Palavras Obscuras - 1x09 - A Morte usa Tacão


Sinopse: Cidades grandes, vilas pequenas...em qualquer destes lugares existe a imoralidade do ser humano. Disposta a dar um fim nesta indecência, uma mulher decide vagar de cidade em cidade, de vilarejo em vilarejo estudando e matando homens que carregam em si o DNA do despudor. Uma história que promete mexer com você e mostrar que a indecência merece ser combatida de alguma maneira, nem que seja da forma mais cruel que exista.



A Morte usa Tacão
de Filipe Fernandes

 

Capítulo 1

Abri a porta do carro, sentei-me, acendi um cigarro e senti o fumo a passar-me da garganta aos pulmões, retive-o um pouco e soltei-o embaçando o vidro à minha frente. Meti a chave na ignição, rodei-a, liguei-o e calquei no pedal do acelerador ouvindo instantaneamente o rugido do BMW Z4, e sentindo o cheiro de combustível a ser queimado pelo potente motor. Voltei a levar o cigarro à boca e à medida que inalava mais um pouco de fumo via como a ponta do cigarro ficava incandescente.

Pretendo lembrar-me de qualquer coisa, ainda não sei bem o quê!

Eram 03:38 da madrugada. Acendi as luzes, levantei a cabeça e vi o corpo sem vida deitado no chão.

Devia estar em pânico, mas não, nem sequer sentia medo, vergonha, pudor ou qualquer outro sentimento de culpa por ver aquele corpo ensanguentado mesmo à minha frente. Aquele homem, que ainda há poucas horas me pagara Gins e dado conversa a noite toda, na tentativa de me levar até ao cais para que ambos déssemos rédea solta ao desejo, que só ele sentia.

Engrenei a marcha-atrás, calquei lentamente no acelerador e à medida que me ia afastando o corpo deixou de ter tons vermelhos, passando a vermelho escuro e a ser completamente negro até ser só um ponto e acabando por fim a não se distinguir do resto da paisagem.

O meu querer tinha-se realizado, tinha-o seduzido, fazendo-me de ingénua e rindo de forma espalhafatosa de grande parte das piadas pouco inteligentes e até ofensivas que ele me contara, entre copos e fumo de cigarros, sobre a relação amorosa que o patrão tinha com a secretária. Não era coisa que me interessasse, as fugas do patrão com a tal Beatriz para a casa de banho do escritório, mas ouvi-o fazendo-me de interessada até tê-lo na palma da minha mão.

Eu sabia que por volta da meia-noite e meia o playboy endinheirado aparece ao bar com os dois nabos dos mesmos amigos de sempre, sobre os quais se sente superior por ser bem parecido e principalmente por vir de uma família rica, nunca trabalhou de verdade, o papá arranjou-lhe emprego na empresa de um amigo de longa data, quando deixou a faculdade onde andou cinco anos e nunca passou do segundo ano, tendo mesmo cadeiras do primeiro por acabar.

O barrigudo cinquentão, que se vestia como se tivesse vinte anos e andava sempre com olhar lascivo para miúdas que bem podiam ser filhas dele, nunca tinha casado, saltitando sempre de miúda em miúda até que a barriga lhe cresceu tanto que deixou de ser atrativo, e nunca mais andou com ninguém, mesmo tendo lábia de vendedor de banha da cobra, lábia essa que lhe permitia estar em constante bullying com o outro, o franzino dos óculos de fato cinzento já desgastado nas coxas e nos cotovelos que não olhava para ninguém para além da empregada do bar pela qual era apaixonado desde o tempo da secundária.

A Eugénia, uma senhora dos seus quarenta e muitos anos, que vestia sempre calças justas e tops apertados, exibindo um belo corpo com ancas estreitas por nunca ter tido filhos, e com a qual o franzino nunca tinha tido sequer coragem de lhe dizer o que sentia, pois sabia que ela era praticamente propriedade do playboy.

Propriedade de tal forma que os rumores que se ouviam pela vila eram de que ele já lhe tinha pago um aborto, mas na realidade tinham sido já dois, e mesmo assim ela continuava a derreter-se por ele sempre que ele abria a boca.

O playboy endinheirado tinha uma cara bonita com a queixada predominantemente quadrada, na qual exibia sempre uma barba de três dias com tons afogueados, embora os seus cabelos fossem pretos, era o mais alto dos três, pouco mais alto que eu, corpo robusto de quem frequenta ginásio. E com uma adoração tal por si próprio, que me levava a pensar que se masturbava à conta da sua última masturbação.

