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ATO DE ABERTURA
FADE IN
= = FLASH-FORWARD = =
CENA 1 FLORESTA [INT. / NOITE]
Em Raíza, de costas, correndo pela mata. Com uma faca na mão suja de sangue, ela vai olhando para trás, tensa. Cai no chão, e quando se levanta
SUSTO
Raíza encarando a CAM, aflita, olha ao redor. Parece lembrar-se de algo.
RAÍZA: Por favor, se afaste da estrada. To te pedindo, se afaste da estrada! SE AFASTE DA ESTRADA!
Raíza leva a mão,
BUZINA RÁPIDA. UM BAQUE, UM GRITO
SANGUE jorra em Raíza. A garota, paralisada, olhando para algo fora da tela.
= = FIM DO FLASH-FORWARD = =
FADE TO BLACK
FADE IN
Fachada da Redação Carioca News / Manhã
CENA 2 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / MANHÃ]
Raíza, de costas para a porta principal, entretida com um colega de trabalho. Marco vem logo atrás, com um catálogo na mão.
MARCO: Londres, Veneza, Paris…
Raíza se volta para ele, Marco sorri.
MARCO: Onde desejas casar comigo, minha querida?
RAÍZA: Sem cabeça pra pensar nisso, Marco.
Raíza vai andando até uma mesa, onde se senta diante do computador.
MARCO: Veja nossa situação, Raíza: não tenho internet para pesquisar as viagens, tenho que depender dos catálogos e me arrastar até aqui, porque nem whatsapp a gente pode ter. A tua sorte é que você pode estar no inferno que lá estarei.
RAÍZA: Nós já estamos nele.
MARCO: Que pouco caso você faz do meu romantismo! Já está mais do que na hora da gente ir embora desse país, antes que nos tornemos exilados.
RAÍZA: Eu não posso ir embora, Marco! Olha quanta gente que já morreu, e ninguém vai pagar por isso? É minha missão vingar a morte do meu pai, da Ari e do João.
Marco desliga o monitor do PC e apoia as mãos na mesa.
MARCO: A sua missão seria perdoar seus inimigos, mas isso você não vai conseguir, não é? (Raíza respira fundo) Eu entendo a sua dor, minha querida, mas se você ficar vai acabar como seus parentes. Você sabe disso.
Nela.
CENA 3 APTº DE RAFAELA – SALA [INT. / MANHÃ]
Rafaela SAI do quarto ajeitando o rabo de cabelo. Tony atrás.
TONY: A gente podia vazar, hein, princesa. Esse maluco do Zacarta vai acabar prendendo todo mundo neste país. Nem essa porra de internet a gente tem mais!
RAFAELA: Você pensa pequeno, Tony. Depois que eu executar o meu plano, Cipriano vai me agradecer, isso sim. (ela esfrega a mão no rosto de Tony) E ainda me dará tudo que eu quero.
Tony segura sua mão, repreensivo.
TONY: Você tem certeza disso?
RAFAELA: Certeza eu só tenho da morte.
Tony, na expectativa. A garota ri.
RAFAELA: Claro que eu tenho certeza! Ou você acha que entregar a Lila de mão beijada pro ditador não é top? A gente vai pras cabeças, meu amor! Pras cabeças!
E tasca um beijo na boca de Tony, com cara de quem não leva muita fé.
FADE OUT
FIM DO ATO DE ABERTURA
4x13
TEORIA DO SACRIFÍCIO 2
PRIMEIRO ATO
FADE IN
CENA 4 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / MANHÃ]
Pelas costas, CAM acompanha Rafaela andando sem fazer barulho. Adiante, Sônia está de costas, limpando o púlpito. Rafaela chega bem perto.
RAFAELA: Búu!
Sônia leva um SUSTO.
Rafaela ri, retira os óculos escuros. Olha a beata de cima a baixo. Sônia não gosta.
SÔNIA: Eu acho que eu to te reconhecendo/
RAFAELA (por cima): Dos jornais, claro! Hoje eu vim sem saco de usar disfarce. Acho que não vou mais precisar. (espia ao redor) Aqui é sempre assim? Qualquer um entra?
SÔNIA: Aqui é a Casa de Deus.
RAFAELA: De Deus? (sobe até o púlpito e desliza a mão pelo móvel) Mas é o diabo quem comanda, né?
SÔNIA: Olha, eu sei que ele fez muita coisa errada, mas a morte do João mexeu muito com ele.
Rafaela põe a mão no peito, fingindo sentimento.
RAFAELA: Comigo também. Por isso que eu vim. Eu precisava contar a ele dos últimos momentos desse filho que ele tanto amava. Onde ele tá?
SÔNIA: Na feira. E deve demorar.
RAFAELA: Como é a convivência de vocês? Sabe que fico curiosa de saber como a beata sobrevive ao lado de um assassino? (se aproxima, quase sussurra) Ele já mostrou a faca pra senhora? Porque pro irmão já.
E gargalha diante de uma Sônia séria. Rafaela controla o riso.
RAFAELA: Desculpe, mas não podia perder a piada.
SÔNIA: Você não se toca não, garota? Não tem respeito pelas pessoas que já morreram? Como pode fazer piada disso?
RAFAELA: Ora, você permitiu que o Josué comandasse essa igreja! Piada maior do que essa nem tem.
SÔNIA (imponente): O meu irmão acreditava na recuperação dele, bem como muitos fiéis /
RAFAELA (corta): E morreu em bela hora, não? No auge da fé no irmão Josué. Aí, até rimou!
SÔNIA: O que você tá insinuando, garota?
RAFAELA: Nada. Só acho que por muito menos ele matou a Ari e o próprio irmão. Imagine então para comandar um bando de alienados que acredita que psicopata se regenera?
SÔNIA: Você tá completamente transtornada. Só não te expulso da igreja /
RAFAELA: Porque a igreja é a Casa de Deus. Eu sei, mas não se preocupe. (põe os óculos) Já to de saída. (dando as costas) Fica na paz, irmã!
Rafaela atravessa a tela, sorrindo. Sônia, ao fundo, pensativa.
CENA 5 MANSÃO DE CIPRIANO – ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]
Um homem abrindo a porta, Dcr entra na frente, encara Cipriano, sentado à mesa, de olhar astuto; Walter logo a frente. Aimée chega em seguida, apreensiva. O homem sai e bate a porta. Cipriano se levanta, prontamente.
CIPRIANO: Mas vejam só se não é a minha amada esposa de volta a sua casa! Eu sabia que você ia pensar melhor, meu nobre cavalheiro. Aceita um drink? Ou heróis não bebem?
