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ANTI-HERÓI SÉRIE
40:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
ANTI-HERÓI
Série
de
Cristina Ravela
Episódio 02 de 08
© 2017, WebTV.
Todos os direitos reservados.
Todos os direitos reservados.
ATO DE ABERTURA
NILO
(V.O)
A verdade é uma cinza humana jogada na minha cara. Eu havia matado um homem. Eu matei o herói que havia em mim?
(V.O)
A verdade é uma cinza humana jogada na minha cara. Eu havia matado um homem. Eu matei o herói que havia em mim?
FADE IN
CENA 1 INT. - APTº DE NILO E
LILA / QUARTO – NOITE
Nilo
e Lila aos beijos, se pegando, de contra a parede. Nilo beija seu
pescoço, alisa sua cintura e /
Ambos
caem na cama, já sem roupa, Nilo faz movimentos bruscos. Lila
arranha suas costas, contorcendo-se de prazer.
CORTE
DESCONTÍNUO
Nilo
deita na cama, ambos suados e exaustos. A garota olha para Nilo com
olhar ao léu. Destaque para o seu rosto, com um hematoma e alguns
pequenos ferimentos causados pelo caco de vidro.
LILA
Será que agora você pode me contar o que aconteceu?
Será que agora você pode me contar o que aconteceu?
NILO
A culpa é sua. Não resisto a esse seu corpinho.
A culpa é sua. Não resisto a esse seu corpinho.
Ambos
riem.
LILA
Me refiro a ontem à noite. Por onde andou? Ou acha que eu não reparei essas marcas na tua cara?
Me refiro a ontem à noite. Por onde andou? Ou acha que eu não reparei essas marcas na tua cara?
Nilo
fecha a cara, pensa em algo.
NILO
Não foi nada. (Lila o encara, insatisfeita) Ok, eu fui atrás do Murilo.
Não foi nada. (Lila o encara, insatisfeita) Ok, eu fui atrás do Murilo.
Lila
se levanta, preocupada.
LILA
Sério?! Você agora deu pra resolver as coisas na porrada?
Sério?! Você agora deu pra resolver as coisas na porrada?
NILO
Não me julgue. Ele me difamou! Olha, eu já passei por coisas demais na minha vida /
Não me julgue. Ele me difamou! Olha, eu já passei por coisas demais na minha vida /
LILA
(por cima) E eu passei junto. Eu vi as suas perdas, Nilo. Você já sofreu atentados.
(por cima) E eu passei junto. Eu vi as suas perdas, Nilo. Você já sofreu atentados.
NILO
E por isso eu devo aceitar calado? O que virá depois de uma difamação?
E por isso eu devo aceitar calado? O que virá depois de uma difamação?
LILA
Você não matou ninguém. É isso que importa. (aperta seu queixo, dengosa) Meu herói.
Você não matou ninguém. É isso que importa. (aperta seu queixo, dengosa) Meu herói.
Nilo
engole a seco, preocupado.
CENA
2 INT.
- APTº DE NILO E LILA / QUARTO – DIA
No
casal dormindo. Agora é possível perceber um quarto amplo, arejado,
com uma porta para a varanda. Pisos escuros contrastando com as
paredes brancas e um cartaz da Liga da Justiça em uma delas.
Ao
lado do guarda-roupa, uma escrivaninha com laptop, impressora,
canetas e livros.
Nilo
desperta, dá uma olhada em Lila. Levanta.
CENA
3 INT.
- APTº DE NILO E LILA / COZINHA - DIA
Nilo
prepara o café. O celular sobre o balcão TOCA. Nilo apanha uma
toalha, seca as mãos e verifica a chamada. Trata-se de uma mensagem.
POV
DE NILO — Surge uma mensagem na tela: “Parece que alguém queimou
o próprio filme”
Um
clique e o vídeo se abre. É a gravação da noite anterior na qual
Nilo mata Vince Lemos. — FIM DO POV
Lila
já está logo atrás, espreguiçando-se.
LILA
É o Roger? Aposto que é pra enviar algum meme novo. Acertei?
É o Roger? Aposto que é pra enviar algum meme novo. Acertei?
Na
expressão assombrada dele.
FADE
OUT
FIM
DO ATO DE ABERTURA
EPISÓDIO
2
A
VERDADE É UMA CINZA HUMANA
PRIMEIRO
ATO
FADE
IN
SONOPLASTIA:
Defame Me - New Years Days
Takes
pontuados da cidade. Destaque para a Central do Brasil sempre lotada,
a Cinelândia cercada pela Biblioteca Nacional e o Theatro Municipal.
O Museu de Belas Artes. O vai e vem dos ônibus nas principais vias.
Na
fachada da delegacia.
FIM
DA SONOPLASTIA
CENA 4 INT. - DELEGACIA
/ SALA DO DELEGADO - DIA
No rosto do delegado Moreira, sentado
em sua cadeira, cotovelos apoiados sobre a mesa e as mãos no queixo,
pensativo.
MOREIRA
Então...foi isso? Você não conhecia a vítima, mas ela entrou em sua casa, em seu laboratório sem o menor esforço. Você sabe que pode contar comigo, não sabe, Emília?
Então...foi isso? Você não conhecia a vítima, mas ela entrou em sua casa, em seu laboratório sem o menor esforço. Você sabe que pode contar comigo, não sabe, Emília?
Emília, diante dele, mantendo a
calma.
EMÍLIA
Eu sou muito grata pelo senhor ter colocado o meu irmão como seu braço direito aqui. Jamais mentiria.
Eu sou muito grata pelo senhor ter colocado o meu irmão como seu braço direito aqui. Jamais mentiria.
MOREIRA
Quem mais tinha acesso ao laboratório, além de você e do seu irmão? Porque esse sujeito, seja lá quem for, não lutou sozinho.
Quem mais tinha acesso ao laboratório, além de você e do seu irmão? Porque esse sujeito, seja lá quem for, não lutou sozinho.
Emília olha rapidamente para o
policial TONINHO (moreno, 49 anos, carrancudo e magro), de pé,
encarando-a com desprezo. O escrivão anotando tudo.
EMÍLIA
Seja lá quem entrou, delegado, parece que entrou sem esforço também. Sinal de que preciso redobrar a segurança, não é?
Seja lá quem entrou, delegado, parece que entrou sem esforço também. Sinal de que preciso redobrar a segurança, não é?
Moreira faz que sim, recosta em sua
cadeira, vencido.
CENA
5
EXT.
- DELEGACIA – DIA
Toninho
desce com o celular a postos. Verifica se ninguém está olhando.
TONINHO
A vegana dos infernos acabou de sair. Se fez de coitada pro delega. (T) Uma sonsa que nem o irmãozinho dela. (T) Tá bom, chefia, relaxa, vo fazer besteira nenhuma não. Vo só ficar na maciota.
A vegana dos infernos acabou de sair. Se fez de coitada pro delega. (T) Uma sonsa que nem o irmãozinho dela. (T) Tá bom, chefia, relaxa, vo fazer besteira nenhuma não. Vo só ficar na maciota.
Toninho
desliga, raiva estampada na cara.
