0:00 min       RAÍZA TEMPORADA FINAL     SÉRIE
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WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA 4


Série de
Cristina Ravela

Episódio 14 de 14
"Enterros"



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ATO DE ABERTURA

= = FLASH-FORWARD = =

FADE IN

CENA 1 PRAÇA XV [INT. / TARDE]

VISTA AÉREA de uma multidão cercando o cadafalso, sem que possamos saber quem está lá. O helicóptero dá uma rasante pela CAM.

CORTA PARA o interior do helicóptero, onde um repórter, ao lado do piloto, entrega as últimas notícias.

REPÓRTER #1: A concentração na Praça Quinze é muito forte e a maioria, indignada, pede a liberdade dos condenados. Sabe-se que somente o perdão poderia livrá-los da morte, mas Zacarta já declarou que esse caso é livre de qualquer perdão.


Corta para o meio do povo, grande tensão. Cartazes com inscrições variadas: “#FORADITADOR” - “SALVEM O BRASIL DESSA INJUSTIÇA!” - A DITADURA É O MELHOR PARA O PAÍS SIM! - “NÃO APOIO ASSASSINOS!”

Uma repórter diante da CAM.

REPÓRTER #2: O tumulto aqui é muito grande e os condenados dividem a opinião pública. Já houve ameaça de guerra, não importando que lado vencerá. A polícia militar já avisou que vai intervir, não poupando bala para proteger o líder do país.

CAM TRAVELLING pelo cenário, nas expressões de raiva e animação do povo, até alcançar a base do cadafalso. CAM SOBE e enquadra apenas Cipriano, em sua tradicional capa preta, imponente.

CIPRIANO: É com muita honra que declaro o fim de uma história de inglórias e incertezas, as quais muitos, iludidos por um enredo fantástico, estavam submetidos.

Nos olhares atentos do povo. Aimée, Sam, Ana, Lila, Roger e Marco assistindo, apreensivos.

CIPRIANO (cont.): Não precisamos de heróis que matam, dissimulam, que fogem e que têm consciência do mal que atingirá um cidadão, mas nada fazem para impedir. O que vocês precisam é de regras e aquele que não segue minhas regras, não serve para continuar entre nós. (abre o braço em direção a alguém) Portanto, eu, Cipriano Zacarta, os condeno à morte.

Ao seu lado, em clima de suspense, são mostrados Jaime, Dcr e Raíza. Todos de pé, já com a corda no pescoço, mãos voltadas para trás e cercados por policiais militares. CLOSE em Dcr e Raíza, esperando pelo pior.

SMASH TO BLACK

= = FIM DO FLASH-FORWARD = =

FADE IN

CENA 2 RUA DA CIDADE [MANHÃ]

O jornaleiro entregando o jornal para uma moça. Em seguida, Josué estende a mão com uma nota de cinco reais. O jornal é entregue, junto do troco. Assim que sai dali, aborda um senhor de 70 anos, moreno e baixo.

JOSUÉ: Seu Gabriel, como vai?

GABRIEL: Ô pastor, muito bem e o senhor?

JOSUÉ: Lidando com os novos tempos (ambos riem). Gostaria de confirmar sua presença no culto de hoje à tarde. Sei que todos sabem, mas é que hoje vamos pedir paz e mais tolerância ao povo.

GABRIEL: Pode ter certeza que eu e minha família iremos. Nada pode ser mais importante do que estar com Deus, não é mesmo?

Antes de Josué concordar, uma BALBURDIA pode ser ouvida. As pessoas se movimentam. Josué e Gabriel não entendem a confusão.

Num PLANO GERAL, as pessoas se amontoam nas praças e calçadas para ver Cipriano e policiais militares carregando Dcr e Jaime pelo braço. Logo atrás, outros policiais carregam um corpo, envolto pela bandeira do Brasil.

Em lado oposto, pessoas comuns fazendo o mesmo com Raíza, esta suja de sangue, roupas amarrotadas e expressão cansada. Dcr se assusta ao vê-la.

Um homem branco, 30 anos, toma a frente da heroína.

HOMEM #1: Senhor Zacarta, esta garota que muitos chamam de heroína, matou covardemente uma mulher, numa das principais vias da cidade.

RAÍZA: Mentira!

Uma mulher ESTAPEIA Raíza, que a encara com raiva.

HOMEM #1: O que pretende fazer com ela, senhor?

CIPRIANO: O mesmo que farei com Danilo e com Jaime. Estes dois homens, comumente vistos como heróis, não passam de uma farsa. Por favor!

Cipriano estala os dedos e os policiais trazem o corpo. Grande expectativa.

Josué já está próximo, curioso.

Os policiais já colocaram, no chão, o corpo envolto pela bandeira. Assim que se afastam, revela-se o corpo de WALTER, com um tiro certeiro na cabeça. Espanto nos demais.

CIPRIANO: Não há de ser tolerado, em minha gestão, assassinatos que não sejam por legítima defesa. Em casos como esse não há perdão. Danilo, Raíza e Jaime subirão ao cadafalso ainda hoje.

Algumas pessoas VIBRAM; outras se entreolham, preocupadas. Dcr e Raíza, tensos, um para o outro.

Em Josué, abrindo um singelo sorriso de vitória.

SMASH TO BLACK



FIM DO ATO DE ABERTURA

4x14


ENTERROS


series finale



PRIMEIRO ATO

FADE IN

Cenas alternadas entre TV'S em vários cantos da cidade, nos bares, clínicas, exibindo reportagens sobre a condenação.

REPÓRTER #3 (na TV): O ex-presidente, segundo Zacarta, foi encontrado num apartamento da zona sul, mantido por Danilo Rodrigues e será julgado por crime de abandono à nação.

REPÓRTER #4 (na TV): A vidente Raíza Maciel foi flagrada banhada de sangue numa das principais vias da cidade.

REPÓRTER #5 (na TV): Algumas testemunhas afirmam que ela deixou Rafaela Mancini ser atropelada. A garota era cúmplice no assassinato da esposa de Danilo Rodrigues e estava foragida da justiça desde que escapou da clínica nos Estados Unidos.

CENA 3 MANSÃO DE CIPRIANO [EXT. / MANHÃ]

Forte concentração de jornalistas e curiosos na porta da mansão. Corta para uma repórter negra, 35 anos e de cabelos ondulados, falando ao vivo.

REPÓRTER #6: Os três condenados estão em prisão domiciliar, aqui, na mansão de Zacarta, sob esquema de forte segurança. Os fãs de Danilo (aponta para o lado) já afirmaram que daqui não saem até que o líder do país entregue provas dos crimes dos heróis. Mas não está sendo fácil, pois muita gente é a favor da condenação.

CAM vai buscar Roger e Beto se esgueirando no meio do povo.

ROGER: Tá um horror isso aqui! A gente sabe que o presidente tava preso naquele depósito.

BETO: Nós e ninguém mais, né? Pelo menos ninguém que possa provar. Mas e essa da Raíza? Tu acha que ela previu…?

ROGER (por cima): Me recuso a pensar que ela é culpada. O que me deixou chocado foi saber que a Rafaela tava foragida. Pensei que ela andasse disfarçada com medo do povo, apenas. Medo de ser morta pelos fãs do Nilo.

BETO: Quanta gente morta, meu Deus. Quando isso vai ter fim?

VOZ MASCULINA: Quando eles morrerem.

Beto e Roger se assustam ao ver um homem alto, forte, com cara de encrenca, apontando o dedo para eles. Outras pessoas se juntam.

HOMEM #2: Você é aquele colega da Lila Machado né? Tudo farinha do mesmo saco. Quem endeusa um falso herói, merecia o cadafalso também, (grita) É OU NÃO É?

Povo CONCORDA.

ROGER: Calma aí, gente, please!

No que vão se afastando, Roger e Beto fogem dali. Algumas pessoas ainda vão atrás.

CENA 4 COFFEE BREAK [INT. / MANHÃ]

Pouco movimento. TV ligada no noticiário, diretamente do lado de fora da mansão de Cipriano. Marco acaba de assistir, mostrando-se chocado. Valentina sai detrás do balcão, de braços cruzados.

VALENTINA: Parece que agora não tem volta, né?

MARCO: Me recuso a aceitar isso, Valentina! Esse ditador nem me deixou ver a Raíza. Ela foi execrada no meio do povo sem chance de defesa.

VALENTINA: Por que ninguém dá logo um teco nesse Zacarta, hen? Eu, por mim, já tinha metido uma trinta e oito.

Marco já está com o celular em mãos.

MARCO: Não se mata um bruxo com uma trinta e oito, minha querida.

VALENTINA: Papo! Se fosse bruxo mesmo ele já tinha eliminado o Danilo, né não?

MARCO: Não acho que seria inteligente arrancar o coração de alguém e levantar suspeitas.

Valentina põe a mão no peito, tensa. Marco saindo da tela, ao telefone.

MARCO (tel.): Cael?

CENA 5 MANSÃO DE CIPRIANO – PORÃO [INT. / MANHÃ]

Corredor estreito, mal iluminado e sombrio. Há duas portas de ferro, frente a frente, com uma portinhola gradeada na porta, típica de presídio.

