0:00 min       RAÍZA TEMPORADA FINAL     SÉRIE
0:30:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA 4


Série de
Cristina Ravela

Episódio 01 de 14
"Ressurreição"



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 ATO DE ABERTURA



FADE IN

= = FLASH-FORWARD = =

TELA PRETA

No texto sendo digitado:


- “De fato, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão”. Infelizmente, as palavras de Jesus sempre foram mal interpretadas, não se sabe se por ignorância, ou por conveniência. Matam-se em nome de Deus; Julgam-se uns aos outros, e no final, ninguém quer perdoar seu inimigo. Com exceção de duas pessoas. A história que vou contar agora aconteceu de verdade.

 - Lila Machado

= = FIM DO FLASH-FORWARD = =

FADE OUT

FADE IN

Legenda: 21 de dezembro de 2012

= = FLASHBACK = =

CENA 1 IGREJA [INT. / NOITE]

Raíza vem adentrando, apreensiva, olhando um por um.

De repente, Marco fecha a expressão, aflito. Todos olham na direção da noiva, tensos.

MARCO: NÃO!

Ouvimos um DISPARO
Gritos dos convidados, muito burburinho.
ZOOM rápido para Raíza, trêmula, deixa o buquê cair.

RAÍZA (V.O): Há dois anos eu fiz uma escolha.

No que Raíza desaba no chão, revela-se na entrada, um sujeito de sobretudo e capa cinza. Ele ainda apontando a arma de luvas, quando a joga no chão.

RAÍZA (V.O): Eu aceitei a minha morte.

Raíza está de bruços, olhos abertos, MORTA.

CORTA PARA

EXT. DA IGREJA

Onde o sujeito vem correndo, até parar, se ergue firme. 

RAÍZA (V.O): Mas o meu carrasco também foi o meu herói.

E ao retirar o capuz, BAQUE.

Se trata de DCR.

FUSÃO PARA

CENA 2 CEMITÉRIO [INT. / NOITE]

Legenda: 12 horas depois

Ouvimos passos. Três pares de pernas caminham pelo chão batido até se aproximarem de um jazigo.

RAÍZA (V.O): A minha morte não passava de uma sabotagem para eliminar Cipriano, até então, ligado a mim por aquele maldito ritual. Dcr e Sam providenciaram um projétil feito com uma poção que se dissipou ao tocar em minha pele e me deixou inerte por horas.

Na lápide, a inscrição: 

Raíza M. Ferraz

07/10/1987 - 21/12/2012

“Mesmo sem armadura, escudo, mesmo sem espada, você sempre será uma heroína”.

Dcr, Lila e Roger se olham, quando Dcr faz sinal de positivo com a cabeça.
Ele e Roger, com muito esforço, abrem o jazigo e Raíza se levanta quase sufocando-se. Dcr a abraça, Raíza sem acreditar.

FUSÃO PARA

CENA 3 SÉRIE DE PLANOS

  1. Uma TV exibe os destroços da cidade após os intensos protestos.

RAÍZA (V.O): Assisti a desordem na cidade provocada pelos seguidores de Erom Garcia.

  1. Na manchete de um jornal: “A assassina de Raíza Maciel, Marina Martins, voltará para o Manicômio Judiciário”.

RAÍZA (V.O): Uma pessoa pagando por um mal que nem fez.

  1. Outra manchete mostra o fim do julgamento de Marco: “Empresário é condenado a dois anos de detenção – Mal enterrou sua noiva Raíza há duas semanas, o empresário Marco Bedlin, que aguardava julgamento em liberdade, foi condenado a dois anos de prisão por estelionato”.

RAÍZA (V.O): Outra pagando pelo o que devia.

FUSÃO PARA

CENA 4 RUA DA CIDADE [MANHÃ]

Um carro preto todo blindado estaciona.

RAÍZA (V.O): Mas o meu ato foi irracional. Mais uma vez fizemos tudo errado. 

A porta do carro se abre do outro lado, um motorista sai e abre a porta de trás. Dalí, sai um homem de sobretudo preto.

RAÍZA (V.O): Porque não se retribui o mal com o mal. Ele sempre acaba voltando pior.

MOTORISTA: Vou estacionar o carro em outro lugar, senhor governador.

O homem do sobretudo se volta e revela ser CIPRIANO.

CIPRIANO: Ok. Tentarei ser breve. Hoje é um dia muito importante para a nação.

Cipriano sorri, maléfico.

= = FIM DO FLASHBACK = =

A tela se fecha

FIM DO ATO DE ABERTURA


4x01

RESSURREIÇÃO

Season Premiére


PRIMEIRO ATO


FADE IN

CENA 5 CEMITÉRIO [INT. / MANHÃ]

No jazigo, a seguinte inscrição:

Bruno M. Ferraz
04/06/1968 – 31/10/2012

“Nunca esqueceremos você”

Raíza (cabelos soltos, trajando uma blusa branca, bolsa preta a tiracolo, calça jeans e coturnos marrons) observa a lápide.

RAÍZA: Hoje faz dois anos. (T) O tempo não cura, como dizem.

Dcr vem por trás e a abraça. Raíza olha para ele, sentida.

Corte descontínuo nos dois abraçados, indo embora.

DCR: Não há cura quando não há justiça. Como a Justiça determina que um louco tá recuperado?

RAÍZA: O Josué não se recuperou, porque ele nunca esteve louco. Ele agora trabalha numa igreja, não dou um mês pra ele se tornar querido só por pregar a palavra de Deus.

DCR: No meio disso tudo, ainda temos que agradecer que a polícia entendeu o nosso caso. Forjar a própria morte dá cadeia. Você acredita que até hoje o Marco me acusa de não ter obedecido a vontade dele? 

