0:00 min       RAÍZA TEMPORADA FINAL     SÉRIE
0:38:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA 4


Série de
Cristina Ravela

Episódio 08 de 14
"Prelúdio"



© 2016, Webtv.
Todos os direitos reservados.

 ATO DE ABERTURA

FADE IN

= = FLASHBACK = =

CENA 1 CAMPO DE SANTANA - BOSQUE [INT. / MANHÃ]

No dedo alongando a corda de um arco e flecha. A flecha é disparada.

Enquanto João corre lado a lado de Dcr, este é atingido brutalmente pelas costas. 

CORTE DESCONTÍNUO

Em Dcr já tombando no chão. 

João quase se joga nele, perturbado com a cena.

DCR (V.O): Fui caçado como um animal em uma guerra que era minha.

CLOSE no rosto pálido de Dcr, olhos abertos e sangue escorrendo pela boca.

DCR (V.O): E a favor dos meus.

FADE TO BLACK

FADE IN

CENA 2 DELEGACIA – CELA [INT. / TARDE]

João e Dcr, em tom de segredo.

JOÃO: Será mais fácil para o povo aceitar que o Josué me perdoe do que a você. Ele não vai deixar aquela máscara de bom pastor cair.

DCR: Você é louco! 

CENA 3 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / TARDE]

DCR (V.O): Como um herói de qualquer enredo eu passei pela provação suprema e caí na armadilha de um vilão estrategista.

PLANO AMERICANO mostra Cipriano de costas cobrindo metade da tela, enquanto caminha. Adiante, Josué com as mãos voltadas para frente, segurando uma bíblia.

CIPRIANO (abrindo os braços): Vida longa aos que nos seguem, irmão!

JOSUÉ: Vida breve aos que nos perseguem.

CIPRIANO: Tenho um pedido a lhe fazer, nobre amigo. E sei que de imediato lhe será custoso.

JOSUÉ: Já é custoso servir de bom pastor (Cipriano ri). O que pode ser pior?

CIPRIANO: Perdoar o inimigo.

Em Josué, indignado.

JOSUÉ: O quê? 

CIPRIANO: Perdoe a ofensa, amigo. Do resto eu cuido.

JOSUÉ: Por que eu perdoaria aquele herói fajuto?

CIPRIANO: Porque não é ele quem estará no cadafalso.

CLOSE em Josué, curioso.

CENA 4 PRAÇA XV [INT. / MANHÃ]

RAÍZA (V.O): Muitos, na verdade, caíram nessa armadilha.

Em meio à guerra, Aimeé está do outro lado, aturdida, quando um homem tampa sua boca e a arrasta até sumir em meio à multidão.

RAÍZA: AIMEÉ!

CORTA PARA

CENA 5 PALÁCIO GUANABARA – GABINETE [INT. / TARDE]

Dois seguranças trazem Aimeé pelo braço, arredia, deixando-a diante de Cipriano.

RAÍZA (V.O): Cipriano aproveitou a guerra para obrigar Aimeé a se casar com ele. Fazia parte de um acordo no qual ele jamais cumpriria.

O governador mostra a tela do celular para Aimeé, que esboça aflição.

Pelo seu P.V, a tela exibe um vídeo onde Jaime, com ódio, aparece tentando alcançar quem filma, através das grades. 

Aimeé não tempo de chorar, quando Cipriano, com a outra mão, a entrega um documento e uma caneta.

CLOSE no documento. Trata-se de uma certidão de casamento.

CENA 6 DELEGACIA – CELA [INT. / TARDE]

DCR (V.O): Mas heróis também sabem criar armadilhas, ou pelo menos...Reinventá-las.

Raíza aperta suas mãos na grade e aproxima rapidamente o rosto.

INSERT – Mão da vidente

Na qual, discretamente, passa uma pulseira de aço com dois detalhes pontiagudos para a mão de Dcr. 

RAÍZA: Eu não prevejo uma saída pra você, mas você não morrerá como um criminoso, ouviu bem?

CENA 7 CAMPO DE SANTANA - BOSQUE [INT. / MANHÃ]

DCR (V.O): O mal, por mais inteligente que seja, não resiste a um inimigo tombado.

Dcr, caído de bruços e com a flecha cravada nas costas, agoniza.

INSERT – A mão de Dcr apertando a mão de João.

É possível ver que Dcr usa a pulseira da cena anterior e que ela é pressionada sobre a mão de João.

DCR (V.O): Perdi completamente os sentidos. E assim como Raíza, eu tinha morrido.

CORTE DESCONTÍNUO

Sapatos masculinos caminham pelo chão de terra até pararem diante do rosto inerte de Dcr. O sujeito se AGACHA, está usando um sobretudo e segura um arco e flecha. CAM vai subindo e revela Emerson, sorriso sádico.

EMERSON: *Resquiescat in Pace!

Legenda: *Descanse em paz!

Emerson, então, se levanta, mas CAM não acompanha de imediato. Em seguida, CAM vai buscar seu rosto, que agora, é de Cipriano.

CENA 8 APTº DO PRESIDENTE [INT. / MANHÃ]

Raíza avança sobre a porta e quando ABRE, lá está João, em lágrimas. Os dois se fitam, profundamente. João ENTRA, tenta disfarçar a emoção, treme os lábios.

RAÍZA (V.O): A minha agonia era a de não ter previsto que João trocaria de lugar com Dcr. Vê-lo ali, vivo, me fez ter a certeza de que por mais que eu possa prever o futuro, eu não posso reger o destino de ninguém.

JOÃO: Ele se foi.

Corte descontínuo no abraço dos dois, comovidos.

RAÍZA (V.O): Ele se foi, como eu, um dia.

= = FIM DO FLASHBACK = = 

CENA 9 HOSPITAL CENTRAL [EXT. / MANHÃ]

CÂMERA TRAVELLING rapidamente

INVADE O HOSPITAL

RAÍZA (V.O): Mas eu ressuscitei.

Atravessa corredores

passa por enfermeiros

desloca para a direita, ultrapassa uma porta

DCR (V.O): Eu também.

Até INVADIR um QUARTO, onde enfermeiros, de costas para a CAM, cuidam de um paciente, no leito. A CAM busca rapidamente o seu rosto e, surpreendentemente, trata-se de Dcr, dormindo.

A TELA SE FECHA NO BAQUE

FIM DO ATO DE ABERTURA


4x08

PRELÚDIO


PRIMEIRO ATO

FADE IN

CENA 10 PALÁCIO GUANABARA [EXT. / MANHÃ]

Na janela aberta, revestida por uma cortina vermelha. Até que a mesma é aberta por Cipriano.

CIPRIANO: Que belo dia! Sentirei saudades dessa vista.

Pelo seu P.V, o cenário é de pós-guerra; fumaça pairando sobre as ruas; escadas perfuradas a bala, monumentos quebrados e pichações em preto. 

VOLTA PARA CIPRIANO

Suspirando.

WALTER (O.S): Veio se despedir do seu gabinete?

