempre está alegre nesta época. O que houve?

            ─ Não reconheci a minha própria criação. Estou me sentindo péssima. Fiquei dias observando você da janela da cozinha e parecia que era um monstro. Como o medo deforma a realidade das coisas! E você sempre foi a mais querida, pois foi a primeira.                   

            Sempre tive consciência que meus pais eram simples operários. Éramos muito felizes, apesar das necessidades. O Natal do ano passado, todos se cotizaram para comprar o meu computador. Quase desmaiei de tanta felicidade. Foi um presente só, mas que valeu por todos. Por isso, acho que este ano não vou ganhar nada, mas queria qualquer coisa nem que fosse uma bolinha de gude. Parece que todos me esqueceram.

            Noutras ocasiões, neste horário, nós já estávamos ceando e só esperando para os sinos da Igreja nos anunciar que podíamos abrir os presentes. Quando levantei a cabeça, ela não estava mais na sala. As luzes começaram a tremular, apagando devagar.

            Em todas as paredes, enormes tochas estavam acesas, dando um encanto mágico ao lugar. A mesa estava posta para doze pessoas. No centro uma enorme bandeja cheia de frutas. Nas cabeceiras da mesa, ao invés das cadeiras, havia duas cascatas com todo tipo de guloseimas. Havia também dois castiçais, cada qual com doze velas acesas.

            De repente, ouvi passos que desciam a escada que dá para os quartos. Senti um calafrio. Vozes começaram a cantar baixinho músicas natalinas e, gradativamente, foram aumentando. Fechei os olhos, rezando baixinho. Pauline parecia de cera sob o reflexo das luzes, seus olhos azuis pareciam vermelhos e, agora daria tudo para estar em minha casa.

Tentei gritar, mas parecia que uma mão de aço apertava a minha garganta. Fechei os olhos com tanta força que senti as pálpebras querendo se partir. Estremeci quando senti um beijo em meu rosto.

            ─Surpresa!

            Abri os olhos e a luz foi acesa. Papai se vestia como papai Noel, mas era tudo preto ao invés de vermelho. Ele não suportava o vermelho. Não tinha nenhum saco nas costas, como de costume. Segui o seu olhar sorridente e ele apontou com a cabeça a árvore de natal.      

Fui correndo à sala. Minha mãe segurava uma foto com o piano que ganharia. Meu irmão me deu um atabaque. Minha avó exibia com orgulho o vestido que fez para meu próximo aniversário que será em janeiro e meu ídolo maior, meu tio querido, entregou-me o cavaquinho e o tamborim que há muito eu desejava. Já podia montar minha banda.

─Mas, por que tantos lugares à mesa, Pauline?

─Surpresa número dois!

Todos meus amigos entraram gritando e quase me sufocando de tantos beijos e abraços. Jonathan, com seu piano a tiracolo que apareceu como um passo de mágica, começou a tocar a “Ave Maria do morro”, música que adoro.  Francesca, Igor e Shisue, entraram na farra. Quando levantamos os copos para fazermos o brinde à meia noite, um barulho irrompeu na sala, seguido de um grito de dor:

─Me ajudem!

Todos corremos e ficamos parados vendo um homem enorme, com longas barbas brancas e um saco enorme nas costas, acabando de sair da lareira. Vocês podem pensar que estou mentindo, mas ele era o Papai Noel em literalmente carne. Devia pesar uns duzentos quilos. Não é à toa que ficou entalado na chaminé. Sorriu, aproximou-se de papai e lhe entregou um papel. Agora a mesa estava completa. Papai leu, pediu os óculos para mamãe, leu de novo e pulando como criança, só gritava:

─A casa agora é nossa!

Afinal, era uma casa de verdade. Isso devia ter-lhe custado os olhos da cara, coitado! Por isso, só trouxe aquele presente. Sentamo-nos à mesa, agora com o papai Noel verdadeiro. Quando nos preparávamos novamente para o brinde, entra o Javier latindo. Ele ficara no sonho, mas minha mãe:

─Acorde, filha, já passa das onze horas. E não se esqueça de fazer a cama. Temos que buscar o pessoal no Hospital.

Então, fiquei triste. Lembrei-me de que meu pai sofrera um acidente de carro enquanto trazia meu tio e minha avó para a ceia. Todos estão bem, mas nosso Natal tinha murchado como flor não regada. E, fiquei mais triste ainda, pelo Papai Noel não existir, nossa casa também não e por ter perdido todas as minhas crenças infantis. Que pena, meus amiguinhos de pedra e durepox nunca tiveram vida. Só encantos, enquanto durarem as minhas lembranças.