RAÍZA: E tudo em vão. Cipriano saiu por cima, é visto como herói da pátria por ter pagado todo o estrago que o incêndio da casa dele causou e ajudado a prender os manifestantes. 

DCR: As pessoas quase não se lembram de mim, mesmo com as tentativas de Lila de me fazer durar na mídia como aquele herói. Não to me queixando não, mas ter o Cipriano como um herói e ver que todos aplaudem suas atitudes insanas, não me desce, entende?

RAÍZA: É hoje que ele vai transformar a praça mais uma vez num palco dos horrores, né?

DCR: Infelizmente, a gente tem que estar lá para cobrir essa coisa.

Os dois somem da tela.

Vista aérea da cidade / Fachada da Carioca News/

CENA 6 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / MANHÃ]

Movimento típico. Quando Raíza e Dcr chegam, Lila se aproxima, alarmada.

LILA: Danilo, você ainda não aprendeu a deixar o celular ligado não?

DCR: Desculpe. O que houve?

LILA: O Roger acabou de ligar. O Beto, do Jornal Novo Dia, morreu na ferrovia. Ninguém sabe o que aconteceu, mas parece que nem tentaram ajudá-lo.

RAÍZA: A essas alturas o Hans deve ter se apossado da matéria.

LILA: Preciso que vocês consigam qualquer informação sobre o ocorrido. O Roger espera por vocês.

Raíza e Dcr fazem que sim.

CENA 7 METRÔ [INT. / MANHÃ]

Muita confusão, gente olhando para os trilhos com expressão de horror, alguns filmando com os seus celulares, polícia fazendo o cerco.

Dcr e Raíza (com uma câmera a postos) se apressam e conseguem furar o bloqueio dos curiosos. Roger por ali, assustado.

DCR: E então, Roger? Alguém disse algo mais relevante do que “o cara morreu”?

ROGER: Disseram que ele foi empurrado do outro metrô, atravessou a plataforma e...Ninguém se arriscou a salvá-lo.

RAÍZA: É como dizem: Sozinho na multidão.

Raíza vê algo fora da tela.

RAÍZA: Parece que alguém chegou aqui primeiro.

Dcr e Roger veem Raíza ir até Hans, em posse de uma câmera.

RAÍZA: Meus pêsames. Beto era o seu colega de anos, não é?

Hans a olha com desprezo.

HANS: Não tente se agradável, Raíza. A matéria é minha.

DCR (indignado): Hans, era o Beto ali. Vocês eram amigos, não?

HANS: Você tá frustrado, é? Depois que perdeu o posto de herói, nunca conseguiu emplacar uma matéria que prestasse. 

ROGER: Matéria que preste pra você é o que você deturpa, né?

HANS: Tá insinuando o quê?

Raíza se enfurece e tenta arrancar sua câmera.

RAÍZA: Deixa eu ver isso aqui!

Raíza para e fita o olhar de repente.
NUM EFEITO DIGITAL, CAM INVADE SEUS OLHOS.

= = VISÃO DE RAÍZA = =

Close na manchete da Novo Dia: “Colunista do Jornal prestes a morrer, e ninguém fez nada”.

Erom encara o jornal, friamente.

EROM: O que seria do mundo sem polêmicas?

Risada maléfica.

= = FIM DA VISÃO = =

Raíza encara Hans, aturdida. Ele arranca a câmera e sai dali. Dcr observa a aflição da amiga.

FADE OUT

FIM DO PRIMEIRO ATO


SEGUNDO ATO


FADE IN

CENA 8 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / MANHÃ]

Raíza coloca a câmera sobre a mesa, frustrada. Dcr, Lila e Roger seguem atrás.

LILA: Vocês estão achando que o Hans podia ter salvado o Beto? 

ROGER: Os dois são parceiros há anos. Mesmo sendo o Hans do jeito que é, ele não faria nada contra o Beto.

RAÍZA: Uma testemunha disse que ele tava esperando o metrô quando foi empurrado por uma mulher de óculos e sobretudo marrom. Ela alega que não teria como reconhecer a pessoa.

DCR: Por outro lado, existe a versão de que ele saltou de um vagão, perdeu o controle e caiu nos trilhos. Como é possível que, mesmo com pouca gente naquele horário, ninguém tenha visto o que de fato aconteceu?

ROGER: Isso tá me cheirando a crime mesmo.

Alexandre se aproxima do grupo abraçando Dcr e Raíza.

ALEXANDRE: Crime é o que vai ocorrer hoje, sob forma da lei. O governador fará sua nova vítima. Cuidado com o que vão perguntar e escrever.

LILA: Falta de liberdade de expressão em plena era da internet.

Alexandre dá de ombros.

CENA 9 PRAÇA DA REPÚBLICA [EXT. / MANHÃ]

Forte movimento, vários curiosos cercam a praça impossibilitando a vista. Dcr, Raíza e Roger tentam furar o bloqueio, há muito burburinho por ali.

Quando finalmente chegam na frente, se mostram chocados ao olhar para o alto.

ROGER: Eu ainda me choco com isso.

RAÍZA: Esse povo não conhece a história. Estamos vivendo uma inquisição em pleno século 21.

DCR: E já sabemos como vai terminar.

À frente deles, há um cadafalso e uma corda dependurada. Dois militares trazem um sujeito (22 anos, branco, magro, estatura média e usando roupas comuns e sujas) e sobem ao cadafalso. O sujeito sobe num pequeno banco, aflito, e os militares colocam a corda em seu pescoço.

Em seguida, vem Cipriano trajando seu sobretudo preto, munido de um microfone e sendo APLAUDIDO pelo povo. Com ele, outros políticos o acompanham. Cipriano faz um gesto para pararem os aplausos.

