0:00 min       RAÍZA 2ª TEMPORADA     SÉRIE
0:35:00 min    


WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA 2


Série de
Cristina Ravela

Episódio 11 de 23
"Retrocesso"



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FADE IN
Takes da cidade do Rio de Janeiro de manhã.

CENA 1 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]
Vemos pneus de um táxi parar em nossa frente. Imediatamente, a porta se abre, pés femininos calçando botas de cano curto saem de dentro dele, bate a porta e o táxi arranca.
A câmera acompanha os passos pela calçada, sobe por suas costas e mostra que é uma moça de cabelos longos e castanhos. Algumas pessoas que passam por ela a olham com desprezo, outras com medo apressam o passo e desviam seus filhos dela.
Um portão é aberto e quando um senhor sai, volta rapidamente e bate a porta na cara da moça.
Ouvimos uma discussão. A moça para. Câmera aproxima do rosto dela e vemos que se trata de ARI.
VOZ MASCULINA: Você não sabe de nada, seu moleque! Para de dar uma de grande gênio e vá trabalhar!
O portão é aberto e o garoto, LIPE SOARES, é empurrado para fora caindo na calçada com uma pequena caixa de bala. Ele é um garoto moreno claro, magro e olhar esperto. Começa a arrumar as balas sob o ponto de vista de Ari.
Lipe percebe a aproximação, levanta, derruba a caixa no chão com medo e corre.
ARI: EI! EI!
= = Music ON – Suspense = =
Ari vai atrás dele, o garoto se aproxima da transversal e um caminhão vem no sentido contrário.
ARI: CUIDADO!
Ouvimos o freio do veículo raspar o asfalto. Ari se joga no garoto e ambos caem do outro lado da calçada.
ARI (ofegante): Tudo bem, contigo?
Lipe a encara estranhamente.
LIPE: Pra quê você voltou?
Clima. A tela se fecha na expressão confusa dela.
= = Music Off = =


