Marcelo Delpkin
Todos os direitos reservados.
Cena 1/Int./Casa de Alex/Sala/Noite.
Clarice e Alex estão se encarando.
ALEX
(ri debochando) Se vira, não vou te ajudar em nada, foi você que roubou aquele bando de analfabeto.
Clarice vai dar um tapa no rosto de Alex, que consegue segurar a mão dela antes dela bater.
ALEX
Se você fizer isso, vai levar de volta.
CLARICE
(nervosa) Tira essas mãos imundas de mim!
ALEX
Eu já mandei você sair da minha casa, não me traga mais problemas!
CLARICE
Mas você/
Alex pega Clarice pelo braço, a leva até a porta.
ALEX
Tchau, Clarice!
Alex empurra Clarice para fora, fecha a porta.
Cena 2/Int./Mansão Camargo/Suíte de Liz/Noite.
Liz está dormindo, está agitada por causa de seu sonho, onde ela e seu marido estão caminhando felizes, em um clima romântico. De repente, Liz e Maurício veem a fábrica pegando fogo, Liz se desespera e diz desesperada que seu pai está lá dentro, Maurício diz que vai atrás dele, Liz tenta impedir, mas Maurício entra na fábrica, que é consumida pelas chamas. Liz acorda assustada, e se senta rapidamente na cama, está confusa, olha em volta, leva a mão até a testa, se acalmando, se levanta, veste o seu roupão, sai da suíte.
Cena 3/Int./Mansão Camargo/Cozinha/Noite.
Liz entra, acende a luz, assustando Denise. Liz se assusta ao ver Denise, coloca a mão no peito.
LIZ
Denise! O que você está fazendo aqui, nessa escuridão?
DENISE
(tom baixo) Fala baixo, Liz, por favor.
LIZ
(se recuperando do susto) O que está acontecendo?
DENISE
(sorri) Eu vou no pagode dos meus amigos.
LIZ
(sem entender) E o que isso tem a ver com você ficar aqui no escuro?
DENISE
Nada, é que eu estava saindo, vou sair pela área de serviço, assim a minha mãe não vê.
LIZ
Entendi.
DENISE
Não conta pra ela que me viu saindo, por favor.
LIZ
Pode ficar tranquila, não vou contar, embora eu ache que você tem idade o suficiente para enfrentar ela e se impor, você é dona da sua vida.
DENISE
Eu queria ter coragem, prima, mas não tenho.... Eu já vou, quer vir comigo? A Camila, já está lá.
LIZ
Não, obrigada. Bom pagode. (sorri).
DENISE
(sorri) Obrigada. Tchau.
Denise sai tomando cuidado para não fazer barulho, Liz sorri, pega um copo de água, se senta pensativa, chateada.
Cena 4/Ext./Rua/Pagode/Noite.
José, Amanda, Lúcia, Ivan, Josivaldo, Nicolas, e Gabriel estão se divertindo no pagode, Artur se aproxima, Amanda fica feliz.
AMANDA
(para Lúcia) Artur, chegou! Vou lá falar com ele.
LÚCIA
Vai com menos empolgação, filha, seu pai está de olho.
AMANDA
(sorri) Pode deixar.
Amanda se afasta discretamente, mas corre para os braços de Artur, e o beija. José vê, fica bravo, se aproxima de Lúcia.
JOSÉ
(nervoso) Mulher! Você vai ficar aí de braços cruzados, vendo aquele menino engolir a nossa filha?
LÚCIA
Não vou ficar com os braços cruzados não, eu vou é ali pegar o churrasco, e você larga de ser teimoso! Deixa a Amanda em paz!
Lúcia se afasta, José cruza os braços, enquanto observa Amanda e Artur se beijando.
Ali perto, Camila está encostada em um muro, emburrada, Gabriel se aproxima, dá a ela um copo de cerveja.
GABRIEL
O que você tem, Camila? Desde a hora que você chegou está assim.
CAMILA
Eu preciso sair daquela casa, Gabriel. Estou cansada de viver de favor.
GABRIEL
Mas você não vive de favor, a sua mãe trabalha na casa.
CAMILA
Piorou... Pensa que é fácil ser a filha da empregada? Não é, ainda mais tendo que dividir a minha mãe com a Liz.
GABRIEL
(sorri) Isso é ciúmes, Camila.
CAMILA
(toma um pouco de cerveja) Não tenho ciúmes da Liz, mas não vejo a hora de sair da casa dela, e viver a minha vida.
GABRIEL
Eu estou incluído na sua vida?
CAMILA
(sorri) Claro que está, Gabriel, você sabe que eu te amo.
GABRIEL
Então fica calma, e vamos dançar um pouco.
CAMILA
Já vou, estou esperando a Denise chegar, ela tem vergonha de aparecer sozinha.
GABRIEL
Te espero então.