CIPRIANO: Muito bom dia a todos! É com muita honra que eu, Cipriano Zacarta, governador deste estado, munido dos poderes que me foram dados, obedeço a voz do povo.

ALTERNA para a reação de Dcr, Raíza e Roger, impressionados.

CIPRIANO: Há muito tempo, a violência vem acometendo o país, se misturando entre os povos decentes que querem protestar a favor de uma reforma, de uma lei que os amparem. 

CLOSES ALTERNADOS entre várias pessoas, atentas.

CIPRIANO (cont.): Eles (aponta para o condenado) querem calar a voz de todos vocês. Querem desvalorizar seus protestos, estão sob o domínio do demônio. Portanto, é justo que paguem, porque o demônio só domina as almas fracas de fé.

APLAUSOS.

Cipriano se dirige ao condenado.

CIPRIANO: José Silva, qual foi o seu crime?

José encara a plateia, ávida pela resposta.

JOSÉ: Eu matei um policial.

CIPRIANO: E como foi que você o matou?

JOSÉ (tenso): Eu o enforquei.

CIPRIANO: E por qual motivo?

JOSÉ: Eu só queria causar tumulto para que o protesto perdesse seu valor e o antigo governador continuasse no poder. 

CIPRIANO: Foi encontrado em sua bolsa, além da arma, um livro de magia negra. Considerando que você não estava drogado no ato do crime, suponho que estava sob o domínio do demônio. Isso procede?

José olha para a plateia, quase fazendo a negativa.
Raíza o encara, tensa.

CIPRIANO: E então? Você invocou o demônio para atuar na violência da cidade?

JOSÉ: Sim.

Muito burburinho. Cipriano estende os braços ao povo.

CIPRIANO: É esse sujeito que você, cidadão de bem, quer que volte para o meio de vós?

[POVO: NÃO!]

CIPRIANO: Na minha gestão, é olho por olho, dente por dente. Seja feita a vontade de Deus.

Um militar se prepara para retirar o banco.

JOSÉ: Não, por favor! NÃO!

ÂNGULO BAIXO - Enquanto Cipriano encara o povo, logo atrás AS PERNAS de José ficam suspensas e se contorcendo.

Roger desvia o olhar, chocado.

CORTA PARA

Cipriano andando em meio a seguranças, muita gente em volta ovacionando-o. A imprensa em cima tentando uma entrevista.

REPÓRTER #1: Senhor Governador, acha que o povo vai poder respirar mais aliviado com as suas leis?

REPÓRTER #2: Quando será o próximo julgamento?

RAÍZA (O.S): Quem mais julga, é quem merece ser julgado também.

Cipriano para, os seguranças e políticos tentam levá-lo dali, mas ele resiste. 

CIPRIANO: Quem disse isso?

Ele olha para trás e encara Raíza, ao lado de Dcr (em posse de um gravador) e Roger.

RAÍZA: O senhor.

Os dois se fitam por instantes.

CIPRIANO: Meu papel não é julgar os cidadãos de bem, mas sim, os que os atacam. (provoca) Se aquele policial fosse o seu pai, onde gostaria que o seu assassino estivesse?

Raíza o olha com ódio, mas é contida por Dcr.

DCR: Preso. Privar a liberdade como costuma ser em nosso tempo, e não no tempo da Inquisição.

CIPRIANO: A sua comparação me ofende, caro jovem. (se aproxima, mãos para trás) Mas eu sou compreensivo (murmura), porque do contrário, você estaria no cadafalso também. 

Muito clima. Cipriano dá as costas e some no meio da multidão.
Raíza é abraçada por Dcr, enquanto a CAM se distancia.

Vista aérea da cidade/

CENA 10 PRISÃO [EXT. / MANHÃ]

Portões de ferro se abrem.
Pernas masculinas com calça preta social, saem do lugar.

Marco olha para ambos os lados, de barba feita, cabelos um pouco maiores e até um tanto alinhados. Abre um sorriso de canto a canto.

Raíza o abraça fortemente e, após, se encaram admirados.

RAÍZA: Parece mais bonito do que antes.

MARCO: Perco a liberdade, mas não perco a elegância, my dear.

Ambos sorriem. OUVIMOS buzina.

Dcr está ao volante de seu carro preto buzinando.

CORTA PARA

CENA 11 CARRO [INT. / MANHÃ]

Dcr dirige, enquanto Raíza e Marco estão no banco de trás.

MARCO: Meu advogado disse que saí antes por bom comportamento. Fiquei surpreso que vocês souberam (Dcr olha para Raíza pelo retrovisor). Pedi pro meu advogado manter suspense. (acaricia o rosto de Raíza) Queria fazer surpresa...

Dcr pigarreia para disfarçar.

DCR: Agora somos a imprensa, meu querido (Marco dá um sorrisinho pelo bordão dele próprio). Sinto muito, mas você foi vítima de investigação.

Risos.

MARCO: Fiquei sabendo do caos na cidade. É sério que estamos vivendo uma inquisição em pleno século 21?

RAÍZA: É, mas o Cipriano usou a revolta do povo pela violência na cidade para provocar as mortes. Agora ele convence que todo esse mal que assola o país é por culpa de quem pratica a magia negra.

MARCO: O que ele está pretendendo com isso? Só falta a igreja estar envolvida.

RAÍZA: Isso não seria espantoso.

Raíza, sagaz. Marco, preocupado.

CENA 12 COFFEE BREAK [INT. / MANHÃ]

Uma boa movimentação, lan-house e balcão cheio, garçonetes indo até a mesa.