2x11RETROCESSO

FADE IN
CENA 2 PADARIA [INT. / MANHÃ]
Ari e o garoto Lipe estão sentados a uma mesa. Apenas ele come pão e toma café como esfomeado. Ari observa.
ARI: Eu sem querer ouvi a discussão. Você não estuda?
Lipe a olha por cima de forma medonha.
LIPE: Não (volta a comer).
Ari se mostra sem jeito com crianças. Pelo seu ponto de vista vemos marcas de agressão em seu braço.
ARI: Essas marcas...Bateram em você?
O garoto passa a mão no braço, pensativo.
LIPE: Eu não consegui vender tantas balas ontem...
Notamos que o garoto, ora se comporta como criança, ora como adulto.
ARI: Seu pai te bateu por isso? Pais não devem bater nos filhos.
O garoto fixa os olhos nela e parece estar em outra dimensão.
LIPE: Por que o espanto? Você matou um homem.
Ari paralisa.
ARI: O quê? Ma-mas quem te contou isso?
LIPE: Eu sei. Você é ruim.
Ele se retira.
ARI: Não! (ela se levanta e vai atrás) Isso é passado (ela tenta tocá-lo, mas ele é arredio) Eu mudei, juro.
Lipe se volta e a encara.
LIPE: Jurar todo mundo jura. Meu pai vive jurando que vai parar de beber.
Ari se agacha diante dele.
ARI: Lipe, todo mundo erra e todo mundo merece uma segunda chance. Eu não? (Lipe nada diz) E como você se lembra de mim se você só deve ter uns 8 anos?
LIPE: Não sei. Eu lembro e pronto.
ARI: Olha...
LIPE: Tenho que ir.
O garoto vai embora deixando Ari sem reação.
FADE OUT
FADE IN
CENA 3 FACHADA – CURTO-CIRCUITO [MANHÃ]
A casa de shows tem 3 andares, detalhes vermelhos, boa parte ladrilhada e paredes brancas. O logotipo “CURTO-CIRCUITO” está em tom vermelho. Três degraus levam à entrada.
Corta para seu interior
Um segurança passa pela tela. Há uma parede espelhada de frente e a câmera segue à esquerda. Vemos o caixa ao lado, pilastras brancas nos dois cantos, caixas de som espalhadas no 2º piso, bar mais a frente e chão de lajotas grandes e cinza claro.
RAÍZA (O.S): A inauguração é daqui a duas semanas, né? Ansioso?
CAEL (O.S): Como nunca. (A cena mostra os dois sentados e abraçados no degrau que leva ao palco) Espero que dê tudo certo.
Bate um silêncio.
CAEL: É impressão minha ou você tem ficado mais tempo fora de casa?
Raíza afasta a mão dele, apoia os cotovelos sobre seus joelhos e passa as mãos pelos cabelos, chateada.
RAÍZA: Aquilo nem é mais minha casa. Virou ponto do Marco.
CAEL: Não entendo por que seu pai não dá um basta nisso. Medo dele parar de bancar o tratamento do seu primo? Eu poderia fazer isso.
RAÍZA: O problema é meu tio. Não quer ficar devendo a você por achar que você faria isso só por mim.
CAEL: E o Marco faz isso por quem?
DRº BEDLIN (O.S): Cheguei em má hora?
Cael se surpreende, feliz.
CAEL: Pai!
Ele se levanta e o abraça.
CAEL: Disse que só chegaria semana que vem.
DRº BEDLIN: (faz graça) Odeio hora marcada. E você, Raíza? Quanto tempo! Tem salvado muitas vidas?
A garota se porta sem graça e é envolvida pelo abraço do sogro. Cael sorri para ela.
CORTA PARA
CENA 4 APTº 403 – SALA [INT./FIM DA MANHÃ]
Bruno e Marco estão sentados, cada um em uma ponta do sofá. João está logo atrás observando os dois que mal se encaram.
Josué sai da cozinha com uma toalha sobre o ombro.
JOSUÉ: Vamos almoçar?
Bruno olha o relógio no pulso.
BRUNO: Você não acha que deveríamos esperar pela Ari e pela Raíza?
JOSUÉ: Temos visitas e já passa de meio-dia. Vocês não querem chegar atrasados ao trabalho, né?
Bruno faz cara feia e encara Marco.
BRUNO: Desculpe perguntar, Marco, mas...Seu apartamento tá em reformas?
Marco finge não entender.
MARCO: Deveria estar?
Ouvimos barulho de chaves e a porta é aberta. Raíza, ao entrar, revira os olhos ao ver Marco. Este mostra em seu semblante um êxtase involuntário ao vê-la e é percebido por seu pai que também entra ao lado de Cael. Notamos um mal estar na expressão de Drº Bedlin ao pisar na sala.
MARCO: Pai? O que faz aqui?
DRº BEDLIN (disfarça o mal estar): Vim filar boia.
Raíza, Cael e Bruno riem. João faz cara de quem acha que o circo se formou, Josué parece indiferente e Marco faz cara de sem vergonha.
CORTA PARA
CENA 5 RUAS DA CIDADE [FIM DA MANHÃ]
O trânsito está parado no sinal vermelho. Muita movimentação de pessoas. Dois moleques tentam vender doces aos motoristas, e logo o sinal abre. Os moleques voltam para a calçada, um ônibus passa na frente da câmera e mostra Lipe sentado do outro lado, encostado ao muro.
A cena se aproxima. Ele joga pedrinhas no asfalto, triste.
ARI (O.S): Finalmente te achei, hen.
Lipe a olha, indiferente.
LIPE: Tá me perseguindo, é?
ARI (faz graça): Hmmm...Você é esperto.
Lipe se levanta, chateado, e faz que vai dar as costas.
ARI: Vai aonde agora?
LIPE: Pra um lugar longe de você.
Close na expressão sagaz de Ari.
Corte rápido
Lipe caminha pela calçada, ainda de braços cruzados e Ari o segue calmamente.
Uma mulher ao lado de uma criança vem no sentido contrário comendo um salgado. Lipe olha, nitidamente com fome e acompanha as duas no olhar. Quando olha pra trás, Ari finge estar lendo uma revista na banca.
Ele continua a andar e para na vitrine de um self-service. Ele toca o vidro com desejo de entrar.
Pelo reflexo do vidro, surge Ari de braços cruzados. Lipe vê e não gosta. Ele então se volta, cruza os braços também e vai até ela.
LIPE: Vai ficar me seguindo, é?
ARI (fingindo / faz graça): Não, imagina. É que me bateu uma fome e pensei em convidar uma pessoa pra almoçar comigo e meus amigos.
LIPE: E daí? Num ‘vô’.
ARI: E quem te disse que é você? (Lipe se porta sem graça) ‘Cê’ num disse que sou ruim e que quer ficar longe de mim? Então...
LIPE: Você é ruim sim. Prefiro morrer de fome “do que” ir na sua casa.
ARI: Uma pena, porque eu tava até pensando em te fazer o convite, sabe? Mas você nunca aceitaria mesmo.(pausa) Tchau.
Ela dá as costas e Lipe está pensativo.
LIPE: Seus amigos são assassinos também?
Ari olha pra trás e disfarça um sorriso.
CORTA PARA
CENA 6 APTº 403 – COZINHA [INT.]
Vemos a mesa posta para o almoço. Arroz com batata palha, carne seca e legumes e salada de tomate com alface e brócolis. Bruno está sentado na frente, João de frente para Marco, este ao lado do pai, Raíza entre João e Cael. Josué, diante da pia, vira-se com um jarro de suco de laranja e põe sobre a mesa. Ouvimos um barulho de porta abrindo.