RAÍZA (O.S): Eu não a matei, Dcr. Juro que a perdoei de verdade. Ela não tava em si.

DCR (O.S): Eu acredito, Raíza. Só lamento não ter tido a chance de falar com ela, pela última vez. Uma pena como tudo acabou.

Raíza está por trás da grade; Dcr, por trás da outra, ao lado de Jaime.

RAÍZA: Eu tentei argumentar, mas aquela gente acreditou que eu tivesse culpa. Virei a noite fugindo deles, até que me pegaram e me prenderam num carro. Queriam me expor na frente de todos, à luz do dia.

DCR: Cipriano também nos prendeu, só que num apartamento alugado por ele. Agora todos pensam que o imóvel é meu e que eu escondi o presidente. Como posso provar que não tive a intenção de matar o Walter? Que o Cipriano é bruxo e disparou a arma?

RAÍZA: E o que será da Lila?

SOM DE UM PORTÃO SE ABRINDO. PASSOS.

Cipriano se aproxima, sorridente.

CIPRIANO: Vejo que já colocaram a conversa em dia.

RAÍZA: Cipriano, você sabe que não pode me matar, né? A gente tem um vínculo!

CIPRIANO (irônico): Ah, querida, está preocupada comigo? Não fique. Você me deu munição o suficiente para eu desvincular-me de você.

Jaime surge através da portinhola.

JAIME: O que fará com a minha filha após nossa morte?

Cipriano aponta o dedo, sadicamente.

CIPRIANO: Temos aqui alguém que já aceitou o próprio fim. Admiro isso, ex-presidente. Vou deixá-lo na expectativa. Não quero que se exalte antes do evento.

DCR: Quero saber da Lila. Vai cumprir ou fará o mesmo que fez com o Jaime?

CIPRIANO (sonso): Você queria que eu entregasse o ex-presidente, não queria? Eu entreguei. Se eu disse que a Lila voltará com a sua vida normal, é porque voltará. (sussurra) Voltará para o caixão.

Dcr se espanta. Cipriano gargalha e dá as costas, sumindo da tela.

DCR (para Raíza): Você vê alguma salvação?

CLOSE em Raíza.

RAÍZA: Perdoar seria a salvação.

FORTE SUSPENSE

Nos olhares entre Dcr e Jaime.

FADE OUT



FIM DO PRIMEIRO ATO



SEGUNDO ATO

FADE IN

CENA 6 CASA DO PASTOR EVERTON – SALA [INT. / MANHÃ]

Josué acaba de entrar com o jornal e o saco de pães. Sônia, abatida, chegando ali.

SÔNIA: Quer me matar de fome também? Não basta me prender aqui?

Num PLANO GERAL, as janelas estão trancadas a cadeado.

Josué faz o sonso.

JOSUÉ: Você devia ficar feliz, porque eu to preservando a sua vida. A cidade anda tão violenta…

SÔNIA: Não seja hipócrita! Você enterrou o Tony no meu quintal!

Josué coloca o jornal sobre o braço do sofá.

JOSUÉ: No “nosso” quintal. Relaxa que ninguém vai imaginar que a árvore que plantei foi pra encobrir um corpo. Ninguém vai saber que você matou o coitado.

SÔNIA (explode): EU NÃO MATEI NINGUÉM!

Josué se aproxima, sereno, mas Sônia se afasta, muito arredia.

JOSUÉ: Calma, Sônia! Não se exalte. Sabe o que foi que eu vi? (T) Danilo, Raíza e Jaime recebendo sentença de morte na frente do povaréu.

BAQUE em Sônia.

JOSUÉ: Nós vencemos, irmã! E vamos vencer o ditador também! (T) Vem comigo!

Sônia resiste, mas Josué segura forte em seu braço.

JOSUÉ: Vem, mulher!

Ambos entrando na

COZINHA

Josué coloca os pães na mesa, vai para trás de uma mureta e se abaixa. Sônia aguarda. Josué volta com uma garrafa de três litros contendo um líquido amarelo e põe sobre a pia.

SÔNIA: Isso não é…?

JOSUÉ: Sim. O chá da libertação. Vem, preciso que você me ajude a encher as garrafas térmicas. Não queremos que os nossos fiéis bebam um chá frio, né?

SÔNIA: Você tá louco! Eu não farei parte disso. Tá repreendido em nome de Jesus!

Ela tenta sair, mas Josué, forçando a paciência, a contém.

JOSUÉ (sádico): Sônia! Por favor! Você é minha única parceira, minha única companheira de batalha. Não quero ter que matá-la do mesmo jeito que fizemos com o Tony. Por Deus!

Sônia, muito tensa com a ameaça. Josué aponta para o chá.

JOSUÉ: Me ajuda?

Em Sônia.

CENA 7 CURTO-CIRCUITO - ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]

Numa maleta aberta, no qual há um frasco já visto em outra ocasião. CAM encontra Cael, logo atrás, olhando para alguém fora da tela.

CAEL: Você conseguiria fazer isso por todos nós?

A mão masculina pega o frasco e manuseia. Trata-se de Beto, muito admirado.

BETO: É uma poção de verdade? Tipo do Harry Potter?

CAEL: Digamos que sim. Mas é muito importante que seja entregue nas mãos da Sônia. Não deixe o Josué perceber nada.

BETO: Deus me livre! Foi capaz de matar o irmão, imagine o que faria comigo?

Cael se levanta e estende a mão.

CAEL: Todos nós agradecemos. Você é a única pessoa que pode nos ajudar agora.

Beto, confiante, aperta sua mão.

CENA 8 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / MANHÃ]

Josué caminha pelo corredor carregando uma garrafa térmica e um saco cheio de copos plásticos. Em segundo plano, bem ao seu lado, Beto está sentado, de olhos fechados. Josué estranha, chega mais perto. Beto abre os olhos, percebe-se que andou chorando. Leva um SUSTO ao ver o pastor.

JOSUÉ: Desculpe! Não queria atrapalhar sua oração.

BETO: Não, tudo bem. Eu já tava de saída.

JOSUÉ: Beto, não é?

Beto congela de medo.

JOSUÉ: Trabalha na Novo Dia e era amigo de Hans Ströher? Acertei?

BETO: Isso! Perdi praticamente um irmão.

JOSUÉ: Meus sentimentos.

BETO: Obrigado. Mas graças a Deus os culpados já foram pegos. Em breve, Hans será vingado.

Josué se mostra animado. Observa-o de cima a baixo.

JOSUÉ: Por que acha que eles são culpados? Não foi o povo que matou seu amigo?

BETO: Eles estavam com o Hans e não fizeram nada. São heróis de fachada, pra Lila vender livro. Eu não apoio assassinos.

Ambos se encaram. No olhar de repreensão de Josué.

BETO (ameniza): Assassinos que não se redimem. (Josué desarma) O Hans foi morto covardemente (lacrimeja). Se tornou alvo do próprio jornal no qual me vi obrigado a fazer a edição da reportagem. (tenta segurar o choro) Eles não sabem o mal que me fizeram.

E derrama-se em lágrimas. Josué, fazendo-se de bom pastor, abraça-o.

JOSUÉ: Você não tá bem. O que posso fazer por você, irmão?

Beto desfaz o abraço, cambaleia e cai sentado na cadeira. Põe a mão na cabeça.

BETO: Eu não to bem mesmo. O senhor teria água aqui?

Em Josué.

CENA 9 CASA DO PASTOR EVERTON – SALA [INT. / MANHÃ]

Em Beto, sentado no sofá, bebendo água. Sônia e Josué observando.

BETO: Muito obrigado (entrega o copo a Sônia e aproveita para encará-la). Hoje será um dia muito importante. Não posso fraquejar.

JOSUÉ: E não fraquejará, irmão. Estamos juntos.

Sônia se incomoda, parece querer falar alguma coisa. Beto se levanta.

BETO: Seria muito abuso se eu pudesse lavar o rosto? Não quero chegar na redação desse jeito.

JOSUÉ: Claro! Venha, vou te mostrar onde é.

PALMAS podem ser ouvidas.

JOSUÉ: Tem gente no portão. (para Beto) Se incomoda se…?

BETO: Claro que não, por favor.

Josué dá uma olhada sinistra para Sônia e SAI da casa.

BETO (para Sônia): Sônia, me escuta: Cael pediu que eu viesse. Tentei te chamar, mas você não me atendeu.

SÔNIA (constrangida): É...(para a porta, tensa) Mas o que você quer?

Beto põe a mão dentro do bolso da calça e retira a poção.

BETO: Serei rápido. Cael mandou entregar essa poção pra você.

SÔNIA: Poção?

BETO: Você precisa colocar isso na bebida do Josué antes do culto.

Sônia, assustada, devolve.

SÔNIA: Nem pensar! Não vou matar ninguém.

Beto empurra a poção de volta.

BETO: Não é pra matar, garota. Confia no Cael. Ele não é um assassino, né?

Em Sônia, na dúvida.

CENA 10 MANSÃO DE CIPRIANO [EXT. / MANHÃ]

Algumas pessoas ainda aguardando. Sam, Valentina e Ana observam.