Marco, Raíza e Dcr diante de Valentina (sem o franjão, com os cabelos pretos e mechas longas). Marco abraça Valentina, fazendo ar saudosista.

MARCO: Saudades, querida. (sarcasmo) Quase não te reconheci sem a franja.

VALENTINA: E eu to surpresa que te reconheço. Você pode perder a dignidade, mas a vaidade...

Marco ri e vai observando o local.

MARCO: Fez bom uso do dinheiro que te dei. Pensei que fosse abandonar isso aqui às traças.

VALENTINA (irônica): E perder a chance de ganhar um elogio?

DCR: Realmente a Valentina cuidou muito bem disso aqui. Tem até shows noturnos às quartas-feiras.

Valentina acaricia as costas de Dcr, que disfarça o incômodo.

VALENTINA: Adoro quando reconhecem o meu trabalho (Raíza acha graça). Eu sei cuidar de muitas outras coisas, já te falei isso né?

Dcr se afasta, sorrindo.

DCR: Um milhão de vezes.

Marco se volta com um celular, espantado.

MARCO: Gente, o que é isso?! O Hans está cada vez pior.

Dcr pega o celular. Raíza e Valentina veem junto.

MARCO: Não vejam isso, minhas queridas. É traumatizante.

VALENTINA: Marco, a Raíza quase casou contigo e foi enterrada viva, né?

O visor mostra o site do Jornal Novo Dia estampando a imagem de Beto ainda vivo, sobre os trilhos, seguido da manchete: “Colunista do Jornal prestes a morrer, e ninguém fez nada”.

Na foto abaixo, a imagem do corpo de Beto ensanguentado, com o tronco amassado.

DCR (cara de asco): Isso é horrível! Dessa vez ele pegou pesado.

Dcr devolve o celular e vai saindo.

RAÍZA: Peraí, você vai aonde?

DCR: Tentar entender uma coisa.

Dcr some da tela. Marco, Raíza e Valentina curiosos.

CENA 13 REDAÇÃO NOVO DIA [EXT. / MANHÃ]

Hans está chegando à redação, comendo uma barra de cereal quando é 

SURPREENDIDO 

por Dcr, empurrando-o contra a parede.

DCR: Você passou dos limites!

HANS: Ei! Sabia que seu ato pode ser considerado violento pela polícia?

Dcr mostra o celular com a imagem do corpo de Beto.

DCR: E isso aqui é o que pra você? (Baque em Hans) Eu não devia me espantar, mas o Beto era o seu colega, poxa!

HANS (sincero): Eu...Eu não sei porque eu tirei essa foto/

DCR: Porque você é um monstro. O que você fez foi quase como uma traição.

No olhar de Hans que muda de expressão, tornando-se mais sombrio.

HANS: Traição? Como você é hipócrita, Danilo. Se acha com muita moral, não é?

DCR: O seu jornal é podre. Qualquer um tem mais moral do que você.

HANS: Porque o jornal mostra a dura realidade? Porque ela não mente? Muito cuidado com as suas palavras, ex-herói. O governo pode achar que você está possuído e te dar um final...Como nos velhos tempos.

Dcr se assusta, o encara desconfiado por aquelas palavras, aquele tom, serem de EROM GARCIA.
Ao lado de Hans, lá está ele, o espírito de EROM, com muito ódio no olhar, influenciando Hans.

A tela se fecha

FIM DO SEGUNDO ATO


TERCEIRO ATO


FADE IN

Fachada do Palácio Guanabara /

CENA 14 GABINETE – PALÁCIO GUANABARA [INT. / TARDE]

A porta de cor ocre é aberta, Cipriano entra e bate a porta. Quando vai ajeitar as abotoaduras, dá de cara com
RAÍZA
Sentada logo adiante numa cadeira de estofado igualmente ocre.

(O gabinete tem chão de taco, uma mesa mogno escura com tampa de vidro, ao lado da porta, cadeiras de estofado preto e outras na cor ocre; Janelas cobertas por cortinas vermelhas; Paredes com belíssimos quadros).

Raíza está sentada num estofado.

RAÍZA: Boa tarde, senhor governador.

CIPRIANO: Suponho que a senhorita não se anunciou.

RAÍZA (finge não ouvir): Gostei daqui. Bem rico...Bem a cara de quem sempre fez tudo pra chegar ao topo.

Cipriano se aproxima e senta-se de frente pra ela.

CIPRIANO: Devo tudo a você, Raíza (Raíza esboça sarcasmo / ele abre os braços). Esse luxo, esse poder todo foi você quem me deu. Você também poderia estar aqui do meu lado, mas preferiu me repelir como se eu fosse um inseto.

RAÍZA: Aquele protesto em 2012 foi organizado pelo Erom, né? Tudo uma tramoia pra te trazer onde você está.

CIPRIANO: Porque é difícil admitir que você mesma me ajudou? Você e o Danilo. Achou que se matando, o mundo se livraria de mim? Suicídio nunca foi um ato aceitável de defesa, minha cara.

RAÍZA: Não é suicídio quando toda a humanidade está em jogo; É sacrifício (Cipriano ri). A Ari morreu para evitar exatamente o que tá acontecendo agora.

CIPRIANO: A Ari não se jogou do prédio. E você não pensou na humanidade quando permitiu ser morta. Você o fez por desgosto (Raíza engole a seco), quando soube que o seu pai podia ter evitado tudo isso/

Raíza se levanta, com raiva.

RAÍZA: Meu pai não teve culpa de nada!

CIPRIANO (por cima): A que tipo de sacrifício você estaria disposta realmente a fazer? Porque pra me tirar do poder e me impedir de terminar o que comecei em Londres, você vai precisar de muito esforço. (olho no olho) Quem sabe na próxima reencarnação?