O mesmo corpo que vejo agora vazio à minha frente.

Capítulo 2

Um bando de gente dançava entre a minha mesa e a ponta do balcão onde o playboy estava, bastou-me olhar para ele discretamente duas vezes para ele vir ter comigo e deixá-lo galar-me, os homens gostam de atenção, que lhe toquemos enquanto nós rimos das piadas fúteis que dizem tentando

ser engraçados. Gostam de pequenos e leves roces entre as minhas mãos e as deles e principalmente que lhes pouse a mão na perna enquanto os fixo nos olhos e faço carinha de fácil e atrevida.

A sedução não é difícil para mim, já que tenho um metro e setenta e só uso tacões de agulha nunca abaixo dos 13 centímetros, que me fazem levantar os músculos das pernas e consequentemente o rabo, que eles adoram, com o cabelo longo e castanho escuro por vezes trançado, mas sempre puxado a descair para a frente do ombro esquerdo.

Depois é só usar uma camisola de alças com renda na zona do peito, uma saia curta, justa e meias de ligas, embora eles poucas vezes tenham tempo de ver as ligas.

E assim seduzido mas pensando estar a seduzir, lá me convidam para sair com eles.


- O ambiente aqui está morto, queres sair? Ir dar uma volta, deixar-nos levar pela nossa atração e o que tiver de acontecer…

Acontece!


- Eu não costumo fazer isto! - Digo lhe com ar de uma certa vergonha


- Eu gostava de continuar, de te conhecer melhor!


E vais me dizer que não te apetece continuar a noite comigo?

Quando digo que sim, vejo na cara deles um sorriso de felicidade e adivinho o que vai naquela cabeça:


"Ah! É hoje que vou comê-la!"

Levantamo-nos da mesa do bar, deixando para trás dois copos de Gin a meio beber. Ele colocou o braço direito a volta da minha cintura, e enquanto percorremos o bar até a porta começa a soar pelas colunas, uma das minhas músicas preferidas:

Oh you gonna take me home tonight

Oh down beside that red fire light

Oh you gonna let it all hang out

Fat-bottomed girls you make the rocking world go round

I was just a skinny lad

Never knew no good from bad

But i knew love before…

E à medida que saímos deixamos de ouvir a música.

- Tenho o carro ali - apontando para a nossa esquerda - é aquele BMW azul.


Abriu-me a porta do carro, devia querer mesmo comer-me porque eu sabia que não era cavalheiro nenhum, assim como eu não sou boa pessoa, por detrás daquele ar de menino de papá bem comportado, escondia-se um ser repugnante capaz de se aproveitar de qualquer fraqueza humana para seu próprio proveito e regozijo, a tal ponto de seduzir a madrasta durante meses, para no dia em que tiveram relações gravar tudo em vídeo e acabar por mostrar o filme ao próprio papá, que se divorciou da pobre senhora deixando-a sem nada. E ainda publicou o vídeo na net deixando-a possuída por uma vergonha imensurável, visto morar numa vila relativamente pequena.

Já com o carro em andamento pousou a mão na minha perna, entre o joelho e a coxa, soltou a outra mão do volante e tocou-se entre as pernas como se ajeitando o membro.


- Queres ouvir alguma música em especial? Alguma banda? Tenho Spotify no telemóvel e posso conectá-lo ao rádio do carro.


- Não, nada em especial, escolhe tu, surpreende-me!


Tirou a mão da minha perna pegou no telemóvel e em segundos estávamos a ouvir “Kiss From A Rose” do Seal.

Romântico - pensei - Queres mesmo comer-me, mas hoje a Rose vai-te cravar um espinho e fazer-te sangrar até ficares seco.

Seguimos devagar pela estrada mal iluminada, viramos na rotunda para a silenciosa urbanização onde apenas se ouvia o som do poderoso BMW em baixa rotação, passamos por um jardim com relva, onde apenas se ouviam aspersores, compassados pelos risos de adolescentes, vestidos com calças largas e casacos com capuz fumavam erva acompanhada de uma mistura de alcóolica de whisky com coca-cola, bebida diretamente pelo gargalo da garrafa.

Seguimos até pararmos no semáforo que permitia virar para o cais, ele cantava:


Baby, i compare you to a kiss from a rose on the gray

Ooh, the more i get of you, the stranger it feels, yeah!”


