0:00 min       RAÍZA TEMPORADA FINAL     SÉRIE
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WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA 4


Série de
Cristina Ravela

Episódio 04 de 14
"37mm"



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 ATO DE ABERTURA


FADE IN

CENA 1 APTº 3011 – SALA [INT. / MANHÃ]

No centro da sala, o sofá e as duas poltronas formam um círculo diante de uma mesa no meio. Raíza e Marco estão no sofá; Lila na poltrona e Dcr no braço dele; Roger em outra poltrona. 

RAÍZA: Pra Sônia ter aceitado o acordo é porque há uma prova contra o pastor em algum lugar.

ROGER: Você se arriscou muito, amiga. Blefar assim só se você estivesse com essa prova.

LILA: E você não teria essa prova, Raíza?

Raíza pensa um pouco diante daquela pergunta instigante.

RAÍZA: Eu até gravei a conversa, mas ela não admitiu nada. Foi esperta.

MARCO: Isso não será problema. Sabe, ser um preso notório teve lá suas vantagens. 

LILA: Olha, Marco, se souberem que a Carioca News tá envolvida em suborno...

MARCO: Você já foi mais destemida, minha querida. Como quando se disfarçou de psicóloga para arrancar uma informação do Danilo. 

Dcr o encara, reprimindo-o no olhar; Lila se chateia.

ROGER: Gente, tiramos o domingo pra resolver nossa semana, e não pra iniciarmos uma nova guerra, ok? Marco, continue.

MARCO: Bem, conheci um hacker que saiu antes de mim da cadeia. Por sorte, é seu fã, Danilo. Acho que ele ia gostar de fazer um serviço para nós.

DCR: E depois? Vamos contratar um matador, encenar um crime, aí eu apareço com a minha capa vermelha para salvar o dia?

Marco põe a mão no queixo, pensativo, fazendo graça.

MARCO: Você tem umas ideias ótimas, Danilo.

Dcr se levanta, chateado.

DCR: Não to gostando do rumo dessa sociedade. Vai acabar terminando antes de virar história.

ROGER: Mas nem chamamos o Emerson pro clã ainda.

RAÍZA: E vocês acham uma boa ideia? O cara chegou ontem, tem ódio do Josué. Não precisamos de ninguém (fita Marco) alimentando as ideias do Marco.

LILA: Eu to chocada com isso. Será que o Emerson pensa em vingança?

MARCO: Será que ele poderia ser o nosso matador?

Dcr lança um olhar fuzilador pra cima dele. Marco dá de ombros, na cara de pau.

Roger ri.

Vista aérea da Igreja e da Casa do Pastor/

CENA 2 CASA DO PASTOR EVERTON – QUARTO DE EVERTON [INT. / MANHÃ]

Everton está diante do espelho do guarda-roupa ajeitando a gravata. A porta é aberta, Sônia entra, preocupada.

EVERTON: Ah, Sônia! Pode me ajudar com a gravata?

SÔNIA: Como sempre, não?

Ambos riem, mas Sônia logo fecha o sorriso e arruma a gravata do irmão.

SÔNIA: Everton, há alguma chance de alguém saber o que aconteceu...? Aquilo que a gente fez...

EVERTON: Tá falando isso por causa do que a Raíza disse? Impossível. Aquilo foi há mais de dez anos. 

SÔNIA: Não sei não, irmão. Você pode ter vingado a morte do nosso pai, mas foi um crime e Deus castiga! Nenhum crime é perfeito, né?

ELA termina de ajeitar a gravata, Everton se olha no espelho e apanha, do cabide, seu paletó.

EVERTON: Não se preocupe tanto, Sônia. Eu sei o quanto você se arrepende de tudo aquilo, mas já nos redimimos. Aceitamos Jesus!

SÔNIA: Mas pela lei dos homens o crime ainda não prescreveu. E se vier à tona?

EVERTON: O sócio daquele lugar garantiu que o crime seria só mais um a ocorrer na saída da boate.

SÔNIA: Sim, mas esse ocorreu dentro da boate, né? 

Everton termina de vestir o paletó e vira-se para ela, confiante.

EVERTON: Mais precisamente num cassino clandestino. Acha que o dono vai querer mexer nessa história?

ELE sorri, seguro de si.

Em Sônia, ainda tensa.

CAM BUSCA JOSUÉ NO CORREDOR

Surpreso e ao mesmo tempo pensativo após ouvir tudo.

FADE TO BLACK

FIM DO ATO DE ABERTURA


4x04

37mm


PRIMEIRO ATO



FADE IN

CENA 3 ED. ONDE MORA DCR [EXT. / MANHÃ]

Dcr está saindo com o capacete nas mãos, se aproxima da moto, quando um carro preto de vidro fumê para ao lado. Dcr espia, curioso, e a janela é aberta, revelando Aimée.

AIMÉE: Você devia aprender a usar sua capa de super homem.

Ambos riem.

DCR: Aimée! Não nos vemos desde/

AIMÉE: [...] Que você me defendeu na igreja? (Dcr desvia o olhar, sem graça) To te devendo um agradecimento. Que tal descansar seus poderes e me acompanhar num coffee break?

Em Dcr sorrindo, fazendo que sim.

CORTA PARA

CENA 4 COFFEE BREAK [INT. / MANHÃ]

Marco chega a uma mesa, sorriso irônico.

MARCO: Fico lisonjeado que a filha do presidente esteja em meu humilde estabelecimento. Ainda que seja a noiva do governador.

AIMÉE: Eu que fico lisonjeada em ser atendida por um autêntico europeu, ainda que seja um ex-presidiário.

Dcr contém o riso, Marco não perde a pose.

MARCO: Trarei o melhor café europeu para a senhorita. O mesmo que ensinei em meus tempos de presidiário. (Aimée faz que sim, percebendo o sarcasmo) Com licença.

Dcr e Aimée sorriem entre si.

CORTA PARA

Marco chegando ao balcão onde Valentina se encontra.

VALENTINA: A Lila já sabe desse encontro?

MARCO: Você fica linda de ciúmes, querida. Só não arme nenhum barraco. Lembre-se que ela é a filha do presidente.

Marco sai de cena, deixando Valentina olhando para o casal, maliciosa.

VOLTA EM DCR E AIMÉE

AIMÉE (jogando): Parece que ter me salvado pela segunda vez não ajudou muito em sua reputação.

Dcr a olha, desconfiado.

DCR (mente): Não pensei nisso naquela hora. A menos que eu fosse vidente.

Aimée sorri, esperta.

AIMÉE: Seria muito trabalhoso para alguém que já salvou dois no mesmo dia. Espero que tenha uma boa explicação para me deixar falando sozinha. Afinal, o que o João Batista pretendia?

DCR (sarcástico): Expor algumas novidades, tais como: o Josué ser um assassino, péssimo irmão, um tio lunático e um pai mentiroso. Ah, e um falso profeta.

AIMÉE: Nilo...

DCR: Eu sei...Você acredita na redenção dele.

