Antologia A Magia do Natal: 2x13 - O Tal Potinho com Pozinho Brilhante


Sinopse: Tudo prometia ser mais um Natal como todos os outros. Mas este não chegou como os outros, e até tinha tudo para ser o pior  de suas vidas, mas... também não foi assim. Este foi apenas um Natal diferente, sem perder a velha e boa magia do Natal.


2x13 - O Tal Potinho com Pozinho Brilhante
de Jacqueline Quinhões da Luz

A época do Natal era sem dúvida a mais esperada por Jack. Desde criança, sua mãe sempre deu muito valor a essa época do ano. Decorava a casa inteira, colocava canções natalinas e fazia com que Jack acreditasse que o Natal não se resumia a um dia apenas tão pouco a embrulhos de presentes. Jack por um bom período acreditava que aquele clima ficaria presente durante o ano inteiro e se entregava de corpo e alma, vivia intensamente, curtia cada detalhe. O momento mais esperado de todos era quando a árvore de Natal era montada. A mãe de Jack tinha uma árvore muito grande e que recebia muitas bolinhas, todas tinham um significado, marcavam algum acontecimento importante, era como uma forma de agradecimento pelo que foi vivido. Todas bolinhas e enfeites eram de vidro, quebravam, mas a mãe sempre muito cuidadosa os mantinha intacto.

Acordar durante essa época era um presente, todos os dias eram. Parecia que até o ar era diferente e não estou falando de presentes materiais não, a família de Jack não era de posses, mas bem simples. Me refiro a magia que pairava no ar, uma sensação de paz, de leveza, que normalmente são próprias das crianças, mas na casa de Jack, todos pareciam emanar essa energia.

Jack esperava ansiosamente pela época do Natal, contava os dias. Quem dera fosse como sua mãe prometia todo ano, durasse o ano inteiro, mas Jack no fundo sabia que essa magia durava apenas um período, talvez por essa razão aproveitasse cada segundo.

Certa vez Jack, ainda pequena achou que pudesse guardar essa magia em um potinho. Pensou que se isso fosse possível, poderia todo dia tirar um pouquinho e soltar no ar, ou quando estivesse triste, bastava abrir o potinho que a tristeza teria seu fim.

Os anos foram passando, Jack cresceu, tornou-se adulta, mas dentro de si mantinha essa paixão pela época de Natal. Casou-se e em sua casa fez questão de dar continuidade à tradição que sua mãe cultivava com tanto amor. Seu marido Lui tinha o mesmo encantamento pela época do Natal e ajudava a cultivar essa magia. Músicas natalinas, filmes, enfeites..., Jack conseguia reproduzir com seus filhos fielmente todo aquele clima que por anos lhe trouxe tantas alegrias. Família reunida, abraços afetuosos... ahhhhh como é incrível esse tal espírito natalino, essa magia capaz de amolecer o mais duro dos corações, um período do ano em que Jack virava criança, se permitia ver o mundo com a pureza de uma criança sem medo algum de ser questionada por isso.

Jack, mesmo não ficando em casa na noite de Natal, fazia questão de deixar tudo enfeitado, luzes, guirlandas, renas.... Tudo ficava organizado para que mesmo sem a sua presença conservasse a magia do Natal

Jack, não ficava em casa pois morava longe de seus pais, em outra cidade, mas nessa época a família viajava para junto deles mantendo assim a união nessa data tão especial. Isso também marcava a família de Jack, encher o carro com malas e juntos percorrem mais de 1000 km para passarem a noite de Natal com os pais. Jack não abria mão dessa viagem, de qualquer outra, mas dessa não e sabia que sua mãe estaria ansiosa a espera deles. Os pais já eram idosos e Jack sabia que um dia essa viagem não mais aconteceria, mas preferia não pensar nessa possibilidade, na época do Natal não se permitia ter pensamentos tristes.

