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GAROTAS DO RIO MINISSÉRIE
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WEBTVPLAY APRESENTA
GAROTAS DO RIO
Minissérie
de
Wesley Alcântara
Capítulo 02 de 10
© 2017, WebTV.
Todos os direitos reservados.
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VOZ
DE ANTÔNIA – Anteriormente
em Garotas do Rio
FÁBIA
– Isso
não é jornalismo. É hipocrisia.
ANUNCIAÇÃO
– As
pessoas não têm julgamento próprio a cerca de filmes, livros ou
novelas. Esperam sempre pela crítica de um jornal ou site.
FÁBIA
– Acontece
que estamos remando contra a maré. Todos os jornalistas elogiaram a
perfeita atuação dela. Eu estou sendo amoral com meus princípios.
ANUNCIAÇÃO
– Você
precisa de princípios ou dinheiro para viver?
...........................................................
ANTÔNIA
– Eu
vou fazer o que há muito tempo eu estava com vontade.
Antônia
dá um tapa no rosto de Fábia, que cai no chão com o impacto. Todos
a volta olham assustados, alguns pegam o celular e começam a tirar
fotos.
ANTÔNIA
– Isso
é pra você aprender a não falar mal dos outros. Aprenda a engolir
o sucesso.
...........................................................
ANUNCIAÇÃO
– A
Mimi vai tirar uma foto minha entregando o cheque para vocês.
ANTÔNIA
– Caridade
assistida não é caridade, é barganha!
Antônia
sai puxando Marcela e dá um esbarrão proposital em Anunciação,
que engole em seco, sorri forçadamente e entrega o cheque para
Donna.
...........................................................
MIMI
– Mas
para quê a senhora quer tanto isso, chefinha?
Anunciação
olha para a foto e a rasga com raiva.
ANUNCIAÇÃO
– Eu
vou fazer esse filho da puta me pagar por cada lágrima derramada.
Chegou a hora de fazer justiça!
...........................................................
LAURA
– Mamãe
voltou, querida! É hora da onça beber água.
Em
Laura, sorriso faceiro.
...........................................................
CENA
01. APARTAMENTO DE FÁBIA. QUARTO. INT. DIA.
Fábia
e Lu estão deitadas na cama, dormindo. A campainha TOCA
insistentemente.
FÁBIA
(sonolenta) – Que
merda de campainha.
LU
– Vai
lá atender, pode ser urgente.
Fábia
olha para o rádio relógio, que marcam 08h00min.
FÁBIA
– No
meu dia de folga. Ninguém merece.
Fábia
se levanta, revelando estar em trajes íntimos, ela vai até a
poltrona próxima, pega um penhoar e o veste, saindo.
CORTA
PARA: SALA DE ESTAR.
Fábia
abre a porta e revela Laura, que sorri.
LAURA
– Sentiu
saudades da mamãe?
Fábia
fica paralisada. Laura passa por ela, entrando e olhando tudo ao
redor.
LAURA
– Esse
tom mais claro nas paredes ficou maravilhoso. Você sempre teve bom
gosto, puxou a mamãe.
Fábia
fecha a porta e olha incrédula para Laura.
FÁBIA
– O
que você tá fazendo aqui, Laura?
LAURA
– Já
disse, meu bem, senti saudades. Você sabe como é mãe, a saudade
aperta.
FÁBIA
– Eu
não sei de nada. (irritada) Fala de uma vez o que você veio fazer
aqui. Boa coisa não é.
Laura
se senta no sofá.
LAURA
– Falar
assim, a seco? Não rola nem um uisquezinho?
FÁBIA
(gritando) – Se
você não falar, eu te coloco daqui pra fora abaixo de cacete.
LAURA
– Já
que você tá pedindo com tanta delicadeza, eu vou ser direta:
preciso de 50 mil reais.
Em
Fábia, assustada.
CENA
02. RIO
DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA.
SONOPLASTIA:
ELA É CARIOCA – ADRIANA CALCANHOTO.
Um
giro pela Zona Sul, mostrando seus principais pontos, desde a Praia
de Copacabana até o Morro do Vidigal. Takes rápidos e pontuados.
MÚSICA
CESSA.
CENA
03. ONG FILHOS DA ARTE. JARDIM. EXT. DIA.
Donna
está rodeada de alunos que tocam instrumentos, enquanto ela está
cantando a música “Tatuagem” (Marjorie Estiano), quando Antônia
vem da rua e faz sinal para ela segui-la para o interior do local.
DONNA
– Só
um minutinho, pessoal. Vão ensaiando aí.
Donna
se afasta. O pessoal continua a música em instrumental.
CENA
04. ONG FILHOS DA ARTE. SALA. INT. DIA.
Antônia
está de pé olhando a paisagem pela janela, quando Donna entra.
DONNA
– Pois
não, Antônia.
Antônia
vira-se para ela.
ANTÔNIA
– O
que você fez com o cheque da Anunciação?
DONNA
– Não
fiz nada. Estava esperando um comando seu.
ANTÔNIA
– Ótimo!
Na hora do almoço eu quero que você desça até o banco e desconte
o cheque na conta da ONG, entendeu?
Donna
fica surpresa.
ANTÔNIA
– Ela
achou que eu iria ser orgulhosa e não aceitaria, só assim ela
sairia por cima. Além de não perder 100 mil, a bonita ainda faria
uma matéria me detonando.
DONNA
– Pensando
por esse lado, meu bem, você tem toda razão. Mas teremos que
divulgar o nome dela como uma das patrocinadoras.
ANTÔNIA
– Faz
melhor, anuncia a Gazeta Carioca como contribuinte. “De vilã a
amiga, a Gazeta Carioca faz as pazes com Antônia e doa 100 mil reais
para a ONG Filhos da Arte, no Vidigal.” Põe como matéria no site.
CENA
05. APARTAMENTO DE FÁBIA. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Fábia
de pé, perplexa, enquanto Laura está sentada e tomando uísque.
FÁBIA
– Eu
me recuso a acreditar que você saiu de Valença pra vir me contar
uma piada.
LAURA
(séria) – Não
é brincadeira não. Eu necessito de 50 mil reais e só você pode me
ajudar.
FÁBIA
– Eu
não tenho esse dinheiro. Eu não ganho nem metade disso por mês.
Laura
se levanta e se aproxima de Fábia.
LAURA
(carinhosa) – A
sua mãe se meteu numa furada. Faz dias que não durmo.
Fábia
se afasta de Laura, ficando de costas.
FÁBIA
– Você
se meteu numa furada ou o Nenzin?
