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PRIMEIRO ATO
FADE IN
CENA 1 CEMITÉRIO [MANHÃ]
A cena abre diante da lápide de Ari. Aos poucos, a cena vai revelando um homem dos pés à cabeça, diante do túmulo.
É Dcr, pensativo, olhando para frente.
DCR: Um grande risco em troca de uma grande matéria para a sua carreira. Se tivesse me contado logo teria evitado dor de cabeça.
Lila surge logo atrás, com uma bolsa verde sobre o ombro.
LILA: A minha fonte achou melhor assim; quanto mais você desprezasse o meu trabalho, menos tempo o assassino teria pra planejar alguma coisa contra a gente. Afinal, quem dá importância para uma jornalista que ganha dinheiro com o drama de milionários, né?
Lila sorri, Dcr devolve o sorriso sem graça.
DCR: Será que algum dia conseguiremos pegar o Marco?
LILA: Posso ser sincera?
DCR: Deve.
LILA: Se Marco queria matar sua esposa por ela não ter cumprido um acordo, por que ele não deixou que Víctor a matasse?
DCR (desconcertado): O quê? Do que cê tá falando?
LILA: Uma fonte secreta me garantiu que Marco só poupou a sua vida, porque a Ari prometeu o segredo de Raíza. (Dcr não sabe pra onde olhar) O problema é que era um falso segredo.
Dcr se põe diante de Lila, desconfiado.
DCR: O que mais você sabe?
LILA: Que ninguém fica invisível (Dcr a olha sério, tenso). A não ser depois que morre. Você acha mesmo que o Marco se deixaria enganar por esse segredo ridículo? E mais ainda, mataria por isso?
Dcr não tem tempo de retrucar; Uma forte ventania surpreende, folhas das árvores se desprendem violentamente e o tempo escurece.
DCR: Melhor a gente sair daqui antes que caia uma tempestade.
Dcr abraça Lila e os dois tentam sair do lugar. A ventania piora.
LILA: Meu Deus! O que é isso?!
DCR: Tá parecendo o apocalipse!
De
repente, uma nuvem negra arremessa os dois para longe.
Dcr e
Lila reclamam de dor e tentam se levantar com dificuldade.
LILA: Isso É o apocalipse!
Um jornal aberto da Novo Dia bate na cara de Dcr, que se atrapalha para tirá-lo de si, mas acaba vendo algo que chama a sua atenção.
DCR: Não é possível...
LILA: O que foi? Estão anunciando o fim dos tempos aí?
DCR: A Soraya tá morta (reação em Lila). E o Hans me incluiu na lista de suspeitos.
Lila vai se arrastando até ele, a ventania continua.
LILA: Desculpe. Eu ia falar pra você. Mas a polícia não vai considerar o caso. No mínimo, vão querer o seu depoimento.
DCR: Tem ideia do quanto isso é desgastante pra mim? (p) A Helena me paga por mais essa.
A ventania cessa, e o ambiente volta a clarear como se nada tivesse acontecido. Dcr e Lila olham ao seu redor, e depois se encaram, tensos.
CORTA PARA
CENA 2 APTº 215 [INT. / MANHÃ]
Dcr, com o jornal na mão, e furioso, vai entrando e dá com algumas malas no meio da sala. Diva está abraçada a Ana, como a consolá-la.
DIVA: Danilo, meu filho, pensei que não ia voltar para se despedir de sua prima.
DCR: Cadê ela?
Ana
e Diva fazem que não entendem.
Dcr anda apressado até o
corredor, mas Diva o impede.
DIVA: Por favor, Danilo, a Helena já ouviu poucas e boas, e ela já tá indo embora.
DCR: Ela que não saia da cidade.
Helena surge com outra mala, mal encara Dcr.
HELENA (para Ana): Vamos filha, o nosso ônibus vai sair daqui a pouco.
DCR: Você não vai sair da cidade. (Dcr aponta o jornal para Helena) Não sem antes esclarecer para a polícia onde você tava quando a Soraya morreu.
Helena arranca o jornal de sua mão e dá uma lida.
HELENA: (abusada) Você é da polícia, por acaso? Porque eu ainda não recebi intimação alguma.
Dcr arranca o jornal de volta.
DCR: (ameaça, altera o tom de voz) Se eu pisar naquela delegacia por causa disso, você vai receber uma intimação.
ANA: (indignada) Primo, a minha mãe não é uma assassina. Que negócio é esse?
DCR: Essa mulher já tentou me matar várias vezes (baque em Diva). E se quer saber, meu pai só tá naquela clínica por culpa das ervas dela!
Ana se coloca diante de Dcr, firme, olhando-o com repressão.
ANA: Danilo, pelo amor de Deus, a minha mãe errou, fez o que fez pela grana, mas as pessoas erram, todo mundo erra.
DCR: A Soraya errou, e agora tá morta; Já sua mãe simplesmente sai da cidade? Não é esse desfecho que eu quero pra essa história.
Nesse momento, Ana vai meio pra trás, mas Dcr se volta para Helena sem perceber seu estranho semblante.
HELENA (O.S/deboche): Cê tá defendendo aquela prostituta?
DIVA (O.S): Helena!
Close nos olhos de Ana que ficam pretos por instantes, depois voltam ao normal. O semblante de Ana é de ódio.
HELENA: Cê quer saber de uma coisa, garoto? Você é igual a seu pai: Esquisito, implicante, metido a herói e maluco. MALUCO!
Diva acerta um TAPA em Helena.
DIVA: Desgraçada! Você não presta!
Helena tenta devolver o tapa, mas Dcr segura seu braço.
ANA: (voz firme) Solta ela!
E Ana pega Dcr pelos ombros e o empurra tão forte que ele é jogado de contra um móvel.
DIVA: DANILO!
Dcr está inconsciente.
Helena disfarça um sorriso de satisfação, e ao seu lado, Ana observa com olhar sádico. Logo atrás, o espírito de um homem (EROM, o mesmo do final do episódio anterior) olha para Dcr e sorri sadicamente.
CORTA PARA
FANTASMAS
SEGUNDO ATO
FADE IN
CENA 3 HOSPITAL CENTRAL – ENFERMARIA [INT. / MANHÃ]
Ouvimos muito barulho no local, enfermeiros de um lado e de outro, gente reclamando de dor. As camas são separadas por uma divisória branca e, por trás de uma, está Dcr sentado na cama, ajeitando a camisa.