BRUNO: Eu não me importava de esperar pela Ari. Ela nunca chega tarde assim.
JOSUÉ: Isso é bom pra ela aprender que aqui nessa casa tem horário.
Ari aparece da porta da cozinha nitidamente chateada.
ARI (irônica): Desculpe a demora, senhor.
Clima.
Drº Bedlin se levanta e vai até ela lhe dar um abraço.
DRº BEDLIN: Quanto tempo, menina! Como é que você tá? (cochicha) Senta logo antes que esse Josué tenha um ataque.
Ari não aguenta; Solta um tímido sorriso. Ele se afasta e a olha por alguns instantes de forma estranha. Ari se encabula.
ARI: Eu trouxe um amigo, espero que não se incomode, seu Bruno.
Lipe aparece ao lado dela olhando a todos de forma curiosa. Encara Josué com raiva deixando-o indignado.
CORTA
= = Passagem de Tempo = =
Todos estão reunidos na sala. João se incomoda com o olhar persistente de Lipe. Raíza e Cael estão sentados bem abraçados e Drº Bedlin bebe café enquanto troca algumas possíveis palavras com Marco.
Bruno está próximo ao corredor junto de Ari.
BRUNO: Quer dizer que ele sofre maus tratos? Isso é crime, tem que denunciar.
ARI: Preciso falar com o Cael, ele pode ajudar, né?
BRUNO: Eu só espero que esse garoto não fique falando do seu passado por aí, senão, você sabe...
Nossa atenção volta para Lipe que passa a encarar Josué ao notar ser encarado também.
LIPE: Você é ruim (ninguém entende). Eu não gosto de você e nem seu filho deve gostar.
Josué empalidece. Vai se aproximando do garoto em tom ameaçador.
JOSUÉ: O que foi que você disse?
Lipe se afasta, com medo e acaba esbarrando nas pernas de Marco. Em seguida, assustado, amarrota sua camisa querendo colo. Marco se mostra sem jeito com crianças e finge não entender o gesto.
Drº Bedlin faz sinal para ele segurar o menino. Todos estão surpresos.
Marco põe a xícara de café sobre a mesa e, sem vontade alguma, pega o garoto no colo. Lipe envolve os braços em seu pescoço e sorri.
Do outro lado, Ari está irada com aquela ação.
ARI (cochicha para Bruno): Mundo injusto! Ele deve ter as costas mais sujas que as minhas e o garoto o trata como se fosse da família.
VOLTA PARA MARCO
LIPE: Tio Bruno não teve a mesma sorte que o tio Cael. (espanto no semblante de Raíza e Cael) Você é um bom irmão.
Marco não entende e olha para Cael que nada diz.
Lipe apoia a cabeça sobre seu ombro e faz que irá adormecer. João ri debochado na cara de Marco que se mostra incomodado.
Ouvimos a campainha tocar. Josué vai atender, abre a porta e, Dcr entra, abismado com tanta gente.
DCR: Ahn...Oi pessoal (para Drº Bedlin) Doutor Bedlin! (cumprimenta com a mão e recebe um abraço) Quanto tempo! Como vai o senhor?
DRº BEDLIN: Bem e você, rapaz? Soube que está namorando, hen.
Dcr ri e olha estranho para o garoto no colo de Marco.
DCR (brinca): Tô tendo uma visão?
Marco não gosta nem um pouco do comentário e entrega Lipe para ele. O garoto tenta resistir, mas não consegue.
MARCO: Eu não levo jeito com crianças.
Dcr sorri sem jeito, Cael e Raíza escondem o riso.
CORTA PARA
CENA 7 QUARTO DE RAÍZA [INT.]
Ari entra no quarto, seguida por Dcr. Os dois estão rindo pela situação em que Marco foi colocado.
DCR: Eu não imaginava que uma criança fosse gostar dele.
ARI: Eu tô irada com isso, mas tive que rir também.
Ela senta na cama e ele ao seu lado.
DCR: Irada? Por quê? Aliás, quem é esse menino?
ARI: Depois eu te conto. Você parecia querer falar comigo. O que houve?
Ele olha para trás e se volta fazendo segredo.
DCR: Desde que descobri o envolvimento de Rafaela com o Marco que venho investigando sua vida. Marco tem encontro marcado quase todas as noites na Coffee Break.
Ari faz que não entende.
ARI: Muita gente tem encontro marcado lá.
DCR: É, mas...Nem todos saem com boladas de dinheiro.
ARI: Como assim? O que você sabe?
DCR: Eu tenho um amigo que fiz no tempo em que eu dava aula, contei pra ele que tava juntando uma grana pra casar, então ele me sugeriu apostar na sorte.
ARI: O que você anda aprontando, hen mocinho?
DCR: Eu, nada. Ele que chegou a dizer que eu poderia me apresentar com o nome dele, já que apenas pessoas selecionadas entram.
ARI: Quer dizer que há um cassino ali?
DCR: Pode ser, talvez. Eu não fui conferir e nem poderia.
ARI: Por que não? A gente tem que ter certeza.
DCR: É, mas a Rafaela é a mais nova funcionária do local, só que quando eu fui perguntar pra ter certeza, ninguém soube dizer quem era ela. Entende?
ARI: Ela tá trabalhando no cassino?
Close na porta entreaberta onde está João. Logo ele sai de cena.
FADE TO BLACK
FADE IN
CENA 8 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT./TARDE]
Bruno, Marco, Cael, Ari, Dcr, Raíza, Lipe e Drº Bedlin estão na calçada se despedindo. Ari segura Lipe pelo braço enquanto ele puxa a calça de Marco querendo atenção. Marco se incomoda e se afasta discretamente.
ARI: Cael eu sei que não temos nada a ver com a vida desse garoto, mas...Ele sofre maus tratos e...Não consigo agora levá-lo embora fingindo que nada aconteceu, entende?
CAEL: Eu vou ver o que posso fazer, mas...Você não podia tê-lo trazido pra cá. Os pais podem lhe acusar de sequestro, você sabe.
ARI: E eu os acuso de maus tratos. Fim de papo.
Dcr a abraça, consentindo.
DCR: Essa é a minha garota.
Eles riem.
A cena vai para Drº Bedlin que está abraçado a Raíza e conversando com Bruno.
DRº BEDLIN: Essa menina aqui vale ouro (Bruno assente) Quero te ver trabalhando com seu pai na HDM, hen?
RAÍZA (sorri): João já tá lá estagiando. Não sei se seria uma boa trabalhar com ele...
DRº BEDLIN: Ele tem mais cara de ator do que de engenheiro... (sorri para disfarçar a ironia)
Bruno não entende, mas Raíza concorda de imediato.
Marco, mãos nos bolsos da calça se aproxima sorrateiramente.
MARCO: Quer carona, Bruno?
BRUNO: Ahn...Não...Vou no meu carro (pausa) Tchau, drº Bedlin, com licença.
Bruno sai zampado e entra em seu carro.
Marco olha para Raíza e junta os lábios como se fosse mandar um beijo.
Cael chega perto, observa o descaramento do irmão em fitar sua namorada e a abraça. Dá-lhe um beijo na boca e o pai encara Marco. Este se mostra desconcertado.
CORTA PARA
CENA 9 RUAS DA CIDADE [TARDE]
