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PRIMEIRO ATO
FLASH-FORWARD
CENA 1 DELEGACIA [EXT. / NOITE]
Há
um aglomerado de pessoas, jornalistas, e curiosos tiram fotos no
momento em que policiais levam alguém que não conseguimos ver de
imediato.
Hans está com a sua câmera a postos e muito animado.
HANS: É o seu fim, Lila Machado.
Os policiais pedem passagem e finalmente vemos Dcr, algemado, vários flashes sobre ele.
CORTE CASADO
CENA 2 CARIOCA NEWS [INT. / NOITE]
Na mesma foto de Dcr estampada na internet sob o seguinte título: “Herói de Lila Machado é uma farsa”.
Lila vê a imagem do site da Novo Dia, inconformada.
LILA: Cê não podia ter feito isso comigo.
FADE TO BLACK
FIM DO FLASH-FORWARD
FADE IN
CENA 3 COLÉGIO FRANÇA – PÁTIO [EXT. / MANHÃ]
Legenda: Algumas horas antes
A cena abre em várias pessoas sentadas ouvindo um discurso de Josué, que está ao lado de Cipriano, e outros funcionários do colégio. Diante desses há uma mesa coberta por uma toalha branca com um vaso de flor.
JOSUÉ: Sinto-me muito honrado com a posição que passo a ocupar como Diretor desta escola. É um privilégio fazer parte do conjunto de pessoas que já ocuparam esse cargo, e acredito que não será tarefa fácil manter o padrão de excelência dessa gestão. Tenho absoluta convicção que poderei contar com a ajuda de todos os professores, todos os funcionários e dos representantes do quadro discente...
Enquanto ele discursa, sem que possamos escutar, CAM busca Ângela, Bruno e João sentados um ao lado do outro. Raíza senta em seguida, de óculos escuros, fazendo segredo a Ângela.
RAÍZA: A senhora deve estar muito feliz em livrar o Marco da cadeia, não é?
Ângela se mostra incomodada.
ÂNGELA: Não fiz nada pensando nele, Raíza. Mas você ajudou bastante; depois que você quase matou o João na ferrovia, ficou claro para o juiz que você forjou a gravação e pressionou o seu primo a confessar a participação no incêndio da L.A House.
RAÍZA: Eu tava bem lúcida quando fiz a gravação. A senhora tem ideia de que a sua atitude pode me prejudicar no futuro? Que ninguém nunca vai acreditar em mim?
ÂNGELA: Eu realmente lamento, Raíza, mas como tia de João eu precisava ajudá-lo. Ele parecia bem arrependido.
Raíza a encara, séria.
RAÍZA: Eu passei três meses presa num hospício por querer provar que João não tava paralítico e que podia muito bem ter matado a Ari. Eu não posso ter perdido três meses em vão.
ÂNGELA: (desconfiada) Cê não tá pretendendo alguma coisa, não né?
RAÍZA: (sorriso de deboche) A gente sempre pretende alguma coisa quando ganha a liberdade.
ÂNGELA: Você devia se preocupar com a Joana a quem você quase prejudicou quando resolveu incendiar o João. Ela ainda está com a corda no pescoço, já que você ainda não cumpriu o acordo do Marco. Ou você acha que se ele for preso antes de se casar contigo ele vai deixar a Joana impune?
Raíza faz
que vai responder, quando OUVIMOS uma confusão.
Uma mulher
morena se levanta, e descontrolada, segura os cabelos como se fosse
arrancá-los.
MULHER #1: ISSO TUDO É UMA MENTIRA! SEUS MISERÁVEIS!
Baque em Josué e Cipriano.
A mulher #1 sai empurrando as pessoas, desequilibrada.
MULHER #1: NINGUÉM TERÁ TEMPO PRA NADA! O HOMEM DE PRETO VAI ACABAR COM TUDO!
Um
funcionário se aproxima e tenta tirá-la dali,
mas a mulher #1 lhe dá um empurrão que o joga longe.
TODOS se
assustam.
JOÃO: Isso é coisa da Raíza pra acabar com a nomeação do meu tio, só pode.
BRUNO: Para com isso! Não tá vendo que essa mulher tá louca?
JOÃO: Então?
MULHER #1: (apontando o dedo ao léu) O homem de preto veio pra trazer o apocalipse, é, o apocalipse...(a mulher roda diante das pessoas) Quem sobreviver, vai virar escravo do diabo...TÃO ME OUVINDO?
Josué perde a paciência e segue em direção à mulher, segurando seu braço.
JOSUÉ: A senhora, por favor, queira se retirar? A senhora está assustando as pessoas.
A mulher #1 começa a rir, demente; Josué sacode seu braço, nervoso.
JOSUÉ: A senhora me ouviu?
Josué a solta e a mulher #1 cai no meio do povo.
Raíza se
esgueira por entre eles que abrem passagem para ela.
A mulher
#1, totalmente absorta, segura na mão de Raíza.
MULHER #1: É preciso o arrependimento, é preciso o perdão...O homem de preto não iria aguentar...
E a mulher #1 balança a cabeça freneticamente, todos se afastam, a mulher sofre convulsão.
CIPRIANO: Ela precisa de ajuda urgente. Vou chamar a ambulância.
CORTA RÁPIDO
CENA 4 HOSPITAL CENTRAL [INT. / MANHÃ]
A porta é aberta abruptamente com os enfermeiros carregando a mulher #1 amarrada na maca como uma louca.
CORTA PARA O
QUARTO
Onde a mulher é colocada sobre a cama, em delírio.
MULHER #1: (sorrindo) Eu mereço...O desejo proibido...Eu mereço...(se contorce) Eu vou morrer! Eu vou morrer!
Ela se contorce mais, seus olhos mexem descontroladamente, médicos tentam ajudar, mas não tem jeito. Ela morre de olhos arregalados, boca aberta, um horror de cena.
A tela se fecha num baque
PROJETO NEGRO
SEGUNDO ATO
FADE IN
CENA 5 COLÉGIO FRANÇA – SECRETARIA [INT. / MANHÃ]
Josué entra batendo a porta e surtando de raiva.
JOSUÉ: DROGA! DROGA! INFERNO!
VOZ FEMININA (O.S): Frustrante, não?
Josué se assusta.
JOSUÉ: O que você tá fazendo aqui, sua ordinária?
Ângela se levanta com um sorriso vitorioso.