Cipriano sorri debochado, levanta-se e caminha até a mesa.

Raíza o encara de soslaio, temerosa.

CORTA PARA

Fachada da Redação Carioca News/

CENA 15 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / TARDE]

Ouvimos muita conversaria, gente trabalhando e outras tomando café, de papo.

Dcr digita algo em seu computador, nervoso, para algumas vezes, apoia os cotovelos sobre a mesa e passa as mãos no rosto, desalentado.

Roger chega ali, com um copo de cappuccino.

ROGER: O que houve, Nilo? Isso tudo é pelo seu encontro com o Hans? Olha, da próxima vez você me chama, tá? É muita energia negativa pra você carregar sozinho. Muito embora, você seja você e/

DCR (por cima): Você acredita que alguém que lida com magia negra, que tem sociedade secreta, se mataria pra se livrar da prisão?

ROGER: Tá falando daquele Erom? (Roger estende o braço na cara de Dcr) Fico até arrepiado quando falo esse nome, veja (ele retira o braço / murmura). Às vezes sinto a sombra dele pairando sobre nós.

Dcr olhando pra ele, esperando a resposta.

ROGER: Mas enfim, achei a morte estranha e estúpida. Se eu lido com coisa ruim, é óbvio que o meu primeiro interesse é não morrer, né? Essas pessoas podem ficar invisíveis, até se transformarem no que quiserem.

DCR: (pensativo) O Beto conhecia bem o Hans, né?

ROGER: Em outros tempos eu diria que ele era o único amigo do Hans, mas depois dessa matéria...Mas por que esse interesse agora?

DCR: Eu acho que a morte do Beto me deixou nostálgico...Deve ser isso.

Em Dcr, pensativo.

CENA 16 RUA DA CIDADE [TARDE]

João e Ana caminham abraçados pela calçada.

JOÃO: Quer dizer que você veio me buscar na minha tarde de folga?

Os dois se beijam.

ANA: Sei que não deve ser fácil ser secretário na HDM, mas nunca que eu ia te deixar sozinho naquele apartamento, ainda mais hoje.

JOÃO: Às vezes não dá pra acreditar que se passaram dois anos. Tio Bruno não merecia o fim que teve.

ANA: Você não tem mais falado com o seu pai, né?

JOÃO: Por mim, nunca mais. Só de pensar que ele tá livre, se fazendo de arrependido, e ainda trabalhando numa igreja...Me dá uma raiva.

ANA: Dizem que nesses seis meses em que ele tá trabalhando lá, ele tem se comportado, o tempo todo orando.

JOÃO: (debocha) Pago pra ver. Deve ser mais um a se esconder por trás da bíblia. Basta dizer que foi salvo por Jesus e todo o seu pecado se apaga. E quem morreu que se dane.

ANA: É. Melhor você não pagar pra ver, senão é capaz do pastor dizer que você tá com o diabo no corpo e te jogar no cadafalso.

JOÃO: (ri) Já pensou?

ANA: Já (aperta sua orelha), e é melhor o moço não me aprontar nada, viu?

Os dois riem e somem da tela.

Vista aérea de uma igreja.

CLOSE no letreiro: Igreja Evangélica Mão Divina.

PASTOR (O.S): Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá”.

CENA 17 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / TARDE]

No altar, um homem negro, de terno cinza, lê a bíblia, sozinho. TOSSE algumas vezes, fecha a bíblia, chateado.

(A igreja é bem grande, decorada de amarelo e branco, com uma cortina vermelha atrás do púlpito. Várias cadeiras ao lado de um corredor que leva até o altar. O segundo andar tem uma área aberta, como uma varanda, próxima de um candelabro).

Logo atrás, surge Josué (barbudo), de terno, oferecendo um copo d´água e um comprimido.

JOSUÉ: Pastor Everton, o senhor não tomou seu remédio hoje.

EVERTON: Uma das coisas que eu odeio em você é a sua excelente memória (ambos riem / Everton pega o copo). Obrigado.

O pastor bebe, faz cara feia. Josué observa, preocupado.

JOSUÉ: Não é melhor chamar alguém pra te substituir hoje? Do jeito que o povo tá é capaz de achar que o pastor tá com o demônio no corpo por não conseguir fazer o culto.

O pastor ri.

EVERTON: Você tem uma mente fértil, irmão Josué. Não errei quando te aceitei na minha igreja. És um homem convertido, salvo por Jesus.

JOSUÉ: Graças a Deus! Se não fosse por suas visitas ao Centro Psiquiátrico, não sei o que seria de mim. Mas tome sua água e descanse um pouco. Ainda temos algumas horas até o culto.

O pastor bebe sob o olhar atento de Josué.

CENA 18 RUA DA CIDADE [TARDE]

Raíza atravessa a rua com a bolsa preta a tiracolo. Apressada, caminha pela calçada, quando é interceptada por Sam (cabelos mais curtos; usando batom vermelho, mas ainda com as roupas simples, como regata branca e calça jeans).

SAM: Oi, Raíza, como foi lá com o sinistro Cipriano? Ninguém te viu, né?

RAÍZA: É como eu imaginava, Sam. Ele quer a cabeça do presidente.

Em Sam, assustada.

CORTE DESCONTÍNUO EM

Dcr, preocupado.

CENA 19 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / TARDE]

Dcr está apoiado na mesa, olhos arregalados. Lila, Roger, Sam e Raíza diante dele.

DCR: Ele tá pretendendo isso?

RAÍZA: Se ele chegar à presidência, será o fim do país.

LILA: Peraí, me explica uma coisa: esse Cipriano te recebeu e falou que vai matar o presidente assim, de graça?