VALENTINA: Cadê o povo que disse que ficaria aqui até o Cipriano apresentar as provas?

ANA: Não são essas pessoas?

VALENTINA: Você chama isso de povo? Se estamos em tempos bárbaros, que venham as lanças, as espadas, o fogo! Quero barulho, som das trevas, mas heróis vivos!

SAM: Não a leve a sério, Ana. Isso é tudo ainda é por causa do seu primo.

VALENTINA: Não me provoque, amiga.

SAM: Ok, mas podemos nos concentrar no que viemos fazer aqui? Eu preciso chegar perto do ditador. Ele é a única pessoa que pode me levar aos nossos amigos.

A imprensa e as pessoas se aglomeram no portão. Cipriano, ao lado de dois seguranças, nem abre a porta gradeada.

REPÓRTER #6: Por favor, o senhor poderia nos dizer por que preferiu prender os condenados aqui?

REPÓRTER #7: A que horas será o julgamento?

Sam sai empurrando todos até ficar frente a frente com o vilão.

SAM: Por que não deixa os amigos vê-los pela última vez? (toca sua mão) Até o pior prisioneiro tem direito a uma visita.

Cipriano lhe dá uma olhada fria e afasta sua mão; a garota não entende.

CIPRIANO: Não dou privilégios a assassinos, senhorita.

VALENTINA: Não vamos voltar a questão “Josué, de assassino a pastor”, né? O caso dele foi comprovado; a dos seus prisioneiros, não.

CIPRIANO: O caso de Josué não aconteceu em minha gestão. Tenha certeza que se fosse hoje ele responderia da mesma forma.

SAM: Opa! Então o senhor privaria os fiéis de conhecer um “bom pastor”? Não daria a segunda chance também?

CIPRIANO: Não sou vidente, senhorita. Pelo menos não eu.

Os seguidores dele vibram.

MULHER #1: Isso aí! Mita, Zacarta!

Em meio a zoeira, há uma intensa troca de olhares entre o ditador, Sam e Valentina.

CENA 11 MANSÃO DE CIPRIANO – PORÃO – CELA DE RAÍZA [INT. / TARDE]

Raíza, sentada numa cama, encostada à parede. Pensativa, de olhar fixo.

= = FLASHBACK = =

CENA EM QUE RAÍZA TENTA SALVAR RAFAELA (4X13 – CENA 28)

RAFAELA: Você acha que pode me salvar?

INSERT – pés de Rafaela

Pisando o asfalto

VOLTA À CENA

RAFAELA: Não salva nada. Não salva ninguém, NINGUÉM!

RAÍZA: Se afasta da estrada! SE AFASTE DA ESTRADA!

Raíza leva a mão,

BUZINA RÁPIDA. O caminhão ATROPELA Rafaela.

SANGUE jorra em Raíza.

= = FIM DO FLASHBACK = =

Raíza cobre o rosto, tentando esquecer.

DCR (O.S): Raíza?

Raíza se levanta e vai até a grade. Dcr do outro lado.

DCR: Não consigo parar de pensar na Rafaela.

RAÍZA: Eu também não.

DCR: No final de tudo, ela nunca conseguiu ser feliz. Nunca teve paz. A vingança dela foi uma bola de neve.

Jaime aparece ao seu lado, admirado.

JAIME: Você é incrível mesmo, meu rapaz. Ela entregou a Lila pro Cipriano. Você tá aqui por causa dela.

DCR: Era minha amiga do colegial, presidente. Não consigo odiá-la. Ninguém fez pior do que esse ditador e o Josué.

RAÍZA: Eu sempre achei que ela tivesse culpa de tudo de ruim que aconteceu comigo. Com a gente. Mas nós sabemos que, ela contribuindo ou não, tudo teria acontecido de qualquer maneira.

DCR: Porque o problema é o Cipriano e o Josué. Depois que morrermos, ele vai querer eliminar todos que nos apoiam. Isso inclui minha prima, o Marco, Cael /

RAÍZA: Não diga isso! Nenhum outro inocente pode morrer por causa dessa história. Eu ajudei o Cipriano a iniciar essa guerra, eu tenho que ajudar a terminar.

JAIME: Eu não entendo muito bem o que tá acontecendo, mas você sabe como terminar essa guerra?

RAÍZA: É só no que tenho pensado nas últimas horas.

FECHA em sua expressão pensativa.

FADE OUT

FIM DO SEGUNDO ATO



TERCEIRO ATO

FADE IN

CENA 12 REDAÇÃO NOVO DIA [INT. / TARDE]

Josué caminha por um CORREDOR com portas de vidro, cumprimenta quem passa. Olha para uma porta e logo ela é aberta por um garoto de 20 anos.

JOSUÉ: Boa tarde! To procurando o Beto.

GAROTO #1: Ah, sim. Pode entrar. Ela tá almoçando. É por ali, ó.

Josué, atento.

CENA 13 REDAÇÃO NOVO DIA – COPA [INT. / TARDE]

Beto está sentado, de costas para a porta. Diante de sua quentinha, Beto fala ao telefone, tentando ser discreto.

BETO: Fiz tudo direitinho sim. Precisei dar uma seduzida naquele pastor pra conseguir falar com a Sônia porque, nem te conto, ela tá presa na própria casa. (T) Sério, Roger! Ela relutou, mas acho que vai ajudar. (T) Não, por favor, depois dessa quero distância desse Josué. O cara é medonho mesmo sendo simpático (ri).

CAM BUSCA Josué, bem atrás dele, sorrateiro. Josué fecha a cara e SAI.

CENA 14 APTº DESCONHECIDO [INT. / TARDE]

Sala bem decorada, móveis rústicos (sofás e outros móveis pretos), paredes contendo quadros de pintores clássicos. Lila anda de um lado para o outro, nervosa. BARULHO de porta abrindo.

Cipriano entra, sorriso sádico.

CIPRIANO: Está gostando da hospedagem, nobre jornalista?

LILA: Quero saber do Danilo. O senhor não precisa matá-lo! A gente pode sumir do país, se assim preferir, mas não precisa matar ninguém!

Cipriano põe o dedo na própria boca, em sinal de silêncio.

CIPRIANO: Perceba que sua proposta era justamente minha pretensão há alguns meses? Mas o seu amado herói recusou. E eu não sou de reciclar ideias.

LILA: E o que o senhor ganha matando-os? Boa parte do povo já tá contra o seu governo. Se não for eles, serão outros que tentarão acabar contigo.

O ditador se aproxima, ameaçador; Lila se afasta.

CIPRIANO: Que outros, Lila? Que outros? Depois que eu eliminar a Raíza e levar seu queridinho junto, não existirá “outros” para me impedir. Dominarei todos com apenas um gesto!

LILA: Você tá louco…

De surpresa, Cipriano AGARRA Lila pelos cabelos e prensa seu rosto de contra a janela.

CIPRIANO (ao pé do ouvido / calmo): Loucura vai ser quando você estiver diante do povo. Morrerá pelas mãos dele como Hans morreu. Porque na minha gestão, jornalista algum fica contra mim. Ouviu bem?

Em Lila, aflita.

CENA 15 REDAÇÃO NOVO DIA – ESTACIONAMENTO [INT. / TARDE]

Na porta do elevador abrindo. Beto sai de lá, procurando alguém.

BETO: Roger? (T) Cadê você? (T) Marca comigo e não aparece?

CLOSE em seu rosto. Até que, ao se voltar, GRANDE SUSTO!

Josué a sua frente, sério.

BETO (medroso): Pastor?

JOSUÉ: Feliz em me ver?

E acerta um SOCO em Beto, levando-o ao chão.

Josué vai se aproximando, à medida que Beto se arrasta para trás.

JOSUÉ: Não se pode tentar enganar um homem de Deus, irmão.

BETO: Aqui tem câmera, se o senhor tentar alguma coisa /

JOSUÉ: Não se preocupe: as câmeras não me pegarão.

Pelo PONTO DE VISTA DE Beto, as câmeras estão cobertas por saco preto.

VOLTA EM BETO, com medo.
Josué pega o garoto, apavorado, pelo colarinho. Levanta-o e o prensa de contra a coluna do prédio.

BETO: Por favor, não me mate!

JOSUÉ: Isso vai depender de você, garoto.

Josué lhe dá uma gravata, apanha um CANIVETE do bolso e mostra-o para a vítima.

JOSUÉ: Tá vendo isso aqui? Eu vou cortar seu pescoço devagarzinho, sem pressa, e enquanto o sangue escorre você vai me contando o que falou pra Sônia, ok? Mas se você morrer no percurso, (sussurra) não vou lamentar.

Beto se treme todo. Josué prensa a ponta do canivete de contra o pescoço do garoto.

JOSUÉ: Fale!

BETO: Por favor! Eu-eu só pedi (sente o canivete apertar)/ Eu só pedi pra ela se encontrar com o Cael, só isso, juro!

JOSUÉ: E ela disse o quê?

Sangue começa a escorrer do pescoço de Beto.

BETO: Ela não queria! Só pediu que eu fosse embora, por favor!