CENA
6 EXT. - REDAÇÃO NOVO DIA - DIA
Murilo
(com hematoma no rosto) acaba de descer da van, ajeitando a bolsa a
tiracolo. Aguarda, ansioso, o ônibus passar, mas vai logo
atravessando a rua. Quando o ônibus some da tela, Murilo dá de cara
com Nilo, esperando-o na calçada.
MURILO
(deboche)
Você gosta mesmo de chegar de surpresa, né?
(deboche)
Você gosta mesmo de chegar de surpresa, né?
Nilo,
com cara de poucos amigos, mostra o celular com o vídeo.
NILO
O que significa isso?
O que significa isso?
MURILO
(irônico)
Um furo de reportagem?
(irônico)
Um furo de reportagem?
Nilo
quase avança, mas não parte pra cima.
NILO
Você aproveitou pra gravar tudo quando poderia ter me ajudado. As coisas não precisavam ter terminado daquele jeito.
Você aproveitou pra gravar tudo quando poderia ter me ajudado. As coisas não precisavam ter terminado daquele jeito.
MURILO
(tranquilo)
Eu não ia te ajudar a sujar as mãos, Nilo. Não sou um assassino.
(tranquilo)
Eu não ia te ajudar a sujar as mãos, Nilo. Não sou um assassino.
NILO
Você tava lá, viu que eu não tive a intenção/
Você tava lá, viu que eu não tive a intenção/
MURILO
Usar um objeto cortante para se defender de um alucinado não parece uma proposta de alguém bem-intencionado, Nilo.
Usar um objeto cortante para se defender de um alucinado não parece uma proposta de alguém bem-intencionado, Nilo.
NILO
Eu usei algo cortante para te defender! (Murilo fecha o sorriso de escárnio) Não se esqueça que se você vai me detonar no teu jornal é porque tá vivo.
Eu usei algo cortante para te defender! (Murilo fecha o sorriso de escárnio) Não se esqueça que se você vai me detonar no teu jornal é porque tá vivo.
Murilo
vacila o olhar, incomodado com a verdade. Porém, não o suficiente
para perder a pose.
MURILO
Ninguém vai lembrar de mim quando o teu nome estiver no jornal. É a história do herói que virou assassino.
Ninguém vai lembrar de mim quando o teu nome estiver no jornal. É a história do herói que virou assassino.
NILO
Cê tem razão. Ninguém vai lembrar de você. A diferença entre nós dois é justamente essa: eu tenho um nome a zelar.
Cê tem razão. Ninguém vai lembrar de você. A diferença entre nós dois é justamente essa: eu tenho um nome a zelar.
Thales
já chegando ali, desconfiado.
THALES
(mãos na cintura)
Opa, opa! A que devemos a honra do falso herói aqui diante da Novo Dia?
(mãos na cintura)
Opa, opa! A que devemos a honra do falso herói aqui diante da Novo Dia?
Nilo
e Murilo fitando-se.
NILO
(para Thales)
Vim olhar pra essa tua cara de sebo.
(para Thales)
Vim olhar pra essa tua cara de sebo.
Nilo
sai de cena. Thales, lado a lado de Murilo, vendo Nilo ir embora.
THALES
O que ele queria?
O que ele queria?
MURILO
Olhar pra essa tua cara de sebo.
Olhar pra essa tua cara de sebo.
Sério,
Murilo dá as costas, deixando Thales mais desconfiado.
CENA
7
INT. - MANDRAKE PUB – DIA
Funcionários
arrumam as cadeiras; limpam mesas; outros repõem as prateleiras com
bebidas.
Vinnie,
sentado à mesa de poker, verificando o celular. William chega por
ali com um papel dobrado.
VINNIE
Que cara de enterro é essa, William?
Que cara de enterro é essa, William?
WILLIAM
Rafael mandou entregar. É do IML.
Rafael mandou entregar. É do IML.
Vinnie,
estranhando, pega o papel e abre. Espia William, levanta da mesa;
fecha o papel e devolve. Ajeita o paletó e quase sai, quando /
WILLIAM
Senhor...?
Senhor...?
VINNIE
Não precisa me dar os pêsames, meu amigo.
Não precisa me dar os pêsames, meu amigo.
Vinnie
deixa o cenário. William olha para o papel, compreensivo.
CENA
8
INT.
- MEGACAFÉ - DIA
Nilo
e Roger sentados ao lado de uma área envidraçada, com vista para
uma rua de frente. Roger bebe o mate, ansioso.
ROGER
Com o laboratório fechado, como vamos dar continuidade às investigações?
Com o laboratório fechado, como vamos dar continuidade às investigações?
NILO
Precisamos ir pra Valquíria, mas não agora, tá, Roger?
Precisamos ir pra Valquíria, mas não agora, tá, Roger?
ROGER
Ah, qualé! Valquíria já tá virando cenário de Urban Legend: quem entra, não sai. Quem tá fora, tem medo de entrar. Ninguém nem gosta de citar o nome. (faz segredo)Sabe o que fiquei sabendo? Que a casa daquela família assassinada tá abandonada. Será que nem drogado invade? Aí tem.
Ah, qualé! Valquíria já tá virando cenário de Urban Legend: quem entra, não sai. Quem tá fora, tem medo de entrar. Ninguém nem gosta de citar o nome. (faz segredo)Sabe o que fiquei sabendo? Que a casa daquela família assassinada tá abandonada. Será que nem drogado invade? Aí tem.
NILO
Roger, acho melhor você aproveitar a sua tarde de folga. O chefe mandou eu dar uma averiguada no laboratório.
Roger, acho melhor você aproveitar a sua tarde de folga. O chefe mandou eu dar uma averiguada no laboratório.
ROGER
Como assim? A polícia não cercou tudo? (Nilo nem encara-o) Ai, posso ir junto?
Como assim? A polícia não cercou tudo? (Nilo nem encara-o) Ai, posso ir junto?
NILO
Você não tinha dito que tava ansioso pelo seu dia de folga? Então...
Você não tinha dito que tava ansioso pelo seu dia de folga? Então...
ROGER
(fazendo manha)
Detesto quando você se esquiva. Cê devia levar em conta que o chefe disse primeiro pra mim que quer descobrir quem é o assassino.
(fazendo manha)
Detesto quando você se esquiva. Cê devia levar em conta que o chefe disse primeiro pra mim que quer descobrir quem é o assassino.
MOREIRA
(O.S)
Eu também, rapaz.
(O.S)
Eu também, rapaz.
Nilo
se assusta, mas disfarça a tensão.
MOREIRA
Desculpe, posso?
Desculpe, posso?
ROGER
Claro! Senta aí com a gente. Conte pra nós, como vão as investigações sobre a morte de João Víthor?
Claro! Senta aí com a gente. Conte pra nós, como vão as investigações sobre a morte de João Víthor?
Moreira
olha para Nilo, um olhar admirado.
MOREIRA
Ahn, foi concluído que o ator sofreu um infeliz acidente. (debruça os braços sobre a mesa) Mas não se preocupe, Nilo, que o Jack Freitas só voltará a rodar o filme daqui a um mês.