CENA 11 PALÁCIO GUANABARA – GABINETE [INT. / MANHÃ]

Cipriano se volta, olhando ao seu redor em tom de nostalgia. Walter por ali, sorrindo, imponente.

CIPRIANO: Temos que deixar para trás algumas coisas para alçar novos voos. A cadeira do presidente me aguarda, nobre amigo.

WALTER: Falta menos de três meses para as novas eleições. Já conseguimos que nenhum jornal faça uma nota maliciosa sobre sua candidatura, mas...Sobre o Danilo...

CIPRIANO (corta / irônico): Lila Machado é adorável, mas um tanto cansativa. Não entendo onde foi que eu errei com esse garoto. Parece feito de aço.

WALTER: Soube que ele está melhorando a cada dia. Nenhum órgão perfurado, nenhuma sequela. To quase acreditando em Deus.

Walter ri, e por incrível que pareça, Cipriano também.

CIPRIANO: Ah, meu amigo mais querido...(contorna a mesa e vai até Walter) Não haverá escapatória para quem já está condenado. Minhas atenções, agora, estão voltadas à cadeira do presidente.

WALTER: O que quer dizer com isso? Você mesmo disse que não pretende levar os anti-heróis ao julgamento.

CIPRIANO: E não devo levar mesmo. Eu seria perverso em julgar e punir uma criatura que não terá como se defender.

WALTER (malicioso): O que andou aprontando na minha ausência, hen, futuro presidente?

Cipriano sorri.

CENA 12 APTº DE RAFAELA – SALA [INT. / MANHÃ]

Tony está sentado no sofá, lendo a manchete da NOVO DIA. Close no jornal: “Zacarta lidera as intenções de voto”.

Rafaela surge amarrando os cabelos e trajando camisa e calça brancas.

Tony fecha o jornal, sem entender.

TONY: Aonde a princesa vai vestida de enfermeira?

RAFAELA: Dá pra passar despercebida, né? Qualquer um que entrar no hospital, de branco, pode ser confundido, sabia?

TONY: To sabendo...E isso tudo é pra ver o herói medieval?

RAFAELA: Herói medieval?

TONY: É assim que estão chamando o cara. Não é todo dia que alguém é flechado, né?

Rafaela revira os olhos, apanha sua bolsa e abre, dando uma verificada.

TONY: Mas tu vai ver o cara pra quê? Pra matar as saudades?

RAFAELA: Você ainda se lembra de que trabalho pra um jornal, né? Consegue completar?

Tony joga o jornal com força no sofá.

TONY: Tu continua me tratando desse jeito pra tu ver onde vai parar, continua. 

Rafaela, fingindo dengo, dá um beijo na boca dele.

RAFAELA: Você me leva a sério demais, hen.

TONY: Assim tá bem melhor. Quer cobertura?

RAFAELA: Só se for de chocolate. (dá as costas) Não me espere pro almoço.

Rafaela abre a porta e SAI.
Tony espia, chateado.

CENA 13 HOSPITAL CENTRAL – SALA DE ESPERA [INT. / MANHÃ]

Visitantes e enfermeiros transitam pelo o local. Lila e Raíza, ansiosas, andam de um lado e de outro, em sentidos opostos. Até que se esbarram.

LILA: Esse médico não vem não? Ele disse ter ótimas notícias.

RAÍZA: Ele diz isso há três semanas, que o quadro dele está melhorando, que foi um milagre ele não ter sequela física, mas mantinham o cara sob observação intensa.

LILA: Eles consideram o caso inédito. Não só pela flechada em pleno século 21, mas justamente por alguém sair ileso dela.

RAÍZA: O pior é que o caso não vai dar em nada. Só acho o Cipriano muito quieto pra quem foi afrontado.

As duas bufam, chateadas.

LILA: E a Ana e o João? Não quiseram vir?

RAÍZA: Devem vir mais tarde.

O médico (alto, branco, na faixa dos 30 anos, magro) entra com uma prancheta. Lila se apressa.

LILA: E então, doutor? Podemos ver o Danilo?

MÉDICO: Sim, mas peço que não façam muitas perguntas. Ele tá um pouco confuso devido a forte sonolência em que esteve. Só tem vocês duas?

As duas fazem que sim.

MÉDICO: O Danilo perguntou por um tal de Blake. É amigo de vocês?

LILA: Blake?

Lila e Raíza se entreolham, sem entender.

CENA 14 HOSPITAL CENTRAL – QUARTO [INT. / MANHÃ]

A porta é aberta. O médico entra primeiro, seguido por Raíza e Lila. Lila, sorridente, avança sobre Dcr. 

LILA: Danilo, que susto você me deu!

Lila o beija na boca e Dcr se assusta.
Raíza se aproxima e segura a mão do amigo.

RAÍZA: Lila, isso é abuso! Ele tá acamado.

Elas e o médico riem.

DCR (para Raíza): O que a senhorita faz aqui? (tenta se levantar) Onde está Blake? 

Lila o contém, Raíza se preocupa.

LILA: Quem é Blake?

DCR: Ora, eu quase fui morto e as senhoritas é que estão confusas?

LILA (para o médico): Por que o Danilo tá falando assim, doutor?

Raíza encara Dcr, como se percebesse algo.

RAÍZA: Qual é seu nome?

CLOSE em Dcr.

DCR: Que pergunta! Meu nome é George Everett.

CLÍMAX.

Em Raíza, espantada. Ao fundo, no batente da porta, Rafaela espia, esboçando surpresa e satisfação.

A TELA SE FECHA.


FIM DO PRIMEIRO ATO


SEGUNDO ATO

FADE IN

CENA 15 HOSPITAL CENTRAL – QUARTO [INT. / MANHÃ]

P.V da CAM mostra Lila, no corredor, conversando com o médico. Ambos em trajes de época, típicos da Europa do século XVIII (já mencionados no episódio 3x12). Raíza encara a CAM, de visual da época, com o seu xale vermelho. O PONTO DE VISTA é de Dcr, mesclando indignação e repúdio.

DCR: As senhoritas são muito ousadas. Onde está Blake? 

RAÍZA: Ahn...Você sabe quem lhe atacou?

DCR: “Você”? Perdeste o respeito? Achas que és minha amiga?

Raíza quase ri, de angústia.

RAÍZA: O senhor sabe quem lhe atacou?

Dcr a olha de canto, ressabiado. Hesita, mas faz segredo.

DCR: Já ouviu falar em Neithan Lennox? 

RAÍZA: O lendário arqueiro francês. Tem certeza de que foi ele?

DCR: Eu o vi perfeitamente. Pelo o que pude ouvir, ele é amigo do senhor Cipriano, secretário do Rei. Por que eu seria alvo deles?

Raíza se mostra frustrada, nada responde. Lila e o médico adentram.

MÉDICO: Infelizmente, eu não poderei dar alta pra ele essa semana. Ficará em observação. A confusão mental pode ser temporária, mas é preciso que ele seja observado de perto.

DCR: Isso é um absurdo! Eu me sinto ótimo. Quero falar com o padre Lewis, agora.

Lila segura sua mão, nervosa.

LILA: Não existe padre Lewis, Danilo, pelo amor/

Dcr retira o braço rispidamente.