JOSUÉ: Você tá me dizendo que arriscou sua cabeça, que me enganou apenas pra pedir à beata maldita que fugisse? (Beto quase chorando de pânico) VOCÊ PENSA QUE EU CAIO NESSA? Vou te dar uma chance. Uma chance de morrer sem sofrimento.

Beto de frente, canivete já quase rasgando a jugular. Josué por trás, olhar maligno.

BETO: Não, por favor…

JOSUÉ: Serei rápido, irmão. Mande um abraço para o seu colega Hans.

BETO: Não, não, NÃO!

Josué se prepara para matá-lo; No GRITO de Beto.

SMASH TO BLACK

FADE IN

CENA 16 CASA DO PASTOR EVERTON – QUARTO DE SÔNIA [INT. / TARDE]

Josué já invadindo, abruptamente. Sônia salta da cama, no susto e o pastor, descontrolado, a pega pelo braço.

JOSUÉ: O que o Beto queria contigo, hein? Tá planejando me trair, é beata? Tá pensando em fazer que nem Judas, bandida?

SÔNIA: Não sei do que tá falando /

JOSUÉ: Ah, você não sabe do que to falando? Não sabe? Vou fazer você saber.

E o pastor segura firme os cabelos da beata e sai arrastando-a dali, sob seus protestos.

CORTA PARA

COZINHA

Josué trazendo Sônia até o fogão. Liga. Sônia segura as mãos dele, sem sucesso.

SÔNIA: O que vai fazer? Por favor! Pelo amor de Deus!

JOSUÉ: O fogo purifica a mente, irmã!

E aproxima o rosto da beata ao fogo, aos GRITOS. Sônia fecha os olhos e chora. Bem na hora em que Josué APAGA o fogo e solta a garota violentamente. Sônia cai no chão, em lágrimas.

JOSUÉ: Tomou um susto, não foi?

SÔNIA: Seu monstro! O que fez com o Beto? (T) O QUE FEZ COM O BETO?

JOSUÉ: Tá preocupada com o garotão, tá? (se agacha diante dela) Sabe o que eu fiz? Matei (pavor em Sônia). Cortei devagar o pescoço dele (faz movimento brusco de corte rente ao pescoço) até dar um corte fatal. O garoto ficou lá, se estrebuchando que nem uma lagartixa.

Josué ri, sádico, enquanto Sônia chora, apavorada.

JOSUÉ: E tu fica esperta que você pode ser a próxima, hein. Não balança muito não que é pra não cair.

Josué vai saindo, aos risos. Sônia escora na parede, assustada.

FADE OUT

FADE IN

CENA 17 MANSÃO DE CIPRIANO – PORÃO [INT. / TARDE]

Cipriano, ao lado de Aimée e de dois seguranças, caminha pelo corredor até chegar às portas.

CIPRIANO (irônico): O último lanche de vocês estava bom?

Os seguranças abrem, cada um, uma porta. Raíza sai de um lado; Dcr e Jaime de outro. Aimée abraça o pai, chorosa.

CIPRIANO: Chegou a hora de dizer adeus.

FORTE SUSPENSE.

CLOSES ALTERNADOS entre todos eles.

FADE OUT

FADE IN

Vista aérea da cidade em fim de tarde. Pouco movimento de carros, ruas estranhamente vazias.

CENA 18 RUA DA CIDADE [TARDE]

Estrada deserta e larga, cercada, dos dois lados, de um vasto campo verde. Valentina aparece em cena, de roupa de couro preta, olhando ao redor. Espalha tachinhas pelo chão. Três carros pretos, um deles sendo um camburão, podem ser vistos ao longe.

SAM: Eles estão vindo. Bora!

Sam e Valentina se escondem atrás de um caminhão de porte pesado. Os carros se aproximam e passam por cima das tachinhas.

CORTE DESCONTÍNUO

Os carros começam a perder força, até pararem. As portas se abrem. Cipriano e mais dois homens saem.

CIPRIANO: O que houve aqui?

SEGURANÇA #1: Os pneus foram perfurados, senhor.

CIPRIANO: Arrumem outro carro, imediatamente.

É quando Sam e Valentina (esta portando uma 38) surgem por ali.

VALENTINA: Parece com problemas, garotão?

Cipriano a olha de cima a baixo, põe as mãos nos bolsos da calça.

CIPRIANO: Ah, vocês...Muita ousadia das garotas me desafiarem. O que ainda querem?

VALENTINA: Ver os presos antes deles subirem ao cadafalso. Por que tão difícil?

Os seguranças tentam avançar, mas Cipriano faz um gesto para eles desistirem.

CIPRIANO: Acho que posso realizar o desejo dessa bela mulher.

O vilão vai até o camburão, faz um gesto para um segurança e este abre. Valentina e Sam se aproximam, ávidas, mas se assustam com o que veem.

O INTERIOR DO CAMBURÃO

Vazio

SAM: Mas cadê eles?

CIPRIANO: Gostaram da surpresa?

Valentina, com raiva, aponta a arma.

VALENTINA: Seu ditador de merda!

Mas Cipriano é mais rápido. ARREMESSA AS DUAS a metros dali.

As garotas rolam pela estrada. Sam se levanta e corre até Valentina. A garota está desacordada. Sam tenta reanimá-la, sem sucesso.

CIPRIANO: Vamos, rapazes!

Os homens entram nos carros.

INSERT – pneus

Nenhum sinal de tachinhas. Os pneus parecem como novos.

VOLTA À CENA

Os carros partem.

CORTA PARA

FACHADA DA IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA

JOSUÉ (O.S / VOZ ALTA E IMPONENTE): Deeeeeus, te usamos essa noite, Senhor! Vá em todo coração presente aqui nessa Igreja. Olha nessas vidas, Senhor!

CENA 19 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / FIM DE TARDE]

Josué, a frente do púlpito, com a bíblia na mão. Faz gestos performáticos, se exalta, animado. Enquanto a igreja lotada, todos com máxima atenção nele.

JOSUÉ: O que vai acontecer lá fora é uma barbárie, irmãos! O motivo não é nobre. Não há provas concretas, o que há é a liderança de um homem endemoniado. Pensem que o que ele tá fazendo é o mesmo que fizeram contra Jesus. Não vamos pecar novamente, não vamos condenar para não sermos condenados.

APLAUSOS.
Sônia mais atrás, tensa, com uma garrafinha d'água. Ela espia a garrafa, mas encara o pastor de costas, com certa coragem.

JOSUÉ: Quem ficar verá a desgraça sob comando do diabo, irmãos! Quem quer ver o mundo ser liderado pelo diabo? Vocês querem?

POVO (em uníssono): NÃO!

JOSUÉ: Então não devemos assistir, nem ouvir nada a respeito do que acontece lá fora. Não vamos dar audiência para satanás. Aleluia, irmãos!

POVO (uníssono): ALELUIA!

Em Josué, confiante.

FADE OUT

FIM DO TERCEIRO ATO



QUARTO ATO

FADE IN

CENA 20 PRAÇA XV [INT. / FIM DE TARDE]

VISTA AÉREA de uma multidão cercando o cadafalso. O helicóptero dá uma rasante pela CAM.

CORTA PARA o interior do helicóptero, onde um repórter, ao lado do piloto, entrega as últimas notícias.

REPÓRTER #1: A concentração na Praça Quinze é muito forte e a maioria, indignada, pede a liberdade dos condenados. Sabe-se que somente o perdão poderia livrá-los da morte, mas Zacarta já declarou que esse caso é livre de qualquer perdão.

Corta para o meio do povo, grande tensão. Cartazes com inscrições variadas: “#FORADITADOR” - “SALVEM O BRASIL DESSA INJUSTIÇA!” - “A DITADURA É O MELHOR PARA O PAÍS SIM!” - “NÃO APOIO ASSASSINOS!”

Uma repórter diante da CAM.

REPÓRTER #2: O tumulto aqui é muito grande e os condenados dividem a opinião pública. Já houve ameaça de guerra, não importando que lado vencerá. A polícia militar já avisou que vai intervir, não poupando bala para proteger o líder do país.

CAM TRAVELLING pelo cenário, nas expressões de raiva e animação do povo, até alcançar a base do cadafalso. CAM SOBE e enquadra apenas Cipriano, em sua tradicional capa preta, imponente.

CIPRIANO: É com muita honra que declaro o fim de uma história de inglórias e incertezas, as quais muitos, iludidos por um enredo fantástico, estavam submetidos.

Nos olhares atentos do povo. Aimée, Sam, Ana, Lila, Roger e Marco assistindo, apreensivos.

CIPRIANO (cont.): Não precisamos de heróis que matam, dissimulam, que fogem e que têm consciência do mal que atingirá um cidadão, mas nada fazem para impedir. O que vocês precisam é de regras e aquele que não segue minhas regras, não serve para continuar entre nós. (abre o braço em direção a alguém) Portanto, eu, Cipriano Zacarta, os condeno à morte.

Ao seu lado, em clima de suspense, são mostrados Jaime, Dcr e Raíza. Todos de pé, já com a corda no pescoço, mãos voltadas para trás e cercados por policiais militares. CLOSE em Dcr e Raíza, esperando pelo pior.