LAURA
– Ele
tá devendo essa grana pra um cara barra pesada que jurou a gente de
morte.
FÁBIA
– Se
aquele maldito morresse, te juro que não seria uma ideia ruim.
Laura
e Fábia se encaram. Lu chega, devidamente vestida.
LU
– Fábia,
acho que já vou.
FÁBIA
– Fica,
eu te preparo um café, pelo menos.
LU
– Não.
Deixa pra outra hora.
FÁBIA
– Mais
tarde eu te ligo.
Lu
vai embora. Laura cai na gargalhada.
LAURA
– Então
essa deve ser a sua amiga de trabalho?
FÁBIA
– Não
seja hipócrita, Laura. Você sabe muito bem quem ela é.
LAURA
– E
você sabe muito bem que isso foi a sua desgraça.
FÁBIA
– Minha
desgraça foi ter nascido sua filha. Como você pode deixar aquele
homem nojento fazer aquilo com a sua filha?
Fábia
fica sentida. Laura se aproxima.
LAURA
– Você
sabe que o Nenzin só quis ajudar.
Fábia
deixa escorrer uma lágrima, mas permanece altiva e se afasta de
Laura.
FÁBIA
– Eu
não tenho esse dinheiro não. Trata de trabalhar, coloca aquele
imprestável do seu marido para trabalhar também.
LAURA
– Qual
foi, filha? Você quer que eu morra? Entrei nessa de gaiato, por
favor, me ajuda!
FÁBIA
– Você
sempre soube muito bem do que o Nenzin era capaz. Ele nunca pensou
duas vezes para colocar a sua vida ou a minha em risco. Mesmo assim
você permaneceu com ele esse tempo todo, mesmo assim você abraçou
a causa, deu razão a esse marginal. Deu no que deu. Só lamento por
você e por ele. Eu não posso fazer nada, a não ser rezar.
Laura
começa a chorar e se ajoelha em frente à Fábia.
LAURA
– Por
favor, Fábia. Por compaixão. Ajuda a sua mãe.
Fábia
começa a circular pelo ambiente, meio desorientada. Laura se senta
no sofá e abaixa a cabeça.
FÁBIA
– Eu
não tenho como levantar essa quantia de uma hora pra outra...
Levaria, no mínimo, um ano.
LAURA
– Tô
ferrada. Você era a minha única alternativa.
FÁBIA
– Nenzin
sabe que você veio pro Rio?
LAURA
– Não.
Ele acha que você mora em Juiz de Fora. Acha que tô pra lá.
Fábia
se aproxima de Laura, se abaixa e fica cara a cara com ela.
FÁBIA
(amável) – Eu
sei que posso me arrepender muito do que vou fazer, Laura, mas a
única saída é te dar guarita. Passa uns meses aqui comigo. Eu
tento te arrumar trabalho, pelo menos, até a poeira abaixar.
LAURA
– Mas
e o Nenzin? Vou deixá-lo em perigo?
FÁBIA
– Quem
se meteu nessa foi ele. Cada um é dono de suas escolhas e escravo
das consequências. Mas se você quiser voltar pro interior e morrer
com ele, a escolha é sua. E aí?
Em
Laura, pensativa.
CENA
06. ESCRITÓRIO. RECEPÇÃO. INT. DIA.
Uma
sala muito aconchegante e com obras de artes de fino gosto. Uma
secretária está sentada digitando algo no computador, quando Mimi
entra e vai até ela.
MIMI
– Bom
dia!
A
moça para de digitar e sorri amigavelmente para Mimi.
MOÇA
– Em
que posso lhe ser útil?
MIMI
– Eu
sou Anita Gonzaga do Amaral, assistente pessoal do Dr. Germano, dono
da Empreiteira Melo. Ele está no Brasil e queria tratar de negócios
com o senhor Affonso Queiroz.
MOÇA
– Empreiteira
Melo? Bom, não me recordo desse nome. Tem certeza que é com o Dr.
Affonso?
MIMI
– É
sim! Ele foi enfático. Quer estabelecer uns projetos.
MOÇA
– Bom,
posso marcar para semana que vem uma reunião.
MIMI
– Dr.
Germano é um homem ocupadíssimo. Vai embarcar amanhã mesmo para
São Paulo. Não teria como encaixá-lo hoje na agenda?
MOÇA
– Impossível!
Dr. Affonso está justamente para São Paulo. Reuniões e palestras.
MIMI
– O
Dr. Germano está indo amanhã para lá. Será que eles não poderiam
se encontrar lá? Ao menos para uma conversa informal.
MOÇA
– Não
sei... Acho difícil, pois o Dr. Affonso está no Hotel San Martini
da Costa, e todas as reuniões serão lá no Centro de Convenções
do próprio local. Mas posso ligar.
Mimi
sorri.
MIMI
– Não
necessita! Você já me foi muito útil, queridinha.
Mimi
sai e a moça estranha.
CENA
07. RIO
DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA.
SONOPLASTIA:
ELA É CARIOCA – ADRIANA CALCANHOTO.
DIA
ENSOLARADO. Takes aéreos de diversas praias da zona sul do Rio, seu
contraste com as favelas.
MÚSICA
CESSA.
CENA
08. APTO DE PIETRO. SALA. INT. DIA.
A
campainha toca. Pietro vem da cozinha e atende a porta. Ele fica
paralisado por alguns instantes.
PIETRO
– Você?
Antônia
entra. Ele fecha a porta.
ANTÔNIA
– Pelo
que vi ontem, você se divertiu bem.
PIETRO
– Também
tenho esse direito, não acha?
ANTÔNIA
– Acho
sim. Tava bem íntimo da moça lá.
PIETRO
– Ela
é minha amiga, só isso. O que tem de mal?
ANTÔNIA
– Nada
de mal, queridinho. Viva a amizade.
PIETRO
– Para
de rodeios, Antônia. Fala de uma vez que você ficou mordida de
ciúmes quando me viu saindo do CopaBar com a Mimi. Confessa.
ANTÔNIA
– Eu?
Com ciúmes? Você tá confundindo as coisas.
PIETRO
– Quem
tá confundindo as coisas aqui é você. Eu saí, fui beber,
aproveitar a vida. Você queria que eu ficasse aqui em casa, numa
redoma de vidro. É isso?
ANTÔNIA
– Eu
não queria nada. Aliás, não quero. Não tenho o direito de te
cobrar nada.
PIETRO
– Exato!
Não pode me cobrar nada. Nós ficamos casualmente. A decisão sempre
foi sua.