Um Toyota para próximo de uma calçada onde Ari esteve de manhã. Close na porta. Ela é aberta e Cael sai dela com um papel na mão observando o local. Uma moradora está num portão prestando atenção.
Cael vai até o portão onde mora Lipe e bate palmas. Não demora muito e um homem magro, moreno, expressão ruim e mastigando um palito vem atender. Reconhecemos ser VICTOR LEME (2x08).
Victor visualiza bem Cael, sua roupa e seu carro.
VICTOR (tom de malandro): O que o bacana quer na minha humilde residência?
CAEL: Já não nos conhecemos antes?
VICTOR: Sei disso não. Diz aí o que você quer?
CAEL: Sou assistente social. Será que poderíamos conversar um instante?
VICTOR: Vai ter que ser aqui mesmo, porque não vou deixar um estranho entrar na minha casa, ok pro bacana?
Close na expressão assentida de Cael que, pelo ângulo vemos Valentina em seu carro a uma certa distância.
= = Passagem de Tempo = =
Victor se mantém encostado ao batente do portão e mastigando o palito.
VICTOR: Como eu disse pro senhor. Lipe tá na escola e a única coisa que exijo dele é tirar boas notas, só isso.
CAEL: Não é isso que fiquei sabendo. O garoto tem marcas de agressão nos braços e medo de voltar pra casa. Além do senhor e do menino, quem mais vive aí?
VICTOR: Só nós dois. Mas somos tudo da paz. Lipe deve ter se machucado na escola. Aliás, quem andou falando demais sobre ele, hen?
CAEL: Isso não vem ao caso (pausa) Obrigado pela atenção e desculpe pelo incômodo.
Cael dá as costas e Victor, desconfiado, fecha o portão.
Quando Cael abre a porta do carro, a tal moradora se aproxima, curiosa.
MULHER: Oi moço (Cael se volta) Eu sem querer ouvi a conversa. O senhor devia dar parte na polícia. O menino foi levado daqui por aquela garota.
CAEL: Aquela garota...?
A mulher fala baixo, com certo temor.
MULHER: É. A Ari...Não sei pra que voltou, mas apareceu aí logo cedo e levou o menino. Deve ser pra cometer outra loucura...
Cael se mostra em dúvida.
FADE OUT
FADE IN
CENA 10 COFFEE BREAK BAR [INT./TARDE]
Close na porta que leva à cozinha. Valentina sai por ele com um celular em mãos nitidamente agitada enquanto digita. A cena intercala entre ela e Marco no escritório.
VALENTINA (ao telefone): Marco, você que não sai mais daquele apartamento já deve saber da novidade, né?
Marco se vira em sua cadeira.
MARCO: Depende de qual novidade você descobriu.
VALENTINA (tenta falar baixo para outras funcionárias não escutarem): O menino que está com a Ari. Parece que sofre maus tratos e a garota quer defendê-lo.
MARCO (debochado): Muito comovente, não acha?
VALENTINA: Tanto que Cael se mostrou engajado a ajudá-lo, só que pro azar o dele os moradores preferem defender os pais a ficar do lado de uma louca assassina como Ari.
MARCO (irônico): Passado triste de algumas pessoas, não?
VALENTINA: E pra minha sorte, o pai do moleque é o mesmo que contratamos para dar um fim nela naquele dia.
MARCO: E pro azar da Ari ela está querendo defender o neto do homem que matou.
VALENTINA (sorri maliciosa): Espero que ela goste de um déja-vu...
A tela se fecha em seu semblante esperto.
FADE IN
CENA 11 FACHADA – MANSÃO DE CAEL [TARDE]
Corta para o interior da sala.
Cael aparece na entrada e vê seu pai sentado no sofá tomando um drink. Desce o degrau, olha ao redor e seu pai ergue o copo.
DRº BEDLIN: Chegou a minha salvação. Aceita?
CAEL: Agora não...(ele joga a chave do carro no sofá) E a minha mãe? Não veio te fazer companhia?
O pai solta um riso frouxo.
DRº BEDLIN: Ela quer distância de mim desde que saiu da Europa...
Cael senta e o pai percebe sua preocupação.
DRº BEDLIN: Como foi lá?
CAEL: Não foi (o pai faz que não entende). O pai do garoto é um malandro, lógico que mente, mas...Parece que a Ari não me contou tudo sobre ela.
Drº Bedlin toma um gole do drink, pensativo.
DRº BEDLIN: Talvez por que agora não tem mais importância. O que está em jogo é a vida desse menino.
Cael apoia o cotovelo em seus joelhos, visivelmente chateado.
CAEL: A vida de um menino cujo avô ela pode ter matado.
Logo atrás está um segurança ao lado de Ari e Raíza. As duas demonstram ter escutado.
SEGURANÇA: Seu Cael. Essas moças querem lhe falar.
Cael olha para trás com cara de tacho por imaginar ter sido ouvido e se levanta. Ele faz um sinal e dispensa o segurança.
Ari vai até ele rapidamente e nervosa.
ARI: Eu matei o avô dele?
CAEL: Isso que eu quero que você me diga. Parece que pra eles é mais grave o garoto estar com você a ser maltratado pelo pai.
Ari olha desolada para Raíza.
CORTA PARA
CENA 12 APTº 403 – SALA [INT.]
A cena de um filme de desenho animado preenche a tela. A cena se afasta e corta para Josué entregando um copo d’água para João Batista, sentado no sofá. Lipe observa aquele gesto.
LIPE (para João): Por que você mesmo não pega sua água?
João para o copo por entre seus lábios.
JOÃO: Por que não posso andar.
Ele bebe a água e Josué demonstra não gostar de ver João ter que responder aquilo.
LIPE (olhando pra tv): Meu pai um dia disse isso, mas era pra conseguir o dinheiro de um seguro.
João quase se engasga.
JOÃO: Não é o meu caso.
LIPE: Se você diz.
JOÃO (aborrecido): Tio, pega um copo d’água pra ele também, pega.
LIPE: Por que você chama ele de tio?
Josué empalidece e João não entende a pergunta.
JOÃO: Por que ele É meu tio, ué (enfatiza).
O garoto faz que vai dizer mais alguma coisa, mas Josué se movimenta rápido.
JOSUÉ: Vou pegar sua água, Lipe. (o encara com jeito ameaçador) Continue a assistir ao desenho.
Josué vai até a cozinha e Lipe fita João por baixo sem que ele perceba. Ele olha insistentemente para suas pernas e de repente, lhe chuta a canela fazendo João uma expressão de dor.
JOÃO (resmunga de dor): ‘Cê’ pirou, garoto? ‘Cê’ quer apanhar, quer?
Lipe fica acuado. Josué vem com o copo d’água sem entender a situação.
JOSUÉ: O que tá havendo aqui?
JOÃO (disfarça): Ah...É o Lipe. Ele disse que queria tomar um ar fresco lá fora.
LIPE: Eu não...
JOÃO (interrompe): Leva ele, tio.
Josué fita Lipe que o olha com raiva.
CORTA PARA
CENA 13 MANSÃO DE CAEL [EXT.]
Vemos ao longe, Cael, Ari e Raíza caminhando pelo gramado enquanto conversam.