ÂNGELA: (irônica) Vim prestigiar o novo diretor do colégio. Pena que durou tão pouco, né?
Josué segura em seu braço com força.
JOSUÉ: Vai ficar de deboche, é? (Ângela ainda sorri) Eu quero ver esse deboche quando os seus dois filhos estiverem em perigo e a mamãezinha não puder fazer nada.
E Josué a solta, fazendo Ângela cair sentada e preocupada.
ÂNGELA: Você tá me ameaçando?
Josué anda com as mãos na cintura, nervoso.
JOSUÉ: Pergunta de novela, sempre com pergunta de novela, você não se cansa, não hen? Você me irrita com esse ar de atriz canastrona, sabia?
ÂNGELA: Eu espero que você esteja blefando, porque se não/
Josué a encarando, com as mãos na cintura.
JOSUÉ: Se não o quê? Hen? Você vai contar pra todo mundo que eu deixei o meu irmão morrer no meu lugar? Que a pobre Joana não pôde conviver com o João? Quem mais sabe dessa história? Você e sua imaginação torta, né?
ÂNGELA: (arrogante) Talvez mais gente saiba, Josué. Meu pai matou o seu irmão achando que ele não queria assumir o nosso filho. Imagine a repercussão: Novo Diretor do Colégio França deixou um irmão morrer e não assumiu a paternidade de seu filho, que tal?
Josué a pega à força pelo braço e a leva até a porta.
JOSUÉ: E que tal você dar um passeio lá fora? Sai!
ÂNGELA: Cê tá me machucando...
Josué abre a porta.
JOSUÉ: (nervoso) Sai! Sai! Sai! Sai! Sai!
Josué bate a porta bufando.
CORTA PARA
CENA 6 COLÉGIO FRANÇA [EXT. / MANHÃ]
Raíza, com um sorriso estremecido, desce rápido pelas escadas e Marco a aborda no fim da escadaria.
MARCO: (deboche) Como se sente voltando ao lugar de onde você saiu numa camisa de força?
Raíza fecha a cara e continua andando. Marco a pega pelo braço.
MARCO: (chateado) Eu estou falando com você.
Os dois muito próximos, Marco se afasta e ajeita o paletó.
RAÍZA: O que você quer?
MARCO: Quero me casar contigo o mais rápido possível. Já escolheu a data?
RAÍZA (debochada): Eu não sabia que o beijo de outro dia tinha lhe rendido uma gravidez, Marco.
Marco
morde os lábios, visivelmente perturbado por aquelas
palavras.
MARCO: Não sei de que beijo você
fala, porque eu/
Raíza mete o dedo na cara dele, com raiva.
RAÍZA: Cala essa boca, porque você não vai fazer isso de novo, não! (Marco, assustado) Se eu não quiser casar contigo, quem você vai querer prejudicar, hen?
MARCO: A Joana ainda pode cometer algum erro médico, ou você já se esqueceu que graças a mim a nossa querida amiga não foi parar atrás das grades?
RAÍZA: (desafia) E o que acontece se algo trágico acontecer na vida dela? (Marco faz que não entende) Se meu pai morre vítima de um “acidente”? Se todas as pessoas de quem eu gosto resolvem desaparecer da minha vida? O que acontece se eu resolver deixar você cumprir todas as suas ameaças, Marco?
Marco se mostra balançado.
RAÍZA: Nada, não é mesmo, meu caro? Você não vai ter pra quem me exibir.
E Raíza dá as costas. Marco em segundo plano.
MARCO: Daria muito trabalho sumir com todos eles. Você não vai querer me cansar desse jeito, não é?
Raíza se
volta em fúria.
RAÍZA: Então some você! Já
to ficando cheia da sua cara! Por que você não some, desaparece, se
desintegra deste universo?
Raíza o empurra e Marco quase cai na escada, sem reação.
CORTA PARA
CENA 7 COLÉGIO FRANÇA – SECRETARIA [INT. / MANHÃ]
Josué anda de um lado e de outro discutindo com Cipriano.
JOSUÉ: Quer dizer que aquela infeliz morreu? (t) Bem feito. Você não tinha um jeito de evitar essa confusão não?
CIPRIANO: Não sou vidente, Josué (Josué para, pensativo). Além do mais ninguém leva em consideração o que uma louca diz. Tenha certeza de que não será isso que vai manchar a sua reputação de diretor...
JOSUÉ: Isso teve o dedo da Raíza, né? Aposto como ela fez isso pra me sacanear. (olha para o teto) Meu Deus, por que ela não se suicidou naquele hospício, por quê?
A porta é aberta, Marco adentra nervoso e agarra Josué pelo colarinho.
MARCO: Seu desgraçado! Porque ela teve a mim!
Josué tenta se desvencilhar, debochado.
JOSUÉ: Deu pra ouvir atrás da porta, Marco? Cadê a sua elegância?
Marco o solta, enfurecido.
MARCO: Você queria que a Raíza morresse naquele lugar, de qualquer jeito. O tempo todo você só trabalhou a seu favor. Você e o Cipriano.
CIPRIANO: Calma, Marco. Eu estou tão surpreso quanto você. (Finge / para Josué) O plano era para que a sanidade dela fosse questionada, assim, nada que dissesse teria validade.
JOSUÉ: Vocês me deprimem, sabia? Eu não to nem aí se essa garota morre ou deixa de morrer, agora é você, Marco, que começou com toda essa história. Queria a Raíza de qualquer maneira, estropiada, fichada na polícia, drogada, louca. Agora taí, sem saber como lidar com a própria obra.
Marco segura Josué novamente.
MARCO: Não foi minha ideia interná-la, Josué. A gente estava quase resolvendo o assunto. A Raíza não é mais a mesma por sua culpa!
JOSUÉ: (irônico) Ah, claro, e você moveu céu e terra pra tirá-la de lá, sei. Sabe qual foi o teu erro? Ter se apaixonado.
MARCO: Cala essa boca!
JOSUÉ: Primeiro você queria acabar com a enxerida, depois viu que seria mais proveitoso usá-la para atingir o seu irmão, e por fim, se odeia profundamente por amá-la.
Marco o solta, perturbado.
MARCO: Cala essa boca, você não sabe de nada!
JOSUÉ: (por cima) E vocês não conseguem se entender, porque nenhum dos dois aceita que foram feitos um para o outro. (Josué junta os dedos em sinal de beijo) Assim ó, coladinhos, feito Romeu e Julieta, sabe? Aquele doce?
