0:00 min       RAÍZA TEMPORADA FINAL     SÉRIE
0:40:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA 4


Série de
Cristina Ravela

Episódio 10 de 14
"Brutal"



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 ATO DE ABERTURA

TELA PRETA

SIRENES DE POLÍCIA E AMBULÂNCIA. SOM de carros freando. VOZES denotando pânico.

FADE IN

CENA 1 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA [EXT. / TARDE]

Abre no meio de um caos armado, pessoas bem vestidas correm, feridas, com as roupas sujas de poeira. A repórter diante da câmera.

REPÓRTER: Uma explosão aqui na Assembleia Legislativa, durante as manifestações contra a proposta do aumento de impostos, deixou vários feridos e pelo menos uma morte foi confirmada.

Enquanto ela divulga a notícia, a fachada da Assembleia é mostrada pegando fogo. Janelas se quebram, pequenos arbustos despencam. Bombeiros já estão no local fazendo seu trabalho.

Dcr sai empurrando os que ele vê pela frente, aflito. Bombeiros retiram uma maca de dentro da Assembleia onde há um corpo. É Lila, toda machucada, barriga e pernas ensanguentadas.

DCR (berra): LILA! LILA! 

Dcr tenta avançar; a polícia tenta contê-lo.

DCR (desesperado): NÃO! NÃO!

Adiante, Raíza está agachada, olhando para a direção de Dcr, em lágrimas e em choque.

O suspense aumenta

Até que

Um APITO de torradeira invade a cena

CORTE DESCONTÍNUO

CENA 2 APTO 3011 - COZINHA [INT. / MANHÃ]

Raíza olha para a torradeira com as torradas prontas e para Dcr já desligando a máquina.

DCR (brincando): Não gosto de torradas propriamente ditas nem a Lila.

Raíza, atônita, espia seu celular. Pelo seu P.V, a notícia estampada no site da NOVO DIA: "Zacarta convoca aliados, em plena sexta-feira de carnaval, para reunião extraordinária na Assembleia Legislativa".

Fecha em Raíza.

FADE OUT

FIM DO ATO DE ABERTURA


4x10

BRUTAL


PRIMEIRO ATO


FADE IN

CENA 3 APTº 3011 – SALA [INT. / MANHÃ]

Lila, Roger e Marco estão sentados nos sofás. João e Sam de pé, com expressão de desolados.

MARCO: Infelizmente, uma coisa assim ia acabar acontecendo. E parece que o Emerson escolheu que fosse pelas minhas mãos.

Roger abraça Marco, comovido.

ROGER: Não se torture, irmão. Do jeito que falaram, a Valentina poderia ter sido atropelada por qualquer um.

Dcr chega com a bandeja de torradas, enquanto Raíza está com a bandeja contendo algumas xícaras. 

DCR: Mas graças a Deus o Marco é bom no volante.

Valentina se volta diante da janela.

VALENTINA: Eu que o diga! E tudo ia parecer um acidente.

MARCO: Ainda assim, fiquei péssimo por quase te mandar para o inferno, querida. 

JOÃO: O cara deve tá disposto a tudo. Arriscar assim a própria identidade?

RAÍZA: Ele podia ter matado a Valentina de outro jeito, mais fácil, mas não. Usa métodos mais inteligentes para não chamar a atenção da polícia e da imprensa.

VALENTINA: A vontade que eu tenho é de chegar pra ele e dizer que ele é um bosta. Só pra ver se ele ia tentar mais uma vez.

JOÃO: Você quer fazer um jogo, garota? Acha que tem sorte e vai se safar pela segunda vez?

Valentina faz cara feia, cruza os braços. Lila digita algo em seu laptop, sagaz.

LILA: Também gosto de jogos, principalmente compartilhar.

E Lila vira o laptop revelando duas fotos de Emerson, cada uma de época diferente, com a seguinte manchete: “Emerson Martins, o blasfemador ou o falecido advogado cível?”.

LILA: Se o tal advogado não era tão conhecido, agora ficará famoso.

Raíza se mostra incomodada.  

DCR: Eu não era a favor de mexer com ele não, mas...

Dcr se espreita ao lado de Marco para sentar perto de Lila. Ele a abraça.

DCR: ...Depois do que ele aprontou, aprovo com louvor.

Dcr a beija na boca. Marco se chateia e levanta, indo até Raíza. Os dois se isolam, enquanto os outros conversam.

MARCO (murmura): O que há, minha querida? Parece que não gostou da ideia da Lila?

Raíza espia os demais, preocupada, desvia rapidamente ao encontrar João a encarando.

RAÍZA (murmura): Valentina escapou, mas...Nem todos terão a mesma sorte, Marco.

Marco acaricia seu rosto, sem entender.

RAÍZA (murmura): Vamos perder alguém do clã.

CLÍMAX

Em Marco, tenso.

CENA 4 NOVO DIA – ESTACIONAMENTO [INT. / MANHÃ]

MOTOR de carro LIGADO. CAM desliza para a lataria de um carro até encontrar a janela. O motor é DESLIGADO, Hans retira o cinto de segurança, apanha a bolsa em cima da poltrona e abre a porta. Fecha a porta e se prepara para seguir. Walter estaca bem a sua frente com aquele sorriso sacana.

WALTER: Hans! Com pressa para matar?

Walter ri e tosse, como de costume. Hans faz cara de tédio.

HANS: Você foi enxotado do seu cargo, Walter? Porque você vive mais aqui do que em Brasília, né?

E Hans desvia, tentando ir embora.

WALTER: Ouvi dizer que o João sabe atirar. E muito bem.

Hans se volta, com raiva.

HANS: Qual é a tua, hen? Foi dado a mim uma missão e eu pretendo cumprir.

WALTER: Sei não. Cipriano pediu que eu fizesse a gentileza de lembrá-lo que missão não cumprida é lugar garantido no cemitério. Você e aquele pastor só fazem decepcionar a sociedade. Fazem doce pra ganhar a marmelada inteira.

Em Hans, não gostando do que ouve. Erom surge ao seu lado com a mesma expressão.

WALTER: Se eu fosse ele, te poupava da vergonha que você passará. Você é só um jornalista que ninguém leva a sério. Sinceramente? Eu já teria te descartado há tempos/ 

Hans larga a bolsa no chão e agarra Walter pelo colarinho desfigurando-se em ódio.

HANS: Quem será descartado é você, idiota! (Walter se assusta) O teu cargo não valerá de nada quando o Zacarta se tornar ditador, está me ouvindo? De nada!

Hans o larga, deixando Walter surpreso.

WALTER: Ditador? (ri, incrédulo) Você tá louco /

HANS: Você nem sabe o que ele fará hoje na Assembleia, não é? Sabe por quê? Porque ele pensa como um ditador e como ditador ele não dá satisfação para o presidente da câmara. Você é só uma peça no jogo dele. Como todo mundo. Ouviu bem? Como todo mundo!

E Hans dá as costas, fazendo Erom o mesmo. Em Walter, confuso.

CENA 5 MANSÃO DE CIPRIANO - ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]

Em Cipriano, por trás da mesa, apertando as mãos de Walter.

CIPRIANO: Temos muito trabalho para hoje, meu nobre amigo.

Cipriano se senta e aponta para um bar adiante.

CIPRIANO: Bebe alguma coisa?

WALTER (cismado): Não. Na verdade, só vim confirmar a minha participação na Assembleia hoje.

CIPRIANO: Brilhante como sempre, amigo. Creio que com todos os holofotes em cima da Assembleia, e os heróis com a segurança que contratei, será fácil para o Hans cumprir a missão.

WALTER: O meu cargo estará seguro, não é mesmo?

Cipriano observa-o nervoso, escorregadio.

CIPRIANO: Ao meu lado, você sempre estará seguro. Preocupe-se apenas em cuidar das suas emoções; hoje o dia está propício para lutas e... Lutos.

Walter não consegue nem disfarçar um sorriso; Cipriano encosta-se à poltrona, esboçando um sorriso de vitória.