Raíza e Diva se aproximam, e esta toma um susto ao ver o filho se dando alta.
DIVA: Danilo! Você bateu com a cabeça, tem que repousar.
DCR: Já passei tempo demais neste hospital. Eu quero saber o que deu na Ana pra me atacar daquele jeito.
DIVA: Eu não sei...(tensa) Eu to com medo, filho. Medo dela...Sei lá...
DCR: Ter surtado? (t) Acha que isso é de família? (t) Não, mãe, isso não é de família. Helena planejou tudo, tudo pela grana, inclusive a internação do meu pai.
Diva olha para Raíza aguardando alguma coisa.
RAÍZA: É verdade, dona Diva. Sua irmã armou para o seu marido ser dado como louco.
DIVA: Mas como assim? Por que ela faria isso?
DCR: Seguro de vida, talvez? Quanto tempo a mais o meu pai vai durar naquela clínica?
RAÍZA: Ou vingança (Dcr e Diva a encaram). Se ela o quisesse morto, já o teria matado. A atitude dela me parece passional.
DIVA: Passional?
CAEL (O.S): É melhor ver a pessoa que você ama sozinho (Cael aparece atrás de Raíza) a vê-la feliz com outro alguém.
Raíza quase não o encara, disfarçando alguma emoção.
DIVA: Eu ainda não consigo assimilar tudo isso. A minha irmã agindo pelas minhas costas?
Dcr salta da cama, já arrumado.
DCR: Sei que é difícil, mãe, principalmente porque a gente nunca espera uma traição de quem a gente confia (Raíza disfarça). A Helena já tentou me matar, é claro que matou a Soraya. E não duvido nada que ela tenha influenciado a Ana contra mim.
Raíza vai tirando um papel de dentro da bolsa.
RAÍZA: Mas talvez ela ganhe tempo (Raíza entrega o papel a Dcr). Recebi hoje.
Dcr lê o documento, chateado.
DCR: To sendo intimado a depor.
DIVA: Inaceitável isso. A Helena é quem devia ser intimada.
DCR: E ela vai ser. Depois dessa, não duvido que me acusem de ter matado a Ari. Querem pagar pra ver?
Em Diva, preocupada.
CORTA PARA
CENA 4 HOSPITAL CENTRAL [EXT. / MANHÃ]
Diva vem abraçada a Dcr, e logo atrás, Raíza tenta desviar de Cael, mas ele a puxa delicadamente pela mão.
CAEL: Você tá me evitando, Raíza?
Raíza ajeita a bolsa sobre o ombro, olha para um lado e para o outro. Enfim, encara Cael.
RAÍZA: Desculpe, eu ainda não te agradeci por ter me ajudado a fugir daquela clínica/
CAEL: Eu não to querendo que me agradeça. Da última vez que nos falamos eu fui ríspido, não aceitei o fim do nosso relacionamento. (Cael tenta tocar o rosto dela, mas ela evita) Eu ainda não aceitei.
RAÍZA: (firme) Você tem um plano audacioso pra tirar o Marco do meu caminho?
CAEL (sem graça): Eu tenho, mas ainda não posso concluir porque/
RAÍZA: Então aceite o fim do nosso relacionamento, porque eu não vou deixar o Marco cumprir a ameaça dele. O Dcr e o meu pai quase morreram.
CAEL: Pra pegar alguém como ele a gente precisa de provas contundentes.
RAÍZA: Enquanto você arruma as tais provas contundentes a vida dos outros corre perigo. Cê sabia que pode ter sido o Marco quem armou pra cima do Dcr e da Lila? (Cael não esboça surpresa) O que ele ganha desmoralizando a principal jornalista que anda colocando ele como suspeito pela morte de Víctor Leme?
CAEL: Você também acredita que ele matou a Ari?
RAÍZA: (dá de ombros) Não sei. (irônica) Ele pode ser preso por contravenção, por sabotar sua boate, por ter matado algum rival, ou mesmo a Ari. Eu só quero que ele fique longe de mim e das pessoas que eu amo.
CAEL: Isso me inclui?
Raíza pensa um pouco.
RAÍZA: Eu não te odeio, Cael.
E Raíza vai embora deixando Cael na dúvida.
CORTA PARA
CENA 5 APTº 301 – SALA [INT. / MANHÃ]
Bruno surge de cadeira de rodas, Josué está ao lado de um Marco classudo.
MARCO: Bruno, meu querido, vim saber se precisa de alguma coisa.
BRUNO: (irônico) Depois d’eu ter te denunciado como possível autor do meu acidente? O que você acha que eu preciso?
Marco ajeita seu paletó e senta no sofá, fazendo pose.
MARCO: Ah Bruno, eu já estou sendo visto como responsável pela morte da Ari, do Víctor, do seu acidente, quem sabe até de algum atentado em algum lugar desse mundo. Mas como você pode ver (faz um gesto pra si próprio) eu estou aqui.
Marco sorri na cara de pau.
A porta é aberta, Raíza entra e encara Marco que quase se levanta, demonstrando ânimo, mas disfarça.
MARCO: Ora, ora, a margarida apareceu.
Muita tensão.
MARCO (continua / sarcasmo): Pensei que depois do episódio da noiva em fuga você não daria as caras tão cedo.
Raíza vai caminhando até perto dele esboçando deboche, e forçando uma tranquilidade que não lhe é comum.
RAÍZA: Fiquei esperando você me salvar (p). Você não apareceu.
Marco, com o braço no encosto do sofá, mexe os dedos de nervoso, olha para Raíza com um olhar de admiração.
JOSUÉ: (mãos na cintura) Bruno, você deixa a sua filha circular pela casa depois de tudo que ela aprontou?
MARCO: Parece que ela está ótima, Josué. (para Raíza) Uns tempos fora da clínica te deixaram mais...(analisa de cima a baixo) Bonita.
RAÍZA: (sarcasmo) Deve ser alegria em lhe ver por aqui.
Bruno
deixa escapar um riso de deboche.
Marco, desconcertado, se
levanta, muito próximo de Raíza, ajeita o paletó e desvia.