DCR: A única coisa que queremos é que você liberte o Jaime.
Cipriano se servindo com uma vodca. Fecha a garrafa, a coloca sobre a mesa e apanha o copo. Bebe um gole, faz o pensativo.
CIPRIANO: Tem uma coisa errada na sua frase. Me trate como "senhor". Exijo respeito.
Aimée revira os olhos.
AIMÉE: Exige respeito, mas/
Dcr faz um gesto com a mão para contê-la.
DCR: O senhor irá libertar o Jaime?
CIPRIANO: Claro! Podemos marcar o dia e o horário para você mesmo buscá-lo. O que acha?
DCR: Era justamente o que eu ia propor.
Cipriano estende a mão.
CIPRIANO: É um prazer fazer acordo com você, Danilo.
Dcr desdenha do cumprimento. Olha para Aimée e a abraça. Cipriano faz cara feia.
DCR: Vai dar tudo certo, ok?
Aimée faz que sim, tensa. Dcr dá uma última olhada para todos e SAI.
Aimée e Cipriano trocam olhares. Ela, com medo; ele, firme.
Em Walter, ao fundo.
CORTE DESCONTÍNUO
Cipriano se volta, com um copo na mão. Aimée já não está mais ali.
CIPRIANO: Já sabe o que você tem que fazer, não é?
Ele contorna a mesa, ao mesmo tempo em que Walter é enquadrado pela CAM.
WALTER: Eu sei. Só não sei se é muito arriscado provocar esse garoto.
Cipriano dá um tapinha no ombro do amigo.
CIPRIANO: Não tenha medo, nobre amigo. Arriscado é me contrariar.
WALTER (preocupado): Claro...Ahn...E a Rafaela? Ela exigiu muita coisa?
CIPRIANO: Além de dinheiro? O cargo da nossa querida e ex-falecida Lila Machado que, infelizmente, será assassinada pelo próprio herói.
Cipriano ri, Walter engole a seco, mas sorri para disfarçar.
FADE OUT
FIM DO PRIMEIRO ATO
SEGUNDO ATO
FADE IN
CENA 7 CURTO-CIRCUITO – ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]
Cael entra rapidamente e Marco vem atrás, desconfiado. Fecha a porta.
MARCO: Confesso que fiquei curioso quando você me ligou. Disse que teria uma proposta para mim. Não pretende me chamar para sócio, não?
Cael já contornou a mesa, apanha uma maleta preta e abre.
CAEL: Eu não podia ser mais claro por telefone. Não sei até que ponto o ditador está invasivo. (ele mostra o frasco) Sabe o que é isso?
MARCO: A fórmula do amor?
Ele ri, mas Cael se mantém sério.
CAEL: Isso é o que provavelmente você bebeu e acabou revelando-se um apaixonado pela Raíza. Lembra?
Marco fecha a cara, pensa um pouco. Ri, debochado.
MARCO: A poção do Cipriano. Devia existir uma que fizesse o povo enxergar tanto ele quanto o pastor.
CAEL: E quem disse que não será essa poção? Lembrando que ela revela todo e qualquer sentimento da pessoa, independente de ser amor ou...Ódio.
MARCO: Eu posso saber como você conseguiu isso?
Cael faz suspense, sorri, dá de ombros.
CAEL: Faz algum tempo...Eu tinha esquecido até a Sônia descobrir aquele dvd. Ela voltou a dar um voto de confiança em Josué.
Marco, mãos nos bolsos da calça, respira fundo.
MARCO: Estraguei mais uma vez com a sua história romântica.
Cael se senta, põe o frasco sobre a mesa.
CAEL: A culpa foi minha. A verdade é que sempre fui um desastre nisso.
Marco faz que sim e Cael concorda.
MARCO: E agora você quer provar para a beata que Josué não presta e não vai prestar nunca, mas tem receio dela achar que você está apenas usando-a para desmascarar o pastor?
CAEL: Bem isso.
MARCO: Quer um conselho? Vai direto ao ponto. Diga que está preocupado com sua segurança. Não perca tempo com desculpas que ela não vai ouvir. Deixe para o final. Seja específico e...Caso necessário, toque o terror. (Cael se espanta) É, fale dos malefícios se ela continuar convivendo com Josué. Ela é inteligente, meu irmão. Se quer saber, acho que ela só voltou para casa porque é a casa dela, mas confiar no pastor...Não sei.
Cael se levanta, abismado, encarando Marco.
CAEL: Eu to recebendo conselho amoroso do meu irmão? (Marco sorri, faz charme / Cael dá um tapinha em seu ombro) Nunca pensei.
Ambos riem.
CORTA PARA
Fachada da Igreja Evangélica Mão Divina /
CENA 8 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA - BANHEIRO [INT. / MANHÃ]
Sônia lavando as mãos, depois molha o rosto. Encara o espelho, pensativa.
= = FLASHBACK = =
CENA EM QUE CAEL SEDUZ SÔNIA PARA TRAZÊ-LA PRO LADO DOS HERÓIS
CAEL: [...] A gente se engana muitas vezes, Sônia. Mas eu não quero mais me enganar.
Cael, discretamente, toca seu ombro, depois, com a outra mão, toca o queixo dela.
CAEL: E nem disposto a perder de novo.
Sônia treme, olhar de desejo. Até que Cael a beija na boca, Sônia corresponde.
= = FIM DO FLASHBACK = =
Sônia sorrindo, SAI do
BANHEIRO
Cael a pega pelo braço. GRANDE SUSTO.
SÔNIA: Cael?!
CAEL: Preciso que você me ouça antes que o Josué chegue.
CORTE DESCONTÍNUO
Cael e Sônia, dentro de uma SALETA, contendo uma estante com livros, mesa e cadeiras.
SÔNIA (arredia): Você tá preocupado comigo? Depois do que fez?
CAEL: Eu errei, mas vou errar muito mais se eu te deixar com esse pastor. Você sabe muito bem que ele não se converteu, não sabe?
SÔNIA: Ele perdeu o filho dele e /
Cael segura em seus ombros, Sônia reage.
CAEL: Ele matou o irmão, matou uma garota grávida, internou a sobrinha num hospício e nunca, nunca considerou João um filho. Mas se ele se arrependeu de verdade, não vai achar ruim caso você peça para ele ir embora, não é?
SÔNIA: Ir embora? Ele não vai entender.