DCR (corta / estúpido): Meu nome é George Everett! George Everett! Sou um teólogo, e se continuar com esses modos, eu mando jogarem-na no cadafalso!

LILA: Não! Você é um jornalista, um herói, herói Nilo! Você tem que lembrar!

Raíza sai puxando Lila dali.

RAÍZA: Não adianta, Lila! (as duas se encaram) Ele é George Everett. E na atual situação, melhor não contrariá-lo.

Em Lila, vencida.

CENA 16 APTº DE RAFAELA - SALA [INT. / MANHÃ]

A porta é aberta e Rafaela, toda sorridente, entra com sua bolsa e uma garrafa de champanhe.

RAFAELA: TONY!

Tony chegando ali.

RAFAELA: Pega as taças, vamos comemorar!

Tony se apressa até a COZINHA, curioso.

TONY: Não vai me dizer que o herói morreu?

Rafaela abrindo o champanhe.

RAFAELA: Não se preocupe; seu herói continua vivo e mais medieval do que nunca.

Tony volta com duas taças e Rafaela abre a garrafa fazendo um grande estouro. Rafaela despejando nas taças.

TONY: Vai contar ou tá brincando de forca?

RAFAELA: O herói surtou, acredita? Pensa que é alguém importante chamado George Everett.

TONY: George o quê? Tá de zueira, né?

Rafaela dá um gole na bebida.

RAFAELA: Tô dizendo, o cara tá louco. Já imaginou as manchetes? “Nilo Rodrigues é um herói louco” (e gargalha, caindo no sofá).

TONY: E você acha que o homem lá vai deixar os jornais chamarem o garoto de herói? Já não foi proibido?

RAFAELA: Quer apostar quanto que a Novo Dia não terá problema?

Tony bebe o champanhe, se agacha, diante da cúmplice.

TONY: Tu não acha que estamos perdendo tempo aqui não? Tu tem grana, a gente pode sumir no mundo.

Rafaela, largada no sofá, acaricia o queixo de Tony.

RAFAELA: Quando eu derrubar os meus inimigos, iremos para onde você quiser. (Tony, não muito convencido) Por enquanto, apenas traga uns petiscos. 

Tony faz que sim e se levanta.

Em Rafaela, degustando o champanhe, sorridente.

CENA 17 CARIOCA NEWS – COZINHA [INT. / MANHÃ]

O local é pequeno, tipo cozinha planejada – embora não haja fogão - composto por armários, um frigobar, mesa e cadeiras.

Lila acaba de despejar café numa xícara. Raíza ENTRA e se recosta na parede.

LILA: Pensei que eu ia perder o Danilo pra guerra...Perdi pra um passado no qual nem fiz parte.

RAÍZA: Calma, Lila. Isso não vai ser pra sempre. Talvez haja algo que possamos fazer pra ajudá-lo.

LILA: Ele pode se unir ao Josué, a quem ele chama de padre Lewis!

RAÍZA: Eu sei, eu sei. Lila, eu confiei esse segredo pra você, mas/

LILA: Não se preocupe. Em pensar que depois de ter escutado uma conversa de vocês, me inspirei a escrever um livro sobre esse tal George Everett. Como eu ia imaginar?

RAÍZA: Eu só te contei porque você precisa estar preparada para o que está por vir.

LILA: Refere-se a mania dele de jogar hereges no cadafalso? Cipriano vai amar esse novo herói e será o fim da reputação dele. Imagina o Danilo saber que é líder de uma sociedade!

Emerson ENTRA, afoito, como de costume. Raíza o encara, cismada.

EMERSON: Bom dia, meninas! Soube do Nilo. Verdade que ele não anda falando coisa com coisa?

LILA: Ele/

RAÍZA (por cima): Ainda é cedo pra afirmarmos alguma coisa. Normal acordar confuso após semanas dormindo.

EMERSON: Tem previsão de alta?

LILA: O médico achou melhor esperar mais um pouco. E você? Tudo bem com a sua mãe?

Emerson sorri, sagaz.

EMERSON: Ela está indo muito bem, obrigado. Prevejo dias melhores...(para Raíza) Sempre. 

Raíza sorri para ele, desconfiada.

CENA 18 HOSPITAL CENTRAL – QUARTO DE DCR [INT. / MANHÃ]

Dcr está deitado, com o jornal da Carioca News nas mãos. A capa mostra a foto de Cipriano sob a manchete: “Se as eleições fossem hoje, Zacarta seria eleito presidente”. Dcr se mostra intrigado, quando a porta é aberta. Pelo seu P.V, Rafaela está trajando roupas de época (um xale preto sobre o vestido vermelho) e adentra rapidamente com uma sacola preta.

RAFAELA: Bom dia, meu querido! Lindo dia lá fora, não acha?

DCR: Senhorita Mitchell? O que faz aqui? Como saiu da prisão?

Agora Rafaela aparece como realmente está: com roupas de enfermeira e um crachá.

RAFAELA: Senhorita Mitchell? Nossa, você tá muito engraçado.

DCR: Eu não poderia esperar respeito de quem não sabe respeitar ninguém...Herege.

Rafaela vai tirando o lençol de cima dele, decidida.

RAFAELA: Tá bom, senhor Everett, agora o senhor precisa voltar aos trabalhos, né?

DCR: O que estás fazendo?

Rafaela arranca o jornal das mãos dele e aponta para a foto de Cipriano.

RAFAELA: Tá vendo esse senhor aqui? Ele mandou o tal do Neithan tomar conta de você, digo, do senhor. (Dcr faz que não entende) Neithan Lennox está aqui!

Dcr quase pula da cama, alarmado.

DCR (resmunga): Ele veio terminar o serviço...Mas por que está me ajudando? E como saiu da prisão?

Close em Rafaela, sorrindo.

RAFAELA: Fui perdoada. (T) Pelo padre Lewis, senhor.

Dcr sai da cama, com certa dificuldade.

DCR: Padre Lewis? Ele jamais perdoaria uma herege.

RAFAELA: Ele não perdoaria ninguém. Mas vamos, anda! Veste isso.

Rafaela joga a sacola preta para Dcr. Este abre e se depara com roupas. Pelo seu PV, são todas de época.

Rafaela só observa.

CENA 19 HOSPITAL CENTRAL [EXT. / MANHÃ]

Rafaela se apressa em puxar Dcr para a calçada. Ele, atônito pela movimentação de carros e ambulantes, apenas obedece, confuso.

DCR: O que é isso? O que são essas coisas? (apontando para os carros).

Rafaela ri e, com um controle, destranca a porta de um carro.

RAFAELA: Isso se chama carro - Veículo para transportar pessoas. Entra.

Dcr, abismado, ENTRA e espia pela janela.

DCR: Para onde a senhorita vai me levar?

RAFAELA: Para onde gostaria de ir?

CLOSE em Dcr.

CENA 20 HDM CONSTRUTORA – DEPARTAMENTO DE PESSOAL [INT. / MANHÃ]

Escritório de tamanho médio, paredes brancas e apenas duas janelas, com mulheres confinadas, trabalhando em computadores. Uma garota de uns 25 anos se levanta da cadeira e segue em direção a João Batista, tomando um café, ao batente da porta.