MARCO: Sabe Raíza, vim ver como estava seu pai, e vi que ele está excelente...Ahn...Tirando o fato de estar na mesma cadeira que era do João.
BRUNO: Só que desta vez o uso dela é real.
JOSUÉ: Você não pretende começar com isso não, né?
BRUNO: Claro que não. Só quero saber se a Raíza aceita almoçar comigo.
MARCO: Eu espero que o convite se estenda a mim (olha de soslaio para Raíza / ameaça). Eu sempre tento estar por perto para o caso do seu pai precisar. Nunca se sabe quando o infortúnio bate à porta, não é mesmo?
No olhar de raiva em Raíza.
CENA 6 APTº 215 [INT. / MANHÃ]
Dcr acaba
de entrar, mas vacila os passos ao ouvir tocar Mozart – Le
Nozze Di Figaro.
Dcr olha adiante em direção dos quartos.
Corta para o QUARTO
Close no aparelho de som ligado em cima da cômoda ao lado da cama. Dcr entra olhando desconfiado para a capa de cd.
ANA (O.S): Você é muito corajoso.
Dcr salta pra trás de susto, Ana está sentada numa poltrona azul com um olhar carregado, expressão fechada, totalmente diferente daquele seu ar doce. Ao seu lado, Erom de pé, encarando Dcr com ódio.
DCR: Ana...O que aconteceu? Que música é essa?
ANA: Como você pôde trair a mim?
DCR: Eu nunca te traí. Do que cê tá falando?
ANA: Você tem o velho hábito de fazer as coisas erradas, e depois se arrepender.
Dcr se coloca diante dela, mãos nos bolsos da calça, meio cauteloso.
DCR: Ana, eu não sei o que houve, mas acho que você me deve uma explicação.
Ana ri, vai se levantando, Dcr se afasta vendo-a desligar o som. Erom se mantém atrás de Dcr.
ANA: Você quer uma explicação? (t) Eu espero por uma há muito tempo, George.
DCR: George? (confuso) Olha, Ana, eu entendo que você queira ficar do lado da sua mãe, mas ela tentou me matar.
Ana avança em fúria e segura no colarinho de Dcr.
ANA: Você tem sorte por ainda não ter morrido! (Susto em Dcr) Os outros sempre morrem no seu lugar.
DCR: Ana, pelo amor de Deus!
ANA: (ignora) Foi assim comigo, foi assim com a Elizabeth, com a Ari, e será assim sempre!
E
Ana joga Dcr na poltrona.
Ana liga o som de novo, Erom
ergue a cabeça apreciando a música e Ana faz o mesmo.
Dcr jogado na poltrona, desnorteado.
CORTA PARA
CENA 7 CASA DE ÂNGELA [INT. / TARDE]
Ângela carrega duas xícaras de café e entrega uma para alguém fora da tela.
ÂNGELA: Você sabe que o que você fez foi errado, não sabe?
João Batista pega a xícara, desvia o olhar por instantes.
JOÃO: Também sei que não fiz sozinho. Marco ameaçou a mim e a minha família se eu não colaborasse naquela sabotagem.
ÂNGELA: Isso eu já sei, mas o que eu posso fazer é contratar um advogado/
João se levanta, nervoso e tenso ao mesmo tempo.
JOÃO: E por acaso foi um advogado que livrou a sua filha de um processo? Joana não vai responder por ter atentado contra mim.
ÂNGELA: Joana foi induzida ao erro. Raíza já não tava bem há muito tempo.
JOÃO: (malicioso) E qual o problema de usar o mesmo argumento agora?
ÂNGELA (surpresa): O problema é que o Marco não conseguiu arquivar o dele, graças ao Cael. Tem certeza de que você quer bater de frente com ele?
JOÃO: (indignado) Você acha que eu to preocupado com a fúria desse cara? Vem cá, cê disse que queria me ajudar, mas parece que você vai me abandonar que nem a minha mãe fez, não é?
Baque em Ângela que bebe um gole de café pra disfarçar.
ÂNGELA: Bem, se eu te ajudar, estarei ajudando o Marco também, sabe disso, não sabe?
JOÃO: Não costumo ficar entre a cruz e a espada, dona Ângela. Marco pode pagar por outros crimes, que não devem ser poucos. E quando isso acontecer, até a senhora vai ficar aliviada desse peso que deve ser me ajudar.
Em Ângela, sem palavras.
CORTA PARA
CENA 8 DELEGACIA [INT. / TARDE]
A cena corta diretamente no delegado Queiroz sentado e com os braços sobre a mesa, mãos juntas e olhar desconfiado.
QUEIROZ: Você não reagiu muito bem quando soube que a suposta Ari era uma impostora, correto?
Dcr está sentado a sua frente, firme.
DCR: Acho
que ninguém reagiria bem ao saber que foi enganado, mas a última
vez que eu a vi foi na casa dela. Eu não tenho nada a ver com esse
crime.
DELEGADO: Mas você teve coragem de
bater nela (Dcr sem reação). Como foi a sensação de agredir
uma pessoa que era a cara da sua esposa? Você podia tê-la matado.
Dcr olha para o delegado, pro escrivão, pensa um pouco, relutante.
DCR: Eu só pensei na Raíza.
Queiroz
meneia a cabeça, aceitando a resposta.
QUEIROZ: Você
e essa menina já têm um histórico bem interessante, não é? Como
quando a sua sogra morreu num grave acidente de carro.
DCR: A minha história de vida já não é segredo pra ninguém; Basta olhar os jornais.
Dcr sorri, sacana.
QUEIROZ: É verdade, inclusive, eu assisti ao vídeo que prova que a sua tia não tem sido legal contigo. Quem quer que tenha feito isso tava querendo provocar alguma coisa, (olhar acusador) não acha?
DCR: O que quer dizer com isso?
QUEIROZ: Que teria sido mais fácil o autor do vídeo te entregar a gravação, e não expor sua tia. A exposição a colocaria como suspeita número 1, fato muito óbvio e bastante conveniente para o assassino.
DCR: (sarcasmo) Se o senhor acha que a Helena jamais mataria uma pessoa para não ser desmascarada, por ser óbvio demais, então eu também não poderia ser suspeito. Eu fui o enganado, certo?