CAEL: Eu gostaria de ouvir que você tem medo de mandá-lo embora e ele reagir mal. Acha que ele não ia gostar? Porque se for isso, eu vim te ajudar de verdade.
Sônia reluta, pensa, caminha pela saleta. Cael na expectativa.
SÔNIA: Eu to me lembrando de uma coisa que a Rafaela disse.
CAEL: A Rafaela? Ela costuma te perturbar?
SÔNIA: Não. Mas ela implica com o Josué, sabemos o porquê. Ela insinuou que ele matou o meu irmão para ficar no seu lugar. Isso...Isso seria terrível.
CAEL: Se for verdade, ele pode ter planejado isso há muito tempo. O que prova que ele não mudou.
SÔNIA: Espera! Eu não to considerando que seja verdade/
CAEL (por cima): Nem o contrário. Josué é um tipo perigoso e agora você não sabe como se livrar dele. Talvez eu saiba como, basta você dizer que aceita a minha ajuda. Você aceita?
Os dois se encarando. Suspense.
CAM BUSCA
Josué, à espreita da porta, chateado.
CORTA PARA
Takes da cidade /
CENA 9 ELEVADOR – PRÉDIO ONDE MORA RAFAELA [EXT. / TARDE]
Rafaela se aproxima da porta, abre e
ENTRA.
A porta quase fechando, quando Josué a abre, violentamente e entra. Rafaela, tensa. Josué aperta o botão com a letra “P”.
RAFAELA: O que você quer?
JOSUÉ: Te ensinar a brincar.
CORTE DESCONTÍNUO
CENA 10 PLAYGROUND – PRÉDIO ONDE MORA RAFAELA [INT. / TARDE]
Em Josué, trazendo Rafaela pela nuca, discretamente, enquanto atravessa o cenário. A garota reclamando de dor.
RAFAELA: Tu não pode fazer nada contra mim, cê sabe. Alguém vê e dá ruim pra tu.
Ambos chegam na beirada do Play, protegida por uma mureta alta.
JOSUÉ (entre dentes): Você acha que alguém se importa? Te jogo daqui, só que desta vez te faço amassar a cara no cimento, tá ouvindo? No cimento! O que você tinha que falar com a Sônia, hein?
RAFAELA: A beata já bateu pra você, é? É uma otária mesmo!
JOSUÉ: Eu vou mostrar pra você quem é a otária aqui.
Josué a pega pela cintura e a suspende na mureta, sob seus protestos. Rafaela fica com a metade do corpo para fora, apavorada.
JOSUÉ: Agora, repita pra mim o que você disse a Sônia. Eu matei mesmo o pastor Everton?
Rafaela, ofegante, concentrada com a altura.
JOSUÉ: Não to ouvindo. Eu matei o pastor Everton? Hein! Hein?
RAFAELA: Não! Não!
Corta para
Uma janela acima do Play. Tony aparece, estranhando algo que ouve e põe a cara na janela. É quando vê mãos masculinas segurando Rafaela, quase caindo. Tony some.
VOLTA EM JOSUÉ
JOSUÉ: Agora é aquele momento em que você se desequilibra e, acidentalmente, cai. É o vale a pena ver de novo, irmã!
RAFAELA: Não, pare com isso! Pare com isso!
JOSUÉ: Eu vou te soltar no 3...2…
Tony AVANÇA e ARRANCA Rafaela dali. A garota caindo nos braços do cúmplice, visivelmente em pânico.
TONY: Tu tá maluco, “rapá”! Tá querendo encrenca comigo?
JOSUÉ: Olha pra isso. Bandidinho de quinta, recém-formado na escola de crimes pequenos (gargalha). Deus cuide dessa dupla, porque o diabo sente vergonha.
TONY: Vai meter suas pregações na igreja, cara! Melhor pra tu se mandar daqui se não quiser levar um pipoco.
RAFAELA: Você há de arder no fogo do inferno, porque só te incinerando pra você não feder a terra! Maldito!
JOSUÉ: Você achou mesmo que eu ia te matar, garota? Cartinha fora do baralho, peão de xadrez. Eu sou rei! Vê se aprende e some da minha vida.
Josué SAI de cena.
Rafaela
cai sentada, se recuperando.
CENA 11 APTº DE RAFAELA – SALA [INT. / TARDE]
Rafaela entra na frente de Tony, possessa de raiva.
RAFAELA: Droga! Droga! DROGA!
TONY: Ele não te bateu mesmo não, né, princesa?
RAFAELA: O que ele fez não foi o suficiente pra você?
Tony, fechando a porta.
TONY: Calma! Só queria ajudar.
Rafaela anda de um lado para o outro, perturbada.
RAFAELA: Você vai matá-lo.
TONY: O quê?
RAFAELA: Você precisa matar esse pastor de merda. Chega de tentar acabar com ele e não conseguir. Você vai matá-lo.
TONY: Tu tá bem louca, né?
RAFAELA: Ele te chamou de bandidinho de merda. Tu não tem sangue nas veias, não? Tu vai matá-lo e tem que ser hoje.
No seu olhar inquieto, boca trêmula. Tony espia, surpreso.
FADE OUT
FADE IN
CENA 12 MANSÃO DE CIPRIANO – QUARTO DE AIMÉE [INT. / TARDE]
Cipriano entrando com uma bandeja
de prata, contendo uma tigela do mesmo material, fechada.
Aimée,
deitada na cama, até então entediada, se anima.
CIPRIANO: Olá, minha querida! Vim pessoalmente lhe trazer seu almoço.
AIMÉE: Achei que fosse me matar de fome!
CIPRIANO: Nunca seria o meu objetivo (desliza a bandeja na cama). Tenho objetivos maiores.
E se afasta da cama. Aimée ignora, abre a tigela e se depara com duas ARANHAS grandes e pretas.
A garota BERRA de susto e joga a tigela longe.
AIMÉE: Que isso? Você tá maluco?!
CIPRIANO: Olha o que você fez? Eu mandei trazê-las da Amazônia especialmente para você.
Aimée salta da cama, sem tirar os olhos das aranhas.
AIMÉE: Eu tenho horror a aranhas, pelo amor de Deus, tire-as daqui! Tire-as daqui!
CIPRIANO: Só vou tirá-las no fim da tarde. Caso você consiga conviver pacificamente com elas, é porque pode conviver pacificamente comigo.
Cipriano dá as costas, Aimée pula sobre ele, apavorada.
AIMÉE: Não, eu não vou ficar aqui, eu não vou ficar aqui!