Marco lhe acerta um soco, e Josué, aos risos, é apoiado por Cipriano.
MARCO: Faça bom proveito do seu novo cargo, senhor Diretor.
E
Marco sai, abaladíssimo.
Josué ainda ri. Cipriano
observa, malicioso.
CORTA PARA
CENA 8 CURTO-CIRCUITO – ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]
Dcr acaba de se sentar na cadeira, chocado.
DCR: Cê tá me dizendo que uma enfermeira encontrou um objeto semelhante a um pen-drive agarrado no vestido da Ari?
Roger sentado, enquanto Lila ao seu lado.
ROGER: É isso, amigo. Tudo leva a crer que o botão amassado que você encontrou era dessa microcâmera. Só que essa enfermeira tava terminando o turno dela e entregou a câmera a outra colega.
LILA: E você já falou com essa colega?
Roger se levanta, fazendo suspense.
ROGER: Aí é que tá. A enfermeira que a substituiu garante não ter recebido nada, e mais...Ela não bate com a descrição que me foi passada.
DCR: Que seria...?
ROGER: Morena, cabelos pretos e olhos verdes. Mas o pior é que ela usava máscara cirúrgica.
Lila inquieta o olhar.
CAEL: Seja quem for, a câmera já deve ter sido destruída. Que assassino guardaria uma gravação em casa?
LILA: Talvez para apreciar a própria obra.
DCR: (pensa) Não me parece o perfil do Marco.
Lila, tenta disfarçar o nervosismo, abre os braços.
LILA: É, Danilo, você percebeu como ultimamente nenhuma pista nos leva ao Marco? Estranho, não acha?
DCR: Eu to apenas fazendo uma observação, Lila, não precisa ficar nervosa não.
LILA: É que me irrita ver que você acusa uma pessoa, mas nunca conseguimos nada para pegá-lo. Mas em vez de você pensar em outros suspeitos, você fica teimando nele (bate na mão), teimando nele, e nunca saímos disso. Por que você quer que ele seja o assassino, me diz?
ROGER: Calma, Lila!
LILA: (alterada) Calma? Eu me vejo dar voltas e mais voltas e cair no mesmo lugar. Eu me pergunto se ele (Dcr) tá fazendo isso pela Ari ou pela Raíza.
DCR: (seco) Você tem algum suspeito, Lila? (Em Lila, calada) Não. Eu tenho outro suspeito? (t) Também não. Então enquanto não surgir outro eu vou continuar acusando o principal suspeito. Marco não é um cara do bem, com certeza já cometeu diversos crimes, então não me sinto mal em torná-lo meu vilão.
LILA: (raiva) Você não queria que o João fosse acusado injustamente, porque você quer pegar o Marco de qualquer maneira, né? E eu achando que era questão de princípios.
Lila pega sua bolsa e sai batendo a porta.
ROGER: Eu acho que ela não tá muito bem. Vou atrás dela.
Roger
sai de cena.
CAEL: O que foi isso exatamente?
Ouvimos um celular tocar sobre a mesa.
DCR: A minha criadora descobrindo que eu não sou um personagem dos livros dela.
Dcr atende o celular.
DCR: Alô (t). O que aconteceu? (Dcr se levanta) Tô indo pra’í!
Dcr guarda o celular no bolso da calça.
CAEL: O que houve?
DCR: A Helena foi visitar a Ana. Se eu bem conheço aquela cobra, ela vai tentar persuadir a filha contra mim.
CORTA PARA
CENA 9 CURTO-CIRCUITO [EXT. / MANHÃ]
Lila se apressa, Roger vem atrás e segura em seu braço.
ROGER: Ei!
LILA: (se volta) Que é?
ROGER: Eu é que pergunto, senhorita. O que foi aquilo?
LILA: (chateada) To estressada, pode ser?
ROGER: Não, não pode ser. Você sabe que para o Nilo é uma questão de honra acabar com o Marco, mesmo que ele não seja o assassino. Se ele o faz pela Ari e pela Raíza também, não importa.
LILA: Como não importa, Roger? Do jeito que ele tá é capaz dele plantar uma prova contra o Marco. Se descobrem, o nosso jornal perde a credibilidade e/
ROGER: (corta) Ei, mulher! Cê tá colocando a carroça na frente dos bois. Tem certeza que essa é a sua preocupação? (Lila mexe a boca, nervosa) Quer um conselho? Se você quer que ele tire o foco de cima do Marco, procure você um novo suspeito.
Em Lila, pensativa.
CORTA PARA
CENA 10 SHOPPING [INT. / MANHÃ]
Mulheres entre 25 a 50 anos fazem burburinho diante de uma estande de cosméticos.
MULHER #2: Isso funciona mesmo?
MULHER #3: Na boa, não existe produto milagroso.
CAM revela a vendedora loira, de cabelos compridos mostrando um pequeno frasco com creme dourado.
VENDEDORA: Se vocês já gastaram com outros produtos, por que não experimentar esse?
Uma mão feminina apanha o frasco onde vemos o invólucro: “Desejo Proibido – 10 anos mais jovem”. É Joana, sorridente.
JOANA: Melhor garantir o meu de novo.
Ouvimos uma gritaria vindo do alto.
VOZES: NÃO FAÇA ISSO!
Um CORPO de uma garota, cabelos curtos e ruivos, despenca sobre a estande, muitos gritos, Joana olhando a cena assustada, enquanto segura o frasco com afinco.
CORTA PARA
CENA 11 CARIOCA NEWS [INT. / TARDE]
A tela do computador exibe a imagem da confusão no shopping noticiado em um site.
ROGER: (lê) “Mulher surta e tenta o suicídio em shopping do Rio – A garota identificada como VALQUÍRIA estava aparentemente drogada”. (Roger vê Lila passando no corredor) LILA! LILA!
Lila para sem muita vontade.
ROGER: Viu essa? Outra mulher surta e quase se mata num shopping. Os médicos disseram que ela tinha os mesmos sintomas que aquela que detonou o discurso do diretor Josué.
LILA: Todo mundo têm os mesmos sintomas quando surta, Roger. Até aí, nenhuma novidade.
ROGER: Cê não tá entendendo, amada; elas não foram as únicas. Nas últimas duas semanas outras mulheres morreram ou foram internadas em hospícios após sofrer esse surto. E que eu saiba, não existe epidemia de loucura, né?
LILA: Não se esqueça que a sua queridinha Raíza também já surtou, tá?
