Marcelo Delpkin
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Cena 1/Int./Mansão Camargo/Quarto de Clarice e Alfredo/Dia.
Clarice está se arrumando, Alfredo entra.
ALFREDO
Eu preciso encontrar um eletricista, a Liz ficou preocupada com as instalações.
CLARICE
(se olhando no espelho) As instalações estão perfeitas.
ALFREDO
Depois de ontem, tenho as minhas dúvidas.
Clarice se vira, encara Alfredo, sorri.
CLARICE
Eu coloquei fogo no corredor, meu amor.
ALFREDO
(incrédulo) Por que você fez isso?
CLARICE
Para me vingar da Liz, já estou farta dela.
ALFREDO
Você ficou louca? A Liz quase pulou da janela, poderia ter acontecido uma tragédia!
CLARICE
Não tenho tanta sorte assim, Alfredo, seria perfeito se essa lambisgoia morresse.
Clarice sai, Alfredo não gosta da atitude de Clarice, fica pensativo.
Cena 2/Ext./Praça/Dia.
Fábio está caminhando, Juliana se aproxima, sorri.
JULIANA
Oi, Fábio, bom dia! Tudo bem?
FÁBIO
Bom dia, To bem e você?
JULIANA
Bem também. (sem graça) Foi bom te ver aqui, hoje eu vou almoçar naquele restaurante perto da escola, e gostaria de saber se você quer ir comigo, não quero ir sozinha.
FÁBIO
(coça a cabeça) Não sei não, Juliana, aquele restaurante é cheio de frescura, não é pra mim.
JULIANA
(ri) Para com isso, o restaurante é público, entra quem quiser.
FÁBIO
O povão não entra.
JULIANA
(sorri) Eu estou te convidando, você só vai ter o trabalho de ir comigo.
FÁBIO
Não é trabalho nenhum, e se eu for, eu que pago a conta.
JULIANA
Você e seu orgulho.
FÁBIO
É, e vou morrer assim.
JULIANA
Você vai almoçar comigo?
FÁBIO
(pensativo) Ta bom, eu vou.
JULIANA
(sorri) Obrigada, te espero lá ao meio dia.
FÁBIO
Tudo bem.
Juliana sai, Fábio fica pensativo.
Cena 3/Int./Casa de José/Sala/Dia.
Lúcia está sentada, lendo uma revista, José e Amanda se aproximam discutindo.
AMANDA
(nervosa) Por favor, pai!
JOSÉ
Amanda, eu já falei que não!
AMANDA
Mas você deixa o Gabriel dormir fora! Por que eu não posso?
JOSÉ
Porque o seu irmão, não vai aparecer grávido aqui!
LÚCIA
Ei! O que tá acontecendo aqui?
AMANDA
(irritada) Eu quero dormir na casa da minha amiga, mas o papai não deixa!
JOSÉ
E eu sou bobo? Tenho certeza que o seu namorado vai aparecer lá.
AMANDA
Não vai!
LÚCIA
Vocês querem parar com isso.
AMANDA
Pede para o papai deixar eu ir, mãe.
LÚCIA
Não, filha, dessa vez ele tem razão, é melhor você dormir aqui mesmo, deixo você ir na casa dela, mas volta hoje mesmo.
JOSÉ
E com hora marcadinha para voltar.
AMANDA
(tom alto) Mas que droga! Não posso fazer nada!
Amanda sai bate a porta, José ri.
JOSÉ
Adoro quando a gente vence.
Lúcia se levanta, se aproxima de José.
LÚCIA
A gente não venceu, você sabe que quanto mais você proibir a nossa filha de se encontrar com o namorado dela, mais ela vai querer ver ele.
JOSÉ
Sério?
LÚCIA
Claro que sim, não sabe que o proibido é mais gostoso? Então.
Isadora se aproxima lixando as unhas, José cruza os braços.
JOSÉ
Já arrumou emprego, Isadora?