Sempre com a mão na minha perna apertando e afrouxando ao sabor da música, aquele mexer na minha perna causava-me calma, dava-me a certeza do que o escolhera bem.

Dois anos à espera, um deles a estudá-lo para ver se era digno da noite de me conhecer.

Entramos no cais e parou o BMW que tanto amava, quase tanto como a si próprio! Rodou a chave e o motor calou-se.

Eu entretanto já tinha tirado da bolsa o espinho com que ia sangra-lo, uma caneta Parker de tinta permanente toda prateada, comprada especialmente para o Playboy.

Capítulo 3

Acabamos por chegar ao cais onde ele, mal tirou o cinto agarrou-me e beijou, lambendo-me a boca e parte da bochecha e queixo, eu deixei-me levar por aquelas mãos a percorrer-me as mamas e as pernas.

Os homens são todos obcecados por mamas e pernas!

E com todo aquele amasso senti-me mais segura do que tinha a fazer.

E disse-lhe:

- Quero ser possuída lá fora. Em cima do capô do teu carro.

Aquilo na cabeça dele era como uma proposta para fazer um trio. Parou de me agarrar, pôs a mão no puxador da porta e abriu-a saindo rápido como um relâmpago.

Eu saí também para o cimento do cais havia uma leve humidade no chão devido ao orvalho, pois era julho mas a noite estava fria, apenas um candeiro ao longe, daí a pouca luz que nos envolvia fazia o carro parecer negro. Era a atmosfera perfeita para satisfazer o meu escuro desejo.

Avancei para a frente do carro onde o playboy me esperava impaciente.

Agarrou-me com força com os braços à minha volta, desceu as mãos até ao meu rabo e encostou-me à sua pélvis com força, como se me fosse penetrar vestido.

Desceu mais ainda a mão esquerda tocou-me na perna, deslizou os dedos para cima e começou a subir-me a saia.

Cada vez mais me sentia segura e excitada do que ia fazer.

Tentou empurrar o corpo contra o meu para me fazer cair sobre o capô do carro, deixei o conduzir-me, já o tinha sobre mim quando baixa a cabeça para me beijar o peito

Era o momento perfeito…

Levantei o braço para cima com a caneta em riste na mão, e com um movimento rápido, enterrei o espinho da rose no pescoço, e puxei com força pedaços de sangue e carne saltaram-lhe e salpicaram-me a cara, ele gritou e tentou levantar-se, agarrei-o com a mão esquerda, não o deixei fugir e espetei lhe o pescoço repetidamente, salpicando sangue para todo o lado, sempre olhando-o na cara e desfrutando do seu ar de surpreendido e horrorizado, tentou balbuciar alguma palavra mas o sangue já lhe enchia de tal maneira a boca que ondas dele caíam em cima de mim escorrendo e caindo no nosso parceiro de ménage à trois.

Empurrei-o para trás e caiu no chão, avancei sobre ele e cravei mais umas quantas vezes...

Retirei o espinho uma última vez do corpo do puto playboy endinheirado, mais uma vez a satisfação foi imensa, ao sentir a pele do pescoço a rasgar e mais sangue ainda quente salpicar-me destas vez apenas as mãos, pois o coração já estava fraco demais e quase não bombeava.

O cheiro a ferro do sangue era intenso ele ainda mexia uma mão junto a um dos buracos que eu lhe tinha feito, até que essa mão caiu ficando o braço entreaberto e a palma da mão semicerrada voltada para cima.

E um sorriso de satisfação espontâneo percorreu-me a cara e essa satisfação e felicidade chegaram a todos os pontos do meu corpo. Fazendo-me sentir verdadeiramente feliz...

Mais uma vez tinha escolhido bem. Tinha se tentado aproveitar, ficou surpreso, e por fim deixou-se ir, para meu êxtase.

Levantei-me e abanei várias vezes as mãos sacudindo aquele líquido escuro e quente. Ajeitei a saia, dirigi-me para o lado do carro, peguei na bolsa e abri-a procurei a tampa da caneta que tinha no saco. Tapei a caneta, e meti o troféu na bolsa já toda manchada de sangue das minhas mãos, fechei e coloquei no antebraço. Pensei…

Mais uma para a coleção.

E as pulsações baixaram de repente, a excitação passou.