CAEL: Já entrei em contato com meu advogado, Ari. O que a gente precisa fazer é saber se o Lipe tem mais alguém que possa ficar com a guarda dele.
ARI: Se até hoje ele viveu com o pai é porque não tem mais ninguém pra ficar com ele ou não querem assumir a responsabilidade, Cael.
CAEL: Ou talvez não saibam que tipo de pessoa é o pai do Lipe, Ari. Converse com ele, tente descobrir algum parente.
A câmera se aproxima do trio.
Ari põe as mãos na cintura, incomodada.
ARI: E se ele não souber? E se isso demorar? Lipe volta pra casa pra apanhar mais ainda?
CAEL (firme): Você tem que pensar, Ari, que se começarmos essa briga e, o garoto não tiver mais ninguém por ele, é pro orfanato que ele vai.
ARI: Raíza, e se o seu Bruno...?
CAEL: Ari, com o depoimento daqueles moradores nenhum juiz dará a guarda de uma criança para o Bruno sabendo que vai conviver com você.
Impacto em Ari.
CAEL: Desculpe, Ari, mas é que...
ARI (sentida): Eu entendi, Cael. Uma criança não pode conviver com uma assassina. Eu nem devia ter tentado ajudar um garoto que, além de tudo, só enxerga meu passado, enquanto que o Marco recebe carinhos como se fosse um cara muito bom.
Ela dá as costas. Raíza olha para Cael que faz um sinal para ela ir atrás.
CORTA PARA
CENA 14 MANSÃO DE CAEL – SALA [INT.]
Cael entra meio desolado por não ter podido ajudar. Drº Bedlin continua sentado e Lara está de pé próxima da janela.
LARA: Você realmente gosta de um perigo, não?
Cael, mãos nos bolsos, para na escada sem entender.
CAEL (impaciente): Do que está falando?
DRº BEDLIN: Sua mãe estava ouvindo sua conversa lá fora.
Cael se mostra pasmo.
LARA: Não me olhe assim. Você fala de seu irmão, mas tenta ajudar uma assassina só por que ela é amiga de sua namoradinha.
CAEL: Ela já paga caro pelo passado que tem, não queira compará-la ao Marco.
LARA (provoca): Jamais pensaria em comparar, até porque os dois são bem diferentes. Até a criança não gosta dela... E você sabe como as crianças são sensíveis, não é?
CAEL: Não vou discutir isso contigo (dá as costas).
LARA: Você tá querendo que a história se repita, é?
Cael para de costas. Drº Bedlin põe o copo sobre a mesa e se levanta. Notamos um clima estranho, algo por acontecer.
LARA: Aquela desgraça não teria acontecido se você não tivesse libertado aquela assassina só por que era amiga de sua noiva falecida. Aliás, a culpa é de vocês dois (ela aponta).
Cael se volta nervoso.
CAEL: As evidências apontavam para a inocência dela. Eu não forcei a barra!
LARA: Quem ouve você falar assim nem diz o quanto (ênfase) esforço você fez pra tirá-la da prisão.
CAEL: Você gosta de me atormentar, né? Já passaram mais de 10 anos, mas pode passar 50, eu posso morrer que você é bem capaz de ir ao meu túmulo me lembrar disso.
DRº BEDLIN: Vamos parar com isso?
LARA: E não seria o suficiente. Você parece ignorar o fato de que está cometendo o mesmo erro. Aquela garota não prestava e sua noiva também não.
Cael vai até ela alterado.
CAEL: Você fala isso de todas as namoradas que eu tive, menos da Valentina. Será que é por que vocês são iguais? Gananciosas e traidoras?
Recebe um tapa.
Drº Bedlin segura seu braço para evitar um novo confronto, mas ela ignora.
DRº BEDLIN: Pelo amor de Deus, Lara!
LARA (imponente e arrogante): A Valentina tem bom gosto, isso sim. Te traiu com o Marco porque você não sabe cuidar do que é seu. Não ficarei admirada se você perder a Raíza pra ele.
Cael vai pra cima dela, mas o pai o detém olhando-o fixo.
DRº BEDLIN: Por favor, Cael! Melhor você subir e esfriar a cabeça.
CAEL (para Lara): Eu sei que não sou seu filho preferido porque meu pai te largou (Lara segura o ódio) Eu já me sinto culpado. Não preciso que mais alguém me faça me sentir assim.
Clima. Olho no olho. Cael se solta do pai, pega a chave do carro e sai.
Drº Bedlin olha para Lara reprovando sua atitude.
CORTA PARA
CENA 15 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT./FIM DE TARDE]
Vemos adiante Ari e Raíza conversando, enquanto caminham. Ari demonstra estar bem chateada.
ARI: Eu sempre achei que ter um amigo influente fazia toda a diferença, mas tô vendo que não nasci com sorte mesmo.
RAÍZA: O problema não é o Cael e sim a falta de testemunhas, ‘cê’ sabe.
ARI: E o que você acha que pessoas em má situação com costas quentes fazem?
Raíza dá uma paradinha e toca seu ombro, puxando-a.
RAÍZA (surpresa): Você queria que ele comprasse as testemunhas? (pausa / Ari a encara demonstrando ter pensado besteira) Do jeito que aquelas pessoas falam de você o tiro ia sair pela culatra.
Ari põe as mãos na cintura, desvia o olhar e vê algo que chama sua atenção.
ARI: O que o Lipe tá fazendo ali?
Corte rápido
Lipe está sentado na calçada de frente para o edifício e olhando para o chão. Depois ele ergue a cabeça para ver alguém fora da tela.
ARI (O.S): Por que não tá lá dentro?
LIPE: Disseram que eu queria pegar ar fresco...
Raíza cruza os braços.
RAÍZA: Me parece coisa do João.
Ouvimos o barulho de carro. A sombra dele cobre o corpo de Lipe parando em seguida.
A porta é aberta e Cipriano sai dele sorrindo falsamente.
CIPRIANO: Olá meninas! (Ari revira os olhos) Não te vi no colégio hoje, Raíza. O que houve?
Ele dá um beijo no rosto de Raíza e Ari desvia na sua vez.
ARI (provoca): Não sabe?
Cipriano ignora e vê o menino Lipe o encarando. Ele se levanta vagarosamente e seu olhar é de medo.
CIPRIANO: E esse menino bonito...?(ele se agacha e faz que vai tocar seu rosto) Quem é?...
Lipe leva a mão para impedir ser tocado.
LIPE: Não encosta em mim!
Ele sai correndo apavorado.
ARI: LIPE! LIPE! VOLTA AQUI!
RAÍZA: Vai atrás dele, Ari!
CIPRIANO: O que aconteceu?
Raíza olha para ele sem entender também.
RAÍZA: Ele é um garoto muito especial...
Dcr chega por trás deles com ar sarcástico pela cena que acabou de presenciar.
DCR: Parece que o garoto se assustou contigo hen, Cipriano.
Cipriano lhe dá uma olhada rápida e mortal.
Adiante, Ari corre atrás de Lipe. Um carro preto vem de frente, para, Victor sai dele rapidamente e contém Lipe.
RAÍZA: Meu Deus...O que tá havendo ali?
Dcr fecha o sorriso sarcástico. Raíza apressa o passo, Cipriano vai junto se fingindo de preocupado e Dcr corre também.