Ela bem tenta empurrá-lo, mas Cipriano apenas leva a mão e Aimée é arremessada sobre a cama.
CIPRIANO: Esqueci de dizer: elas são extremamente nervosas. Sobreviva!
O vilão SAI e bate a porta.
OUVIMOS ele trancar.
Em Aimée, espavorida.
CENA 13 MANSÃO DE CIPRIANO – SALA [INT. / TARDE]
Josué, distraído, admirando a decoração. Logo atrás, Cipriano desce as escadas, para ao ver o pastor. Esboça ódio, mas depois muda a expressão.
CIPRIANO: Posso saber o que faz aqui?
JOSUÉ: Boa tarde pra você também.
CIPRIANO: “Senhor”, pra você/
JOSUÉ: Sem essa, ok? To aqui porque a casa tá caindo pro meu lado. A gente tá junto nessa, então eu vim sugerir que você me ajude.
CIPRIANO: Que tal se matar?
Josué faz o incrédulo, põe as mãos na cintura. Cipriano ri.
JOSUÉ: Tá de deboche? Eu to falando sério.
CIPRIANO: Se você soubesse...(disfarça / se dirige ao bar) Quer beber alguma coisa?
JOSUÉ: Eu quero um cargo de confiança ao seu lado.
Cipriano nem termina de pegar a garrafa de vodca. Encara o pastor, surpreso.
CIPRIANO: Um cargo de confiança?
JOSUÉ: Isso, braço direito. Já provei que sou um excelente aliado, derrubei a reputação do Danilo e ganhei a confiança do povo. Imagine se eu ficar lado a lado com o líder do país?
CIPRIANO: No mínimo você ia tentar me derrubar também. Escuta, Josué, não sei o que está acontecendo contigo, mas seja o que for, a culpa é sua.
JOSUÉ: Como é?
CIPRIANO: Sempre tão impulsivo e explosivo. Preciso de alguém que tenha um nível mental mais estável que o seu.
De surpresa, Josué pega Cipriano pelo colarinho, quase cuspindo em sua cara.
JOSUÉ: É assim que você me paga por todo esse tempo te ajudando? Então presta atenção no que vou fazer com o seu eleitorado de merda!
E ele solta o rival, rispidamente. Josué vai saindo. Cipriano, esboçando ódio, leva a mão na direção de Josué, a mão se contrai, mas nada acontece. Nele, sem entender.
CENA 14 CASA DE CAMPO – QUARTO [INT. / TARDE]
Roger, em pé, digita algo em seu notebook.
ROGER: Finalizei. Veja se ficou bom.
Roger leva o notebook até Lila, que usa um smartphone, sentada na cama. A jornalista espia e abre um sorriso.
LILA: Nada mal.
Pelo seu P.V., a tela exibe um cartaz com a foto de Cipriano, imponente, riscada com um “X” de tinta vermelha. Acima, a seguinte inscrição: “Se você conhece a história do Brasil, se você prefere a liberdade a opressão, e a volta da internet, levante essa bandeira:”
Abaixo da foto, uma inscrição em letras garrafais: “#FORADITADOR”
VOLTA EM LILA
LILA: Você usou hashtag, Roger. Pra quê?
ROGER: É pro povo se lembrar de como era bom o Twitter e ficar tentado em participar.
LILA: Estrategista você.
Roger dá de ombros e ambos riem.
LILA: Bom, agora é só fazer cópias e espalhar pela cidade. A Sam vai te ajudar, né?
ROGER: Não só ela, mas a Ana e a Valentina também. A propósito, a Valentina virá hoje?
LILA: A Raíza que ficou de vir mais pra noite. Vamos imprimir?
ROGER: Pra já!
CENA 15 RUAS DA CIDADE [TARDE]
Ruas pouco movimentadas, buzinas de carros, ambulantes nas calçadas. CAM BUSCA Josué, de óculos escuros, cabeça baixa, de frente para um camelô que vende ervas. O pastor entrega uma nota de cinquenta.
AMBULANTE: O senhor conhece bem essa erva, né? Ela é perigosa.
JOSUÉ: Não se preocupe; to ciente disso.
O ambulante entrega um saco contendo umas plantas com sementes pretas. Josué SAI e não percebe Tony à espreita. O ambulante continua seu trabalho, quando Tony se aproxima.
TONY: Fala aí, parceiro!
AMBULANTE: Opa! Qual que vai, chefia?
TONY: Uma informação: qual o nome daquela planta que você acabou de vender?
AMBULANTE: É a erva-do-diabo. Vai querer?
Em Tony, admirado.
FADE OUT
FIM DO SEGUNDO ATO
TERCEIRO ATO
FADE IN
CENA 16 MANSÃO DE CIPRIANO – QUARTO DE AIMÉE [INT. / TARDE]
PLANO GERAL
Quarto intacto, as duas aranhas paradas na cortina. CAM pega Cipriano pelas costas, admirando a cena.
CIPRIANO: Aimée? Estás viva?
Mal ri e Aimée avança ao seu lado com um tabuleiro de prata. Tenta acertá-lo, mas Cipriano segura seu pulso, ela solta o tabuleiro e ele quase lhe dá uma gravata, mas apenas a envolve em seu corpo.
CIPRIANO: Percebo que a convivência com elas lhe deixou arisca. Mas também não teve coragem de matá-las.
Cipriano a leva até a cortina, deixando-a aflita. Ambos chegam bem próximos das aranhas.
CIPRIANO: Fico feliz que vocês tenham convivido pacificamente. Então eu lhe pergunto, minha querida: há motivos para você querer ficar longe de mim ou as aranhas são companhias mais agradáveis?
Aimée lacrimeja de raiva e pânico.
CIPRIANO: Que bom.
Ele a liberta, Aimée se afasta rapidamente.
CIPRIANO (sarcástico): Que horror, querida! Aranhas no seu quarto? Mandarei meus seguranças retirarem imediatamente.
O vilão sai rindo, deixando a garota possessa de ódio.
CENA 17 MANSÃO DE CIPRIANO – ESCRITÓRIO [INT. / TARDE]
Walter olhando para algo fora da tela. A porta atrás abre e Cipriano entra, fecha a porta.
CIPRIANO: Desculpe deixá-lo esperando. Problemas domésticos, acredita?
WALTER: O senhor terá problemas piores para resolver.
Walter mostra um cartaz. Cipriano pega, com olhar desconfiado.
Pelo seu P.V., o cartaz é o mesmo feito por Roger.