Ahn, foi concluído que o ator sofreu um infeliz acidente. (debruça os braços sobre a mesa) Mas não se preocupe, Nilo, que o Jack Freitas só voltará a rodar o filme daqui a um mês.
NILO
Porque eu me preocuparia?
Porque eu me preocuparia?
MOREIRA
Eu sei o quanto é difícil pra você reviver o passado. (pousa a mão sobre a mão de Nilo) Conte comigo para o que precisar.
Eu sei o quanto é difícil pra você reviver o passado. (pousa a mão sobre a mão de Nilo) Conte comigo para o que precisar.
Na
troca de olhares sinuosos entre Roger, passando para Moreira, até
encontrarmos os de Nilo. Nilo retira a mão, levanta-se.
NILO
Desculpe, preciso ir. Roger, cê paga aí?
Desculpe, preciso ir. Roger, cê paga aí?
ROGER
(inconformado)
Mas cê disse que ia pagar pra mim...
(inconformado)
Mas cê disse que ia pagar pra mim...
Nilo
já saiu batido dali. Roger observa-o se afastar. Pega a carteira do
bolso da camisa, saca uma grana e deixa na mesa.
MOREIRA
Isso porque eu cheguei?
Isso porque eu cheguei?
ROGER
Não é nada pessoal, delegado, mas o dever me chama.
Não é nada pessoal, delegado, mas o dever me chama.
Roger
levanta e sai apressado. Moreira espia, sem entender.
Na
fachada do Mandrake Pub. CAM direciona para uma das janelas do
triplex.
CENA
9
INT.
- MANDRAKE PUB / CASA
DE VINNIE / SALA
- DIA
Um
ambiente requintado, arquitetura tipicamente russa (pisos escuros,
tapetes estampados; móveis rústicos; candelabros extravagantes
tornam o local mais sofisticado).
Vinnie
e Rafael vêm da direção do corredor, abraçados.
VINNIE
Pensei que não viria. Você tem o poder de me acalmar.
Pensei que não viria. Você tem o poder de me acalmar.
RAFAEL
Sinto muito pelo seu irmão. Sei que não se davam bem, mas /
Sinto muito pelo seu irmão. Sei que não se davam bem, mas /
VINNIE
(por cima)
Quero que você me informe de cada passo do Moreira. Ele não vai abafar esse caso como fez do ator. Vince Lemos era muito importante para a sociedade.
(por cima)
Quero que você me informe de cada passo do Moreira. Ele não vai abafar esse caso como fez do ator. Vince Lemos era muito importante para a sociedade.
RAFAEL
(insatisfeito)
Moreira arquivou o caso porque era o nome do Nilo envolvido, isso sim.
(insatisfeito)
Moreira arquivou o caso porque era o nome do Nilo envolvido, isso sim.
Vinnie
sorri, aproxima-se do bar e apanha uma garrafa de Jack Daniels.
VINNIE
Não seja modesto, meu caro. Sei que você convenceu o delegado a esquecer esse caso (Vinnie serve dois copos). Você tem lábia.
Não seja modesto, meu caro. Sei que você convenceu o delegado a esquecer esse caso (Vinnie serve dois copos). Você tem lábia.
Rafael
sorri, malicioso. Vinnie oferece a bebida.
RAFAEL
To no meu horário de serviço, Vinnie.
To no meu horário de serviço, Vinnie.
VINNIE
Moreira costuma chegar muito perto de você pra...(faz um gesto em direção a boca) verificar o aroma?
Moreira costuma chegar muito perto de você pra...(faz um gesto em direção a boca) verificar o aroma?
Ambos
sorriem, Vinnie pega Rafael pela nuca e o beija na boca. Beijo
intenso, mas rápido.
RAFAEL
Agora, será que você pode me dizer por que protege esse Nilo? Tu sabe que ele tá do lado da lei, então /
Agora, será que você pode me dizer por que protege esse Nilo? Tu sabe que ele tá do lado da lei, então /
Vinnie
dá as costas, bebe sua vodca num gole só.
VINNIE
Ora, meu querido, não está com ciúme, não? Todo bom vilão tem um amigo herói. (vira-se para ele) E eu sou o vilão dessa história.
Ora, meu querido, não está com ciúme, não? Todo bom vilão tem um amigo herói. (vira-se para ele) E eu sou o vilão dessa história.
Vinnie
ri, Rafael também, mas sem confiança.
CENA
10
INT.
- MANDRAKE PUB - DIA
Vinnie
desce as escadas, William vem ao seu encontro.
WILLIAM
Rafael já foi?
Rafael já foi?
VINNIE
Sim, saiu pelos fundos, como sempre.
Sim, saiu pelos fundos, como sempre.
Vinnie
ajeita suas abotoaduras, enquanto nota a preocupação em William.
VINNIE
Ora, William, não maltrate sua aparência com essa testa franzida, homem; diga, o que lhe aflige?
Ora, William, não maltrate sua aparência com essa testa franzida, homem; diga, o que lhe aflige?
WILLIAM
O senhor sabe que não gosto de fazer conjecturas, mas...o quanto confia nesse Rafael?
O senhor sabe que não gosto de fazer conjecturas, mas...o quanto confia nesse Rafael?
VINNIE
(coloca a mão em seu ombro)
Ah, William, sempre preocupado com o meu bem-estar. Rafael não me oferece riscos; está nas minhas mãos muito mais do que eu na dele.
(coloca a mão em seu ombro)
Ah, William, sempre preocupado com o meu bem-estar. Rafael não me oferece riscos; está nas minhas mãos muito mais do que eu na dele.
WILLIAM
É, mas um rapaz ciumento pode ser muito perigoso, ainda mais alguém com o cargo dele. Ele já sabe que tá concorrendo diretamente com Nilo Rodrigues?
É, mas um rapaz ciumento pode ser muito perigoso, ainda mais alguém com o cargo dele. Ele já sabe que tá concorrendo diretamente com Nilo Rodrigues?
Vinnie
acha graça, toca o rosto do amigo, carinhosamente.
VINNIE
Como você é maldoso, William. Nilo é apenas um bom amigo.
Como você é maldoso, William. Nilo é apenas um bom amigo.
WILLIAM
Hmm, eu e os presentes importados sabemos disso. Qual será o próximo passo?
Hmm, eu e os presentes importados sabemos disso. Qual será o próximo passo?
VINNIE
Quero a herança deixada pelo meu querido e finado irmão, Vince.
Quero a herança deixada pelo meu querido e finado irmão, Vince.
WILLIAM
Mas antes o senhor precisa resolver umas pendências.
Mas antes o senhor precisa resolver umas pendências.
VINNIE
Então, a cabeça de Moni Vasco primeiro.
Então, a cabeça de Moni Vasco primeiro.
Vinnie
ri, sedutor, junto a William.
CENA
11
EXT.
- BAIRRO
VALQUÍRIA
- DIA
Um
grupo de viciados fumando num canto. Um rapaz qualquer escapa de um
senhor de dentro da padaria, enquanto segura um saco de pães.
HOMEM
Seu filho da puta! Se eu te pego, eu te capo!