Gabriel e Camila se beijam, Gabriel volta para perto dos amigos. Lúcia está sentada em uma das mesas, vê Juliana se aproximando, sorri receptiva.
LÚCIA
(acenando, tom alto) Professora! Juliana!
Juliana olha Lúcia, sorri se aproxima.
JULIANA
Boa noite, Lúcia, como vai?
LÚCIA
Ótima, senta aqui comigo.
Juliana se senta, olha em volta procurando alguém discretamente, Lúcia toma um gole de cerveja, sorri sacana.
LÚCIA
Ele ainda não chegou.
JULIANA
Quem?
LÚCIA
(sorri) O Fábio.
JULIANA
Para com isso, Lúcia.
LÚCIA
Se você não falar que gosta dele, ele nunca vai saber, ainda mais sendo um tapado como ele é.
Fábio chega, cumprimenta os amigos.
LÚCIA
Falando no diabo... Olha ele aí, vai lá, boba, chama ele pra dançar.
JULIANA
Lúcia, eu não gosto do Fábio, ele é meu amigo, só isso, gosto muito da amizade que temos.
LÚCIA
Hm, sei, mas se você ficar aí esperando sentada, vai ser sempre a amiga tá.
Juliana se levanta, nervosa.
JULIANA
Com licença, hoje você está mais afiada do que de costume, eu vim para me divertir e não discutir.
Juliana se afasta, Lúcia sorri balançando a cabeça.
LÚCIA
A gente fala por bem, e ainda sai como errada.
Cena 5/Int./Casa de Alex/Quarto/Noite.
Alex está de frente para a janela, fumando um charuto, Ângela o abraça por trás.
ANGELA
O que está te deixando pensativo assim?
ALEX
Liz. Eu preciso encontrar um jeito de tirar ela do meu caminho.
ANGELA
Alex, eu não entendo, isso já está virando obsessão, desde quando a Liz chegou que você está inquieto.
ALEX
Ela veio para tirar o que é meu.
ANGELA
Até onde eu sei, a tecelagem é dela.
Alex se afasta de Ângela, apaga o charuto.
ALEX
(Irritado)Eu administro tudo, ela não vai levar a glória!
ANGELA
Alex... Não é só isso (pensativa), tem mais coisa por trás disso, e você não quer me falar.
ALEX
(sério) Você é inteligente mesmo, Ângela... Tem algo sim.
ANGELA
(curiosa) O que é?
ALEX
Já está tarde, é melhor você ir. Eu te levo.
Alex sai, Ângela fica pensativa.
Cena 6/Int./Mansão Camargo/Cozinha/Noite.
Liz está sentada, pensativa. Marta entra, estranha ao ver Liz.
MARTA
Liz, aconteceu alguma coisa?
LIZ
Insônia, Marta. Não consigo dormir de jeito nenhum, meus pesadelos não deixam.
Marta se senta de frente para Liz.
MARTA
Se você não consegue dormir, como tem pesadelo?
LIZ
Acordada mesmo, minhas lembranças são os pesadelos.
MARTA
Sinto muito, você quer alguma coisa?
LIZ
Não, eu desci já tem um tempo, e não estou com vontade de voltar para o quarto, e você? O que veio fazer aqui?
MARTA
Eu vim deixar a porta aberta para a Denise, ela sempre entra pelos fundos.
LIZ
(sorri) Ela sempre sai escondida feito uma adolescente?
MARTA
Sempre, a mãe dela é terrível, não pode nem sonhar que a Denise foi para o tal pagode.
LIZ
A Clarice deve estar me odiando, mas não me importo, o que ela fez foi um absurdo.
MARTA
Ela sempre faz absurdos, e você vai ver. (se levanta) Eu vou abrir a porta, e voltar para meu quarto, qualquer coisa, me chama.
LIZ
Obrigada.
Marta sai, Liz fica pensativa.
Cena 7/Ext./Rua/Pagode/Noite.
Denise e Josivaldo estão dançando animados, se beijam.
JOSIVALDO
Eu tava com saudade já, você demora para me ver.
DENISE
Desculpa, meu amor, é que aconteceram algumas coisas em casa, ainda mais com a chegada da minha prima.
JOSIVALDO
Que prima?
DENISE
(pensativa) A minha ué, vamos mudar de assunto.
JOSIVALDO
Por quê?
DENISE
Porque sim, meu amor, vamos dançar.
Camila se aproxima.
CAMILA
Desculpa atrapalhar vocês. (para Denise) Hoje a gente não pode demorar.
DENISE
Tudo bem, daqui a pouco vamos embora.
CAMILA
A minha mãe me mandou uma mensagem e falou que se você ver a luz da cozinha acesa, é para não se preocupar, é a Liz que está lá.
Camila sai, Josivaldo encara Denise, surpreso.