Lila vai saindo. Roger atrás.
ROGER: (mão no queixo) É verdade...Ela saiu amarrada a mando do novo diretor do colégio, que por sua vez, teve a nomeação frustrada por culpa de uma... Louca.
Lila se volta, curiosa.
LILA: Cê não tá sugerindo...?
ROGER: Não, claro que não. Deve ser vingança do além, mas...É bem curioso, não acha?
Os dois se encaram.
LILA: Ok, Roger, isso parece um caso bem interessante, e como Josué conhece milionários, acho que será bacana entrevistá-lo, né?
Roger sorri, animado.
ROGER: Grande Lila!
CORTA PARA
CENA 12 CENTRO DE FISIOTERAPIA - BANHEIRO [INT. / TARDE]
Uma moça loira passa batom diante do espelho. Pelo reflexo, Joana acaba de entrar, sorri para a colega.
COLEGA #1: Veio retocar a maquiagem também?
Joana vai abrindo a bolsa, desajeitada.
JOANA: O que sou eu sem isso?
E Joana mostra o frasco da “Desejo Proibido”. A colega sorri, assentindo.
COLEGA #1: Esse papo de prometer pele mais jovem é pra quem cuida desde cedo mesmo, né? Tem gente caindo nos 70 e achando que isso faz milagre.
As duas riem.
A
colega sai do banheiro. Joana abre o frasco e passa um pouco no
rosto, espalhando em seguida. Joana faz que vai repetir, mas para, se
mostrando zonza. Ao se olhar no espelho, uma sombra negra se mostra
pelas suas costas.
Joana se volta assustada e deixa cair o
frasco, que esparrama o conteúdo pelo chão.
PELO PONTO DE
VISTA DE JOANA não há ninguém ali, tudo começa a rodar, Joana
tenta achar a saída, em vão. A porta se transforma em duas, objetos
desfigurados, sons diversos se misturam com a respiração ofegante
de Joana, até ela CAIR desfalecida. Diante dela há uma imagem
desfocada que logo revela ser o frasco no chão e o seu conteúdo
espalhado. Subitamente o creme é sugado pelo piso.
CORTE BRUSCO
CENA 13 FÁBRICA – GALPÃO [INT. / TARDE]
Homens
e mulheres trabalham na produção de cosméticos. Em uma espécie de
esteira, frascos passam por uma máquina onde são lacrados.
Uma
mão masculina apanha um deles.
HOMEM #1 (VOZ CONHECIDA): Vocês fazem um excelente trabalho.
VOZ FEMININA (O.S): Imagina, seu Gustavo. Nós mulheres é que temos que agradecer.
CAM revela Erom, sorrindo, maliciosamente.
EROM/GUSTAVO: Fico feliz em ouvir tais palavras.
Erom vira o frasco onde se lê: ”Desejo Proibido”.
O suspense marca.
A tela se fecha num baque
TERCEIRO ATO
FADE IN
Vista aérea da cidade ensolarada
CENA 14 FACHADA – KATY O’NARA COSMÉTICOS S.A [TARDE]
Corta diretamente para uma plaqueta sobre a mesa com a seguinte inscrição: “Gustavo O’nara – diretor financeiro”.
Erom está sentado, acabando de falar ao telefone.
EROM/GUSTAVO: Claro, claro, mais tarde a gente se encontra. Até mais!
Hans vem entrando com a sua bolsa, e ao fundo, a secretária fecha a porta. Hans estende a mão para Erom e os dois se cumprimentam.
EROM/GUSTAVO: Hans Ströher, da Novo Dia?
Hans o observa minuciosamente.
HANS: Sim. Obrigado por me receber.
EROM/GUSTAVO: Sente-se. Você veio pelo meu interesse em divulgar a nossa marca nos jornais, correto? Não sabia que esse trabalho era seu.
HANS: E não é. A pessoa responsável não pôde vir, mas espero que não seja problema para o senhor.
Erom apoia os cotovelos sobre a mesa, observa Hans.
EROM/GUSTAVO: Aqui estamos, não é? (sorri forçado) Bom, já adianto que não gosto de muito alarde...Soa como desespero para convencer o público de que o produto é bom, sem ser.
HANS: O que acha da última capa, cobrindo meia página, todo domingo, durante 1 mês?
EROM/GUSTAVO: Eu tinha pensado em meia página, mas dividindo com a matéria de capa, que sempre chama muita atenção.
HANS: (pensativo) Hmm, ousado...Se a matéria não for atraente, pelo menos a sua propaganda será.
Hans sorri. Erom sorri forçado novamente.
EROM/GUSTAVO: Obrigado por confiar em minha equipe. Mas não seja modesto; a matéria será atraente, porque você é um jornalista que corre atrás da verdade, e não tem medo de quem a contraria.
Hans se infla, todo se achando.
HANS: (se faz de vítima) Infelizmente, a concorrência sempre tenta denegrir a minha imagem. É uma perseguição desmedida.
EROM/GUSTAVO: É o que os fracos fazem; Mas somente os fortes sobrevivem a maus comentários.
HANS: Acho que me tornei seu fã.
EROM/GUSTAVO: Somos dois.
Erom olha sagaz para Hans. Este sorri, ingenuamente lisonjeado.
CORTA PARA
CENA 15 FACHADA - CLÍNICA VIDA NOVA [TARDE]
Corta para o interior de um QUARTO
Duas
mãos femininas se tocam carinhosamente.
Helena sorri,
falsamente amável.
HELENA: Eu fico impressionada com a atitude do Danilo. Não o conhecia tão bem como imaginava.
Ana, abatida, sentada na cama.
ANA: Mas por que ele fala mal da senhora? Por que ele te acusa de ter induzido o meu tio à loucura?
HELENA: (venenosa) Danilo está perturbado desde que perdeu a esposa e sofreu aquele acidente. Ele anda vendo inimigo onde não há. Você acredita em mim, não é?
De repente, a porta é aberta abruptamente, Dcr entra já nervoso. Helena e Ana se assustam.
DCR: Eu pensei ter falado pra senhora que as visitas seriam monitoradas.
HELENA: (imponente) Fala pro juiz que você quer proibir uma mãe de ver a sua filha.
DCR: Se você não estiver de acordo eu deixo de pagar o tratamento da sua filha, mas é bom que alguém pague, porque se a Ana sair antes do prazo ela pode ser presa pela morte da minha mãe.
Baque em Ana.