ANTÔNIA
– Vai
me jogar as coisas na cara agora?
PIETRO
(voz embargada) – Eu
esperei demais. Me doei de corpo e alma pra você. Na sua mão eu não
passei de um boneco.
ANTÔNIA
– Você
sempre soube que eu era casada. Ninguém entrou nessa história
enganado.
PIETRO
– Que
história, Antônia?
Antônia
e Pietro se olham. Ele triste, ela contendo as lágrimas.
SONOPLASTIA:
NA PAZ – ORLANDO MORAIS.
ANTÔNIA
– Tem
razão. Que história?(pausa) Acho que eu tô fazendo papel de idiota
aqui. Você é livre.
PIETRO
– Eu
sempre fui diversão, não é? Não passei de um corpo, de um desejo
sexual seu. Um dos tantos caprichos que a dondoca de Ipanema
cultivava. E quer saber a verdade? Eu fiquei com aquela garota de
ontem sim. Nós nos beijamos, nós transamos. E depois da transa, ela
não foi embora ou inventou uma desculpa pra sair. Ela me chamou pra
jantar com ela, pra fazer companhia. Pra conversar como qualquer
casal faria. Como qualquer pessoa que se importa com o sentimento da
outra faria. Taí a diferença entre vocês duas.
Antônia
começa a chorar. Pietro também chora.
PIETRO
– Eu
acho que você nunca amou ninguém. Você precisa começar a se amar
pra poder estabelecer qualquer tipo de relação com alguém,
Antônia.
ANTÔNIA
– Você
foi muito cruel nas suas palavras. E as palavras, quando ditas sem
pensar, podem machucar muito, às vezes, até matar, sabia?
PIETRO
– Vai
pra sua casa e analisa cada atitude sua. Depois, junta com tudo que
eu disse. Vamos ver quem tem razão.
Pietro
abre a porta e faz menção para Antônia sair.
ANTÔNIA
– Só
uma última coisa: espero que essa moça possa mexer com o seu
coração como eu fiz. Que ela possa te completar, como eu completei
um dia.
PIETRO
– Vai
embora, por favor!
Antônia
sai. Pietro fecha a porta com força e se joga no sofá.
MÚSICA
CESSA.
CENA
09. COPABAR. COZINHA. INT. DIA.
Tony
está dando algumas instruções aos cozinheiros, quando Lu entra.
LU
– Licença!
Tony, tem um rapaz lá fora te esperando.
TONY
– Que
rapaz? Mas hoje não é dia de entrega.
LU
– Deve
ser do anúncio para garçom, lembra?
TONY
– Tem
razão. Aliás, lembro também que hoje a senhora só pegaria às 19
horas. O que aconteceu?
Lu
fica cabisbaixa.
TONY
– Já
sei. O nome dessa tristeza é Fábia Bueno.
LU
– A
gente tava numa boa. Até dormi lá. Mas aí chegou uma mulher lá,
cheia de intimidade.
TONY
– Eu
te avisei que a Fábia é da vida, que não se apega a ninguém. É
cada dia pra um esquema. Agora deixa eu ver quem é o rapaz.
Tony
sai. Lu fica ali, pensativa.
CENA
10. COPABAR. SALÃO. INT. DIA.
Todas
as cadeiras do salão estão em cima das mesas. Alguns funcionários
limpam o local. Ao longe está Diego (moreno, cabelos cacheados,
olhos cor de mel, porte físico atlético), trajando jeans e regata
baby look, salientando seus músculos. Tony se aproxima e sorri.
TONY
– Veio
por causa do anúncio pra garçom?
DIEGO
– Isso
mesmo. Gostaria que o senhor me desse uma chance. Pode ser?
TONY
– Você
tem experiência como garçom?
DIEGO
– Já
servi em umas festas lá na minha cidade.
TONY
– E
de onde você é?
DIEGO
– Sou
de Juiz de Fora.
TONY
– Belo
mineiro. Deveria ser modelo.
DIEGO
– Gosto
não, seu Tony.
TONY
– Pode
me chamar só de Tony. Aqui somos todos íntimos.
Tony
lança um olhar malicioso em Diego, que percebe e fica sem jeito.
TONY
– Qual
é o seu nome, moreno?
DIEGO
– Me
chamo Diego.
TONY
– Bom,
Diego, faremos um teste essa noite. Se você se sair bem o emprego é
seu. Fechado?
Tony
estende a mão. Diego aperta sua mão com convicção e lhe solta um
sorriso.
DIEGO
– Tá
bem! Obrigado!
Diego
se afasta. Tony pega uma cadeira, se senta e começa a se abanar.
TONY
(pra si/ com interesse) – Mãos
hábeis... Vontade louca de ser uma bandeja.
CENA
11. PRAIA DE IPANEMA. EXT. DIA.
SONOPLASTIA: ELA
É CARIOCA – ADRIANA CALCANHOTO.
Praia
pouco movimentada. Patrick e Marcela vem do mar, de mãos dadas e
sorrido e se sentam debaixo de um guarda-sol, onde Das Dores está
sentada, lendo um livro.
MÚSICA
CESSA.
DAS
DORES – Se
divertiram bem, hein.
PATRICK
– Você
que não foi se molhar até agora. Tá com medo da água?
DAS
DORES – Estou
num capítulo interessante do livro. Na parte em que Mariana
conquista o meio-irmão. É babadeiro.
Marcela
olha séria para Das Dores.
DAS
DORES – Já
leu, Marcela? É um livro de uma ex-aluna de Letras da UERJ. Você
deve conhecer.
MARCELA
– Ainda
não li, mas já acho essa Mariana uma vadia. Tanto homem no mundo e
ela vai se interessar pelo meio-irmão? Uma incompetente, não acha,
Patrick?
PATRICK
– É
sim, amor!
Das
Dores se levanta e se espreguiça de costas para Patrick e Marcela,
deixando a mostra seu biquíni fio dental.
DAS
DORES – Chegou
a hora da sereia cair na água.
MARCELA
– Lá
que é lugar de sereia. Fica por lá, tá?
Das
Dores sorri ironicamente e sai em direção ao mar.
PATRICK
– Você
é sempre tão hostil com a Das Dores.
MARCELA
– Ela
faz questão de me irritar. Tá sempre querendo chamar a sua atenção.
PATRICK
– Ela
é carente. Não conhece ninguém no Rio.
MARCELA
– Só
você não percebe as coisas, Patrick. Essa cabeça sua aí é só
pra fazer gol? Eu vou buscar uma água de coco pra gente.