A garota fala alguma coisa sobre a qual não ouvimos. João ouve atento e satisfeito.

CENA 21 HDM CONSTRUTORA – CORREDOR [INT. / MANHÃ]

João vem andando, enquanto fala ao celular.

JOÃO: Tenho novidades sobre o Emerson Martins, Raíza. (T) O quê? Danilo fugiu do hospital? (T) E pra onde ele iria se ele tá desmemoriado?

CLOSE em João, preocupado.

CENA 22 CARRO DE RAFAELA [INT. / MANHÃ]

Rafaela dirige devagar, enquanto Dcr olha pela janela, pasmado. Pelo seu P.V, casais se beijando na boca; pessoas transitando com um smartphone na mão. Até alcançar o outro lado, onde Josué (de batina preta, na visão de Dcr), na PORTA DA IGREJA, conversa com um evangélico.

VOLTA EM DCR

DCR: Padre Lewis! Pare com essa coisa imediatamente, quero sair.

Rafaela esboça um sorriso de deboche.

RAFAELA: Como quiser, senhor.

CENA 23 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / MANHÃ]

Nas costas de Josué, caminhando. 

DCR (V.O): Pensei que não fosse mais lhe ver.

Josué para, um instante, e se volta, intrigado. Dcr abre os braços.

DCR: Não está feliz por eu ter me salvado...Padre Lewis?

CAM FECHA no rosto de Josué.

FADE OUT

FADE IN

No abraço entre Dcr e Josué, este bastante desconfiado. Dcr desfaz o abraço, preocupado.

DCR: O senhor parece distante. Creio que seja por causa do meu atentado.

JOSUÉ (absorto): Você está bem?

DCR: Foi um milagre, padre!

JOSUÉ: Padre?

DCR (ignora): Por quanto tempo fiquei desacordado? A cidade está um caos! Acredita que a herege Mary Mitchell está livre?

JOSUÉ: Do que você está falando?

DCR: Ora, padre, me desculpe a franqueza, mas o senhor parece mais confuso do que eu. O que há? Eu estou de volta! 

JOÃO (O.S): George!

Dcr olha para trás, aliviado e feliz.

DCR: Blake!

Dcr abraça João, deixando-o sem reação.

DCR: Você escapou! 

Dcr desfaz o abraço e apalpa os braços de João, sem acreditar.

DCR: Graças a Deus você está bem.

Em João, inerte e sem graça.

JOÃO: Bem, agora vamos, tem gente lhe esperando.

DCR: Quem? Estamos em casa, querido irmão (Em João, estagnado). Acredito que o padre esteja precisando de mim mais do que nunca.

JOÃO: Ele vai entender (encarando Josué). Agora precisamos ir. Isso é sério.

DCR: Não posso me ausentar mais da igreja, irmão. Sinto que passei muito tempo longe daqui. Peço que se tenha alguém necessitando da minha presença, que venha até a mim.

João se irrita e aproxima o rosto do ouvido de Dcr.

JOÃO (cochicha): A pessoa é Elizabeth Prescott. Ela salvou sua vida!

Dcr se mostra surpreso.

JOSUÉ: Por que não traga essa...Elizabeth Prescott? Acho que não haverá problema.

João, já irritado, quase avança.

JOÃO: Como é que é? Com que intenção você tá sugerindo isso? 

Dcr põe a mão no peito, assustado.

DCR: Blake?

JOÃO: Fala! Com que intenção?

JOSUÉ (sarcástico): O seu irmão não está gostando do seu tom.

João se enfurece, pega Dcr pelo braço e sai puxando-o.

JOÃO: Vamos sair daqui, George!

DCR: Não, Blake! Espere!

JOÃO: Agora!

Quando eles estão para sair, dão de cara com Cael e Sônia.
Dcr arregala os olhos, empalidece.

Pelo P.V de Dcr, Cael veste roupas viçosas de um rei; e Sônia, de uma rainha.

CAEL: Não sabia que você já tinha saído do hospital.

DCR: Majestade? Estás vivo...Como pode?

Ninguém entende nada. Dcr cobre a boca, em pânico.

DCR: Eu só posso ter enlouquecido, só posso!

JOÃO: A gente precisa ir. Bom dia!

João sai empurrando Dcr dali. Cael vê os dois irem embora e, intrigado, olha para Josué. Este finge incredulidade.

CENA 24 APTº 3011 – SALA [INT. / TARDE]

Raíza acaba de abrir a porta. Dcr e João entram.

JOÃO: Finalmente. Não foi fácil trazê-lo, hen.

Ana abraça Dcr que, confuso, nem corresponde.

ANA: Danilo, como é bom te ver!

Roger dá um tapa camarada no ombro de Dcr.

ROGER: O herói de volta ao combate! 

Ana, Roger e Sam o cercam, enquanto João faz segredo com Raíza.

JOÃO: Eu achei um absurdo o que você me contou. Como assim “vidas passadas”? Eu fui irmão desse cara?

RAÍZA: João, só você, Lila e Roger sabem dessa história. Para os outros ele apenas tá confundindo uma história antiga que a Lila desenterrou para o livro dela, com o que aconteceu com ele.

JOÃO: Não se preocupe. Não vou sair por aí contando que fui irmão do herói de brinquedo. Vão achar que enlouqueci junto!

RAÍZA: Ele não tá louco, João.

JOÃO: De qualquer maneira, ele tem que se lembrar de quem é e principalmente do que o “padreco” é capaz. O estado dele é um prato cheio para os inimigos.

RAÍZA: Falando em inimigos, você disse que havia descoberto algo sobre o Emerson.

João não tem tempo de responder; Marco e Emerson acabam de entrar. 

MARCO (para Dcr / brinca): Então você é George Everett?

Dcr se afasta, receoso.

DCR: Senhor Gouverth? O que está acontecendo aqui? Eles são membros da sua sociedade?

Marco ri, incrédulo. Emerson disfarça a satisfação.

MARCO: Minha não; nossa. Você é o líder, meu querido.

Todos na expectativa. No espanto de Dcr.

FADE OUT

FIM DO SEGUNDO ATO


TERCEIRO ATO

FADE IN

CENA 25 APTº 3011 – SALA [INT. / TARDE]

Na tela de um laptop no qual aparece o site do jornal Carioca News. Nele, a imagem de Dcr sob a seguinte manchete antiga:

“Danilo Rodrigues é um herói!”

Roger dá um clique e aparece outra manchete, desta vez, aparecem Marco e Raíza aos beijos: 

“Embate entre herói Nilo e vilão termina em tragédia, romance e revelações.”

Dcr se levanta, agitado.

DCR: Isso é uma insanidade! Só pode ser feitiçaria!

Emerson toca seus ombros, compreensivo.

EMERSON: Calma, rapaz! Você vai lembrar-se de tudo.

Dcr se afasta, indignado.