Corta para Victor
VICTOR: Entra no carro, anda!
ARI (assustada): Não, Para! Quem é você?(ela para ao reconhecê-lo) Ai, meu Deus...

Tenta voltar, mas é tarde demais. Ele a pega pelo braço...
ARI (grita): AHH! ME SOLTA!
...E a joga no banco de trás do carro. Em seguida, Victor entra, bate a porta e acelera no momento em que Raíza chega batendo na janela.
RAÍZA: PARA! PARA!
O carro dá uma guinada e passa zampado por um Toyota que para imediatamente.
Cael sai do carro assustado.
CAEL: O que aconteceu aqui?
RAÍZA (desesperada): Um cara...O mesmo cara que agrediu a Ari na boate, lembra? (ele faz que sim) Ele acabou de levá-la. Ela e Lipe.
CAEL (pensa alto / lembra): Victor...
DCR: O que foi?
CAEL: Eu estive com ele hoje, agora tô me lembrando. É o pai do garoto. (Dcr e Raíza se entreolham, surpresos) Ele pode querer terminar o serviço.
Tensão.
CORTA PARA
CENA 16 CASA DE VICTOR [INT.]
Ari e Lipe são jogados contra uma parede e ela o abraça para protegê-lo. Há uma sombra que se projeta sobre eles. É de Victor que aponta uma arma.
VICTOR (ironiza): Que cena mais bonita...O garoto é abraçado pela assassina de seu avô(pausa) Larga dela, anda!
Lipe não obedece. Ari respira ofegante.
ARI: O que vai fazer com a gente?
VICTOR (ironiza): Vamos brincar de quebra-cabeça. Você ainda se lembra de como se brinca?( pausa / solta uma gargalhada).
Medo na cara dos dois raptados.
VICTOR: Eu vou arrumar as malas. (apontando e fazendo gestos com a arma) Fiquem quietinhos aí, hen (ri).
Assim que eles saem, Ari se levanta e olha ao redor. Não há uma janela. Ela vê Lipe amuado no canto sem reação como se aceitasse a situação.
Ari se agacha diante dele.
ARI: Não há nada que possamos fazer?
Lipe a olha de baixo. Ari olha por alto, tristonha.
ARI: Ele vai acabar comigo?
LIPE: Do mesmo jeito que você acabou com o meu avô.
Ari abaixa a cabeça.
ARI: Você só consegue ver o passado das pessoas. (o encara) Não vê que elas mudaram. Por quê? Desde quando?
LIPE: Não sei. Você faz tudo que aquele cara manda (Ari não entende) aquele que chegou de carro. (tom de desejo) Um dia ele faz com você o que você faz com os outros.
O semblante de Ari é de temor. Sabe que ele se refere a Cipriano.
CORTA PARA
CENA 17 TOYOTA [INT.]
Cael dirige o carro apreensivo. Dcr, ao seu lado, o olha de soslaio curioso.
DCR: Por que esse cara ia querer matar a Ari? Acha que tem alguém por trás disso desde aquela vez?
CAEL: Talvez...Talvez...(ele se concentra em outra coisa / olha para frente o tempo todo) Talvez houvesse um jeito de ajudar o garoto e isso não estaria acontecendo...
DCR: Mas se o cara já pensava em matar a Ari, não importava o que fosse feito. Ele já devia estar planejando algum ataque. O que a gente precisava descobrir é quem está por trás disso. ‘Cê’ não acha?
Nessa hora, Cael olha para ele sem conseguir concordar e torna a olhar pra frente.
A câmera sai do interior focando o carro verde que vem ao longe.
Corte rápido para o interior do carro verde
Cipriano dirige e Raíza, ao seu lado se mostra tensa.
RAÍZA: Ele não tem que se sentir culpado. (pausa) Tenho medo do que ele possa fazer.
CIPRIANO: Calma, Raíza. Vai dar tudo certo. Cael é um cara sensato, já chamou a polícia. Todos eles vão sair são e salvos, você vai ver.
Raíza sorri nervosa para ele que esconde um sorriso de satisfação.
CORTA PARA
CENA 18 CASA DE VICTOR [INT.]
Close na porta. O local está escuro e a porta é aberta fazendo a claridade entrar. Victor entra com duas malas e aponta a arma.
VICTOR: Vambora! Anda! Tá na nossa hora.
Ari se levanta e Lipe também.
ARI: Vai nos levar pra onde?
VICTOR: (ironiza) Pra praia do Arpoador, olha que coisa linda. (agressivo) Para de fazer perguntas e anda logo!
Corte rápido
CENA 19 CASA DE VICTOR [EXT.]
Eles estão saindo do portão, há um carro preto de frente e Victor faz que vai pro lado do motorista. Um Toyota atravessa a tela e vai de frente, dá uma guinada, Victor volta pra trás assustado...
VICTOR: OUW!
O Toyota freia mais a frente.
Corte rápido pro interior do Toyota
Close no porta-luva de onde é retirado um revólver.
Dcr olha pr’aquilo tenso e surpreso. Cael o encara rapidamente, guarda a arma na cintura e sai do carro.
Volta à cena exterior
Cael e Dcr descem do carro.
VICTOR (deboche): Ah, mas você de novo? Como é que você me fecha desse jeito, bacana?
Cael anda em passos normais e ao ver que ele carrega uma arma na cintura, leva as mãos a fim de pedir calma.
CAEL: Não tente fazer nada. A polícia já foi acionada. Você não precisa sair daqui preso.
Ari está abraçada a Lipe perto de Victor.
VICTOR: Veio bancar a advogado do diabo? A garota mata meu pai e eu não tenho o direito de ficar com raiva, é isso?
Dcr se mostra surpreso e indignado e para quando Cael para de caminhar.
DCR: Do que ‘cê’ tá falando, cara?
CAEL: Calma, Dcr...
DCR: De quem ele tá falando, Cael?
Ari abaixa a cabeça com medo da reação do namorado.
VICTOR: (raiva / aponta para Ari) Ela provocou e matou meu pai e agora vive livre e feliz da vida. Daqui a pouco meu filho aparece morto e vão acusar insanidade de novo nela. É assim que funciona o esquema, eu sei.
Dcr, surpreso, fita Ari que faz uma expressão sofrida.
A câmera nos revela ao longe o carro de Cipriano.
Corte rápido para o interior do carro.
CIPRIANO: Tem certeza que é isso mesmo que você quer fazer?
RAÍZA: Esse Victor não tá pra brincadeira e não vai perdoar a Ari só pela voz mansa do Cael. (pausa / olha de soslaio para Cipriano) Vamos?
Eles atravessam a porta do carro. Estão invisíveis.
Volta à cena do outro lado
VICTOR (se distrai / para os reféns): Vambora! Entrem no carro!
CAEL (se aproxima): Você não precisa fazer isso...
VICTOR (ignora / para Ari e Lipe): Eu não tenho o dia todo, será que dá pra agilizar isso?
CAEL: Fique onde está, Ari!
Victor faz uma cara de impaciente.
VICTOR: Já tô por aqui contigo, cara. (olha para Ari e Lipe) Entram logo nessa droga, caramba!
Dcr aproveita sua distração, corre em sua direção não deixando brecha para Cael impedi-lo. Rapidamente, Victor percebe, acerta seu rosto com um soco e Dcr cai no asfalto. Logo ele lança mão de seu revólver, envolve Ari num abraço e aponta a arma em sua cabeça. Lipe corre para o canto do muro. Quando Cael saca a dele, Victor aponta em sua direção.
VICTOR: Qual é bacana? Eu posso resolver isso agora mesmo.
A câmera mostra, entre eles, Raíza e Cipriano ao fundo. Ela está surpresa com a ação do namorado.
Dcr se levanta, seu supercílio sangra.
Enquanto Victor aponta para Cael, Cipriano vai por trás de Victor e analisa a situação. Ari, nesse momento, vê tanto Cipriano quanto Raíza pelo vidro do carro. Esta está por trás de Cael e faz um sinal de positivo com a cabeça.
CAEL: Você acha que matando a Ari vai se sentir melhor? (Victor o encara atento) Seu filho vai ficar traumatizado e você, preso por um bom tempo. Ainda mais sob a alegação de que você matou uma pessoa que não é considerada sã. Isso é covardia.
Aparentemente, Victor está avaliando aquelas palavras, faz parecer que entendeu, mas continua a mirar nele.