MULHER #2: CADÊ AS PROVAS CONTRA ELES? JÁ ACABOU COM A NOSSA INTERNET, AGORA QUER MATAR TODO MUNDO?

CIPRIANO: Eu não tenho a intenção de matar todo mundo, senhora. Mas gostei da sua sugestão.

MULHER #3: SEU DITADOR DE MERDA!

Cipriano faz apenas um GESTO e a mulher é arremessada por cima do povo. TODOS se assustam. A mulher cai no chão segurando o próprio pescoço com afinco. As pessoas tentam ajudá-la, mas a mulher agoniza, desesperada. Até que morre.

CIPRIANO: Alguém mais quer questionar?

Até mesmo os que seguram cartazes com os dizeres “NÃO APOIO ASSASSINOS” e “A DITADURA É O MELHOR PARA O PAÍS SIM!” se mostram espantados.

Cipriano encara os condenados.

CIPRIANO: Vamos dar continuidade.

Neles.

CENA 21 HOSPITAL CENTRAL – CORREDOR [INT. / FIM DE TARDE]

Cael anda apressadamente, preocupado. Se aproxima de uma porta, abre e entra no

QUARTO

Onde dá de cara com Beto, com uma faixa no pescoço, se preparando para sair da cama.

CAEL: Beto! O que aconteceu?

BETO: Foi ele, Cael. Josué descobriu tudo e quase rasgou minha garganta. Se não fosse o meu colega usar o elevador…

CAEL: Meu Deus, a Sônia!

BETO: Eu acho bom a gente se preparar para o pior, amigo.

Em Cael, apreensivo.

CENA 22 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / FIM DE TARDE]

Josué segura a garrafa d'água, já pela metade.

JOSUÉ: Queremos mostrar para Deus que a morte de Jesus não foi em vão. (bebe mais água sob o olhar de Sônia) Ele quer que estejamos ao seu lado porque só assim combateremos o mal. Somos fracos longe dele. Mas somos poderosos em sua presença. (para Sônia) Por favor, irmã, o chá da libertação.

Sônia paralisa, fica sem ação.

JOSUÉ: O chá da libertação, irmã.

Josué, discretamente, mostra um revólver em sua cintura. Sônia acata e some dentro de uma saleta.

JOSUÉ: É chegada a hora de termos paz.

Sônia retorna com a garrafa térmica e um saco cheio de copos plásticos.

JOSUÉ: Distribua, irmã.

Sônia treme, mal consegue manter a garrafa na mão. Josué se irrita, mas finge paciência.

JOSUÉ: Deixa eu ajudar.

Sônia larga tudo em suas mãos, se afasta, com medo. Josué apanha um copo e despeja o chá. Em seguida, entrega para um fiel.

JOSUÉ: Por favor, peço que espere até que todos possam beber juntos, ok?

Em Sônia, aflita.

CORTE DESCONTÍNUO

Todos os fiéis já estão com seus copos cheios. Josué, diante do púlpito, também segura o mesmo copo, mas se mostra estranho. Pisca os olhos, parece disperso por instantes. Começa a rir.

JOSUÉ (discreto para Sônia): Olha pra isso. Todos concordando comigo.

Sônia observa-o, respiração ofegante, expressão de quem vai se explodir.

SÔNIA: Você é um monstro...VOCÊ É UM MONSTRO!

TODOS sem entender. Josué fecha o sorriso.

JOSUÉ: Que isso, irmã?

SÔNIA: SEU ASSASSINO! (vai adiante do púlpito) ELE MATOU O MEU IRMÃO, O MEU IRMÃO! (para Josué) SEU ASSASSINO!

JOSUÉ: Deu a louca em você, é isso? Pare já com isso, Sônia.

SÔNIA: NÃO TOMEM ESSE CHÁ! NÃO TOMEM!

Sônia, enlouquecida, derruba os copos de algumas pessoas.

SÔNIA: ESSE CHÁ É VENENO! (grande susto do povo) ELE QUER MATAR TODOS VOCÊS E CULPAR O DITADOR! ELE TÁ LOUCO!

Josué tenta arrancar a beata dali.

JOSUÉ: O que deu em você, irmã? Por favor, vá descansar /

SÔNIA: Eu não saio daqui até que todos eles saiam também. Você nunca deixou de ser um assassino. Você matou o meu irmão, a pessoa que acreditou em sua mudança.

Josué, ouvindo tudo aquilo, olhar disperso. Riso frouxo.

JOSUÉ: Porque ele era um idiota (espanto nos demais). Ele acreditava que eu tava curado. (encara o povo / gesticula) Curado de quê? CURADO DE QUÊ, MEU DEUS? Eu nunca estive doente! (Tempo / gargalha)

GABRIEL: O senhor não está bem. Eu não posso ter me enganado tanto.

JOSUÉ: Pode sim, você é outro idiota. Vocês são todos um bando de idiotas! Aprovaram a inquisição, aprovaram a morte dos heróis de brinquedo e agora, só porque ficaram sem a porra da internet vocês concordam que isso tudo é uma barbárie? Bando de hipócritas! HIPÓCRITAS!

Nos olhares de medo do povo. CAM BUSCA um homem, bem ao fundo da igreja, mandando uma mensagem pelo celular.

CENA 23 PRAÇA XV [INT. / FIM DE TARDE]

Raíza, Dcr e Jaime no alto do cadafalso. Muita balburdia por ali, grande expectativa no rosto de cada pessoa. Cipriano segurando no braço de Lila, nitidamente nervosa.

CIPRIANO: Olhem só para isso! A jornalista mais idônea da cidade é também uma criminosa. Forjou a própria morte para que todos acreditassem que a intenção era calar a mídia. Olhem para eles!(aponta para cada condenado) Pessoas que dividem opiniões são as mesmas que destroem vidas. Raíza, descoberta como vidente, não fez nada para evitar a guerra que culminou na morte de Israel Sobral. O que esperar de alguém que nem salvar o pai conseguiu? (em Raíza, pensativa, sem prestar atenção no que ele diz) O primo, João Batista, morto a metros de onde ela estava.

DCR: Durante o seu golpe de estado.

Cipriano lhe dá uma olhada, ajeita o anel na mão direita. É quando acerta um TAPA no garoto. Dcr sente a dor, sem poder limpar a ferida no rosto.

Cipriano solta Lila e vai até Raíza, observa-a quieta. Toca seu queixo.

CIPRIANO: Finalmente o seu dia chegou. No tempo certo. Obrigado por colaborar, nobre colega. Mande um abraço para o seu pai.

RAÍZA (balbucia): Fogo…

CIPRIANO: O quê?

DIANTE DELA, FLASHES RÁPIDOS DE IMAGENS DE UM LOCAL PEGANDO FOGO

RAÍZA: Fogo...EU VEJO FOGO!

As pessoas não entendem. Cipriano faz sinal para um policial.

CIPRIANO: Prossiga.

No meio do povo, Marco está indignado. Já põe a mão por dentro do paletó, prestes a apanhar sua arma. Sam o detém e sai empurrando o povo, sobe ao cadafalso, mas é impedida por um policial.

SAM (impetuosa): Deixa ela falar. Que papo é esse de fogo?

CIPRIANO: Tirem-na daqui!

RAÍZA (aflita): A IGREJA VAI PEGAR FOGO! A IGREJA TÁ CHEIA, FAÇAM ALGUMA COISA!

Povo se exalta, ninguém sabe o que fazer.
Cipriano faz sinal discreto para os policiais e um deles suspende Raíza no banco. Só que ela, nervosa, chuta o banco, resiste. Cipriano saca uma ARMA de dentro do seu sobretudo e aponta para a sua cabeça.

CIPRIANO: Não vejo problema em matá-la com um tiro, se é o que deseja.

Raíza encara o cano da arma.
CAM SUBJETIVA apanha o povo, tenso. Em Marco, desesperado. Dcr olhando para as mãos do ditador, sem poder fazer nada.

HOMEM #3 (O.S): PAREM! PAREM! O PASTOR ENLOUQUECEU! O PASTOR ENLOUQUECEU!

TODOS olham para um sujeito branco, de uns 25 anos, levantando as mãos, assustado.

HOMEM #3: Por favor, meu avô acabou de me mandar um sms. O pastor Josué prendeu todos na igreja e ameaçou matá-los! (T) Façam alguma coisa!

As pessoas começam a se dispersar. Cipriano se frustra, nitidamente com raiva. Até a polícia militar segue o povo.

Um TIRO assusta Cipriano. A corda em que está Raíza é arrebentada. Marco aponta para a corda de Dcr e acerta em cheio outro TIRO.

CIPRIANO: Vocês não vão escapar. NÃO VÃO ESCAPAR!

Raíza ESBOFETEIA o vilão, levando-o ao chão. Sam desamarra Jaime ao lado de Aimée. Marco ajuda Raíza a descer do cadafalso.

RAÍZA: Vamos! Sam, temos que ir agora!

Marco segura forte em sua mão.

MARCO: Onde pensa que vai?

RAÍZA: Eu preciso fazer isso.

Marco ainda a contém.