JOSIVALDO
A Liz que a Camila falou é a mesma Liz que é a dona da fábrica?
DENISE
(com medo da reação de Josivaldo) Sim.
JOSIVALDO
E o que ela ta fazendo na sua casa?
DENISE
Ela é minha prima.
Josivaldo fica surpreso, espantado.
JOSIVALDO
Então você mora naquela mansão?
DENISE
Moro, mas a mansão é dela, meu amor.
JOSIVALDO
Por que você me disse que morava naquela casinha da praça?
DENISE
Porque eu não queria que você gostasse de mim pelo o que eu tenho, que nem é nada, como falei, tudo é da Liz, mesmo assim por eu morar na mansão, fiquei com medo que você se aproximasse por interesse.
JOSIVALDO
Agora você me magoou, eu não sou disso.
DENISE
Eu não sabia, e fiquei com medo, porque gostei de você logo de cara, me desculpa.
JOSIVALDO
(sorri) Gostou de mim de cara é?
DENISE
(sorri) Sim, e muito.
JOSIVALDO
Então depois a gente conversa, porque agora eu quero outra coisa.
Josivaldo e Denise se beijam.
Fábio está sentado, comendo, Juliana se aproxima, sorri tímida.
JULIANA
Boa noite, tudo bem?
FÁBIO
Oi! Tudo bem e você?
JULIANA
Bem.
FÁBIO
Senta aí.
Juliana se senta.
JULIANA
Eu soube o que aconteceu hoje, e fico feliz que tudo tenha terminado bem.
FÁBIO
A gente também, não ia ser nada fácil conseguir outro emprego.
JULIANA
E ai? Já decidiu se vai ou não voltar a estudar?
FÁBIO
Não tenho tempo, e nem idade.
JULIANA
Não existe idade para aprender, e tempo a gente arruma, é só querer.
FÁBIO
(sorri) Você está certa, como sempre.
JULIANA
Então, é só me falar quando, e a gente começa as aulas.
FÁBIO
Eu não quero agora.
JULIANA
E vai querer quando?
FÁBIO
Não sei, qualquer dia, e pode ficar tranquila, você vai ser a primeira a saber.
Juliana sorri.
Cena 8/Int./Dia Seguinte: Mansão Camargo/Sala de Jantar/Dia.
Clarice, Denise, Alfredo estão tomando café, Liz entra, se senta.
LIZ
Bom dia.
DENISE
(sorri) Bom dia, Liz.
CLARICE
Liz, eu preciso falar com você.
LIZ
Agora vou tomar café.
CLARICE
É sobre o dinheiro.
LIZ
Já conseguiu tudo?
CLARICE
Não e nem vou, é uma quantia muito grande para pouco tempo.
LIZ
(sorri) Clarice, eu não vou te dar mais tempo, agora você tem 2 dias, até segunda-feira o dinheiro tem que estar nas minhas mãos.
ALFREDO
Acho melhor um mês, Liz, daí vamos conseguir toda a quantia.
LIZ
Vamos por quê? Não te pedi nada, quem tem que devolver é a Clarice.
CLARICE
(nervosa) Mas não tenho como arrumar tudo isso!
LIZ
Eu sei que você tem muitas joias, pega algumas e venda, assim você vai ter o dinheiro no prazo certo.
Clarice fica inconformada, Denise ri, disfarça.
CLARICE
Eu não vou vender as minhas joias!
LIZ
Pensa bem, tia. Na cadeia você não vai precisar delas. Com licença.
Liz se levanta, sai.
ALFREDO
Até que não é má ideia, Clarice.
CLARICE
(raiva) Cala a boca! A ideia é péssima!
DENISE
Mamãe, ou você vende as joias, ou vai passar a maior vergonha quando for presa.
Clarice encara Denise, que disfarça.
Cena 9/Ext./Mercadinho/Dia.
Fábio entra.
FÁBIO
Bom dia, dona Manuela.
MANUELA
Bom dia, acordou cedo em pleno sábado?
FÁBIO
É o costume.
MANUELA
O café já está pronto, pode ir na cozinha.
Fábio vê Liz saindo da mansão, a observa, Manuela olha na mesma direção que Fábio, sorri.
MANUELA
Aquela é a Liz?
FÁBIO
É, como você sabe?
MANUELA
Pela sua cara de bobo. (ri).
FÁBIO
(ri imitando Manuela) Para com isso, dona Manuela.
MANUELA
Vai dar bom dia pra ela.
FÁBIO
Eu não, a madame aí é capaz de fingir que nem me conhece.
Liz vem se aproximando do mercadinho.
MANUELA
Comigo é que ela não deve estar vindo falar.
Liz entra, olha Fábio.
LIZ
Ainda bem que te vi ai, preciso que você chame o grupo de funcionários que se envolveram na confusão de ontem.