Seu filho da puta! Se eu te pego, eu te capo!
O
garoto sai rindo, encontra os amigos viciados e distribui os pães.
CENA
12
INT.
- BAR
94 / VALQUÍRIA
- DIA
Na
droga sobre a mesa. Branco faz carreira de pó, deita o rosto e se
prepara para aspirar a droga, quando leva um safanão na nuca. O pó
se espalha.
BRANCO
Pô, Butuca! Olha a merda que tu fez!
Pô, Butuca! Olha a merda que tu fez!
Butuca
e mais alguns outros caem na gargalhada.
BUTUCA
Tá sempre chapado só pra não bancar o ativo.
Tá sempre chapado só pra não bancar o ativo.
Branco
se levanta com sangue nos olhos, derruba a cadeira.
BRANCO
Tá querendo levar uma bazuca no meio da cara, seu retardado?
Tá querendo levar uma bazuca no meio da cara, seu retardado?
Butuca
segura o bandido, tentando acalmar.
BUTUCA
To de caô, rapá. Todo mundo aqui sabe que tu é macho pra caramba, né não, rapaziada?
To de caô, rapá. Todo mundo aqui sabe que tu é macho pra caramba, né não, rapaziada?
Os
outros concordam, aos risos, mas logo mudam o foco ao ouvir um canto.
É Moni chegando, sorridente, sacudindo os ombros e com uma garrafa
de champanhe; rodopia com um olhar sagaz.
MONI
(cantarola)
Malandramente...se achava o cara, mas quebrou a cara, virou churrasquinho de gente. (os caras batem palmas) Ah, safado, devia era tá bem chapado, agora dou recadinho pra ti: Nós se vê por aí, nós se vê por aí...
(cantarola)
Malandramente...se achava o cara, mas quebrou a cara, virou churrasquinho de gente. (os caras batem palmas) Ah, safado, devia era tá bem chapado, agora dou recadinho pra ti: Nós se vê por aí, nós se vê por aí...
Moni
gargalha, felicíssima.
BUTUCA
Moni, quem você matou?
Moni, quem você matou?
MONI
Essa é a parte chata: não matei ninguém, brow. Vince Lemos foi morto por exceder o limite de veganismo (ri).
Essa é a parte chata: não matei ninguém, brow. Vince Lemos foi morto por exceder o limite de veganismo (ri).
Butuca
olha para os demais, sério.
BUTUCA
Cumé que foi isso?
Cumé que foi isso?
MONI
Olha que ironia: Vince virou churrasco no laboratório vegano, sacou? Esse povo desistiu de respeitar os animais; já foi logo metendo o homem na brasa.
Olha que ironia: Vince virou churrasco no laboratório vegano, sacou? Esse povo desistiu de respeitar os animais; já foi logo metendo o homem na brasa.
Todos,
até então, sérios, gargalham juntos. Moni abre a garrafa de
champanhe, que explode em espuma.
MONI
Agora, Vinnie Ludwig que me aguarde!
Agora, Vinnie Ludwig que me aguarde!
No
festejo deles.
CENA
13
INT.
- CRACHÁ VERDE / LABORATÓRIO - DIA
O
local está com boa parte em cinzas, bagunçado, área demarcada com
fitas amarelas.
NILO
(O.S)
Acha possível encontrarem minhas digitais?
(O.S)
Acha possível encontrarem minhas digitais?
CORTE
DESCONTÍNUO
Nilo
e Emília próximos ao balcão da LOJA, no momento, vazia.
EMÍLIA
O Moreira tá empenhado /
O Moreira tá empenhado /
NILO
(soca o balcão)
Droga!
(soca o balcão)
Droga!
Emília
tenta confortá-lo, tocando em seu ombro.
EMÍLIA
Eu não disse nada sobre você, fique tranquilo /
Eu não disse nada sobre você, fique tranquilo /
NILO
(larga dela, revoltado)
Eu não posso ficar tranquilo, Emília! Eu matei uma pessoa!
(larga dela, revoltado)
Eu não posso ficar tranquilo, Emília! Eu matei uma pessoa!
EMÍLIA
Foi em legítima defesa, Nilo. Qualquer um entenderia /
Foi em legítima defesa, Nilo. Qualquer um entenderia /
Nilo
caminha com as mãos na cintura, de um lado para o outro.
NILO
O que sugere? Que eu me entregue?
O que sugere? Que eu me entregue?
EMÍLIA
Ahn...A imprensa já te acusou pela morte de João Víthor, imagine se souberem que você matou um homem aqui?
Ahn...A imprensa já te acusou pela morte de João Víthor, imagine se souberem que você matou um homem aqui?
NILO
Se ao menos eu tivesse matado um bandido…
Se ao menos eu tivesse matado um bandido…
Emília
olha para Nilo, surpresa, mas ele nem saca.
NILO
Eu já passei por tempos difíceis, mas matar um inocente tá sendo demais pra mim.
Eu já passei por tempos difíceis, mas matar um inocente tá sendo demais pra mim.
EMÍLIA
Você já contou pros seus amigos? Pra Lila?
Você já contou pros seus amigos? Pra Lila?
Nilo
faz o pensativo, reluta em responder.
NILO
Não…
Não…
EMÍLIA
E por que não?
E por que não?
NILO
Eu não sei qual seria a reação deles se souberem que a imagem de herói que a Lila ajudou a construir...
Eu não sei qual seria a reação deles se souberem que a imagem de herói que a Lila ajudou a construir...
CAM
BUSCA Roger no LADO DE FORA, ouvindo tudo, esbabacado.
NILO
(O.S / cont.)
...Não existe mais.
(O.S / cont.)
...Não existe mais.
Roger
SOME dali.
CENA
14
INT.
- REDAÇÃO
NOVO
DIA / SALA
DE REDAÇÃO
– DIA
Murilo,
animado, vem segurando um milk-shake de um lado e o celular de outro.
Encontra Paulinha sentada, redigindo um texto.
MURILO
Fala aí, Paulinha. Hoje tem, hen.
Fala aí, Paulinha. Hoje tem, hen.
Murilo
senta do outro lado, bebe o milk-shake rapidamente e deixa o copo
sobre a mesa. Esfrega as mãos, ansioso, sob o olhar curioso de
Paulinha.
PAULINHA
Posso saber o que tem hoje?
Posso saber o que tem hoje?
MURILO
A melhor bomba da semana. Sabe a morte daquele ator lá? (Paulinha faz que sim) E a novela Escolhas da Vida? (a garota assente) Esquece. O que tenho aqui vai acabar com a audiência de ambos. Vamos botar pra ferver!
A melhor bomba da semana. Sabe a morte daquele ator lá? (Paulinha faz que sim) E a novela Escolhas da Vida? (a garota assente) Esquece. O que tenho aqui vai acabar com a audiência de ambos. Vamos botar pra ferver!
Ambos
riem. Murilo se concentra diante do computador sem perceber que
Thales está por ali e ouviu a conversa.
FADE OUT
FIM
DO PRIMEIRO ATO
SEGUNDO ATO
SEGUNDO ATO
NILO
(V.O)
Enquanto eu me sentia morto por dentro, Vince tinha morrido de verdade.