HELENA: Você ouviu isso, filha? Esse é o teu primo querido. Não duvide que se depender dele você não sai daqui nunca mais.
Dcr perde a paciência e puxa Helena pelo braço.
DCR: Você vai sair daqui agora!
HELENA: Me solta!
Helena mede força. Dcr é mais forte fazendo Helena se levantar da cama e deixar cair alguma coisa no chão.
== Music On – Ação ==
Dcr tenta pegar, mas Helena, tensa, lhe dá uma joelhada no estômago, Dcr cai gemendo de dor. Helena apanha o pen-drive, tenta sair, mas Dcr agarra seu pé.
ANA: Gente, para com isso!
Helena acerta um chute na cara do sobrinho e sai pela porta.
CORTA PARA
CENA 16 CLÍNICA VIDA NOVA [EXT. / TARDE]
Os
pneus cantando o asfalto.
Dcr vem correndo, pega a sua moto
e acelera.
CORTA PARA
CENA 17 RUA DA CIDADE [TARDE]
Muita ação. O carro onde está Helena faz ultrapassagens perigosas, a moto de Dcr na cola, curiosos observam, preocupados. Helena está com um celular a postos, nervosa.
HELENA: Hans? Onde você tá? (t) Eu preciso de você agora.
= = Music Off = =
CORTA PARA
CENA 18 BAR [INT. / TARDE]
Em Tony, sentado e indignado.
TONY: Você pirou, garota? Cê quer que eu te sirva de segurança nesse esquema doido?
Rafaela disfarçada, diante dele.
RAFAELA: Só vai dar errado se tu amarelar. Quero dar um xeque-mate no Marco. E com estilo.
TONY: O que tu quer é me complicar, é isso. Se a polícia descobre é capaz dele sair como vítima dessa história e a gente ser acusado pelos crimes dele.
RAFAELA: Você anda muito precavido ultimamente. Cê não era assim quando trabalhava pra ele não.
Tony bebe um gole de cerveja.
TONY: É que quando eu trabalhava pra ele não havia ninguém na minha cola.
RAFAELA: Presta atenção: Marco quer a mim. Eu preciso que você esteja sempre por perto pra que se algo acontecer comigo...
Rafaela olha para ambos os lados e exibe seu colar com um pen-drive agarrado.
RAFAELA: (cont.)..Você destrua isso aqui. Se eu não puder acabar com o Marco, não vai me interessar mais nada depois de morta.
No olhar marcante de Rafaela.
CORTA PARA
CENA 19 RUA DA CIDADE [TARDE]
Dcr mantém
o ritmo em sua moto,
o carro de Helena faz uma curva à esquerda
e quase derrapa na pista, ouvimos buzinas, som de freios, Dcr tenta
emparelhar algumas vezes, até que consegue.
DCR: Você vai parar com esse carro agora, Helena!
Helena sorri, maliciosa.
HELENA: Eu é que vou fazer você parar!
Helena
dá uma freada no exato instante em que um carro atravessa a pista
pela direita, Dcr perde o controle, desvia do
carro,
Rafaela está saindo do BAR,
Dcr arregala os olhos, desesperado, sem controle,
Rafaela
se assusta ao ver a moto em sua direção,
Dcr a atropela
em cheio e sua moto derrapa até Dcr rolar pelo chão.
Muita
gente se aproxima da cena. Tony espia pela porta, sem
entender.
Dcr se levanta, ferido no ombro e chega perto do
aglomerado de gente que se formou. As pessoas dão passagem. Rafaela
está com os braços machucados e a cabeça sangrando.
DCR (surpreso): Rafaela!?
Dcr se agacha, toca seu rosto.
RAFAELA: (respiração ofegante) Danilo? Danilo...
DCR: Meu Deus! Me perdoe...Me perdoe eu...Eu não queria...
Rafaela levanta a mão e Dcr segura.
RAFAELA: (sofre) Eu não quero morrer...Me ajuda...
Dcr tira do bolso um celular.
DCR: Eu vou chamar a ambulância, calma.
RAFAELA: Eu to morrendo...
Dcr segura a cabeça de Rafaela, emocionado.
DCR: Não! Isso de novo não!
Rafaela se esforça, olho no olho, até que seus olhos fecham lentamente.
DCR: Rafaela! (t) RAFAELA!
Dcr chora,
desconsolado, encosta seu rosto no peito da velha amiga, quando nota
o pen-drive agarrado no colar.
No olhar de estranheza
de Dcr.
CAM
busca Helena dentro do carro sorrindo maliciosamente para alguém
fora da tela.
É Hans, do outro lado da pista, dentro do carro
que provocou o acidente.
FADE
OUT
FADE IN
Vista aérea do Colégio França
CENA 20 COLÉGIO FRANÇA – SECRETARIA [INT. / TARDE]
Close nos sapatos brancos de salto fino de uma mulher sentada. CAM vai exibindo as pernas cruzadas, negras e lindas, a saia social preta, as unhas vermelhas, pulseiras pretas e brancas, a camisa social branca de manga ¾, até chegar no rosto de Lila que usa seu batom vermelho de sempre.
Josué acaba de abrir a porta e visualiza a bela mulher.
JOSUÉ: Lila Machado?
Lila se levanta e estende a mão.
LILA: Senhor Diretor? Espero não atrapalhar o teu serviço.
JOSUÉ: De maneira alguma. Sente-se. Fiquei surpreso por uma jornalista querer me entrevistar. Não sou milionário, e acho que nem candidato a herói.
Risos.
Josué se senta, muito educado.
Lila retira da bolsa um tablet.
LILA: Podemos começar?
JOSUÉ: Agora mesmo.
LILA: O senhor agora é diretor de um dos colégios mais comentados dos últimos anos. Como o seu discurso foi interrompido, creio que o senhor deseje nos contar os seus planos para o colégio.
JOSUÉ: Eu agradeço a oportunidade. A qualidade de ensino sempre foi uma das melhores, mas durante os anos em que lecionei como professor de geografia, passei a observar o quanto seria importante cuidar, não só da educação de nossos alunos, como também, de seu psicológico. Muitos alunos trazem para a sala de aula os problemas de casa, e vice-versa. Meu objetivo é ter sempre um psicólogo à disposição dos alunos.
LILA: (alfineta) Isso teria evitado que a sua sobrinha Raíza saísse daqui numa camisa de força?
Josué lhe dá uma olhada sinistra.