Marcela
se levanta.
PATRICK
– Traz
uma pra Das Dores também.
MARCELA
(saindo) – Sereia
não toma água. Toma cicuta.
CORTA
PARA: OUTRO PONTO DA PRAIA.
SONOPLASTIA:
O MUNDO É UM MOINHO – BETH CARVALHO.
Antônia
caminha pela praia com as sandálias na mão. Meio desnorteada e
chorosa. Até que Marcela esbarra nela, sem perceber quem é.
MÚSICA
CESSA.
MARCELA
– Desculpa,
moça... (olhas/ fica surpresa) Antônia?
ANTÔNIA
(voz embargada) – Me
dá um abraço?
Marcela
abraça Antônia.
MARCELA
– O
que foi que aconteceu?
ANTÔNIA
– Me
leva pra casa? Por favor, me leva pra casa?
MARCELA
– É
claro! Senta aqui. Vou ali na frente avisar meu namorado. Já volto!
Antônia
se senta, Marcela se afasta.
CORTA
PARA: ALGUM LUGAR DA PRAIA.
Patrick
está sentado, admirando o mar. Enquanto Das Dores mergulha. Marcela
se aproxima dele.
MARCELA
– Amor...
PATRICK
– Ué,
cadê a água de coco?
MARCELA
– Eu
esbarrei com a Antônia Assumpção. Acho que aconteceu alguma coisa
com ela. Tá em prantos. Precisa ver. Me pediu pra levá-la pra casa.
PATRICK
– Eu
vou com você. Pode ser útil.
MARCELA
– Não.
Deixa que eu a levo. Ela quer uma companhia feminina. Mais tarde eu
passo no seu apê.
Marcela
dá um selinho em Patrick e sai.
CENA
12. GAZETA CARIOCA. SALA DA PRESIDÊNCIA. INT. DIA.
Anunciação
está falando ao celular, quando Mimi entra.
ANUNCIAÇÃO
(ao cel.) – Tá
bem, querida. Qualquer furo de reportagem você me avisa. Abraço.
Anunciação
desliga o celular.
ANUNCIAÇÃO
– Caramba,
Mimi. Foi buscar essa informação onde? Bangladesh? Levou a manhã
inteira.
MIMI
– Reclama
isso na secretaria de trânsito, meu bem. Daqui até a Barra é um
verdadeiro martírio.
ANUNCIAÇÃO
– Chega
de conversa fiada. Conseguiu o que eu queria?
MIMI
– Ele
foi pra São Paulo. Hotel San Martini da Costa.
Anunciação
sorri.
MIMI
– Todas
as reuniões serão lá.
ANUNCIAÇÃO
– Que
ótimo! Irei pra lá no próximo voo.
MIMI
– Eu
mereço um prêmio, não mereço?
ANUNCIAÇÃO
– Não
deveria, mas como eu sou boa... Você vai comandar o jornal na minha
ausência. Não deixe que nada saia dos trilhos.
MIMI
– Sim
senhora! E se alguém perguntar para onde está?
ANUNCIAÇÃO
– Diga
que tirei férias. Que fui passar uns dias na Serra Gaúcha.
Recuperar o ânimo e a altivez.
Anunciação
vai saindo da sala.
MIMI
– O
que a senhora fará com o Dr. Affonso?
ANUNCIAÇÃO
– Doutor.
Doutor em quê? Só se for em malandragem. Mas o que é do Affonso tá
muito bem guardado.
Anunciação
sai. Mimi se senta na sua cadeira e coloca os pés sobre a mesa.
MIMI
– Agora
quem manda na Gazeta sou eu. Quero ver a metidona da Fábia fazer
graça agora. Vai piar fininho.
CENA
13. APARTAMENTO
DE FÁBIA. COZINHA. INT. DIA.
Fábia
está sentada a mesa, enquanto Laura está cozinhando.
FÁBIA
– Caramba,
Laura, esse almoço sai ou não?
Laura
desliga o fogo e coloca a panela em cima da mesa.
LAURA
– Prontinho!
Risoto de camarão. Ainda é o seu predileto?
FÁBIA
– Desde
que saí de Valença, eu nunca mais comi. Jurei apagar tudo do
passado.
Fábia
fica cabisbaixa.
LAURA
– Você
não pode ser tão amargurada assim, minha filha. Seu passado teve
coisas boas também.
FÁBIA
– Lista
aí, Laura. Quais?
Laura
fica pensativa por alguns instantes.
LAURA
– Melhor
a gente comer, não acha? Camarão frio fica borrachudo.
Laura
e Fábia se servem e começam a comer.
LAURA
– Você
vai pedir um emprego pra mim ao seu amigo?
FÁBIA
– Hoje
eu vou ao CopaBar e falo com o Tony. Talvez ele precise de uma
faxineira.
LAURA
– Eu
faço de tudo. Tudo mesmo.
FÁBIA
– Faça
como eu, Laura. Trancafie esse passado e recomece uma nova vida.
Aproveita que aquele desgraçado não sabe do seu paradeiro.
Laura
se entristece.
LAURA
– Apesar
de tudo, eu ainda gosto dele.
FÁBIA
– Você
tem vocação pra masoquismo, só pode. Aquele imprestável só fez a
gente sofrer. (relembrando/ feliz) Eu era criança, mas lembro de que
você se arrumava, se maquiava, ia pro forró, tomava sua cerveja.
Era independente. Não deixava homem nenhum te botar cabresto. Hoje
eu penso que herdei essa parte de você.
LAURA
– Quando
eu vi já estava envolvida.
FÁBIA
– Envolvida
até demais. Eu nunca vou esquecer o que você fez comigo por causa
daquele monstro. Não vou mesmo.
CENA
14. APARTAMENTO
FAMÍLIA QUEIRÓS. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Antônia
entra chorosa e se joga no sofá. Marcela entra em seguida.
MARCELA
– Eu
vou preparar um chá pra você, tá bem?
Marcela
se afasta, indo em direção à cozinha. Antônia fica deitada,
chorando.
Corta
para: Marcela e Antônia sentadas tomando chá.
MARCELA
– Tá
melhor agora?
Antônia,
visivelmente mais calma, assente com a cabeça.
MARCELA
– Quer
desabafar? O que aconteceu?
ANTÔNIA
– Eu
não sei se estou preparada pra falar.
MARCELA
– Desabafar
pode ser bom, mas não se apresse. Deixa tudo assentar primeiro.
ANTÔNIA
– Ontem
quando estávamos saindo do CopaBar, lembra que eu fiquei distante e
logo saí?