Conto escrito por
Edih Longo

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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Antologia A Magia do Natal: 2x20 - Reencontro em uma Noite de Natal (Season Finale)

  

Sinopse: Numa noite de Natal, Idalice convida seus dois irmãos mais novos para a ceia de Natal. Os dois irmãos, por motivos desconhecidos, cortaram relações cedo na vida e o sonho da irmã mais velha era vê-los reconectados na amizade, naquela noite de Natal.


2x20 - Reencontro em uma Noite de Natal (Season Finale)
de Cristina Faga

Minha mãe segurava o menino Jesus no colo e seu olhar perdia-se no meio da árvore. Eu terminava de passar o fio das luzes coloridas entre os galhos do pinheiro e fiz o primeiro teste, acendendo a luz. Em alguns lugares, ficara um amontoado de luzinhas. Apaguei-as e as separei para deixá-las distribuídas com equilíbrio.

Quando olhei para minha mãe, ela ainda segurava o menino Jesus, perdida em lembranças de outros Natais. Eu podia apostar que ela havia voltado à infância, quando seus dois irmãos menores ainda não a perturbavam tanto. Intrometi-me no meio dos seus sonhos:

– Então, mãe, ficou bom? – e acendi as luzes.

Ela não me respondeu. Minha pergunta só serviu para ela sair do transe:

– Será que eu já coloco o menino Jesus na manjedoura ou espero até a meia-noite? Osnir gosta de ver o menino Jesus somente à meia-noite, quando ele nasce, efetivamente. Já Evandro gosta de vê-lo sob a árvore quando chega. O que eu faço?

– O que a senhora quer fazer?

Desta vez, minha pergunta serviu para colocá-la de volta ao transe. Ela não sabia o que queria fazer. Seus lábios balbuciavam uma oração, os olhos fechados pediam com fervor por uma mudança, por um milagre. Afastei-me da árvore para ver se estava bom. Sim, agora as luzinhas tinham ficado espalhadas com harmonia. Harmonia! Era isso o que, em outras palavras, minha mãe pedia a Deus.

Todo Natal era a mesma ladainha: minha mãe, a dona Idalice, contava-me a mesma história na clara intenção de resgatar, em cores vivas, a aquarela da memória cuja paleta fora desbotada pelo tempo.

Dona Idalice era mais velha que os dois irmãos: de Osnir, cinco anos e de Evandro, sete. Desde muito cedo, ela teve a responsabilidade de preocupar-se, de cuidar, de apaziguar os dois irmãos menores, devido à saúde debilitada da mãe, dona Francisca. E desdobrava-se em cuidar da mãe, dos irmãos menores, da casa, enquanto o pai, seu Antônio trabalhava como motorista de ônibus para dar sustento e dignidade à família.

Mas houve um dia… – sempre há um dia a partir do qual toda a história é marcada, todo o trajeto é desviado, e tudo o que acontece depois é considerado como fruto, consequência, desdobramentos desse dia. É o dia “D”. Isso é minha mãe falando. Sempre a questionei se seria mesmo assim, se esse dia “D” não seria apenas um pretexto ou um motivo para justificar tudo o que deu errado depois, tudo o que foi diferente do planejado, tudo o que saiu do previsto e idealizado. Mas também entendia que para ela, o dia “D” era um escape, era mesmo a origem palpável de acontecimentos e fatos sobre os quais ela não teve nenhum controle.

Como dissera, houve um dia a partir do qual os irmãos começaram a brigar e nunca mais pararam. Eles se estranhavam. Não agiam como irmãos. E sobre os ombros de dona Idalice pesou, além de todos os infortúnios, a culpa. Ela se sentia culpada, de alguma forma, pelo estranhamento dos irmãos menores. Perguntava-se se foi alguma atitude que tivera, uma predileção, muito mimo ou o contrário, um ódio enrustido, uma raiva não declarada, questionamentos próprios de uma verdadeira mãe.

Com o passamento dos pais, era natural que nos Natais a família se encontrasse na casa da dona Idalice. Mas, não! Eles não agiram de modo natural. Eles disputavam um lugar especial. Num ano, quando Osnir passava o Natal com Idalice, Evandro passava o Ano Novo. No outro ano, trocavam de posição e era Evandro quem compartilhava a ceia de Natal com minha mãe e Osnir comemorava conosco o Ano Novo.

Minha mãe estava cansada da disputa, do amor fragmentado. O cansaço se devia ao peso da idade. A cada ano, ela sentia suas forças se esvaírem. Isso era a vida! Nascer, crescer, desenvolver-se e depois morrer. Os irmãos também estavam velhos. Cada qual com sua família, três filhos cada um, todos crescidos, formados, iniciando nova família. Minha mãe teve só a mim e eu entendo o porquê: tendo que cuidar dos outros por tanto tempo, ela não achou tempo de cuidar de mais filhos. Eu até gosto da exclusividade. Vendo a briga dos meus tios, tinha medo que alguma coisa semelhante se desse comigo e meu possível irmão ou irmã.