AIMÉE: Não, não é isso, é que... Meu pai quase foi morto, e eu ia querer justiça como qualquer pessoa. É fácil perdoar quando não é com a gente.

DCR: O maior problema é que muitos defendem o Josué. É isso que não me desce.

AIMÉE: Não, o maior problema é que ele tá agindo feito um cordeiro, enquanto seus fãs agem feito lobo. Não preciso nem mencionar o Emerson, né?

Dcr a olha de baixo, desconcertado.

AIMÉE: Eu fiquei sabendo que o Josué matou a irmã dele (Dcr a encara, assustado). Não, mas fique sossegado, eu ouvi a conversa de vocês na porta da igreja. Vai morrer comigo se você quiser.

Dcr respira, aliviado, mas ainda soa preocupado.

AIMÉE: O Emerson chegou a falar contigo quando tudo veio à tona?

DCR: Ahn, não. A gente se conheceu tem um mês. Ele faz estágio na HDM, por quê?

Aimée faz que vai dizer, quando Valentina chega com a bandeja e duas xícaras. Ela dispõe as xícaras na mesa.

VALENTINA (forçando a educação): Com licença. Marco mandou trazer o café Machiatto, tipicamente italiano e muito bem recebido na antiga morada dele, a prisão. 

A xícara de Aimée contém o desenho feito com leite de um smile com tédio; A do Dcr contém um coração.

AIMÉE (sacando o recado): Você que fez?

VALENTINA (presunçosa): Sou uma artista, não sou? Sei fazer coisas surpreendentes.

As duas se olham com sorriso debochado.

ATÉ QUE O LOCAL É TOMADO POR PAPARAZZIS

tiram fotos,

Aimée e Dcr se levantam rapidamente, as pessoas ao redor se assustam.

REPÓRTER: Senhorita Aimée, a senhorita apoia o Nilo? Acredita que os fãs dele estão certos?

Dcr protege Aimée e vai levando-a rapidamente para fora dali.

REPÓRTER: Nilo! Só uma pergunta, espera!

Valentina apanha as xícaras, como se nada tivesse acontecido. Marco, lá do canto, observa a cara deslavada de Valentina, que devolve um olhar de escárnio.

Takes da cidade / 

Vista aérea do edifício 226/

CENA 5 APTº 305 – SALA [INT. / MANHÃ]

Em Lila, digitando em seu laptop.

NA TELA DO MONITOR: “Numa corrida alucinante, Nilo acabou atingido nas costas por um tiro, sentindo uma dor que foi lhe contorcendo até fazê-lo cair no chão batido de terra. Mas ainda lutando pela vida, ele conseguiu ver a cara de seu agressor: Lennox, o cúmplice do malévolo político da cidade”.

Roger espia o texto logo atrás.

ROGER: É isso mesmo que li? Você vai cutucar o Cipriano com uma história do século 18?

LILA: Achei bastante inspirador. Bridget Foley e George Everett escaparam do terrível incêndio e tornaram-se Reis da Inglaterra. O que acha de um embate semelhante para marcar o fim da saga?

ROGER: Ai, amiga...Será? Eu acho que o Cipriano não ia curtir ser comparado ao outro...Cipriano.

Lila apanha um copo d´água sobre a mesa e se levanta.

LILA: Por que o governador iria implicar com uma história inspirada numa lenda? Eu apenas vou contar uma versão que acho apropriada para o livro. 

ROGER: Sendo lenda ou não, todo mundo sabe que o seu personagem Nilo é real, logo, os inimigos também. Se ele achar ofensivo, ele manda fuzilar.

LILA (fingindo dúvida): Você acha melhor eu parar?

ROGER (se anima): Mas é óbvio que não, amiga! Depois do Projeto Negro, eu quero é mais!

Lila ri, a campainha TOCA.

Lila vai atender, abre a porta e 

DÁ COM SAM

LILA: Sam? Entra aí.

Sam adentra com ar de felicidade.

SAM: Bom dia, gente. Eu procurei o Danilo e a Raíza, mas eles não estavam em casa.

ROGER: Se a gente puder ajudar.

Sam retira do bolso da calça UM PEN DRIVE BRANCO.

SAM: Vocês podem sim. Sabem o que tenho aqui? (Lila e Roger se entreolham) a participação do governo no ataque à igreja. Alguém a fim de pegar um político safado?

Lila e Roger, animados.

Fecha no sorriso vitorioso de Sam.

FIM DO PRIMEIRO ATO


SEGUNDO ATO


CENA 6 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / MANHÃ]

A certa distância, na porta da igreja, Josué conversa com uma mulher de roupas cobrindo todo o corpo, típicas de uma evangélica fervorosa.

Raíza aparece à frente da câmera, observa a cena, seriamente.
Josué põe a mão na cabeça da tal mulher, como se aplicasse um passe, fala umas palavras das quais não ouvimos. Os dois se despedem, Josué a vê partir, e acaba dando de cara com Raíza. Humilde, Josué abaixa a cabeça e entra na igreja.

CORTA PARA

CENA 7 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / MANHÃ]

Josué caminha por ali, mas olha para trás.

Raíza o encara, de maneira que chegaria a irritar.

JOSUÉ: O culto será mais tarde/

RAÍZA (por cima): Eu só vim te perguntar uma coisa: meu pai sabia?

Josué faz que não entende.

JOSUÉ: Raíza, eu...

RAÍZA: Ele sabia que foi você quem o estava matando?

JOSUÉ: Raíza, por favor...

RAÍZA: Sabia ou não sabia?

Na troca tensa de olhares.

JOSUÉ: Ele...Ele sabia/

Raíza segura a vontade de chorar.

JOSUÉ: Eu não quero ter de relembrar isso, por favor, se você veio/

RAÍZA (contendo a raiva / por cima): Ele deve ter levado um baque. O próprio irmão.

Josué toca suas mãos rapidamente.

JOSUÉ: Raíza, eu to tentando mudar/

Raíza recua de forma bruta. 

RAÍZA: E o que vai acontecer daqui por diante? Você vai dizer que foi salvo por Jesus e todos os seus pecados serão esquecidos? 

JOSUÉ: Jesus é misericordioso para com aqueles que se arrependem de verdade.

RAÍZA: Segundo essa igreja, ao morrer, você ficaria dormindo até o juízo final. Aí depois Deus resolve pra que lado te mandar: pro inferno ou pro lado de Jesus. Pra que lado você iria, Josué? (No silêncio dele) Pra perto do meu pai? Regozijar uma vida plena e feliz sem pagar pelo o que fez? Eu não acho justo que assassinos tenham o mesmo destino que suas vítimas.

Josué se mostra sentido, faz aquela cara de quem entende.

JOSUÉ: Você tá no seu direito. Sinta-se à vontade.

Josué sai de cena, Raíza limpa o rosto, se refaz do ódio. É quando OUVIMOS uma respiração ofegante, gemidos de dor. Raíza estranha, caminha na direção da porta.