ISADORA
No fim de semana? Não dá né, tenho que esperar até amanhã.
JOSÉ
Acho bom.
ISADORA
Deixa de ser chato, José.
JOSÉ
Chato não, aqui eu sou responsável pela minha mulher, e meus filhos. Agregados como o Ivan e o Nicolas, pagam as contas, comida, essas coisas, e você tá no mesmo barco.
ISADORA
Arruma alguma coisa pra mim lá na fábrica.
JOSÉ
E eu ainda tenho que arrumar uma vaga pra você? Posso saber de que?
ISADORA
(pensativa, sorri empolgada) Já sei! Posso ser secretária!
JOSÉ
(ri) É uma mulher que é a chefe, não é um homem não, então cruzar as pernas, e usar decote não vai dar certo pra você arrumar a vaga.
Lúcia dá um tapa em José, o repreendendo.
JOSÉ
(mão no braço) Ai! Que foi?
ISADORA
Pode deixar, Lúcia, vou provar pra esse ai que consigo um emprego usando o meu “célebro”.
Lúcia e José se olham duvidosos.
JOSÉ
(resmunga) Vai ser difícil hein.
Cena 4/Int./Apartamento de Eduarda/Sala/Dia.
Liz e Kira entram, Eduarda abraça Liz.
EDUARDA
(sorri) Que surpresa boa!
LIZ
Desculpa vir sem avisar, mas eu estava passando aqui perto, e quis te chamar para dar uma volta conosco.
Eduarda não gosta de ver Kira, disfarça.
KIRA
(sorri) Oi Duda.
EDUARDA
Oi.
Patrícia se aproxima.
PATRÍCIA
Tô indo na casa da minha prima.
EDUARDA
Ei, não vai cumprimentar ninguém não?
PATRÍCIA
(revira os olhos) Estou de saída e a visita não é pra mim.
Patrícia sai, Kira ri.
KIRA
Amei essa garota, tem personalidade.
EDUARDA
(brava) Isso se chama: Rebeldia. Desde quando me separei do César, que a minha filha me vê como a pior pessoa do mundo.
LIZ
Sinto muito, Eduarda.
KIRA
Vem com a gente, pelo jeito você precisa, está tão pálida, cara de cansada...
EDUARDA
(séria) É impressão sua, estou ótima.
LIZ
Vem, Eduarda, eu vou adorar ter você conosco, nós três, as amigas reunidas novamente.
EDUARDA
(sorri para Liz) Por você eu vou, Liz, vou pegar a minha bolsa, não demoro.
Eduarda vai para o quarto.
LIZ
(para Kira) Por que a Eduarda te trata assim?
KIRA
(cínica) Sabe que eu não sei.
Cena 5/Ext./Mais Tarde/Rua/ Em frente ao restaurante/Dia.
Juliana está esperando Fábio, Otaviano se aproxima.
OTAVIANO
Oi, Juliana.
JULIANA
Oi.
OTAVIANO
Vai almoçar aí hoje?
JULIANA
(incomodada) Vou.
OTAVIANO
(sorri) Então vamos almoçar juntos.
JULIANA
Estou esperando um amigo.
OTAVIANO
Quem?
Fábio se aproxima, Juliana sorri.
FÁBIO
(para Juliana) Você ainda quer comer nesse lugar de fresco?
JULIANA
(ri) Quero.
Otaviano fica sério, com raiva.
OTAVIANO
Esse aí é o amigo que você estava esperando?
JULIANA
É sim, agora nos dá licença.
OTAVIANO
Vai passar vergonha, professora. Ele não sabe escrever nem o nome direito, quem dirá pegar os talheres.
FÁBIO
(raiva) Não me provoca! Ou derrubo essa sua crista.
JULIANA
Vamos entrar, Fábio.
Juliana e Fábio entram no restaurante, Otaviano fica com raiva, pensativo.
OTAVIANO
(a si mesmo) Você já atravessou muito no meu caminho, Fábio. Isso não vai ficar assim.