Naquele Natal, ela pediu que fosse diferente. Que os dois irmãos pudessem sentar-se à mesa, que todos pudessem se confraternizar, sem disputas, sem brigas, sem rivalidades ou ressentimentos envelhecidos. Eles concordaram sem reclamação. Talvez tenham percebido alguma coisa diferente na entonação de sua voz.

Minutos antes de os convidados chegarem, vi os lábios de mamãe se moverem num pedido insistente. Os olhos absortos, as mãos trêmulas, o sorriso hesitante.

– Margarida, ajeite o menino Jesus no cesto de palha, por favor! – pediu-me insegura.

Eu ajeitei e, assim, assegurei-lhe que tudo daria certo.

A partir do toque da campainha, o tempo ficou maluco. Passava depressa em alguns momentos e noutros ia devagar. Os irmãos se cumprimentaram, as famílias se abraçaram e o foco das atenções voltou-se para o peru que já exalava um aroma espetacular. Frutas sobre o aparador. Castanhas e nozes espalhadas pela mesa. E quando dona Idalice sorria de felicidade, conversando com as cunhadas, ajeitando os guardanapos ao lado dos pratos, ouviu-se um objeto cair ao chão e quebrar-se. Todos correram para a sala: tio Osnir pegava a cabeça do menino Jesus, enquanto tio Evandro pegava o resto do corpo.

– Mas custava deixar o Jesus Cristinho no lugar de seu nascimento!

– Ele ainda não nasceu! Quer que ele nasça prematuro?

– É só um símbolo, seu burro!

– Se é só um símbolo, então, tanto faz! Tira-se o menino Jesus e coloca-se quando der a meia-noite! E faz-se a minha vontade, e pronto!

– Ah! Então é disso que se trata? Sempre tem que prevalecer a sua vontade, seu barão?

– Se não for a minha vontade, é a sua que prevalece, bobão!

– Bestão!

– Bobão!

Se eu não estivesse tão preocupada com mamãe, diria que a cena era muito engraçada: dois velhos rabugentos brigando pela imposição de sua vontade, como dois birrentos mimados! Minha mãe correu pegar a cola que tudo cola e a passou nas partes que haviam se separado. Ela tentou juntar, mas suas mãos trêmulas não conseguiam a calma necessária para fazer a junção. Então, ela explodiu:

– Passei a vida inteira tentando fazer isso – juntar duas partes quebradas com amor, dedicação, cuidados e olha o que eu ganhei: meu Jesus inocente quebrado! É isso o que vocês fizeram comigo a vida inteira! Pois bem! Vocês quebraram, vocês que consertem! – e saiu para o quarto chorando.

Não sabia o que fazer, se corria atrás de minha mãe ou se ficava para ver o que ia acontecer e não deixar acontecer o pior. Pena que mamãe não estava para ver o que sucedeu.

– Você sempre foi um arrogante, um idiota, um imbecil!

– Não, não! Esse aí é você, um imbecil, um idiota, um comedor de mortadela, arrotador de caviar! Dá isso aqui que eu vou consertar!

– Não! Eu vou consertar!

E puseram-se os dois a puxar o Cristo de porcelana novamente. Fizeram tanto esforço que os dois caíram no chão. Bom, aí ninguém aguentou. Todo mundo caiu na gargalhada. Até os dois riram da palhaçada que encenaram. Tio Osnir se levantou primeiro e deu a mão para tio Evandro. Os dois se abraçaram, enquanto ainda se xingavam. Riram e consertaram a cabeça de Jesus Cristo.

Fui buscar dona Idalice que apareceu à sala com os olhos vermelhos. Os três se abraçaram. Os dois irmãos pediram perdão para a irmã mais velha. E depois do vexame, todos fomos para a mesa cear.

Parece que o pedido de minha mãe foi atendido. Pairava uma harmonia serena, como se a família sempre tivera a atitude de paz e tranquilidade – a vida inteira.

Meus tios olhavam-se, falavam-se, descobriam-se como se estivessem se vendo pela primeira vez, como se estivessem percebendo suas diferenças, admitindo que tais diferenças eram interessantes, complementares, enriquecedoras.