IGREJA [EXT.]

O SOM ANGUSTIANTE

Continua e vai aumentando conforme Raíza se aproxima da

CASA DO PASTOR EVERTON

Por onde ela entra facilmente, curiosa.

CASA DO PASTOR EVERTON – QUARTO [INT.]

Sônia está de pé, chorando por alguém fora da tela. Raíza aparece pelas suas costas, quando vê

EVERTON NA CAMA

Doente, sendo observado por um médico.

EVERTON (delirando): O culto vai começar...Alguém...Não deixe...

Sônia engole o choro, angustiada.

SÔNIA: Ele tá assim, doutor, desde que o Josué o trouxe. Teve que vir carregado da igreja.

Sônia (usando pijama bege) percebe a presença de alguém e se volta de repente.

SÔNIA (ódio): Mas o que você tá fazendo aqui? Veio conferir de perto a desgraça que você fez? 

RAÍZA: Eu não fiz nada!

Sônia vai empurrando-a e as duas 

SAEM

Do quarto, e se aproximam da SALA.

SÔNIA: Pra mim você fez e por mim você vai pagar! E como é que você entrou aqui, hen?

EVERTON (O.S): É ELE!

Sônia se espanta.

SÔNIA: O que foi isso?

Sônia dá as costas, A VOZ de Everton ao fundo, sem que possamos compreender. Raíza tenta acompanhar.

SÔNIA: Você fica!

Sônia some da sala, deixando Raíza na expectativa. Até que o CHORO de Sônia nos alcança.
Raíza se assusta, vai se afastando e quando se vira

DÁ DE CARA COM PASTOR EVERTON.

Ela continua no interior da 

IGREJA

A MORTE DO PASTOR ERA APENAS UMA VISÃO

EVERTON: Eu não pude deixar de ouvir, irmã. Gostaria de conversar?

Raíza se refaz do susto.

RAÍZA: Gosto de conversar com pessoas que me entendem. O senhor me entende?

Raíza tenta sair, mas o pastor toca sua mão.

EVERTON: Jesus nos entende e nos ensina que o perdão transforma. Mas se você não consegue perdoar, não tente desanimar o irmão no caminho do bem.

Raíza dá um riso incrédulo.

RAÍZA (provoca): Acha que seria fácil? Se ele está tão convicto do caminho que quer seguir, não será uma meia dúzia de verdades que o deixará tentado a cometer crimes, não é?

Everton assente, meio desconcertado. Raíza se mostra penalizada, por um instante.

RAÍZA (espanto): Ah, droga!

EVERTON: O que houve?

RAÍZA (finge / abre a bolsa): Cabeça minha! Esqueci de tomar o meu remédio.

EVERTON: É alguma coisa grave?

Raíza finge vasculhar a bolsa.

RAÍZA: Não, mas depois da morte do meu pai, tive que lidar com fortes dores de cabeça. Ah, que pena! Deixei em casa.

EVERTON: Seria bom se alguém te ajudasse com isso. Saúde é muito importante.

RAÍZA: Eu sei. Por isso que eu prefiro eu mesma cuidar dos meus remédios. Deixar que outro faça isso por mim só se for de total confiança. Nunca se sabe, né? (Everton observa, pensativo) Bom, vou indo. Espero poder te ver novamente.

Everton mal acena para despedir, e Raíza vai embora.
Em Everton, ressabiado pela súbita simpatia da garota.

CORTA PARA

CENA 8 RUAS DA CIDADE [TARDE]

A estrada com pouco movimento. Um CARRO CINZA vem adiante na pista da direita, enquanto um TOYOTA VERDE ESCURO vem à esquerda, na contra mão.

Corta para o interior do CARRO CINZA

EM QUE LILA DIRIGE.

Lila fala ao telefone usando um fone de ouvido.

LILA (animada): Na primeira página do jornal, Danilo, o que acha? “Governador foi o autor do ataque à igreja”. Será um escândalo. (T) Mas é claro! Sam gravou direitinho, e sabe dos riscos. É de gente como ela que precisamos mesmo.

Pelo vidro do carro, vemos um ônibus se aproximar na pista contrária, mas Lila não nota que o Toyota segue de encontro ao ônibus.

LILA (ao tel.): Quando eu chegar aí eu te mostro o vídeo.

Buzinas SOAM, Lila percebe o Toyota quase em cima do outro veículo, se atordoa.

O ônibus freia, o Toyota surpreende numa guinada e corta Lila

QUE FREIA BRUSCAMENTE

O ônibus segue. O Toyota fica parado, bloqueando a estrada.

Lila se refaz do susto e observa a cena. Até que a porta do Toyota se abre, RAFAELA sai de lá, tranquila, e vem até Lila. 

RAFAELA (abre os braços / sarcástica): Te assustei? Desculpe ter te cortado, mas é que...

Rafaela para diante da janela do carro.

RAFAELA (cont.): Eu não sabia como deixar o nosso reencontro mais excitante.

ELA sorri, sacana. Lila devolve o sorriso com um olhar analítico e provocante.

LILA: Você se arriscou só pra me ver?

RAFAELA: De algum modo eu tinha que reparar o meu erro, já que eu andei visitando os seus amigos antes de você.

LILA: Não sou ciumenta, relaxa.

Rafaela aproxima o rosto da janela.

RAFAELA: Devia, porque tu não vai acreditar. Danilo tem pegada.

Lila abre a porta do carro no susto e SAI para bater de frente com a vilã.

LILA: Você me seguiu até aqui pra quê, hen? Se foi pra eu ver a tua cara de novo, pronto, já vi!

Lila faz que vai entrar, mas Rafaela segura a porta.

RAFAELA: EI! Calma aí! Eu tava brincando. Por que tão séria? (Lila bufa / Rafaela aponta o dedo, sagaz) Aposto que tá com medo da reputação do seu lindinho ir pro buraco e levá-la junto, acertei?

Lila só a encara, firmemente.

RAFAELA (cont.): Não se preocupe, porque quando isso acontecer eu estarei lá...Pra te empurrar caso você resista.

Rafaela ri com aquele seu jeito debochado, meio Coringa.

Lila força a porta e ENTRA. Rafaela ainda põe a cara na janela.

RAFAELA: Vá com Deus!

LILA: Que o diabo te carregue.

E Lila arranca com o carro, desvia do Toyota passando pela calçada de terra.

Rafaela sorri ao vê-la se distanciar, quando torna a olhar para frente/

ÂNGULO BAIXO

NO PEN DRIVE DE LILA NO CHÃO
Rafaela agacha e, curiosa, apanha. Ela dá uma boa olhada e faz cara de dúvida, malandra. No que ela se levanta/

FADE TO BLACK

FADE IN

Na fachada do prédio onde mora Dcr/

CENA 9 APTº 3011 – SALA [INT. / TARDE]

Dcr acaba de abrir a porta, Lila vai entrando, eufórica. Os dois beijam-se na boca, para logo Dcr fechar a porta.