***INSERT
DO FLASHBACK DO EPISÓDIO 01 DA CENA 28:
COPABAR. CALÇADA. EXT. NOITE.***
Pietro
e Mimi entram no carro. Antônia, Fábia e Marcela vão saindo do
bar, risonhas, quando Antônia avista o carro saindo.
Do
P.V de Antônia, vemos o carro sair, Pietro a olha por alguns
instantes, que fica em transe.
FÁBIA
– Hello,
Antônia, tá tudo bem?
Antônia
volta a si.
MARCELA
– Parece
que viu um fantasma. Aconteceu algo?
ANTÔNIA
– Tá
tudo bem. Preciso ir embora. Até mais.
Antônia
sai na frente, em disparada.
***FIM
DO FLASHBACK***
MARCELA
– Como
não lembrar? Você ficou estranha. Como se tivesse visto algo que te
assombrasse.
ANTÔNIA
– E
vi. E estou sem chão até agora.
MARCELA
– Mas
o que pode ter sido?
ANTÔNIA
– Eu
vi o meu amante com outra.
MARCELA
(assustada) – O
que?
ANTÔNIA
– Eu
tenho um amante. Faz alguns anos que mantemos relação. O fato é
que a gente discutiu e ele me expulsou da vida dele. Tô arrasada.
MARCELA
– Mas
e seu marido?
ANTÔNIA
– Sempre
muito ocupado, sempre muito ríspido. Abriu precedente pra eu me
consolar na cama de outro.
MARCELA
– Desculpa,
mas isso não é justificativa.
ANTÔNIA
– Por
favor, não seja mais uma a me apontar o dedo.
MARCELA
– Foi
melhor terminar. Cultive seu casamento, Antônia.
ANTÔNIA
– Obrigada
por ter vindo, mas será que agora você pode me deixar a sós? Quero
tomar um bom banho e dormir até amanhã.
MARCELA
– Fique
bem!
Marcela
sai.
CENA
15. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.
SONOPLASTIA:
How Deep Is your Love – Calvin Harris & Disciples.
Takes
de pessoas correndo pela orla iluminada. Bares agitados com jovens,
muito riso. Take final na fachada do CopaBar.
CENA
16. COPABAR. INT. NOITE.
A
música da cena anterior continua, mas como som ambiente. Várias
pessoas circulam pelo local. Lu e Diego com bandejas cheias de
bebida. Tony olha tudo atento, especialmente Diego. Tempo na
movimentação do local.
CORTA
PARA: BALCÃO.
Fábia
e Laura estão sentadas nuns bancos próximos ao balcão. Elas tomam
vodca enquanto olham o ambiente.
LAURA
– Esse
bar é bem animado, hein!
FÁBIA
– É
o melhor do Rio, pode apostar.
LAURA
– Será
uma honra trabalhar aqui.
FÁBIA
– Calma
aí, Laura. Eu ainda nem falei com o Tony. Tudo depende dele, falou?!
Nesse
instante, Tony se aproxima.
TONY
– Olha
quem está aqui! (olha Laura) De amiguinha nova?
FÁBIA
– Não
começa, Tony! Essa daqui é a...
LAURA
(por cima/ estendendo a mão) – Sou
Laura. Mãe da Fábia.
Tony
cumprimenta Laura.
TONY
– Mas
vejam só, a Fábia nunca me disse que tinha mãe. Cheia dos
segredos.
FÁBIA
– Eu
tenho os meus motivos. Mas o fato é que eu queria conversar um
assunto com você, Tony. Tá disponível amanhã?
TONY
– Não
deixe pra falar amanhã o que pode ser dito hoje. Anda, vai,
desembucha.
LAURA
– É
que é assunto profissional.
TONY
– E
vocês acham que estou no happy hour? Meus amores, eu tô na labuta,
trabalho pesado. Pode dizer.
FÁBIA
– Eu
queria saber se você não tem uma vaga de faxineira pra Laura. Ela
precisa trabalhar. Vai passar uma temporada no Rio e precisa ganhar
algum dinheiro.
TONY
– Mas
é claro. Começa amanhã. Das 16 às 2 horas da manhã. Com duas
horas de descanso. Pode ser?
LAURA
– Mas
é claro. Fico imensamente feliz.
Nesse
instante, Felipe (50 anos, branco, cabelos grisalhos, porte físico
médio, charmoso) trajando camisa polo e jeans se aproxima.
FELIPE
– Será
que posso roubar um pouquinho o dono do CopaBar?
FÁBIA
– Você
já roubou até o coração dele.
TONY
– Milagre
você por aqui, Felipe.
FELIPE
– Vim
aproveitar um pouco a noite.
TONY
– Ou
veio me vigiar?
FELIPE
– Jamais.
Não precisamos disso.
TONY
– Tem
razão.
Tony
abraça Felipe com carinho e os dois saem.
LAURA
– São
namorados.
FÁBIA
– Casados
há muitos anos.
Laura
dá uma golada na vodca e volta a olhar o ambiente.
CENA
17. APTO DE PATRICK. QUARTO DE PATRICK. INT. NOITE.
MÚSICA
DA CENA ANTERIOR CESSA.
Patrick
e Marcela estão deitados na cama em trajes íntimos.
PATRICK
– E
sua amiga?
MARCELA
– Tá
mal. Rompeu com uma pessoa que ela gostava muito.
PATRICK
– Com
o marido? Ela é casada?
MARCELA
– Ela
é muito bem casada. Rompeu com um amigo. Alguém que ela considerava
muito.
PATRICK
– Tipo
eu que considero demais a Das Dores.
MARCELA
– Pronto.
Tava demorando pra meter essa menina no nosso meio, né?!
PATRICK
– Desculpa.
Não vamos brigar por causa dela. É tão bom quando você dorme
aqui, meu amor.
SONOPLASTIA:
TE AMO – RIHANNA.
Patrick
e Marcela começam a se beijar calorosamente. Ela percorre a língua
por todo o pescoço dele, vai descendo, passando por seu peitoral,
ela desce até o umbigo, passa a língua e olha maliciosamente para
ele. Ela percorre a língua pelas genitais dele, que delira de
prazer. Num gesto brusco, ele a puxa a beija e a coloca na posição
de quatro.
CLOSE
no rosto de Marcela, que delira de prazer e faz movimentos leves para
frente e para trás.
Música
cessa.
CENA
18. COPABAR. CALÇADA. EXT. NOITE.
Laura
e Fábia estão saindo, quando Lu aparece na porta.
LU
(gritando) – Fábia,
espera aí!