O que será que os levou a viverem por tanto tempo separados, resguardados do afeto um do outro? Será que alguns poucos xingamentos, aqueles que deixaram de dizer um ao outro quando eram crianças, seriam suficientes para interromper o silêncio, aplainar o abismo que se formou entre eles? Que mecanismos atuavam sobre a alma, a mente, o comportamento deles? Talvez nunca venha a saber.

O que eu sei é que, a partir daquele dia, daquele Natal, o outro dia “D”, os irmãos agiram naturalmente como irmãos. E minha mãe, sentindo que tinha, finalmente, cumprido sua missão, alcançado a graça que tanto pediu a Deus, pôde nos deixar seis meses depois daquela noite de Natal memorável.

Em todos os Natais subsequentes, em que continuamos a passar juntos, aquela imagem de Jesus Cristo na cesta de palha foi requisitada. Ela era um símbolo. Não. Era mais que um símbolo! Era a presença de dona Idalice no meio de nós e a certeza de que Jesus Cristo está vivo e atuando em nossos corações!

E ainda há aqueles que não acreditam em milagres!

Conto escrito por
Cristina Faga

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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Antologia A Magia do Natal: 2x19 - Bem-vindo


Sinopse: História de uma mulher voluntária no CVV que convida um rapaz que está atendendo para passar o natal em sua casa.


2x19 - Bem-vindo (Penúltimo Episódio)
de Lígia Diniz Donega

            — CVV, boa tarde.

            —

            — Alô. CVV, em que posso ajudar?

            —

            — Alô. Alguém na linha?

            Era meu primeiro ano de voluntariado no CVV, aproximadamente quinze e trinta do dia vinte e três de dezembro. Alguns minutos aguardei para que a pessoa do lado de lá começasse a falar. Nem sempre quem liga consegue desabafar logo de cara. Alguns, primeiro, choram copiosamente até se sentirem capazes de se soltarem. Aliviar a desgraça humana, é para isso que nós voluntários estávamos ali, ainda mais numa época do ano onde as ligações aumentam uns vinte por cento. Natal para alguns é uma época difícil onde o sentimento de solidão e exclusão intensifica-se.

            Após instantes de hesitação ele apresentou-se. Uma das normas de conduta é mantermos o anonimato, quem liga só diz seu nome se quiser. Matheus, um jovem com uma voz muito grossa e bonita, disse-me que o natal passou a ser um problema depois da morte prematura e inesperada da mãe, sua única referência familiar. Tinha pai, mas daqueles que nunca quis participar da vida do filho. Morando bem longe, precisou ir até ele para se conhecerem e, mesmo assim, não conseguiu desenvolver nenhum tipo de laço afetivo com o homem frio, materialista e egoísta. Quantas histórias como essa! A mãe que, sem outra opção, desempenha o papel de pai também. Matheus era mais um solitário perdido no mundo, sem família e sofrendo numa época onde a maioria está alegre, isso era o pior de tudo.

            Segui o protocolo do CVV. Ouvia, acolhia e respeitava sua dor. Não podia dar conselhos, muito menos envolver-me com seu drama. O CVV serve como um eco para a pessoa se ouvir e ao desabafar aliviar aquele sofrimento agudo do momento. Mas o rapaz precisava mais do que um ouvido para escutá-lo. Conforme ia falando eu tinha esperança de que se sentisse melhor, no entanto, com mais de trinta minutos de ligação ainda estava muito deprimido e eu começava a ter uma intuição ruim quanto ao que ele pudesse fazer em seu lamentável natal solitário.

             E lá estava eu com um rapaz desesperado, morrendo de medo da solidão, totalmente desamparado, sem que eu pudesse fazer nada além de ouvi-lo e dizer “eu te entendo”. Matheus não precisava ser compreendido, sua dor era legítima, seu sofrimento concreto. Lógico que eu já tinha atendido uma infinidade de pessoas com o problema da solidão. Há cada vez mais gente morando sozinha e apostando nas relações virtuais, relações que nos colocam em contato com muita gente mas sem profundidade. Afligi-me mais ainda quando ele deu sinal de que ia desligar o telefone. Pensei, “não posso deixá-lo assim.”

            — Venha passar o natal comigo.

            Pronto! Falei sem pensar duas vezes. Ele ficou mudo. Aguardei com o coração aos pulos.

            — Ouviu, Matheus? Estou te convidando para passar o natal em minha casa com minha família.

            Passei por cima de todas as recomendações e treinamento do CVV, acabava de contrariar todos os preceitos da organização. Entretanto, não olhei para trás, algo nele e na sua história me fez fazer aquilo, é como se eu já o conhecesse. Em minha mente apenas uma coisa interessava-me: não deixar o rapaz sozinho. Ele demorou a falar e quando fez, o tom de voz já era outro, mais vívido.