VICTOR: (sentido) Covardia? (pausa) Covardia é você atropelar o próprio pai cadeirante por que uma garota louca o jogou na estrada. Depois você assiste o velho morrer e não há ninguém pra pagar por essa morte, simplesmente por que ela foi levada numa camisa de força logo depois de matar o pai.
As palavras provocam certo impacto em Dcr, Ari, Raíza e Cael.
VICTOR: Agora chega de injustiça (ele engatilha) E você não vai me impedir.
No momento em que ele vai atirar, Cipriano aperta sua jugular fazendo Victor uma expressão de dor. Este perde a força, desvia o cano da cabeça de Ari que vê Raíza ir à sua direção pelo vidro do carro.
Raíza a joga no chão, mas pelos olhos dos outros, Ari é que se joga.
Raíza faz sinal para Cipriano não matar Victor, então ele larga de sua jugular. Não há tempo para Cael imobilizá-lo. Victor torna a apontar a arma para Ari caída no chão e Cipriano começa a perder a invisibilidade. Raíza se desespera ao vê-lo correr.
VICTOR: Cansei dessa brincadeira.
DCR: NÃO!
CAEL: Não faça isso, Dcr!
[câmera lenta]
Dcr corre, dá um salto e cai sobre Ari para protegê-la.
Victor se prepara para atirar e a câmera mostra tanto ele quanto o braço estendido de Cael que atira contra o ombro de Victor. Victor perde a força e cai.
[fim do efeito]
Raíza, estupefata, começa a perder a invisibilidade e corre dali. Nesse momento, ouvimos som de carro de polícia e moradores saem de suas casas para ver o que acontece.
A câmera se distancia e em ângulo alto vemos a movimentação na rua com Dcr e Ari se abraçando, Cael guardando a arma e Bruno e Marco saindo de outro carro.
FADE OUT
FADE IN
CENA 20 DELEGACIA [EXT. / NOITE]
Vemos Raíza em pé de frente para a delegacia e distraída. Logo atrás vêm Cael, Dcr, Ari e Marco. Raíza se volta e sorri para quase todos. Cael a abraça.
CAEL: Por que você não esteve lá também?
Marco, mãos nos bolsos, atitude clássica, está lado a lado de Dcr.
MARCO: Talvez o tivesse impedido de atirar contra o elemento. (Todos o encaram e ele faz graça) É assim que os policiais chamam os bandidos.
DCR (ameniza): Se não fosse isso eu ou a Ari estaríamos mortos. Obrigado, Cael.
Cael apenas faz um gesto com a cabeça.
RAÍZA: Eu só lamento pelo Lipe. Ainda bem que ele ainda tem uma tia, né?
MARCO: Que não seja que nem o seu tio Josué, não?
Raíza desvia o olhar impaciente, cerra os lábios, parece que vai explodir. Cael a abraça, ainda mais notando sua ira.
CAEL: O que até agora não consigo entender é como aquele cara descobriu onde o Lipe estava.
MARCO (cínico): As pessoas costumam ter seus meios, caro irmão.
Cael revira os olhos.
CAEL: Vamos pro apartamento. O Lipe está nos esperando.
DCR: Ah, vão na frente...Vamos depois.
Cael e Raíza sorriem.
MARCO: Boa noite para vocês, então. Amanhã estarei lá para a despedida do garoto.
CAEL (irônico): Estaremos te esperando ansiosos.
Ele dá as costas com um sorriso sacana no rosto e Raíza também. Marco disfarça a insatisfação, olha para o casal atrás que nada dizem ou fazem. Depois ele segue até o carro, entra olhando para o casal e parte.
TOCANDO: Big Girls Don’t Cry – Fergie
Dcr toca os cabelos de Ari que se mostra tensa.
ARI: ‘Cê’ poderia ter morrido...Você...Você se arriscou muito.
DCR: E eu pretendo me arriscar sempre.
ARI: Mas depois de tudo que o Victor disse...
Dcr toca seu rosto com as duas mãos.
DCR: E você acha que eu acreditei? (Ari se surpreende) Tava na cara que ele inventou aquilo só pra justificar sua morte e esconder quem tá por trás disso de verdade (sorri).
ARI: Mas e se...
Dcr a beija na boca. Beijo demorado. Depois a olha, carinhoso.
DCR: Seja quem for que estiver por trás disso a Raíza é o principal alvo. Querem atingir os amigos dela para deixá-la vulnerável, entende?
Ari se incomoda por saber que não é bem assim.
ARI: Se refere à Valentina? Acha que ela ainda não se conformou por ter perdido o Cael?
DCR (coça a nuca): Ahn...É. Tem o Marco também que não sai da cola dela. Acho até que a Rafaela ainda não foi pro limbo por que anda com ele.
Ele a nota com olhar vago e deprimido.
DCR: Você tá tensa desde que chegamos aqui. (ele toca seu rosto) Tem algo que queira me dizer?
Ari tem uma expressão tensa, faz que vai dizer alguma coisa, mas sorri fingindo-se aliviada.
ARI: Que te amo, sabia?
Os dois sorriem e se abraçam. Tensão no olhar dela; Ele a abraça como não a querer soltá-la mais.
FUSÃO PARA
Takes da cidade à noite...
CORTA PARA
CENA 21 FACHADA – ED. CIRANDA DE PEDRA [NOITE]
= = Music Off = =
Corta para o interior do APTº 403 – SALA
Cael está em pé perto da porta, põe a mão na cabeça de Lipe e o abraça.
CAEL: Já entrei em contato com uma tia dele, mas ela só poderá vir amanhã cedo.
RAÍZA: É...Nada disso teria acontecido se o Lipe não fosse tomar o tal ar fresco (ênfase / fitando João).
Josué está ao lado do sobrinho próximo do sofá.
JOSUÉ: Pelo menos agora ele poderá ter uma condição de vida melhor.
RAÍZA (aborrecida): Às custas da quase morte da Ari e do Dcr, né?
Clima. Todos cruzam o olhar. Cipriano é encarado por Ari e Lipe, Dcr observa.
BRUNO (disfarça): Querem um suco? Tem de tangerina que é uma delícia...
CAEL: Ahn...Eu agradeço, mas preciso ir.
Bruno assente. Dcr levanta o dedo.
DCR: Eu aceito!
Alguns riem, menos Josué e João.
CORTA PARA
CENA 22 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT./NOITE]
Cael e Raíza vêm andando abraçados até o portão.
CAEL: Esse Dcr é uma figura, não é?
RAÍZA: Figuraça.
Ele ri, mas ela logo fecha o semblante. Os dois param na calçada.
CAEL: Está assim por causa do Josué, não é? (ela nada diz) Eu acho que ele só quis ver o lado bom das coisas. Ele só tem estado um pouco...Estressado.
RAÍZA (aborrecida): Até de mais, não? Eu não posso falar nada que tô errada, mas se é ele a culpa é do estresse.
Cael acaricia seu rosto com as duas mãos.
CAEL: Não gostou do que eu falei?
Raíza desvia o olhar, respira fundo.
RAÍZA: Olha eu sei que ele ficou pior desde o acidente do João. Ele não se conforma, sabe. Mas não acho certo justificar um mal com outro mal. Não sou só eu quem paga com isso, é a Ari também.
CAEL: Já parou pra pensar que o Josué sofre tanto quanto você? E como não consegue lidar com isso acaba sobrando para os outros.
RAÍZA: Ele já bateu em mim, Cael. Se ele me der um tiro pra defender alguém, ainda sim você o justificaria?
Cael larga as mãos do rosto dela, cerra os lábios e se mostra vencido.
CAEL: Hmmm, já entendi. É isso que te aborrece. (ela abaixa a cabeça e depois o encara confirmando) Depois do atentado que sofri preciso andar reforçado, você sabe e a situação pedia.
Raíza olha para a direita, lembra de algo.
CAEL: O que foi?
RAÍZA: Me lembrei agora do que você me disse no velório da falsa morte de Paulo. (repete) “Ele estava armado...Isso indica que propensão pra matar ele tinha”.
CAEL (admirado): Que memória...(pausa) A gente fala coisas que depois se voltam contra nós.
RAÍZA: É por que ele era um bandido, não é? Você não teria coragem de matar...Teria?
Pausa. Cael sorri um sorriso fechado.
CAEL: Jamais.