Cena 6/Int./restaurante/Dia.
Fábio e Juliana se sentam em uma das mesas, Fábio está incomodado.
JULIANA
Você não gosta mesmo daqui, não é?
FÁBIO
Eu nunca entrei aqui, nunca me deu vontade.
JULIANA
Quando você provar a comida, não vai querer parar de vir.
Liz, Eduarda e Kira, entram no restaurante, Kira vê Fábio e Juliana, sorri maldosa, olha qual das mesas perto da deles está disponível.
KIRA
(aponta discretamente) Vamos nos sentar ali.
Kira, Liz e Eduarda, se sentam em uma mesa de frente a mesa de Fábio e Juliana.
LIZ
(saudosa) A última vez que vim aqui estava com Mauricio, e meu pai.
KIRA
Vocês eram muito unidos, imagino o quanto é doloroso tudo isso.
LIZ
Antes era e muito, mas hoje em dia, eu tenho lembranças boas, e isso ajuda preencher o vazio.
EDUARDA
Isso mesmo, Liz.
Mesa de Fábio e Juliana. Fábio está olhando o cardápio, se espanta ao ver um dos valores.
FÁBIO
(tom alto) Ta de brincadeira, com esse preço, eu quero levar no mínimo o prato pra casa.
Liz reconhece a voz de Fábio, olha para a frente, o vê, disfarça, Kira, percebe.
KIRA
O que foi, Liz?
LIZ
O quê?
KIRA
Você ficou surpresa de repente.
LIZ
Impressão sua.
Kira olha Fábio, sorri.
KIRA
Liz, aquele não é o seu empregado?
LIZ
Ele não é meu empregado, ele trabalha na tecelagem.
KIRA
Da na mesma.
EDUARDA
Ai gente, o que tem demais ele estar aqui?
LIZ
Nada.
KIRA
Está tão perto, e ele nem nos viu, vamos dar um oi.
LIZ
Não! Ele está acompanhado, não está vendo?
Eduarda olha Juliana.
EDUARDA
Eu conheço ela, é professora na escola da Patrícia, mas eles são amigos, sei porque ela me falou.
LIZ
Amigos ou não, não vamos falar com eles, e vamos manter o foco aqui, que é melhor.
KIRA
(sorri) Por que ficou incomodada?
LIZ
(nervosa, tom alto) Eu não estou incomodada!
Fábio ouve a voz de Liz, olha para a frente, a vê, disfarça, volta a olhar o menu.
LIZ
(para Kira, tom baixo) Tá vendo o que você fez? Agora vai ficar um clima estranho, eu quero mudar de mesa.
EDUARDA
Aqui está tão bom, Liz.
Liz e Fábio se olham, disfarçam, Juliana percebe algo.
JULIANA
Está tudo bem?
FÁBIO
Tá.
JULIANA
Já escolheu?
FÁBIO
Não, escolhe você, não sendo mato, como qualquer coisa.
JULIANA
(sorri) Está bem.
O garçom serve vinho para Liz, Kira e Eduarda.
KIRA
(ao garçom) Por favor, leve uma garrafa de vinho para ao casal que está sentado aqui em frente, diga que é um presente nosso.
O garçom sai, Liz fica inconformada, Eduarda percebe que Kira quer provocar Liz.
LIZ
Kira, por que você fez isso?
KIRA
Ele salvou a sua vida, Liz, é o mínimo que posso fazer.
O garçom leva o vinho para Juliana e Fábio.
GARÇOM
Com licença, as senhoritas da mesa em frente mandaram esse vinho para vocês.
Liz fica com vergonha, Juliana olha ambas, Kira sorri para Juliana.
JULIANA
Obrigada.
FÁBIO
(estranha) Por que mandaram isso pra cá?
JULIANA
Não faço a menor ideia, mas conheço uma delas, a Eduarda.
FÁBIO
Eu conheço as três, mas não tem porque mandar presentinho.