DCR: O que aconteceu? A ligação caiu, fiquei preocupado.

Lila larga a bolsa sobre o sofá.

LILA: A peste da Rafaela me fechou, adivinha pra quê? Me ameaçar.

DCR: Só o Cipriano não tá sendo o suficiente. Mas e aí? Trouxe o pen drive?

LILA: Tá aqui...(Lila caça no bolso da calça) Onde deixei?

Ela tenta outro bolso, mas nada. Apanha a bolsa, abre e joga tudo no sofá.

LILA: Não é possível!

DCR: Será que não tá no carro?

O celular TOCA. Lila pega entre as suas coisas, não reconhece o número.

LILA: Alô?

RAFAELA (V.O / sarcástica): Olha que sorte, Lila, eu ainda ter o seu número.

LILA: Rafaela? O que você ainda quer, hen, garota?

RAFAELA (V.O): Olha só como você me trata! To gastando meus créditos só pra informar que achei teu pen drive.

Em Lila, alarmada. Dcr faz sinal, tentando entender.

LILA: O que você quer pelo pen drive?

Dcr se chateia, soca o ar.

RAFAELA (V.O): Ah, não sei...Não pensei ainda.

LILA: Deixa de enrolar, fala logo!

Dcr arranca o celular dela, com raiva.

DCR: Quanto você quer, Rafaela? 

RAFAELA (V.O / sarcástica): Credo, Danilo! Você mudou mesmo, hen. Querendo comprar a nossa velha amizade.

Na cara de tédio de Dcr.

DCR: Dá pra parar com o deboche? Você não precisa desse pen drive.

RAFAELA (V.O): Aqui se faz, aqui se paga. Vocês não tomaram o meu pen drive? Achei que tivesse chegado a hora de dar o troco.

O telefone dá SINAL DE OCUPADO.

DCR: Rafaela? Rafaela?

Dcr desliga o celular, com raiva.

LILA: Desculpa, eu...Eu fiz tudo errado.

DCR: Não. Quem fez foi ela. Só que não temos como reverter isso.

ALERTA de mensagem. Dcr vai até seu laptop e clica numa pequena janela. SAM aparece do outro lado.

SAM (ansiosa): E aí, Danilo? Beleza? Já viu o vídeo?

Dcr entreolha Lila, sem saber como explicar.

SAM: Oi? O que foi, gente? Vão denunciar o Walter?

DCR: A Lila perdeu o arquivo.

Sam mal tem tempo de absorver a informação.

LILA: A Rafaela achou.

SAM (aturdida): O quê?

DCR: Foi uma fatalidade/

SAM (nervosa): Fatalidade? Foi algum acidente de carro? Sequestro relâmpago? Mal súbito? (silêncio) Você tem ideia do risco que corri, Lila?

LILA: Eu sinto muito/

SAM: Eu que vou sentir! Eu me infiltrei no grupo, arrisquei a minha vida, pra nada?

DCR: O vídeo mostra você, Sam?

SAM: Não, mas você acha que eles não tinham uma escondida não? Se eles resolverem averiguar, e Rafaela estiver por perto ela me reconhece!

Dcr finca as mãos na mesa, impotente.

SAM: Eu vou resolver isso.

DCR: Não, Sam! A Rafaela tá metida com gente perigosa.

SAM: Eu também posso ser.

E Sam SAI da conversa.

LILA: O que ela quis dizer com isso?

DCR: Que teremos problemas.

RAÍZA (O.S): Deixa comigo. 

Lila salta de susto.

LILA: Raíza! Não ouvi você chegar.

RAÍZA: (provoca) Não é a primeira vez que você se distrai, né? (Lila, sem graça) Eu vou tentar barrá-la.

Em Dcr, confiante.

CORTA PARA

O tráfego intenso de carros

Pessoas indo e vindo /

CENA 10 RUA DA CIDADE [TARDE]

Vista em diagonal de um prédio que já vimos antes. É onde mora Rafaela.

Sam surge em cena, olhando pra cima, corajosa. Um carro atravessa a pista, Sam recua e acaba esbarrando em

RAÍZA

Que empaca a sua frente.

RAÍZA: Você pensa que vai aonde?  

SAM: Desfazer a besteira que a Lila fez. É minha cabeça que tá em jogo, Raíza. Nem tente me impedir.

RAÍZA: Nem vou. Mas sozinha você não chega ao apartamento, né?

SAM (sarcástica): Hmm, tu já era assim, ou passou a curtir o perigo depois da morte?

Raíza bufa, e sorri em seguida sem acreditar na piada.

RAÍZA: A gente tá perdendo tempo.

Sam sorri, sacana, mas quando elas pensam em atravessar, as duas veem 

EMERSON SAINDO DO PRÉDIO

Preocupado, olhar atento.

Na reação de Sam e Raíza.

FADE OUT

FIM DO SEGUNDO ATO


TERCEIRO ATO


FADE IN

CENA 11 MANSÃO DO PRESIDENTE – QUARTO DE AIMÉE [INT. / TARDE]

Móveis luxuosos, paredes brancas em contraste com outra parede, na cor laranja, até chegar numa cama, na qual há recortes de jornais com fotos de Dcr, Vicky, Josué, tudo antigo.

À frente de um laptop está Aimée, sentada, lendo alguma coisa.

NA TELA DO LAPTOP

Uma reportagem antiga da Carioca News sobre a morte de Vicky Amaral:

“Vicky era líder do movimento punk e, segundo testemunhas, tocava o terror no colégio França e no bairro onde morava. Ainda sim, sua morte brutal chocou amigos e familiares. A polícia já deu voz de prisão ao principal suspeito e namorado da vítima: Douglas.”.

Aimée esboça atenção em demasia.

VOZ MASCULINA (O.S): Aimée! Posso entrar?

A garota se assusta, junta os recortes, toda atrapalhada, e joga pra debaixo da cama. 

AIMÉE: Ah, oi, pai! Peraí!

Aimée volta para o laptop e

FECHA A PÁGINA DA INTERNET

Que revela um papel de parede da banda AFI.

AIMÉE: Pode entrar!

A porta é aberta, Jaime ENTRA.

JAIME: Eu to querendo falar contigo.

AIMÉE: Pode falar, pai. Eu tava só lendo o e-book da Lila.

Jaime se senta na beirada da cama, sorri.

JAIME: Eu tenho percebido que você se encantou por esse Danilo. Já se tornaram amigos?

AIMÉE: Como se o seu segurança já não tivesse batido pro senhor, né?

JAIME: Eu quero ouvir de você. Você sabe que ele tem namorada, né? Não acho legal você se expor assim/

AIMÉE: Pai! Somos apenas amigos. Nilo é um cara bacana e (suspira) tem aquele ar misterioso.

Jaime sorri, sem entender.

JAIME: Misterioso? A vida dele é um livro da Lila Machado aberto.

Ambos riem.

AIMÉE: É, mas...Me refiro a algumas atitudes, sabe? O senhor não vai achar ruim o que vou dizer, né?