LAURA
– Vai
lá atender sua namoradinha, Fábia.
Fábia
se aproxima de Lu.
FÁBIA
– Que
bom te ver! A gente precisa conversar.
LU
– Tudo
bem que a gente não tem nada. Tô ciente. Mas precisava esfregar
essa mulher na minha cara? Precisa daquilo de manhã? Me senti usada,
pior: descartada.
FÁBIA
– Você
tá confundindo as coisas, Lu.
LU
– Não
tô não. Tá tudo muito nítido. Fica lá com a sua coroa. Aproveita
bastante dela.
Lu
vai saindo, quando Fábia a segura pelo braço.
FÁBIA
– Espera
aí.
LU
– Dá
pra me soltar?
Fábia
solta Lu e a olha com ternura.
FÁBIA
– Aquela
ali é a minha mãe.
Lu
fica surpresa.
FÁBIA
– Eu
nuca falei dela, porque foi traumático. E só vim com ela no
CopaBar, pra poder conseguir com o Tony um emprego pra ela. Foi só
isso.
LAURA
(gritando) – Bora,
Fábia! Depois você conversa!
LU
– Eu
fiz papel de idiota não foi?
Fábia
acaricia o rosto de Lu.
FÁBIA
– Depois
a gente conversa melhor!
Fábia
dá um beijo no canto da boca de Lu e sai.
CENA
19. SÃO PAULO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.
SONOPLASTIA:
SAMPA – Caetano Veloso.
Imagens
suaves e lentas dos principais pontos turísticos da capital, desde o
MASP, passando pelo Memorial da América Latina, o Theatro Municipal
e terminando na frente de um imponente hotel, que ocupa toda a
esquina de uma movimentada avenida.
CENA
20. HOTEL SAN MARTINI. FACHADA. EXT. NOITE.
Sonoplastia
continua.
CAM
sobe devagar, mostrando a arquitetura moderna e muito bem iluminada,
até chegar a uma grandiosa arte, com os dizeres: HOTEL SAN MARTINI
DA COSTA. Ao lado, cinco estrelas douradas reluzem um amarelo-ouro
bem nítido.
Música
cessa.
CENA
21. HOTEL SAN MARTINI. RECEPÇÃO. INT. NOITE.
Ambiente
amplo, cores em tom pastel nas paredes. Carpetes em azul Royal vão
desde a porta de entrada, até o balcão da recepção. Um imenso
Lustre de cristal ilumina o ambiente.
Fluxo
grande de pessoas e funcionários pelo local. Anunciação adentra,
seguida por um rapaz com uniforme do hotel.
ANUNCIAÇÃO
– Minhas
malas estão no táxi lá fora. Faça a gentileza de pegá-las.
RAPAZ
– Não
prefere que eu a acompanhe até a recepção?
ANUNCIAÇÃO
– Não
precisa! Vá pegar minhas malas.
RAPAZ
– Como
a senhora deseja!
O
rapaz sai em direção a rua. Anunciação chega ao balcão da
recepção, onde se encontra uma moça jovem, uniformizada e bem
maquiada.
MOÇA
– Boa
noite! Bem vinda ao Hotel San Martini da Costa. O mais luxuoso e bem
avaliado de toda a capital paulista.
ANUNCIAÇÃO
(amigável) – Boa
noite! Desejo uma boa suíte.
MOÇA
– Nosso
sexto andar tem as melhores suítes, mas creio que a senhora não vá
querer ficar lá.
ANUNCIAÇÃO
– Por
quê? Estão em obra? Já vou avisando que tenho rinite alérgica.
MOÇA
– Não
é isso, nosso hotel está impecável. É que lá se encontram alguns
executivos que vieram para uma convenção. E, a senhora pode ouvir
muitos passos, conversas e até ouvir galanteios de empresários. Não
é recomendado.
ANUNCIAÇÃO
– Mas
vejam só que ironia do destino, também sou empresária. Vim para
algumas reuniões. Não aqui, mas na cidade. Acho que esse ambiente
executivo muito me atrai. Pode me instalar no quinto andar mesmo,
querida.
MOÇA
– Como
a senhora quiser. Só um minutinho que farei o seu check in.
Anunciação
se vira de costas para o balcão e sorri.
CENA
22. APARTAMENTO
FAMÍLIA QUEIRÓS. QUARTO. INT. DIA.
Antônia
vem do banheiro enrolada em um hobby. Com semblante de tristeza, ela
se senta na beirada da cama e fica pensativa.
***INSERT
DO FLASHBACK DO EPISÓDIO 02. CENA 08.***
PIETRO
– Eu
sempre fui diversão, não é? Não passei de um corpo, de um desejo
sexual seu. Um dos tantos caprichos que a dondoca de Ipanema
cultivava. E quer saber a verdade? Eu fiquei com aquela garota de
ontem sim. Nós nos beijamos, nós transamos. E depois da transa, ela
não foi embora ou inventou uma desculpa pra sair. Ela me chamou pra
jantar com ela, pra fazer companhia. Pra conversar como qualquer
casal faria. Como qualquer pessoa que se importa com o sentimento da
outra faria. Taí a diferença entre vocês duas.
Antônia
começa a chorar. Pietro também chora.
PIETRO
– Eu
acho que você nunca amou ninguém. Você precisa começar a se amar
pra poder estabelecer qualquer tipo de relação com alguém,
Antônia.
***FIM
DO FLASHBACK***
SONOPLASTIA:
A vida é um moinho – Beth Carvalho.
Antônia
deixa escorrer uma lágrima.
ANTÔNIA
(pra si) – Talvez
você esteja certo. Talvez eu não saiba manter qualquer relação
com ninguém.
Antônia
passa a mão por cima dos cabelos. Se levanta, vai em direção ao
espelho e se olha por alguns instantes.
ANTÔNIA
– O
que eu tô fazendo com a minha vida, meu Deus? Ainda bem que o
Affonso tá viajando... Ele não merecia isso.
Antônia
se olha e deixa cair mais algumas lágrimas.
CENA
23. HOTEL SAN MARTINI. CORREDOR. INT. NOITE.
Música
cessa. O elevador se abre e Anunciação sai com um cartão em mãos
com o número 555.
ANUNCIAÇÃO
– Aquela
recepcionista disse que eu não iria me perder. É só seguir reto.
Último quarto à esquerda.
Anunciação
caminha até o final. Ela se aproxima de uma porta que está com o
número 555 talhado nela.
ANUNCIAÇÃO
– É
aqui! Agora vai ser duro pra achar a suíte do Affonso.