CAM BUSCA Aimée, assustada, à espreita da porta.

FORTE SUSPENSE

FADE OUT


FIM DO PRIMEIRO ATO


SEGUNDO ATO

FADE IN

Mãos masculinas acariciam rosas vermelhas em meio a muitas outras variadas.

CENA 6 FLORICULTURA [EXT. /MANHÃ]

João apanha um buquê de rosas vermelhas e sorri para a vendedora.

JOÃO: Detesto parecer piegas, mas você acha que ela pode gostar, não é?

Roger vem na calçada, curioso.

ROGER: Grande João! E aí?

Roger dá um tapinha nos ombros de João.

JOÃO: Roger! Não sabia que aqui era seu caminho.

ROGER: Por quê? Tá escondendo alguma coisa? E essas flores?

JOÃO: To ridículo, não to?

ROGER: Comprando flores ou tentando se esconder?

João suspira, Roger ri.

ROGER: Diz aí, é uma forma de selar a paz de vez com o Nilo? (toca uma flor) Bonitas, mas você não acha que /

JOÃO: São pra Ana, Roger. Eu tenho uma namorada, lembra?

João entrega o buquê para a vendedora e faz que sim.

ROGER: Ah, é...Mas só flores? Não rola um jantarzinho, uma joia, tipo (dá de ombros).

João vai acompanhando a vendedora para o interior da loja.

JOÃO: Então, quero fazer uma surpresa hoje à noite, mas vê se não vai espalhar, hen.

Roger vai atrás.

ROGER: Que isso, irmão? Tá comigo, tá com Deus.

Ambos somem da nossa vista.

CENA 7 APTO 215 - SALA [INT. / MANHÃ]

PLANO GERAL. Dcr, usando um chapéu rosa de aniversário na cabeça, abraça Ana, aos risos. Marco e Raíza por ali, com copos de guaraná.

O local está em clima de pequena festa. Uma mesa decorada em tons rosa, com bolo de morango, docinhos de aniversário, incluindo balas de coco, jujubas e brigadeiros. Copos plásticos e refrigerantes completam a mesa. 

DCR: Parabéns! Saúde, dinheiro e juízo, hen.

ANA: Obrigada! Mas você que organizou isso tudo?

DCR: Ah, o Roger quis ajudar. Desculpa. Deixei ele no comando.

Sam brinca com um sopro na orelha de Ana e todos riem.

Marco acaba de beber guaraná, espia o copo e faz cara de quem gostou.

MARCO: Fazia tanto tempo que eu não ia a uma festa de aniversário...Pra dizer a verdade, nem nos meus eu ia.

DCR: To sentindo falta da Lila. A essa altura ela tá preparando a entrevista que fará com o Cipriano. Ele podia ter escolhido qualquer um…

RAÍZA: Mas tinha que ser ela…

E olha seriamente para Marco, que torna a beber, disfarçando.

A campainha TOCA

Dcr vai até a porta, abre e deixa João, segurando um buquê, e Roger entrarem.

João para diante de Ana, sorridente.

JOÃO: Aninha, feliz aniversário!

Os dois se abraçam e dão um longo beijo. Dcr pigarreia.

DCR: A classificação indicativa não permite certas cenas nesse horário, só lembrando.

Todos riem.

JOÃO: Mas é por isso que eu deixarei a melhor parte para hoje à noite.

Marco toca o peito e finge dor.

MARCO: Hmmm, foi profundo, não acha, Danilo?

DCR: Engraçado vocês. Sou um cara mente aberta, tranquilo, sabem disso. (para João / tom ameaçador) Você também sabe o quanto sou tranquilo, né?

ANA: Danilo!

DCR: Onde é que vai ser essa “melhor parte”? O que você pretende?

JOÃO: Garanto que você também vai gostar da surpresa. E não, não pretendo levá-lo comigo.

DCR: Você não vai contar?

Roger sai empurrando Dcr.

ROGER: Vamos comer uns docinhos, vamos? Ana, curtiu a decoração? Eu que escolhi.

Roger come cada docinho que vê pela frente.

Ana e João só nos olhares apaixonados. Raíza bebe seu refrigerante observando a cena.

CENA 8 APTº 215 - BANHEIRO [INT. / MANHÃ]

CLOSE em mãos femininas sendo lavadas. Desliga a torneira. Seca. Raíza dá uma olhada rápida no espelho e quando SAI

Dá com João, no CORREDOR

JOÃO: Agora você pode contar o que tá acontecendo? Ou acha que eu não saquei seus cochichos com o Marco?

Raíza, desconcertada, não sabe como agir.

RAÍZA: João…

JOÃO: Teve uma visão? É isso? Tem a ver com a Lila?

Raíza ainda demora, mas toma coragem.

RAÍZA: Eu já ia te contar, só que não é fácil dizer isso. (T) Eu previ sua morte.

João quase vai pra trás, baqueado. Raíza, ansiosa.

RAÍZA: Mas veja bem, você pode evitar. Você pode se salvar!

JOÃO (por cima): Como eu vou morrer? Vão me matar?

RAÍZA: Não sei. Só sei de um tumulto, um atentado à Assembleia Legislativa. Na minha visão, a Lila corre perigo também.

DCR (O.S): Como é? (Dcr encara os dois, ressabiado) A Lila pode morrer?

JOÃO (aborrecido / nervoso): Eu posso morrer, tá bom pra você? Raíza previu minha morte no meio de uma guerra. Parece que é meu destino.

Raíza toca os ombros do primo, tensa.

RAÍZA: (pausadamente) Não vai ser seu destino. (melancólica) Quando eu previ a morte do meu pai eu não pude avisá-lo. Talvez ele ainda estivesse aqui.

DCR: Raíza, essa história de novo, não.

RAÍZA (ignora): Então eu peço, João. Aconteça o que acontecer, não chegue perto da Assembleia hoje.

DCR: Vou falar com a Lila.

Dcr sai dali. Raíza continua encarando João. Nele.

CORTA PARA a vista aérea da cidade, seus prédios e morros. Trânsito normal.

Na fachada da Carioca News.

CENA 9 CARIOCA NEWS [INT. / MANHÃ]

Dcr vem chegando, espia ao redor. Avança sobre uma mesa onde, logo a frente, está Lila, concentrada em seu computador.

DCR: Lila, preciso que me ouça.

LILA: Danilo? Hoje não é seu dia de folga?

Dcr se debruça sobre a mesa, verifica se não há ninguém por perto.

DCR: Sim, mas aconteceu uma coisa chata. 

LILA: Coisa chata deve tá acontecendo na vida do nosso ex-office boy. Já são mais de 300 comentários espantados com a descoberta (sorri, animada).

DCR: Lila, a Raíza previu um atentado à Assembleia. (O sorriso de Lila se esvai) Com você dentro.

Lila emudece. Suspira, admirada. Sacode a cabeça, incrédula.

LILA: Calma. Não significa que eu vá morrer, ok? Ela previu sua morte, mas o salvou, então... (ela se levanta, dá um largo sorriso) Eu tenho você pra retroceder o tempo e me salvar.

Lila envolve os braços no pescoço de Dcr. Ele, sério.

DCR: Eu não retrocedo o tempo desde aquela flechada, Lila.

Lila quase emudece de novo. Dcr a encarando, sentido.

DCR: Não faça isso comigo.

E Dcr a abraça fortemente, fecha os olhos.

DCR: Talvez eu não tenha superado todas as minhas perdas. Não to preparado pra mais uma.

Lila desfaz o abraço e segura em seus ombros, convicta.

LILA: Ei! Não vai acontecer nada comigo, ok? Nem o Emerson, nem o Cipriano fariam alguma coisa contra mim. Seria se expor demais. E no meio de tanta gente? 

DCR: Foi no meio de tanta gente que ele pretendia matar o João. Não duvide que se algo acontecer a você ele teria uma ótima e convincente justificativa. Ele é muito pior do que você imagina.

Lila, ainda sob efeito da revelação.