Queiroz ergue as sobrancelhas, esboça surpresa pela ousadia da resposta.
QUEIROZ: Bom, por enquanto é só. Você pode ir.
DCR: (se levantando) Boa tarde.
Dcr vai embora deixando Queiroz pensativo.
QUEIROZ (para o escrivão): Esse quer ver a tia presa de qualquer maneira...
O escrivão meneia a cabeça, concordando.
CORTA PARA
CENA 9 DELEGACIA [EXT. / TARDE]
Dcr atravessa a porta, pensativo, vem andando com uma expressão cansada, olhar distante, com aquela voz do delegado em seu ouvido.
INSERT de Áudio
QUEIROZ: [...]Como foi a sensação de agredir uma pessoa que era a cara da sua esposa? Você podia tê-la matado.
Fim do INSERT
CAM
se aproxima rapidamente do rosto de Dcr e para em seu olhar
estagnado.
Quando a CAM se afasta, Dcr se vê no
PRÉDIO [INT.]
E surpreso por estar de luvas pretas segurando um pedaço de madeira com afinco.
ARI (O.S): Como me achou aqui?
Dcr se volta, Ari está de vestido de noiva logo atrás de Víctor, derrubado no chão.
DCR: Ari!
Ari vai abraçá-lo, em lágrimas.
ARI: Que bom que você tá aqui.
DCR: Eu nunca desisti de te salvar.
ARI: (tom de raiva) Você nunca desiste de nada, não é?
Dcr estranha e desfaz o abraço. Ari continua com o vestido de noiva, mas o batom vermelho e os brincos longos denunciam outra personalidade.
DCR: Soraya?
SORAYA: Como você pôde trair a mim?
DCR: Eu nunca te traí. Do que cê tá falando?
SORAYA: Você tem o velho hábito de fazer as coisas erradas, e depois se arrepender.
Dcr se assusta por já ter escutado aquelas palavras da boca de Ana. Ele vai se afastando, até que faz que vai correr, mas Soraya impede.
SORAYA: Onde pensa que vai, mocinho?
Dcr torce o braço de Soraya que o empurra de contra a parede. Dcr tenta se desvencilhar, mas Soraya é tinhosa e lhe acerta um TAPA bem dado. Naquela luta, Dcr rasga o vestido de Soraya e uma pequena CÂMERA cai no chão, indo parar na fresta do rodapé. Dcr corre para perto de uma escada, Soraya o agarra pelas costas.
SORAYA: Eu vou acabar com você!
Dcr dá
um giro, mete o braço e joga Soraya do alto da escada. A
garota rola os degraus e voa para fora do prédio.
Dcr cobre a
boca horrorizado. CAM se aproxima de seu rosto, até que se afasta
para
DELEGACIA [EXT. / TARDE]
Onde Dcr, com as mãos na boca, está no meio da rua e ao lado de Ana.
ANA: É assustador, não? (Dcr se volta, assustado) Se sentir um criminoso.
DCR: Ana?!
Ouvimos uma forte buzina, Dcr olha para frente, mas um homem pula em cima dele.
Um caminhão passa batido à frente da CAM.
Roger
e Dcr caem na calçada, são e salvos.
Close em suas
caras de susto.
FADE TO BLACK
TERCEIRO ATO
FADE IN
Alto da redação Carioca News / Tarde
CENA 10 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / TARDE]
Porta do elevador acaba de ser aberta e dele sai Dcr e Roger apressados.
ROGER: Peraí, cara, cê tá dizendo que a sua prima usa drogas?
DCR: Não sei, mas o comportamento dela não é estranho?
ROGER: Uma garota ouvir Mozart é sempre estranho.
Os dois param diante da mesa de Lila, que acaba de desligar o celular.
ROGER: Lila, cê não imagina o déja vu que eu e o Nilo tivemos hoje.
Lila se levanta, animada.
LILA: Depois cê me conta. Eu acabei de saber que a polícia tem um novo suspeito pela morte de Soraya.
DCR: Quem, agora?
LILA: João Batista.
Surpresa em Dcr e Roger.
LILA: Parece que encontraram uma foto da Ari a alguns metros da cena do crime, com uma dedicatória dele.
Roger dá um tapinha no ombro de Dcr.
ROGER: É, amigo, acho que ele só tava querendo te tirar da jogada.
DCR: (para Lila / insatisfeito) E por que você tá falando assim, como se estivesse feliz?
LILA: Antes ele do que você, né?
DCR: Não. Antes a Helena do que um inocente (Lila bufa). Ao contrário de você, eu não to atrás de qualquer pessoa que se enquadre no perfil de assassino pra depois me ver livre do assunto. Eu quero o verdadeiro culpado.
LILA: Quem tá falando isso? O cara que jura ter sido o Marco o assassino? Pra quantos lados você já olhou antes de apontar um culpado?
DCR: Marco ameaçou a Ari dias antes dela morrer/
LILA: (corta) E João Batista sabia disso, ok? Se ela revelou um falso segredo a Marco, significa que ela conhece algum segredo de Raíza, sendo assim, quantos segredos ela guardava e quantos ela tava disposta a revelar?
ROGER: Peraí, gente, cês estão achando que alguém se aproveitou da ameaça feita pelo Marco para matar a garota?
Dcr e Lila se encaram seriamente.
DCR: O João não matou ninguém e nem mandou matar.
Dcr vai embora. Lila se senta, chateada.
ROGER: Quando é que você vai entender que mesmo que o assassino seja outro, é o Marco que ele quer ver pagar também? É uma questão de honra.
No semblante frustrado de Lila.
CORTA PARA
Fachada – Clínica Novo Horizonte [Tarde] / Corta
CENA 11 CLÍNICA NOVO HORIZONTE – JARDIM [TARDE]
No abraço apertado entre Diva e Daniel.
DIVA: Eu sinto tanto por ter acreditado na Helena, e não em você.
Os dois desfazem o abraço, olham-se afetuosamente.
DANIEL: O importante é que você tá aqui e que logo logo eu estarei longe desse lugar.
Diva se senta no banco, Daniel faz o mesmo.
DIVA: Você nunca agrediu a Helena, não é? Ela sempre armou contra você por despeito, agora eu sei.