JAIME: Se não disser será pior.

Aimée suspira, toma coragem.

AIMÉE: Então...Eu tive a impressão de que o Nilo se aproveitou do ataque à igreja pra me salvar, sabe? Pra sair bem de novo na mídia.

JAIME: Mais? Ele salvou a nossa vida no aeroporto. Sem contar que ele não parece um sujeito que gosta de holofotes, embora viva com eles.

AIMÉE: É, mas depois que o tal do Emerson Martins resolveu puxar o coro contra o pastor Josué, os fiéis estão pondo a culpa no Nilo. E sabe pra quem fica a má fama, né?

JAIME: Pra quem já está na mídia. Mas se ele está tão desesperado pra recuperar a boa reputação, você devia tomar cuidado. Não se recupera o respeito alheio sem quebrar algumas regras.

AIMÉE: Credo, pai! Que regras o senhor andou quebrando?

Jaime ri.

JAIME: A regra do bom pai. A de não pedir a filha adulta que tome cuidado com as suas amizades.

Risos.

AIMÉE: Ah, pai! (ela para de rir / murmura) O senhor não vai contar nada disso pra ninguém, né?

JAIME: Não se preocupe. Eu tenho um país pra cuidar, e já está sendo muito complicado. Imagine cuidar da vida de um herói?

Os dois sorriem e Jaime a abraça.

CENA 12 COOFEE BREAK [INT. / TARDE]

Um bom movimento, garçons atendendo as mesas, conversaria. 

CAM segue atrás de uma garçonete até se desviar em direção a uma escada.

CORTA PARA

ESCRITÓRIO [INT. / TARDE]

Marco sentado em sua cadeira, relaxado, brinca com a caneta.

MARCO: Achei melhor ficarmos por aqui. Depois do que houve essa manhã, não é?

Dcr e Lila sentados de frente.

DCR: O Emerson deve tá chegando. Espero que ele tenha uma boa explicação.

Raíza está atrás andando de um lado para o outro, absorta, enquanto Sam está sentada no pequeno sofá.

MARCO (O.S): Raíza, querida, não gaste sua linda sola. Tudo dará certo.

Raíza parece voltar a si, disfarça a ansiedade.

RAÍZA: Ahn...Não sei. Eu acabei discutindo com o Josué.

LILA: Há! Parece que não é só o Emerson que precisa de freios.

RAÍZA: Olha só quem fala! Bate boca com a Rafaela e ainda deixa a Sam em perigo.

LILA: Ela me provocou.

RAÍZA: O Josué me provoca só em estar livre.

MARCO: Já chega, meninas! Todos nós já cometemos erros na vida, ninguém aqui é santo.

DCR: Falou o experiente no assunto.

Marco não tem tempo de responder, quando Valentina entra e em seguida, Emerson.

EMERSON: Boa tarde, gente! (cumprimenta Dcr com a mão) Vim o mais rápido que pude.

Marco observa Valentina estacada na porta.

MARCO: Querida, acho que ouvi te chamarem lá embaixo.

VALENTINA: Aff, odeio ficar de fora de segredinhos.

Valentina SAI batendo a porta. Emerson cumprimenta Raíza apertando delicadamente sua mão.

EMERSON: Raíza...(fita a garota) Prazer em revê-la.

Marco pigarreia, Emerson disfarça.

RAÍZA: Bom, acho que você não conhece a Sam.

SAM (arredia): Tudo bem?

EMERSON: Acho que sim. Me sinto num encontro furtivo. O que aconteceu?

Lila se levanta e mostra seu celular.

NO PONTO DE VISTA de Emerson que o vê numa foto na qual sai de um prédio.

EMERSON: O que é isso? To sendo vigiado?

DCR: Não, mas depois do seu escândalo contra Josué, a gente tá querendo evitar outro. O que você fazia lá?

Na cara de bobo de Emerson.

EMERSON: Eu moro lá.

Surpresa nos demais.

RAÍZA: Você...Você mora no mesmo prédio que a Rafaela?

EMERSON (surpreso): Rafaela? Vocês estão falando daquela garota que foi salva pela minha irmã e que, por causa dela, Josué a matou?

DCR: Peraí, Emerson/

EMERSON (recua / indignado): Peraí o quê? Se essa garota não tivesse feito o que fez contra você, Josué não teria tentado matá-la. Logo, ela não seria salva pela Vicky e a Vicky não teria morrido.

Dcr segura seus ombros, tentando acalmá-lo.

DCR: Bater de frente não é a solução! A Rafaela pode odiar o Josué, mas odeia igualmente a todos que a prejudicaram. 

MARCO: Me admira que você nunca a tenha visto. Não é um rosto fácil de passar despercebido.

Emerson se recompõe, chateado.

EMERSON: De fato, nunca a vi. Talvez seja ela a tal moradora que o zelador comentava. Entra e sai sem alarde. 

LILA: Parece que ela anda causando mais alarde do que pensa.

Em Marco, encarando Emerson.
No rosto de cada um, até parar em Raíza, pensativa.

Takes da cidade, movimento do trânsito, semáforo marcando sinal vermelho.

CENA 13 CARRO DE JOÃO [INT. / TARDE]

João no volante, comendo biscoito de polvilho oferecido por Ana, no banco do carona. João limpa a camisa branca social.

JOÃO (fazendo graça): Olha o que você fez. Vou mandar seu primo lavar.

ANA: Você ia gostar mais dele por isso?

JOÃO: Tenho bom gosto.

Ana sorri e os dois se beijam. João desvia o olhar e, pelo seu PONTO DE VISTA

CAEL ENTRA NA IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA

João estranha.

JOÃO: Cael deu pra bater ponto nessa igreja?

ANA: Vai vê ele acredita na redenção do seu Josué.

JOÃO: Era só o que me faltava!

Buzinas SOAM, João liga o carro e se prepara para estacionar.

ANA: Ah, não, João! Você não tá pensando em/

JOÃO: Quero ver isso de perto.

Em Ana, preocupada.

CENA 14 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / TARDE]

O corte é feito para a conversa iniciada entre Cael e Sônia.

SÔNIA: A Igreja fica muito feliz pela sua ajuda. Mas até onde sei, o dono de uma boate não frequentava muito uma igreja, né?

CAEL (mente): Acho que resgatei a minha fé. Ter recebido o perdão do meu irmão, me fez voltar a acreditar nas pessoas.

JOSUÉ (O.S): Louvado seja!

Cael estende a mão para cumprimentar, Josué aceita.

CAEL: Pastor...Como vai?

JOSUÉ: Melhor agora em ver que a sua vinda aqui outro dia não foi apenas uma visita única. E por favor, não me chame ainda de pastor. É estranho.

Ambos sorriem.

SÔNIA: Meu irmão já o considera pastor. Sabe, seu Micael, pra mim é sempre um prazer ver que o mundo ainda tem jeito. Josué atendeu ao chamado e hoje é um homem de Deus.