DCR: Eu não sei quem é o senhor. (para os demais) Não sei quem são muita gente aqui. Preciso voltar para a igreja; o padre está à minha espera.

João se enfurece e aponta o dedo para ele.

JOÃO: Ele tá a sua espera sim, mas é pra acabar contigo, pelo amor de Deus!

DCR: Para com isso!

JOÃO: Esse padre quer que você morra e se desintegre no espaço, caramba!

DCR: Que horror, Blake!

JOÃO: Meu nome é João Batista! João Batista!

Roger o detém, Ana se mostra preocupada.

RAÍZA: Não podemos forçá-lo dessa maneira. Vamos encontrar uma forma de ajudá-lo a recuperar a memória.

Sam espia algo no celular.

SAM: Melhor encontrar logo, porque o Hans não perdeu tempo. Escuta essa: “Herói de Lila Machado surta - Danilo Rodrigues acorda e diz se chamar George Everett, um teólogo inglês do século dezoito”. 

ANA: Como esse idiota ficou sabendo?

MARCO: Que tal perguntarmos ao senhor Everett como ele chegou à igreja?

DCR (dá de ombros): Senhorita Mitchell. Mary Mitchell.

Marco revira os olhos, chateado.

MARCO: Mais essa.

RAÍZA (para Dcr): O senhor precisa vir comigo.

Em Dcr olhando um por um, desconfiado.

CENA 26 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / TARDE]

Cipriano caminha até Josué, ambos de olhares cúmplices.

CIPRIANO: Vida longa aos que nos seguem.

JOSUÉ: Vida breve aos que nos perseguem.

CIPRIANO: Imagino que um cavalheiro chamado George Everett tenha passado por aqui.

JOSUÉ: Ah, obra sua, imagino.

Cipriano vai até o púlpito, acaricia a bíblia.

CIPRIANO: Desculpe não ter lhe avisado. Mas não podia supor que ele sairia do hospital antes da hora.

JOSUÉ: Por que “George Everett”? Ele me chamou de Padre Lewis (risos). O idiota acha que aqui é a casa dele.

Cipriano folheia a bíblia, desinteressado.

CIPRIANO (mente): Escolhi um personagem europeu que parece ser muito semelhante ao perfil dele. Mas não se preocupe; isso não irá durar muito tempo.

CAM BUSCA um

CORREDOR

Sônia vem andando, mas para ao ver os dois. 

JOSUÉ E CIPRIANO, A CERTA DISTÂNCIA

JOSUÉ: O que pretende? Derrubar ainda mais a reputação do Danilo? Eu o quero morto, isso sim!

Sônia escora na parede e cobre a boca, assustada.

CIPRIANO: Eu não faço trabalho sujo, nobre amigo. Danilo Rodrigues ficará nesse estado de loucura até cometer suicídio. O herói tira a própria vida. Em menos de 48 horas agora.

Corta para Sônia, apavorada. RISADAS de Josué.

Sônia SAI dali.

CENA 27 CEMITÉRIO [INT. / TARDE]

No túmulo onde há uma rosa e parte de uma inscrição: “Rodrigues”. Mãos masculinas retiram a rosa sendo agora possível ver a inscrição completa: “Ariadne Rodrigues”.

RAÍZA (O.S): Costumo vir uma vez ao ano. 

Dcr olha para Raíza, cético, depois olha para a foto em suas mãos. É a foto de Ari.

RAÍZA: Pelo menos até o assassino dela pagar como se deve.

DCR: Mas é a Bridget Foley? Eu não entendo.

RAÍZA: Vem, tem outra pessoa que você precisa ver.

Em Dcr, confuso.

CORTE DESCONTÍNUO

Para Dcr, pasmado.

P.V de Dcr mostrando o túmulo com a inscrição:

Bruno M. Ferraz
04/06/1968 – 31/10/2012

“Nunca esqueceremos você”

VOLTA À CENA

Dcr encara outra foto em suas mãos. Desta vez, é a foto de Bruno. 

DCR: Esse é o senhor Lennox. Como assim “Bruno Ferraz”? 

RAÍZA: Meu pai (espanto em Dcr). Se você acreditar em reencarnação ficará apavorado em saber quem matou os dois.

DCR: Isso é uma heresia! Não existe reencarnação! Queres me enganar. 

Raíza segura seu rosto com as duas mãos, esperançosa.

RAÍZA: Por favor, Dcr! Não estamos no século dezoito! Olhe em volta e perceba o quanto tudo está diferente, perceba! Olhe a data no túmulo!

Dcr hesita, mas retira as mãos dela com rispidez.

DCR: A senhorita está tentando me enfeitiçar. Não sei como pude deixar-me envolver. Herege!

Dcr dá as costas, Raíza ao fundo.

RAÍZA: O padre Lewis matou os dois.

Dcr para, CLOSE em seu rosto.

RAÍZA: Mostre as fotos a ele e diga que já sabe de tudo. 

Dcr nem olha para trás e atravessa a tela.

Em Raíza.

CENA 28 PRÉDIO ONDE MORA DCR E RAÍZA [EXT. / TARDE]

João e Roger saindo.

JOÃO: Ainda não consigo engolir esse Emerson entre nós. Ele é um mentiroso!

ROGER: Mas ele teve seus motivos para mentir sobre o parentesco dele. Não há motivos pra você odiá-lo.

JOÃO: E se eu te disser também que ele nunca trabalhou na HDM, hen?

ROGER: O quê?

JOÃO: Chocado? Espere só eu descobrir quem é ele de verdade.

Os dois somem da tela. Ao fundo, Emerson ouviu tudo.

CENA 29 CURTO-CIRCUITO [INT. / TARDE]

Sônia acaba de entrar, esbaforida. Se dirige a um rapaz branco (o mesmo do episódio 4x02).

SÔNIA: Por favor, o Cael está?

O rapaz apenas aponta para a sua direita. Lá está Cael, sentado, diante de uns papéis. Sônia se apressa.

Cael se levanta, preocupado, segura nas mãos dela.

CAEL: O que houve, Sônia? Você está pálida!

SÔNIA: Aconteceu uma coisa terrível, Cael. Vai acontecer algo terrível!

CAEL: Calma, vamos sentar. 

Cael faz sinal para um garçom.

CAEL: Traga uma água, por favor. (para Sônia) Agora me diga o que aconteceu ou vai acontecer?

Sônia, muito aflita.

SÔNIA: O pastor...Ele...Ele e o Zacarta...(Chora) Meu Deus, como pude me enganar tanto?

O garçom chega com a bandeja e dispõe sobre a mesa um copo d’água.

SÔNIA: Obrigada. (Sônia bebe tudo de uma vez / o garçom se afasta) O pastor deseja a morte do Danilo. Eu não sei como, mas o Danilo está surtado por culpa do Zacarta. Ele falou de um jeito como se fosse um bruxo!

CAEL: O que mais você ouviu?

SÔNIA: O seu amigo vai se suicidar em menos de 48 horas.

Baque em Cael.

CENA 30 CARRO DE JOÃO [INT. / TARDE]

João dirige, ora atento para a estrada, ora desviando a atenção para Roger, ao seu lado.