Ela
passa o cartão e a porta se abre. Ela entra. Quando vai fechar a
porta, ouve o barulho do elevador se abrir.
ANUNCIAÇÃO
– Deve
ser o lerdo do serviçal com minhas malas. Vai ficar sem gorjeta.
Anunciação
sai e vê Affonso entrando em uma suíte. Ela se abaixa e se esconde
em um vaso de plantas próximo. Ele não a vê.
ANUNCIAÇÃO
(surpresa) – Então
ele tá mesmo nesse andar. Preciso saber o número do quarto.
Ouve-se
o barulho da porta da suíte se fechando. Ela corre até lá e vê o
número 550.
ANUNCIAÇÃO
– Então
é aqui!
CENA
24. COPABAR. SALÃO. INT. NOITE.
Local
vazio. Sem música. Lu e Diego se aproximam de Tony, que está vindo
da cozinha.
LU
– Já
terminamos, Tony!
TONY
– Que
ótimo! Pode ir, Lu. Até amanhã.
LU
– Até
amanhã, Tony! Tchau, Diego.
DIEGO
– Tchau!
Lu
sai. Tony não para de fitar Diego, que fica cabisbaixo.
TONY
– Como
você avalia o seu dia, rapaz?
DIEGO
(olhando para o chão) – Acho
que fui bem. Rapidinho eu pego a manha.
Tony,
delicadamente, pega no queixo de Diego e levanta. Fazendo-o ficar
cara a cara com ele.
TONY
– Não
precisa olhar pra baixo, se esconder, rapazinho. Eu fiquei te olhando
o tempo todo, (olhando os músculos de Diego) analisado você, sua
postura. E gostei!
Diego
sorri.
TONY
– Não
costumo empregar alguém fixo, antes do prazo de 45 dias trabalhados,
mas você será uma exceção.
DIEGO
(contente) – Essa
é a melhor notícia. Preciso muito desse emprego.
TONY
– Seja
meu parceiro e poderá ter grandes oportunidades.
DIEGO
– Como
assim?
TONY
– Tá
tarde e você tá cansado. Vá, rapaz. Aproveite e descanse bem.
Amanhã me traga seus documentos e carteira de trabalho. Você é o
novo funcionário fixo do CopaBar.
No
ímpeto, Diego abraça Tony e sai. Tony se escora numa parede e se
abana.
TONY
– Isso
é provação demais, meu Deus!
Felipe
vem da saída e se aproxima.
FELIPE
– Vamos,
Tony! Tô com sono... Amanhã acordo cedo!
TONY
– Ih,
seu ranzinza. Vamos sim.
Tony
e Felipe saem.
CENA
25. RIO
DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. DIA.
SONOPLASTIA:
Empire State of Mind (Part II) Broken Down - Alicia Keys
Um
giro pela Zona Sul, mostrando seus principais pontos, desde a Praia
de Copacabana, Avenida Vieira Souto e os enormes e charmosos prédios
de Ipanema. Takes rápidos e pontuados.
Música
cessa.
CENA
26. GAZETA CARIOCA. SALA DE FÁBIA. INT. DIA.
Fábia
está sentada a mesa, digitando algo no notebook. Mimi entra sem
bater.
MIMI
– Que
bom que já está aqui! Saiba que você respeita horários.
FÁBIA
(olhando pro notebook) – Você
agora virou despertador?
MIMI
– Anunciação
está em férias pelo sul do Brasil. Pediu para que euzinha ficasse
no comando de tudo.
FÁBIA
– Você
não comanda nem as suas próprias calcinhas, que dirá, comandar um
jornal de grande circulação. Não sei por quais motivos a
Anunciação te mantém aqui. Não é jornalista, não é
secretária... Ah, já sei: é leva e traz. Isso deve ser fundamental
para uma pessoa tão querida aqui dentro. Aliás, sua carteira é
assinada como leva e traz ou como puxa-saco? Me bateu essa dúvida
agora.
MIMI
– Você
anda tão amargurada, Fábia. Deveria procurar uma terapia, sabia?
Faz bem. Enaltece a alma.
Fábia
ri ironicamente, se levanta e se aproxima de Mimi.
FÁBIA
– Minha
terapia tá aqui, meu bem: Escrever matérias. E olha que tenho
credibilidade.
MIMI
– Credibilidade,
credibilidade. Você pode ter credibilidade, pode ter status de
jornalista. Mas no fundo você é só uma amargurada. Deve ter tido
uma vidazinha medíocre, não é, sua órfã?
Fábia
dá um tapa em Mimi.
FÁBIA
– Eu
tenho uma vida tão enfadonha, tão medíocre mesmo. Mas vejam só,
você tá aqui. Tá tentando fazer parte dessa vida medíocre, tá
tentando chamar a atenção de uma pessoa que te despreza.
MIMI
– Eu
tenho ódio de você.
FÁBIA
– Cuidado!
Muito ódio assim tende a ser amor encubado.
Mimi
bufa de raiva e sai da sala. O celular de Fábia toca.
Close
na tela com o nome “LAURA”.
FÁBIA
– O
que será que ela quer?
Fábia
pega o celular e atende.
FÁBIA
(ao cel.) – Oi,
Laura. O que você quer?
LAURA
(V.O) – Tá
tudo bem aí?
FÁBIA
– Não!
Mas é assim o clima aqui.
LAURA
(V.O) – Pensei
em levar um almoço fresquinho pra você. Vou começar a preparar um
empadão de frango com palmito. Sei que você gosta, não é?
FÁBIA
– Não
precisa! Tô atolada de serviço aqui. Você nem conhece o Rio
direito. Eu peço um sanduíche mesmo.
LAURA
(V.O) – Nada
disso! Vou até o jornal e levo uma marmitinha pra você. Comida
caseira e da boa.
Fábia
desliga o celular.
FÁBIA
(pra si) – Querendo
bancar a boa mãe. A zelosa. Me poupe, se poupe, nos poupe.
CENA
27. HOTEL SAN MARTINI. CORREDOR. INT. DIA.
Anunciação
sai de sua suíte e passa bem em frente a de Affonso, quando a porta
se abra e uma camareira sai de lá.
ANUNCIAÇÃO
– Nossa,
ainda bem que encontrei alguém que trabalha nesse andar. Entornei
suco no meu lençol todo. Você poderia ver pra mim?
CAMAREIRA
– Claro!
Só me deixa terminar de limpar este quarto antes que o doutor volte.
ANUNCIAÇÃO
– Ele
não está?
CAMAREIRA
– Não.