JOSUÉ: Obrigado pelas palavras, irmã Sônia. (encarando Cael) Acho que já obtive muita ajuda. Talvez seja hora de seguir com as minhas próprias pernas (no olhar confuso de Cael e Sônia). O pastor Everton já deve tá cansado de me guiar durante o culto.

Sônia ri, meio escandalosa. Cael sorri, desconfiado.

Palmas. João chega ali, abre os braços, sarcástico.

JOÃO: Ninguém me chama pra festa? Ou é uma pegadinha?

JOSUÉ: João, por favor...

JOÃO: Não, não se preocupe. Vim apenas conferir de perto essa amizade, porque de longe tava difícil de acreditar. Quer dizer que agora você confraterniza com o Josué?

CAEL: Ninguém aqui tá confraternizando, João. Estamos apenas falando de como o perdão transforma as pessoas.

JOÃO: É fácil falar, afinal, o seu irmão pagou pelo o que fez, né? E eu? E a Raíza? Não vimos nada além da vitória de um assassino.

Cael tenta tocar em João, mas este recua, revoltado.

CAEL: Você se lembra de como era a sua relação com a Raíza? Lembra de como isso era desgastante? (João o encara, frio) De certa forma, ambos se perdoaram, não?

JOÃO: Raíza não matou ninguém. 

CAEL: Você, hoje, a defende. O teu pai vai ter que amargar o resto da vida o que fez. Não queira odiar alguém já condenado a esse sofrimento.

Sônia põe a mão no peito, emocionada.

SÔNIA: Como ele fala bonito, né?

Josué só espia.

JOÃO: Seria bom se todos se perdoassem, né Cael? Mas seria melhor ainda se mal algum tivessem feito.

João dá as costas, deixando Cael sem reação.

CAEL: João! (ele olha para trás) Vou atrás dele, desculpe.

Cael some da tela. Josué e Sônia observam.

CENA 15 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [EXT. / TARDE]

João sai, enfurecido, abre a porta do carro e 

ENTRA

rapidamente.
Cael chega da janela, Ana se assusta.

CAEL: João, me escuta.

ANA: Gente, o que houve?

Cael e João trocam olhares firmes.

CAEL: Você foi brilhante, João. 

Ambos riem, Ana sem entender. 

JOÃO: Você viu a cara daquela beata? Toda derretida pela sua lição de moral.

CAEL: Que bom que deu tudo certo. Acho que já posso me considerar um homem santo?

ANA: Será que os lindos rapazes podem me explicar o que tá acontecendo aqui?

JOÃO: Muito simples. Os lindos rapazes aqui vão salvar a reputação do seu primo.

Em Ana, perplexa.

Cael sorri, cúmplice.

CENA 16 APTº 3011 – SALA [INT. / NOITE]

Na foto em que Emerson sai do prédio. Dcr segura, insatisfeito.

DCR: Ainda não to seguro de que o Emerson não fará nada contra ela. Ele é muito impulsivo.

Raíza surge com dois copos d’água, entrega um a Dcr.

RAÍZA: Acho que devemos nos preocupar com outra coisa.

Dcr apanha o copo e bebe.

DCR: Tem a ver com aquela sua angústia lá na Coffee? Notei que você tava estranha.

RAÍZA: Eu fiquei pensando nesse plano do Marco em salvar a sua reputação e...Não vai ser necessário expor o Cael e o João nisso.

DCR: Como assim? O plano não era perfeito?

RAÍZA: Perfeito será se você salvar o pastor Everton da morte.

Na cara surpresa de Dcr.

DCR: Você, por acaso...?

Raíza não tem tempo de responder, um celular TOCA.

NO CELULAR SOBRE A MESA

No qual aparece a foto de Cael.

Dcr pega e atende.

DCR: Fala, Cael. E aí? Tudo certo lá?

CAEL (V.O): Perfeito! João foi bastante convincente.

Raíza faz sinal para saber o que acontece. Dcr desvia o telefone.

DCR: O plano deu certo.

CAEL (V.O): É a Raíza que taí? Deixa eu falar com ela.

DCR: Ahn...Ok. (Dcr entrega o celular para Raíza) Ele quer falar contigo.

Raíza pega, preocupada.

RAÍZA: Oi, Cael, e aí?

INTERCALA PARA 

CENA 17 MANSÃO DO CAEL [INT. / NOITE]

Cael está sentado no sofá, ao telefone.

CAEL: Bom, achei que você fosse gostar de saber que o Josué não tem interesse em ficar naquela igreja por muito tempo.

RAÍZA (V.O): Como? Por que diz isso?

CAEL: Ele disse algo como “Seguir com as próprias pernas, porque já obteve muita ajuda”. Talvez a rejeição de vocês tenha dado efeito. Não acha? (T) Raíza? (T) Alô?

SINAL de ocupado. Cael afasta o celular, sem entender.

CENA 18 APTº 3011 [EXT. / NOITE]

Raíza, afoita, sai puxando Dcr para fora do prédio.

DCR: Peraí, Raíza! Como é a que a gente vai chegar na casa do pastor assim? Você vai dizer que teve uma visão da morte dele, é isso?

Raíza para diante dele, aflita.

RAÍZA: Não sei, poxa! Pro Josué fazer uma ameaça, ainda que discreta, é porque tá muito confiante. Ele tá matando o pastor aos poucos!

DCR (tom de repúdio): Que você esteja errada.

RAÍZA: Vamos! 

Raíza e Dcr se preparam para subir na moto.

FADE TO BLACK

FIM DO TERCEIRO ATO


QUARTO ATO


FADE IN

Takes rápidos do trânsito, luzes de farol e do semáforo se misturam freneticamente.

CENA 19 CASA DO PASTOR – QUARTO [INT. / NOITE]

Sônia entra com um médico que, rapidamente se aproxima de Everton, muito doente, deitado na cama.

EVERTON (delirando): O culto vai começar...Alguém...Não deixe...

Sônia engole o choro, angustiada.

SÔNIA: Ele tá assim, doutor, desde que o Josué o trouxe. Teve que vir carregado da igreja.

O médico examina o paciente usando um aparelho de pressão.

MÉDICO: Sinto muito, mas o caso dele piorou. A senhora disse que ele tomava os remédios?

SÔNIA: Todo santo dia, doutor. Inclusive o Josué ajudava a lembrá-lo.

EVERTON (delirando): É ELE! (susto nos demais) O satanás...O satanás foi solto da prisão...(Everton segura o jaleco do médico) Não deixe...Ele vai enganar as nações...AS NAÇÕES!

O médico tenta segurar suas mãos, mas o pastor se exalta mais.

EVERTON: VOCÊ TEM QUE JOGÁ-LO NO LAGO DO FOGO! FOGO! O DIABO SÓ MORRE PELO FOGO!

Quando o médico finalmente solta suas mãos, Everton perde a força. ESTÁ MORTO.

Sônia olha, tensa, para o corpo inerte do irmão.

SÔNIA: Everton? Irmão?