LILA: Tudo bem...Eu…(pensativa) Eu vou falar com o chefe. Talvez ele possa mandar alguém no meu lugar. Tudo bem assim? 

DCR: Eu fico mais tranquilo.

Ambos sorriem para logo se abraçarem. No olhar inquieto de Lila sobre o ombro do namorado. 

CORTA PARA a fachada da Igreja Evangélica Mão Divina /

CENA 10 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / MANHÃ]

Em Josué, no palco e com a bíblia na mão.

JOSUÉ: Não se envolva em falsas acu­sações nem condene à morte o inocente e o justo, porque não absolverei o culpado. 

PLANO GERAL da igreja. O povo em pé, com a bíblia na mão e com a outra aberta para cima em sinal de louvor. 

JOSUÉ: Porque não há nada que aconteça sobre a face da terra sem que o Nosso Pai Maior não permita. Que a paz esteja convosco, irmãos!

POVO (em uníssono): Amém!

O povo se movimenta para ir embora. Josué fecha a bíblia e, ao olhar para trás, vê Sônia (com uma faixa no pescoço) entrando, e dando passagem para quem sai. A beata usa um vestido verde escuro na altura do joelho, sapatos altos, uma leve maquiagem, e cabelos soltos. Josué precisa olhar duas vezes para ter certeza do que vê.

JOSUÉ: Pensei que não viesse; você precisa repousar, não?

SÔNIA: Não consegui ficar longe daqui.

Josué meneia a cabeça, enquanto olha para a bíblia e para ela.

JOSUÉ: Hmm...Está bonita, irmã. Essa produção toda em poucos dias na mansão do Cael?

Sônia dá uma sacada no próprio visual, meio boba. 

SÔNIA: Ah, uma coisa simples, né? O Cael é tão elegante que me senti desconfortável do jeito que eu tava. Pedi pra Raíza não exagerar…

Sônia se cala, percebendo que falou de mais.

JOSUÉ: Raíza? Viraram amigas? O Danilo também está no meio? 

Sônia se constrange, não sabe o que dizer.
Josué se aproxima, olhando-a de cima a baixo.

JOSUÉ: Não precisa se justificar, irmã, mas cuidado com as pessoas com quem você anda; elas não têm uma boa reputação e não sabem perdoar. Honra a igreja e o nome do teu irmão. Lembre-se disso.

Nos olhares marcantes entre eles. Josué se afasta deixando a beata apreensiva.

CORTA PARA

CENA 11 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA - BANHEIRO [INT. / MANHÃ]

Josué joga a bíblia com força sobre a tampa da privada e vai abrindo a torneira no lavatório.

JOSUÉ: Estúpida! Idiota! Beata maldita! Agora fica de trelêlê com os heróis de merda. Só o que me faltava!

Josué termina de lavar as mãos, molha o rosto rapidamente, fecha a torneira. Enquanto ele seca as mãos na toalha disposta na parede, CAM pega a decoração do banheiro toda na cor branca, cortina verde no box. Bem pequeno.

Um telefone emite um SOM de mensagem. Josué saca de dentro do paletó um celular. Espia a tela onde, pelo seu P.V, há uma notificação de notícias. Um clique e a manchete da Carioca News é exibida com a foto de Emerson Martins.

VOLTA À CENA

Em Josué, sem entender.

JOSUÉ: Mas o quê?!

CENA 12 MANSÃO DE CIPRIANO - QUARTO DE AIMÉE [INT. / MANHÃ]

Em Aimée com o celular na orelha e muito inquieta.

AIMÉE: Ai, Valentina! Pra quê me deu um celular se você não atende? (T) Ah! Até que enfim, Val! Pelo amor de Deus, vai acontecer uma tragédia hoje! (T) Cipriano mandou o Hans cumprir uma missão, certeza que é pra matar um de vocês, certeza! Por favor /

Mãos masculinas arrancam o celular dela. Aimée treme de medo diante de Cipriano.

CIPRIANO: Burlando as regras, minha querida? (meneia a cabeça negativamente) Não gosto disso.

Muito suspense. Aimée respira ofegante, vai recuando, mas Cipriano violentamente a ENTRELAÇA em seus braços. No GRITO abafado da garota.

CORTE DESCONTÍNUO

CENA 13 MANSÃO DE CIPRIANO - SALA DE ESTAR [INT. / MANHÃ]

Cipriano LARGA Aimée que cai sobre o sofá preto, apavorada.

AIMÉE: O que vai fazer comigo? Por favor, eu não quero morrer antes de ver o meu pai.

CIPRIANO: Que pedido mais lindo. Estou comovido, sério. Mas não irei matá-la. Pelo contrário, irei proporcioná-la momentos de diversão.

Cipriano faz um movimento para algo fora da tela.
Telas de TV espalhadas pelos quatro cantos da sala são ligadas e aparece um noticiário. O local também está equipado com home theater. (A sala é grande, com móveis pretos, decoração em preto e vermelho, destacando-se alguns objetos sobre as mesas).

AIMÉE: O que é isso? Eu não quero assistir TV!

CIPRIANO: É um castigo bem leve, não acha? Você ficará aqui para assistir ao grande acontecimento na Assembleia Legislativa. Porque uma tragédia acaba sendo veiculada rapidamente, concorda?

AIMÉE: Quem você vai matar? Hen? Quem?

Cipriano se agacha, pondo as mãos no joelho.

CIPRIANO (sussurra): O tédio.

E gargalha. Aimée com medo. Cipriano vai saindo, mas volta-se.

CIPRIANO: Ah, já ia me esquecendo. As janelas e as portas não abrem fácil, mas nós temos um frigobar e muitos salgadinhos à sua disposição. Divirta-se!

Aimée, atordoada, corre até a janela grande que se estende até o teto. Tenta abrir, mas é inútil. Quando se volta, Cipriano nem está mais lá.

AIMÉE: Eu não posso ficar aqui.

Aimée corre até a porta, BATE com força.

AIMÉE: RAMON! RAMON! AQUI!

Quase sem esperança, a garota alcança um vaso médio, pensa um pouco. Segura firme, mira e arremessa de contra a

JANELA

Só o vaso quebra.
No susto de Aimée. Ela alcança outro vaso, faz que vai atirar contra uma TV, mas desiste e acaba atirando o vaso no chão, irada. A garota põe as mãos na cabeça e GRITA de raiva e desespero.

CENA 14 COFFEE BREAK - COZINHA [INT. / MANHÃ]

Em Valentina, discando um número, preocupada.

VALENTINA: Mas será que essa garota deixou o Cipriano pegá-la no flagra?

De repente, ela para, pensa rápido.

VALENTINA: Será?!

CAM desliza para o lado revelando Emerson bem atrás dela, olhar fixo. 

EMERSON: Bom dia!

Valentina se vira, espantada.

VALENTINA: Você é bruxo, demônio?

EMERSON: Os dois. Você sabe correr, não é?

Valentina nem tem tempo de nada e Emerson leva o dedo à sua boca.

EMERSON: Não precisa correr. 

Valentina, paralisada, com expressão de pânico. Até que num movimento brusco, Emerson faz a garota desabar no chão, inerte. 

EMERSON: Sonhe com os anjos.

CLOSE em Valentina, de olhos abertos.

FADE TO BLACK


FIM DO SEGUNDO ATO


TERCEIRO ATO


FADE IN

Fachada de um restaurante (o mesmo do episódio 7 - cena 14), elegante, portas de vidro fumê.  

CENA 15 RESTAURANTE [INT. / TARDE]

Local cheio, garçons servindo, clientes conversando, tudo muito fino.

CAM vai se aproximando de Cipriano, almoçando sozinho e concentrado, enquanto corta algo em seu prato. Quando a CAM chega bem perto, a cadeira à frente é puxada por alguém. Josué se senta, sem cerimônia.

Cipriano termina de engolir a comida, observando a ousadia.

CIPRIANO: Vida longa aos que nos seguem.

Josué já vai mostrando o visor do celular com a manchete da Carioca News.

JOSUÉ: Eu posso saber o que significa isso? É obra sua?