Raíza, Sam e Dcr se entreolham.

LILA (cont.): Ele deve tá muito seguro pra revelar algo tão audaz, não é?

RAÍZA: Ahn...Ele não disse que vai matar o presidente, não com essas palavras, claro. Ele apenas disse que ser governador é muito pouco pra ele.

ROGER: Ele namora a filha do presidente, gente. Claro que pretende ser o sucessor.

LILA (confusa): Mas como? Governador não consta na linha sucessória da presidência!

DCR: Mas quem consta pode muito bem estar de conluio com o Cipriano. (Apreensão nos demais) Sabemos que o presidente da Câmara dos Deputados é muito amigo dele, e que alguns deputados federais o apoiam nessa lei de “olho por olho, dente por dente”. Com tanta influência, não será espantoso se genro de presidente puder sucedê-lo.

Roger está pensativo.

SAM: Roger, tudo bem?

Roger desperta de seus pensamentos, confuso.

ROGER: É que eu me lembrei de uma coisa. Ontem, quando o governador fez um discurso sobre o que faria hoje, eu me esbarrei com o Beto.

= = FLASHBACK = =

PALÁCIO GUANABARA [EXT. / TARDE]

Forte esquema de segurança em cima de Cipriano, muita gente por ali, além da imprensa.

Beto vem apressado com um tablet, quando dá um ESBARRÃO em Roger, com câmera e gravador nas mãos.

ROGER: Calma aí, amigo!

BETO: Desculpe (T). Ah, Roger.

Os dois se cumprimentam.

ROGER: Parece que amanhã é dia de alguém morrer, né?

BETO: Só se for da alta cúpula...

ROGER: Como? Não entendi.

BETO: Olha, cara, se o Hans me pega de papo contigo, ele me rebaixa pra lavar banheiro. (ele vai saindo de costas, animado) Mas grava isso hen: amanhã o governador não perde por esperar.

Roger ali, sem entender.

Corte Descontínuo em Roger, aturdido.

= = FIM DO FLASHBACK = =

LILA: Ele descobriu algum podre do Cipriano?

RAÍZA: Deve ter pego alguma conversa comprometedora.

DCR (pensativo): Ele não sofreu um acidente...

Os demais atentos.

LILA: Como?

DCR: Foi queima de arquivo. Lembra que uma testemunha disse que ele foi empurrado por uma mulher de sobretudo marrom?

RAÍZA: Uma pena ter morrido, não acham? 

Ela encara Dcr, fazendo Lila e Roger o mesmo.

DCR: Vocês não estão querendo que eu/

LILA (por cima): E de quebra, você resgataria sua fama de herói!

Raíza sorri, esperta. Dcr, sem reação.

CORTA PARA

CENA 20 REDAÇÃO CARIOCA NEWS – DEPÓSITO [INT. / TARDE]

Lila acaba de fechar a porta. 

O depósito é grande, cheio de caixas, e dois armários cinza de duas portas.

Dcr se senta em uma cadeira, nervoso.

ROGER: Já sabe: você precisa salvar o Beto, enquanto a Raíza pega a tal mulher, ok?

SAM: Se eu puder fazer alguma coisa, me chamem na hora.

RAÍZA: Dcr, não se esqueça: se algo der errado, você pode sair como o vilão da história. 

DCR (tédio): Posso retroceder agora ou amanhã?

RAÍZA (brinca): Ok, senhor!

Dcr se concentra, fecha os olhos.

DCR: O Beto não podia ter morrido...Aquilo não podia ter acontecido...Não pode ter acontecido...

Dcr abre os olhos, frustrado, põe a mão na cabeça.

LILA: O que foi, Danilo? Tá passando mal?

DCR: Ultimamente ando com muita dor de cabeça.

RAÍZA: Forçar a mente pode ser muito perigoso, Dcr. 

DCR: Eu vou tentar de novo.

Roger salta diante dele, preocupado.

ROGER: Amigo, eu sei que você já me salvou assim e, eu seria muito egoísta se eu não pensasse no Beto, mas (segura suas pernas com afinco / desesperado) Por favor! Não se mate fazendo isso! Não podemos perder o herói!

Dcr, assustado, vê Lila agarrar Roger pelas costas e arrastá-lo dali. 

LILA: Não é hora pra dramas, Roger.

Roger fazendo o sofredor.

RAÍZA (para Dcr): Vai tentar de novo então?

Dcr faz que sim e prepara para se concentrar. Respira fundo.

DCR: O Beto não podia ter morrido...Nada daquilo aconteceu...Isso não pode estar acontecendo...

CAM se aproxima rapidamente de seu rosto, quando TODAS as cenas anteriores retrocedem rápido, 

até que um FEIXE DE LUZ cobre a tela.

A tela se fecha

FIM DO TERCEIRO ATO


QUARTO ATO


FADE IN

CENA 21 CEMITÉRIO [INT. / MANHÃ]

No jazigo, a seguinte inscrição:

Bruno M. Ferraz
04/06/1968 – 31/10/2012

“Nunca esqueceremos de você”

Raíza observa a lápide.

RAÍZA: Hoje faz dois anos. (T) O tempo não cura, como dizem.

Dcr vem por trás e a abraça. Raíza olha para ele, sentida.

Corte descontínuo nos dois abraçados, indo embora.

DCR: Não há cura quando não há justiça. Como a Justiça determina que um louco tá recuperado?

RAÍZA: O Josué não se recuperou, porque ele nunca esteve louco. Ele agora trabalha numa igreja, não dou um mês pra ele se tornar querido só por pregar a palavra de Deus.