VOLTA EM WALTER
WALTER: Vários cartazes como esse estão espalhados nos postes e muros da cidade. Muita ousadia fazerem isso durante o dia, não acha?
CIPRIANO: (amassa o cartaz) Cuidarei disso pessoalmente. Enquanto isso, agilize aquele nosso plano. Logo logo anoitece e anseio pela presença de Lila.
Em Walter, não muito confiante.
O suspense aumenta até
FADE TO BLACK
FADE IN
CENA 18 APTº 215 [INT. / TARDE]
Ana abrindo a porta. Raíza sorri e as duas se abraçam.
RAÍZA: Como você tá? O Dcr disse que você queria falar comigo?
ANA: Sim, entra aí.
A porta bate na nossa cara.
CORTE DESCONTÍNUO
Ana e Raíza sentadas, cada uma num sofá. Raíza, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos, pensativa.
RAÍZA: Não era pra ele ter falado nada. Já basta o que você teve que passar.
ANA: Não me exclua desse cenário de guerra. Perdemos as pessoas que amamos, e sabemos que ninguém pagará o pato por isso. A não ser que você e o Danilo façam alguma coisa.
RAÍZA: Você quis dizer “perdoar”. Perdoar o cara que dizimou parte da minha história. Os dois, na verdade, Josué e Cipriano.
ANA: E vão dizimar mais ainda se nada for feito. Eu sei o quanto é surreal perdoar, mas se isso for a garantia de eliminar esse ditador...Quem tá pedindo isso é alguém que sofreu duas perdas, porque minha mãe também se foi por causa desse tirano, não?
Raíza se levanta, caminha pela sala, atordoada.
RAÍZA: Eu não sei se consigo. Não é fácil e eu estaria mentindo pra mim mesma.
ANA: Se perdoar tiver um efeito tão catastrófico na vida do Cipriano, como vocês descobriram, acho melhor agir rápido. Já pensou se o Josué morre? Não acho que teria muito efeito perdoar apenas o Cipriano, ainda que ele seja a causa primária de todas as coisas.
Enquanto ela fala, Raíza está em primeiro plano, preocupada, muito pensativa. Quando vira para Ana /
= = O CENÁRIO É A IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA = =
Cipriano e Josué em meio a uma luta. Cipriano mantém sua mão comprimindo-se na direção do peito de Josué, enquanto este, arqueando-se de dor, segura suas mãos, em vão.
JOSUÉ: Seu desgraçado! Eu volto pra te buscar!
CIPRIANO: Com sorte, você vai direto para o inferno.
RAÍZA: NÃO!
E Cipriano empurra Josué, que bate a cabeça no degrau e desfalece.
Na cara estupefata da heroína até /
= = FIM DA VISÃO = =
Ana, cara a cara com Raíza.
ANA: O que houve? Você teve uma visão, não foi?
RAÍZA: Eu preciso correr!
ANA: Ei!
Raíza avança sobre a porta, abre e SAI, apressada.
Em Ana.
CORTA PARA
Fachada – Casa do Pastor Everton / Noite
CENA 19 CASA DO PASTOR EVERTON - COZINHA [INT. / NOITE]
A mão masculina manuseia uma tigela cheia de chá. Dispõe o conteúdo dentro de uma garrafa. CORTES DESCONTÍNUOS mostram Josué procurando algo dentro de uma caixa de primeiros socorros; encontra uma seringa; enche de chá, depois espirra.
JOSUÉ: Agora só faltaria testar.
BARULHO próximo.
JOSUÉ: Sônia?
Josué larga a seringa na caixa e vai até a
SALA
Josué dá de cara com Tony, apontando a arma para ele.
TONY: Tu sabe rezar mesmo? (engatilha) Porque tu vai precisar.
Josué levanta as mãos, tenso.
JOSUÉ: Calma aí, irmão. Vamos conversar, acho que dá pra gente se entender.
Tony vem se aproximando.
TONY: Eu não me entendo com falso Messias!
Jogo rápido! Josué desvia o braço de Tony com a mão e com a outra acerta um soco em sua cara. Tony baqueia, mas também acerta um soco usando o cabo do revólver. Josué bate de contra a parede. Tony vai apontar a arma e Josué é mais rápido: desvia o braço dele, desta vez, derrubando a arma no chão. Tony tenta alcançar, quando Josué cai sobre suas costas e lhe dá uma gravata, ambos caem no chão. Josué dominando.
Sônia chegando ali, se assusta.
SÔNIA: Meu Deus! O que é isso?
JOSUÉ: Vai na cozinha, Sônia, pega uma seringa, rápido!
SÔNIA: Seringa? Pra quê?
JOSUÉ: Pra acalmá-lo, irmã. Eu não tenho mais idade pra lutar, anda!
SÔNIA: Eu vou chamar a polícia.
JOSUÉ: NÃO VAI DAR TEMPO! PEGA LOGO A SERINGA, ANDA!
Sônia, no susto, corre até a cozinha.
Tony perdendo as forças, quase sendo enforcado ali.
TONY: Que tu vai fazer comigo, cara?
JOSUÉ: Vou fazê-lo se arrepender de ter se unido a Rafaela.
Tony faz força, Josué se mantém firme.
JOSUÉ: COMO É QUE É, SÔNIA?
Sônia se apressa, entrega a seringa a ele.
TONY: Não! Ele vai me matar!
Josué aplica a seringa, com força, na veia do braço. Tony GRITA de dor. Na seringa sendo esvaziada por completo. Josué retira, larga o inimigo no chão e se levanta, apoiando-se no sofá.
SÔNIA: Que calmante é esse, Josué? Isso vai funcionar?
JOSUÉ: Com certeza.
CORTES DESCONTÍNUOS
1. Em Tony tentando se levantar. Pelo seu P.V., Josué e Sônia parecem duas figuras coloridas e distorcidas.
2. Tony rola pelo chão, confuso, perturbado.
3. Tony tendo convulsões. CAM mostra apenas suas pernas se debatendo violentamente. Sônia, amparada pelo pastor, cobre a boca, horrorizada.
FADE OUT
FADE IN
Em Tony, morto, de olhos abertos.
Sônia chora compulsivamente.
SÔNIA: Por que mentiu pra mim? Eu não sabia que era veneno.
JOSUÉ: Difícil você explicar isso pra polícia, hein.
SÔNIA: Mas foi você que o matou!
JOSUÉ: Nós! É bom se lembrar que se eu tenho a ficha suja, você também tem. Em dois tempos a polícia descobre seu passado de inglórias.
SÔNIA: Você me induziu ao erro!