Cipriano saboreia sua lasanha, depois dispõe os talheres em seu devido lugar. Apanha uma taça de vinho e bebe, tranquilamente. Josué faz cara de impaciente.

JOSUÉ: Dá pra responder?

Cipriano põe a taça sobre a mesa.

CIPRIANO: Em que momento eu deixei brechas para que você me confrontasse na minha hora sagrada?

JOSUÉ (ignora): O combinado era esse garoto ajudar a acabar com a reputação do maldito Danilo. Eu nunca questionei de onde você o tirou, e agora descubro que ele pode ser o irmão da tal Marina? 

CIPRIANO: Curioso. Nunca me questionou e agora está me questionando?

JOSUÉ: Você sempre foi muito cuidadoso em seus planos, e agora coloca um moleque desses no nosso meio? Já estão afirmando por aí que eles são a mesma pessoa!

Cipriano somente o encara. Josué vai pra trás, desconfiado.

JOSUÉ: Tem bruxaria nisso? Você ressuscitou o garoto?

De uma expressão séria, Cipriano acaba rindo.

CIPRIANO: Quanta imaginação! Qual é o seu medo? Que as pessoas pensem que você estava de conluio com o Emerson esse tempo todo? Que talvez você o conhecesse de longa data e quis ajudá-lo a vingar o que aconteceu com a irmã dele? 

JOSUÉ (surpreso): Não pensei nisso. Só achei que eu devia ser informado sobre aqueles que me cercam. (T) Era esse seu plano?

CIPRIANO: Plano B. Você, como irmão na sociedade, devia saber que o superior não tem obrigação de manter ninguém informado de nada. Claro que eu preferia que ninguém tivesse descoberto essa minha brilhante façanha, mas como descobriram, deixem pensar que se trata de vingança dele. 

JOSUÉ: Eu sou um pastor muito benquisto, não posso ser associado a esse moleque.

Cipriano apanha a taça e esboça cinismo.

CIPRIANO: Sua preocupação é tola, mas de qualquer modo, faça o que sempre fez bem: manipule os seus fiéis. Afinal, quem gosta de perdoar assassino merece ser enganado. 

E ele bebe seu vinho. Josué fecha a cara, em cólera.

CORTA PARA

Fachada do Hospital central /

CENA 16 HOSPITAL CENTRAL - QUARTO [INT. / TARDE]

No soro injetado num braço. CAM abre revelando Valentina numa cama, inconsciente. 

Corta para a porta, onde Marco e Cael conversam com um médico.

MÉDICO: Fizemos alguns exames, mas tudo indica que ela está apenas num sono profundo. Descartamos o uso de antidepressivos ou qualquer calmante que possa ter causado isso.

MARCO: Ela tomava qualquer coisa, menos calmante, doutor. Tenha certeza disso.

CAEL: Então não há uma razão para esse sono profundo? Nem previsão de quando ela vai acordar?

MÉDICO: Difícil saber. O último com o qual lidamos de forma semelhante foi o Danilo Rodrigues, vulgo herói Nilo. Mas o dele foi bastante compreensível.

MARCO: Então, só nos resta esperar.

E olha para Valentina.

FADE OUT

FADE IN

CENA 17 REDAÇÃO NOVO DIA [INT. / TARDE]

Em Beto, digitando algo no computador. BATIDAS FORTES vindas de outro teclado desconcentram o garoto. Ele tenta continuar, mas as batidas retornam, até que o SOM de algo quebrando assusta Beto.

Hans se agacha, tenta catar os pedaços da xícara, nervoso. 

BETO: O que tá havendo, Hans? Desde que chegou você não consegue trabalhar e nem deixar os outros trabalharem.

Hans o ignora. Continua catando os pedaços. Beto se agacha também.

BETO: Hans, você tá me ouvindo? (nenhuma resposta) Você pode ter ganhado uns pontinhos com a chefa, mas você continua pela bola sete /

Hans o agarra pela gola da camisa.

HANS: Quem vai ficar pela bola sete aqui é você se não me deixar em paz!

E solta o colega que cai no chão. BURBURINHOS entre os colegas.
Hans acaba de catar a xícara, joga na lixeira próxima e vai embora.

Em Beto, pasmo.

CENA 18 REDAÇÃO NOVO DIA [EXT. / TARDE]

Hans aponta da portaria, meio distraído. Um SEGURANÇA (loiro, alto, forte, na faixa dos 25 anos) fica olhando pra ele de dentro da redação. Ele se aproxima.

SEGURANÇA: Hans, tudo bem contigo, amigo?

Hans nem dá ouvidos e se afasta. O segurança faz a negativa, sem entender a cena.

Corta para Hans andando pela CALÇADA, passa as mãos pela cabeça, pensativo. Até que ele vê

UM CARRO PARADO NO SINAL

Dentro está João que nem vê o jornalista.
Hans respira ofegante, apressa os passos, levanta a mão.

HANS: João! JOÃO!

É quando, repentinamente, o espírito de EROM aparece ao seu lado.

EROM: Não faça isso!

Hans para, com olhar fixo para o 

CARRO DE JOÃO QUE VAI EMBORA

Volta em Hans ao lado de Erom.

EROM: O João, assim como todos, lhe despreza. Aproveite e cumpra sua missão. Você fará um bem a si mesmo.

Hans muda seu semblante e se mostra arrogante, como sempre.

HANS: Sou uma besta mesmo.

E Hans volta pelo mesmo caminho de onde veio.

Takes da cidade, trânsito movimentado. Imagens aéreas dos grandes prédios.

Fachada do edifício onde moravam Bruno e Josué /

CENA 19 EDIFÍCIO ONDE MORAVAM BRUNO E JOSUÉ [EXT. / TARDE]

O carro de João acaba de estacionar na calçada. A porta abre, João desce, ajeita o paletó e bate a porta.

A CAM passa a ser o ponto de vista de alguém. João entra no prédio. O suspense marca.

CORTA PARA

CENA 20 APTº 301 [INT. / TARDE]

SALA com mobília diferente, em cores pretas, mas nas mesmas posições que antes. CAM alcança um porta retrato com a foto de Bruno, João e Raíza. 

CORTA PARA O

QUARTO

Diretamente na cama, onde há algumas roupas sociais, passadas e bem limpas, dispostas de qualquer maneira. De costas, João guarda um terno preto no guarda-roupa, volta e pega outro, na cor cinza, de cima da cama. Dá uma boa olhada, satisfeito.

Cortes descontínuos em João, no BANHEIRO, fazendo a barba; tomando banho; no lavatório, enrolado numa toalha, espirrando um perfume.

João saindo do quarto trajando o terno cinza, muito bem alinhado. Ele vai ajeitando as abotoaduras pelo CORREDOR e quando chega na 

SALA

João leva um baita SUSTO. Josué se levanta do sofá, com ar sério demais. O suspense aumenta.

FADE OUT

FADE IN

Continuação da cena.

João esboça raiva.

JOÃO: Eu troquei a fechadura, como você entrou aqui?

JOSUÉ: Uma vez você esqueceu suas chaves na igreja. Pedi que a Sônia te entregasse.

JOÃO: Bem coisa de bandido mesmo. Eu vou ligar pra polícia se você não sair daqui.

Josué nem se mexe. Continua a encará-lo. João espia o celular na bancada da cozinha e tenta alcançá-lo, mas Josué avança e prensa o filho na parede.

JOSUÉ: Eu vim até aqui pra te ajudar, caramba! Será que dá pra me ouvir?

JOÃO: Ajudar? Entrou sorrateiramente como deve ter feito no dia que matou o meu tio. 

Josué o larga, chateado.

JOSUÉ: Mas será possível que vocês nunca vão me perdoar?! 

JOÃO: Não seja cínico! Você agrediu o Danilo, me chamou de imprestável. Como pode esperar por perdão se você não mudou nada?

JOSUÉ: Jesus disse /

João o empurra, rispidamente.

JOÃO: Ah! Pare com essas citações bestas! É feio blasfemar, sabia?