            — Mas a gente nem se conhece, nem sei seu nome. O que sua família vai achar de um estranho no meio deles? Vou tirar a liberdade de vocês.

            — Com minha família eu me entendo. Então, que resposta você me dá?

            Mais algumas conjecturas, perguntas, dúvidas e ele acabou aceitando. Passei o endereço e meu telefone.

            — Não precisa levar nada. Apenas quero que vá de coração aberto. Ah, e meu nome é Olga.

            Ao desligar, a dúvida já doía na consciência. Que louca eu! Inconcebível o que fiz. Envolvi-me, de fato, com a pessoa que estava atendendo, pior ainda, convidei-o para ir a minha casa. Oras, que me importava se não o conhecia. Era natal, tempo de união, e o garoto precisava de mim, de todos. Naquela tarde fui para casa pensando em como falar do meu convidado especial para meu marido e filhos. Contava com a compreensão da minha turma.

              Penso que todos somos pessoas comuns caminhando pela rua que Deus pôs na nossa frente. Sejamos ricos ou pobres ou alguma coisa no meio, todos somos desabrigados neste mundo. Estamos só percorrendo o caminho de volta ao lar. Quando Matheus cruzou a porta de entrada de minha casa tive um sobressalto. Enxerguei entrando com ele todas aquelas pessoas que atendi naquele meu primeiro ano de voluntariado: a idosa que ligou só para dizer boa noite; o homem que queria mostrar as músicas que compôs; o doente terminal que ligou do hospital para compartilhar o momento; a mulher contente só para contar do bolo que fez e deu certo pela primeira vez. Vi todos estes desabrigados como eu, como nós, adentrando meu lar para passar o natal conosco. Contudo, o que mais me impressionou foi a semelhança dele com meu irmão Aurélio, parecia ele estar voltando para nós depois de quinze anos falecido, só que ainda jovem.

            — Me desculpa a ousadia de ter trazido o violão, não sei se vocês gostam — Matheus falou timidamente.

            Até isso era igual ao Aurélio! Que benção! Fiz um esforço enorme para não me derramar em lágrimas na frente dele. A noite era de festa e eu queria muito que ele se sentisse bem conosco.

            — Seja muito bem vindo, Matheus — respondi.

            E que rapaz bonito! Baixa estatura, magrinho, barba espessa, cabelo bem escuro, nariz delicado, lábios grossos, olhos grandes e bondosos, embora tristes, realmente, muito parecido com Aurélio. Educado e agradável, rapidamente travou conversa com Júlio e os meninos. De longe fiquei observando-o, via alguns trejeitos semelhantes aos de meu irmão, a risada contida, o olhar atento, as mãos...meu irmão tinha mãos lindas. A morte, muitas vezes, não é a história de quem vai e sim de quem fica. Matheus era a prova disto. História de dor, mas, principalmente, de superação. Aquele natal traria a esperança e luz de que ele tanto necessitava, tinha fé nisto.

            Ao término da ceia, que transcorreu perfeita, pedi que meu marido e os meninos ajeitassem as comidas, eu precisava de um tempo a sós com Matheus.

            — Olguinha, viu como ele se parece com seu irmão? Mas não vá dizer nada, hãm! — Júlio me precaveu.

            — Claro que não — respondi.

            Peguei Matheus pelo braço, fomos para a varanda e nos acomodamos nos bancos.             Perguntei-lhe:

            — O que achou da minha atitude em convidá-lo?

            Revirou os grandes olhos para o céu:

            — Achei bem inusitado — e sorriu. — Isso pode?

            — Claro que não! — e caímos na gargalhada. — Sou a pior voluntária de lá. Sabe aquela que encasqueta de fazer o que não pode?

            Rimos mais um tanto.

            — É óbvio que vou me desligar do CVV. Depois disto não posso continuar lá.

            Ele me olhou meio apreensivo.

            — Não é sua culpa não, fique tranquilo. Meu marido quando soube que eu ia trabalhar lá logo disse que não daria certo. Ele me conhece direitinho. Eu teimei.

            — Mas você não gosta?

            — Ah, sim, gosto. Mas essa coisa de ficar só ouvindo não é pra mim. Tem horas que fico louca para dar uns conselhos ou até uma boa sacudida na pessoa e não posso. Além disso é um trabalho tão solitário quanto aqueles que ligam. É preciso muito equilíbrio emocional, pra mim é difícil não me envolver. Mas é um trabalho lindo e importante, ajudam muitas pessoas.

            — Falo por mim. Você me salvou — disse ele com tristeza e olhando para o chão, ou para seu imenso buraco sob os pés.

            Depois continuou.

            — Obrigado, mesmo, de coração.