JOÃO: Pensa comigo: se esse Emerson foi capaz de mentir sobre ser irmão da Vicky e sobre trabalhar na HDM, do que mais ele seria capaz de fazer?

ROGER: Você acha que ele é do governo e tá infiltrado na sociedade?

JOÃO: Não sei, mas é estranho ele morar no mesmo prédio que a Rafaela e nunca tê-la visto por lá. Ele tá subestimando nossa inteligência, cara!

ROGER: Só falta ele não morar lá também, né amigo?

Os dois se encaram. Em seguida, Roger vê algo fora da tela e esboça surpresa.

ROGER: Mas não é o Nilo ali?

João espia e pelo seu P.V, Dcr anda apressado pela calçada, esbarrando nas pessoas, desnorteado. Raíza vem logo atrás, em seu encalço.

VOLTA EM JOÃO

JOÃO: Vou encostar.

João tenta frear, mas esboça preocupação.

INSERT – Pés de João:

Que insiste em frear, sem sucesso.

VOLTA À CENA

ROGER: O que tá havendo, João? 

JOÃO: Eu não sei...

INSERT – Velocímetro:

Que aumenta gradativamente.

VOLTA À CENA

João em pânico.

CORTA PARA

Dcr passa as mãos na cabeça, sem rumo. Ao fundo, Raíza olha para trás, desconfiada.

O CARRO de João vem cantando pneu, derrapa na pista, faz zigue-zague, derruba uma lixeira.
Roger põe a cabeça para fora, aos GRITOS. Até que o carro capota algumas vezes.

Dcr se joga de contra uma parede.
Susto nas pessoas.

O carro para de cabeça para baixo, BUZINA dispara.
Dcr corre até o carro, num impulso, e quando vê João, se desespera.

DCR: Blake!

Dcr arranca João pela janela, com dificuldade. Roger, do outro lado, é amparado por Raíza. Curiosos cercam o carro.

Dcr apoia a cabeça de João em seus braços e nota sua testa, que sangra.

JOÃO (nervoso): Eu não consegui frear...Pensei que eu fosse morrer.

Dcr o encara, estranhamente, mas acaba interrompido por palmas.

HANS (O.S): Prevendo atentados?

P.V de Dcr vendo Hans, com uma câmera nas mãos, diante de Raíza. É impossível ver o rosto dele por causa da claridade.

HANS: Ou deixando que as pessoas se ferrem? Hen, Raíza?

VOZ MASCULINA: Vidente maldita! Deixou o pai morrer. 

VOZ FEMININA: Mas aposto que ganha na loteria, né, desgraça?

HANS: Ouviu isso, Raíza? É a voz do povo. O que tem a dizer?

RAÍZA: Prevejo a tua morte, idiota!

Hans ri e posiciona a câmera.

HANS: Sorria!

E Hans bate a foto.

DCR (O.S): Erom?

Hans olha para trás e encara Dcr. Ao fundo, João, de pé.

DCR: Erom Garcia! O que faz aqui?

A CAM revela EROM no lugar de Hans, pelo ponto de vista de Dcr.

HANS / EROM: Eu sempre estou aqui fazendo o meu trabalho.

DCR: Qual trabalho? O de ser membro da Círculo Fechado?

Hans fica perplexo, Roger e Raíza percebem.

HANS: O que disse?

DCR: Eu já sei de tudo. Claro que o atentado à igreja não poderia ter vindo de sua cabeça; tem gente muito maior por trás disso.

BURBURINHOS entre as pessoas. João toca no ombro de Dcr.

JOÃO (sussurra): Você tá confundindo as coisas, por favor, vamos embora.

P.V de Dcr mostra Erom, mais uma vez, no lugar de Hans.

HANS / EROM: O meu único grande erro foi ter confiado nos amigos. Quantas pessoas morreram por causa da sua fé, não é mesmo?

CLOSE em Dcr, sem reação.

Volta em Hans, abismado, confuso.

HANS: O que eu disse?

Dcr dá as costas, cabisbaixo e pensativo.

HANS: Ei! Espera aí, herói de brinquedo! Preciso do seu depoimento/

João avança e segura em seu colarinho.

JOÃO: O diabo não sabe a hora de parar, não? (Raíza e Roger tentam contê-lo) Se quiser eu mesmo te dou um depoimento BEM NO MEIO DA TUA CARA!

E João o empurra para cima de Roger. Hans fecha a cara, contorcido de raiva. Raíza olha em volta.

RAÍZA: Gente, cadê o Dcr?

MULHER #1: A vidente não viu?

RISOS do povo.

Na aflição de Raíza.

A TELA SE FECHA

FIM DO TERCEIRO ATO


QUARTO ATO

FADE IN

CENA 31 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / NOITE]

JOSUÉ (O.S): “Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra;”.

Corta para o seu INTERIOR

PLANO GERAL

Ambiente lotado, todos sentados e atentos, como sempre. No altar, Josué discursa, inflamado, sob o olhar amedrontado de Sônia.

JOSUÉ: “[...] e àquele que bate, a porta será aberta.”

BATIDAS NA PORTA

Silêncio. Olhares que se cruzam, temerosos.

CLOSE na porta fechada, até que é ABERTA por Dcr.

TODOS se espantam.

Dcr vem adentrando, apreensivo.

DCR: Desculpe, padre; não queria atrapalhar.

HOMEM #1: Padre?

JOSUÉ: Ahn...Por favor, não gostaria de ficar aqui ao meu lado?

Em Sônia, abismada.

DCR: Onde está o senhor Lennox e a senhorita Foley? (T) Estão mortos, padre?

MULHER #1: Do que esse cara tá falando?

DCR: Cara? Como pode tratar alguém como eu com tamanho desrespeito?

MULHER #2: Que alguém como você? Alguém que provoca uma guerra e sai impune?

DCR: Guerra?

Josué sai do altar rapidamente e tenta levar Dcr dali.

JOSUÉ: Por favor, sente-se e me espere terminar (murmura)...A missa...

DCR: Eu só quero saber o que foi feito do senhor Neithan Lennox e da senhorita Bridget Foley. O senhor os matou?

Na cara estupefata de Josué. Em seguida, olha para Sônia, ao fundo.

JOSUÉ: Peço desculpas a todos vocês, mas hoje encerraremos mais cedo (burburinhos). Obrigado pela presença de todos e que todos possam ir na paz de Deus. 

POVO (em uníssono): AMÉM!

Josué faz um sinal com a cabeça para Sônia e ela segue com os fiéis.

CORTE DESCONTÍNUO

Josué fecha os portões da igreja na nossa cara.

Corta para o seu interior

Josué e Dcr se encaram como se fosse num embate. Dcr RETIRA do bolso da calça, duas fotos e mostra para o pastor. CLOSE nas fotos de Ari e Bruno.

DCR: Eu estive no cemitério, padre. Essas pessoas estão mortas, não é?

JOSUÉ: Essas pessoas? (Dcr titubeia / Josué o confunde, de propósito) Quem são essas pessoas?

DCR: Ari Rodrigues e seu irmão Bruno. O senhor os matou?