Josué fecha a cara, pensa um pouco. Quando vê o porta-retrato sobre a mobília, tenta pegar, mas João avança e retira a foto das vistas dele.

JOÃO: Você não tem mais nada aqui. O apartamento agora é meu e da Raíza. Sua família são seus fiéis otários que acreditam em sua mudança. Você não tem nada a fazer aqui.

JOSUÉ: Ok...Eu só vim mesmo avisá-lo que o Cipriano quer a sua cabeça.

BAQUE em João, que disfarça.

JOÃO: E por que você tá me avisando? Por acaso o seu chefe te contrariou? (Josué fecha a cara) Te humilhou? Falou umas verdades pra você?

JOSUÉ (mente): Eu to te provando que quero mudar, caramba! O Cipriano planeja acabar com você, entende? Evite sair de casa hoje /

JOÃO (por cima): Vou morrer um dia, Josué. E você também, graças a Deus. E eu não vou deixar de viver por medo de uma coisa que acontece com todo mundo.

Em Josué, passado. João vai até a porta e abre.

JOÃO: Agora saia. 

Josué trinca os dentes e SAI batido para o 

CORREDOR

E se apressa, com raiva.

JOSUÉ (resmunga): Que morra!

VOLTA EM JOÃO

Batendo a porta com força. Tenta se controlar, esfrega a mão pela boca, depois tateia o bolso do paletó à procura de algo e retira um porta-joia. Ao abrir, trata-se de uma aliança. João esboça nervosismo, explode.

JOÃO: Eu não posso morrer agora...Não posso! Não posso!

E derruba tudo que está em cima de um pequeno móvel. Se debruça nele, apavorado.

CENA 21 APTº DE RAFAELA - SALA [INT. / TARDE]

Em Hans, sentado no sofá, mãos cruzadas. Rafaela entrega um copo d'água. Hans pega e bebe num gole só.

RAFAELA: Agora você pode contar o que aconteceu?

Tony está sentado numa cadeira, do outro lado.

TONY: Deve ter sido assaltado. Tá com uma cara...

HANS: Me deram uma missão e não sei como cumprir.

Tony se levanta, interessado.

TONY: Opa! Então deixa comigo porque eu não tenho problemas com missões, né, não, princesa?

RAFAELA: Fica na tua, Tony. Deixa ele falar.

HANS: Querem que eu mate o João Batista.

Rafaela vai pra trás, surpresa, mas com ar de satisfação.

RAFAELA: Own! Que missão, hen. Mas, por que justo você?

Hans se levanta, com medo.

HANS: Isso não interessa! O que interessa é que eu preciso de ajuda. Seu amigo aí não poderia/

RAFAELA (por cima): Não! A missão é tua, Hans. Mas se quiser ajuda terá que explicar como você foi envolvido nisso.

Hans coloca o copo sobre a mesinha.

HANS: Eu to envolvido nisso até o pescoço como tu, caramba! Pelo amor de Deus!

TONY: Calma aí, cara! (Tony massageia o ombro de Hans) Relaxa! O primeiro é difícil mesmo, mas depois tu se acostuma.

Hans sua muito, nervoso. 

RAFAELA: Sinto muito, Hans, mas se a chefia souber que você teve ajuda, quem paga o pato sou eu.

HANS: Ok...Não sei porque perco o meu tempo contigo. Você só ajuda você mesma.

Hans dá as costas.

RAFAELA: Hans! Hans! Peraí!

Hans já bateu a porta.
Rafaela se volta, meio desolada, mãos na cintura.

TONY: Que barra, hen, princesa?

RAFAELA: É...Que otário!

E ri, louca.

TONY: Que isso? Endoidou?

RAFAELA: O Hans mal sabe, mas eu fui designada a matar o João caso ele não consiga. E você irá me ajudar, hen.

Enquanto a garota ri, Tony não sabe se acompanha ou se fica estarrecido com a atitude dela.

CENA 22 REDAÇÃO CARIOCA NEWS - ELEVADOR [INT. / TARDE]

Dcr e Raíza se entreolham, lado a lado; o segurança Rynaldo logo atrás.

RAÍZA: A Lila deve ter ido pra casa. Ela não te disse que ia designar outra pessoa para cobrir a reunião na Assembleia?

DCR: Não sei...Roger alegou não saber onde ela tava; outro colega disse que ela tirou folga. To achando estranho. 

O elevador para, a porta se abre. Dcr e Raíza SAEM para um extenso CORREDOR. Rynaldo atrás.

DCR: E essa tal reunião para decidir o aumento dos impostos? O Cipriano escolhe justo hoje para fazer um grande comunicado? Imagine o caos que vai ser numa sexta-feira de carnaval!

RAÍZA: Praticamente o fim do mundo, considerando os que saem para viajar. Não sei porquê, mas sinto cheiro de golpe de estado.

Em Dcr, apreensivo. Quando os três atravessam a tela, Walter, de óculos escuros, está por ali, fingindo usar seu smartphone. Estarrecido.

= = FLASHBACK = =

CENA EM QUE HANS DISCUTE COM WALTER NO ESTACIONAMENTO DA REDAÇÃO NOVO DIA

HANS: Quem será descartado é você, idiota! (Walter se assusta) O teu cargo não valerá de nada quando o Zacarta se tornar ditador, está me ouvindo? De nada!

Hans o larga, deixando Walter surpreso.

WALTER: Ditador? (ri, incrédulo) Você tá louco /

HANS: Você nem sabe o que ele fará hoje na Assembleia, não é? Sabe por quê? Porque ele pensa como um ditador e como ditador ele não dá satisfação para o presidente da câmara. Você é só uma peça no jogo dele. Como todo mundo. Ouviu bem? Como todo mundo!

= = FIM DO FLASHBACK = =

Walter digita algo em seu celular, aflito, e sai de cena.

Vários takes da cidade em alta velocidade /

CENA 23 RUAS DA CIDADE [TARDE]

Ana vem pela calçada com uma sacola de compras. Um carro preto dá uma freada assustando Ana. A garota ainda titubeia. O carro para, DOIS HOMENS morenos e fortes - incluindo Tony - descem rapidamente e cada um segura Ana de um lado.

ANA: EI! SOCORRO!

Tony tapa sua boca e a empurra para dentro do carro. Tony verifica ao redor e entra também. O carro parte.

CENA 24 APTº 301 - SALA [INT. / TARDE]

Em João, procurando alguma coisa, tateia os bolsos do paletó, olha por cima dos móveis.

JOÃO: Cadê essas chaves? 

O telefone TOCA. João alcança o móvel onde está o porta-retrato e pega o celular. Nem olha o visor.

JOÃO: Alô? (T) Rafaela? O quê...? (ele arregala os olhos) Você tá de caô, sua bandida!

CORTA PARA

CENA 25 APTº DE RAFAELA [INT. / TARDE]

Rafaela, ao telefone.

RAFAELA: Não acredita? Peraí!

Rafaela sai da frente da tela e revela Ana, sentada, com uma mordaça na boca e de mãos atadas para trás. Rafaela faz um sinal e Tony retira a mordaça. 

RAFAELA: Fala aqui pro seu namorado que estamos cuidando de você, fala.

ANA: João, não faça nada que ela pedir, por favor! 

JOÃO (V.O): ANA! Onde você tá? Onde você tá?

ANA: Eu to aqui no /

Rafaela lhe acerta um TAPA.

RAFAELA: Vadia! To te dando água, comida e daqui a pouco, até roupa lavada. Sabe agradecer não? (volta ao telefone) É o seguinte, temos umas contas a acertar porque eu não curti o jeito como tu falou comigo outro dia. Se quiser ver a vadia da sua namorada de novo, melhor me encontrar hoje, na Praça Quinze, a partir das cinco horas.

E desliga o telefone.

RAFAELA: Sabe, Ana, essa foi a última vez que você ouviu a voz dele. 

E sai rindo. 

ANA (se debate): Não! Não! NÃO!

No rosto apavorado da garota.

CORTA IMEDIATAMENTE para a PRAÇA XV, muito movimento, grande concentração de manifestantes segurando cartazes.