Josué se enfurece e pega a beata pelos cabelos.
JOSUÉ: Que induzi o quê, beata maldita? Desde quando alguém guarda uma seringa já pronta? (larga a beata) Você me decepcionou, hein! (estala os dedos) Achei que fosse mais safa, por favor.
BARULHO de porta batendo ao longe.
JOSUÉ: O que foi isso? Você trancou a igreja?
Sônia faz que sim, tomada pelo pânico.
JOSUÉ: Melhor ir conferir. Você vem comigo!
Sônia resiste, mas o pastor é ríspido e força a barra.
JOSUÉ: Anda logo com isso!
Josué sai empurrando a
beata.
CAM em Tony.
CENA 20 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]
Cipriano de costas, diante do púlpito. Se volta para a CAM, segurando um cartaz, nitidamente chateado. Josué e Sônia param ao vê-lo.
CIPRIANO (exibindo o cartaz): Como se atreve a me desafiar?
Josué solta Sônia e pega o cartaz. Começa a rir.
JOSUÉ: Mal começou seu reinado e já querem o seu fim? Melhor ampliar o cadafalso porque vai ser muita gente pra você matar.
Cipriano arranca o cartaz de sua mão e amassa, enfurecido.
CIPRIANO: A começar por você. Você não é nada sem mim. Se você foi diretor daquele colégio, foi graças a minha influência; se saiu do hospício e alcançou o status de pastor, foi porque EU influenciei o pastor Everton a lhe dar uma chance. Sem mim você não vai a lugar algum!
Os dois bem próximos, cara a
cara.
Sônia atrás, se esquivando.
JOSUÉ: Quero ver você me impedir.
E Cipriano direciona a mão no coração de Josué e a contrai. O pastor tenta se manter firme, resiste. Cipriano não entende, mas continua. Sônia ali, sem entender.
Josué segura na mão do vilão, ambos travam uma luta. Quando Josué arqueia de dor /
JOSUÉ: Seu desgraçado! Eu volto pra te buscar!
CIPRIANO: Com sorte, você vai direto para o inferno.
RAÍZA (O.S): NÃO!
No susto, Cipriano larga do pastor, que se apoia na cadeira. Sônia vê Raíza entrar, esboçando insegurança.
RAÍZA: Você não vai fazer nada!
CIPRIANO: Eu ia lhe prestar um favor, Raíza.
RAÍZA: Você não presta favor a ninguém. (se aproxima) Você quer matá-lo para que ele não seja a minha oportunidade de acabar contigo.
Cipriano ri. Depois, perde o sorriso, ainda encarando-a com ar de superior.
CIPRIANO: Eu duvido. Mas deixarei você tentar.
Cipriano abre passagem. Raíza indo até Josué, com a cara e a coragem. Sônia troca olhares rápidos com Cipriano, mas desvia, medrosa. Raíza se agacha diante do tio, este já se recuperando. Mal ela abre a boca e /
JOSUÉ (incrédulo): Você me salvou? É isso mesmo?
No olhar da heroína, esperançoso. Até que Josué ri.
RAÍZA: Do que tá rindo?
JOSUÉ: De você, de quem mais? Não salvou a Ari, nem o pai, menos ainda o João. Mas quem você consegue salvar? EU! O assassino, o filho do diabo, o falso pastor.
Cipriano disfarça o riso e vai embora; Raíza ali, sem chão.
JOSUÉ: Devia ter me deixado morrer, mas não, você só deixa morrer os que são bons de coração, né? (ri). Onde é que você tava que não salvou o pastor Everton? Hein?
RAÍZA: Eu não sou Deus /
Josué se levanta, com a mão no peito.
JOSUÉ (por cima): Blá, blá, blá! Explica isso aqui pra Sônia, explica! (ele pega a beata pelo braço) Explica porque o pastor morreu, explica!
SÔNIA: Meu irmão morreu por causa da doença.
JOSUÉ: Nãaaao! Ele morreu porque a Raíza tinha que alertá-lo, né? A minha ideia era ele largar a igreja e me deixar no comando, apenas isso.
= = FLASHBACK = =
CENA EM QUE RAÍZA INSINUA AO PASTOR EVERTON SOBRE CUIDADOS COM SEU MEDICAMENTO (4x04)
EVERTON: É alguma coisa grave?
Raíza finge vasculhar a bolsa.
RAÍZA: Não, mas depois da morte do meu pai, tive que lidar com fortes dores de cabeça. Ah, que pena! Deixei em casa.
EVERTON: Seria bom se alguém te ajudasse com isso. Saúde é muito importante.
RAÍZA: Eu sei. Por isso que eu prefiro eu mesma cuidar dos meus remédios. Deixar que outro faça isso por mim só se for de total confiança. Nunca se sabe, né? (Everton observa, pensativo) Bom, vou indo. Espero poder te ver novamente.
Everton mal acena para despedir, e
Raíza vai embora.
Em Everton, ressabiado pela súbita simpatia
da garota.
EM SEGUNDO PLANO, Josué, no 2º piso, bem atento.
JOSUÉ (V.O): Eu precisei agir.
CORTA PARA
CENA 21 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / MANHÃ]
A mão de Everton pegando um copo com água das mãos de alguém. Leva o copo a boca, quase bebe. Para e encara Josué.
EVERTON: Irmão, qual o remédio mesmo que eu tomo?(finge esquecer) Tanto tempo que abuso de sua ajuda que acabei esquecendo.
Josué desconfia, mas mostra-se prestativo.
JOSUÉ: Ahn...É um nome complicado, mas posso pegar pro senhor.
EVERTON: Claro! Eu espero.
JOSUÉ: Mas antes tome o seu remédio antes que passe da hora.
EVERTON: Você não vai demorar, não é? Eu espero.
Josué se irrita, mas assente. Dá as costas, mas Everton faz o mesmo, confiante. É aí que Josué volta e pega o pastor de surpresa; segura a mão de Everton, onde ele mantém o copo, e tenta levá-lo até a boca.
EVERTON: O que é isso?! O que tá fazendo?!
JOSUÉ (espumando de raiva): É pra você beber essa droga, pastor de merda! ANDA!
Everton mede força e fecha a boca. Josué aperta sua garganta, Everton tenta resistir, mas acaba tossindo. É a brecha para o vilão entornar a bebida em sua boca. O pastor não consegue evitar e bebe boa parte.
Em Everton, ofegante.
EVERTON: O que tinha nesse copo, irmão? Será possível que me enganei tanto assim com você?