            — Espero que tenha se sentido bem conosco.

            — Sim, claro, fui muito bem recebido, não tem como não gostar.

             Era óbvio que pensava na mãe e fazia um tremendo esforço para não se afundar. Ele precisava desesperadamente de amor. Eu falei:

            — Sabe qual o maior obstáculo do amor?

            Pensou por um instante.

            — O ódio?

            — Não. O medo. E não existe criatura neste mundo que não sinta medo.

            Pausei pensando com cuidado nas palavras.

            — O medo constrói paredes, te estrangula devagar, sutilmente, até que um dia não há mais o que ganhar ou perder. Quantas oportunidades perdemos em nome do medo. Matheus, hoje não foi só você que ganhou com nossa companhia, nós também ganhamos e isto foi possível porque você transpôs o medo quando pegou o telefone e, depois, quando aceitou estar aqui agora. Sua ligação foi um pedido de socorro. Meu convite foi a resposta a sua coragem. Você deu o salto, mesmo com medo.

            Ele pensou um pouco e disse:

            — Pelo que parece você não teve medo de me convidar. Nem me conhecia! Eu poderia ser o oposto do que sou.

            — Poderia mesmo, mas eu boto fé nas minhas intuições, algo na sua voz me tocou, não sei explicar. Você vai ver, este é só o primeiro dia de nossa amizade. E também é natal, a época mais linda do ano! Luz, renascimento, fraternidade, esperança...esperança, sobretudo. Já fez seu pedido?

            — Que?

            — Pedidos mentalizados no natal são especiais. Você tem que confiar. Vamos, experimente.

            — Agora?

            — Agora.

            Matheus fecha os olhos bem apertados e sorri enquanto mentaliza.  

            Permanecemos mais um tempo conversando, ele falando na mãe e da união entre eles; do quanto esperou que ela se curasse; seus projetos profissionais, estava começando numa outra empresa, algo ligado à arquitetura. Como fiquei feliz em ver que não tinha errado em convidá-lo! Até que ele sugere:

            — Vamos cantar?

            Ficamos até de madrugada cantando, comendo, bebendo e rindo muito com o caraoquê que improvisamos, um natal como há muito não tínhamos. Minha irmã e família depois chegou e a festa ficou completa. Através de sua música Matheus colocava para fora sua dor e o que de mais belo havia trancado em sua alma sofrida. Foi comovente vê-lo daquela maneira tão solto, pleno, alegre. E eu, por fim, dei vazão a emoção vendo meu Aurélio ali cantando conosco, exatamente como fazia em nossos natais de antigamente. Como eu era-lhe grata por poder relembrar tempos maravilhosos e meu irmão querido. Há uma magia no natal que é um bálsamo para corações oprimidos, um abrigo para almas solitárias e luz para nos fortalecer frente aos medos, afinal, somos todos desabrigados que necessitamos desesperadamente uns dos outros, seja ele quem for e como for.

Conto escrito por
Lígia Diniz Donega

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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Antologia A Magia do Natal: 2x17 - Troca de Presentes


Sinopse:
 Ao passar o natal com o pai no Rio de Janeiro, Alison recebe um pacote inesperado, não era bem aquilo que ela tinha pedido de presente, mas ao desvendar esse mistério ela ganha muito mais que um simples presente de natal!



2x17 - Troca de Presentes
de Eliane Rodrigues

            O dia amanheceu nublado, não era comum naquela época do ano, em pleno verão na “Cidade Maravilhosa” amanhecer assim, Alison levantou da cama desanimada – não podia acreditar que iria chover, logo naquele dia! - seria o primeiro natal que passaria com seu pai biológico, a garota de pouco mais de catorze anos finalmente o conhecera, não que isso diminuísse o amor que sentia por Beto, seu padrasto que sempre cuidou dela, ela o amava muito, mas sentia que faltava algo, para ser completa, precisava conhecer aquele de quem herdou seu DNA. Tudo tinha sido arranjado e Alison finalmente estava ali, no Rio de Janeiro, no apartamento de Gerson, seu progenitor. Quando chegou à cozinha descobriu que seu pai já havia saído para o trabalho e que só retornaria à noite, o desalento bateu em seu coração, ela imaginara tantas coisas para conversar com ele, os lugares que iriam juntos, mas agora, ela estava sozinha em uma cidade estranha.