(V.O)
Enquanto eu me sentia morto por dentro, Vince tinha morrido de verdade.
FADE
IN
CENA
15 INT. - BAR 94 / VALQUÍRIA – DIA
Homens
bebendo, jogando sinuca; riem de qualquer coisa. Algumas mulheres
fumando à mesa também jogam conversa fora.
Corta
para uma SALETA
Na
tela do PC, o Google Maps está aberto exibindo as proximidades da
Carioca News. Butuca aponta para uma construção inacabada.
BUTUCA
Aqui ó. Dá pra fazer uma boa mira. Tem como errar não. Ninguém nem vai sacar que tamo dentro dessa casa.
Aqui ó. Dá pra fazer uma boa mira. Tem como errar não. Ninguém nem vai sacar que tamo dentro dessa casa.
Branco
deposita um pó branco no copo de cerveja.
BRANCO
Mó doideira isso. Né mais fácil meter uma bala nas fuças daquele Vinnie?
Mó doideira isso. Né mais fácil meter uma bala nas fuças daquele Vinnie?
BANDIDO
#1
Já tentamos isso da outra vez. Tá com o tio Alzheimer, pow? Perdemos quatro na operação, cumpadi.
Já tentamos isso da outra vez. Tá com o tio Alzheimer, pow? Perdemos quatro na operação, cumpadi.
BUTUCA
É, por causa disso, neguinho ligou o Russo ao esquema.
É, por causa disso, neguinho ligou o Russo ao esquema.
BRANCO
Joga uma bomba naquele restaurante dele, ué.
Joga uma bomba naquele restaurante dele, ué.
BUTUCA
Falou o cara. Se mirar no loiro lá, capaz de acertar o guarda-costas dele, que ninguém liga.
Falou o cara. Se mirar no loiro lá, capaz de acertar o guarda-costas dele, que ninguém liga.
RISOS,
inclusive do Branco. Moni, por ali, bebendo uma skol beats.
MONI
Não quero desperdiçar munição, amigos. A minha ideia é brilhante. Se não posso pegar um tubarão, pego o peixe pequeno.
Não quero desperdiçar munição, amigos. A minha ideia é brilhante. Se não posso pegar um tubarão, pego o peixe pequeno.
BUTUCA
Já é!
Já é!
No
sorriso malicioso de Moni /
Na
fachada da Redação NOVO DIA
THALES
(V.O)
Foi isso mesmo que ouvi...
(V.O)
Foi isso mesmo que ouvi...
CENA
16 INT. - REDAÇÃO NOVO DIA / ESCRITÓRIO – DIA
Corta
diretamente em Thales, de pé, mãos na cintura, aquela pose de
nervosinho e metido a sabichão.
THALES
Ele disse que tem uma bomba...alguma coisa a ver com a morte de João Víthor (se atrapalha)...que ele fez uma escolha, algo assim.
Ele disse que tem uma bomba...alguma coisa a ver com a morte de João Víthor (se atrapalha)...que ele fez uma escolha, algo assim.
Amora,
sentada diante dele, cotovelos sobre a mesa, mãos apoiando o queixo.
AMORA
Escolha, é? Interessante...
Bom, a polícia arquivou o caso desse ator, mas...(pensativa) será que houve uma reviravolta? (ansiosa) Será que descobriram que o Nilo o matou mesmo?
Escolha, é? Interessante...
Bom, a polícia arquivou o caso desse ator, mas...(pensativa) será que houve uma reviravolta? (ansiosa) Será que descobriram que o Nilo o matou mesmo?
THALES
Bem provável. Quer que eu chame o Murilo aqui?
Bem provável. Quer que eu chame o Murilo aqui?
AMORA
Sim, sim. Como ele planeja uma pauta sem falar comigo antes? Chame-o agora!
Sim, sim. Como ele planeja uma pauta sem falar comigo antes? Chame-o agora!
Thales
faz que sim.
CENA
17 INT. - REDAÇÃO CARIOCA NEWS / SALA DE REDAÇÃO
– DIA
Movimentação
típica. Roger conversa com um colega e, em segundo plano, surge
Nilo, adentrando o local, meio cabisbaixo.
NILO
Fala aí, gente! Oi, Roger.
Fala aí, gente! Oi, Roger.
O
colega sai dali, Roger dá uma olhada rápida para Nilo, mas nada
diz. Vai para a sua mesa e senta.
NILO
Algum problema, Roger?
Algum problema, Roger?
Roger
disfarça, se atrapalha na hora de arrumar a mesa; deixa cair
algumas canetas.
ROGER
Não...Por quê? Você tem algum que queira compartilhar comigo?
Não...Por quê? Você tem algum que queira compartilhar comigo?
NILO
Ahn...Eu? Não…
Ahn...Eu? Não…
ROGER
Então, ótimo.
Então, ótimo.
Roger
não o encara. Lila aparece ali e abraça Nilo, desconcertado com a
recepção de Roger.
LILA
(para Nilo)
To precisando de você. Quero saber o nome da vítima do laboratório, e eu tenho certeza de que o delegado Moreira não hesitaria em dá-lo a você primeiro.
(para Nilo)
To precisando de você. Quero saber o nome da vítima do laboratório, e eu tenho certeza de que o delegado Moreira não hesitaria em dá-lo a você primeiro.
ROGER
Coisa de privilegiado, né não?
Coisa de privilegiado, né não?
Nilo
e Roger se fitam. Lila observa ambos, enquanto Nilo se mostra cercado
pela desconfiança.
NILO
Ok. Deixa comigo.
Ok. Deixa comigo.
Nilo
SAI. Roger dá um sorriso amarelo para Lila.
CENA
18 INT. - REDAÇÃO NOVO DIA / ESCRITÓRIO – DIA
Em
Amora, com uma caneta em mãos e o olhar maquiavélico.
AMORA
Suponho que a informação seja segura, né? Veio da própria polícia?
Suponho que a informação seja segura, né? Veio da própria polícia?
MURILO
A informação é segura, sim, Amora. Será um choque pra todos.
A informação é segura, sim, Amora. Será um choque pra todos.
THALES
Tem a ver com aquela morte lá…?
Tem a ver com aquela morte lá…?
MURILO
Sim /
Sim /
Amora
bate na mesa, eufórica.
AMORA
Eu sabia! Nilo matou o ator, né?
Eu sabia! Nilo matou o ator, né?
Murilo
saca a confusão, tenta desfazer o mau entendido, mas /
AMORA
(cont.)
Quero nomes de todos os envolvidos neste jornal, hen. (pensativa) Os amiguinhos deles vão todos pagar por esse crime, e a Carioca News é bem capaz de fechar as portas (ri, animada), agora sim eu acabo com eles.
(cont.)
Quero nomes de todos os envolvidos neste jornal, hen. (pensativa) Os amiguinhos deles vão todos pagar por esse crime, e a Carioca News é bem capaz de fechar as portas (ri, animada), agora sim eu acabo com eles.
MURILO
Mas o que os amigos teriam a ver com isso?
Mas o que os amigos teriam a ver com isso?