JOSUÉ: Você chegou aqui falando em Neithan Lennox e uma tal de Foley. Me parece confuso, meu rapaz.

Dcr espia as fotos, realmente confuso. Josué caminha por detrás dele.

JOSUÉ: Quem lhe deu essas fotos?

Dcr se mantém de costas, intrigado.

DCR: A senhorita Prescott...Digo...Ela diz se chamar Raíza. Ela tem certeza de que o senhor matou essas pessoas. O que tens a dizer?

Ao fundo, Josué o espia, por um momento, taciturno.

JOSUÉ: Sim, eu matei a Ari, matei meu irmão e devo ter matado esse tal de Neithan Lennox também. (No rosto apavorado de Dcr) Mas não se sinta mal; a tua morte me dará mais prazer.

= = SONOPLASTIA: Suspense / Ação = =


E Dcr se volta, mas Josué rapidamente BATE com a bíblia em seu rosto. Dcr CAI no chão, atordoado. Josué avança, domina o garoto e ainda lhe acerta novamente com a bíblia.

DCR: Pare com isso, padre! Pare com isso!

JOSUÉ: Eu sou o pastor Josué, seu demente! PASTOR JOSUÉ!

E quando este levanta a bíblia, Dcr dá um COICE de frente e acerta a barriga do inimigo, fazendo-o ir para trás. Dcr se levanta, tenso.

DCR: Desculpe, padre, mas o senhor me obrigou.

Josué ri, esfrega o pulso na boca; limpa o suor.

JOSUÉ: Não me peça desculpas, herói maldito!

...E Josué agarra em seu colarinho e o prensa de contra a parede.

JOSUÉ: Eu não suporto nem mais olhar pra tua cara!

Dcr acerta uma JOELHADA em sua barriga e consegue correr de frente para a CAM, mas Josué é forte e rápido; avança sobre as costas de Dcr e ambos CAEM. Dcr acerta uma cotovelada no rosto de Josué, ambos rolam pelo chão, até Dcr se levantar. Josué agarra no pé do herói, levanta e, no impulso, se joga sobre Dcr que vai de encontro ao púlpito.

Dcr BATE a cabeça no móvel e desmaia.

Josué respira ofegante.

CAM DESFOCA a imagem de fundo, revelando Sônia à espreita da porta e muito assustada.

= = MUSIC OFF = =

FADE TO BLACK

FADE IN

Uma aranha passeia diante de uma imagem desfocada ao fundo. Aos poucos, a imagem revela o rosto de Dcr, inconsciente, caído no chão sujo. Ele abre os olhos, devagar.

P.V de Dcr, em uma visão turva, mostra Josué em pé, por trás de grades.

CENA 32 DEPÓSITO DE EROM – PORÃO [INT. / NOITE]

A imagem de Josué vai se tornando nítida.

JOSUÉ: Jesus disse: “Na Casa de meu Pai há muitas moradas”. Esta é a sua, pelo menos até você morrer. (dá as costas) Boa noite, mr. Everett.

CLOSE no rosto tenso de Dcr, CAM se afasta e revela uma CELA cheia de CARANGUEJEIRAS. Dcr se esgueira como pode.

DCR: Não me deixe aqui...ME TIRA DAQUI!

Em Josué caminhando tranquilamente.

DCR (O.S): ME TIRA DAQUI!

CENA 33 DEPÓSITO DE EROM [EXT. / NOITE]

CÂMERA SUBJETIVA mostra Josué saindo do local, troca umas palavras com três homens, todos de roupas comuns e mal encarados. Um deles segue em direção a um carro preto blindado, logo de frente.

O ponto de vista é de Sam e Raíza, escondidas por trás de um carro velho.

Raíza dá a mão para Sam.

RAÍZA: É agora.

No que as mãos se cruzam...

CORTE DESCONTÍNUO

CENA 34 DEPÓSITO DE EROM – PORÃO [INT. / NOITE]

As mãos de Sam e Raíza unidas diante da cela onde Dcr está.

DCR: Me tirem daqui, me tirem daqui!

Dcr está de pé, enquanto as aranhas ameaçam subir pelas suas pernas.

RAÍZA: Calma, Dcr, a gente vai tirar você daqui.

Sam e Raíza, de mãos dadas, esticam o outro braço pela grade.

SAM: Danilo, preciso que você segure em minha mão e pense onde gostaria de estar.

RAÍZA: Não, Sam! Ele pensa que está em Londres. (para Dcr) Pense na igreja...Aquela de onde você saiu antes de vir parar aqui.

SAM: Na igreja?

RAÍZA: É o único lugar do qual ele tem memória.

DCR: O que é isso? Magia? Estão querendo me jogar um feitiço?

SAM: Sim, e se você não quiser morrer, segure em nosso braço.

BARULHO DE CHAVES.

Sam e Raíza olham para trás. Josué e um homem moreno flagram a ação. O homem saca uma pistola da cintura.

RAÍZA (para Dcr): AGORA!

Dcr toma coragem e alcança os braços delas.
Quando o homem ATIRA

ATINGE UMA ARANHA NA PAREDE

Dcr, Sam e Raíza já desapareceram.

Na cara estupefata do atirador.

ATIRADOR: Meu Deus...O que foi isso?

Josué passa a sua frente, enraivecido.

JOSUÉ: Malditos.

A TELA SE FECHA NO BAQUE

FADE IN

CENA 35 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]

Dcr, Sam e Raíza aparecem do mesmo jeito que saíram do porão.
Raíza abraça Dcr, que não reage.

DCR: O padre tentou me matar...Ele parecia outra pessoa.

RAÍZA: Ele nunca deixou de ser essa pessoa.

Dcr não tem tempo para questionar; Sônia surge ao fundo, aflita.

SÔNIA: Que bom que vocês conseguiram. Achei que não fossem pegar o pastor pelo caminho.

RAÍZA: A gente tem que te agradecer, Sônia. Se não tivesse ligado pro Cael a tempo, o nosso amigo aqui teria enfartado antes mesmo de ser mordido por aquelas aranhas.

SÔNIA: Aranhas?

SAM: Das graúdas, irmã. (Sônia a reprova no olhar) Desculpe, eu to pegando o jeito. Obrigada pela ajuda.

SÔNIA: Só fiz o que Jesus nos ensinou: ajudar o próximo. Não pensem que estou do lado de vocês.

RAÍZA: E do lado de quem você está agora?

No olhar sem jeito de Sônia. 

João, Lila, Roger e Emerson adentram ansiosos. Roger agarra Dcr, mesclando aflição e alegria.

ROGER: Pensei que nunca mais fosse te ver, amigo.

RAÍZA: Roger, ele ainda não se lembrou de nada.

Roger desfaz o abraço, sem graça. Dcr encara João, que não sabe como reagir.

DCR: Irmão... Você estava certo sobre o padre. Ele quis me matar.

JOÃO: Sinto muito ele ter te feito passar por isso, mas/

João acaba surpreendido pelo abraço de Dcr.

DCR: Me perdoe.

Em João, paralisado. Emerson fecha a cara sem que alguém perceba.