JOSUÉ: Às vezes, a gente precisa tomar atitudes extremas para cuidar de quem a gente ama. Mas eu espero que episódios como aquele não se repitam.
LILA: Mas uma mulher surtou durante o seu discurso. Acredita em coincidência ou sabotagem?
Josué ri, incrédulo.
JOSUÉ: Sabotagem?
LILA: Raíza fugiu
da clínica psiquiátrica. Acha que ela entendeu a sua atitude como
gesto de amor ou acha que ela pretende um revide?
JOSUÉ: Se
ela pretende se vingar é uma prova de que não está bem. É claro
que eu não queria interná-la, mas o fiz pelo João. Ele quase me
implorou pra isso.
Ouvimos a porta abrir, João adentra, indignado.
JOÃO: Isso é mentira!
Josué se levanta no susto.
JOÃO: Eu fiquei com medo sim de tornar a encontrá-la, mas jamais implorei por sua internação.
JOSUÉ: (falso) João, acho que eu me expressei mal. Eu quis dizer que pelo seu medo, eu entendi que era quase um pedido desesperado de manter a Raíza longe de você.
JOÃO: E acha que a Lila vai entender a suas palavras subentendidas? Seria o meu nome que estaria na frente como responsável pelos piores 3 meses da vida de Raíza.
LILA: Cê tá dizendo que perdoa a sua prima ou que tem medo de uma vingança?
JOÃO: Eu to dizendo que esse assunto já tá defasado. Quanto cê tá ganhando pra remexer nessa história, hen?
Josué tentando conter João.
JOSUÉ: Ela veio me entrevistar para eu expor os meus planos como diretor.
JOÃO: Ou talvez te pegar pra Cristo, porque deve tá sendo chato não conseguir pegar o Marco, né?
Lila já se levantando e guardando o tablet.
LILA: Desculpe, seu Josué, não era a minha intenção causar essa confusão.
Lila cumprimenta Josué que a leva até a porta.
JOSUÉ: Me desculpe você. Eu acho que hoje é um péssimo dia pra todo mundo.
Lila sai. João encara Josué, ainda indignado.
CORTA PARA
CENA 21 APTº 3011 – SALA [INT. / TARDE]
Dcr acaba de chegar, visivelmente atordoado. Larga a bolsa sobre o sofá e vai até a mesa, onde se encontra seu laptop. A mesa fica posicionada de frente para uma grande janela.
Dcr, segurando o pen-drive, pensa um pouco.
DCR: Pra você carregar isso no pescoço é porque deve ser muito importante.
Dcr se senta, abre o laptop e engata o pen-drive. Quando aparece a pequena janela com as opções do dispositivo, a imagem de um homem surge refletida na tela. Dcr é rápido. Retira o pen-drive e se esquiva, no instante em que Tony salta da janela para a mesa.
DCR: Tá
maluco, cara?!
Tony se prepara para avançá-lo.
Dcr foge.
CORTA PARA
CENA 22 RUA DA CIDADE [TARDE]
Muita
ação.
Dcr acelera com a sua moto
o carro de Tony em
cima
Dcr se esgueira por entre os carros, de forma arriscada,
ouvimos buzinas,
Tony nervoso, desce a rua paralela à estrada por onde segue Dcr, que está bem mais a frente. É quando Dcr surpreende, faz o retorno, entra na contramão, frente a frente com Tony.
TONY: (desesperado) Não, Cê não vai fazer isso, cara?!
Os dois veículos prestes a colidir, o carro dá uma pequena freada, e a moto voa por cima do capô.
Tony paralisado.
Dcr ainda olha para trás, sorriso sacana e segue viagem.
CORTA PARA
CENA 23 CARIOCA NEWS [INT. / TARDE]
Dcr chega esbaforido, procurando por alguém.
DCR: (ao léu) Cadê a Lila? Preciso falar com a Lila.
Dcr avista Roger conversando com um colega, corre até ele e o puxa pelo braço.
DCR: Preciso falar com você.
ROGER: Ei! Eu to no meio de um caos, amigo!
DCR: Como assim? Cadê a Lila?
ROGER: Cê não soube? Aquela sua amiga, Joana, tá internada, os hospitais cheios. Tão dizendo que é surto de alguma nova droga. (viaja) Alguma coisa que se pega no ar, pior que gripe.
Dcr coloca o pen-drive na mão de Roger.
DCR: Preciso que você guarde isso e só conte para a Lila.
ROGER: (murmura) O que é? Segredo de estado?
DCR: Esse é o pen-drive que a Rafaela carregava no pescoço. Tony está atrás disso. Não deixa ele chegar perto, ok? Talvez esteja aí as provas contra o Marco.
Ouvimos um celular tocar. Roger põe a mão no bolso da calça e retira o telefone.
ROGER: Oi, Lila (t) O Nilo tá bem aqui na minha frente. (t) (Roger olha espantado para Dcr) A Rafaela tá entre a vida e a morte?
Dcr, sem entender.
ROGER (cont.): Ok, eu aviso.
Roger desliga o celular, com medo.
ROGER: Nilo, o que você fez com a Rafaela?
DCR: Roger, eu pensei que ela tava morta.
ROGER: Foi você? A Lila disse que a Rafaela tá no hospital.
Dcr põe a mão na cabeça, aflito.
DCR: Eu preciso fazer alguma coisa.
Dcr dá as costas.
ROGER: Nilo!
Em Roger, vendo Dcr partir.
CORTA PARA
CENA 24 FACHADA - HOSPITAL CENTRAL [TARDE]
Grande movimento, enfermeiros carregando pacientes na maca, ambulâncias chegando.
Corta para o interior do HOSPITAL – SALA DE EMERGÊNCIA
Ouvimos muita conversaria, pacientes gemendo de dor, alguns tentando sair da cama, alucinados; Outros inertes.
Dcr vem olhando tudo, em pânico, até ver Ângela e Raíza em uma das alas, confortando Joana, deitada.
DCR: Dona Ângela, Raíza. A Joana tá bem?
RAÍZA: Vai ficar bem. A pressão dela subiu demais.
ÂNGELA: Isso deve ser culpa do Josué. Ele não gostou de eu ter dito umas verdades pra ele e ele ameaçou meus filhos.
RAÍZA: (sinuosa) Seus filhos, dona Ângela?
Ângela, desconcertada.
ÂNGELA: Eu to nervosa, me desculpem.
Dcr e Raíza se entreolham.