            Então resolveu dar uma volta no bairro e caminhar na beira da praia, visitou algumas lojinhas e descobriu que havia um shopping ali perto, daria até para ir a pé e foi o que ela fez, a primeira loja que avistou era uma grande livraria, Alison ficou encantada com tantos livros, era uma leitora voraz, mas em sua cidade não havia livrarias, ela precisava comprar tudo online, mas nada se comparava ao prazer de poder tocar nos livros, cheirá-los, ver todos os acessórios que só se encontram em livrarias famosas – ela sonhava com a coleção de luxo da Carina Rissi, sua autora de romances preferida, mas naquele dia ela só poderia admirara-los, seu dinheiro mal daria para um lanche – Alison passou o dia conhecendo as lojas e à tarde retornou para casa na esperança de que seu pai pudesse dar-lhe um pouco de atenção.

            Quando chegou do shopping a empregada disse que havia um pacote para ela no quarto, chegara logo depois que ela tinha saído, ao encontrar uma enorme caixa verde com símbolo daquela livraria do shopping Alison não se conteve de emoção – Só pode ter sido o Beto e mamãe para me mandar essa surpresa! - pensou - Mas Alison não poderia abri-lo antes da hora certa!

            À noite, Gerson estava em casa, eles jantaram juntos e conversaram até tarde, tomaram sorvete assistindo filmes de natal, ele disse que no dia seguinte haveria uma festa no condomínio, mas que velho não podia entrar, era apenas para os jovens e que a Denise, filha da vizinha oferecera para ir com ela, caso quisesse – não era bem o que Alison esperava, mas aceitou a proposta, pelo menos conheceria gente nova e faria amizades.

            De madrugada ela acordou com o barulho dos trovões, e seus olhos fixaram na enorme caixa verde da livraria, seu coração disparou, a ansiedade invadiu seu peito e em um impulso ela se levantou e pegou a caixa – ao abrir o pacote não podia acreditar no que estava vendo – O quê, não é possível? Só pode ser brincadeira – A coleção de luxo de Harry Potter? - Não!

            Ela estava desolada com o presente que certamente viera errado, ela esperara o ano todo para ganhar aquela coleção, se esforçara para tirar boas notas e ainda abrira mão dos presentes de aniversário – foi então que resolveu conferir a etiqueta na caixa – o endereço estava certo, mas o nome estava errado “Alison M. De Sousa” - então era isso – não havia número do prédio nem do apartamento, somente o número do condomínio – certamente era de alguém que morava ali – mas como ela conseguiria encontrar essa pessoa? Uma agulha no palheiro – pensou em ir à loja, mesmo sem a nota fiscal e sem o número do pedido valia a pena tentar - não queria dizer à sua mãe que estava decepcionada com o presente – ela resolveria isso sozinha! Mas naquele dia precisava preparar-se para a festa.

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            Alison acordou cedo, estava animado com a véspera de natal, mesmo com o dia chuvoso ele não se importava - pensando bem seria até melhor, mais fresco do que no ano anterior em que a temperatura chegava à sensação térmica de 50ºC, sufocante – essa chuvinha fina não vai atrapalhar meus planos, preciso terminar a arrumação da festa, verificar a playlist e todo o equipamento de som – ser DJ exige responsabilidade, as pessoas contam comigo – pensava ele -  A galera já estava no salão do condomínio decorando tudo, a maioria do pessoal da sua turma morava no prédio, isso facilitava na hora de prepararem as festas e essa não seria diferente, no entanto Alison sentia falta de ter uma namorada, sempre via seus amigos acompanhados, gabando-se de suas peripécias, mas até então ele não conseguira ninguém – Se achava meio nerd para as meninas da sua turma, nenhuma delas entendia seus gostos literários, não tinham assunto - isso desestimula qualquer relacionamento – pensava ele.

            O interfone tocou e Alison correu para atender, era o porteiro avisando que uma enorme caixa verde havia sido entregue para ele – o rapaz saiu em disparada para buscar o pacote – Finalmente o presente prometido pela tia Danda havia chegado, na véspera de natal, bem na hora – Ele colocou o pacote embaixo da árvore, não tinha coragem de abri-lo antes da hora certa.

            Após todos os preparativos da festa estarem prontos, Alison voltou para casa – a curiosidade e ansiedade tomavam conta dele, em sua família a tradição sempre fora entregar os presentes antecipados, quer seja de aniversário ou natal, nunca se esperava o dia certo – Bom, se essa era a tradição da família, pra quê quebrá-la logo nesse ano – Então ele pegou a enorme caixa verde e abriu – Seus olhos se arregalaram, não podia acreditar no que estava vendo – O quê? - ele tirou o box de livros de dentro para conferir e havia mais alguns livros no fundo da caixa – era a coleção da Carina Rissi – Como assim, minha tia deve ter bebido! Me comprar romance? Ela sabe que não é essa “minha praia”! Deve ser sido algum engano!- Ele conferiu a etiqueta na caixa, o endereço estava correto, mas no nome estava escrito “Alison N. De Souza”. Isso, foi isso! Ele quase grita ao perceber que seu nome estava errado, mas quem seria Alison N.? No condomínio só existia um Alison, mas aquele presente não seria para ele, de jeito nenhum! - No mesmo instante, ele divulgou o ocorrido em suas redes sociais, colocou fotos do livro e da etiqueta, compartilhou com todos os seus amigos e ainda imprimiu um cartaz para colocar na portaria do prédio.