Acho que saiu cedo. Mas tive ordens pra limpar rápido, porque o
doutor vai voltar. Com licença.
A
camareira se afasta.
ANUNCIAÇÃO
– Doutor.
Esse povo cisma de chamar esse infeliz de doutor. Doutor é quem faz
doutorado. E o doutorado do Afonso é em malandragem, isso sim!
Anunciação
toca o botão do elevador, que se abre e ela entra.
CENA
28. GAZETA CARIOCA. SALA DA PRESIDÊNCIA. INT. DIA.
Mimi,
Fábia e várias outras pessoas estão na sala.
MIMI
– Chamei
vocês aqui, para dizer que estão liberados. O expediente hoje está
encerrado para vocês. Podem ir!
Todos
vão saindo, quando Mimi segura Fábia pelo braço.
MIMI
– Fábia,
você fica. Quero uma matéria sobre o novo filme de Bela Acioli.
FÁBIA
– Vou
pra casa, assisto e trago amanhã a minha crítica pronta.
MIMI
– Não!
Eu quero aqui! Vai ficar aqui, assistir a merda do filme e fazer a
droga da crítica sentada na sua cadeira, na sua sala. Já que é
jornalista e eu sou uma leva e trás. Então, tô te dando ordem para
cumprir a sua função, enquanto eu levo e trago a taça de champanhe
até a minha boca na piscina do Copacabana Palace.
FÁBIA
– Não
tô acreditando nisso! Eu vou ligar agora pra Anunciação.
MIMI
– Liga!
Aproveita e liga daqui da redação. Fala pra ela que você tá se
recusando a trabalhar. A matéria de amanhã já está fechada. E o
povo do plantão tá no andar de cima.
FÁBIA
– Você
me paga.
MIMI
– A
Anunciação te paga. Eu só obedeço a ordens. Até amanhã,
querida.
Mimi
sai. Fábia fica ali por um instante. Logo depois ela sai.
CORTA
PARA: ANTESSALA DA PRESIDÊNCIA.
Fábia
passa pelas repartições, tudo escuro, muito quieto. Ela entra em
sua sala, cabisbaixa.
CENA
29. STOCK-SHOTS.
MORRO DO VIDIGAL. EXT. DIA.
SONOPLASTIA:
A CULTURA – SABOTAGE.
Imagens
da linda vista do Morro do Vidigal, contrastando com os barracos, as
vielas, pessoas andando pelo local, camelôs, botecos animados,
motoboys subindo e descendo, crianças correndo, brincando,
evangélicas orando em uma igreja. Take final na ONG.
MÚSICA
CESSA.
Cena
30. ONG FILHOS DA ARTE. SALA. INT. DIA.
Antônia
e Donna estão sentadas conversando.
ANTÔNIA
– E
o cheque?
DONNA
– O
dinheiro já está na nossa conta.
ANTÔNIA
– Que
ótimo! A gente já pode pensar em licitação pra comprar materiais
de música novos e construir uma biblioteca também.
DONNA
– Biblioteca
pra quê?
ANTÔNIA
– A
Marcela, minha amiga, é professora de literatura na UERJ e ficou
encantada com o trabalho aqui da ONG. Quero muito que ela traga
cultura pra essa gente. O Vidigal respira música, respira arte, mas
precisa conhecer de verdade de onde tudo isso se originou. Essa noite
pensei numas coisas também.
DONNA
– Pelo
jeito você não dormiu.
ANTÔNIA
– E
não dormi mesmo. Acertou. Aí fiquei bolando essas coisas.
DONNA
– Percebi
quando você tirou os óculos. Tá com uma olheira imensa, mulher.
ANTÔNIA
– Desgraça
pouca é bobagem, mulher! Aqui, pensei na gente fazer um show
beneficente com os meninos da ONG. O que acha? Arrecadar uma grana e
dar uma agitada nisso daqui. Quase um ano que eles não se
apresentam.
DONNA
– Excelente
ideia, Antônia. Vou falar com os meninos na aula. Aliás, tô
atrasada já. Beijos.
Donna
sai. Antônia se levanta, sorri.
ANTÔNIA
– Ao
menos isso daqui eu faço com amor.
CENA
31. GAZETA CARIOCA. CORREDOR. INT. DIA.
SONOPLASTIA:
SUSPENSE.
CAM
Subjetiva vai andando bem devagar pelo corredor. Ao chegar próximo a
sala de Fábia, uma luva preta com um canivete aparece e corta alguns
fios próximos. Pouco depois, a mão com a luva risca a ponta de
metal de um fio na ponta de metal de outro fio e começa um
curto-circuito.
CENA
32. HOTEL SAN MARTINI. CORREDOR. INT. DIA.
Anunciação
sai do elevador e para de frente para a porta da suíte de Affonso.
ANUNCIAÇÃO
– Quem
sabe o que planta, não teme a colheita.
Ela
respira fundo e toca a campainha.
CENA
33. GAZETA CARIOCA. SALA DE FÁBIA. INT. DIA.
Fábia
está digitando algo no computador. Ela para, olha o celular.
FÁBIA
– A
Laura tá demorando tanto. Vou descer e comer um sanduíche.
Ela
olha em direção a porta e vê uma fumaça preta entrar pelas
frestas.
FÁBIA
– Que
isso?
Ela
se levanta e abre a porta, quando entra muita fumaça e uma labareda
enorme impede a sua passagem. Fábia começa a tossir muito.
FÁBIA
(gritando/ entre tosse) – Socorro!
Alguém me ajuda! Socorro!
Imagem
congela no desespero de Fábia.
autor
Wesley Alcântara
elenco
SIMONE SPOLADORE como Antônia
MARIA EDUARDA DE CARVALHO como Fábia
SHERON MENEZES como Marcela
ADRIANA GARAMBONE como Anunciação
ERIBERTO LEÃO como Affonso
MATHEUS NATCHERGAELE como Tony
elenco secundário
MALU GALLI como Laura
ALICE WEGMANN como Lu
AGATHA MOREIRA como Das Dores
RÔMULO ESTRELA como Pietro
THIAGO MARTINS como Patrick
MEL LISBOA como Mimi
LUKA como Donna
músicas
Festa das Patroas - Marília Mendonça feat Maiara e Maraísa
Ela é carioca – Adriana Calcanhoto
Na paz – Orlando Morais
How Deep Is your Love – Calvin Harris & Disciples
Te amo – Rihanna
Sampa – Caetano Veloso
Empire State of Mind (part II) Broken Down Alicia Keys
produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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