CENA 26 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA - GABINETE [INT. / TARDE]

Lila está sentada, segurando um estojo de pó compacto e retocando a maquiagem. O gabinete tem aspecto semelhante ao gabinete do Palácio Guanabara. Um jovem arruma sua câmera, de pé.

LILA: O homem já deve tá chegando.

Lila termina de retocar, guarda o estojo dentro de sua bolsa. A porta é aberta, Walter entra, tenso.

LILA: Walter Cury? E o Zacarta?

WALTER: Preciso falar contigo antes dele chegar. (para o câmera) Você espera lá embaixo, garoto.

Lila faz um sinal com a cabeça e o câmera SAI. Walter fecha a porta rapidamente, treme de ansiedade.

LILA: O que tá acontecendo?

WALTER: Tá acontecendo que só o Danilo e a Raíza podem ajudar o povo, mas não pude nem chegar perto por causa daquele segurança.

LILA (nervosa): Como?

WALTER: Eu preciso que você saia daqui e procure esses dois. Eu demorei a entender que o plano do Cipriano vai muito além de agredi-los e se tornar presidente. Essa reunião será apenas um golpe de estado! Ele quer ser ditador!

Lila toca o peito, surpresa.

LILA: E o senhor tá me contando isso porque não quer perder o seu cargo, certo?

WALTER: Eu perco o meu cargo; o povo perde a liberdade; e até você pode perder seu emprego. Isso, se sair viva daqui.

LILA: Ele não seria louco! O povo se revoltaria contra ele e/

Walter a agarra pelos ombros, nervoso.

WALTER: Eu to falando de um ditador, garota! Tá dando pra perceber?

Lila se solta dele, arisca.

LILA: E como o senhor espera que o Danilo e a Raíza ajudem? Não há o que fazer.

WALTER: Existe um jeito, meio estranho, de desestruturar o Cipriano. Você pode não acreditar, mas é mais eficiente do que tentar matá-lo com arma de fogo.

Em Lila, atenta.

CENA 27 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA - RECEPÇÃO [INT. / TARDE]

O câmera man da cena anterior está perto da escadaria quando o local é tomado por jornalistas e repórteres. Cipriano vem na frente, cercado por alguns homens, todos bem alinhados. Repórteres ávidos por uma declaração. Cipriano sobe alguns degraus e se volta, fazendo um sinal com as mãos.

CIPRIANO: Por favor! Por favor! Peço que todos aguardem aqui. Sei que estão ansiosos para saber a minha posição no dia de hoje, mas tenho certeza que ninguém sairá daqui...(ênfase) Sem uma boa manchete.

Antes de subir, Cipriano repara no câmera man e, em seguida, sobe.

O câmera man já está com o celular a postos.

CENA 28 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA - GABINETE [INT. / TARDE]

Em Lila, abismada com o que acabou de ouvir.

LILA: Isso é sério? Esse Zacarta é um bruxo? Por isso só existe essa maneira de derrubá-lo?

WALTER: Não é das mais fáceis, concorda?

Um telefone TOCA. Lila vai até a mesa, ficando de costas para Walter. Ela abre sua bolsa e saca o celular.

LILA: Fala (T)...Ah, sim, valeu!

Um GEMIDO DE DOR e Lila se volta, sobressaltada. Walter está de joelhos com as mãos no peito. Emerson logo atrás com uma das mãos na direção de Walter. Este agoniza até cair no chão, desfalecido. Emerson se aproxima, Lila vai pra trás, com medo.

LILA: Emerson? O que você fez?

EMERSON: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido?

LILA: Essa frase é de Jesus.

EMERSON: Concordo.

Emerson puxa Lila pela nuca, assustando-a. Cola em seu ouvido.

EMERSON (sussurra): Mas me define melhor.

E quando a solta, mostra-se como CIPRIANO. Lila GRITA, apavorada. Corre até a porta, aperta a maçaneta, mas nada de abrir. Lila BATE freneticamente.

LILA: SOCORRO! ALGUÉM ABRA AQUI! ABRA AQUI!

Quando se dá conta, Cipriano desapareceu. 

No seu rosto assombrado.

SMASH TO BLACK


FIM DO TERCEIRO ATO


QUARTO ATO

FADE IN

ÂNGULO ALTO sobre a PRAÇA XV e seu entorno cercados por uma multidão.

CENA 29 PRAÇA XV [INT. / TARDE]

Muita gente, dentre eles, repórteres, se concentram à frente da Assembleia Legislativa. CORTES DESCONTÍNUOS nos rostos de cada um, em quick motion, revoltados, curiosos, ávidos por alguma coisa. Alguns usando alegorias de carnaval na cabeça.

Dcr, Raíza e Sam vêm entre eles, tentando uma brecha. Roger atrás, aflito.

ROGER: Eu só fiquei sabendo porque o boss me falou agora há pouco.

DCR: A Lila disse que ia encarregar outra pessoa. Ela mentiu pra mim!

RAÍZA: Tente ligar de novo.

Dcr saca um celular do bolso.

CENA 30 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA - GABINETE [INT. / TARDE]

Em Lila forçando a maçaneta. Ela bufa de cansaço, vai até sua bolsa, pega um grampo de cabelo. No celular sobre a mesa, piscando. Aparece a imagem de Dcr. Lila atende.

LILA: Danilo! Danilo, por favor! Eu to presa aqui no gabinete! Me ajude! Danilo?!

O telefone é desligado sozinho. Lila tenta ligar, sem sucesso, larga-o em cima da mesa e corre até a porta. Força a fechadura com o grampo. De repente, ela destranca. Lila suspira de alívio, abre rapidamente e dá com

VÁRIAS PESSOAS COMEÇANDO A QUEBRAR TUDO

Elas sobem as escadarias, fazem balburdia. Lila se desespera.

CENA 31 PRAÇA XV [INT. / TARDE]

Muita pancadaria, gente correndo, tentando se esquivar. Dcr, Raíza, Sam e Roger procuram um lugar seguro. O celular de Dcr TOCA. No visor, a imagem de João. Dcr atende.

DCR: Fala João (T). O QUÊ? A Ana foi raptada pela Rafaela? Não, espere!

Raíza arranca o celular dele.

RAÍZA: João, não faça nada, pelo amor de Deus! (T) Não, não venha pra cá! Não faça o jogo dela, lembre-se da minha visão, JOÃO!

DCR: O que eu faço?

RAÍZA: Preciso encontrá-lo. Você fica aqui.

É quando Rynaldo aparece na frente dela.

RYNALDO: A senhorita não vai a lugar nenhum.

RAÍZA: Quero ver tu me impedir.

Rynaldo só a encara, de forma medonha. Raíza e Dcr não conseguem sair do lugar.

RAÍZA: O que você fez?

Rynaldo nada diz. Sam se afasta e vai se embrenhando por ali.

CENA 32 PALÁCIO TIRADENTES [EXT. / TARDE]

João acaba de sair do carro. Observa as pessoas correrem, alguns em pânico e outros animados com a confusão. Ele caminha para fazer o contorno sem perceber que, lá atrás, Hans também sai de seu carro, espiando-o.

João atravessa a tela, a CAM sobe pegando a fachada grandiosa do Palácio Tiradentes.

CENA 33 APTº DE RAFAELA [INT. / TARDE]

Na TV sendo exibido um jogo de futebol. Tony assiste, sentado, com as pernas sobre a mesa, enquanto bebe cerveja. Logo atrás, Ana, ainda amarrada na cadeira.

ANA: Ei! Own! Cê tá me ouvindo?

TONY: Que é, novinha? Tu não tá vendo que to ocupado, não?

ANA: To com sede.

Tony suspira, mas se levanta, chateado.

TONY: Vo lá pegar sua água.

ANA: Tava topando uma cervejinha.

TONY: O quê? (gargalha) Esqueci que tu curte um álcool, né novinha? (ele apanha uma garrafa) Tá certo.

Tony aproxima a garrafa da boca de Ana, mas ela fica sem jeito pra beber.