Inspirei fundo a encher completamente os pulmões, tinha sido perfeito, mas já tinha acabado.

Então dei a volta ao carro em direção ao lugar do condutor e vi o reflexo da minha cara toda salpicada de sangue e reconheci-me, é só nestes momentos é que eu me reconheço.

Sou Júlia Neves, a mesma de sempre, desde que era criança.

Capítulo 4

Saí do bagon de comboio, o cheiro a gasóleo queimado pela máquina enchia todo o hangar da estação da nova cidade que me ia acolher até ao meu próximo encontro com um homem que merece a minha atenção e por consequência, os meus serviços.

Atravessei o hangar com a mochila na mão, antes de entrar na porta da estação balancei-a um pouco para trás e com um pouco de força meti a alça ao ombro direito, com a mão esquerda encontrei a outra alça e meti a mochila às costas.

Desta vez tinha o cabelo tapado por um chapéu dos Nets preto, com pala cinzenta. Óculos ray ban wayfarer e um lenço em tons camuflado ao pescoço a combinar com uma parka verde com capuz e bolsos à canguru por cima de uma t-shirt preta, calça de ganga azul clara muito roçada nos joelhos, e umas sapatilhas da sketcher, cor de rosa e azul. Assim disfarçada de turista, deslocava-me de vila em cidade ou vice versa, sem dar nas vistas, pois a femme fatalle com que exercia a minha paixão , nada tinha a ver com uma solitária viajante, de mochila às costas e mapa na mão.

Entrei na estação, um edifício antigo com azulejos em uma das paredes referentes a touradas, e no lado contrário dois guichês, um para tirar bilhetes e outro para informações. Atravessei por aquele corredor por entre uma fila de gente que esperava para tirar bilhete, e saí pela porta principal que dava diretamente para rua onde havia vários táxis à espera de clientes. Dirigi-me ao primeiro táxi da fila entrei e disse:

- Bom dia.

Olhei para o retrovisor e vi um Sr. careca de bigode acinzentado, dando o aspecto de ser boa pessoa.

- Bom dia menina! - respondeu-me - Como correu a viagem?

- Bem, obrigado.

- Então viaja sozinha? Uma menina tão bonita devia com certeza ter um homem que tomasse conta de si!

O aspecto do homem enganou-me, afinal era mais um machista que pensa que tenho de ser propriedade de alguém, e protegida dos males do mundo.

Peguei no lenço, passei-o em volta do pescoço do homem, encostei os joelhos nas costas do banco e puxei com força até ouvir ossos a quebrar.

A ideia passou-me pela cabeça, podia fazê-lo e depois sair do táxi, apanhar o próximo comboio para qualquer destino, em vez disso respondi.
- Acabou de perder uma corrida!

Abri a porta do carro e saí, ficando o homem a resmungar sozinho.

Entrei no táxi que estava logo a seguir e disse ao taxista, sem o deixar falar.

Prédio Gaspar Oliveira, número 124. Sabe onde fica?

- Sei sim, em 10 minutos, se não houver trânsito estaremos à porta.

O taxista arrancou o Mercedes bege-marfim, ainda não havia passado um minuto e já estava a meter conversa.

- Então menina, é de cá da cidade?

- Desculpe a minha falta de simpatia mas não me apetece conversar. Se podermos seguir em silêncio agradecia.

O taxista calou-se amuado, e continuou a conduzir.

Ao olhar pela janela fui memorizando as lojas, cafés, mercearias e os bares, o meu local preferido para emboscada que fazia às presas que mereciam conhecer-me.

Capítulo 5

Nesta nova cidade o meu nome e Cartão de Cidadão era Sónia Ribeiro e tinha arranjado trabalho, de noite numa discoteca chamada "Blue Parrot", tentava andar um pouco mais desleixada, cabelo preto mais curto, sempre com calças de ganga e t-shirts a maior parte das vezes pretas.

Pois queria passar despercebida, o meu último ataque há oito meses atrás, ainda era comentado nas notícias. A única pista que havia era uma mulher de vestido em tons cinzentos, cabelo comprido, escuro e com cerca de um metro e setenta.

O dia estava cinzento, desde a janela do meu quarto, tinha a vista sobre o ginásio mesmo em frente, onde o dono, o Peitinhos treinava todos os finais tarde, e que eu também frequentava, sempre a mesma rotina de exercícios com especial atenção aos peitorais, que ele conseguia fazer mexer, tendo eu já visto a manobra, sempre que se aproximava uma miúda, na discoteca onde eu trabalhava ao balcão e o homem andava sem t-shirt.