JOSUÉ: Qualquer um se engana. Basta a gente dizer que aceitamos Jesus, e todo mundo acredita.
Everton reclama de dor, pisca os olhos, se desequilibra. Cai sentado na cadeira. Pelo seu P.V., Josué aproxima o rosto, fingindo preocupação.
JOSUÉ: Tem uma coisa que você precisa saber: você nunca esteve doente do fígado. Corromper médicos foi tão fácil quanto será dominar a nação.
Enquanto ri, a imagem vai ficando turva até
= = FIM DO FLASHBACK = =
FUSÃO PARA
Josué, que acaba de contar, sem o menor remorso.
CENA 22 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]
Sônia,
ao fundo, cobrindo o rosto de tanto chorar.
Raíza
ouvindo tudo, paralisada.
JOSUÉ: A culpa é sua. Ele podia tá vivo, celebrando os novos tempos com a gente. Você é pérfida, garota /
Raíza lhe acerta um TAPA. Josué ri.
RAÍZA (furiosa): Você me dá nojo. (se levanta) Nojo! Você me dá NOJO!
E vai embora, esbarrando em Sônia. Josué encara a beata, que quando pensa em sair /
JOSUÉ: VOCÊ FICA!
Nos olhos cheios de lágrimas da mulher. Muita tensão.
CENA 23 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / NOITE]
Raíza caminha pela calçada, limpa as lágrimas, enfurecida.
RAÍZA (sofrida): Eu não vou conseguir perdoar...Eu não consigo…
SOM DE MENSAGEM de celular. A garota pega, do bolso da calça, seu telefone. Dá uma conferida. Pelo seu P.V., uma mensagem de Lila:
RAÍZA (lendo): “Você não vem? Preciso muito falar contigo.”
Raíza respira fundo, seca as lágrimas e some da tela.
FADE OUT
FIM DO TERCEIRO ATO
QUARTO ATO
FADE IN
CENA 24 CASA DE CAMPO [EXT. / NOITE]
O ar sombrio no local. As luzes da casa estão apagadas. Raíza é vista no matagal, estranhando o cenário, entretanto, vai até a varanda. Abre a porta.
CENA 25 CASA DE CAMPO [INT. / NOITE]
Tudo na penumbra. Silêncio. Raíza caminha vagarosamente, desconfiada.
RAÍZA: Lila?
FORTE SUSPENSE. CAM gira e, ao enquadrar seu rosto de frente, flagra Rafaela pelas suas costas. As LUZES se acendem. Raíza se volta, no susto.
RAÍZA: Rafaela? (T) Cadê a Lila? CADÊ A LILA?
Rafaela sorri, tranquila.
RAFAELA: Calma, garota! Ela, agora, tá em boas mãos. Nas mãos de Cipriano.
E gargalha. Raíza, já com sangue fervendo, tenta avançar. Rafaela mostra seu pequeno revólver, fazendo a heroína recuar.
RAFAELA: Cê não pode com uma dessas, né? Meu negócio agora é contigo.
E engatilha a arma. Mira na testa de Raíza.
CLÍMAX
FADE OUT
FADE IN
Raíza desvia habilmente e segura no braço de Rafaela. A arma dispara. Raíza eleva o braço da inimiga e a joga de contra a parede.
RAÍZA, DE OLHAR PARALISADO
= = VISÃO DE RAÍZA = =
Rafaela, à beira da estrada, segurando uma faca e olhando para a CAM.
RAFAELA: Não salva nada. Não salva ninguém, NINGUÉM!
E um caminhão a ATROPELA em cheio. O sangue jorra na CAM.
= = FIM DA VISÃO = =
Em Raíza, assombrada pela visão.
RAÍZA: Rafaela, por favor, nós éramos amigas, Rafaela! Amigas!
RAFAELA: Sim, nós éramos, até o Marco me corromper. Tudo que ele fez foi por sua causa, mas e daí? Vocês estão juntos e eu fodida. Eu sempre me dei mal porque tudo girava ao seu redor. O seu tio tentou me matar; a Lila me passou a perna pra ser única dona da descoberta “Raíza vidente”; até o João me humilhou. Se sou o que sou foi por sua causa!
RAÍZA: NÃO! Você quis seguir esse caminho. Por favor, Rafaela. Você podia ter falado comigo ou com o Dcr. Ele sempre tentou te defender. Sempre foi seu amigo, é ou não é?
Rafaela mostra-se mais suscetível a ouvir. Olhos marejados de raiva e tristeza.
RAÍZA: Eu imagino o quanto foi difícil pra você, mas pense nas perdas que o Dcr sofreu, e nem por isso, fez as escolhas erradas.
RAFAELA (revoltada): Claro, vocês são os santos do país, né?
RAÍZA: Eu fiz escolhas erradas, Rafaela. Eu achava que não podia existir injustiça maior do que ser internada num hospício pelo meu próprio tio. Até perder as pessoas que amo. (T) Por favor, vamos parar com isso?
Rafaela abaixa a cabeça, fraqueja. Vacila o braço. Quase chora.
RAFAELA: O mal já foi feito.
E a garota tenta mirar a arma de novo, Raíza trava uma luta. A arma dispara para o alto e a lâmpada quebra. ESCURIDÃO.
FADE IN
As luzes vão acendendo em cada ponto, até revelar Lila, adiante, sentada em uma cadeira, amordaçada e com as mãos amarradas para trás.
CENA 26 GALPÃO [INT. / NOITE]
Dcr, surpreso, se apressa até ela, mas Walter surge a frente de Lila, armado.
WALTER: Reservamos uma surpresa pra você, garoto.
De um lado escuro do cenário, surge Cipriano, trazendo Aimée no braço.
DCR: Cipriano, você disse que ia entregar o Jaime. O que a Lila tá fazendo aqui? O que você tá querendo?
CIPRIANO: Eu prometo e cumpro o combinado.
Ele estala os dedos e do outro lado de Dcr, surge Jaime, cercado por dois homens altos, fortes e armados.
AIMÉE: PAI!
Cipriano segura a garota. Em seguida, põe a mão por dentro do sobretudo e retira uma arma. Muita tensão.
CIPRIANO: Você quer salvar a Lila, não quer?
Dcr na expectativa. Cipriano entrega a arma.
CIPRIANO: Então tente passar pelo Walter.
Surpresa no político. Dcr hesita.
DCR: Eu não vim aqui pra matar ninguém.