RAÍZA: Dcr, melhor você ir ver a Rafaela. (olhar cúmplice) Parece que ela foi atropelada.
CORTA PARA
CENA 25 CARIOCA NEWS [INT. / TARDE]
Close
no pen-drive sendo engatado no computador.
Roger,
cotovelos sobre a mesa e mãos juntas, aguarda ansioso. Ele dá
alguns cliques, para logo ouvirmos gritos de mulher vindo da
tela.
“ARI: Por
que ta fazendo isso? Pelo amor de Deus!”
Roger, espantado, retira o pen-drive rapidamente. Roger cobre a boca, chocado.
ROGER: Meu Deus! Não pode ser!
A tela se fecha num baque
QUARTO ATO
FADE IN
CENA 26 HOSPITAL CENTRAL – SALA DE EMERGÊNCIA [INT. / TARDE]
CAM acompanha devagar a caminhada de Dcr, até vermos Rafaela, com a testa enfaixada, muito debilitada.
RAFAELA: (cansada) Danilo...
Dcr toca suas mãos, mas ela se esquiva.
RAFAELA: Destino cruel, não?
DCR: Eu não tive a intenção, Rafaela, eu posso explicar/
RAFAELA: Não tenho mais tempo (tosse). Eles chegaram.
Dcr olha para trás e se vê cercado pela polícia.
DELEGADO QUEIROZ: Danilo Rodrigues? O senhor está preso.
DCR: Isso-isso não tá acontecendo...(faz a negativa, não acreditando) Rafaela, diz pra eles, diz, diz que/
Rafaela está inerte, de olhos abertos. O médico se aproxima, testa o pulso.
MÉDICO: Ela está morta.
DCR: (ofegante / lacrimeja) Não...Rafaela! RAFAELA!
Os policiais seguram Dcr que tenta lutar, inutilmente.
DCR: Me solta! Eu não quis matá-la, me solta!
QUEIROZ: Esse
é só mais um dos seus crimes.
Todos observam Dcr ser
carregado à força.
Corta rapidamente para
Roger entrando correndo, esbaforido, procura por alguém. Ângela, Lila e Raíza no caminho.
ROGER: Lila, Raíza...(emocionado) Eu descobri. Finalmente vamos poder fechar esse ciclo, amiga! Eu descobri quem matou a Ari.
LILA: O quê?
ROGER: Cadê o Nilo? Ele precisa saber.
Raíza olha
adiante, preocupada.
Dcr é alvo de olhares acusadores,
tenta se esquivar.
DCR: (resmunga) Isso não tá acontecendo...Eu não posso levar essa culpa, não posso...
POLICIAl #1: O que você disse?
DCR: (cont.) Isso não pode tá acontecendo...Se concentra, se concentra...
O policial aperta o seu braço, Dcr dá um arranco e o policial lhe acerta um safanão pelas costas. Dcr vai ao chão.
ROGER(O.S): Nilo! Eu sei quem matou a Ari!...
No
olhar vidrado de Dcr. TODAS as cenas anteriores retrocedem
rápido,
até que um FEIXE DE LUZ cobre a tela.
Ouvimos um telefone tocar.
ABRE EM
CENA 27 CURTO-CIRCUITO – ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]
O
celular toca sobre a mesa.
Dcr atende o celular.
DCR: Alô (t). O que aconteceu? (Dcr se levanta) Tô indo pra’í!
Dcr guarda o celular no bolso da calça.
CAEL: O que houve?
DCR: A Helena foi visitar a Ana. Se eu bem conheço aquela cobra (para e pensa)... ela vai tentar persuadir a filha contra mim...?
Dcr olha o relógio, preocupado.
CAEL: Algum problema?
Dcr se apressa até a porta.
DCR: Eu preciso ir!
Cael ali, sem entender.
CORTA PARA
CENA 28 BAR [TARDE]
Um
bar mequetrefe, pisos encardidos, muita propaganda de cerveja.
Dcr,
com o capacete nas mãos, adentra, curioso. Faz que procura por
alguém.
MULHER (O.S): Danilo?
Dcr vê
Rafaela acabando de entrar e observa seu colar que esconde o
pingente.
Dcr a abraça, aliviado.
RAFAELA: O que aconteceu, Danilo? Como sabia que eu estaria aqui?
Dcr desfaz o abraço, cansado.
DCR: Eu preciso que você me acompanhe. Eu tenho uma missão.
Em Rafaela, absorta.
CORTA PARA
CENA 29 EDIFÍCIO [EXT. / TARDE]
Dcr acaba de chegar de moto, Rafaela na garupa, desce e retira o capacete. Dcr faz o mesmo.
DCR: Eu não cheguei a tempo...Era pra Helena estar lá.
RAFAELA: Se você não tivesse ido atrás de mim, né? (Dcr a encara) Agora me diz: Que serventia eu teria nessa clínica?
Ouvimos
SIRENES de polícia. Dcr olha por todos os lados e se vê
cercado pelos carros.
O delegado Queiroz sai de um deles,
decidido.
QUEIROZ: Danilo Rodrigues? O senhor está preso.
Dcr, paralisado, sem entender.
DCR: Mas o que foi que eu fiz?
QUEIROZ: O senhor é assassino confesso de sua esposa Ari e da prostituta Soraya.
DCR: O quê?!
Dcr é arrastado pelos policiais.
DCR: Rafaela, chama o meu advogado!
Rafaela, surpresa, vê Dcr ser forçado a entrar em um dos carros.
CORTA PARA
CENA 30 EMERGÊNCIA - HOSPITAL CENTRAL [INT. / TARDE]
Joana está na cama, medicada, mas ainda se mostrando muito fraca.
Ângela, preocupada, está diante de Raíza, que não esboça lamento.
ÂNGELA: Ela nunca sofreu de pressão alta. Isso deve ser culpa do Josué. Ele não gostou de eu ter dito umas verdades pra ele e ele ameaçou meus filhos.
RAÍZA: (sinuosa) Seus filhos, dona Ângela?
Ângela, desconcertada.
ÂNGELA: Eu to nervosa, me desculpe. É que o Josué nunca gostou de mim, principalmente quando eu defendi a minha filha naquele caso, você sabe/
RAÍZA: (sarcasmo) Onde eu quase transformei o João numa tocha humana? Sim, eu sei.
ÂNGELA: Que sádico...
Raíza deixa
escapar um sorriso estranho.
MARCO (O.S): Também
achei.
Raíza revira os olhos.