E naquele ano, tudo dava a entender que seria a mesma alegria, a mesma magia tão esperada, mas quando estava faltando dois meses para a noite tão desejada, Jack recebeu a triste notícia que sua mãe estava com uma doença grave, ela não sobreviveria até o Natal. Essa notícia caiu como uma bomba sob todos da família. E um mês para o Natal aconteceu. Jack despediu-se de sua mãe. Ficou apenas seu pai, um doce senhorzinho com o coração cheio de sofrimento pela perda de sua amada. A mãe de Jack sempre foi muito ativa, animada, uma pessoa forte, marcante que parecia manter a família unida pela força de seu amor.

Este ano parecia que a tal magia do Natal não marcaria sua presença nem na casa de sua mãe e nem na sua, pois envolvidos com todo o processo da doença e partida nem tinham condições de lembrarem do Natal. Parecia que só a mãe de Jack sabia onde ficava guardadinha a magia do Natal. Jack chegou até a lembrar de quando tentou guardar a magia em um potinho. Será que sua mãe havia conseguido e graças a ela todos os anos tinham sidos tão especiais? Bobagem, pensou Jack. Não podia agir como criança, estava vivendo um momento difícil precisava manter-se firme, adulta.

Com a partida da mãe, ficou decidido que Jack levaria seu pai para morar com ela na outra cidade, ele não poderia ficar morando sozinho, já era idoso e estava profundamente triste e assim foi feito. Estavam arrumando as malas e tudo que seria levado junto com o pai de Jack quando esbarraram em uma caixa bem colorida com um bilhete em cima que dizia: “Só abram quando eu partir. ” Jack e seus irmãos entenderam ser de sua mãe e juntos abriram a caixa. Dentro encontraram saquinhos individuais com enfeites e bolinhas natalinas, as tais bolinhas especiais que marcavam cada acontecimento vivido pela família de Jack. A mãe parecia ter pensado em tudo, percebendo que não estaria junto na noite de Natal e temendo que pela tristeza a magia do Natal ficasse esquecida, de lado tratou de deixar em uma caixa três saquinhos com as bolinhas e enfeites e dentro de cada saquinho um potinho cheio de pozinho brilhante com um rótulo que dizia: “MAGIA DO NATAL”.

Quando emocionados pegaram, cada um seu saquinho vira no fundo da caixa um segundo bilhete onde dizia: “Filhos, receio que quando lerem este, já não estarei junto de vocês da forma que esperam, mas não quero que minha partida seja um ponto final em tudo que por anos os fiz acreditar, a magia do Natal. Ela deve continuar viva pois assim eu também estarei. Natal, meus filhos é isso. É essa energia, essa magia que paira pelo ar capaz de arrancar suspiros, lágrimas, risos e o mais puro de todos os sentimentos. Trabalhei muito para que levassem consigo esse entendimento e não ficaria em paz sabendo que com minha partida, mesmo que por um ano suas casas deixassem de receber o espírito do Natal. Levem para suas casas esses enfeites, deixem a magia do Natal adentrar seus lares e façam tudo que sempre fizemos certos de que agindo assim partilharei dessa paz e terei a certeza de que tudo valeu a pena. ”

E assim Jack e seus irmão fizeram. Foram para suas casas, montaram a árvore de Natal e nela colocaram os enfeites deixados com tanto amor pela mãe. Jack abriu o potinho e libertou a magia do Natal. A ausência daquela pessoa tão especial não deixou de doer, afinal este seria um Natal diferente, não teria a viagem nem tão pouco estariam na casa da mãe juntos em volta da mesa, mas de alguma forma, mesmo passando em sua casa Jack conseguiu sentir que a magia do Natal estava ali, sutil, tímida mas marcava sua presença e prometia que no ano seguinte se apresentaria de forma mais intensa.

Não foi o Natal mais feliz de Jack, afinal foi um Natal diferente, mas o gesto de sua mãe a marcaria para sempre. A magia do Natal era real e trazia consigo o poder de ser repassada de geração a geração, ultrapassar as fronteiras de tempo e espaço e ao mesmo tempo ... caber dentro de um simples potinho.


Conto escrito por
Jacqueline Quinhões da Luz

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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