ANA: Eu não consigo beber assim. Não poderia me soltar um instante?

TONY: Tá de caô? Se a princesa te pega na liberdade ela me mata.

ANA: Ninguém vai saber, juro. Minhas mãos estão doendo também.

Tony pensa rápido, coça a cabeça. Ele larga a garrafa na mesa, decidido e desamarra a garota.

ANA: Valeu! 

TONY: Agora toma sua cervejinha, mas toma rápido!

Tony entrega a garrafa e Ana pega, fazendo charme.

ANA: Você não bebe comigo?

TONY: Vo lá na cozinha pegar outra garrafa. Mas tu vem comigo. Não vou ser vacilão, não.

ANA: Ok.

CORTE DESCONTÍNUO

Em Tony, com a geladeira aberta, contendo alguns engradados de cerveja. Ele apanha uma garrafa de vodca e admira, ainda de costas.

TONY: Pra tu não falar que não foi bem recebida, olha a bebida de rico que tenho aqui.

Mal olha para trás e Ana lhe acerta UMA GARRAFADA no rosto. Tony urra de dor, mas ainda segura firme a vodca. Ana corre, vaza pela

SALA

Procura alguma coisa, espavorida, acaba encontrando as chaves sobre o sofá.

TONY: Tu vai me pagar, sua vaca!

Assim que Ana apanha as chaves, ela volta com o braço ferindo-o no rosto. No GRITO de Tony. Ana é rápida, chuta a barriga do bandido, que cai no chão. Ela vai até a porta, engata uma chave, 

tenta outra 

e mais outra. 

Tony se levantando. Até que a garota abre a porta e foge. Tony soca o sofá.

CENA 34 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA [EXT. / TARDE]

MUSIC ON - SUSPENSE

João apressando os passos. Cortes descontínuos entre ele e Hans, DO OUTRO LADO DA RUA, e na mesma direção.

Até que João para na encruzilhada, admirado com o que vê. PLANO GERAL da 

PRAÇA XV

Tomado pela multidão, boa parte já invadindo a Assembleia. A polícia já chegando ali e atirando gás lacrimogêneo. Alguns se dispersam. A pancadaria só aumenta.

VOLTA EM JOÃO

De costas para a rua à direita onde, ao fundo, Hans já aponta sua arma. No que João olha, Hans acerta um TIRO em seu ombro. João reclama de dor, se esgueira, segurando a ferida.

CENA 35 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA [INT. / TARDE]

Cenas de vandalismo. Janelas sendo quebradas, objetos destruídos, parte do cenário pegando fogo. Lila, já com os cabelos desgrenhados e a roupa desarrumada, atira uma cadeira contra algumas pessoas. Luta como pode, afobada.

SÉRIE DE PLANOS:

  1. João, ofegante, anda por entre as pessoas, que nem o percebem. Com a mão no ombro, o sangue já se espalha por sua roupa.

  2. Lila acerta uma braçada na cara de uma mulher, que tenta rebater, mas a jornalista a agarra pelo pescoço e ATIRA do alto da sacada.

    ÂNGULO BAIXO na mulher caindo. Lila observa, atônita pelo o que fez. É quando outra mulher tenta lhe dar uma gravata por trás, puxando-a com força.

  3. João é esbarrado pelas pessoas, anda no meio da balburdia, procurando por alguém. Até que avista Rafaela em uma das laterais, próximo ao chafariz, com as mãos para trás. João se esforça e vai até ela, que sorri, sádica.

  4. Lila se engalfinha com outra mulher, as duas vão de um lado e de outro, quando a agressora arremessa Lila da escadaria. Mas Lila se segura nela e as duas rolam pelas escadas.

  5. João fica cara a cara com Rafaela.

    JOÃO: Cadê a Ana, sua ordinária? Onde você a malocou?

    RAFAELA: Pobre, João! A sua priminha não previu seu futuro, não é mesmo?

    Em João, muito tenso.

  6. Lila tenta se levantar, tem dificuldade, sente a perna. A inimiga se levanta rápido, com ódio no olhar. De repente, uma bomba quica pela escada e para há uns cinco degraus de distância. Lila e a inimiga se entreolham, medrosas.

CORTA PARA

CENA 36 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA [EXT. / TARDE]

Na fachada, coberta por janelas envidraçadas. 

Uma forte EXPLOSÃO estilhaça os vidros.

MUSIC OFF

[efeito câmera lenta]

O povo se abaixa, tenta se proteger. Roger e Raíza abraçam Dcr. Nesse instante, Raíza olha fixo para algo fora da tela, se afasta dali sem se dar conta de que Rynaldo sumiu.

Raíza vai abrindo caminho, corre, esboça tristeza, faz a negativa. Não quer acreditar.

João adiante, até então de costas. Quando se vira, suas mãos, sujas de sangue, apertam o estômago. Ele quase caindo, e Raíza o ampara. Olho no olho, ambos já em lágrimas. Eles caem no chão.

[fim do efeito câmera lenta]

RAÍZA (voz embargada): João, eu vou chamar a ambulância, aguenta firme /

João segura na mão da prima.

JOÃO (balbucia / ofegante): Não tenho mais jeito...Você sabe. (se esforça) Eu vou morrer (chora)... Mas eu queria que você soubesse que...Que eu nunca concordei...Com nada que o Josué fez...Contra você. Aquela internação, sabe?

RAÍZA: Eu sei, eu sei.

JOÃO: Porque eu sempre gostei de você...(Raíza fecha os olhos, controla o choro) Do meu jeito torto...Só não consegui demonstrar.

ANA (O.S): JOÃO! JOÃO!

João se agita, feliz.
Ana se joga perto dele, horrorizada.

ANA: João, por favor! Não morra, não faça isso comigo!

JOÃO: Ana...Você tá bem!(ele apalpa o paletó, já todo ensanguentado, apanha o porta-joia) Olha, era pra ser uma surpresa...

Ana apanha o objeto. No que abre, derrama-se em lágrimas diante de uma aliança. Beija o namorado com ardor. Depois, ele encara Raíza. 

JOÃO (muito esforço): Diz pro Danilo que eu deixei um abraço...

Ele esboça um sorriso frágil. CLOSE em suas mãos que apertam as de Raíza. Até que a soltam, devagar.

João MORRE de olhos abertos.

Cael e Sônia chegando ali, pasmos. Raíza tenta segurar o choro, mas é inevitável.

SIRENES DE POLÍCIA E AMBULÂNCIA. SOM de carros freando. VOZES denotando pânico.

A repórter diante da câmera.

REPÓRTER: Uma explosão aqui na Assembleia Legislativa, durante as manifestações contra a proposta do aumento de impostos, deixou vários feridos e pelo menos uma morte foi confirmada.

Enquanto ela divulga a notícia, a fachada da Assembleia é mostrada pegando fogo. Janelas se quebram, pequenos arbustos despencam. Bombeiros já estão no local fazendo seu trabalho.

Dcr sai empurrando os que ele vê pela frente, aflito. Bombeiros retiram uma maca de dentro da Assembleia onde há um corpo. É Lila, toda machucada, barriga e pernas ensanguentadas.

DCR (berra): LILA! LILA! 

Dcr tenta avançar; A polícia tenta contê-lo.

DCR (desesperado): NÃO! NÃO!

Adiante, Raíza está agachada, olhando para a direção de Dcr, em lágrimas e em choque.

CAM flagra, de uma janela da Assembleia, Cipriano. Este sorri, glorioso.

ÂNGULO ALTO

A Praça XV no maior caos. Polícia prendendo alguns manifestantes. Dcr tentando acompanhar a ambulância. João morto nos braços de Raíza e Ana.

FADE TO BLACK

FIM DO QUARTO ATO


ATO FINAL

FADE IN

Cortes descontínuos em vários televisores dando a mesma notícia, em diferentes canais. 

REPÓRTER #1: O candidato à presidência, Cipriano Zacarta, provoca golpe de estado após a descoberta de corrupção por parte do presidente da câmara dos deputados, Walter Cury.