DCR: Eu devia ter-lhe escutado mais. Eu devia ter escutado a Senhorita Prescott também. Sinto que faltei com você, querido irmão...No final de tudo, foram os hereges que me salvaram.

JOÃO: Não precisa pedir perdão, eu/

Dcr toca seu rosto, decidido.

DCR: Mas eu preciso do seu perdão. Sou um hipócrita, nunca permiti que você se envolvesse com eles. Eu me envolvi. (torna a abraçá-lo) O seu perdão me deixará mais aliviado.

João encara Raíza, hesitante, mas ela o encoraja no olhar.

JOÃO: Eu perdoo.

Emerson trinca os dentes, discretamente.

Dcr, com o rosto sobre os ombros de João, fecha os olhos, enquanto sorri, feliz. Quando abre os olhos, Dcr desfaz o sorriso e estranha por estar abraçado a João.

JOÃO: Vamos esquecer tudo e recomeçar, tudo bem?

DCR: João?

TODOS se admiram. Dcr olha ao redor, estarrecido.

DCR: Eu to vivo? Eu...? Por que estão me olhando assim?

RAÍZA: Não se lembra de nada?

DCR: Eu fui atingido...Eu devia estar no hospital...Não?

Lila o abraça, emocionada e lhe beija na boca.

LILA: Graças a Deus você voltou, meu herói!

ROGER: Agora sim, de volta ao combate, amigo. O seu papel de teólogo inglês já tava me preocupando.

JOÃO: Eu que o diga.

Sam e Raíza riem. Dcr nada entende.

Sônia só observa a inquietação de Emerson.

CORTA PARA

CENA 36 DEPÓSITO DE EROM – PORÃO [INT. / NOITE]

Em Cipriano, indignado.

CIPRIANO: Tem ideia do que deixou escapar por causa de seus impulsos? 

Josué, Hans, Walter e mais um grupo de homens diante de Cipriano, todos de pé.

CIPRIANO: Danilo ia morrer pelas próprias mãos, provavelmente se atirando do primeiro prédio que visse. 

JOSUÉ: Você disse que ele tava sob efeito de magia. É só fazer de novo e/

CIPRIANO: Você acha que isso aqui é brincadeira? Hen? Uma vez que a magia é desfeita não tem como repetir. Você deu a chance dos inimigos se unirem. Agora quero ver o que fará com a Sônia.

WALTER: Se quiser, deixa comigo. Porque é capaz do vacilão aqui esquartejar a moça diante de alguma câmera.

Walter dá a sua clássica risadinha e logo tosse.

JOSUÉ: É mais fácil eu fazer isso com a sua língua, idiota.

CIPRIANO: Eu corto a língua dos dois num simples gesto. 

Todos se calam. Erom ao lado de Hans, com um olhar malicioso.

CIPRIANO: Agora todos podem ir. Vida longa aos que nos seguem.

TODOS (em uníssono): Vida breve aos que nos perseguem.

Enquanto eles vão embora, Walter se aproxima de Cipriano, discretamente.

WALTER: Fala a verdade, Zacarta. O que deu errado desta vez? Como a magia foi desfeita?

CIPRIANO: O nobre amigo sabe que só há duas pessoas capazes de romper a magia: quem faz e quem recebe. Mas nem sempre quem recebe sabe que rompeu o feitiço.

Cipriano caminha logo à frente de Walter. Este, ao fundo, tentando entender.

CIPRIANO: Danilo e João não sabem, mas foram mais fortes do que eu.

Na raiva de Cipriano. Em Walter, sem entender.

FUSÃO PARA

FIM DO QUARTO ATO


ATO FINAL

CENA 37 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / MANHÃ]

Lila e Dcr vêm pelo corredor, aos risos.

LILA: Sério! Você chamou a mim e a Raíza de “senhoritas ousadas”. Achei que fosse nos jogar no cadafalso.

DCR: Não dá pra acreditar. Eu pedi perdão ao João por eu ter sido hipócrita?

LILA: Acredite, tá doendo mais nele.

RISOS.

Ambos se aproximam da mesa onde estão Roger e Raíza, conferindo algo no computador.

LILA: E então? Conseguimos desvincular a imagem de louco de Danilo? 

ROGER: Amiga, somos muito bons nisso.

NA TELA DO PC, exibindo a manchete do jornal “Carioca News”:

“Danilo Rodrigues tem reação a medicamentos e se comporta como seu personagem na nova saga proibida de Lila Machado”.

CORTE DESCONTÍNUO PARA

CENA 38 APTº DE RAFAELA – QUARTO [INT. / MANHÃ]

Na tela do laptop no qual está sendo visualizada a mesma página do jornal anterior.

Rafaela esboça ódio e num ímpeto, ARREMESSA o laptop 

QUE CAI sobre pés masculinos.

Tony, com um copo de cerveja na mão, a reprova no olhar.

Rafaela só o encara.

FUSÃO PARA

CENA 39 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [EXT. / TARDE]

Raíza acaba de SAIR, sempre de olhar atento.

MARCO (O.S): Sabe que dia é hoje?

Raíza olha para trás. Marco, mãos nos bolsos da calça, sorriso encantador.

MARCO: O dia que iremos almoçar juntos.

Raíza disfarça o sorriso, tenta manter distância.

RAÍZA: E você tá me cobrando por eu não ter previsto isso?

Marco põe a mão no peito, fingindo espanto, enquanto se aproxima.

MARCO: Você é vidente? (Raíza bufa, quase deixando escapar um riso) Está revelando seu segredo para mim? Oh, senhorita, então deixe-me revelar o meu.

Marco desliza a mão pelo seu rosto e segura sua nuca com força.

RAÍZA (dengosa): Ai, Marco, que isso?

MARCO: Isso é um rapto, minha querida (aproxima a boca). Não fale nada, apenas me acompanhe...Para o meu humilde apartamento.

Raíza sorri e ambos se beijam.

CAM se afasta e os enquadra ao longe.

FUSÃO PARA

CENA 40 APTº 3011 – SALA [INT. / NOITE]

Roger acaba de entregar uma pasta preta a Dcr, este sentado diante de um laptop. Lila e João ao seu redor.

P.V de Dcr mostra-o abrindo a pasta e lendo as seguintes inscrições:

“Nome: Emerson Martins

Nasc.: 31/01/1985

Mãe: Elena Souza Martins

Pai: Edgar Faria Martins

Ocupação: Office boy da redação Carioca News

Ocupação anterior: Advogado cível”

VOLTA EM DCR

Espantado com as informações.

FUSÃO PARA

CENA 41 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]

Sônia fecha os portões.

INSERT – Chave

Trancando as portas.

VOLTA PARA SÔNIA

CLOSE em seu rosto quando

MÃOS ENLUVADAS COBREM SUA BOCA

Sônia tenta reagir, espavorida, mas o sujeito, usando um canivete, RASGA sua garganta. O sangue escorre. 

Sônia despenca no chão, ainda gemendo e trêmula.

SMASH TO BLACK


FIM DO EPISÓDIO


0 comentários: