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RAÍZA SÉRIE
30:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA
Série de
Cristina Ravela
Episódio 18 de 20
© 2009, WEBTV.
Todos os direitos reservados.
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FADE
IN
CENA 1 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]
[A
cena é vista de cima]
Ouvem-se passos rápidos. A cena vai
abaixando e Raíza surge de costas, correndo apressada. Olha para trás, afobada.
A
cena a mostra de frente. Quando se volta, dá com Dcr que a contém pelos ombros.
DCR: Raíza! Pra onde você tá indo
com essa pressa toda?
RAÍZA (balbucia): Não dá pra falar
agora, não dá.
Raíza
torna ao olhar pra trás, um ônibus se aproxima, ela faz sinal.
O
ônibus pára e os dois entram.
ÔNIBUS
[EXT.]
O
ônibus pára próximo dali. Raíza desce e Dcr vem atrás.
DCR: Calma, Raíza; ‘Cê’ parece que
vai ter um troço.
Raíza
corre e o amigo faz o mesmo.
Ela
alcança uma calçada e pára, olhar aceso, respiração ofegante.
Dcr
quase tromba nela, ar de cansado e tão ofegante quanto ela.
DCR: O que veio fazer aqui, Raíza?
[POV
de Raíza e Dcr]
Os dois estão diante de um prédio em
construção e veem Bruno de cima de um andaime com capacete.
De
repente um tijolo cai na direção de Bruno [efeito câmera lenta].
Raíza
põe as mãos na cabeça, apreensiva.
RAÍZA (balbucia): Não...Não!
Sua tentativa de gritar é inútil tamanho o
pavor [fim do efeito].
Raíza
esconde o rosto, esboça sofrimento.
DCR: CUIDADO BRUNO!
Inacreditavelmente,
o tijolo desvia de seu percurso. Dcr olha, esbabacado para um senhor ao lado de
cabelos brancos. Ele mira fixamente naquela direção.
DCR (balbucia): Não é possível...
O tal senhor o encara, olha para Raíza, se
aproxima e toca o ombro da moça. Ela vira, o senhor sorri simpaticamente.
Ela
avista seu pai são e salvo.
HOMEM: Tudo bem com você?
A
garota mantém-se quieta.
Corta
para de trás de um carro afastado dali, surge Rafaela segurando sua câmera e
mirando em Bruno.
RAFAELA: Isso foi...Incrível!
FADE
OUT
1X18 O VIDENTE
FADE
IN
CENA 2 ED. EM CONSTRUÇÃO – PAVIMENTO SUPERIOR [INT./MANHÃ]
O tal senhor, cabelos brancos, alto, gordo
e muito simpático, anda entre Raíza e Dcr pelo corredor.
HOMEM: Então vocês vieram fazer uma
visita? São estudantes de engenharia?
RAÍZA: Ahn...
DCR: Na verdade, doutor Bedlin
(pausa) Eu nem sei o que eu tô fazendo aqui.
Raíza
faz cara de boba e drº Bedlin ri.
BRUNO (O.S): Raíza? Dcr? O que fazem
aqui?
BEDLIN: O senhor conhece essas
figuras?
BRUNO: Ela é a minha filha e ele o
amigo dela, mas (confuso) O senhor é...?
Drº
Bedlin dá a mão.
BEDLIN: Eu sou o drº Bedlin. (os dois
se cumprimentam) Sou sócio de uma construtora e costumo conhecer todas as novas
construções sempre que posso. Parece um trabalho árduo, mas é uma das coisas
que gosto de fazer.
Dcr
puxa a amiga pra um canto. Ouvimos que os outros dois conversam, mas não dá pra
escutar.
DCR: Raíza, você não tem noção...
(extasiado) Aquele homem, só com o olhar, desviou o tijolo! Você pode acreditar
nisso?
RAÍZA: Hã? É possível?
DCR: Olha, nunca ouvi dizer que
tijolo fosse leve pro vento carregar pra onde quiser.
RAÍZA: É, mas... (ela olha lá
adiante onde conversa seu pai e o doutor) Ele nem fez um comentário a respeito
‘né’? Sinistro...
DCR: Ah, essas pessoas que tem
poderes mesmo não sai por aí contando, não (pausa) Não é? (estranha flexão na
pergunta)
Ela
o encara.
CORTA
PARA
CENA 3 RUAS DA CIDADE - ÔNIBUS [EXT./MANHÃ]
Rafaela desce do ônibus, apressa o passo e antes de entrar num
edifício, a mão de alguém toca seu braço. Ela tem um sobressalto.
RAFAELA: Mas que susto!
MARCO: Bom dia pra você também.
(Marco está com sua roupa social preta e camisa azul clarinho) Conseguiu o que
pedi?
Rafaela
bufa, insatisfeita. Põe a mão na bolsa e tira a câmera, ora olhando para aquele
homem charmoso. Entrega a câmera.
RAFAELA: Foi isso que consegui...A
Raíza ‘taí’ como você pode ver...
Marco
assiste ao vídeo, pasmo.
MARCO: Mas o que meu pai faz aqui?
RAFAELA (espicha os olhos): Onde?
(desvia a atenção) Não sei quem é seu pai e francamente...
Ela
pára de falar sob o olhar dele, meio estranho.
Marco
apanha um dinheiro do paletó e o estende para ela. Rafaela recua.
RAFAELA: Isso não ‘tava’ no trato. Não
quero teu dinheiro.
MARCO: Não se faça de orgulhosa (ele
põe o dinheiro dentro da bolsa dela) Compra outro cartão porque...Esse aqui
(ele tira o cartão de memória da câmera) Vou levar comigo.
Ele
devolve a câmera, sorrisinho de canto.
MARCO: Tenha um bom dia.
E
caminha até chegar no carro.
RAFAELA (em OFF): Maldita hora em que
fui salva por ele...Maldita!
CORTA
PARA
CENA 4 ED. EM CONSTRUÇÃO
[EXT./MANHÃ]
[INT.]
PAVIMENTO SUPERIOR
Bruno segura um papel e faz umas
observações com outros trabalhadores. Nota Raíza no outro canto, numa varanda.
[POV
de Raíza]
Ela
observa a escadaria sem muita proteção e um carro lá embaixo, parado.
RAÍZA (em OFF): Nossa! Que sensação
horrível...
BRUNO: Filha?
Ela
se assusta.
RAÍZA: Ai pai! Que susto!
BRUNO: O que você queria me dizer?
Aquele papo de que queria ver a nova construção não colou.
Raíza
olha adiante, vê drº Bedlin entretido com os trabalhadores.
RAÍZA: Pai, o senhor escapou por
pouco, por pouco!
Bruno
faz aquela cara de tacho.
BRUNO: Escapei? Quando? Do que ‘cê’
tá falando?
RAÍZA: Quando o senhor ‘tava’ no
andaime um tijolo caiu e quase atinge sua cabeça, quase!
BRUNO: Nossa! Como que você fez
isso?
RAÍZA (bate a mão uma na outra): Aí
é que tá, pai! Não fui eu...O Dcr jura que foi esse tal doutor Bedlin...
BRUNO: O doutor Bedlin?!
RAÍZA: Psiuuu! Fale baixo, pai! Quer
chamar atenção do homem?
Ele
olha pra trás.
BRUNO (murmura): Que história é
essa? Vai me dizer que ele também tem poderes?
Um
pedreiro passa por eles, Raíza disfarça.
RAÍZA (murmura): Foi o que
pareceu...Dcr viu esse cara olhando fixo pro tijolo. Parecia até...Que
sabia...O que estava pra acontecer...
BRUNO: Vidência?
RAÍZA: Não sei (pausa) Mas acho
melhor o senhor tomar cuidado. Quase morreu...De novo. (pausa) Disfarça que o
homem tá vindo.
BEDLIN: Eu tenho que ir agora.
Cheguei de viagem e nem visitei meus filhos.
RAÍZA: Ah eu também já vou...
BEDLIN: Quer uma carona?
Raíza
e Bruno entreolham-se.
CORTA
PARA
CENA 5 ED. EM CONSTRUÇÃO [EXT.]
Raíza
e drº Bedlin saem sorrindo. Deparam-se com Marco, sorrindo sem mostrar os
dentes. Vem andando, com as mãos nos bolsos da calça, andar relutante e com o
corpo meio jogado para trás.
MARCO: Pensei que a primeira pessoa
que o senhor visitaria fosse teu filhinho querido...Pai.
Raíza
olha para ambos, surpresa de ver que aquele homem tão simpático havia
conseguido gerar alguém como Marco.
RAÍZA: O senhor é pai...Dele?
BEDLIN (faz graça): Foi o que o exame
de DNA confirmou.
MARCO: Acho que a Raíza não está
interessada nos detalhes, (olha pra ela) não é?
BEDLIN: Certamente que não. (ele abre
os braços) Não vai me dar um abraço de boas vindas.
Marco
o abraça. Fita a garota que desvia o olhar.
CORTA
PARA
CENA 6 CARRO [INT.]
Drº Bedlin dirige e observa a garota ao seu
lado prestando atenção na paisagem. Raíza mexe os cabelos tentando fazer uma
trança mal feita.
BEDLIN: Vocês dois não se topam, num
é?
A
garota levanta a cabeça do vidro dispersando de seus pensamentos. Não entende.
BEDLIN (reitera): Você e o Marco. Ele
mal lhe cumprimentou...Te olhou meio assim...De canto.
Raíza
junta as mãos, apertando-as e torcendo os dedos.
RAÍZA: Não somos amigos, só isso.
De
repente, no ponto de vista do drº Bedlin ele vê chamas cobrir a estrada e
chegar no carro. Dá uma freada brusca e a garota se assusta.
[POV
de Bedlin]
Ele
vê Raíza num lugar fechado aos gritos.
CARRO
– VISTA DE CIMA [EXT.]
O carro freia pela estrada, quase bate em
outros e dá uma virada.
CARRO
[INT.]
O
carro pára e drº Bedlin leva o rosto ao volante.
RAÍZA: O que aconteceu? O senhor
está bem?
Ele
levanta o rosto, lentamente e toca suas mãos. Seu semblante está sério,
medonho.
BEDLIN: Não tenha raiva do Marco por
agora...Ele, às vezes, se deixa guiar pelos negócios...
A
garota, espantada, mal consegue falar.
BEDLIN (cont.]: Preocupe-se com gente
que finge gostar de você...
CORTA
PARA
CENA 7 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT./FIM DA MANHÃ]
APTº
403 – SALA [INT.]
A porta abre, Raíza entra com ar de confusa
e fecha a porta. Joga a bolsa no sofá e passa as mãos na cabeça.
Josué
surge da porta da cozinha de avental com uma toalha de prato envolvida nas
mãos.
JOSUÉ: O que aconteceu que você saiu
sem avisar?
RAÍZA: Tio, meu pai sofreu um novo
atentado!
Ari
surge do corredor dos quartos, assustada.
JOSUÉ (voz assustada): Meu Deus!
(Joga a toalha em cima da pia e volta-se) E você me diz isso assim? Vamos lá!
Em que hospital o levaram?
RAÍZA: Calma, tio!...Atentaram, mas
não conseguiram...
Josué
se desmonta em alívio.
JOSUÉ: Caramba Raíza! Não faz
isso...(suspira) Tá, mas...O que houve?
RAÍZA: Um tijolo quase o atingiu ao
cair do prédio...Onde ele tá inspecionando.
ARI: E por que você acha que foi
um atentado? Tijolos caem, isso é normal numa área em construção.
Raíza
fita seu tio e ele entende.
JOSUÉ: Ah! Que bom que você chegou a
tempo de salvá-lo, não?
RAÍZA (relutante): Eu não fiz nada,
tio (ela nota a presença de João vindo do quarto) meu pai desviou sem sacar o
que houve.
JOSUÉ: Tá me dizendo que você não
fez nada pra impedir?
RAÍZA: Tio, eu não sou a salvadora
do mundo ‘né’?
JOSUÉ: E de que adianta você...
RAÍZA: Oi João! (disfarça quando
João entra na sala) Imagine só o que quase aconteceu com meu pai...
JOÃO: Eu imagino o que QUASE ia
acontecendo com meu tio...Quer matá-lo do coração, é?
Raíza
se mostra envergonhada.
RAÍZA: Foi mal, hein tio...Eu fiquei
nervosa...
JOÃO: Não é a primeira vez, ‘né’?
Raíza
fecha o semblante. Ari se mostra confusa.
JOSUÉ: Olha... Eu vou comprar ovos,
viu. (ele tira o avental) Comportem-se! (ele joga o avental sobre a mesa da
cozinha)
Josué
sai, João contorna a prima e vira-se de frente.
JOÃO: Agora me conta: (finge não
saber) Por que meu tio acha que você podia ter evitado?
Raíza
lhe dá aquela olhada como quem diz: ‘Acha mesmo que vou te dizer?’
RAÍZA (impaciente): Vai vê eu tenho
cara de super-homem...
CORTA
PARA
CENA 8 APTº 403 – QUARTO [INT.]
Ari empilha seus livros e observa Raíza colocar a roupa de
escola sobre a cama, com ar de reprovação.
ARI: Você acha que assim vai
melhorar em alguma coisa?
Raíza
vira a cabeça na direção dela e aponta para sua roupa.
RAÍZA: Ué, mas é o único uniforme
que tenho.
ARI: Ai, Raíza! (ela quase bate o
pé) Tô falando do seu comportamento com o João! Tá a cada dia pior.
RAÍZA: É ele quem começa, você viu.
Tudo que falo é motivo pra ele me chamar atenção.
ARI: Ignore, ignore!
Raíza
vai até o guarda roupa, abre a gaveta.
RAÍZA: É fácil falar, mas você sabe
o que é ter alguém no teu pé, não sabe?...
Ela
apanha a toalha de banho, pára e põe a mão na testa. Vira pra Ari.
RAÍZA (cont.): Olha, deixa isso pra
lá viu...Vem cá (Ela puxa Ari para sentarem na cama) Tem uma coisa que não pude
contar na frente do João...
ARI: O que é? Pode falar.
RAÍZA: Eu conheci o pai do Marco
(Ari se mostra surpresa) O Dcr garante que foi ele com a força do olhar que
desviou aquele tijolo.
ARI: O pai do Marco? Por que ele
ajudaria seu pai?
RAÍZA: Só Jesus deve saber...Mas o
caso é que ele é estranho...
ARI: Por ter poderes?
As
duas se encaram.
RAÍZA: É sempre estranho encontrar
alguém também com poderes (pausa) Mas você não imagina o que aconteceu quando
estávamos vindo pra cá, no carro dele...Ele quase bate com o carro e me olha
diferente...Deu até medo.
ARI: Nossa! Sendo pai de quem é
melhor temer mesmo.
Raíza
se levanta.
RAÍZA: Não, é que ele é um tipo
simpático, sabe? E aquela expressão dele, de repente...Me aconselhou a ter
cuidado com gente que finge gostar de mim...
ARI: Vidência?
RAÍZA: Meu pai achou a mesma coisa,
mas...O pai do Marco?...Vidente? (ela ri sarcástica) Se fosse o caso ele teria
feito vasectomia...
ARI: Que horror!
As
duas riem.
RAÍZA: Se você visse como os dois se
tratam...
João
entra no quarto, sem cerimônias.
JOÃO: Quer dizer que você já se deu
bem com o velho...Digo, o pai do Marco?
Raíza
respira profundo.
ARI: Raíza, você não tinha que ir
tomar banho?
Raíza,
insatisfeita, sai do quarto.
De
repente, ela volta e dá com seu primo sentado na barra de seu uniforme.
RAÍZA (alterada): Ô João, você não
tá vendo minha roupa aí, não?
O
primo confere e afasta a blusa com cuidado.
JOÃO: Foi mal, não tinha visto...
Raíza
arranca o uniforme dali e põe na cama de Ari, nervosa.
RAÍZA: Sempre a mesma coisa! Você
nunca vê! Queria vê se fosse EU!
Josué
aparece da porta.
ARI (tenta avisá-la): Calma,
Raíza...
JOSUÉ: O que foi dessa vez?
RAÍZA: Tio! Ele sentou na minha
blusa passadinha! Que ele não tenha olho nessa bunda eu até entendo, mas bom
senso ao menos ele devia ter!
JOÃO: Gente! Foi sem querer.
Para
surpresa de Raíza, Josué sorri, achando graça da situação.
JOSUÉ: O almoço já vai sair. Não
querem chegar atrasadas, ‘né’?
Raíza
e Ari se olham com cara de tacho. João sorri, irônico.
CORTA
PARA
CENA 9 MANSÃO [EXT./INÍCIO DA TARDE]
[INT.]
ESCRITÓRIO
Cael está sentado atrás da mesa diante de uma papelada. Roda a
caneta por entre os dedos e volta-se para trás, recostando na cadeira.
BEDLIN (O.S): Tão pensativo que não
me viu entrar?
Drº
Bedlin adentra o escritório, sorrindo.
CAEL: Pai! (ele levanta
imediatamente e vai até ele, abraçando-o) Não me avisou que vinha. Eu tinha
mandado te buscar.
BEDLIN: Achei melhor não... Eu não
queria que houvesse uma disputa entre você e seu irmão pra ver quem me pegaria
no aeroporto...
Os
dois acham graça.
CAEL: Quer beber alguma coisa?
BEDLIN: O de sempre.
Os
dois saem do escritório para a...
SALA...
Cael
vai até o bar e drº Bedlin senta-se no sofá.
Close
na garrafa de whisky. Cael despeja num copo.
CAEL: Fez boa viagem?
BEDLIN: Cheguei vivo (ri sacana).
Cael
entrega a bebida e senta de frente pra ele.
CAEL: Eu perguntei por que o senhor
me parece preocupado...
BEDLIN: Deve ser por que vi seu irmão
(os dois sorriem) e finalmente uma mulher que não topasse com ele.
CAEL: Você mal chegou e já conheceu
a Raíza?
O
pai ri, põe o copo sobre a mesa e nota um brilho especial em seus olhos.
BEDLIN: Pelo jeito, você também a
conhece hein...E não lhe é indiferente...
Cael
abaixa a cabeça, sem graça.
BEDLIN: É que o Marco mal a
cumprimentou...(falsa curiosidade) Namorados eles não foram, ‘né’?
CAEL (sorri): Não. É uma história
meio complicada de se entender...
BEDLIN: Tô pronto pra ouvir!
CORTA
PARA
CENA 10 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
Raíza e Ari chegam na portaria. João salta
as escadas e coloca o braço no pescoço de Ari.
JOÃO (pra Raíza): Vou com vocês.
No
portão, há um carro verde parado. Cipriano sai e sorri pra todos.
CIPRIANO: Oi. Vim acompanhar você,
Raíza, até o colégio. Tenho que justificar a posição que ocupo, ‘né’? A de tio.
Raíza
ri, mas Ari mantém-se quieta olhando estranho pra ele.
CORTA
PARA
CARRO
– MEIO DA ESTRADA [INT.]
Cipriano dirige, atento. No banco de trás,
João está com seu braço envolvido no ombro de Ari.
CIPRIANO (pra Raíza ao seu lado): Foi
um atentado?
JOÃO: Foi o que ela disse. E quase
enfartou o meu tio.
Raíza
olha pra trás, faz que vai dizer algo, Ari a fita.
RAÍZA: Na verdade...Acho que não.
Afinal, quem ia querer fazer mal a meu pai, ‘né’?
CIPRIANO: Claro! Da primeira vez foi um
mal entendido, agora seria o que, não é mesmo?
Silêncio.
CIPRIANO: Me diga uma coisa: Seu pai
tem a guarda provisória da Ari, não é?
RAÍZA: Sim, por quê?
CIPRIANO (malícia): Se algo acontecesse
com ele quem ficaria com a guarda dela?
Close
no rosto de Ari, preocupada.
RAÍZA: Acho que meu tio Josué...
CIPRIANO: Acha? Se ele não pudesse e
não houvesse mais ninguém pra se responsabilizar por ela, ela teria que voltar
pra mãe?
ARI (irritada): Ai gente! Vamos
parar com esse assunto? Se houve atentado ou não, não deve ter sido por minha
culpa, ‘né’!
RAÍZA (em OFF): Se ele tiver
razão?...Será que o Marco tá querendo usar meu pai pra me atingir?
Cipriano
olha pelo retrovisor, Ari o encara e ele sorri, discretamente.
CORTA
PARA
CENA 11 MANSÃO - SALA [INT.]
Drº
Bedlin, recostado ao sofá, pernas cruzadas, ri.
BEDLIN: Quer dizer então que Marco
não ficou possesso por ter sido salvo pela Raíza e sim, por que ela revelou
seus crimes? Esse garoto não se emenda mesmo...
CAEL: Na verdade... (ele põe seu
copo sobre a mesa e esfrega os lábios ) Ele não foi com a cara dela desde que a
conheceu.
BEDLIN: Hum...Mau sinal...Quero
dizer, depende de qual parte ficará no prejuízo ‘né’...
CAEL: Não entendi...Mas seja como
for, acho que Marco não sairia como prejudicado...Os que se envolve com ele
sim.
Eles
riem. Valentina entra na sala com um sorriso de canto a canto.
VALENTINA: Drº Bedlin! Como vai?
BEDLIN: Valentina! Enfim nos
conhecemos pessoalmente. Fiquei sabendo que está grávida. Meus parabéns!
Ele
toca suas mãos, sorrindo e tem uma visão.
[VISÃO]
Ele vê a moça num hospital, desesperada
tocando a barriga.
[FIM
DA VISÃO]
VALENTINA: O que houve? Tá se sentindo
bem?
LARA (O.S): Deve ter sido a pressão
que baixou, não é querido? (ela está à soleira da porta) A viagem de avião não
deve tê-lo feito bem...
BEDLIN: A viagem e sua voz também...
Cael
sorri.
CAEL: Vou mandar arrumar seu quarto
e o senhor descansa.
Drº
Bedlin se levanta meio tonto.
LARA: Cael já contou o que ele fez
com o seu filho, Emmanuel?
O
doutor se volta, fingindo esquecimento.
BEDLIN: Hã? Emmanuel?...Quem?...Ah!
(ele dá um tapinha na própria cabeça) Sou eu! O pessoal só me chama de doutor
Bedlin que eu até esqueço meu nome...
Ele
alisa o rosto de Lara e lhe dá um beijo na testa.
Sai,
deixando-a irritada.
LARA: Não gosto dessas piadinhas
dele.
CAEL: Uma das razões para terem se
separado?
LARA (bufa): Você não é filho dele,
mas parecem ter o mesmo sangue...
CORTA
PARA
CENA 12 COLÉGIO FRANÇA - PÁTIO [INT.]
Raíza
caminha e sorri pra dois alunos que vem à sua direção.
GAROTA: Oi, Raíza.
RAÍZA: Oi...Que caras são essas?
Os
dois alunos se entreolham.
GAROTO: É que tá circulando num blog
um vídeo em que você aparece...
RAÍZA (em OFF): Ai Cristo!
GAROTA: Você não tem nada a ver com
aquilo, não é? Não é você, ‘né’?
RAÍZA: Olha Jana, eu já vi o vídeo e
aquela lá não sou eu nem virando de ponta cabeça! (ela aponta o dedo indicador
pro alto)
GAROTO: Ah, mas aquele grupinho ali
cismou que é você...
[POV
de Raíza]
Ela
vê uns rapazes num banco.
GAROTO: E você sabe que eles são da
pesada ‘né’?
RAÍZA (debochada): Tipo, eles têm
pezão, Davi?
Os
três riem.
Eles
passam pelos rapazes.
GAROTO: Eu sei o que você andou
fazendo no verão passado.
Ouve-se
risos, Raíza vira o rosto para o dono daquela voz de sacana. Ele usa piercing
na orelha e na sobrancelha e olhos pintados de preto.
RAÍZA: Hum...Você sabe é? A que se
refere?
GAROTO: Eu assisti ao vídeo. Você
salvando duas pessoas em situações diferentes.
Raíza
olha pra baixo, faz cara de desentendida.
RAÍZA: Acho que esse seu piercing
andou perfurando algo a mais... ‘Cê’ anda tendo idéias muito fantasiosas...
GAROTO: Pra que negar o que está
claro? Você é a garota à prova de fogo!
RAÍZA: Você deve tá assistindo muito
um desses filmes de ficção. Você acha que se fosse eu, eu não teria saído
queimada? (pausa) Por favor ‘né’?
E
dá as costas. O tal rapaz sorri, malicioso.
GAROTO (murmura): É o que veremos...
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 13 BANHEIRO [INT.]
Raíza desce os três degraus e ao pisar no piso, não ouvimos mais
as vozes dos alunos nos corredores. Não há ninguém ali. Ouve-se, no entanto, som
dos carros e suas buzinas. Raíza mira no basculante e se aproxima dele, em
passos curtos e lentos.
Através
dele, ela olha, receosa.
[POV
de Raíza]
É
noite. Ela vê o prédio em construção e seu pai. Há alguém lá no alto que toca a
corda que sustenta o andaime.
Num
piscar de olhos, o andaime despenca numa altura de 20 metros na direção de
Bruno.
RAÍZA: Não! Não!
Raíza
se volta, chocada.
RAÍZA (em OFF): Isso não aconteceu,
Meu Deus! Isso não aconteceu!
Ouve-se
o som de correria, vozes de alunos e o sinal toca.
Com
a expressão de medo, ela olha pelo basculante de novo. A única coisa que vê é a
quadra.
CORTA
PARA
CENA 14 COLÉGIO FRANÇA – CORREDOR [INT./NOITE]
Raíza desce as escadas com um celular nas
mãos. Disca rápido, aflita.
RAÍZA: Ari? Meu pai já chegou?
ARI (V.O): Não. Ele ligou avisando
que surgiu um problema e terá que ficar mais tempo na obra...Por quê?
Raíza
se distancia um momento do telefone, imóvel.
RAÍZA (em OFF): Ai meu Pai
Eterno...E agora?
ARI (V.O): Raíza? ‘Cê’ tá me
ouvindo?
RAÍZA: Ahn, sim. É que não consegui
falar com ele mais cedo...(pausa) Não, depois a gente se fala.
Raíza
desliga sem um ‘tchau’ e sobe as escadas.
A
luz falta de repente e ela, parada no meio da escadaria, torna a descer.
RAÍZA: Aaai! Que susto! Quer me matar
do coração?
Cipriano
está abaixo da escada, olhar de acusação.
CIPRIANO: O que faz fora da sala?
Ela
desce pro corredor.
RAÍZA: Eu preciso sair, Cipriano. O
meu pai...Eu tenho que falar com ele e é agora!
CIPRIANO: Calma, calma. Tô com celular
aqui...Ligue, se quiser.
RAÍZA: Não adianta, Cipriano. O meu
celular é ruim, mas do meu pai é pior ainda. Me deixa sair, pelo amor de Deus!
CIPRIANO: Calma! Antes eu tenho que ir
buscar uma lanterna pra verificar a caixa de luz. Desde ontem que ela tá com
problema.
RAÍZA: Mas...
Alguém
desce as escadas e pela luz da penumbra que entra pelo pátio, vemos que se
trata daquele rapaz de piercing.
GAROTO (para Cipriano): Quer uma
ajuda?
Raíza
demonstra insatisfação.
CORTA
PARA
CENA 15 COLÉGIO FRANÇA – FUNDOS [EXT./NOITE]
O ambiente, entre árvores é sombrio. À
esquerda há a quadra e, subindo pelo caminho de pedras se encontra uma saleta
com portão azul.
Cipriano
abre e entra em seguida. Raíza e o tal rapaz também.
O
local é escuro, mas dá pra ver que é pequeno. Raíza esboça incômodo.
RAÍZA: Cheiro
esquisito...Parece...Querosene.
CIPRIANO: Não tô sentindo não (pausa)
Tá sentindo Adriano?
ADRIANO: Eu não...Ahn...Raíza, dá uma
olhada numa daquelas prateleiras.
RAÍZA: Se eu enxergar, ‘né’...
CIPRIANO (pra Adriano): Você avisou que
estaríamos aqui?
ADRIANO (falso): Ih caraca! Pior que
não.
CIPRIANO: Vou lá avisar então. Se não
acontece igual àquele dia que todos saíram correndo.
RAÍZA: Ainda bem que o professor não
sofreu nada de grave...
Cipriano
sai.
Raíza
estica o braço e alcança uma prateleira. Há cadeiras no meio do caminho.
RAÍZA: Adriano, acho que encontrei
uma lanterna... (ninguém responde) Adriano!
Raíza
liga a lanterna e ela acende. Direciona aleatoriamente e não vê o rapaz. A
porta está fechada.
Ela
põe a mão na maçaneta. Está trancada.
RAÍZA (bate na porta):
Adriano!...Abra essa porta! (ouve-se um ruído) Cipriano! Cipriano!
Raíza
se afasta rapidamente, assustada. Direciona a lanterna e vê uma trilha de fogo
se alastrar pela saleta.
RAÍZA: EI! ME TIREM DAQUI! ME TIREM
DAQUI!
Ela
pára, deixa cair a lanterna e sua luz mira por debaixo da porta.
RAÍZA (murmura): Não...Eu não
preciso passar por isso...Não preciso...
Ela
olha pro celular, disca.
MENSAGEM: Esse telefone está fora de
área...
Ela
desliga.
RAÍZA: Droga! O jeito é eu sair
daqui de qualquer maneira...Isso só pode ser uma armadilha daquele Adriano.
(longa pausa /tosse) É o que eu vou fazer...
Ela
fecha os olhos, mas não some. Tenta de novo e nada.
RAÍZA (aflita / olhos fechados): Não
pode ser! Não pode ser! (pausa) Calma...É a vida do meu pai que tá em
jogo...Pensa, pensa!
[EXT.]
Adriano
contempla o fogaréu.
ADRIANO: Quero vê como ela vai escapar.
Cipriano
sorri, esperto.
A
tela se fecha num baque.
FADE
IN
CENA 16 ED. EM CONSTRUÇÃO [EXT.]
Bruno tira o capacete enquanto conversa com
uns pedreiros.
A
cena sobe e no alto de um andaime, há um homem pondo a mão na corda que o
sustenta. Ele olha pra baixo e observa Bruno andar pra debaixo dele.
Do
outro lado da calçada, Raíza chega correndo, avista a cena, o andaime balança.
RAÍZA: PAI! PAI!
Bruno
vira-se e olha adiante.
[POV
de Bruno]
Não
há ninguém à vista. Apenas um carro parado.
CARRO
[EXT.]
[VISÃO
DE UMA CÂMERA]
A câmera desvia da cena e por trás dela
está Rafaela, curiosa.
É
nesse instante em que o andaime despenca, Raíza corre, e eis que surge drº
Bedlin.
Este empurra Bruno, os dois caem e o andaime em seguida.
BRUNO (espavorido): Meu Deus! (longa
pausa) O senhor mais uma vez salva a minha vida.
Drº
Bedlin não diz nada.
Raíza respira aliviada e com os olhos
lacrimejando. Quando se volta, vê Rafaela correr pela calçada.
RAÍZA:
Mas o que Rafaela faz aqui?... Será que... Será que tô visível e não sei?
CORTA
PARA
CENA 17 APTº 303 – QUARTO [INT.]
Rafaela
entra, fecha a porta e joga-se, esbaforida, de contra ela, de costas. Sorri,
nervosa e feliz. Corre até a mesa do computador, liga. Conecta o cartão de
memória nele e tão logo o vídeo é exibido. Ouve-se o grito de Raíza no vácuo. A
seta retrocede a cena.
RAÍZA(no vídeo): PAI! PAI!
Para
sua decepção, a câmera desvia no exato momento em que Bruno escapa da morte.
RAFAELA: Droga!
Ainda
com a janela do vídeo aberta, Rafaela conecta a Internet. Abre seu blog.
RAFAELA: Voz de Raíza no meio do
nada... Renderia comentários se eu tivesse gravado o andaime despencando...
A
cena sobe e revela Raíza atrás dela, surpresa e aborrecida.
A
tela se fecha num baque.
FADE
IN
CENA 18 COLÉGIO FRANÇA – FUNDOS [EXT.]
Há
muita gente, dentre eles, alunos, professores e diretores cercando o local.
Baldes
d’água estão no chão. Não há mais fogo do lado de fora.
Finalmente, arrombam a porta da saleta.
O
sujeito que arrombou encontra Raíza caída, inconsciente. Ele e Josué a carregam
para fora e aos poucos, ela vai acordando nos braços do tio.
JOSUÉ: Você tá bem? Como isso foi
acontecer? Como?
Ela
olha para Adriano com um olhar sinistro.
RAÍZA: Foi você! Você me trancou lá
e ateou fogo, não foi?
O
rapaz ora olha para Cipriano; Ora para a garota. Não reage.
RAÍZA: Por causa de suas idéias
ridículas de que sou à prova de fogo eu quase morri, tá ouvindo? Quase morri!
ADRIANO: Desculpe. Eu...Eu...Me
desculpe.
JOSUÉ: Seu moleque irresponsável!
Isso é coisa que se faça?
Adriano
estende a mão num gesto de reconciliação. Raíza não corresponde. Ele, então,
toca suas mãos sujas pela fumaça. Raíza tem uma visão.
[VISÃO]
Raíza
vê o rapaz, bem alinhado, de terno, trabalhando numa grande empresa.
[FIM
DA VISÃO]
Ela
esboça uma raiva tão grande que solta aquelas mãos dela. Levanta, apressada.
RAÍZA: Se eu tivesse morrido, de que
me adiantariam suas desculpas?
Adriano,
ressentido, a vê partir.
CORTA
PARA
CENA 19 APTº 403 – QUARTO [INT./NOITE]
O quarto está escuro, Raíza repousa em sua
cama com uma cara de raiva.
RAÍZA: Droga! Mil vezes droga!
ARI (O.S): Posso acender a luz?
RAÍZA: Hã?...Ah, Pode.
Ari
acende e caminha até ela. Senta na cama.
RAÍZA: Você não tinha que tá na
boate?
ARI: O Cael ligou dizendo que vem
aqui e aproveita pra me levar.
Raíza
parece não dar a mínima.
ARI: E essa cara? Ainda o Adriano?
As
mãos de Raíza estão descontroladas.
RAÍZA: E quem mais? Ele apronta uma
dessas comigo e não pagará pelo que fez! ‘Cê’ tem idéia disso?
ARI: Como é que ‘cê’ pode afirmar
uma coisa dessas? O futuro é incerto...Você não sabe tudo que ele irá viver...
Raíza
levanta e senta na cama.
RAÍZA: Ele não vai pagar! Se fosse
eu pagaria até o que não fiz!
ARI: Não precisa ficar com essa
raiva toda...Você não se machucou. Pra que guardar rancor do rapaz?
RAÍZA: ‘Cê’ não entende, Ari. E se
eu não pudesse ter saído de lá? E se? Eu estaria morta! Tá entendendo? Morta!
ARI: Mas você tá aqui. Agora com o
seu pai sim deve se preocupar por que ele não tem nem ¼ dos seus poderes.
Raíza
encosta-se à parede.
RAÍZA: Eu sei que pareço egoísta,
mas...Eu sempre tive idéia de que o que se faz aqui, se paga. Meu pai passa por
cada uma e (ela se altera) esse garoto não vai pagar! Vê se isso é possível?
ARI: Raíza, eu já percebi que você
costuma ter certeza demais das coisas. O que tá acontecendo?
RAÍZA (sem graça): Ué...Impressão
sua...
ARI: Nada disso, desembucha logo!
Raíza
é pressionada. Levanta, irritada.
RAÍZA: Ah Ari! Tô nervosa viu. Se
você soubesse o que descobri hoje...
ARI: E o que descobriu?
RAÍZA: A Rafaela... (tom de
desprezo) Aquela lá quase acabou com a minha vida hoje...Se não fosse por eu
ser EU...
ARI: Nossa! Vai disparar sua raiva
pra cima dela também?
RAÍZA: Ela ‘tava’ lá, Ari. Quando o
drº Bedlin evitou o pior pro meu pai, ela ‘tava’ gravando tudo como se soubesse
o que haveria...
ARI: Como?! Por que ela faria
isso?
RAÍZA: Eu não sei, não sei...Mas eu
fui até a casa dela e... (decepcionada) E graças a Deus ela não viu nada que
fosse extraordinário...Mas descobri que ela é a tal Dirce...
ARI: Dirce? Que Dirce?
RAÍZA: A do blog, Ari! ‘Dirce me
disse’.
Ari
se surpreende.
ARI: É Raíza, não é só a gente que
temos nossos segredos, ‘né’?
CORTA
PARA
CENA 20 RUAS DA CIDADE
ADRIANO (O.S): Você me garantiu que
ela sairia ilesa...
A
cena se aproxima e a luz do poste ilumina a face de Cipriano. Os dois estão na
esquina da rua onde situa o colégio França.
CIPRIANO: E saiu, você viu...
ADRIANO: Passando mal? Pensei que ela
sairia de cabeça erguida como se nada tivesse acontecido...
CIPRIANO: Já ouviu falar de...Medo de
holofotes? Certamente ela fingiu muito bem...
ADRIANO: Quer saber? Pra mim você anda
vendo coisas. O pior é que agora ela deve ter jogado uma baita praga pra cima
de mim...
Ele
sai e atravessa a estrada.
CIPRIANO: VOCÊ ACREDITA MESMO
NISSO? (ri) Tomara que ela tenha jogado
uma praga mesmo...
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 21 RUAS DA CIDADE
Close
num vídeo onde se vê o prédio em construção.
VOZ: PAI! PAI!
A
cena se afasta e o vídeo se encontra nas mãos de Marco.
MARCO: Você deve ter se distraído.
Como a voz de Raíza está aqui e ela não?
RAFAELA: Eu não sei, já disse! Por que
não pergunta pra ela?
MARCO (sarcástico): E dizer que foi
você quem gravou? Eu não faria isso.
Rafaela
bufa.
MARCO: O que eu não entendo é o que
meu pai estava fazendo lá àquela hora.
RAFAELA: Vai vê ele adivinhou o que ia
acontecer...
Ele
a encara, sério.
CORTA
PARA
CENA 22 APTº 403 – SALA [INT./NOITE]
Bruno abre a porta e depara-se com Cael,
drº Bedlin e Marco.
BEDLIN: Viemos visitar a Raíza. Eu
sei que já são oito horas, mas é que viajarei amanhã para resolver uns
assuntos.
BRUNO: Não, que isso! Podem entrar.
CAEL: Desculpe trazer o Marco, mas
é que...
BRUNO: Tudo bem, Cael...Ele deve tá
muito preocupado com a Raíza, não? (irônico)
Quando
Raíza chega na sala, os olhares se voltam para ela. Cada um do seu jeito.
Cael
a olha, admirado; Seu pai, feliz e Marco, sério.
BRUNO: Eu ainda não agradeci o
suficiente por ter me salvado. Acho que não foi uma boa idéia o senhor ter
voltado de viagem hoje...
BEDLIN: Pelo contrário. Voltei no
melhor dia. Sempre é bom poder ajudar; Faz bem à alma, não acha Marco?
MARCO: Ah sim...(deboche) Raíza deve
está com alma mais brilhante que a luz do sol...
Raíza
não gosta do comentário.
BEDLIN: E também...Tenho certeza que
de qualquer maneira você seria salvo... (olha pra Raíza)
MARCO: Não seria a Raíza, não é? Por
que na mesma hora ela estava no colégio...Presa no incêndio...
Cael
e o pai se entreolham.
Josué,
de repente, faz o estranho pedido para a sobrinha.
JOSUÉ: Sirva alguma coisa a eles.
(ele se dirige aos visitantes) O que vão querer beber?
João
segura o riso.
JOÃO: Vai lá, Raíza. Manda vê.
Raíza
o fita de soslaio.
BEDLIN: Eu não quero beber nada,
obrigado.
CAEL: Eu também não.
Raíza
disfarça, contorna a mesa do computador e vai pra varanda. Drº Bedlin observa.
CORTA
PARA
CENA 23 APTº 403 – VARANDA [EXT.]
Raíza
está de frente. Ao fundo, drº Bedlin caminha em sua direção e pára ao seu lado.
RAÍZA: Eu tô pra te perguntar uma
coisa, mas...Se o senhor não quiser responder também...
BEDLIN: Como o pai de Marco pôde
salvar alguém?
Ela
olha pra ele e torna a olhar pra frente.
RAÍZA: Não era bem isso que eu ia
perguntar não...
Ele
ri e ela também.
RAÍZA: Aquele tijolo era pra ter
atingido meu pai...O meu amigo Dcr garante que ele foi desviado...Ele foi
desviado...
BEDLIN: E você acha que eu o desviei
no olhar?
A
garota esboça uma dúvida no rosto querendo dizer sim.
BRUNO: Olha (ele aperta os dedos
sobre os olhos) Acho meio difícil com o problema de estrabismo que tenho...É
pouco, mas você nem imagina o que já prejudica.
O
comentário arranca risos da moça.
Cá
da sala se ouve e Marco mostra-se furioso.
SALA...
Cael
está sentado entre Bruno e João.
CAEL: Parece que eles encontraram
algo em comum.
Marco,
de pé, observa o retrato de Raíza ao lado de João sobre a estante.
MARCO: A mania de salvar os outros,
certo?
Os
que estão presentes se entreolham. Ari, próxima da rack, olha pra ele e, em
seguida, para a varanda.
VARANDA...
RAÍZA: Quando estávamos no carro, o
senhor me falou uma coisa que não saiu da minha cabeça: Disse que era pra eu
não me preocupar com o Marco agora...E sim, com pessoas que fingem gostar de
mim...
Drº
Bedlin segura em suas mãos, seriamente.
BEDLIN: Existe muita gente perigosa
nessa vida. E eu não falo ‘muita’ no sentido de quantidade e sim, (pausa) na
qualidade do poder que uma só pessoa pode exercer sobre muitas pessoas...
RAÍZA: Acho que sei mais ou menos
como é isso...
BEDLIN: Não, você ainda não sabe.
(pausa) Você está muito preocupada com uma só pessoa e não vê o que realmente
acontece ao seu redor.
Raíza
faz cara de entojada.
BEDLIN: O Marco não é má pessoa.
RAÍZA (surpresa): Olha... Eu sei que
o senhor como pai dele vai sempre defendê-lo, mas acho que o senhor não deve
saber...
BEDLIN: Eu sei de tudo que ele fez.
Ela
solta de suas mãos.
RAÍZA: E o senhor ainda acha que ele
não é má pessoa?
BEDLIN: Ele é agora o que você...O
que você poderá ser amanhã. (Raíza se mostra indignada) E aí, vai aparecer
alguém pra dizer o mesmo que tô dizendo aqui. Que você não é má pessoa.
RAÍZA: Eu nunca serei como ele...Eu
não quero ser como ele.
Ele
torna a segurar suas mãos.
BEDLIN: Mas ele poderá mudar... Pelo
menos a pessoa que o fará mudar ele já encontrou...
A
garota não entende. Ouve a campainha tocar.
SALA...
A
porta está aberta e Cipriano, Dcr e Rafaela entram. Bruno não faz uma boa cara
com a presença dele.
Raíza
dá uma olhada pra Rafaela. Cipriano se aproxima e abraça Raíza.
CIPRIANO: Ainda não pedi desculpas o
suficiente por ter deixado o Adriano sozinho com você.
RAÍZA: Tudo bem...Já passou.
ARI: A gente tem certeza que você
não faria nada de propósito... Não é? (provoca, de braços cruzados)
Cipriano
dá uma olhada sinistra para Ari.
Dcr
também abraça a amiga e quando Rafaela vai fazer o mesmo, nota sua feição de
descontentamento.
RAFAELA: Você...Parece aborrecida.
RAÍZA: Hoje foi um dia cheio, só
isso...
RAFAELA: Bem, eu só passei pra saber
se tá tudo bem contigo e com o seu Bruno...Parece que um andaime quase
despencou sobre ele, ‘né’?
RAÍZA (irônica): Ah! Você não sabia?
Rafaela
trava e não diz nada.
BEDLIN: Bem, minha gente, tenho que
ir agora. Foi um prazer conhecer a família de Raíza.
BRUNO: Quando voltar, será sempre
bem-vindo.
BEDLIN: Obrigado.
CORTA
PARA
CENA 24 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
Tocando: The Unforgiven – Metallica
->
Antes
de entrar no carro, drº Bedlin toca as mãos de Raíza e sorri.
BEDLIN: E lembre do que te falei.
Preste mais atenção no que acontece ao seu redor, está bem? (ele toca seu
rosto)
Drº
Bedlin se afasta e Cael se aproxima.
CAEL: Os conselhos de meu pai valem
ouro (os dois sorriem / pausa). Boa noite.
Ele
a beija no rosto, um beijo demorado. Quando se afasta, a imagem de Marco, ao
fundo, aparece sério.
BEDLIN (para Dcr e Rafaela): Vocês aí
não aceitam uma carona?
DCR: Ahn...Bom...Eu...Aceito! (ele
beija Raíza no rosto) Depois ‘cê’ me conta as...(ele olha de canto) Novidades.
ARI: Bom, eu tenho que ir mesmo.
Tchau gente!
RAÍZA: Tchau!
RAFAELA: Eu vou depois, obrigada
doutor.
Dcr
beija Rafaela e depois, entra no carro. O carro parte.
Rafaela
envolve Raíza num abraço e esta cruza os braços, fitando aquele braço.
RAFAELA: Gente boa, ‘né’?
Raíza
mantém-se quieta.
RAFAELA: Você tá tão
esquisita...Aconteceu mais alguma coisa além de tudo isso?
Raíza
fricciona os lábios e não a encara.
RAÍZA: Hoje foi um dia cheio,
Rafaela. Meu pai quase morreu...
RAFAELA: Mas ele escapou!
Raíza
põe as mãos no bolso do short marrom e a olha enigmática.
RAÍZA (rápida): Sim, e graças ao pai
do Marco.
RAFAELA: Ah! Então é por isso que você
tá assim? Por que foi o pai dele que...
RAÍZA (interrompe): Não. É por que
se não fosse ele meu pai estaria morto.
Rafaela
se encabula, afasta o braço e vira a cabeça, por um instante.
RAÍZA (cont.): E eu me pergunto se
eu soubesse o que ia acontecer e na hora eu não fizesse nada...
RAFAELA: Com certeza essa não seria
você... Primeiro por que você não é vidente. E segundo por que se soubesse não
deixaria acontecer.
RAÍZA (tom seco): Claro! Ele é meu
pai. (longa pausa) Mas se eu soubesse e na hora, mesmo podendo eu não fizesse
nada, isso seria?
RAFAELA (temerosa): Omissão? Omissão
de socorro?
Raíza
finge que acaba de escutar a frase que não conseguiu lembrar.
RAÍZA (sarcástica): Ah!
claro...Omissão de socorro... Imagine se meu pai morre por culpa dessa
tal...Omissão de socorro?
Aquela
repetição perturba um pouco a amiga.
RAÍZA: Me diga, Rafaela: Você
salvaria a vida de alguém se soubesse que ela estaria correndo risco de vida?
Você largaria tudo que estivesse fazendo para socorrer alguém?
Rafaela
sorri, nervosa.
RAFAELA: Por que tá me perguntando
isso?
RAÍZA: Por que eu fiquei pensando...Se
Deus não tivesse colocado o drº Bedlin no caminho do meu pai, quem seria a
primeira pessoa que ele destinaria tal feito?
RAFAELA: A-ainda bem que nunca me
deparei com esse tipo de situação...Eu não saberia o que fazer...Eu agora tenho
que ir.
Ela
dá um beijo tremido em seu rosto.
RAFAELA: Tchau!
Raíza
a vê partir quase tropeçando nas beiradas da calçada. Balança a cabeça
negativamente.
Cipriano
surge por trás, como de costume, e acompanha seus olhos à direção que ela mira.
CIPRIANO: Algum problema com ela?
A
garota leva um susto.
RAÍZA: Não tinha te visto aí...
CIPRIANO: A sua amiga me pareceu bem
nervosa...E você? Parece desconfiada.
RAÍZA: Eu só achei que as coisas
podiam ser diferentes...E elas não são...
CIPRIANO: Talvez as coisas não devam
ser diferentes...Mas nós sim...
Os
dois trocam olhares e a cena vai se afastando.
FADE
OUT
FIM DO EPISÓDIO
Autora:
Cristina Ravela
Elenco:
Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Ari (Nathália Dill)
Dcr (Aaron Ashmore)
Valentina (Alinne Moraes)
Cipriano (Thiago Rodrigues)
Participação Especial:
Lara (Jane Saymour)
Drº Bedlin (José Augusto Branco)
Adriano (Bruno Udovic)
Trilha Sonora:
The Unforgiven -
Mettalica
Produção:
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO

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