DANIEL: Ela nunca se conformou por eu ter te escolhido. Quando eu soube que ela tava armando para matar o nosso filho, ela se agrediu. Eu tentei evitar, mas ela se aproveitou direitinho da situação.
DIVA: Agora, pra piorar, a polícia acredita que o Danilo pode ter matado aquela garota, a Soraya. Não bastasse tudo que ele já passou, agora mais essa. Não aceito isso.
DANIEL: O nosso filho é forte, vai superar tudo que vier pela frente. A única coisa que temo é que ele faça coisas que não condizem com o seu caráter.
DIVA: Se essas coisas tiverem relação com a Helena, Deus que me perdoe, mas eu não me importaria, juro.
Os dois riem.
DIVA: Pena o seu médico não está aqui hoje pra te liberar. Mas amanhã eu virei sem falta.
Daniel sorri, aperta a mão de Diva, pensativo.
DANIEL: Estarei te esperando...
Os dois tornam a se abraçar.
CORTA PARA
Fachada – Redação Carioca News [Tarde] / Corta
CENA 12 REDAÇÃO CARIOCA NEWS [INT. / TARDE]
Lila está digitando alguma coisa no laptop, bate as teclas com raiva, para com o cotovelo sobre a mesa, passa a mão no rosto.
RAÍZA (O.S): Dia ruim?
Lila se assusta.
LILA: Você sempre tem essa mania de aparecer do nada?
RAÍZA: E você de responder com outra pergunta?
Lila recosta na cadeira, cansada.
LILA: O Danilo às vezes me cansa com seu senso de justiça, seu ar de bom moço, sabe?
RAÍZA: (sagaz)Não foram isso que te conquistaram?
Lila se cala, envergonhada.
RAÍZA: Não foi pelo senso de justiça que você não entregou seu colega Hans?
Lila volta a digitar, disfarçando.
LILA: Isso é problema meu.
Raíza fecha o laptop na cara de Lila.
RAÍZA: Isso é problema nosso! Você teve a chance de acabar com o cara que quer destruir a sua reputação, e não fez nada. Quem garante que você não vai fazer o mesmo com o Dcr?
Lila se levanta, exaltada.
LILA: Eu to nessa há meses, e não to de brincadeira. O meu problema com o Hans É problema meu!
Raíza fica cara a cara com Lila.
RAÍZA: Então diz isso pro Dcr e explica sobre o risco de todo o seu trabalho ir pro lixo, porque você não quer entregar o seu ex-namoradinho de adolescência.
Baque em Lila, surpresa.
LILA: Como é que cê sabe disso?
RAÍZA: (mente) Vai vê eu acabei de saber.
Forte clima.
CORTA PARA
CENA 13 DELEGACIA [INT. / TARDE]
Helena está sentada, fazendo cara de vítima diante do delegado.
HELENA: Acredito que algum inimigo da garota se aproveitou do vídeo para matá-la e sair impune. Eu não sou uma assassina, seu delegado. O meu único erro foi achar que eu tava fazendo um bem para a minha filha e pro meu sobrinho.
QUEIROZ: Então a senhora afirma que a última vez que viu Soraya foi na biblioteca, horas antes do crime?
HELENA: Exatamente. Seu delegado, eu já vinha pedindo uma ajuda ao Danilo, mas sabe como são essas pessoas quando se tornam milionárias, né? Se esquecem da família.
DELEGADO: Isso não justifica essa brincadeira de mau gosto, não é?
HELENA: (abaixa a cabeça / mente) Eu to muito envergonhada.
DELEGADO: Ok, por hora é só. (para um policial) Diego, chama o próximo, por favor.
O policial Diego vai até a porta.
DELEGADO: Peço que não saia da cidade até esclarecermos esse crime, ok?
Helena faz que sim. Logo atrás, João Batista entra, enfurecido.
JOÃO: Como foi que a senhora plantou aquela foto na cena do crime, posso saber?
Helena se levanta, fingindo-se de acuada.
HELENA: Desculpe, eu não sei do que você tá falando.
JOÃO: Sua falsa, eu faço você saber/
E João avança, mas Diego o contém.
DELEGADO: Você quer ser preso, garoto?
JOÃO: Eu não matei ninguém (encara Helena). Essa mulher não armou só pra sacanear o sobrinho não; Talvez ela quisesse encobrir o verdadeiro assassino de Ari, vocês não veem?
HELENA: (sonsa) Não é você que tá sendo acusado de cúmplice numa sabotagem?
JOÃO: (desconversa) Eu não matei a Soraya, e eu ainda provo isso.
Clima.
CORTA PARA
CENA 14 FACHADA - MANSÃO DE CAEL [NOITE]
Corta para o interior do escritório
Cael está
de fone de ouvido, diante do laptop, bem concentrado. De repente ele
se surpreende com algo fora da tela.
Raíza está de
vestido preto, salto alto, e uma pequena bolsa igualmente preta.
CAEL: Raíza!
RAÍZA: (sorriso sedutor) Pensei que eu fosse te encontrar na boate.
Cael retira
os fones, desliga o laptop e se levanta.
Raíza vai até
ele e os dois se abraçam. Cael sem entender.
CAEL: Eu pensei que você tava chateada comigo.
RAÍZA: Eu acho que eu to chateada comigo mesma. Armei tão bem contra mim que fiquei 3 meses numa clínica. Quem confia numa ex-paciente de hospício, não é mesmo?
Cael toca seu rosto, ainda apaixonado.
CAEL: Eu confio. E por isso peço que confie em mim também. Estamos muito perto de nos livrarmos do Marco.
RAÍZA: Eu tenho quase certeza disso.
Cael dá um beijo na boca de Raíza, que corresponde sem muita vontade.
RAÍZA: (sorri) Acho que você vai querer trocar de roupa pra trabalhar, não é?
CAEL: Você me espera?
RAÍZA: Eu sempre espero.
Cael sorri e dá as costas. Raíza aguarda Cael atravessar a porta, caminha calmamente até o laptop, dando uma ligeira olhada em tudo.
RAÍZA: Então você confia em mim, Cael?
Ouvimos
um alerta de mensagem vinda do laptop. Raíza abre o laptop
e dá de cara com Rafaela na tela. Raíza não se mostra
surpresa e observa um cara atrás da garota. Raíza rapidamente
abre sua bolsa, saca um pen-drive e conecta ao
computador.
A tela mostra a lista de contatos sendo copiada,
enquanto Raíza olha atenta para a porta.
O download
termina, Raíza retira o pen-drive, fecha o laptop, e
quando vai guardá-lo na bolsa, a porta é aberta.
LARA: Olá...Raíza, não é? Quanto tempo.
RAÍZA: Boa noite, dona Lara. Eu to esperando o seu filho.
LARA: Qual deles?
Raíza deixa escapar um riso cético.
RAÍZA: Acho que a senhora não tem muitos filhos que moram aqui, não é?
LARA: Tá pensando em voltar para ele?
RAÍZA: Isso seria um problema pra senhora?
CAEL: Qualquer coisa que diz respeito a mim é problema pra ela, acredite, Raíza. Vamos?
RAÍZA (para Lara): Boa noite, dona Lara.
Lara apenas balança a cabeça.
CORTA PARA
CENA 15 FACHADA - CURTO-CIRCUITO [NOITE]
Muito
movimento de carros e de pessoas. Um Toyota preto estaciona em frente
à boate. Um homem se aproxima da porta que se abre, dele sai Raíza;
Do outro lado sai Cael, que entrega uma chave para o
homem.
Enquanto Cael e Raíza se afastam, o
homem entra no Toyota e sai dali.
CAEL: Você bem que podia vir toda noite, não é?
RAÍZA: Não se esqueça que tecnicamente eu to comprometida com o Marco.
CAEL: Quem tá pensando em segundas intenções aqui é você (Raíza sorri). Eu pensei em te contratar como minha assistente, só isso.
Os dois riem.
Dcr sai da boate, aflito.
DCR: Ainda bem que vocês chegaram. Raíza, eu preciso falar contigo.
CAEL: Posso ajudar em alguma coisa?
DCR: É a minha prima. Ela tentou me matar hoje, agora liguei lá pra casa, e ninguém atende. Eu to preocupado com a minha mãe. (toca nas mãos de Raíza) Você vem comigo?
Nesse instante, Raíza olha para as suas mãos e um
FLASH DE LUZ se abre em
APTº 215 [INT. / NOITE]
Erom dá um soco em Diva, que cai sobre o sofá. Erom rapidamente pega o telefone e enrola o fio no pescoço de Diva, que se contorce para se livrar dele.
DIVA: Por que tá fazendo isso?
EROM: Isso nem é contigo.
E o FLASH DE LUZ corta a cena.
VOLTA EM RAÍZA
Que se mostra perturbada.
RAÍZA: Temos que ir agora!
Dcr e Raíza correm deixando Cael preocupado.
CORTA PARA
QUARTO ATO
CENA 16 APTº 215 – QUARTO DE ANA [INT. / NOITE]
= = Ouvimos Mozart – Le Nozze Di Figaro = =
Ana está ao telefone, animada.
ANA: Fiquei lisonjeado com a sua intervenção. Você tem grandes parceiros, amigo.
CAM revela Erom ao seu lado, com uma expressão animada, se esforçando para se manter por ali.
ANA: João Batista sempre foi um maldito curioso, um ser repugnante.
A CAM mostra Ana e Erom com a porta do quarto aos fundos. Diva escuta atenta, apavorada.
ANA (cont.): Vai ser bom vê-lo preso pela morte de Soraya e também, pela a do Danilo. Já estou cansado de ficar aqui. Acho que mereço um corpo mais adequado, não acha?
Erom ri, Ana faz o mesmo.
Diva adentra, enfurecida.
DIVA: O que você tá falando, Ana?! (sacode seu braço) O que você andou tomando, garota?
Ana solta seu braço, rispidamente.
ANA: Me deixa! Eu quero justiça. Eu só estou aqui por culpa dele!
DIVA: Mas o que foi que ele te fez?
ANA: Causou a minha morte.
Em Diva, estupefata.
DIVA: (ri sem acreditar) Quê?
ANA: E morte só se paga com morte. Quero vê-lo lado a lado comigo por toda a eternidade.
Medo em Diva.
CORTA PARA
CENA 17 EDIFÍCIO [EXT. / NOITE]
Dcr e Raíza saltam da moto, Dcr larga a moto ali mesmo e os dois entram no
EDIFÍCIO
Dcr aperta o botão do elevador com raiva.
RAÍZA: Pela escada, rápido!
Os dois somem.
CORTA PARA
CENA 18 APTº 215 – SALA [INT. / NOITE]
Diva surge correndo, Erom logo atrás segura seu braço com força e a faz voltar.
EROM: Você não vai fazer nada!
E Erom lhe acerta um soco e ela cai sobre o sofá. Erom rapidamente pega o telefone e enrola o fio no pescoço de Diva, que se contorce para se livrar dele.
DIVA: Por que tá fazendo isso?
EROM: Isso nem é contigo.
Diva não está mais suportando, quando a porta é aberta violentamente. Dcr e Raíza se apressam e agora vemos Ana no lugar de Erom.
Ana força mais o fio e solta, fazendo Diva cair desfalecida ao chão.
DCR: Mãe!
ANA: Agora é a sua vez.
E Ana avança no pescoço de Dcr.
DCR: Chama a ambulância, Raíza! Rápido!
Raíza pega o telefone, mas percebe o fio arrebentado. Raíza abre a sua bolsa, saca seu celular e disca.
Enquanto isso, Ana arremessa Dcr de contra a parede, deixando-o zonzo, e vai até Raíza.
ANA: Você sempre fazendo o contrário do que se deve, não é, Elizabeth?
Raíza para com o celular no ouvido, atônita.
RAÍZA: O quê?
No momento em que Ana faz que vai pegar o braço de Raíza, esta faz o mesmo.
RAÍZA: (tom ameaçador) Não faça isso.
E Raíza dá um SOCO na cara de Ana, fazendo-a voar e derrubar um móvel. Ana está desacordada.
Erom olha com ódio para Raíza.
EROM: Maldita!
Erom vira uma fumaça negra e some, causando um vento forte e rápido.
Dcr se
levanta, ainda atordoado, e se agacha diante da mãe imóvel.
Dcr
e Raíza se encaram.
Fade Music
FADE TO BLACK
FADE IN
Céu aberto, gaivotas voando, dia ensolarado.
CAM no alto de um cemitério com grande movimento.
CENA 19 CEMITÉRIO [MANHÃ]
Algumas pessoas em volta de um caixão sendo içado até a cova. Dcr segura o choro e é abraçado por Raíza.
DCR: De novo eu tentei, mas não cheguei a tempo.
Lila e Roger se aproximam, discretamente, sendo observados por Cael.
Dcr desfaz o abraço de Raíza, Roger passa a mão no rosto de Dcr e o abraça forte.
ROGER: (sentimental, deixa escorrer uma lágrima) Lamento muito, cara.
Roger se afasta, dando a chance de Lila tentar uma aproximação.
LILA: Eu sinto muito, de verdade.
Os dois se olham firmemente, mas não há tempo de mais nada; Marco surpreende com a sua chegada, deixando Bruno, de cadeira de rodas, tenso e Josué com um sorriso de deboche.
MARCO: Meus sinceros pêsames por mais essa perda, Danilo.
Dcr se volta, sem acreditar no que ouve.
MARCO: Não consigo imaginar a sua dor.
DCR: Desgraçado...
E Dcr se descontrola, acertando um belo soco na cara de Marco. Marco quase cai no chão, mas é amparado por coveiros.
Cael e Roger ainda tentam segurar Dcr.
DCR: Seu desgraçado! Você sai daqui ou eu faço você sair!
Marco acaricia o próprio rosto com ar de deboche.
MARCO: Eu sempre soube que você nunca perdeu a memória, Danilo (Cael e Dcr, apreensivos). Precisou a sua mãe morrer para você se revelar.
Dcr tenta
avançar, mas é contido por Cael.
Marco ainda sorri para
Raíza e vai embora, deixando-a desconfiada.
Dcr tenta segurar o choro, mas desaba em lágrimas, sendo abraçado por Roger.
CORTA PARA
Takes da cidade / Corta
CENA 20 CLÍNICA NOVO HORIZONTE [INT. / MANHÃ]
No abraço entre Daniel e Dcr que choram juntos.
DANIEL: Ela não merecia uma morte assim. Não merecia.
DCR: Parece que eu to fadado a ver as pessoas que eu amo morrerem assim, tragicamente.
Daniel desfaz o abraço, seca as lágrimas.
DANIEL: Não...A morte é consequência da vida, não podemos lutar contra isso. O seu destino é fazer justiça sempre. (aponta o dedo para Dcr) Esse é o herói que Lila Machado viu em você.
DCR: (inconformado) Não, não...Esse herói aqui só perde as pessoas que ama uma atrás da outra, e nem retroceder o tempo pra evitar a morte eu posso, porque se não algum inocente morre no lugar.
DANIEL: Não se pode mexer na ordem das coisas sempre.
DCR: (se altera) Então pra quê eu quero essa droga (abaixa o tom)...Essa droga de dom especial?
DANIEL: Retroceder o tempo não significa mudar as coisas de lugar, filho; Significa enxergá-las como elas realmente aconteceram, e não como você espera que elas tenham acontecido. Já passou pela sua cabeça que se o Marco não for o assassino da Ari, o verdadeiro culpado pode tá planejando algo muito pior contra vocês?
DCR: Helena, talvez? Não duvidaria se ela tiver feito alguma coisa contra a Ana. Helena tem seus truques para enlouquecer qualquer um sem deixar rastros.
Daniel se mostra em dúvida.
DANIEL: Pode ser...E a Ana? O que vai acontecer com ela?
DCR: Ela
vai ficar bem...Acho.
Os dois voltam a se abraçar.
FUSÃO PARA
CENA 21 FACHADA – CLÍNICA VIDA NOVA[TARDE]
Muro branco e alto, uma grande placa com o nome de “Clínica de reabilitação Vida Nova”.
Corta para o interior de um QUARTO
Ana
está deitada numa cama, impaciente.
A porta é aberta e uma
enfermeira entra junto de Dcr, que segura um jornal.
ENFERMEIRA: Ana, querida. Olha quem veio te visitar.
Ana olha animada para o primo.
ANA: Ah, primo, graças a Deus! Essa senhora me trata de um jeito como se eu fosse uma demente. Isso me deprime e me afasta da civilização.
A enfermeira ri e vai saindo.
ENFERMEIRA: Eu vou deixar vocês a sós.
A enfermeira sai e fecha a porta.
ANA: (murmura) Danilo, me tira daqui, eu ainda não to preparada psicologicamente para um rehab.
DCR: Você não me deu escolha, Ana. Cê não se lembra de nada que aconteceu?
ANA: Eu lembro de você acusando a minha mãe de um monte de coisas. (pensa) Eu tava lúcida...(vacila) né?
Dcr mostra o jornal.
ANA: O quê? (pega o jornal / Dcr caminha pelo quarto) Não me diga que entornei todas e paguei mico pra geral/
Ana fica pálida diante da leitura.
ANA: Que isso, Danilo? (lê) “[...]Segundo informações, Ana Cecília da Costa Soares é suspeita de ter matado a mãe do herói de Lila Machado, Danilo Rodrigues. Testemunhas afirmaram que o comportamento da garota estava estranho, mas o caso tende a cair no esquecimento, já que rico, quando comete um crime, passa um tempo numa clínica de reabilitação [...]”.
Ana fecha o jornal, estagnada.
ANA: Que brincadeira é essa? (faz que vai se levantar) Esse Hans tá de sacanagem com a gente, você tem que parar esse cara, Danilo/
Dcr segura seus ombros e senta a cama.
DCR: Ana! O Hans pode ser um abutre, mas eu não ia te internar se o caso não fosse sério.
Ana escuta, seriamente, com uma aflição no olhar.
ANA: Mentira...Eu não matei ninguém, eu não lembro de nada.
DCR: Você tava escutando Mozart, falando coisas estranhas, parecia...Outra pessoa. Você tentou me matar no meio da estrada, Ana.
ANA: (faz a negativa / olhos marejados) Não...Não pode ser...Alguém deve ter me drogado com algum bagulho forte e me colocaram na cena do crime...Cê precisa acreditar em mim. Eu não matei ninguém!