RAÍZA: Me espera?

Marco não sabe o que dizer. A garota beija-o na boca, olha-o intensamente.
As mãos dela soltam das dele. Marco vê Raíza, Dcr, Sam e Lila ganharem distância junto do povo.

CENA 24 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / FIM DE TARDE]

Josué segurando Sônia pelo pescoço; povo tenta avançar sobre a porta, mas está trancada. BATIDAS do outro lado, podemos ouvir a balburdia. Josué saca uma arma da cintura e ATIRA para o alto.
TODOS se assustam.

JOSUÉ: Ninguém tenta fazer gracinha ou ela morre.

Gabriel volta, indignado.

GABRIEL: Você não pode nos manter aqui por muito tempo. A polícia já já invade isso aqui.

JOSUÉ: O senhor tá com pressa de me deixar, Gabriel? (Ele faz que sim) Quer mesmo sair daqui de qualquer maneira? (em Gabriel, já recuando) Então você vai sair.

Josué aponta a arma e ATIRA de contra o peito do homem. GRITOS DE PÂNICO. Gabriel escora na parede, sangrando, até cair morto.

POVO: Você é um monstro! - Assassino! - Demônio!

Josué põe o cano da arma rente à boca em sinal de silêncio.

JOSUÉ: Vocês estão na Casa de Deus. Ou se comportem, ou a garota morre.

VOZ FEMININA: Larga a garota!

O povo abre espaço e nos revela Raíza, Dcr, Sam e Lila, próximos à porta trancada.

RAÍZA: O seu problema é comigo.

JOSUÉ: Como é que vocês entraram? (arregala os olhos) Tão vendo isso, povaréu? Eles é que são os demônios! Não há porta fechada pra esse tipo de gente.

Raíza, Dcr e Sam se aproximam, mas Josué recua e aponta a arma.

JOSUÉ: Pra trás! Pra trás!

Dcr não se intimida e se põe diante do pastor que, imediatamente mira a arma bem no meio da sua testa.

JOSUÉ: Cadê a sua capa de aço, moleque?

Ambos se encaram, fortemente.

DCR: Hoje eu vim sem.

Dcr desvia o braço do pastor e a arma DISPARA para o alto. PÂNICO. Sônia se desequilibra e cai, mas Sam e Lila a amparam rapidamente.

SAM: VAMOS! PROS FUNDOS! PROS FUNDOS! Lá tem uma chave reserva, rápido!

O povo se debanda, enquanto Dcr mede força com Josué.

CORTA RÁPIDO PARA

CENA 25 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / FIM DE TARDE]

Tumulto na porta da igreja. Marco, Ana e Roger ao lado de Cael, Beto e Alexandre. A imprensa marcando em cima.

REPÓRTER #1: O julgamento dos três condenados ao cadafalso foi interrompido pela ameaça do pastor Josué aos fiéis da igreja. Consta que, neste momento, cerca de cinquenta pessoas estejam lá dentro.

MARCO: Eu não vou ficar aqui. Eu preciso fazer alguma coisa.

É quando os fiéis apontam de um lado da igreja, correndo. Cael avista Sônia e corre para abraçá-la. O abraço é longo, Sônia chora.

SÔNIA: Ele vai matá-los, Cael. Ele vai fazer uma desgraça.

CAEL: Não, ele não vai. Vai dar tudo certo.

A polícia acaba de voltar dos fundos, frustrada.

POLÍCIA: A porta está trancada. Como vocês conseguiram sair?

Sam e Lila encaram Marco sem entender.

SAM: Talvez o Josué tenha conseguido trancar e...(murmura / tensa) Isso significa…

A polícia nem dá ouvidos e segue em direção à porta principal.

POLICIAL: Vamos arrombar a porta.

Cael puxa Sônia pela mão e interpela o policial.

CAEL: Não faça isso! Há gente inocente lá dentro.

POLICIAL: Mas todos os inocentes não saíram? Quem mais está lá dentro?

Cael dá uma olhada para Sônia e observa Lila com Roger, mas nem sinal de Marco.

CENA 26 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]

Corta imediatamente para Josué empurrando Dcr com um chute na barriga. Dcr vai pra trás, quase cai sobre o banco, tenta se erguer, mas o pastor se prepara para atirar.

RAÍZA: Por favor, não faça isso!

JOSUÉ (ignora / para Dcr): A única semelhança que você tem com super-heróis é o seu passado trágico, (engatilha) porque até hoje eu nunca vi super-heróis morrerem.

MARCO (O.S): Nem vilões se darem bem.

Raíza se espanta ao vê-lo armado ao lado de Sam.

RAÍZA: Marco, você não tinha que tá aqui.

Marco vem caminhando, com a arma apontada para Josué. Põe a mão por trás da cintura e saca um revólver.

MARCO: Eu não ia deixá-la aqui com esse insano, minha querida.

E entrega a arma a Dcr.

JOSUÉ: Olha eles! Isso daria até um belo enredo pra uma novela, vejam: (tom teatral) Grandes inimigos do passado se unem para derrotar um homem de Deus. Amor, ódio, sangue, tiro, porrada e bomba na sua mais nova trama das nove.

Gargalha.

JOSUÉ: Vocês percebem? Isso daria um novelão de parar o Brasil, até porque seria inédito todos os mocinhos serem assassinados no último capítulo.

RAÍZA: E depois da nossa morte? O que fará? (Josué para de ri, encara a sobrinha) Vai sair vivo daqui, ser ovacionado por um público imaginário e começar tudo de novo? Vai planejar novas mortes a fim de conseguir poder?

JOSUÉ: Qual o problema de desejar poder? Eu não vejo nenhum. Se não fosse pela Ari nada disso estaria acontecendo /

RAÍZA: Com ou sem a Ari o senhor teria matado o meu pai de qualquer maneira! (T) O senhor teria matado todos de qualquer maneira. Como posso sentir ódio de alguém que sente ódio de si mesmo pela infância dolorosa que teve, pela juventude que perdeu? (lacrimeja) Eu não consigo nem mais odiá-lo. (sofre / uma lágrima escorre) Eu te perdoo.

Dcr cobre a boca, emocionado. Um VIOLENTO BARULHO assusta a todos.

JANELAS DO ALTO DA PAREDE SE QUEBRAM. O candelabro balança fortemente.

Eis que Cipriano SALTA do alto do segundo piso e cai de pé, firme. Forte clima.

CIPRIANO: Como assim você perdoa a pessoa que assassinou seu pai a golpes de faca? (se aproxima, com ódio) Você consegue ouvir o som do tórax dele sendo cortado? (Raíza fecha os olhos, sofrida) O sangue espirrando para todos os lados? VOCÊ CONSEGUE?

JOSUÉ: Parece que tem alguém aqui com raivinha. O clima lá no cadafalso esfriou, foi? (ri)

Cipriano lhe dá uma olhada mortal.

CORTA PARA

CENA 27 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / NOITE]

Onde o povo se mostra muito preocupado. Muitos carros de polícia. Forte concentração da imprensa.

CENA 28 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]

PLANO GERAL

Sam está mais afastada, próxima do púlpito; Marco aponta a arma para Josué
que aponta para Dcr
que aponta para Cipriano.

Cipriano encarando Dcr.

CIPRIANO: E você? Também perdoa quem jogou sua esposa do alto de um prédio, grávida? (Dcr esboça angústia / Cipriano maltrata) A Ari agonizou até a morte, não é? Morreu cega e perturbada. Quanta injustiça pra quem passou a vida fugindo do hospício.

DCR (segura o revólver, firme): CALA ESSA BOCA!

CIPRIANO: Vamos! Atira! Mostre que você tem sangue nas veias.

RAÍZA: Não faça isso, Dcr! A humanidade não precisa pagar pelas nossas perdas.

CIPRIANO: Grande balela! A sua esposa morreu de forma covarde! (para Raíza) O seu pai morreu de forma covarde! E vocês perdoam esse assassino?

DCR e RAÍZA (uníssono): EU PERDOO!

BAQUE em Cipriano. Josué não acredita.

RAÍZA: Eu também te perdoo, Cipriano.

CIPRIANO (explode): NÃO! Eu não quero o seu perdão, ouviu bem? (pausadamente) Eu não preciso do seu perdão!

O CANDELABRO, com velas acesas, DESPENCA e cai bem no meio deles. GRANDE ESTOURO. O fogo se alastra pelo tapete.

É a brecha para Cipriano avançar sobre Josué e tenta mirar sua arma na direção de Raíza. Marco chega na frente e ATIRA em Josué, que dispara contra seu ombro. Marco vai ao chão, reclamando de dor. O ombro SANGRA. Raíza se desespera.

Josué e Cipriano medem força.

CIPRIANO: Você tem que morrer, seu desgraçado! Isso só está acontecendo por sua culpa!

JOSUÉ: Você já não é de nada!

Cipriano, segurando a mão do pastor, está quase mirando a arma de contra Josué.

CIPRIANO: Você vai morrer pelas suas próprias mãos!

Dcr, apontando sua arma, indeciso. Até que ATIRA contra o braço de Cipriano. Josué tem tempo de se voltar, esboçando vitória e aponta para o vilão e para Dcr, sem saber quem matar primeiro.