MÉDICO (frio): Ele se foi.

Sônia cobre a boca, desesperada, começa a chorar copiosamente.

CAM se afasta e

PELA JANELA DO QUARTO [EXT.]

Dcr e Raíza vendo tudo, frustrados por chegarem tarde.

Os dois dão as costas, SAEM do quintal da casa, nem veem Josué vindo pelo lado contrário, bem alinhado, observando-os, seriamente.

FADE TO BLACK

FADE IN

Nos jornais preenchendo a tela com a manchete da morte do pastor. 

DA CARIOCA NEWS- “Pastor Everton sucumbe à doença e morre em casa – O pastor lutava contra o câncer de fígado há um ano”.

NOVO DIA- “Suspeitas de que o pastor Everton discutiu com Raíza Maciel antes da morte deixam fiéis revoltados”.

CENA 20 CARIOCA NEWS [INT. / MANHÃ]

Mãos femininas jogam o jornal da Novo Dia sobre a mesa. Lila está revoltada, diante de Dcr, Raíza e Roger.

LILA: Que desgraça! Pra dizerem que você ocasionou o câncer nele pouco custa.

RAÍZA: Tá na cara que o Josué me viu e me dedurou pro Hans.

LILA: Isso não importa, Raíza! Agora não é só a reputação do Danilo que preocupa, é a sua também.

Raíza a encara, firme, na defensiva.

RAÍZA: Já saí de coisa pior. Não precisa gastar seu tempo comigo.

Quando Raíza dá as costas, vê Sônia parando bem a sua frente, trajando luto, cara de poucos amigos.

RAÍZA: Sônia...Eu...Lamento/

Sônia desfere UM TAPA em Raíza, 

TODOS se assustam. 

Raíza cobre o rosto e devolve o olhar de raiva à Sônia.

SÔNIA: Lamenta nada! Você vai pagar caro pelo o que fez, garota.

RAÍZA: Mas eu não fiz nada!

SÔNIA: E foi fazer o quê lá em casa ontem quando meu irmão morreu, hen?

Lila e Roger, confusos. Dcr, esconde a cara, tenso.

SÔNIA (cont.): Por acaso adivinhou que ele tava morrendo? (chega mais perto / murmura) Ou fez alguma coisa que não devia? 

RAÍZA: Por que não chama a polícia? Diz lá que eu entrei na tua casa e matei o pastor. Você tem alguma prova?

SÔNIA: Os tempos são outros, garota. Um temente a Deus não precisa de prova maior que a sua palavra. Você não é a imprensa? Devia saber disso.

Nos olhares firmes entre as duas. Sônia vai embora. Raíza, ali, controlando a raiva. 

CENA 21 PALÁCIO GUANABARA- GABINETE [INT. / MANHÃ]

No jornal da NOVO DIA sobre a mesa, estampando a morte do pastor Everton. Ao lado, uma taça de champanhe sendo pega por mãos masculinas.
Cipriano bebe o champanhe, enquanto lê a notícia. BARULHO da porta. Hans adentra, vitorioso.

HANS: Champanhe logo cedo? O que será que estamos comemorando?

Cipriano verifica a mesa, à procura de algo.

CIPRIANO: Você está vendo outra taça por aqui? (Hans engole o sorriso) É porque a vitória é minha. Eu comemoro sozinho (e bebe).

Hans abre os braços, sem entender.

HANS: Como assim, Cipriano? A matéria não ficou boa? Agora, além da reputação do Danilo, também vamos acabar com a de Raíza.

Cipriano ri, irônico.

CIPRIANO: Adoro ouvir um bom argumento.

Cipriano faz sinal com a taça para Hans olhar para trás. Este olha e encontra outra taça, cheia.

CIPRIANO: É chegado os novos tempos. Para derrotar o inimigo, primeiro acabe com a sua reputação, e, depois, deixe que o povo cuide do que restou dele.

Cipriano estende a taça, Hans faz o mesmo e ambos brindam.

HANS: Como nos velhos tempos?

CIPRIANO: Como nos velhos tempos.

Hans esboça raiva, discretamente. EROM está ao seu lado, transmitindo o mesmo sentimento.

CAM BUSCA O EXTERIOR DO GABINETE

Onde Israel acaba de ouvir tudo.

CENA 22 CARIOCA NEWS [INT. / TARDE]

Lila e Dcr caminham pelo corredor, enquanto conversam.

LILA: Você e a Raíza deviam avisar quando pretendem fazer uma besteira.

DCR (mente): Já disse. Eu retrocedi o tempo para salvar o pastor, mas não chegamos a tempo.

LILA: Danilo, você sofre de intensas dores de cabeça quando retrocede, sem contar nas consequências de mudar o destino de alguém. Você não o faria sem um bom motivo.

DCR: Então eu vou te dar um: (ele segura seu braço e a faz parar) Josué será oficialmente o novo pastor com o respaldo de Cipriano. Se os tempos já estavam difíceis, imagine agora?

Lila faz a pensativa.

LILA: Isso torna tudo mais interessante e realista...

Dcr não entende, mas acaba interrompido por um ALERTA DE EMAIL. Lila olha para a sua mesa e apanha seu celular.

LILA: Finalmente! O e-mail chegou.

Lila contorna a mesa e acessa pelo computador.

LILA (radiante): Perfeito! O que acha?

Dcr contorna e se mostra petrificado com o que vê. 

LILA: Curtiu?

Pelo o PONTO DE VISTA de Dcr, o e-mail de Lila está aberto com uma imagem ilustrando a capa de um livro. Nele, Dcr aparece em trajes de George Everett, de costas para uma igreja em chamas, sob as seguintes inscrições: 

“Lila Machado
NILO – Na Inquisição dos Novos Tempos
Ninguém apaga o tempo, nem o tempo apaga os que ficaram para a história”.

LILA: Conhece a história?

Na reação de Dcr.

CENA 23 DEPÓSITO DE EROM [INT. / NOITE]

Hans e Rafaela diante de um laptop, sobre uma mesa de madeira redonda. Rafaela, chateada, cruza os braços, sem o que fazer.

PONTO DE VISTA de ambos, olhando para o vídeo no qual mostra o segurança negro entregando um envelope para a CAM, ao mesmo tempo em que OUVIMOS o discurso de Walter (cena 19 – 4x03).

WALTER (no vídeo / O.S): O trabalho de vocês foi excelente. Como diria o nosso governador: “A igreja sofre, mas se erguerá; Entretanto, para os falsos deuses como Danilo Rodrigues, o sofrimento só cessa após a morte”.


APLAUSOS.


VOLTA À CENA

HANS: Não dá pra ver a cara da criatura, mas com certeza é alguém do grupo do Danilo.

Walter se aproxima, erguendo um pen drive.

WALTER: Por precaução, um de nossos seguranças gravou o rosto de cada um durante o ato. Vamos ver.

Hans quase pega, mas Rafaela está mais afoita, apanha o dispositivo e encaixa no laptop. Após, estala os dedos, ansiosa.