O Peitinhos tinha me chamado atenção por vender esteróides anabolizantes no ginásio a putos com dezassete, dezoito anos, fazendo com que já um rapaz perdesse a função renal, tendo de fazer hemodiálise.

Mas o que me tinha realmente motivado a investigá-lo era o tráfico dentro da discoteca, Cocaína, Ecstasy, LSD, MDMA e a potente N-Bomb um poderoso alucinógeno. A moda é introduzi-la no anus, e uns pequenos grãos a mais derivam em overdose, coisa que já tinha acontecido a três miúdas, só sobreviveram duas, e outra toda alucinada e desorientada tinha sido violada pelo próprio Peitinhos no escritório da disco. Tudo com a conivência do dono, o meu patrão.

O patrão era espanhol, tinha cerca de cinquenta anos, bem constituído, vestia-se sempre impecável, fato e gravata, cabelo branco sempre lambido puxado para trás e sempre de barba feita. Era casado e com duas filhas que adorava e venerava. Mas maltratava psicologicamente a mulher por não lhe ter dado um filho homem, tinha feito os meus trabalhos de casa, não fossem os maus tratos à mulher e o caso de encobrir todas as malfeitorias do Peitinhos dentro da discoteca. E tinha-se safado.

Capítulo 6

No final da noite o Patrão chamava pelos empregados um por um para pagar parte do salário da noite em cheque, parte em negro, eu já há dois meses que me deixava ficar para ultima a entrar no escritório, que me provocava náuseas pela violação que lá tinha ocorrido.

Mas naquela noite não tinha náuseas, estava segura de mim, sentia-me forte, predadora.

Entrei no escritório pousei o casaco que levava na mão no cabine olhei para ele e sorri, recebi um sorriso de volta juntamente com:

- Então Sónia, muito cansada?

Não respondi acelerei o passo para ganhar balanço, saltei por cima da mesa indo de encontro ao Patrão sentado numa cadeira do outro lado da mesa, agarrei-lhe o pescoço com as mãos e caímos para chão aterrando em cima dele.

- Ah ah ah ah ah!

Soltei uma gargalhada ao ver os olhos esbugalhados e a cara de surpresa do Patrão.

Acontecia com todos, olhar surpreendido de não estar a perceber o que estava a acontecer! E de não entender como uma mulher os podia agredir.

Apertando cada vez mais o pescoço do homem e ele com as mãos envolta dos meus pulsos, mas quase sem reação consegui pôr os joelhos sobre os seus braços, fiz força com o corpo para lhe cravar os meus joelhos ainda mais nos braços. Ele com a dor afrouxou a força envolta dos meus pulsos e consegui libertar a mão esquerda. Levando a mão do pescoço ao bolso de trás das calças, peguei numa simples lima das unhas e zás…

Espetei-lhe a lima no olho direito, ele berrou.

- Aaaaaaaaaahhhhhhhhhrrrrrrrr!

Tirei-lhe a lima do olho e o sangue começou a esguichar, atingindo-me a cara, o pescoço e escorrendo pela t-shirt abaixo, espetei três vezes no pescoço e por fim outra vez no olho direito firmando com a palma da mão no cabo da lima enterrando-a quase até ao fim do cabo de plástico.

Larguei a outra mão do pescoço e fiquei em cima dele vê-lo esvair-se de sangue, até acabar por morrer.

Respirei fundo, e fiquei por um momento a admirar o corpo inerte, tirei-lhe a lima do olho a custo, limpei-a à camisa branca do morto e guardei-a no bolso de trás, pus-me de pé, estava coberta de sangue. Entrei na casa de banho, lavei a cara, mãos e braços, como é difícil lavar sangue entranhado nas unhas! Dirigi-me ao cabide, vesti o casaco para tapar a t-shirt ensopada, abri a porta e saí.

Ainda tinha de voltar a caçar antes do sol nascer…

Capítulo 7

Desci as escadas do escritório e percorri o caminho atrás do bar principal até à porta de saída dos empregados, cá fora estava frio e havia já claridade do sol nascer. Dei a volta ao Blue Parrot, e nem sinal do carro do Peitinhos, apenas vi dois carros de uns putos, com a música um pouco alta, deviam estar a consumir as últimas raias antes de irem para casa deitar-se a olhar para tecto.