Os dois se abraçam. Ela sorri aliviada; Ele está pensativo.
CORTA PARA
CENA 23 CARRO DE MARCO [INT./NOITE]
O corte é feito diretamente em Marco, mãos no volante, dirigindo. Ouvimos o toque de um celular. Ele inclina a cabeça para o lado e pra baixo e vemos seu celular sobre a poltrona. O visor mostra o nome de Valentina. Ele aperta uma tecla. A conversa é por viva-voz e alterna entre ele e ela.
MARCO (deboche): Que é? Ligou pra lamentar o não ocorrido?
Valentina se volta com uma expressão nada boa.
VALENTINA (irritada): Por que aquele Victor não atirou logo naquela garota? Por que tem sempre que dar errado?
MARCO: Se você que foi espiar não viu, como é que eu vou saber?
VALENTINA: ‘Cê’ deve estar rindo, né? Mais uma vez a sua nova família escapou. Eu ainda perco a paciência, vou naquele apartamento de quinta e acerto um tiro na cara da Raíza. Acabo de uma vez por todas com isso.
MARCO: Quando você fica nervosa fica tão clichê.
VALENTINA: Qual é a tua, hen? Às vezes parece que você não queria que a Ari morresse.
MARCO: Você devia ver as coisas pelo lado positivo. Será que Raíza está satisfeita com o desempenho de Cael como um herói nada convencional? Um homem apaixonado capaz de tentar matar para defender quem quer que seja...
VALENTINA (desdenha): Você é tão tosco. Uma garota que defende uma assassina nunca vai se importar se o cara com quem ela namora anda armado ou não.
MARCO: Você que pensa. Uma coisa é defender uma amiga; Outra bem diferente é namorar um cara que a qualquer momento pode empunhar uma arma para defender o que for, ou quem for (sorri sacana).
VALENTINA: Do jeito que tô com azar é capaz dela ter adorado essa história.
MARCO: Isso, com o tempo, não vai deixá-la dormir. Acredite. (sorri malicioso).
Close em Valentina pensativa e ainda com raiva.
CORTA PARA
CENA 24 APTº 403 – QUARTO DE ARI E RAÍZA [INT./NOITE]
A tela está escura.
ARI (O.S): Raíza?
RAÍZA (O.S): Oi.
ARI (O.S): Por que o Cipriano tava com você lá na hora em que o Victor quase acabou comigo?
A luz do abajur é acesa. Vemos que foi Raíza quem acendeu.
A câmera mostra no ângulo de cima as duas deitadas, cada uma em sua cama.
RAÍZA (olhando para ela): Como sabe?
ARI (olhando pro teto): Vi vocês dois pelo vidro do carro.
RAÍZA (olha pro teto também): Nossa...Tinha me esquecido disso (pausa). Ele quis ajudar. Se não fosse por ele você teria levado aquele tiro.
ARI: Do mesmo jeito que aconteceu com você e o Paulo, né?
As duas se encaram.
RAÍZA: O importante é que você tá viva.
ARI (instiga): Ele matou um cara pra te defender e defender seu pai, mas você não gostou quando Cael atirou no Victor para me defender.
RAÍZA: É...Se o Cipriano não tivesse perdendo a invisibilidade na hora, talvez nada daquilo teria acontecido.
ARI: Você tá preocupada com o que Cael fez, mas você não me condena por eu já ter matado alguém, (pausa) aliás, você não condena o Cipriano por ter matado o Paulo e sabe Deus quantos mais (Raíza a olha de repente, assustada). Só por que o Cael é seu namorado ele não pode cometer um erro?
Raíza faz expressão de quem não sabe o que dizer. Olha pro teto, pensativa.
FADE OUT
FADE IN
CENA 25 FACHADA – ED. CIRANDA DE PEDRA [MANHÃ SEGUINTE]
A câmera desce, vemos Bruno carregando Lipe pelas mãos, Raíza ao seu lado e Ari vem logo atrás. Eles chegam no portão, Cael está esperando ao lado de uma mulher morena que retira os óculos, sorridente. Há dois carros parados próximos da calçada.
MULHER (feliz): Lipe! (ela o abraça) Espero que não tenha dado trabalho pra eles, hen.
ARI (sorri): Imagina. Ele é um menino tão educado.
BRUNO: E então dona Elisa? Vocês vão morar mesmo em Petrópolis?
ELISA: Sim. Tenho trabalho lá.
ARI: Mantenha contato, tá?
ELISA: Claro!
Um carro para logo atrás do Toyota de Cael.
CAEL (resmunga): Não faltava mais ninguém...
Marco sai do carro e se aproxima com as mãos nos bolsos, sorriso cínico.
MARCO: Lipe!...Ia embora sem se despedir de mim?
O garoto o encara estranhamente. Todos estranham sua nova atitude.
MARCO (forçando o ar de deboche): O que é? Não vai mais amarrotar minha roupa?
CAEL (sarcasmo): O que foi, Marco? Carência?
Bruno, Ari, Raíza e Elisa riem. Marco faz cara de poucos amigos.
MARCO: Eu só estou estranhando o novo comportamento do garoto.
ELISA (preocupada): Novo comportamento? Como assim? Será que preciso levá-lo a um psicólogo?
BRUNO: É o recomendável nesses casos...
ARI: Acho que não é esse o problema. Vai vê ele só tá enxergando as coisas de maneira diferente agora (fita Marco).
Elisa faz que não entende.
CAEL: Não, não é nada a que se preocupar.
Ari puxa Lipe em um canto enquanto Cael e Bruno conversam com Elisa. Ari se agacha.
ARI (fala baixo): Por que você tratou o Marco daquele jeito? Você parecia gostar dele...
LIPE: Não vejo ele mais como antes. Ele é uma pessoa triste, não é?
ARI: Por acaso é desde ontem à tarde quando tudo aquilo...Aconteceu?
LIPE: Acho que sim. Por quê?
ARI: Por que eu acho que você não enxerga mais o passado das pessoas por que se livrou do próprio.
LIPE: Como assim?
Ari sorri e toca seu cabelo.
ARI: Deixa pra lá.(pausa) Mas falando nisso...Como você me enxerga agora?
Lipe se mostra pensativo, solta os ombros.
LIPE: Não tenho mais raiva de você. Você mudou.
ARI: Mas isso não responde minha pergunta. Como você me enxerga agora?
LIPE (solta os ombros de novo): Como você é.
TOCANDO: Sweet Child O’Mine – Danni Carlos
Ari não tem tempo de questionar; Lipe a abraça.
ELISA: Vamos, Lipe?
Lipe se afasta dela que se levanta. Cael e Bruno passam a mão na cabeça dele. Lipe entra no carro; Elisa também.
De dentro do carro, Elisa acena para eles e acelera. Enquanto o carro parte, Lipe olha para trás.
Todos observam, Raíza se aproxima de Ari.
ARI: Eu consegui livrá-lo do próprio passado, mas não pude fazer o mesmo com o meu.
RAÍZA: Foi pra isso que você voltou naquele bairro? Para convencer as pessoas de que mudou?
ARI: Não posso mudar a visão que todos têm de mim, né?
Raíza apoia seu braço direito no ombro dela.
RAÍZA: Lipe era especial, mas aquelas pessoas vão continuar te vendo como você é e não como você está agora.
A câmera vai se aproximando de Ari como se fosse fechar em seu rosto.
ARI: É...E eu sei como sou.
Ela olha para Raíza e a câmera gira focando o carro ao longe. O carro faz uma curva e some.
FADE OUT
FIM
A música termina nos créditos…


CRIADA POR: Cristina Ravela

ESTRELANDO:

Maria Flor - Raíza
Michael Rosenbaum - Cael
Pierre Kiwitt - Marco
Caio Blat - João Batista
Nathália Dill - Ari
Aaron Ashmore - Dcr
Fernanda Vasconcellos - Rafaela
Alinne Moraes - Valentina
Caco Ciocler - Josué
Juan Alba - Bruno
Thiago Rodrigues - Cipriano
PARTICIPAÇÕES:

Jane Saymour - Lara
José Augusto Branco - Drº Bedlin

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS:
Frederico Volkmann - Lipe Soares
Alexandre Barilari - Victor Leme
Mulher - Dayse Belico
Júlia Almeida - Elisa


TRILHA SONORA:

Big Girls Don't Cry - Fergie
Sweet Child O'Mine - Danni Carlos

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