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            Naquela noite Denise e Alison seguiram animadas para a festa, o local estava todo iluminado e a decoração era perfeita, realmente só haviam jovens ali, a pista de dança já estava lotada ao som de música eletrônica – a música é boa – pensava ela. Por um tempo ficou observando a festa até que seu olhar se encontrou com o dele –  Ele estava lá, o DJ – lindo, animado, com uma linda boina vermelha! Alison ficou encantada, ele a olhou de volta e piscou pra ela, fazendo um aceno com a cabeça. Terminando aquela sequência de músicas ele desceu e veio cumprimentá-la. 

            – Olá, é nova aqui? Sou DJ Maicon!

            – Oi, estou passando o natal com meu pai, o Gerson do 302, sou Nora.

            – Quer tomar um “refri”? Vem, vamos comer alguma coisa também.

            – Sim, obrigada! Ela o seguiu pelo salão. 

            Eles sentaram-se num dos bancos e conversaram durante horas, a playlist de Maicon já rodava sozinha, as pessoas estavam deixando o salão, eles tinham muitos assuntos em comum, ambos sentiram-se atraídos, então ele a convidou para um cinema no dia seguinte, à tarde – combinaram de se encontrar no shopping, pois ela precisava ir mais cedo para resolver umas coisas.

            No dia seguinte, após o almoço Alison decidiu levar a caixa com os livros até à livraria do shopping e em seguida se encontraria com DJ Maicon para o cinema, ao passar pela portaria um papel colorido chamou sua atenção - eram fotos de livros da Carina Rissi e o nome “ALISON N. DE SOUZA” - Meus livros! Ela gritou – pegou o telefone e enviou uma mensagem. 

            – Boa tarde, sou Alison N. De Souza, acho que você está com os meus livros.

            – Boa tarde, sério? Que bom! Queria mesmo me livrar deles! Onde posso te encontrar para entregá-los?

            – Estou aqui na portaria do seu prédio, imagino que por isso você tenha recebido minha encomenda e acho que recebi a sua!

            – Estou descendo, como saberei quem é você?

            – Sou a única garota com uma caixa verde enorme nas mãos. 

            Não demorou nem cinco minutos e vinha ele com a bendita caixa verde nas mãos, quando a viu ele abriu um sorriso largo. 

            – Você? Só podia ser mesmo, não existe outro Alison nesse condomínio!

            – Como assim? Você se chama Maicon, certo?

            – Alison Maicon de Sousa com “s” - ele respondeu fazendo um chiado.

            – Ah! Agora entendi a confusão, a loja deve ter trocado as etiquetas ou até mesmo pensado que seria a mesma pessoa – prazer em conhecer – Sou Alison Nora de Souza, com “z” - ela estica a mão pra ele e ambos caem na gargalhada.

            – Por que você usa o segundo nome?

            – E você por quê usa o seu?

            – O pessoal diz que é nome de mulher, aí com a coisa toda de DJ, acabei adotando o nome do meio.

            – Na minha escola tem outra Alison, e ainda fazemos aniversário no mesmo mês, então a maioria das pessoas me chamam pelo nome do meio, mas eu gosto! 

            Eles trocaram as caixas e ficaram maravilhados com seus presentes de natal que agora se encontravam com seus respectivos donos. Guardaram as caixas em casa e foram para o shopping curtir o cinema. Na volta ele acompanhou-a até a porta do apartamento. 

            – Sabe, esse foi o melhor natal que tive até hoje e o melhor presente que ganhei – ele disse fitando-a nos olhos.

            – Você gosta mesmo de Harry Potter, hein! Ela falou – em tom de brincadeira.

            – Falo de você Alison Nora De Souza, você é uma pessoa encantadora e linda! - ele não desviava os olhos dos dela.

            – Também gostei muito de conhecer você Alison Maicon de Sousa, você é demais! 

            Naquele momento ele a beijou, um beijo doce e gentil, o tempo parou, eles sentiam os corações acelerados e um frio na barriga, típico de quem está apaixonado, ficaram ali por um longo tempo sentindo a doce magia do natal!


Conto escrito por
Eliane Rodrigues

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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