JOSUÉ: Acho que vou eliminar o herói de brinquedo.

No meio do fogo já se alastrando para o púlpito, Raíza se vê cercada, mas acaba pulando em cima dos bancos e SALTA sobre Josué. Ambos caem, mas o pastor é ágil, aponta a arma ao léu e ACERTA UM TIRO no peito de Sam.
GRITO de Raíza, apavorada. Sam cambaleia. Vai ao chão, muito afastada de Marco.

JOSUÉ: Cretina, ficou na frente.

Josué se levanta e se prepara para dar um fim em Marco.

JOSUÉ: Você foi um péssimo aliado.

MARCO: Você foi péssimo em tudo.

Ambos ATIRAM ao mesmo tempo. Marco é atingido no tórax, mas consegue devolver três tiros contra o peito do pastor. O cara ainda resiste, sorri debochado, até cair no chão. Raíza o ampara.

JOSUÉ (agoniza): Você vai ficar me devendo essa, hein. (ri) O cara que tanto te perseguia vai morrer. Mais um que eu tiro do seu caminho. Não me agradeça.

Josué ri, até que o sorriso se esvai e seus olhos paralisam. Josué está MORTO.
Raíza sofre, mas não tem muito tempo para chorar. Um BARULHO forte a assusta.
Trata-se do púlpito que acabou de cair. O fogo já tomou conta da cortina, já atinge grande área.

Raíza mexe no bolso da calça de Josué e apanha o molho de chaves. Depois pula em cima dos bancos e salta de volta para onde Sam e Marco estão.

RAÍZA: Vamos sair daqui. Sam, você consegue? Cadê o Dcr?

Corta para o alto do 2º piso, onde Dcr confronta Cipriano, este tentando abrir uma porta.

DCR: O bruxo ficou sem poderes?

CIPRIANO: E você? Tem algum? Porque, caso contrário, vai ser capa dos jornais como o herói em chamas.

Neles.

CENA 29 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / NOITE]

Sinais de fumaça saindo da igreja. Povo assustado. Roger filmando tudo. Lila junta as mãos próximas a boca em sinal de oração. A polícia já se prepara para invadir.

CENA 30 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]

Em Dcr e Cipriano.

CIPRIANO: Eu não tinha nada contra você, garoto, até você se meter a justiceiro. Percebe que você comprou uma briga que não era sua?

DCR: A Raíza é minha amiga, mas se isso não é o bastante pra você, posso lembrá-lo que você tem culpa em metade de tudo que já aconteceu. Inclusive, na morte da minha tia e a do João. Ainda acha que esta briga também não é minha?

CIPRIANO: Contribui para tirar da sua vida um pesadelo e o seu rival. Engraçado que você perdoou Marco, aquele que quase te matou; perdoou Rafaela, a sua amiga traidora, e perdoou Josué, o assassino de sua esposa. Mas sou eu o grande pecador da história! Se eu morrer viro santo?

Dcr agarra-o pelo colarinho.

DCR: Você é a raiz de todo esse mal! Com a sua morte, a humanidade estará a salvo.

CIPRIANO: A humanidade nunca estará a salvo, porque o mal sempre acaba prevalecendo. SEMPRE!

E empurra Dcr de contra a marquise e medem força novamente. Cipriano segura seu pulso, no qual Dcr mantém a arma.

CAM SUBJETIVA no primeiro andar, onde as chamas já tomam conta de boa parte. Raíza segura na mão de Marco e tenta alcançar o braço de Sam, sem sucesso.

VOLTA EM DCR que acaba deixando a arma escapar. Sem fraquejar, ele empurra o vilão e ambos rolam pela marquise, mas esta começa a inclinar. Dcr tem uma vantagem e, mesmo de costas ao léu, empurra Cipriano de contra a parede. O vilão lhe acerta um SOCO. Acerta mais um. E quando o empurra violentamente, Dcr segura-o pelo sobretudo.

[efeito câmera lenta]

Dcr se agacha, e Cipriano voa em direção às chamas. Gritos dele. Dcr se desequilibra, parte da marquise despenca e o garoto fica dependurado.
Cipriano CAI de costas sobre o candelabro.

[fim do efeito câmera lenta]

Ainda de olhos abertos, o vilão, através das chamas, olha para

RAÍZA, do outro lado

E morre.

RAÍZA: Dcr! Você consegue vir pra cá? A Sam não vai conseguir nos levar daqui junto do Marco.

Marco levanta a mão para ela.

MARCO (arqueja): Salve-se, Raíza. Depois de tudo, não vai querer morrer comigo, não é?

Raíza toca seu rosto, carinhosa.

RAÍZA: Depois de tudo, não quero mais perder ninguém que eu amo.

E ambos se beijam.

Dcr tenta saltar, mas tem dificuldade.

DCR: Raíza, a igreja vai desabar!

SAM: Não dará tempo dele vir até aqui, Raíza. A gente não tem mais jeito.

Raíza chora.

RAÍZA: Eu perdoei meus maiores inimigos pra isso?

MARCO: Não. Você perdoou para salvar a humanidade. Você é uma heroína. Vá, minha querida.

= = TOCANDO: Up in Flames – Sam Tinnezs & Maggie Eckford = =

Parte do teto DESABA sobre as cadeiras.

CORTA PARA

CENA 31 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / NOITE]

PLANO GERAL - Janelas se ESTILHAÇAM, o fogo tomando conta de tudo.

[efeito câmera lenta]

A multidão em polvorosa. O corpo de bombeiros chegando.
Muito pânico e incerteza por ali.

VISTA AÉREA

A igreja em chamas, uma vista assustadora. CAM dá um giro pelo local, ruas tomadas pela população. Flashes de fotos sendo tiradas, engarrafamento de carros. Um caos.
Até alcançar novamente os rostos de cada um. Cael abraçado a Sônia; Roger retira a atenção do foco da câmera e seus olhos refletem o fogo; Lila já chora, precipitadamente; Beto, Alexandre e Ana, tensos.

CORTA PARA

O INTERIOR DA IGREJA

Onde Sam se arrasta pelo chão, não se aguentando de dor. Suas mãos quase alcançando Marco, já desfalecido. Grande suspense. Sam se esforça, sem esperança.

CORTA PARA

O EXTERIOR DA IGREJA

Que vai desabando por completo, a tempo de Dcr e Raíza SAÍREM correndo, de mãos dadas. A multidão vai a loucura, aplaudem e cercam os heróis da noite. Lila abraça Dcr; Cael corre até Raíza, mas ela o encara, esboçando lamento. Ambos se abraçam, chorosos.

[fim do efeito câmera lenta]

CAM ganhando distância, bombeiros fazendo seu trabalho.
Cena se estende até ser visto num ÂNGULO ALTO e a música terminar.

FADE OUT

FIM DO QUARTO ATO



ATO FINAL

FADE IN

Takes da cidade ao amanhecer. Cadafalso derrubado; ruas sujas de cinzas e a igreja queimada. Tudo o que restou da fatídica noite anterior.

Os jornais nas bancas ganham atenção do público com as suas manchetes, alternando para telas de smartphones:

Igreja pega fogo e Zacarta morre!”

Pastor Josué faz fiéis de reféns e incendeia igreja: 4 mortos”

De ex-condenados ao cadafalso a heróis da cidade: Raíza e Danilo salvaram fiéis das mãos de pastor surtado.”

Jornal americano aponta Raíza e Danilo como anti-heróis que derrubaram o líder do país”

Corta para a FACHADA do HOSPITAL CENTRAL /

CENA 32 HOSPITAL CENTRAL – QUARTO [INT. / MANHÃ]

= = Legenda: dois dias depois = =

Corta para um homem engravatado, segurando uma pasta.

HOMEM #4: A Coffee Break perdeu um dos melhores administradores que eu já vi. Transformou um simples bar em algo rentável. Sentirei falta.

CAM vai em Marco, deitado na cama e com faixas no peito e no ombro. Ele assina um documento.

MARCO: Não diga isso, meu caro. A Coffee Break estará em ótimas mãos.

Eles sorriem, diante de Raíza, Dcr, Cael e Sônia. Marco entrega o documento para o homem.

CAEL: O que fará agora?

Marco pega na mão de Raíza, romântico.

MARCO: Eu e Raíza iremos nos casar em Veneza. Depois penso em qual negócio ilícito vamos abrir por lá.

Todos riem.

CAEL: Não brinca. Você recebeu uma segunda chance. Não desperdice essa benção.

MARCO: A sua convivência com a Sônia não anda lhe fazendo bem, caro irmão. Eu ouvi “benção”? (Riso geral) Não se preocupe. Sam salvou minha vida e eu serei eternamente grato. Uma pena que ela não tenha resistido.

RAÍZA: Vamos sentir muita falta dela.

SÔNIA: E o livro de Lila? Será lançado hoje?

CAEL: Já estamos todos preparados.