ÂNGELA: O que você tá fazendo aqui, Marco? Veio saber se você ia precisar de outro método para convencer a Raíza a se casar contigo? Joana vai sobreviver.
MARCO: (sonso) O que é isso, dona Ângela? Vim prestar a minha solidariedade. Não posso?
Ângela desvia o olhar.
MARCO: (pega no braço de Raíza) Será que podemos conversar?
CORTA PARA
CENA 31 RECEPÇÃO – HOSPITAL CENTRAL [INT. / TARDE]
Marco e Raíza passando pelo balcão.
MARCO: O que realmente aconteceu com a Joana, Raíza?
RAÍZA: (sarcástica) Você ainda não se informou? A pressão dela subiu.
Marco a puxa pelo braço. Cara a cara.
MARCO: Não acha coincidência ela passar mal justo no dia que você a ameaçou?
RAÍZA: Eu nunca ameacei ninguém, Marco. Eu apenas apresentei uma série de hipóteses que podem acontecer quando se está vivo.
Marco aperta seu braço, discretamente.
MARCO: (range os dentes) Você já está me irritando! Você não teria coragem de fazer mal a ela, teria?
Raíza, encarando-o, sorri sadicamente.
RAÍZA: Desde quando você acha que eu sou boa? Cê já tentou me matar várias vezes, e não deve ter sido porque você me achava boa demais, né?
Raíza sai de cena, sorrindo satisfeita. Em segundo plano, Marco absorto, quase acreditando.
CORTA PARA
CENA 32 DELEGACIA [EXT. / NOITE]
Há
um aglomerado de pessoas, jornalistas e curiosos tiram fotos no
momento em que policiais levam alguém que não conseguimos ver de
imediato.
Hans está com a sua câmera a postos e muito animado.
HANS: É o seu fim, Lila Machado.
Os policiais pedem passagem e finalmente vemos Dcr, algemado, vários flashes sobre ele.
JORNALISTA #1 (O.S): Danilo! Você matou a sua esposa por ciúmes?
JORNALISTA #2 (O.S): Por que você não deixou que Víctor Leme executasse o serviço?
JORNALISTA #3 (O.S): Você também matou o Víctor por queima de arquivo? Ele te reconheceu como o autor do crime?
HANS (O.S): Você acha que Lila Machado passará a te vender como um anti-herói?
Dcr se
volta e vê o ar de deboche em Hans. Os policiais escoltam Dcr até
entrarem na delegacia.
Hans, para os outros.
HANS: E ainda teve a petulância de me olhar com raiva.
CORTA PARA
CENA 33 DELEGACIA [INT. / NOITE]
Um gravador está sobre a mesa.
GRAVADOR: “DCR: [...]Eu tava com luvas pretas e segurando um pedaço de madeira com tanta vontade [...] Víctor já tava no chão...Ari de vestido de noiva...
ANA: E depois?
DCR: Eu a matei.”
Dcr se levanta exaltado.
DCR: Não! Eu não fiz isso!
Um policial força Dcr a se sentar.
Queiroz desliga o gravador.
QUEIROZ: Você tá me dizendo que você não disse tais palavras? Que essa não é a sua voz?
Helena, de pé, sorri debochada.
DCR: É a minha voz, mas/
QUEIROZ: E você tem como explicar isso?
Dcr olha para Helena, que o encara, firme.
QUEIROZ: Parece que o senhor confiou na pessoa errada para confessar o seu crime, não é?
O delegado se levanta, faz sinal para um policial.
QUEIROZ: Pode levá-lo pra cela.
O policial pega no braço de Dcr, que atônito, nada consegue dizer.
Corta para
CORREDOR – CARCERAGEM
= = Tocando: Royals – Lorde = =
[efeito câmera lenta]
Dois policiais trazendo Dcr, enquanto outros detentos se movimentam com a chegada do novo preso.
[fim do efeito]
FUSÃO PARA
CENA 34 CARIOCA NEWS [INT. / NOITE]
DCR (V.O): Eu acabo de ter certeza de que eu nunca fui um herói de verdade...
Na foto de Dcr estampada na internet sob o seguinte título: “Herói de Lila Machado é uma farsa”.
Lila vê a imagem do site da Novo Dia, inconformada.
LILA: Cê não podia ter feito isso comigo.
Volta na imagem do site, a página é rolada para baixo onde há uma propaganda da marca “Desejo Proibido”.
FUSÃO PARA
CENA 35 LUGAR DESCONHECIDO [INT. / MANHÃ DO DIA SEGUINTE]
DCR (V.O): Que algumas pessoas têm poder e gostam disso, se comprazem com o que conseguem exercer sobre o outro...
Uma
garota (a mesma ruiva da CENA 10) sentada, se balança para frente e
para trás, com um olhar paralisado. Ela balança a cabeça como a
assentir algo que escuta. CAM mostra Erom diante dela
dizendo alguma coisa.
Em seguida, ele se levanta, satisfeito.
Corta.
EXT.
Onde Erom caminha com as mãos nos bolsos da calça, tranquilo, por um extenso corredor bem familiar. Ao fazer a curva, encontra-se com Cipriano e os dois passam a caminhar juntos, ambos com sorriso de vitória. Corta
Para a PLACA próxima do portão: “CLÍNICA PSIQUIÁTRICA NOVO HORIZONTE”
FUSÃO PARA
CENA 36 COLÉGIO FRANÇA – SECRETARIA [INT. / MANHÃ]
Uma plaqueta sobre a mesa com a inscrição: “Diretor”.
DCR (V.O): E que há aqueles em que o mínimo de poder poderia despertar uma faceta que poucos enxergavam...
Josué
está sentado, de costas. Logo ele se volta sorrindo, com um jornal
em mãos, apoia os pés sobre a mesa.
Josué larga o jornal em
cima de umas pastas.
Close na manchete do jornal Novo Dia: “Danilo Rodrigues é réu confesso de sua esposa Ariadne. O queridinho de Lila Machado é visto como anti-herói e psicopata.”
CORTE CASADO
CENA 37 DELEGACIA – CARCERAGEM [INT. / MANHÃ]
No mesmo jornal sendo lido.
DCR (V.O): Mas confesso que eu quis viver essa fantasia...
Dcr segurando o jornal, vai franzindo o olhar de raiva.
DCR (V.O): Só que é difícil ser o herói quando até então você precisava dele.
FADE TO BLACK
= = Music Off = =
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