AMORA
Não seja ingênuo, Murilo. Obviamente que ele teve ajuda. Você não espera que ele seja o justiceiro fantasma, né? Quem estava com ele, e não impediu, é tão bandido quanto ele.
Não seja ingênuo, Murilo. Obviamente que ele teve ajuda. Você não espera que ele seja o justiceiro fantasma, né? Quem estava com ele, e não impediu, é tão bandido quanto ele.
Murilo
emudece, olha para Thales, que sorri, ávido pelo que está por vir.
CENA
19 EXT. - REDAÇÃO CARIOCA NEWS – DIA
No
vai e vem das pessoas e dos carros. CAM percorre rapidamente pela via
e encontra um carro preto, estacionado junto a tantos outros.
Corta
para o seu interior
O
motorista, com uma tatuagem de teia de aranha no rosto, e ao lado de
Branco, olha para o banco de trás. Moni passa batom vermelho, ajeita
os cabelos e averígua o decote. Butuca ri.
BUTUCA
Nunca vi ninguém se produzir pra levar pipoco nas fuças.
Nunca vi ninguém se produzir pra levar pipoco nas fuças.
Os
outros riem. Moni também ri, mas de surpresa, agarra o queixo de
Butuca, séria.
MONI
É bom tu lembrar que a bala é de raspão, seu Zé ruela! Se eu me machucar feio, puxo o teu porrete e transformo em vara de pescar! (solta seu queixo).
É bom tu lembrar que a bala é de raspão, seu Zé ruela! Se eu me machucar feio, puxo o teu porrete e transformo em vara de pescar! (solta seu queixo).
BUTUCA
Que isso…Tu acha que sou homi de vacilar a mira, mulé?
Que isso…Tu acha que sou homi de vacilar a mira, mulé?
BRANCO
Bora com isso, gente? O cara já deve tá chegando.
Bora com isso, gente? O cara já deve tá chegando.
CORTE
DESCONTÍNUO
CAM
dá um flagra em Butuca, no alto da janela de um prédio inacabado,
posicionando uma pistola de um lado e com um celular na outra mão.
...Nilo
vem numa rua próxima, falando ao celular. Ele para diante de uma
banca de jornal.
...Butuca
diz algo no celular. Corta diretamente para o carro preto. Dele, sai
Moni Vasco, toda produzida; ajeita o decote e joga os cabelos nos
ombros. Branco, no banco de carona, faz sinal de positivo.
...em
contrapartida, Roger vem pela calçada da Carioca News com o seu
lanche e um copo de guaraná.
...Moni
atravessa a rua, toda pomposa. Apanha o celular do decote.
MONI
E aí? Qual a visão? Nilo tá vindo? (T) Ok.
E aí? Qual a visão? Nilo tá vindo? (T) Ok.
Neste
instante, Roger avista Butuca na janela, mirando em Moni. Roger corre
em sua direção, larga o lanche e pula na bandida.
ROGER
Cuidado!
Cuidado!
Roger
agarra Moni e ambos batem de contra um furgão, saindo da mira de
Butuca. Olho no olho. Em Roger, admirado.
ROGER
Você tá bem?
Você tá bem?
MONI
(atordoada)
O que você fez?
(atordoada)
O que você fez?
ROGER
Tentaram te matar. Cê...cê tá bem mesmo?
Tentaram te matar. Cê...cê tá bem mesmo?
MONI
Aham...Preciso ir.
Aham...Preciso ir.
Moni
sai batida, deixando Roger com cara de bobo apaixonado.
ROGER
Ei! Qual o teu nome! Que mulherão...
Ei! Qual o teu nome! Que mulherão...
CENA
20 INT. - BAR 94 / VALQUÍRIA – DIA
Bar
cheio. Os caras bebendo cerveja, assistem ao noticiário. Moni,
Butuca e Branco atravessam o local, chateados.
CENA
21 INT. - BAR 94 / CASA DE MONI / SALA – DIA
Uma
cerveja é colocada sobre o balcão de um minibar. Branco apanha os
copos e vai servindo a todos.
Local
amplo, equipado com home theater, TV grande na parede, móveis
seminovos. Cenário típico de quem tem grana.
Moni
bebe a cerveja num gole só, irada.
MONI
Mas que merda, hen! Tinha que ter um otário no caminho? Tinha?
Mas que merda, hen! Tinha que ter um otário no caminho? Tinha?
BUTUCA
Cumé que o maluco me viu escondido alí, caralho?
Cumé que o maluco me viu escondido alí, caralho?
BRANCO
(ri) Cê devia ter usado óculos. O mané deve ter visto esse seu olho branco na escuridão.
(ri) Cê devia ter usado óculos. O mané deve ter visto esse seu olho branco na escuridão.
Butuca
mete um safanão em sua nuca.
BUTUCA
Ó o respeito, caralho!
Ó o respeito, caralho!
MONI
Com a vontade que eu tenho de meter um pipoco na cara de alguém, esse malandro deu foi sorte.
Com a vontade que eu tenho de meter um pipoco na cara de alguém, esse malandro deu foi sorte.
BRANCO
Coitado, gente. Ele largou até o lanche do Bob’s pra salvar a donzela da Moni.
Coitado, gente. Ele largou até o lanche do Bob’s pra salvar a donzela da Moni.
RISOS.
MONI
Filho de uma puta, isso sim. (larga o copo) Cara, era só eu dar uma seduzida no herói Nilo, contar uma historinha pra boi dormir e levar um teco de raspão pra dramatizar o meu enredo. (joga-se no sofá) O cara ficaria na minha mão. Era só isso.
Filho de uma puta, isso sim. (larga o copo) Cara, era só eu dar uma seduzida no herói Nilo, contar uma historinha pra boi dormir e levar um teco de raspão pra dramatizar o meu enredo. (joga-se no sofá) O cara ficaria na minha mão. Era só isso.
BUTUCA
To vendo que vai ser dureza trazer esse carinha pro teu lado, hen, Moni.
To vendo que vai ser dureza trazer esse carinha pro teu lado, hen, Moni.
BRANCO
Traz à força. (todos o encaram) É, gente, qualé? Rapta e abre o jogo logo.
Traz à força. (todos o encaram) É, gente, qualé? Rapta e abre o jogo logo.
Butuca
analisa a possibilidade, enquanto Moni, deitada no sofá, pensa um
pouco.
BUTUCA
E aí, Moni? Qual vai ser?
E aí, Moni? Qual vai ser?
MONI
Branco tá certo (Butuca nem crê). Porque inventar uma história, se posso contar a verdade?
Branco tá certo (Butuca nem crê). Porque inventar uma história, se posso contar a verdade?
BRANCO
Sério?
Sério?
MONI
Acho que esse Nilo precisa saber de umas coisinhas…
Acho que esse Nilo precisa saber de umas coisinhas…
Butuca
e Branco entreolham-se, curiosos. Fecha em Moni, misteriosa.
CENA
22 INT. - NOVO DIA / SALA DE REDAÇÃO – DIA
Paulinha
acaba de sentar, passada com o que Murilo acaba de lhe dizer.