Saí da zona industrial onde se situava a Blue Parrot e comecei a descer a Avenida, com o sentido posto no café Argentina, que era onde o dito cujo costumava tomar o pequeno-almoço, e vender algumas gramas de droga a alguns putos que perdem a calma com a cocaína, e acabam por fazer diretas intermináveis. Cheguei ao Argentina, desilusão, já não estava lá, dirigi-me a uma mesa onde estavam dois putos com as pupilas super dilatadas e perguntei por ele.

- Esteve aqui mas foi para casa.

Respondeu-me um com a queixada toda de lado. Nem respondi, virei costas e saí a correr em direção à casa do Peitinhos.

Ao fim de dez minutos de corrida acelerada pela avenida abaixo, virei na terceira rua à esquerda e no fim da mesma avistei a casa.

Saltei o portão e corri agachada até ao carro, esperei três ou quatro segundos, estava tudo calmo à minha volta, não ouvi qualquer barulho. Aproximei-me de uma janela e espreitei, era a cozinha, estava vazia, segui para a próxima janela, era a sala, onde vi o Peitinhos sentado no sofá com uma nota enrolada numa mão e na outra um copo com um resto de bebida, provavelmente whisky.

Agora, só tinha de entrar na casa sem fazer barulho, percorri a casa toda, mas as janelas estavam fechadas. Passei pela porta principal e…

- Âh!!! - A chave estava na porta!

Abri a porta fazendo o menor barulho possível e entrei.

- Sónia!!! - exclamou -

O que é isto? Que estás aqui a fazer?!

O Peitinhos estava de pé à minha frente, sem t-shirt e em boxers, visivelmente cansado e drogado, e na mão direita trazia um ferro de lareira, com a intenção de o usar.

Olhei para os lados à procura de algo que pudesse agarrar e lhe fazer frente, mas nada, não havia nada no hall de entrada.

Fiz o gesto de meter a mão esquerda atrás das costas para agarrar a lima que tinha no bolso, entretanto ele já estava a baixar o ferro em direção à minha cabeça, tentei me proteger com o outro braço, o ferro pegou-me com potência no antebraço, não tive força suficiente para o conter acabando por me atingir o ombro também.

Soltei um surdo.

- Aaaaahhhh!!!

Entretanto, com a lima na mão, estiquei o braço em direção aos abdominais do Peitinhos, espetando parte da lima.

- AAAAAHHHHGGGGRRRR!!! Puta!!!

O Peitinhos recuou dois passos, soltou o ferro e pôs a mão no buraco ensanguentado feito pela lima.

- Puta, vou te matar!!! - e avançou com os braços esticados para me agarrar - Vou te arrebentar a cabeça, sua puta!!

Eu avancei também de encontro aos seus braços, uma das mãos agarrou-me no ombro dorido pelo ferro, que me fez gemer, e a outra mão desferiu-me um soco entre a barriga e o peito que quase me deixou sem ar. Levantou um pouco o braço e preparou-se para outro soco, desta vez direcionado à cabeça, mas como levantou o braço ficou com parte do peito a descoberto, eu ainda aflita para respirar, juntei toda a força que tinha e espetei-lhe a lima na axila, puxei e desferi três golpes rápidos mais, ao longo da lateral do peito, fazendo com que o soco me atingisse com menos potência. Mesmo assim deixou-me tonta, era um puto touro o Peitinhos! Atordoada consegui atingi-lo várias vezes no estômago, havia esguichos de sangue por todo o tronco do meu adversário, mas ele conseguiu-me agarrar outra vez, até eu cair de costas com ele por cima de mim agarrado ao meu pescoço, e aí tive a minha chance, espetei a lima das unhas umas quantas vezes no pescoço e na axila do Peitinhos, que foi perdendo força até se deixar cair, com a boca a jorrar sangue, completamente sobre mim. O sangue tapava-me os olhos e o nariz tinha de respirar pela boca, onde também entrava sangue do morto.

Com grande esforço, do cansaço e peso do morto, consegui tirá-lo de cima de mim e respirar, respirar e sentir-me feliz, respirar e pensar mais uma vez a Júlia fez justiça e atenuou os seus instintos mais primitivos.




Conto escrito por
Filipe Fernandes

Produção Four Elements
Marcos Vinícius da Silva
Melqui Rodrigues
Hugo Martins
Cristina Ravela



Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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