Pelo PONTO DE VISTA DOS TRÊS, a tela exibe várias pessoas se aproximando da CAM, apanhando um envelope e saindo em seguida.

Rafaela avança o vídeo

NO VÍDEO AVANÇANDO

Walter se enerva e tenta retirar a mão de Rafaela do controle do laptop.

WALTER: Garota estressada! Me dá isso aqui!

NO VÍDEO AVANÇANDO

Quando a imagem de SAM passa rapidamente.

RAFAELA: Peraí, peraí! Volta!

O VÍDEO EXIBE A IMAGEM DE SAM

Recebendo o envelope.

RAFAELA: É a Sam!

HANS: Não é ela que tava na cobertura no dia que você quase morreu?

RAFAELA: Ela tá a serviço da Lila! O que faremos?

CIPRIANO (O.S): A voz do povo...

Cipriano aparece da porta, com seu sobretudo preto, abre os braços.

CIPRIANO (cont.): É a minha voz. Qual é a sua vontade, minha cara discípula?

Em Rafaela, sorrindo, sadicamente.
Fecha no sorriso satânico de Cipriano.

FADE OUT

FIM DO QUARTO ATO


ATO FINAL


FADE IN

CENA 24 APTº 3011 – SALA [INT. / NOITE]

Sob a penumbra, Marco, Raíza e Cael estão sentados no sofá; Lila e Roger nas poltronas, cada um; Sam, numa cadeira. Todos formando novamente um círculo. Sobre a mesa de centro, um laptop fechado.

LILA: Você não pode adiantar o que esse hacker descobriu, Marco? Podemos salvar a reputação do Danilo e da Raíza?

MARCO: Calma, my dear. (Marco saca do bolso do paletó um mini pen drive) Só irei mostrar o arquivo na presença de todos.

CAEL: E onde o Danilo está?

ROGER: Trazendo o mais novo integrante do clã.

BARULHO de chave.

Todos olham para algo fora da tela.

MARCO: Acho que podemos começar.

Dcr aparece ao lado de Emerson e, este encara a todos, confiante.

DCR: Emerson, seja bem-vindo a Midas! 

EMERSON: Poxa, cara...Fico feliz que confie em mim. Nunca pensei em participar de um clã, sério.

RAÍZA (O.S): Isso não é um fã-clube.

Raíza o encara, firme, sombria.

RAÍZA: É uma sociedade secreta. Não é muito animador arriscar a própria vida, portanto, não se anime.

Emerson a encarando, preocupado, olha para Dcr esperando uma reação.

Roger ri.

ROGER: Cara, é brincadeira dela, tá? Uma iniciação básica no grupo.

TODOS riem, inclusive Emerson, aliviado.

EMERSON: Senti até um frio na espinha.

DCR: Então? O que você tem pra nós, Marco?

Marco abre o laptop, enquanto Dcr se senta no braço do sofá onde está Lila. Emerson se senta no braço da outra poltrona.

Marco coloca o pen drive, dá uns cliques. Todos atentos.

MARCO (lendo): O presente Inquérito Policial, sob o número...Ahn, foi instaurado para apurar a morte de Félix Ferreira de Carvalho, ocorrida no dia 16 de dezembro de 2003, por volta das 23 horas, no lado externo da Boate...

Marco se mostra absorto, sem acreditar no que vê.

SAM: Continua.

CAEL: O que foi, Marco?

Cael e Raíza espiam a tela, e ambos arregalam os olhos, igualmente absortos.

CAEL: Não pode ser...

DCR: Dá pra dizer o que tá acontecendo?

Forte close em Marco, ainda chocado.

MARCO: Um pesadelo.

Na reação de cada um, sem entender.

CENA 25 CASA DO PASTOR – QUARTO DE EVERTON [INT. / NOITE]

Sônia está diante da janela, chorosa, com um lenço na mão. Na outra, está um porta-retrato 

COM A FOTO ANTIGA DE EVERTON E SÔNIA

JOSUÉ (O.S): Era como um irmão pra mim.

Josué vem logo atrás, com semblante sereno.

JOSUÉ: Sua última missão foi ter me salvado.

Sônia derrama mais lágrimas, Josué põe as mãos em seu ombro, consolador.

SÔNIA: Foi horrível, ele...Ele ficou delirando, falava de fogo, do demônio...

JOSUÉ: Shh...Não fale esse nome aqui dentro. Tenha certeza de que Deus o está amparando no céu. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles será o Reino dos Céus.

SÔNIA: Por que “perseguidos”? Meu irmão nunca foi perseguido.

JOSUÉ: Estava sendo constantemente cercado pela sombra do passado, irmã. (mente) Ele me confidenciou.

Sônia se mostra tensa, nem o encara.

SÔNIA: Quando?

JOSUÉ: Na última semana. Ele tentava disfarçar, mas eu percebia. (mente) Ele tava se sentindo pressionado pelas visitas do Cael.

SÔNIA: Cael? Micael? Mas o que ele tem a ver com isso?

Josué a vira de frente, fazendo suspense.

JOSUÉ: Não foi na boate L.A House onde o pastor cometeu o crime? (Sônia, na expectativa) A boate era do Cael.

Na cara de estupefata de Sônia.

CENA 26 MANSÃO DO PRESIDENTE – ESCRITÓRIO [INT. / NOITE]

Mãos masculinas assinando uns papéis, até revelar Jaime, sentado logo atrás da mesa.

Israel adentra.

JAIME: Alguma novidade?

ISRAEL: Não sei se interessa, mas...Não é só a reputação de Danilo Rodrigues que o governador tem interesse em destruir.

Em Jaime, curioso.

FUSÃO PARA

CENA 27 MANSÃO DO PRESIDENTE- QUARTO DE AIMÉE [INT. / NOITE]

Na tela do laptop, na qual aparece o perfil social de “Emerson Martins do Amaral”. Nele, contém uma imagem da capa de um dos livros de Lila Machado sobre Nilo. Tudo aparentemente normal, não fosse pelas poucas postagens e a recente inscrição na rede social.

Em Aimée, desconfiada.

Quando a CAM volta para o laptop

CORTE DESCONTÍNUO

Para outro laptop, numa janela privativa.

CENA 28 APTº DE EMERSON - QUARTO [INT. / NOITE]

Na qual aparece a página “Nilo – A saga”. O mouse posiciona no link “Curtir”, para logo ser clicada.

Emerson sorri, satisfeito.

FUSÃO PARA

CENA 29 CASA DO PASTOR – QUARTO [INT. / NOITE]

Aproximando-se das costas de Josué, diante de uma janela.

Josué segura uma bíblia aberta no versículo APOCALIPSE, capítulo 21. Ao fechá-la, revela-se um terço em sua mão, o qual ele leva até a boca e beija o crucifixo.

Sua imagem vai se afastando

ATRAVESSA A JANELA

Até ganhar distância.

FADE TO BLACK

FIM DO EPISÓDIO


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