REPÓRTER #2: Entretanto, ele garante que não previa tanta violência durante o ato que o torna o novo líder do Brasil. 

CORTE DESCONTÍNUO

CENA 37 HOSPITAL CENTRAL - RECEPÇÃO [INT. / NOITE]

Dcr anda de um lado e de outro, angustiado. Roger, Cael, Marco e Sônia por ali. Sam está sentada, percebe-se que andou chorando.

Do corredor, o médico vem ao lado de Alexandre, ambos com aparência de desolados.

DCR: Alexandre, e aí? Conseguiu vê-la? Ela vai ficar bem, não vai?

Alexandre hesita, querendo chorar.

ALEXANDRE: Nós a perdemos, meu rapaz.

Dcr vai pra trás, baqueado. Roger tenta segurá-lo.

DCR: Não...Isso não é verdade...De novo não...DE NOVO NÃO!

E se desvencilha de Roger, tentando ir atrás de Lila, mas o médico o contém rapidamente. Dcr tenta forçar a passagem, descontrolado. Roger, Marco e Cael tentando contê-lo, até que Dcr não suporta e cai de joelhos, aos prantos. 

Alexandre cobre o rosto, desalentado.

FADE TO BLACK

OUVIMOS um sino tocar.

FADE IN

CENA 38 CEMITÉRIO [INT. / MANHÃ]

PLANO GERAL

À frente, um grupo de pessoas cercam dois caixões, lado a lado, enquanto caminham. Dcr é amparado por Alexandre, ambos abalados. Roger e Cael carregam o caixão de Lila sobre um suporte com rodinhas; Marco e Raíza fazem o mesmo com o caixão de João. Beto, Ana, Sônia e Sam vêm atrás. Raíza está de óculos escuros, aparência apática.

CORTE DESCONTÍNUO

E já estão todos diante de dois túmulos abertos. O caixão onde está Lila é içado até o túmulo. Dcr não para de chorar, Alexandre o afaga. É a vez do outro caixão ser içado. Muita comoção.

VOZ MASCULINA: Com licença, com licença...

Josué aparece no meio deles, com uma bíblia na mão.

JOSUÉ: Por favor, será que eu poderia...?

RAÍZA (por cima): Não, não poderia.

Os dois se encaram, fortemente.

JOSUÉ: É o meu filho que tá ali/

RAÍZA: Que você só lembrou agora. Sempre o tratou como sobrinho e o instigava contra mim, não é?

JOSUÉ (mente): Não, isso não é verdade. Você não vai querer/

RAÍZA: Sabe o que ele me disse antes de morrer? Que gostava de mim, mas nunca conseguiu demonstrar. E sabe o que foi que eu respondi? (Tempo / segura o choro) Nada. Eu não disse nada!

Ana, ao fundo, abaixa a cabeça, chorosa.

RAÍZA: Agora pega essa sua bíblia maldita e some daqui!

Josué engole a raiva, olha para todos, até encarar Dcr com o rosto apoiado no ombro de Alexandre. Josué SAI dali, de cabeça baixa.

Dcr dá a mão para Raíza e ambos se abraçam.

O PONTO DE VISTA passa a ser de Cipriano, bem afastado. Ele põe os óculos escuros.

CIPRIANO: Estou satisfeito. Vamos!

Um homem negro, alto e forte, abre a porta para ele. CAM continua no cenário fúnebre.

CENA 39 APTº DE RAFAELA - SALA [INT. / MANHÃ]

Rafaela diante de Tony, gesticulando muito.

RAFAELA: Tu tinha que ver a cara do João quando eu perguntei se a Raíza não tinha previsto a morte dele. Não sabia nem que rumo tomar. Aquela explosão veio a calhar, sabia?

E Rafaela faz de conta que tem uma arma na mão.

RAFAELA: Foi só um tiro, Pow! E aí ele arregalou aquele olhão bonito que ele tinha (continua imitando), pôs a mão no estômago - nessa hora ele não sabia se segurava o ombro ou o estômago - e eu vi quando ele cambaleou (ela vai cambaleando) e caiu em cima da Raíza.

Rafaela cai de bruços no sofá, aos risos. Tony só espia, preocupado.

RAFAELA: Tenho a impressão de que ele pediu a Raíza que o salvasse. (ri) Mas ela salva quem? Quem?  (dá de ombros) Ninguém!

A garota para de rir, tem um olhar fixo. Derrama uma lágrima. 

RAFAELA: Bastou um tiro...Ele já tava todo cheio de sangue...Sabia que houve um tempo que eu gostava dele? Sabia?

Tony continua a observá-la, com pena.

RAFAELA: Fiz amizade com a Raíza pra ficar perto dele. Ele nunca olhou pra mim. Mas ontem ele olhou bem (ri, esconde a cara no estofado, meio enlouquecida. Para, de repente). Ele preferiu a Ari (pensa / sofrida)...Os dois estão mortos. Eu o matei. Fala alguma coisa, Tony...Eu o matei, não matei?

TONY: Sim, princesa. Você o matou.

Rafaela, olhos marejados, ri e chora ao mesmo tempo.

FUSÃO PARA

COMPILAÇÃO DE CENAS

  1. MANSÃO DE CIPRIANO - QUARTO DE AIMÉE [INT. / MANHÃ]

Em Cipriano, entregando um laptop a Aimée, sentada em sua cama. Horrorizada, a garota cobre a boca pelo o que vê

NA TELA

A manchete da Carioca News: "Atentado à bomba na Assembleia Legislativa mata Lila Machado - Tudo leva a crer que a manifestação contra o aumento dos impostos era apenas fachada para o golpe de estado promovido por Zacarta".

Aimée encara Cipriano. Este apenas sorri.

FUSÃO PARA

  2. APTº 3011 - SALA [INT. / TARDE]

Dcr acaba de abrir a porta. Valentina, com ar de lamentação, apenas o abraça. Dcr chora.

FUSÃO PARA

  3. APTº 301 - QUARTO DE JOÃO [INT. / TARDE] 

Ana e Raíza, sentadas na cama, e rindo com um álbum de fotos. O álbum é da família de Raíza, contendo fotos antigas de Bruno, Josué, ao lado de João e Raíza ainda crianças. João ainda bebê; Raíza sendo empurrada numa cadeira de balanço, por Josué. Até que, ao folhear, encontra uma foto dela com João, contendo a legenda em papel branco: 13/12/2004.

Raíza deixa escorrer uma lágrima, mas abre a mão e Ana lhe entrega uma foto. Raíza encaixa logo abaixo daquela anterior. A foto mostra Ana, João, Roger, Dcr, Raíza e Marco na festa de aniversário, um dia antes.

CLOSE em João, sorrindo.

FADE TO BLACK

FADE IN

CENA 40 CEMITÉRIO [INT. / TARDE]

CAM TRAVELLING faz uma busca por entre as sepulturas até encontrar Raíza, de joelhos, perante dois túmulos. CLOSE em ambos.

Dalila Moura Machado
28/07/1982 - 13/02/2015

João Batista Lopes Maciel

14/12/1978 - 13/02/2015

Raíza toca no túmulo de Lila, mas quando pensa em fazer o mesmo com o outro, OUVIMOS PASSOS.

CIPRIANO (O.S): Não foi por falta de aviso. 

Raíza se levanta rapidamente, com raiva.

CIPRIANO: Eu disse que você e o herói de brinquedo ainda tinham muito a perder. Nenhum dos dois me ouviu.

RAÍZA: Por que não nos mata logo? Já conseguiu o que queria, agora é ditador, matou inocentes. Por que não me mata agora?

CIPRIANO: Porque a morte de vocês não me interessa mais. Me divirto e me alimento muito mais com ambos vivos, sofrendo, se desesperando. E agora eu tenho certeza de que você jamais mudará isso. (põe os óculos escuros) Meus pêsames.

E Cipriano dá as costas. Raíza, em segundo plano, se contorcendo de ódio.

FADE TO BLACK

FIM DO EPISÓDIO


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