PAULINHA
Você tava lá? E você vai detonar o cara que salvou sua vida?
Você tava lá? E você vai detonar o cara que salvou sua vida?
MURILO
Fala baixo, garota! (olha ao redor) Nilo é um assassino e ponto. Essa é a bomba que a Novo Dia tá esperando há anos.
Fala baixo, garota! (olha ao redor) Nilo é um assassino e ponto. Essa é a bomba que a Novo Dia tá esperando há anos.
PAULINHA
Murilo, quem vai comprar a história de que ele matou um inocente, quando poderia ter matado o assassino da própria esposa?
Murilo, quem vai comprar a história de que ele matou um inocente, quando poderia ter matado o assassino da própria esposa?
MURILO
Isso tem anos, Paulinha, anos! E quem garante que ele não matou aquele assassino? Alguém viu o que aconteceu naquela igreja? Não viu. Tu viu? Não viu também. Mas agora com essa bomba, o povo vai começar a questionar.
Isso tem anos, Paulinha, anos! E quem garante que ele não matou aquele assassino? Alguém viu o que aconteceu naquela igreja? Não viu. Tu viu? Não viu também. Mas agora com essa bomba, o povo vai começar a questionar.
Paulinha
abaixa a cabeça, pensa um pouco.
PAULINHA
(incrédula)
Você acha mesmo que ele matou porque quis? Não foi em legítima defesa?
(incrédula)
Você acha mesmo que ele matou porque quis? Não foi em legítima defesa?
MURILO
Paulinha, ele matou, grave isso. Só o fato de ter matado, já mancha a reputação de herói.
Paulinha, ele matou, grave isso. Só o fato de ter matado, já mancha a reputação de herói.
PAULINHA
Você que sabe, Murilo. Só não se esqueça de que ele salvou a sua vida pra que agora você pudesse jogar o nome dele na lama.
Você que sabe, Murilo. Só não se esqueça de que ele salvou a sua vida pra que agora você pudesse jogar o nome dele na lama.
Paulinha
se levanta, quase sai, mas toca no ombro do colega.
PAULINHA
Ah, arrume um advogado. A polícia vai querer saber como você conseguiu a gravação.
Ah, arrume um advogado. A polícia vai querer saber como você conseguiu a gravação.
Murilo
não esconde a cara de preocupado.
CENA
23 INT. - CARIOCA NEWS / SALA DE REDAÇÃO – DIA
Nilo
redigindo um artigo. Roger, mais a frente, deixa escapar uma olhada
para o colega, que faz o mesmo. Fingem não se importar.
O
celular de Nilo vibra. Número desconhecido. Nilo atende mesmo assim.
NILO
Fala.
Fala.
THALES
(V.O)
Fala, grande falso herói! Tá preparado pra hoje?
(V.O)
Fala, grande falso herói! Tá preparado pra hoje?
NILO
Thales? Como sabe o meu número?
Thales? Como sabe o meu número?
CENA
INTERCALA COM
CENA
24 INT. - NOVO DIA / SALA DE REDAÇÃO – DIA
Thales,
ao celular, no canto da parede.
THALES
Gosta de se esconder, né? Acho que o seu joguinho acabou.
Gosta de se esconder, né? Acho que o seu joguinho acabou.
NILO
Escuta, Thales, ninguém liga pra o que tu acha, tá? Me esquece.
Escuta, Thales, ninguém liga pra o que tu acha, tá? Me esquece.
THALES
Peraí! Antes quero te convidar a acessar o site da Novo Dia, daqui a pouco. Cê vai curtir o título: Nilo Rodrigues é um assassino! (risos).
Peraí! Antes quero te convidar a acessar o site da Novo Dia, daqui a pouco. Cê vai curtir o título: Nilo Rodrigues é um assassino! (risos).
Nilo,
paralisado com a bomba.
THALES
(cont. / V.O)
Curtiu a manchete ou você acha que devemos acrescentar suas fotos de antes e depois da fama de herói, hen?
(cont. / V.O)
Curtiu a manchete ou você acha que devemos acrescentar suas fotos de antes e depois da fama de herói, hen?
Ouvimos
a risada dele. Nilo desliga o celular lentamente. Percebe que Lila,
do outro lado, o espia. Roger também. Como se todos tivessem
escutado a conversa. Mas é só impressão.
FADE
OUT
FIM DO SEGUNDO ATO
ATO
FINAL
FADE
IN
Pessoas
surpresas, olhando para seus celulares. Outros, para seus
computadores, passados com alguma notícia.
A
tela de um PC exibe o site da NOVO DIA com uma grande manchete:
“Homem que cuidava da comunidade Valquíria é morto em laboratório
— Vince Lemos era sócio de um hospital veterinário, caridoso, mas
com uma triste história: sua família fora assassinada no bairro
Valquíria, sem solução”.
AMORA
(O.S)
É isso que tu chama de bomba, Murilo?
(O.S)
É isso que tu chama de bomba, Murilo?
CENA
25 INT. - REDAÇÃO NOVO DIA / ESCRITÓRIO – DIA
Amora
contorna Murilo, este bastante desconcertado. Thales espia, de braços
cruzados, frustrado.
AMORA
Cadê a acusação contra Nilo pela morte de João Víthor? Cadê?
Cadê a acusação contra Nilo pela morte de João Víthor? Cadê?
MURILO
Amora, eu nunca disse que a bomba era essa.
Amora, eu nunca disse que a bomba era essa.
AMORA
Como não? (para Thales) E aí, Thales? Tem nada a dizer não?
Como não? (para Thales) E aí, Thales? Tem nada a dizer não?
THALES
Eu to tão chocado quanto você, Amora. Eu ouvi ele dizendo que a bomba era referente ao assassinato do ator.
Eu to tão chocado quanto você, Amora. Eu ouvi ele dizendo que a bomba era referente ao assassinato do ator.
MURILO
Gente, a polícia já encerrou o caso. Aquilo foi acidente.
Gente, a polícia já encerrou o caso. Aquilo foi acidente.
Amora
chega bem perto de Murilo, quase encostado a cara, revoltadíssima.
AMORA
Acidente eu vou promover aqui se você não me convencer de que essa bomba vai ser útil pra mim.
Acidente eu vou promover aqui se você não me convencer de que essa bomba vai ser útil pra mim.
MURILO
(pressionado)
O cara era benevolente e foi morto num laboratório como bandido. O mesmo laboratório em que o Nilo frequenta. Só isso já tá causando nas redes.
(pressionado)
O cara era benevolente e foi morto num laboratório como bandido. O mesmo laboratório em que o Nilo frequenta. Só isso já tá causando nas redes.
AMORA
Então trate de encontrar uma relação entre esses dois. E rápido!
Então trate de encontrar uma relação entre esses dois. E rápido!
Em
Murilo, sem saída.
CORTE
DESCONTÍNUO
Murilo
atravessando o corredor. Vê Paulinha, sentada, fazendo um gesto
positivo com as mãos. Murilo abaixa a cabeça e segue.
CENA
26 RUA DA CIDADE – NOITE
Roger
se apressa, quase correndo. Nilo atrás.
