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WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA


Série de
Cristina Ravela

Episódio 18 de 20




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FADE IN
CENA 1  RUAS DA CIDADE  [MANHÃ]
[A cena é vista de cima]
     Ouvem-se passos rápidos. A cena vai abaixando e Raíza surge de costas, correndo apressada. Olha para trás, afobada.
A cena a mostra de frente. Quando se volta, dá com Dcr que a contém pelos ombros.
DCR: Raíza! Pra onde você tá indo com essa pressa toda?
RAÍZA (balbucia): Não dá pra falar agora, não dá.
Raíza torna ao olhar pra trás, um ônibus se aproxima, ela faz sinal.
O ônibus pára e os dois entram.
ÔNIBUS [EXT.]
O ônibus pára próximo dali. Raíza desce e Dcr vem atrás.
DCR: Calma, Raíza; ‘Cê’ parece que vai ter um troço.
Raíza corre e o amigo faz o mesmo.
Ela alcança uma calçada e pára, olhar aceso, respiração ofegante.
Dcr quase tromba nela, ar de cansado e tão ofegante quanto ela.
DCR: O que veio fazer aqui, Raíza?
[POV de Raíza e Dcr]
     Os dois estão diante de um prédio em construção e veem Bruno de cima de um andaime com capacete.
De repente um tijolo cai na direção de Bruno [efeito câmera lenta].
Raíza põe as mãos na cabeça, apreensiva.
RAÍZA (balbucia): Não...Não!
 Sua tentativa de gritar é inútil tamanho o pavor [fim do efeito].
Raíza esconde o rosto, esboça sofrimento.
DCR: CUIDADO BRUNO!
Inacreditavelmente, o tijolo desvia de seu percurso. Dcr olha, esbabacado para um senhor ao lado de cabelos brancos. Ele mira fixamente naquela direção.
DCR (balbucia): Não é possível...
 O tal senhor o encara, olha para Raíza, se aproxima e toca o ombro da moça. Ela vira, o senhor sorri simpaticamente.
Ela avista seu pai são e salvo.
HOMEM: Tudo bem com você?
A garota mantém-se quieta.
Corta para de trás de um carro afastado dali, surge Rafaela segurando sua câmera e mirando em Bruno.
RAFAELA: Isso foi...Incrível!
FADE OUT


1X18 O VIDENTE

FADE IN
CENA 2  ED. EM CONSTRUÇÃO – PAVIMENTO SUPERIOR [INT./MANHÃ]
     O tal senhor, cabelos brancos, alto, gordo e muito simpático, anda entre Raíza e Dcr pelo corredor.
HOMEM: Então vocês vieram fazer uma visita? São estudantes de engenharia?
RAÍZA: Ahn...
DCR: Na verdade, doutor Bedlin (pausa) Eu nem sei o que eu tô fazendo aqui.
Raíza faz cara de boba e drº Bedlin ri.
BRUNO (O.S): Raíza? Dcr? O que fazem aqui?
BEDLIN: O senhor conhece essas figuras?
BRUNO: Ela é a minha filha e ele o amigo dela, mas (confuso) O senhor é...?
Drº Bedlin dá a mão.
BEDLIN: Eu sou o drº Bedlin. (os dois se cumprimentam) Sou sócio de uma construtora e costumo conhecer todas as novas construções sempre que posso. Parece um trabalho árduo, mas é uma das coisas que gosto de fazer.
Dcr puxa a amiga pra um canto. Ouvimos que os outros dois conversam, mas não dá pra escutar.
DCR: Raíza, você não tem noção... (extasiado) Aquele homem, só com o olhar, desviou o tijolo! Você pode acreditar nisso?
RAÍZA: Hã? É possível?
DCR: Olha, nunca ouvi dizer que tijolo fosse leve pro vento carregar pra onde quiser.
RAÍZA: É, mas... (ela olha lá adiante onde conversa seu pai e o doutor) Ele nem fez um comentário a respeito ‘né’? Sinistro...
DCR: Ah, essas pessoas que tem poderes mesmo não sai por aí contando, não (pausa) Não é? (estranha flexão na pergunta)
Ela o encara.
CORTA PARA
CENA 3  RUAS DA CIDADE - ÔNIBUS  [EXT./MANHÃ]
Rafaela desce do ônibus, apressa o passo e antes de entrar num edifício, a mão de alguém toca seu braço. Ela tem um sobressalto.
RAFAELA: Mas que susto!
MARCO: Bom dia pra você também. (Marco está com sua roupa social preta e camisa azul clarinho) Conseguiu o que pedi?
Rafaela bufa, insatisfeita. Põe a mão na bolsa e tira a câmera, ora olhando para aquele homem charmoso. Entrega a câmera.
RAFAELA: Foi isso que consegui...A Raíza ‘taí’ como você pode ver...
Marco assiste ao vídeo, pasmo.
MARCO: Mas o que meu pai faz aqui?
RAFAELA (espicha os olhos): Onde? (desvia a atenção) Não sei quem é seu pai e francamente...
Ela pára de falar sob o olhar dele, meio estranho.
Marco apanha um dinheiro do paletó e o estende para ela. Rafaela recua.
RAFAELA: Isso não ‘tava’ no trato. Não quero teu dinheiro.
MARCO: Não se faça de orgulhosa (ele põe o dinheiro dentro da bolsa dela) Compra outro cartão porque...Esse aqui (ele tira o cartão de memória da câmera) Vou levar comigo.
Ele devolve a câmera, sorrisinho de canto.
MARCO: Tenha um bom dia.
E caminha até chegar no carro.
RAFAELA (em OFF): Maldita hora em que fui salva por ele...Maldita!
CORTA PARA
CENA 4  ED. EM CONSTRUÇÃO  [EXT./MANHÃ]
[INT.] PAVIMENTO SUPERIOR
     Bruno segura um papel e faz umas observações com outros trabalhadores. Nota Raíza no outro canto, numa varanda.
[POV de Raíza]
Ela observa a escadaria sem muita proteção e um carro lá embaixo, parado.
RAÍZA (em OFF): Nossa! Que sensação horrível...
BRUNO: Filha?
Ela se assusta.
RAÍZA: Ai pai! Que susto!
BRUNO: O que você queria me dizer? Aquele papo de que queria ver a nova construção não colou.
Raíza olha adiante, vê drº Bedlin entretido com os trabalhadores.
RAÍZA: Pai, o senhor escapou por pouco, por pouco!
Bruno faz aquela cara de tacho.
BRUNO: Escapei? Quando? Do que ‘cê’ tá falando?
RAÍZA: Quando o senhor ‘tava’ no andaime um tijolo caiu e quase atinge sua cabeça, quase!
BRUNO: Nossa! Como que você fez isso?
RAÍZA (bate a mão uma na outra): Aí é que tá, pai! Não fui eu...O Dcr jura que foi esse tal doutor Bedlin...
BRUNO: O doutor Bedlin?!
RAÍZA: Psiuuu! Fale baixo, pai! Quer chamar atenção do homem?
Ele olha pra trás.
BRUNO (murmura): Que história é essa? Vai me dizer que ele também tem poderes?
Um pedreiro passa por eles, Raíza disfarça.
RAÍZA (murmura): Foi o que pareceu...Dcr viu esse cara olhando fixo pro tijolo. Parecia até...Que sabia...O que estava pra acontecer...
BRUNO: Vidência?
RAÍZA: Não sei (pausa) Mas acho melhor o senhor tomar cuidado. Quase morreu...De novo. (pausa) Disfarça que o homem tá vindo.
BEDLIN: Eu tenho que ir agora. Cheguei de viagem e nem visitei meus filhos.
RAÍZA: Ah eu também já vou...
BEDLIN: Quer uma carona?
Raíza e Bruno entreolham-se.
CORTA PARA
CENA 5  ED. EM CONSTRUÇÃO  [EXT.]
     Raíza e drº Bedlin saem sorrindo. Deparam-se com Marco, sorrindo sem mostrar os dentes. Vem andando, com as mãos nos bolsos da calça, andar relutante e com o corpo meio jogado para trás.
MARCO: Pensei que a primeira pessoa que o senhor visitaria fosse teu filhinho querido...Pai.
Raíza olha para ambos, surpresa de ver que aquele homem tão simpático havia conseguido gerar alguém como Marco.
RAÍZA: O senhor é pai...Dele?
BEDLIN (faz graça): Foi o que o exame de DNA confirmou.
MARCO: Acho que a Raíza não está interessada nos detalhes, (olha pra ela) não é?
BEDLIN: Certamente que não. (ele abre os braços) Não vai me dar um abraço de boas vindas.
Marco o abraça. Fita a garota que desvia o olhar.
CORTA PARA
CENA 6  CARRO [INT.]
     Drº Bedlin dirige e observa a garota ao seu lado prestando atenção na paisagem. Raíza mexe os cabelos tentando fazer uma trança mal feita.
BEDLIN: Vocês dois não se topam, num é?
A garota levanta a cabeça do vidro dispersando de seus pensamentos. Não entende.
BEDLIN (reitera): Você e o Marco. Ele mal lhe cumprimentou...Te olhou meio assim...De canto.
Raíza junta as mãos, apertando-as e torcendo os dedos.
RAÍZA: Não somos amigos, só isso.
De repente, no ponto de vista do drº Bedlin ele vê chamas cobrir a estrada e chegar no carro. Dá uma freada brusca e a garota se assusta.
[POV de Bedlin]
Ele vê Raíza num lugar fechado aos gritos.
CARRO – VISTA DE CIMA [EXT.]
     O carro freia pela estrada, quase bate em outros e dá uma virada.
CARRO [INT.]
O carro pára e drº Bedlin leva o rosto ao volante.
RAÍZA: O que aconteceu? O senhor está bem?
Ele levanta o rosto, lentamente e toca suas mãos. Seu semblante está sério, medonho.
BEDLIN: Não tenha raiva do Marco por agora...Ele, às vezes, se deixa guiar pelos negócios...
A garota, espantada, mal consegue falar.
BEDLIN (cont.]: Preocupe-se com gente que finge gostar de você...
CORTA PARA
CENA 7  ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT./FIM DA MANHÃ]
APTº 403 – SALA [INT.]
     A porta abre, Raíza entra com ar de confusa e fecha a porta. Joga a bolsa no sofá e passa as mãos na cabeça.
Josué surge da porta da cozinha de avental com uma toalha de prato envolvida nas mãos.
JOSUÉ: O que aconteceu que você saiu sem avisar?
RAÍZA: Tio, meu pai sofreu um novo atentado!
Ari surge do corredor dos quartos, assustada.
JOSUÉ (voz assustada): Meu Deus! (Joga a toalha em cima da pia e volta-se) E você me diz isso assim? Vamos lá! Em que hospital o levaram?
RAÍZA: Calma, tio!...Atentaram, mas não conseguiram...
Josué se desmonta em alívio.
JOSUÉ: Caramba Raíza! Não faz isso...(suspira) Tá, mas...O que houve?
RAÍZA: Um tijolo quase o atingiu ao cair do prédio...Onde ele tá inspecionando.
ARI: E por que você acha que foi um atentado? Tijolos caem, isso é normal numa área em construção.
Raíza fita seu tio e ele entende.
JOSUÉ: Ah! Que bom que você chegou a tempo de salvá-lo, não?
RAÍZA (relutante): Eu não fiz nada, tio (ela nota a presença de João vindo do quarto) meu pai desviou sem sacar o que houve.
JOSUÉ: Tá me dizendo que você não fez nada pra impedir?
RAÍZA: Tio, eu não sou a salvadora do mundo ‘né’?
JOSUÉ: E de que adianta você...
RAÍZA: Oi João! (disfarça quando João entra na sala) Imagine só o que quase aconteceu com meu pai...
JOÃO: Eu imagino o que QUASE ia acontecendo com meu tio...Quer matá-lo do coração, é?
Raíza se mostra envergonhada.
RAÍZA: Foi mal, hein tio...Eu fiquei nervosa...
JOÃO: Não é a primeira vez, ‘né’?
Raíza fecha o semblante. Ari se mostra confusa.
JOSUÉ: Olha... Eu vou comprar ovos, viu. (ele tira o avental) Comportem-se! (ele joga o avental sobre a mesa da cozinha)
Josué sai, João contorna a prima e vira-se de frente.
JOÃO: Agora me conta: (finge não saber) Por que meu tio acha que você podia ter evitado?
Raíza lhe dá aquela olhada como quem diz: ‘Acha mesmo que vou te dizer?’
RAÍZA (impaciente): Vai vê eu tenho cara de super-homem...
CORTA PARA
CENA 8  APTº 403 – QUARTO [INT.]
Ari empilha seus livros e observa Raíza colocar a roupa de escola sobre a cama, com ar de reprovação.
ARI: Você acha que assim vai melhorar em alguma coisa?
Raíza vira a cabeça na direção dela e aponta para sua roupa.
RAÍZA: Ué, mas é o único uniforme que tenho.
ARI: Ai, Raíza! (ela quase bate o pé) Tô falando do seu comportamento com o João! Tá a cada dia pior.
RAÍZA: É ele quem começa, você viu. Tudo que falo é motivo pra ele me chamar atenção.
ARI: Ignore, ignore!
Raíza vai até o guarda roupa, abre a gaveta.
RAÍZA: É fácil falar, mas você sabe o que é ter alguém no teu pé, não sabe?...
Ela apanha a toalha de banho, pára e põe a mão na testa. Vira pra Ari.
RAÍZA (cont.): Olha, deixa isso pra lá viu...Vem cá (Ela puxa Ari para sentarem na cama) Tem uma coisa que não pude contar na frente do João...
ARI: O que é? Pode falar.
RAÍZA: Eu conheci o pai do Marco (Ari se mostra surpresa) O Dcr garante que foi ele com a força do olhar que desviou aquele tijolo.
ARI: O pai do Marco? Por que ele ajudaria seu pai?
RAÍZA: Só Jesus deve saber...Mas o caso é que ele é estranho...
ARI: Por ter poderes?
As duas se encaram.
RAÍZA: É sempre estranho encontrar alguém também com poderes (pausa) Mas você não imagina o que aconteceu quando estávamos vindo pra cá, no carro dele...Ele quase bate com o carro e me olha diferente...Deu até medo.
ARI: Nossa! Sendo pai de quem é melhor temer mesmo.
Raíza se levanta.
RAÍZA: Não, é que ele é um tipo simpático, sabe? E aquela expressão dele, de repente...Me aconselhou a ter cuidado com gente que finge gostar de mim...
ARI: Vidência?
RAÍZA: Meu pai achou a mesma coisa, mas...O pai do Marco?...Vidente? (ela ri sarcástica) Se fosse o caso ele teria feito vasectomia...
ARI: Que horror!
As duas riem.
RAÍZA: Se você visse como os dois se tratam...
João entra no quarto, sem cerimônias.
JOÃO: Quer dizer que você já se deu bem com o velho...Digo, o pai do Marco?
Raíza respira profundo.
ARI: Raíza, você não tinha que ir tomar banho?
Raíza, insatisfeita, sai do quarto.
De repente, ela volta e dá com seu primo sentado na barra de seu uniforme.
RAÍZA (alterada): Ô João, você não tá vendo minha roupa aí, não?
O primo confere e afasta a blusa com cuidado.
JOÃO: Foi mal, não tinha visto...
Raíza arranca o uniforme dali e põe na cama de Ari, nervosa.
RAÍZA: Sempre a mesma coisa! Você nunca vê! Queria vê se fosse EU!
Josué aparece da porta.
ARI (tenta avisá-la): Calma, Raíza...
JOSUÉ: O que foi dessa vez?
RAÍZA: Tio! Ele sentou na minha blusa passadinha! Que ele não tenha olho nessa bunda eu até entendo, mas bom senso ao menos ele devia ter!
JOÃO: Gente! Foi sem querer.
Para surpresa de Raíza, Josué sorri, achando graça da situação.
JOSUÉ: O almoço já vai sair. Não querem chegar atrasadas, ‘né’?
Raíza e Ari se olham com cara de tacho. João sorri, irônico.
CORTA PARA
CENA 9  MANSÃO [EXT./INÍCIO DA TARDE]
[INT.] ESCRITÓRIO
Cael está sentado atrás da mesa diante de uma papelada. Roda a caneta por entre os dedos e volta-se para trás, recostando na cadeira.
BEDLIN (O.S): Tão pensativo que não me viu entrar?
Drº Bedlin adentra o escritório, sorrindo.
CAEL: Pai! (ele levanta imediatamente e vai até ele, abraçando-o) Não me avisou que vinha. Eu tinha mandado te buscar.
BEDLIN: Achei melhor não... Eu não queria que houvesse uma disputa entre você e seu irmão pra ver quem me pegaria no aeroporto...
Os dois acham graça.
CAEL: Quer beber alguma coisa?
BEDLIN: O de sempre.
Os dois saem do escritório para a...
SALA...
Cael vai até o bar e drº Bedlin senta-se no sofá.
Close na garrafa de whisky. Cael despeja num copo.
CAEL: Fez boa viagem?
BEDLIN: Cheguei vivo (ri sacana).
Cael entrega a bebida e senta de frente pra ele.
CAEL: Eu perguntei por que o senhor me parece preocupado...
BEDLIN: Deve ser por que vi seu irmão (os dois sorriem) e finalmente uma mulher que não topasse com ele.
CAEL: Você mal chegou e já conheceu a Raíza?
O pai ri, põe o copo sobre a mesa e nota um brilho especial em seus olhos.
BEDLIN: Pelo jeito, você também a conhece hein...E não lhe é indiferente...
Cael abaixa a cabeça, sem graça.
BEDLIN: É que o Marco mal a cumprimentou...(falsa curiosidade) Namorados eles não foram, ‘né’?
CAEL (sorri): Não. É uma história meio complicada de se entender...
BEDLIN: Tô pronto pra ouvir!
CORTA PARA
CENA 10  ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
     Raíza e Ari chegam na portaria. João salta as escadas e coloca o braço no pescoço de Ari.
JOÃO (pra Raíza): Vou com vocês.
No portão, há um carro verde parado. Cipriano sai e sorri pra todos.
CIPRIANO: Oi. Vim acompanhar você, Raíza, até o colégio. Tenho que justificar a posição que ocupo, ‘né’? A de tio.
Raíza ri, mas Ari mantém-se quieta olhando estranho pra ele.
CORTA PARA
CARRO – MEIO DA ESTRADA [INT.]
     Cipriano dirige, atento. No banco de trás, João está com seu braço envolvido no ombro de Ari.
CIPRIANO (pra Raíza ao seu lado): Foi um atentado?
JOÃO: Foi o que ela disse. E quase enfartou o meu tio.
Raíza olha pra trás, faz que vai dizer algo, Ari a fita.
RAÍZA: Na verdade...Acho que não. Afinal, quem ia querer fazer mal a meu pai, ‘né’?
CIPRIANO: Claro! Da primeira vez foi um mal entendido, agora seria o que, não é mesmo?
Silêncio.
CIPRIANO: Me diga uma coisa: Seu pai tem a guarda provisória da Ari, não é?
RAÍZA: Sim, por quê?
CIPRIANO (malícia): Se algo acontecesse com ele quem ficaria com a guarda dela?
Close no rosto de Ari, preocupada.
RAÍZA: Acho que meu tio Josué...
CIPRIANO: Acha? Se ele não pudesse e não houvesse mais ninguém pra se responsabilizar por ela, ela teria que voltar pra mãe?
ARI (irritada): Ai gente! Vamos parar com esse assunto? Se houve atentado ou não, não deve ter sido por minha culpa, ‘né’!
RAÍZA (em OFF): Se ele tiver razão?...Será que o Marco tá querendo usar meu pai pra me atingir?
Cipriano olha pelo retrovisor, Ari o encara e ele sorri, discretamente.
CORTA PARA
CENA 11   MANSÃO - SALA  [INT.]
Drº Bedlin, recostado ao sofá, pernas cruzadas, ri.
BEDLIN: Quer dizer então que Marco não ficou possesso por ter sido salvo pela Raíza e sim, por que ela revelou seus crimes? Esse garoto não se emenda mesmo...
CAEL: Na verdade... (ele põe seu copo sobre a mesa e esfrega os lábios ) Ele não foi com a cara dela desde que a conheceu.
BEDLIN: Hum...Mau sinal...Quero dizer, depende de qual parte ficará no prejuízo ‘né’...
CAEL: Não entendi...Mas seja como for, acho que Marco não sairia como prejudicado...Os que se envolve com ele sim.
Eles riem. Valentina entra na sala com um sorriso de canto a canto.
VALENTINA: Drº Bedlin! Como vai?
BEDLIN: Valentina! Enfim nos conhecemos pessoalmente. Fiquei sabendo que está grávida. Meus parabéns!
Ele toca suas mãos, sorrindo e tem uma visão.
[VISÃO]
     Ele vê a moça num hospital, desesperada tocando a barriga.
[FIM DA VISÃO]
VALENTINA: O que houve? Tá se sentindo bem?
LARA (O.S): Deve ter sido a pressão que baixou, não é querido? (ela está à soleira da porta) A viagem de avião não deve tê-lo feito bem...
BEDLIN: A viagem e sua voz também...
Cael sorri.
CAEL: Vou mandar arrumar seu quarto e o senhor descansa.
Drº Bedlin se levanta meio tonto.
LARA: Cael já contou o que ele fez com o seu filho, Emmanuel?
O doutor se volta, fingindo esquecimento.
BEDLIN: Hã? Emmanuel?...Quem?...Ah! (ele dá um tapinha na própria cabeça) Sou eu! O pessoal só me chama de doutor Bedlin que eu até esqueço meu nome...
Ele alisa o rosto de Lara e lhe dá um beijo na testa.
Sai, deixando-a irritada.
LARA: Não gosto dessas piadinhas dele.
CAEL: Uma das razões para terem se separado?
LARA (bufa): Você não é filho dele, mas parecem ter o mesmo sangue...
CORTA PARA
CENA 12  COLÉGIO FRANÇA - PÁTIO [INT.]
     Raíza caminha e sorri pra dois alunos que vem à sua direção.
GAROTA: Oi, Raíza.
RAÍZA: Oi...Que caras são essas?
Os dois alunos se entreolham.
GAROTO: É que tá circulando num blog um vídeo em que você aparece...
RAÍZA (em OFF): Ai Cristo!
GAROTA: Você não tem nada a ver com aquilo, não é? Não é você, ‘né’?
RAÍZA: Olha Jana, eu já vi o vídeo e aquela lá não sou eu nem virando de ponta cabeça! (ela aponta o dedo indicador pro alto)
GAROTO: Ah, mas aquele grupinho ali cismou que é você...
[POV de Raíza]
Ela vê uns rapazes num banco.
GAROTO: E você sabe que eles são da pesada ‘né’?
RAÍZA (debochada): Tipo, eles têm pezão, Davi?
Os três riem.
Eles passam pelos rapazes.
GAROTO: Eu sei o que você andou fazendo no verão passado.
Ouve-se risos, Raíza vira o rosto para o dono daquela voz de sacana. Ele usa piercing na orelha e na sobrancelha e olhos pintados de preto.
RAÍZA: Hum...Você sabe é? A que se refere?
GAROTO: Eu assisti ao vídeo. Você salvando duas pessoas em situações diferentes.
Raíza olha pra baixo, faz cara de desentendida.
RAÍZA: Acho que esse seu piercing andou perfurando algo a mais... ‘Cê’ anda tendo idéias muito fantasiosas...
GAROTO: Pra que negar o que está claro? Você é a garota à prova de fogo!
RAÍZA: Você deve tá assistindo muito um desses filmes de ficção. Você acha que se fosse eu, eu não teria saído queimada? (pausa) Por favor ‘né’?
E dá as costas. O tal rapaz sorri, malicioso.
GAROTO (murmura): É o que veremos...
FADE OUT
FADE IN
CENA 13   BANHEIRO [INT.]
Raíza desce os três degraus e ao pisar no piso, não ouvimos mais as vozes dos alunos nos corredores. Não há ninguém ali.                      Ouve-se, no entanto, som dos carros e suas buzinas. Raíza mira no basculante e se aproxima dele, em passos curtos e lentos.
Através dele, ela olha, receosa.
[POV de Raíza]
É noite. Ela vê o prédio em construção e seu pai. Há alguém lá no alto que toca a corda que sustenta o andaime.
Num piscar de olhos, o andaime despenca numa altura de 20 metros na direção de Bruno.
RAÍZA: Não! Não!
Raíza se volta, chocada.
RAÍZA (em OFF): Isso não aconteceu, Meu Deus! Isso não aconteceu!
Ouve-se o som de correria, vozes de alunos e o sinal toca.
Com a expressão de medo, ela olha pelo basculante de novo. A única coisa que vê é a quadra.
CORTA PARA
CENA 14  COLÉGIO FRANÇA – CORREDOR [INT./NOITE]
     Raíza desce as escadas com um celular nas mãos. Disca rápido, aflita.
RAÍZA: Ari? Meu pai já chegou?
ARI (V.O): Não. Ele ligou avisando que surgiu um problema e terá que ficar mais tempo na obra...Por quê?
Raíza se distancia um momento do telefone, imóvel.
RAÍZA (em OFF): Ai meu Pai Eterno...E agora?
ARI (V.O): Raíza? ‘Cê’ tá me ouvindo?
RAÍZA: Ahn, sim. É que não consegui falar com ele mais cedo...(pausa) Não, depois a gente se fala.
Raíza desliga sem um ‘tchau’ e sobe as escadas.
A luz falta de repente e ela, parada no meio da escadaria, torna a descer.
RAÍZA: Aaai! Que susto! Quer me matar do coração?
Cipriano está abaixo da escada, olhar de acusação.
CIPRIANO: O que faz fora da sala?
Ela desce pro corredor.
RAÍZA: Eu preciso sair, Cipriano. O meu pai...Eu tenho que falar com ele e é agora!
CIPRIANO: Calma, calma. Tô com celular aqui...Ligue, se quiser.
RAÍZA: Não adianta, Cipriano. O meu celular é ruim, mas do meu pai é pior ainda. Me deixa sair, pelo amor de Deus!
CIPRIANO: Calma! Antes eu tenho que ir buscar uma lanterna pra verificar a caixa de luz. Desde ontem que ela tá com problema.
RAÍZA: Mas...
Alguém desce as escadas e pela luz da penumbra que entra pelo pátio, vemos que se trata daquele rapaz de piercing.
GAROTO (para Cipriano): Quer uma ajuda?
Raíza demonstra insatisfação.
CORTA PARA
CENA 15  COLÉGIO FRANÇA – FUNDOS [EXT./NOITE]
     O ambiente, entre árvores é sombrio. À esquerda há a quadra e, subindo pelo caminho de pedras se encontra uma saleta com portão azul.
Cipriano abre e entra em seguida. Raíza e o tal rapaz também.
O local é escuro, mas dá pra ver que é pequeno. Raíza esboça incômodo.
RAÍZA: Cheiro esquisito...Parece...Querosene.
CIPRIANO: Não tô sentindo não (pausa) Tá sentindo Adriano?
ADRIANO: Eu não...Ahn...Raíza, dá uma olhada numa daquelas prateleiras.
RAÍZA: Se eu enxergar, ‘né’...
CIPRIANO (pra Adriano): Você avisou que estaríamos aqui?
ADRIANO (falso): Ih caraca! Pior que não.
CIPRIANO: Vou lá avisar então. Se não acontece igual àquele dia que todos saíram correndo.
RAÍZA: Ainda bem que o professor não sofreu nada de grave...
Cipriano sai.
Raíza estica o braço e alcança uma prateleira. Há cadeiras no meio do caminho.
RAÍZA: Adriano, acho que encontrei uma lanterna... (ninguém responde) Adriano!
Raíza liga a lanterna e ela acende. Direciona aleatoriamente e não vê o rapaz. A porta está fechada.
Ela põe a mão na maçaneta. Está trancada.
RAÍZA (bate na porta): Adriano!...Abra essa porta! (ouve-se um ruído) Cipriano! Cipriano!
Raíza se afasta rapidamente, assustada. Direciona a lanterna e vê uma trilha de fogo se alastrar pela saleta.
RAÍZA: EI! ME TIREM DAQUI! ME TIREM DAQUI!
Ela pára, deixa cair a lanterna e sua luz mira por debaixo da porta.
RAÍZA (murmura): Não...Eu não preciso passar por isso...Não preciso...
Ela olha pro celular, disca.
MENSAGEM: Esse telefone está fora de área...
Ela desliga.
RAÍZA: Droga! O jeito é eu sair daqui de qualquer maneira...Isso só pode ser uma armadilha daquele Adriano. (longa pausa /tosse) É o que eu vou fazer...
Ela fecha os olhos, mas não some. Tenta de novo e nada.
RAÍZA (aflita / olhos fechados): Não pode ser! Não pode ser! (pausa) Calma...É a vida do meu pai que tá em jogo...Pensa, pensa!
[EXT.]
Adriano contempla o fogaréu.
ADRIANO: Quero vê como ela vai escapar.
Cipriano sorri, esperto.
A tela se fecha num baque.
FADE IN
CENA 16  ED. EM CONSTRUÇÃO [EXT.]
     Bruno tira o capacete enquanto conversa com uns pedreiros.
A cena sobe e no alto de um andaime, há um homem pondo a mão na corda que o sustenta. Ele olha pra baixo e observa Bruno andar pra debaixo dele.
Do outro lado da calçada, Raíza chega correndo, avista a cena, o andaime balança.
RAÍZA: PAI! PAI!
Bruno vira-se e olha adiante.
[POV de Bruno]
Não há ninguém à vista. Apenas um carro parado.
CARRO [EXT.]
[VISÃO DE UMA CÂMERA]
     A câmera desvia da cena e por trás dela está Rafaela, curiosa.
É nesse instante em que o andaime despenca, Raíza corre, e eis que surge drº Bedlin.                                                                             Este empurra Bruno, os dois caem e o andaime em seguida.
BRUNO (espavorido): Meu Deus! (longa pausa) O senhor mais uma vez salva a minha vida.
Drº Bedlin não diz nada.
     Raíza respira aliviada e com os olhos lacrimejando. Quando se volta, vê Rafaela correr pela calçada.
 RAÍZA: Mas o que Rafaela faz aqui?... Será que... Será que tô visível e não sei?
CORTA PARA
CENA 17  APTº 303 – QUARTO [INT.]
     Rafaela entra, fecha a porta e joga-se, esbaforida, de contra ela, de costas. Sorri, nervosa e feliz. Corre até a mesa do computador, liga. Conecta o cartão de memória nele e tão logo o vídeo é exibido. Ouve-se o grito de Raíza no vácuo. A seta retrocede a cena.                                                                                                                                                                       
RAÍZA(no vídeo): PAI! PAI!
Para sua decepção, a câmera desvia no exato momento em que Bruno escapa da morte.
RAFAELA: Droga!
Ainda com a janela do vídeo aberta, Rafaela conecta a Internet. Abre seu blog.
RAFAELA: Voz de Raíza no meio do nada... Renderia comentários se eu tivesse gravado o andaime despencando...
A cena sobe e revela Raíza atrás dela, surpresa e aborrecida.
A tela se fecha num baque.
FADE IN
CENA 18  COLÉGIO FRANÇA – FUNDOS [EXT.]
     Há muita gente, dentre eles, alunos, professores e diretores cercando o local.
Baldes d’água estão no chão. Não há mais fogo do lado de fora.
     Finalmente, arrombam a porta da saleta.
O sujeito que arrombou encontra Raíza caída, inconsciente. Ele e Josué a carregam para fora e aos poucos, ela vai acordando nos braços do tio.
JOSUÉ: Você tá bem? Como isso foi acontecer? Como?
Ela olha para Adriano com um olhar sinistro.
RAÍZA: Foi você! Você me trancou lá e ateou fogo, não foi?
O rapaz ora olha para Cipriano; Ora para a garota. Não reage.
RAÍZA: Por causa de suas idéias ridículas de que sou à prova de fogo eu quase morri, tá ouvindo? Quase morri!
ADRIANO: Desculpe. Eu...Eu...Me desculpe.
JOSUÉ: Seu moleque irresponsável! Isso é coisa que se faça?
Adriano estende a mão num gesto de reconciliação. Raíza não corresponde. Ele, então, toca suas mãos sujas pela fumaça. Raíza tem uma visão.
[VISÃO]
Raíza vê o rapaz, bem alinhado, de terno, trabalhando numa grande empresa.
[FIM DA VISÃO]
Ela esboça uma raiva tão grande que solta aquelas mãos dela. Levanta, apressada.
RAÍZA: Se eu tivesse morrido, de que me adiantariam suas desculpas?
Adriano, ressentido, a vê partir.
CORTA PARA
CENA 19  APTº 403 – QUARTO [INT./NOITE]
     O quarto está escuro, Raíza repousa em sua cama com uma cara de raiva.
RAÍZA: Droga! Mil vezes droga!
ARI (O.S): Posso acender a luz?
RAÍZA: Hã?...Ah, Pode.
Ari acende e caminha até ela. Senta na cama.
RAÍZA: Você não tinha que tá na boate?
ARI: O Cael ligou dizendo que vem aqui e aproveita pra me levar.
Raíza parece não dar a mínima.
ARI: E essa cara? Ainda o Adriano?
As mãos de Raíza estão descontroladas.
RAÍZA: E quem mais? Ele apronta uma dessas comigo e não pagará pelo que fez! ‘Cê’ tem idéia disso?
ARI: Como é que ‘cê’ pode afirmar uma coisa dessas? O futuro é incerto...Você não sabe tudo que ele irá viver...
Raíza levanta e senta na cama.
RAÍZA: Ele não vai pagar! Se fosse eu pagaria até o que não fiz!
ARI: Não precisa ficar com essa raiva toda...Você não se machucou. Pra que guardar rancor do rapaz?
RAÍZA: ‘Cê’ não entende, Ari. E se eu não pudesse ter saído de lá? E se? Eu estaria morta! Tá entendendo? Morta!
ARI: Mas você tá aqui. Agora com o seu pai sim deve se preocupar por que ele não tem nem ¼ dos seus poderes.
Raíza encosta-se à parede.
RAÍZA: Eu sei que pareço egoísta, mas...Eu sempre tive idéia de que o que se faz aqui, se paga. Meu pai passa por cada uma e (ela se altera) esse garoto não vai pagar! Vê se isso é possível?
ARI: Raíza, eu já percebi que você costuma ter certeza demais das coisas. O que tá acontecendo?
RAÍZA (sem graça): Ué...Impressão sua...
ARI: Nada disso, desembucha logo!
Raíza é pressionada. Levanta, irritada.
RAÍZA: Ah Ari! Tô nervosa viu. Se você soubesse o que descobri hoje...
ARI: E o que descobriu?
RAÍZA: A Rafaela... (tom de desprezo) Aquela lá quase acabou com a minha vida hoje...Se não fosse por eu ser EU...
ARI: Nossa! Vai disparar sua raiva pra cima dela também?
RAÍZA: Ela ‘tava’ lá, Ari. Quando o drº Bedlin evitou o pior pro meu pai, ela ‘tava’ gravando tudo como se soubesse o que haveria...
ARI: Como?! Por que ela faria isso?
RAÍZA: Eu não sei, não sei...Mas eu fui até a casa dela e... (decepcionada) E graças a Deus ela não viu nada que fosse extraordinário...Mas descobri que ela é a tal Dirce...
ARI: Dirce? Que Dirce?
RAÍZA: A do blog, Ari! ‘Dirce me disse’.
Ari se surpreende.
ARI: É Raíza, não é só a gente que temos nossos segredos, ‘né’?
CORTA PARA
CENA 20  RUAS DA CIDADE
ADRIANO (O.S): Você me garantiu que ela sairia ilesa...
A cena se aproxima e a luz do poste ilumina a face de Cipriano. Os dois estão na esquina da rua onde situa o colégio França.
CIPRIANO: E saiu, você viu...
ADRIANO: Passando mal? Pensei que ela sairia de cabeça erguida como se nada tivesse acontecido...
CIPRIANO: Já ouviu falar de...Medo de holofotes? Certamente ela fingiu muito bem...
ADRIANO: Quer saber? Pra mim você anda vendo coisas. O pior é que agora ela deve ter jogado uma baita praga pra cima de mim...
Ele sai e atravessa a estrada.
CIPRIANO: VOCÊ ACREDITA MESMO NISSO?  (ri) Tomara que ela tenha jogado uma praga mesmo...
FADE OUT
FADE IN
CENA 21  RUAS DA CIDADE
Close num vídeo onde se vê o prédio em construção.
VOZ: PAI! PAI!
A cena se afasta e o vídeo se encontra nas mãos de Marco.
MARCO: Você deve ter se distraído. Como a voz de Raíza está aqui e ela não?
RAFAELA: Eu não sei, já disse! Por que não pergunta pra ela?
MARCO (sarcástico): E dizer que foi você quem gravou? Eu não faria isso.
Rafaela bufa.
MARCO: O que eu não entendo é o que meu pai estava fazendo lá àquela hora.
RAFAELA: Vai vê ele adivinhou o que ia acontecer...
Ele a encara, sério.
CORTA PARA
CENA 22  APTº 403 – SALA [INT./NOITE]
     Bruno abre a porta e depara-se com Cael, drº Bedlin e Marco.
BEDLIN: Viemos visitar a Raíza. Eu sei que já são oito horas, mas é que viajarei amanhã para resolver uns assuntos.
BRUNO: Não, que isso! Podem entrar.
CAEL: Desculpe trazer o Marco, mas é que...
BRUNO: Tudo bem, Cael...Ele deve tá muito preocupado com a Raíza, não? (irônico)
Quando Raíza chega na sala, os olhares se voltam para ela. Cada um do seu jeito.
Cael a olha, admirado; Seu pai, feliz e Marco, sério.
BRUNO: Eu ainda não agradeci o suficiente por ter me salvado. Acho que não foi uma boa idéia o senhor ter voltado de viagem hoje...
BEDLIN: Pelo contrário. Voltei no melhor dia. Sempre é bom poder ajudar; Faz bem à alma, não acha Marco?
MARCO: Ah sim...(deboche) Raíza deve está com alma mais brilhante que a luz do sol...
Raíza não gosta do comentário.
BEDLIN: E também...Tenho certeza que de qualquer maneira você seria salvo... (olha pra Raíza)
MARCO: Não seria a Raíza, não é? Por que na mesma hora ela estava no colégio...Presa no incêndio...
Cael e o pai se entreolham.
Josué, de repente, faz o estranho pedido para a sobrinha.
JOSUÉ: Sirva alguma coisa a eles. (ele se dirige aos visitantes) O que vão querer beber?
João segura o riso.
JOÃO: Vai lá, Raíza. Manda vê.
Raíza o fita de soslaio.
BEDLIN: Eu não quero beber nada, obrigado.
CAEL: Eu também não.
Raíza disfarça, contorna a mesa do computador e vai pra varanda. Drº Bedlin observa.
CORTA PARA
CENA 23  APTº 403 – VARANDA [EXT.]
     Raíza está de frente. Ao fundo, drº Bedlin caminha em sua direção e pára ao seu lado.
RAÍZA: Eu tô pra te perguntar uma coisa, mas...Se o senhor não quiser responder também...
BEDLIN: Como o pai de Marco pôde salvar alguém?
Ela olha pra ele e torna a olhar pra frente.
RAÍZA: Não era bem isso que eu ia perguntar não...
Ele ri e ela também.
RAÍZA: Aquele tijolo era pra ter atingido meu pai...O meu amigo Dcr garante que ele foi desviado...Ele foi desviado...
BEDLIN: E você acha que eu o desviei no olhar?
A garota esboça uma dúvida no rosto querendo dizer sim.
BRUNO: Olha (ele aperta os dedos sobre os olhos) Acho meio difícil com o problema de estrabismo que tenho...É pouco, mas você nem imagina o que já prejudica.
O comentário arranca risos da moça.
Cá da sala se ouve e Marco mostra-se furioso.
SALA...
Cael está sentado entre Bruno e João.
CAEL: Parece que eles encontraram algo em comum.
Marco, de pé, observa o retrato de Raíza ao lado de João sobre a estante.
MARCO: A mania de salvar os outros, certo?
Os que estão presentes se entreolham. Ari, próxima da rack, olha pra ele e, em seguida, para a varanda.
VARANDA...
RAÍZA: Quando estávamos no carro, o senhor me falou uma coisa que não saiu da minha cabeça: Disse que era pra eu não me preocupar com o Marco agora...E sim, com pessoas que fingem gostar de mim...
Drº Bedlin segura em suas mãos, seriamente.
BEDLIN: Existe muita gente perigosa nessa vida. E eu não falo ‘muita’ no sentido de quantidade e sim, (pausa) na qualidade do poder que uma só pessoa pode exercer sobre muitas pessoas...
RAÍZA: Acho que sei mais ou menos como é isso...
BEDLIN: Não, você ainda não sabe. (pausa) Você está muito preocupada com uma só pessoa e não vê o que realmente acontece ao seu redor.
Raíza faz cara de entojada.
BEDLIN: O Marco não é má pessoa.
RAÍZA (surpresa): Olha... Eu sei que o senhor como pai dele vai sempre defendê-lo, mas acho que o senhor não deve saber...
BEDLIN: Eu sei de tudo que ele fez.
Ela solta de suas mãos.
RAÍZA: E o senhor ainda acha que ele não é má pessoa?
BEDLIN: Ele é agora o que você...O que você poderá ser amanhã. (Raíza se mostra indignada) E aí, vai aparecer alguém pra dizer o mesmo que tô dizendo aqui. Que você não é má pessoa.
RAÍZA: Eu nunca serei como ele...Eu não quero ser como ele.
Ele torna a segurar suas mãos.
BEDLIN: Mas ele poderá mudar... Pelo menos a pessoa que o fará mudar ele já encontrou...
A garota não entende. Ouve a campainha tocar.
SALA...
A porta está aberta e Cipriano, Dcr e Rafaela entram. Bruno não faz uma boa cara com a presença dele.
Raíza dá uma olhada pra Rafaela. Cipriano se aproxima e abraça Raíza.
CIPRIANO: Ainda não pedi desculpas o suficiente por ter deixado o Adriano sozinho com você.
RAÍZA: Tudo bem...Já passou.
ARI: A gente tem certeza que você não faria nada de propósito... Não é? (provoca, de braços cruzados)
Cipriano dá uma olhada sinistra para Ari.
Dcr também abraça a amiga e quando Rafaela vai fazer o mesmo, nota sua feição de descontentamento.
RAFAELA: Você...Parece aborrecida.
RAÍZA: Hoje foi um dia cheio, só isso...
RAFAELA: Bem, eu só passei pra saber se tá tudo bem contigo e com o seu Bruno...Parece que um andaime quase despencou sobre ele, ‘né’?
RAÍZA (irônica): Ah! Você não sabia?
Rafaela trava e não diz nada.
BEDLIN: Bem, minha gente, tenho que ir agora. Foi um prazer conhecer a família de Raíza.
BRUNO: Quando voltar, será sempre bem-vindo.
BEDLIN: Obrigado.
CORTA PARA
CENA 24  ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
Tocando: The Unforgiven – Metallica ->

Antes de entrar no carro, drº Bedlin toca as mãos de Raíza e sorri.
BEDLIN: E lembre do que te falei. Preste mais atenção no que acontece ao seu redor, está bem? (ele toca seu rosto)
Drº Bedlin se afasta e Cael se aproxima.
CAEL: Os conselhos de meu pai valem ouro (os dois sorriem / pausa). Boa noite.
Ele a beija no rosto, um beijo demorado. Quando se afasta, a imagem de Marco, ao fundo, aparece sério.
BEDLIN (para Dcr e Rafaela): Vocês aí não aceitam uma carona?
DCR: Ahn...Bom...Eu...Aceito! (ele beija Raíza no rosto) Depois ‘cê’ me conta as...(ele olha de canto) Novidades.
ARI: Bom, eu tenho que ir mesmo. Tchau gente!
RAÍZA: Tchau!
RAFAELA: Eu vou depois, obrigada doutor.
Dcr beija Rafaela e depois, entra no carro. O carro parte.
Rafaela envolve Raíza num abraço e esta cruza os braços, fitando aquele braço.
RAFAELA: Gente boa, ‘né’?
Raíza mantém-se quieta.
RAFAELA: Você tá tão esquisita...Aconteceu mais alguma coisa além de tudo isso?
Raíza fricciona os lábios e não a encara.
RAÍZA: Hoje foi um dia cheio, Rafaela. Meu pai quase morreu...
RAFAELA: Mas ele escapou!
Raíza põe as mãos no bolso do short marrom e a olha enigmática.
RAÍZA (rápida): Sim, e graças ao pai do Marco.
RAFAELA: Ah! Então é por isso que você tá assim? Por que foi o pai dele que...
RAÍZA (interrompe): Não. É por que se não fosse ele meu pai estaria morto.
Rafaela se encabula, afasta o braço e vira a cabeça, por um instante.
RAÍZA (cont.): E eu me pergunto se eu soubesse o que ia acontecer e na hora eu não fizesse nada...
RAFAELA: Com certeza essa não seria você... Primeiro por que você não é vidente. E segundo por que se soubesse não deixaria acontecer.
RAÍZA (tom seco): Claro! Ele é meu pai. (longa pausa) Mas se eu soubesse e na hora, mesmo podendo eu não fizesse nada, isso seria?
RAFAELA (temerosa): Omissão? Omissão de socorro?
Raíza finge que acaba de escutar a frase que não conseguiu lembrar.
RAÍZA (sarcástica): Ah! claro...Omissão de socorro... Imagine se meu pai morre por culpa dessa tal...Omissão de socorro?
Aquela repetição perturba um pouco a amiga.
RAÍZA: Me diga, Rafaela: Você salvaria a vida de alguém se soubesse que ela estaria correndo risco de vida? Você largaria tudo que estivesse fazendo para socorrer alguém?
Rafaela sorri, nervosa.
RAFAELA: Por que tá me perguntando isso?
RAÍZA: Por que eu fiquei pensando...Se Deus não tivesse colocado o drº Bedlin no caminho do meu pai, quem seria a primeira pessoa que ele destinaria tal feito?
RAFAELA: A-ainda bem que nunca me deparei com esse tipo de situação...Eu não saberia o que fazer...Eu agora tenho que ir.
Ela dá um beijo tremido em seu rosto.
RAFAELA: Tchau!
Raíza a vê partir quase tropeçando nas beiradas da calçada. Balança a cabeça negativamente.
Cipriano surge por trás, como de costume, e acompanha seus olhos à direção que ela mira.
CIPRIANO: Algum problema com ela?
A garota leva um susto.
RAÍZA: Não tinha te visto aí...
CIPRIANO: A sua amiga me pareceu bem nervosa...E você? Parece desconfiada.
RAÍZA: Eu só achei que as coisas podiam ser diferentes...E elas não são...
CIPRIANO: Talvez as coisas não devam ser diferentes...Mas nós sim...
Os dois trocam olhares e a cena vai se afastando.
FADE OUT
FIM DO EPISÓDIO


 

 

Autora:

Cristina Ravela

Elenco:

Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Ari (Nathália Dill)
Dcr (Aaron Ashmore)
Valentina (Alinne Moraes)
Cipriano (Thiago Rodrigues)

Participação Especial:

Lara (Jane Saymour)
Drº Bedlin (José Augusto Branco)
Adriano (Bruno Udovic)

Trilha Sonora:

The Unforgiven - Mettalica


Produção:

Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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