CENA 33 CURTO-CIRCUITO [INT. / TARDE]

CLOSE num display no qual aparece a imagem de Dcr com roupas antigas, mas armado com um revólver, enquanto as chamas tentam alcançá-lo. Acima, a placa “LANÇAMENTO”; abaixo, o nome “Nilo – Na Inquisição dos Novos Tempos”.

CAM adentra o ambiente lotado e os fotógrafos tiram fotos diante de nós, alvoroçados.

ROGER: Eles chegaram!

Raíza e Dcr são cercados pela imprensa.

JORNALISTA #1: Conte pra nós, Nilo: o que de fato aconteceu na igreja? É verdade o que dizem? Vocês mataram Zacarta e o pastor Josué?

JORNALISTA #2: Raíza, como se sente após salvar as pessoas que um dia te julgaram?

JORNALISTA #3: Vocês já sabem quem vai interpretar o Nilo nos cinemas?

RAÍZA: Só tem um lugar no qual vocês podem conseguir todas essas respostas. (suspense) Lendo o novo livro de Lila Machado.

Todos riem. Eles chegam até a mesa onde Lila autografa o livro.

LILA: Como se sente recuperando a boa fama?

DCR: Acredita que to até feliz?

Ambos sorriem. Lila dá seu autógrafo e entrega a Dcr. Este abre, revelando o prólogo:

De fato, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão”. Infelizmente, as palavras de Jesus sempre foram mal interpretadas, não se sabe se por ignorância, ou por conveniência. Matam-se em nome de Deus; julgam-se uns aos outros, e no final, ninguém quer perdoar seu inimigo. Com exceção de duas pessoas. A história que vou contar agora aconteceu de verdade.

- Lila Machado

Para a pessoa que transformou o meu jeito de escrever, de contar histórias. Para essa pessoa que me permitiu chegar o mais perto de um justiceiro. Você é meu herói, Danilo!”

Dcr, emocionado, contorna a mesa. Lila se levanta e ambos se beijam. Aplausos.

LILA: Agora é a vez da nossa heroína.

RAÍZA: Já quero deixar claro que eu nem sei o que ela vai escrever, hein.

RISOS.
Lila autografa outro livro e entrega a Raíza.

RAÍZA (lendo):Para quem me inspira, para quem não desistiu de todos nós. Obrigada, Raíza!”.

APLAUSOS. Todos abrem caminho para Cael, Sônia, Jaime e Aimée.

JAIME: Realmente, vocês não desistiram de todos nós. Nada que eu fizer será o suficiente para agradecer o apoio a minha filha e a nação inteira. Eu fico feliz por vocês existirem.

E Jaime envolve Raíza e Dcr com um abraço. Aimée faz o mesmo.

JAIME: Quero pedir que cancele qualquer compromisso pra hoje. Tenho um pronunciamento a fazer e preciso de vocês dois. Hoje à tarde. Na Praça Quinze.

Nos olhares de todos, apreensivos.

CENA 34 PRAÇA QUINZE [INT. / TARDE]

A multidão afoita. Cochicham entre si. CAM BUSCA um palanque no qual estão Jaime, quatro policiais militares, Raíza e Dcr.

JAIME: Sei que este seria um lugar que ficaria marcado por muito tempo, por todas as atrocidades nela cometidas. Por isso, escolhi a Praça Quinze. Porque quero desfazer essa imagem de violência através de duas pessoas por quem tenho imenso orgulho de condecorar.

APLAUSOS.
Jaime pega duas medalhas e coloca
uma no pescoço de Dcr.

JAIME: Nilo Rodrigues, o herói de Lila Machado, enfim, é real. Ninguém duvidava, né?

TODOS RIEM.
É a vez de Raíza receber a medalha.

JAIME: Eu, em nome de toda a nação, agradeço a coragem e a bondade com que agiram perante os obstáculos. Vocês nunca serão esquecidos.

Jaime aplaude, seguido de todas as pessoas. Forte emoção em Dcr e Raíza, que cruzam as mãos.
P
LANO GERAL – A multidão aplaudindo os ex-condenados.

CENA 35 FACHADA - COFFEE BREAK [EXT. / TARDE]

Um carro preto estacionado. Tudo muito calmo por ali.

CORTA PARA

CENA 36 COFFEE BREAK [INT. / TARDE]

O mesmo homem da CENA 32, munido de um documento, estranha o local sem movimento. As cadeiras suspensas, TV ligada no noticiário, mesas bagunçadas.

VOZ FEMININA (ríspida): To te conhecendo!

O homem vê Valentina, cara de poucos amigos, com uma faixa no ombro.

VALENTINA: Você é o advogado do diabo. Se veio tomar alguma coisa, perceba que eu não abri porque o dono tá no hospital, ok? E como ele se julga único dono, soberano, divo daqui, eu não abro e nem saio, tá ouvindo?

HOMEM #4: Ok, Valentina. Só peço que assine esse documento.

VALENTINA (alterada): É pra eu me abdicar do negócio? Como pode defender essa sujeirada? (pensa / arranca o papel das mãos dele) Deixa eu ver se ele colocou o preço aqui, porque vender o Café comigo dentro tem que valer pelo menos...(ela encara o advogado, sem acreditar) O donatário declara que aceita o imóvel doado pelo DOADOR, livre de qualquer condição, conforme estipulado no presente contrato”.

O advogado mostra uma caneta.

HOMEM #4: Tem caneta?

Valentina não sabe se chora ou se sorrir.

VALENTINA: Eu sou dona da Coffee? Ele fez isso por mim? Por mim?

A garota abraça o advogado, gritando e pulando de alegria. Tasca-lhe um beijo na boca, deixando o cara atordoado, e depois corre para o

EXTERIOR DO BAR

VALENTINA: EU SOU A NOVA DONA! OBRIGADA, MARCO! WOOOOW!

FADE OUT

FADE IN

CENA 37 AEROPORTO [INT. / MANHÃ]

= = Legenda: Semanas depois = =

CLOSE em dois carrinhos de malas sendo puxados. Cam revela Cael e Sônia, donos das malas, indo em direção a Marco, Raíza e Dcr.

MARCO: Enfim, todos juntos em um só rumo. Certeza, Danilo, que não quer nos acompanhar? Você e Lila merecem descanso.

CAEL: Eu acho que tem alguém aqui que não quer descansar a imagem.

Eles riem.

DCR: Mal recuperei minha reputação, não posso sair de cena assim. Ainda mais (põe a mão por dentro da camisa e revela um porta-retratos) depois disso.

O porta-retratos tem uma foto de jornal de Raíza e Dcr recebendo as medalhas de honra, ao lado do presidente Jaime. Acima, o seguinte título “Heróis ou Anti-heróis?”.

MARCO: Vê se não vai ficar metido, hein.

DCR: Vou tentar (ri). Na verdade, quero que Raíza leve com ela. (para Raíza) Tudo aquilo só foi possível por sua causa.

Raíza pega o porta-retratos e abraça Dcr. Depois desfaz, encara-o, emocionada.

RAÍZA: Só consegui porque você também estava lá.

Marco limpa os olhos, tentando disfarçar a emoção.

MARCO: E você, Cael? Pensa em abrir uma boate na Itália?

Cael meneia a cabeça.

CAEL: Ainda pensarei a respeito. Por enquanto, quero curtir essas férias. Já sabem que quem comprou a boate foi um milionário russo?

SÔNIA: E seu fã, Danilo.

DCR: Hmmm, fico feliz por você, Cael. Sentirei saudades da boate.

Ambos dão um tapinha no ombro de cada um e logo se abraçam. Sônia faz o mesmo. E logo todos se abraçam, Cael e Raíza, Marco e Dcr.

MARCO: Mandaremos cartão-postal. Ninguém faz mais isso, não é? Eu quero fazer.

Dcr segura na mão de Raíza.

DCR: Alguma previsão pra mim?

Raíza pensa um pouco, como se tivesse tendo uma visão.

RAÍZA: Só lembre que, geralmente, os fãs de anti-heróis também são fãs de vilões. E você é um justiceiro.

Dcr fica impressionado, mas logo a abraça novamente. Raíza, Marco, Cael e Sônia seguem em direção ao embarque.

Raíza ainda dá uma última olhada para trás. Em Dcr.

CENA 38 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [EXT. / MANHÃ]

Dcr passa pelas pessoas, que o cumprimentam. Alcança rapidamente a porta de entrada, quando /

VOZ MASCULINA: Nilo Rodrigues?

Dcr se volta e dá com um homem moreno claro, alto, 55 anos e simpático. Ele tem uma maleta preta de um lado e uma caderneta de outro.

HOMEM #5: Desculpe, mas...Será que poderia me dar um autógrafo?

Dcr, aturdido ainda, sorri, incrédulo.

DCR: Ahn...Claro!

O homem entrega a caderneta, pega, do bolso da camisa, uma caneta.

DCR: Qual o seu nome?

HOMEM #5: Ah, embora eu te admire muito, o autógrafo não é pra mim. Já soube que um milionário russo comprou a boate Curto-Circuito? Ele é fã de anti-heróis.

O sujeito sorri, amigo; Dcr pensa um pouco, mas logo devolve o sorriso, sacando tudo.

FADE TO BLACK



FIM DA SÉRIE

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