NILO
Ei, ei!
Ei, ei!
Nilo
pega Roger pelo braço.
ROGER
Que é, Nilo?
Que é, Nilo?
NILO
Eu que pergunto. Tá assim por quê?
Eu que pergunto. Tá assim por quê?
ROGER
Assim, como? Eu to do mesmo jeito.
Assim, como? Eu to do mesmo jeito.
NILO
Cê tá chateado. O que aconteceu?
Cê tá chateado. O que aconteceu?
ROGER
Nada, Nilo, eu hen. Eu to ótimo! Quem viu, viu e quem não viu, tá vendo bem.
Nada, Nilo, eu hen. Eu to ótimo! Quem viu, viu e quem não viu, tá vendo bem.
Roger
quase vai dando as costas, mas Nilo insiste.
NILO
A gente mora no mesmo prédio, Roger. Posso te levar de carro, cê sabe.
A gente mora no mesmo prédio, Roger. Posso te levar de carro, cê sabe.
ROGER
Minha mãe sempre dizia pra não pegar carona com estranhos.
Minha mãe sempre dizia pra não pegar carona com estranhos.
Nilo
cruza os braços, aguardando Roger abrir o coração. O jornalista
respira fundo. Ainda hesita, mas /
ROGER
Por que não me contou?
Por que não me contou?
Nilo
não é bobo; meneia a cabeça, faz que entendeu, mas disfarça.
NILO
Como soube?
Como soube?
ROGER
(magoado)
Eu tive que ouvir a sua conversa com a Emília, porque você mesmo não confiou no teu brother aqui.
(magoado)
Eu tive que ouvir a sua conversa com a Emília, porque você mesmo não confiou no teu brother aqui.
NILO
Não tá sendo fácil pra mim, Roger. Eu matei Vince Lemos, o cara considerado um cidadão de bem, que lutava por justiça em sua comunidade. (suspira, sentimental) O que pode ser pior que isso?
Não tá sendo fácil pra mim, Roger. Eu matei Vince Lemos, o cara considerado um cidadão de bem, que lutava por justiça em sua comunidade. (suspira, sentimental) O que pode ser pior que isso?
ROGER
Você não confiar na gente. (Nilo desvia o olhar, envergonhado) Eu tenho certeza de que foi em legítima defesa.
Você não confiar na gente. (Nilo desvia o olhar, envergonhado) Eu tenho certeza de que foi em legítima defesa.
NILO
Ele tava drogado, Roger.
Ele tava drogado, Roger.
ROGER
Um bom motivo /
Um bom motivo /
NILO
(corta) Um bom motivo pra eu me sentir um bandido. (T) Pessoas drogadas não sabem o que estão fazendo. Eu sabia o que fazia. E não to nada bem, meu amigo. Eu o vi agonizar no...(tampa a boca, sofrido).
(corta) Um bom motivo pra eu me sentir um bandido. (T) Pessoas drogadas não sabem o que estão fazendo. Eu sabia o que fazia. E não to nada bem, meu amigo. Eu o vi agonizar no...(tampa a boca, sofrido).
Roger
o encara, tocado pelas palavras. Um instante de silêncio e Roger o
abraça.
ROGER
Eu estarei sempre contigo, brother.
Eu estarei sempre contigo, brother.
Com
a cabeça no ombro de Roger, Nilo avista Murilo do outro lado da
calçada, que nem continua; para, sem graça, e vai embora.
CENA
27 RUA DA CIDADE - NOITE
SONOPLASTIA:
Lamb – Wise Enough
VISTA
AÉREA da cidade. As luzes da Candelária; a Presidente Vargas com
poucos transeuntes, perigosa; becos sendo ocupados por moleques /
SÉRIE
DE PLANOS
- Vinnie, em sua CASA, sentado no sofá e segurando um copo de vodca. Fala ao celular.
VINNIE
Fala, meu querido Raul! To precisando de você mais do que nunca em Valquíria...
Fala, meu querido Raul! To precisando de você mais do que nunca em Valquíria...
- Moni sela um envelope com a língua. Depois, espirra um perfume no ar e envolve o envelope. Sorri, sapeca.
- Na capa do livro “Nilo – Na Inquisição dos Novos Tempos, de Lila Machado” sendo lido por alguém de mãos negras. CAM CORTA para uma mensagem no prólogo do livro:
“Para a pessoa que transformou o meu jeito de escrever, de contar histórias. Para essa pessoa que me permitiu chegar o mais perto de um justiceiro. Você é meu herói, Danilo!”
CAM, enfim, revela o leitor: Murilo, sério e pensativo.
FUSÃO
PARA
A
vista aérea da cidade. CAM BUSCA garotos fumando; mendigos se
recolhendo com seus jornais e papelões; jovens saindo da balada,
rindo, entrando em carros finos. O trânsito na Linha Amarela. CAM
sai por cima, algumas luzes se apagam. A tela escurece.
FIM
DA SONOPLASTIA
FADE
OUT
FADE
IN
CENA
28 INT. - APTº de NILO E LILA / SALA – DIA
Nilo
mal se senta e a campainha toca.
NILO
Deixa comigo, Lila!
Deixa comigo, Lila!
Assim
que abre a porta, dá com o porteiro, estendendo um envelope a Nilo.
NILO
Obrigado.
Obrigado.
Nilo
fecha a porta, olha para o envelope sem remetente. Abre.
Pelo
seu ponto de vista, Nilo puxa uma fotografia. Nela, a imagem de Vince
Lemos abraçado a Vinnie Ludwig, em algum passado distante. A
fotografia é virada do avesso, onde há uma inscrição: “Estou
chegando ao Rio, meu querido irmão. Espero vê-lo em breve. Ass.:
Vinnie Ludwig. Março de 2015”.
LILA
Era o quê, Nilo?
Era o quê, Nilo?
CAM
dá um close dramático em Nilo. Até que /
FADE
TO BLACK
FIM DO EPISÓDIO
APRESENTANDO
AARON
ASHMORE................................Nilo Rodrigues
ILDI
SILVA........................…............Lila Machado
FELIPE
ABIB...................................Roger Ribeiro
IGOR
RICKLY...................................Vinnie Ludwig
YASMIN
GOMLEVSKY.................................Moni Vasco
THIAGO
FRAGOSO................................Thales Araújo
CHANDELLY
BRAZ…............................Paulinha Avellar
SÉRGIO
MENEZES................................Murilo Guedes
ELENCO
SECUNDÁRIO
LARISSA
BRACHER...............................Amora Molinos
MARIANA
LIMA............................……….…..Emília Brito
BRUNO
FERRARI..................................Rafael
Brito
EMÍLIO
DE MELLO............................Delegado Moreira
MARCELO
GONÇALVES...................................Toninho
RICARDO
VIANNA.......................................Branco
JONATHAN
AZEVEDO.....................................Butuca
ED
OLIVEIRA............................................Raul
BLOTA
FILHO.........................................William
TRILHA
SONORA
DEFAME
ME.....................................New
Years Days
WISE
ENOUGH.............................................Lamb
Essa
obra não possui nenhum vínculo/contrato com os atores citados
acima.
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