CIPRIANO: Nem eu. Mas os meus seguranças são meio descontrolados. Se eu fizer um sinal, ainda que inocente, eles atiram em Jaime.
AIMÉE: NÃO! Pelo amor de Deus, Cipriano, você não precisa fazer isso!
CIPRIANO: Você não sofre em vê-la sofrer, Danilo?
Dcr ali, sem saber o que fazer.
CIPRIANO: Ou você salva a Lila, ou você salva o ex-presidente. Você escolhe.
Na mão do vilão, estendida. EM SEGUNDO PLANO, Walter, temeroso. As mãos de Dcr pegando a arma.
CORTA IMEDIATAMENTE PARA
CENA 27 CASA DE CAMPO – COZINHA [INT. / NOITE]
Na penumbra, Raíza surge em cena, andando de quatro, com uma faca nas mãos. Por trás de uma bancada, ela tenta acessar seu celular, procurando ser a mais discreta possível. Digita rápido.
RAÍZA (murmurando / digita): “Preciso de você, Sam. To aqui, na casa de campo e...”
RAFAELA (O.S): Não adianta se esconder, não! (acende a luz) Eu te acho.
Raíza se apressa em digitar, mas é possível OUVIR o som das teclas. Raíza para, percebe que vacilou.
Em Rafaela, atenta, apontando a arma ao léu. Aproxima-se da bancada e
Raíza LEVANTA e ESFAQUEIA a mão da garota. Esta URRA de dor, solta a arma. Tempo para Raíza confrontá-la, empurrando-a para trás, longe da arma.
RAFAELA: Tu pensa que venceu? Hein?
Rafaela avista um pote de aço com talheres e facas. Apanha uma faca e aponta para a heroína.
RAFAELA: Qual de nós duas é boa nisso, hein?
A garota ameaça, Raíza recua.
RAÍZA: Me perdoe, Rafaela.
RAFAELA: Oi?
RAÍZA (respira fundo / toma coragem): Eu devia ter confidenciado o meu segredo a você; talvez eu devesse sentir vergonha de ter me apaixonado pelo Marco; talvez tanta coisa teria sido diferente. No fundo, você foi vítima tanto quanto os outros.
RAFAELA (debochada): Que outros? O seu pai, a Ari, o Hans e o João? (ri / para) O João foi minha vítima.
BAQUE em Raíza.
RAFAELA (cont.): Eu matei o cara de quem eu gostava, (esboça vontade de chorar) mas ele preferiu a Ari. Só que até a rivalidade dele com o Danilo acabou, só eu fiquei pra trás, só eu!
Raíza cobre a boca; tenta conter as lágrimas.
RAÍZA: Por isso você também não quis revelar o assassino dela. Passou parte de sua vida buscando vingança contra todos. Você matou o meu primo!
RAFAELA: Chega de sofrência! Você pode morrer agora e se encontrar com todos eles. Que tal?
RAÍZA: Nem pensar!
E avança sobre Rafaela, ambas caindo no chão. Raíza consegue se levantar e correr. Rafaela se prepara para fazer o mesmo.
CORTA PARA
CENA 28 FLORESTA [INT. / NOITE]
CAM SUBJETIVA seguindo Raíza, de costas, correndo pela mata. Com uma faca na mão suja de sangue, ela vai olhando para trás, tensa. Cai no chão, e quando se levanta
SUSTO
Raíza encarando a CAM, aflita, olha ao redor. Rafaela bem de frente, brincando com a faca.
O cenário é BEIRA DE ESTRADA, pouco movimento, mão dupla. Rafaela se encontra bem rente à via.
RAFAELA: Pensei que super-heroínas pudessem, sei lá, voar, ficar invisíveis, teletransportar-se para outro mundo. Mas tu tá querendo morrer mesmo, né? Já perdeu pai, amiga, primo, espírito santo e amém! (gargalha).
RAÍZA: Por favor, Rafaela, o que eu posso fazer pra você me perdoar.
RAFAELA: Morra! Funde-se na atmosfera. A minha vida já não faz sentido; a sua também não tem porque fazer.
SOM de caminhão se aproximando, ao longe.
RAÍZA: Por favor, se afaste da estrada.
RAFAELA: O quê?
RAÍZA: To te pedindo, se afaste da estrada!
RAFAELA (sarcástica): Tá preocupadinha, é? Tá prevendo algum futuro cabuloso pra mim?
RAÍZA: Eu to falando sério /
RAFAELA: Você acha que pode me salvar?
INSERT – pés de Rafaela
Pisando o asfalto
VOLTA À CENA
RAFAELA: Não salva nada. Não salva ninguém, NINGUÉM!
RAÍZA: Se afasta da estrada! SE AFASTE DA ESTRADA!
Raíza leva a mão,
BUZINA RÁPIDA. UM BAQUE, UM GRITO
SANGUE jorra em Raíza. A garota, paralisada, vê o caminhão frear violentamente. O sangue manchando o asfalto. Outros carros param, motoristas saem, atônitos, perplexos. O motorista do caminhão desce, põe as mãos na cabeça, chocado. Quando vê Raíza.
MOTORISTA: FOI VOCÊ! VOCÊ A EMPURROU!
Todos olhando para ela, com ar de reprovação. Raíza não sabe como agir, olhar inquieto. CLOSE em seu rosto.
CENA 29 GALPÃO [INT. / NOITE]
Dcr apontando a arma para Walter. Este praticamente pedindo para não fazê-lo.
WALTER: Cipriano, você me garantiu proteção.
CIPRIANO: E você sabia que não é para fraquejar. O que está esperando? Atira!
Walter vacila o braço, não quer atirar.
CIPRIANO: ATIRA!
Dcr se enfurece e aponta a arma para o vilão. Imediatamente, Cipriano levanta a mão e, mesmo usando-se de seu poder, ele se esforça para desviar o braço de Dcr. Este hesita o quanto pode. A arma dispara de contra a parede. PAVOR em Aimée.
Walter vai se esquivando da reta, deixando Lila à vista.
INSERT – dedo de Dcr, no gatilho
O gatilho se move sozinho.
VOLTA À CENA
Dcr tenta resistir e, sem que a CAM mostre, a arma DISPARA na direção de Walter.
No susto de Dcr.
Na arma que
cai no chão.
Dcr cobre a boca, abafando seu GRITO de desespero.
Cai de joelhos, vencido.
Cipriano segura seus cabelos e puxa-os para que Dcr o olhe nos olhos.
CIPRIANO: Você é um homem condenado.
FORTE SUSPENSE
SMASH TO BLACK
CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO
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