DCR: No meio disso tudo, ainda temos que agradecer que a polícia entendeu o nosso caso. Forjar a própria morte dá cadeia. Você acredita que até hoje o Marco me acusa de não ter obedecido a vontade dele? 

RAÍZA: E tudo em vão. Cipriano saiu por cima, é visto como herói da pátria por ter pagado todo o estrago que o incêndio da casa dele causou e ajudado a prender os manifestantes. 

DCR: As pessoas quase não se lembram de mim, mesmo com as tentativas de Lila de me fazer durar na mídia como aquele herói...(pensa / lembra) Herói!

RAÍZA: O que foi?

Dcr a puxa para correr.

DCR: Te explico no caminho, vem!

Takes da cidade /

CENA 22 METRÔ [INT. / MANHÃ]

Um metrô para, portas se abrem e muita gente desce. Dentre eles está Beto, ajeitando sua bolsa vermelha. OUVIMOS um telefone tocar. Beto para e saca de dentro do bolso da calça seu celular.

BETO: Fala, Hans (T). To chegando, o que você quer?

Muito suspense em seu rosto.
Até que ele é

EMPURRADO

Beto se desequilibra, e quando cai nos trilhos, 

DCR SURGE DO NADA

e agarra sua mão, mas acaba caindo nos trilhos também.

Muita confusão, pessoas assustadas.

Raíza CRUZA o corredor e corre atrás da tal mulher de sobretudo marrom, óculos escuros e peruca ruiva.

O metrô se aproximando, Dcr suspende Beto para a plataforma com muito custo.
O povo assiste, apreensivo.
Beto se salva, 

O metrô em cima.

BETO: Rápido, cara!

Dcr vai pra trás tomar impulso, corre e salta para a plataforma. 

O METRÔ ACABA DE PASSAR,

Dcr rola pelo chão, TODOS aplaudem.
Beto levanta Dcr e os dois se abraçam.
Roger filma tudo, animado.

ATRÁS DE UMA PILASTRA

Hans observa com ódio. Ao seu lado, Erom, com a mesma expressão.

CORTA PARA

CENA 23 METRÔ [EXT. / MANHÃ]

Beto, Dcr e Roger chegando na calçada.

BETO: Cara, se não fosse você, eu poderia estar morto.

ROGER: E estampando o seu próprio jornal...

Beto o olha confuso. Raíza chega ali, esbaforida.

RAÍZA: Que bom que deu tudo certo, gente.

ROGER: E a bandida?

RAÍZA: Conseguiu escapar. Mas, sabe...Aquele jeito de correr não me era estranho...

BETO (perplexo): Quem ia querer me matar?

No olhar de cada um.

CORTA PARA

CENA 24 TOILLETE [INT. / MANHÃ]

Da cintura para baixo, a tal mulher de sobretudo entra num corredor. Percebe-se que ela olha para trás, se esgueira.

A MÃO MASCULINA a pega pelo braço e puxa para dentro do

BANHEIRO

HANS: Essa foi por pouco. Mas o que o herói metido a Clark Kent foi fazer ali, me diz? Parece que essa gente é vidente.

Em clima de suspense, a tal mulher retira a peruca ruiva, revelando cabelos pretos, e os óculos. É RAFAELA.

RAFAELA: Talvez o problema não seja exatamente ele...

Em seu olhar sombrio e desconfiado.

A tela se fecha

FADE IN

CENA 25 APTº 3011 [INT. / TARDE]

Dcr, Raíza, Roger, Sam, Lila e Beto almoçam pizza de calabresa ao redor de uma mesa.

LILA: O Hans foi a última pessoa a falar com o Gustavo?

BETO: Ele nem queria. Teve medo da polícia pegar e achar que eram cúmplices.

RAÍZA: E depois? Quando o Hans voltou pra redação?

BETO: Parecia outra pessoa. Primeiro ele disse que desistiu de se encontrar com o Erom (faz a dúvida), que Erom? Aí, depois, ele falou que era chegada de novos tempos. Querem a verdade? Às vezes eu acho que ele andou surtando. Ora me trata como antes; ora como se ele fosse alguma autoridade.

Os demais se entreolham.

DCR: Bom, ahn...Quer dizer que você gravou a conversa entre o presidente da câmara Walter Cury e o Cipriano? Existe uma conspiração contra o presidente mesmo?

BETO: Existir, existe, mas meu celular quebrou naquela queda (os demais suspiram, chateados), não posso provar nada.

DCR: Você sabe o que acontece se ele chegar à presidência, não é?

RAÍZA: Hoje ele matou o tal José, amanhã pode ser qualquer um que atravessar o caminho dele.

BETO: Eu ouvi o governador dizer que todos que forem vistos cometendo qualquer ato de violência ou até mesmo um ato de extremo risco, terá que se explicar às autoridades. (olha Dcr por baixo) Já sabe o que vai dizer pra se explicar, Danilo?

Dcr olha a todos, sem entender.

DCR: Como assim?

BETO: Você salvou a minha vida, quase morreu pra me salvar.

SAM: Ele foi um herói. Fez o que ninguém ali foi capaz de fazer.

BETO: E por que você acha que ninguém se moveu? Porque agora, salvar alguém pode ser considerado um crime, uma tentativa de suicídio camuflada pelo gesto heroico.

Surpresa em todos.

LILA: Eu sabia dessa lei absurda, mas não que era contra as boas pessoas.

BETO: Parece que ele não curte precaver, né? Os heróis viraram demônios na cartilha dele.

Dcr, Raíza e Sam se entreolham, preocupados.

Vista aérea da cidade /

CENA 26 COFFEE BREAK - ESCRITÓRIO [INT. / TARDE]

Marco e Raíza se beijando, encostados à mesa.

MARCO: É clichê falar que eu tava esperando por isso há anos?

RAÍZA: Todo mundo nasce e morre. Não existe nada mais clichê do que isso.

MARCO (admirado / metido): Hmm, que original. Não sabia que eu era tão inspirador.

Risos.

Raíza se afasta, meio tensa.

MARCO: Você parece um pouco distante. O que houve?

RAÍZA: É o Dcr. Agora que ele salvou a vida do Beto, precisa fazer um sacrifício para não ser condenado.

MARCO: De que tipo?

RAÍZA: Ele tem que frequentar uma igreja evangélica e posar de bom cristão. É a inquisição no século 21.

Marco se aproxima e acaricia seus cabelos.

MARCO: Lamento ele passar por esse fardo. No fim das contas, o meu jugo era suave, e o meu fardo leve.

RAÍZA: Essa frase é de Jesus.

MARCO: (fazendo graça) Eu já ia mencionar os créditos. Mas por acaso o Danilo tem outra religião?

RAÍZA: Não, mas é que pra não ficar longe do trabalho e de casa, só existe uma igreja evangélica que ele pode frequentar.

Em Marco, curioso.

FIM DO QUARTO ATO


ATO FINAL


Vista aérea da cidade /

JOSUÉ (O.S): “Porque, se os mortos não são ressuscitados, também Cristo não foi ressuscitado”. 

CENA 27 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]

O local está cheio, há fiéis sentados e outros em pé, todos bem arrumados. Adiante, no palco, para a nossa estranheza, está Josué (usando terno preto, calça social e gravata) segurando uma bíblia. Ao redor dele, dois homens engravatados de cada lado, um deles é o pastor Everton, nitidamente abatido.

JOSUÉ (cont.): “E, se Cristo não foi ressuscitado, é vã a vossa fé, e ainda estais nos vossos pecados”.

Josué olha para todos. 

Dcr, Raíza, Lila e Roger acabam de chegar e encaram o novo pastor. Nos olhares estagnados de Dcr e Raíza.

JOSUÉ (fitando os visitantes): Todos ressuscitarão, irmãos. Eu estive nas sombras, mas deixei que Ele (aponta para o alto) tocasse meu coração. Eu ressuscitei.

APLAUSOS

Dcr, Raíza, Lila e Roger se espantam com aquela adoração.

= = TOCANDO: Glory And Gore – Lorde = =

JOSUÉ: E todos ressuscitam, em algum lugar, para algum fim.

FUSÃO PARA

CENA 28 COFFEE BREAK [INT. / NOITE]

O local cheio, muita gente comendo e bebendo, enquanto um pequeno show no palco acontece. Não ouvimos o som, mas um cara toca violão, enquanto canta.

JOSUÉ (O.S): Há quem ressuscite para mudar de vida.

Marco e Valentina assistem, animados.

FUSÃO PARA

CENA 29 APTº DESCONHECIDO [INT. / NOITE]

Close nos pés masculinos sobre uma mesa. Um jornal com a manchete: “Mais um protestante é morto no cadafalso” cobre o rosto de alguém, sentado na cadeira. 

JOSUÉ (O.S): Alguns ressuscitam sob uma nova forma para não serem reconhecidos...

O jornal é retirado e Hans se mostra satisfeito. Ao seu lado, o espírito de Erom sorri.

FUSÃO PARA

CENA 30 APTº DESCONHECIDO [INT. / NOITE]

Mãos femininas manuseiam várias fotos.

JOSUÉ (O.S): Outros, para fortalecer o mal que já o dominava.

Dentre as fotos, está a de Dcr e Raíza (mais jovens) que a mão pega cuidadosamente.

RAFAELA fita os dois seriamente.

FUSÃO PARA

CENA 31 QUARTO – PALÁCIO GUANABARA [INT. / TARDE]

CAM se aproxima de uma janela aberta, por onde entra o vento.

JOSUÉ (O.S): E há quem ressurge das cinzas quando deveria estar morto.

Cipriano chega na janela, olhar frio, e dá um sorriso arrogante. Em seguida, fecha a janela.

CORTA PARA

CENA 32 IGREJA EVANGÉLICA MÃO DIVINA [INT. / NOITE]

Josué continua propagando a bíblia.

JOSUÉ: "Não fiquem admirados com isto; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão...(encara alguém fora da tela) para serem condenados”.

Em Dcr e Raíza, segurando o ódio.

A tela se fecha

A MÚSICA TERMINA NOS CRÉDITOS

FIM DO EPISÓDIO



ESTRELANDO:

MARIA FLOR…...........................................Raíza 

MICHAEL ROSEMBAUM......................................Cael 

PIERRE KIWITT.........................................Marco

AARON ASHMORE....................................Dcr/Danilo

FERNANDA VASCONCELLOS...............................Rafaela

ALINNE MORAES.....................................Valentina

CAIO BLAT......................................João Batista

CACO CIOCLER..........................................Josué

ILDI SILVA.............................................Lila

FELIPE ABIB...........................................Roger

MURILO ROSA............................................Hans

THIAGO RODRIGUES...................................Cipriano



CONVIDADO ESPECIAL

xxxxxxxxxxxxxx...................................José Silva



ELENCO RECORRENTE

ANDRÉ ARTECHE...........................................Beto

BIANCA COMPARATO.........................................Sam

CECÍLIA DASSI............................................Ana

GENÉZIO DE BARROS..................................Alexandre

LUCCI FERREIRA..........................................Erom

SÉRGIO MENEZES................................Pastor Everton




Essa obra não possui nenhum vínculo/contrato com os atores

citados acima.


SOUNDTRACK

GLORY AND GORE – Lorde

Instrumental Final Revenge - iZLER


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