DCR: Eu tava lá, Ana (Ana se cala, sentida). Eu vi a minha mãe morrer pelas suas mãos.
Ana põe as mãos na boca, horrorizada.
ANA: Não...Eu não fiz isso...(se levanta, atormentada) EU NÃO FIZ ISSO!
Ana chora. Dcr, ainda relutante, a abraça.
ANA: Nem que eu tomasse todos os drinks ao mesmo tempo eu não faria isso, Danilo. Não podia ser eu...Não podia!
Em Dcr, calado.
CORTA PARA
CENA 22 COLÉGIO FRANÇA - SECRETARIA [INT. / TARDE]
A porta é aberta, Josué entra segurando uns papéis e vê João Batista sentado numa das cadeiras.
JOSUÉ: O que aconteceu?
JOÃO: Eu é que pergunto: O que aconteceu pra você se tornar diretor do colégio, e nem me falar nada.
Josué sorri falsamente simpático.
JOSUÉ: Já estão comentando, é?
JOÃO: Não se fala em outra coisa pelos corredores.
Josué analisa os papéis com ar de importante.
JOSUÉ: Eu ainda serei nomeado oficialmente. Depois que o diretor faleceu, Cipriano não quis assumir o cargo e me convidou a tomar o posto.
João se levanta e cumprimenta Josué. Os dois se abraçam.
JOÃO: Bom, não sei como funciona essas coisas, mas meus parabéns.
JOSUÉ: Obrigado. Mas não foi isso que te trouxe aqui, não é? Como foi lá na delegacia de novo?
João respira fundo, inconformado.
JOÃO: Eu to sendo apontado como o assassino de Soraya (surpresa em Josué). (irônico) Ter um processo na justiça tá ajudando muito a polícia a se convencer disso.
JOSUÉ: Mas você não a matou. Uma hora a verdade vai aparecer. E esse garoto, o Danilo, já provou que tem senso de justiça, ele não vai deixar um inocente na cadeia.
JOÃO: Só que a polícia não vai passar a vida inteira investigando o caso da morte de uma prostituta. Eles querem um culpado, não importa quem seja. Duvido que o Danilo não concordaria com isso.
Josué olha para João com pena.
JOSUÉ: Eu espero que você esteja enganado.
João faz que sim, dá um tapinha em seu ombro.
JOÃO: E eu espero estar aqui quando você for nomeado.
Os dois sorriem e se abraçam novamente.
JOÃO: Não vou tomar mais o seu tempo, tio. (João desfaz o abraço) Até mais tarde.
JOSUÉ: Até.
Josué vê João sair pela porta.
== Ouvimos tocar: Dark Paradise – Lana Del Rey ==
JOSUÉ: (pensativo) É...Danilo tem muito senso de justiça...Uma pena...Uma pena que nem um dos dois tiveram a chance de se matar.
FLASHBACK
GALPÃO [EXT. / MANHÃ]
O cenário é o mesmo onde Soraya foi encontrada morta. Ouvimos passos sorrateiros em direção a uma faixa amarela usada pela polícia. CAM dá uma vistoria pelo local ermo e caminha a alguns metros dali. A mão com luva preta mostra uma foto da Ari, virando do avesso onde tem a dedicatória de João. Em seguida, a pessoa joga a foto no chão, e saca um celular.
HOMEM (voz conhecida / ao telefone): Tudo certo, Cipriano. Acho que mataremos dois coelhos com uma cajadada só. Não sei se o João vai ficar furioso a ponto de querer se vingar de Danilo, como você espera, mas pelo menos...(o homem se volta e revela-se ser JOSUÉ)...a Ângela vai pensar duas vezes antes de bater de frente comigo.
Josué sorri, vitorioso.
FIM DO FLASHBACK
Josué deixa os papéis sobre a mesa e some da tela.
FUSÃO PARA
CENA 23 HDM CONSTRUTORA – ESCRITÓRIO DE MARCO [INT. / TARDE]
Marco está sentado em sua cadeira, rosto marcado pelo soco dado por Dcr. Ele acaba de desligar o celular, quando ouvimos um alerta de SMS. Marco verifica e tem uma surpresa.
MARCO: Não é possível...
FUSÃO PARA
CENA 24 APTº 3011 – QUARTO [INT. / TARDE]
CAM no alto da cama onde Raíza está deitada, com ar indiferente, enquanto mantém um celular sobre o peito.
Raíza olha para o seu celular.
Corta
para a sua tela onde está escrito o seguinte SMS em Mensagens
Enviadas: “Você tem medo de seus fantasmas? Ou nem sabe que eles
existem? Quem te garante que Rafaela não é um deles?
Encontre-a...”
Não vemos o SMS completo e, alguns cliques,
aparece a pergunta “Apagar?”, e com mais um clique, o SMS some.
CORTA PARA
CENA 25 RUAS DA CIDADE [NOITE]
Close numa poça d’água. Um par de calçados masculinos pisa na poça, CAM vai subindo e revela um homem bem vestido e muito parecido com Erom. Uma forte ventania assusta o homem que apressa o passo.
Corta para uma avenida onde o homem aguarda a passagem de um carro.
As luzes dos postes se apagam de repente, o homem observa, temeroso. As luzes do farol do carro iluminam a calçada onde está o homem e logo uma nuvem negra o envolve, jogando-o na frente do carro.
Corta para os pneus do carro que freiam bruscamente. Em seguida, o carro avança.
CAM lentamente busca o corpo do homem estirado na avenida, muito ferido. Ao seu lado, a nuvem negra se transforma em Erom, que olha sagaz para o defunto.
EROM: (pra si mesmo) Bem-vindo, Erom, ao seu novo lar.
CORTA PARA
CENA 26 RUAS DA CIDADE [NOITE]
Uma
casa simples está sendo vista de dentro de um binóculo, o zoom
aproxima no momento em que Tony sai segurando um celular. Logo atrás,
vem Rafaela, que diz alguma coisa em tom de raiva e arranca o
telefone de suas mãos. Tony entra na casa chateado, Rafaela dá uma
olhada ao redor. O binóculo é retirado da nossa vista revelando que
Marco vigia a cena.
Em Marco, muito surpreso.
FADE TO BLACK
A música termina nos créditos
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