JULIANA
As outras quem são?
FÁBIO
Uma tem um nome esquisito (pensativo), Kira, a outra (tom carinhoso) é a Liz, dona da fábrica.
Juliana observa Fábio.
JULIANA
Sei, a tal madame que tanto você fala.
FÁBIO
Ela mesma.
Mesa de Liz.
EDUARDA
A Patrícia quer morar com o César, mas eu não quero, ele nunca soube cuidar dela.
KIRA
Se ela quer, que mal tem?
EDUARDA
Você não conhece o meu ex marido, se bem que se conhecer, vão se dar muito bem.
LIZ
Por que você acha isso?
EDUARDA
Melhor deixar pra lá.
KIRA
Eu quero saber, porque você me julga mal?
EDUARDA
(encara Kira) Você sabe.
KIRA
(sorri cínica, disfarça) Juro que não.
LIZ
Fala, Eduarda, assim vocês podem esclarecer as coisas.
EDUARDA
(pensativa) Tudo bem, vou falar... Eu vi a Kira se agarrando com alguém.
Kira fica séria, com receio.
LIZ
Com quem?
Eduarda encara Kira.
EDUARDA
Com um rapaz que eu gostava muito, e ela sabia.
Kira sorri aliviada, ri.
KIRA
Que besteira, Duda. Se eu soubesse não tinha ficado com ele.
LIZ
Brigar por causa de homem é horrível, a Kira não fez sozinha.
KIRA
É, não fiz sozinha. (sorri).
Eduarda se levanta.
EDUARDA
Com licença, vou ao toilette (banheiro).
Eduarda sai, Liz olha discretamente Fábio e Juliana, disfarça.
KIRA
Você não vai cumprimentar o Fábio?
LIZ
Pra que? Nem amigo nós somos.
KIRA
Exatamente para fazer amizade, eu gostei muito dele.
LIZ
Agora não é o momento.
Fábio olha Liz, Juliana percebe, não gosta, disfarça.
JULIANA
Você deveria ir falar com a tal Liz, não tira o olho dela.
FÁBIO
Eu? Que é isso, eu to é olhando o lugar.
JULIANA
O lugar onde ela está.
FÁBIO
(tom alto, sem perceber) É ruim hein, pra que vou olhar a madame?
Liz ouve, fica irritada.
LIZ
(tom alto) Kira, avisa para o (sarcástica) cavalheiro, que está a nossa frente, que aqui não é uma feira, para ele falar baixo, por favor.
Fábio ouve, sorri incomodado.
FÁBIO
(tom alto) Juliana, avisa pra madame, que ela não manda aqui não, que falo alto o quanto quiser.
LIZ
(tom alto) É falta de educação incomodar as pessoas por ser um grosseiro.
Fábio se levanta, olha Liz, que se levanta, encara Fábio.
FÁBIO
Já ouviu falar que os incomodados que se mudem.
LIZ
(mão na cintura) Digo o mesmo.
FÁBIO
Então senta aí quietinha, na sua, que eu fico na minha.
LIZ
(inconformada) Mas é muito atrevido mesmo! Acha que pode falar assim comigo?
As pessoas começam a prestar atenção na discussão, Eduarda se aproxima, observa, sem entender, Kira sorri maldosa, Juliana, se levanta, se aproxima de Fábio.
JULIANA
É melhor a gente se sentar em outro lugar.
LIZ
Isso, leva esse machão das cavernas para bem longe de mim.
FÁBIO
(ri irritado) Mas é muito nojenta mesmo.
Liz fica com raiva, se aproxima de Fábio, se encaram, Liz aponta o dedo no rosto de Fábio.
LIZ
Escuta aqui/
Fábio segura a mão de Liz, eles se encaram ofegantes, ao mesmo tempo baixando a guarda, quase se beijando, Kira se levanta com ciúmes, Eduarda observa na torcida, Juliana percebe o clima, fica chateada.
Fim do Capítulo
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