FÁBIO
Bom dia, eu to bem e você? E ah! Hoje é sábado madame, a gente trabalha até sexta.
LIZ
E quem disse que vão trabalhar? Eu quero conversar com vocês, vai ser rápido, espero vocês no pátio.
FÁBIO
Acho que a madame não entendeu, eu não moro com eles não, eu moro aqui em cima do mercadinho, e eles na casa deles, e é cedo, devem estar dormindo.
LIZ
Acorde eles, o assunto é de interesse de todos, não quero esperar até segunda. Espero vocês lá em meia hora.
Liz sai, Fábio cruza os braços inconformado.
FÁBIO
Essa é boa, a madame chega e acha que pode mandar assim?
MANUELA
(ri) É melhor você correr pra chamar os outros.
FÁBIO
Vo te contar, é cada uma que me acontece.
Fábio sai, Manuela ri se divertindo.
Cena 10/Int./Casa de José/Cozinha/Dia.
José, Lúcia, Ivan, Nicolas, Amanda, Gabriel, estão tomando café.
AMANDA
Mãe, hoje vou almoçar na casa da minha amiga.
GABRIEL
(ri) Amanda, ninguém mais cai nessa, você vai almoçar com o Artur.
AMANDA
Cala a boca!
JOSÉ
Ei, não vai começar a briga.
LÚCIA
Mesmo porque ela falou comigo né.
Isadora entra. Todos, menos Lúcia, estranham a presença dela, que está sonolenta, se senta, boceja.
ISADORA
Bom dia.
Ivan e Nicolas admirando a beleza de Isadora, sorriem.
IVAN e NICOLAS
Bom dia!
JOSÉ
Que é isso? Isadora, você estava dormindo aqui em casa?
ISADORA
Estava sim, a Lúcia me deu uma chave.
LÚCIA
Qual problema? A minha irmã precisava de um lugar para ficar.
JOSÉ
Lugar pra ficar? Que história é essa?
ISADORA
Vou te explicar, cunha, acontece que eu terminei com o meu namorado, e não tenho onde ficar, e pedi para a Lúcia me deixar ficar aqui, e ela deixou.
JOSÉ
(inconformado) Nem pensar! Aqui não é albergue não, é mais uma boca pra sustentar!
LÚCIA
Se eu deixei seus amigos moraram aqui, você pode perfeitamente deixar a minha irmã ficar aqui também, ou não?
GABRIEL
(ri) É verdade, pai, não custa nada deixar a tia Isadora, ficar.
JOSÉ
Custa sim, Ivan e o Nicolas, não tão aqui de graça não, eles dividem a despesa.
IVAN
Deixa a moça ficar, José.
NICOLAS
Coitadinha, deve estar tão deprimida por causa do namoro.
ISADORA
(sorri) Tô nada, a fila anda, amigo.
AMANDA
Penso igual, tia.
JOSÉ
Ai, olha o exemplo que a Isadora dá.
ISADORA
Eu vou poder ficar aqui, ou não?
JOSÉ
Não!
LÚCIA
Vai sim, Isadora, pode ficar o tempo que quiser.
Isadora fica feliz, a campainha toca, José se levanta.
JOSÉ
Se ficar, vai ter que arrumar emprego, e ajudar nas despesas.
Cena 11/Ext./Casa de José/Entrada/Dia.
Fábio está esperando alguém sair, José sai, se aproxima.
JOSÉ
(receptivo) Caiu da cama, Fábio?
FÁBIO
Não consigo acordar mais tarde.
JOSÉ
Aqui hoje o pessoal levantou cedo também, vem vamos entrar e tomar café.
FÁBIO
Não, obrigado, eu vim chamar você, o Ivan e o Nicolas, porque a madame quer falar com a gente na fábrica.
JOSÉ
Hoje?
FÁBIO
Agora. Ela disse que não pode esperar até segunda.
JOSÉ
Faze o que? Vou chamar eles então.
FÁBIO
Tá bom, vou chamar o Josivaldo.
Fábio sai, José entra, Otaviano que estava ouvindo a conversa, fica pensativo.
Cena 12/Int./Casa de Alex/Sala/Dia.
Alex abre a porta, Otaviano entra.
ALEX
Você tem noção de horário?
OTAVIANO
Desculpa, mas é importante.
ALEX
É bom que seja.
OTAVIANO
Fábio e José estavam conversando, a Liz chamou eles e os outros agora na fábrica.
ALEX
Para quê?
OTAVIANO
Não sei, ela quer conversar com eles, e não quer esperar até segunda.
ALEX
(nervoso) E não me chamou!
OTAVIANO
Quer que eu tente ouvir a conversa?
ALEX
Você não vai tentar, você vai ouvir e me dizer o que era. Liz não vai agir pelas minhas costas. (pensativo/raiva).
Fim do Capítulo.
0 comentários: