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RAÍZA SÉRIE
30:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA
Série de
Cristina Ravela
Episódio 17 de 20
© 2009, WEBTV.
Todos os direitos reservados.
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FADE
IN
CENA 1 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]
=
Music On - Ambiente =
[CLOSE
DE CIMA]
Tempo nublado, a cena mostra a estrada
tranquila, poucos carros. Um táxi se destaca entre eles.
Corta
para a janela do táxi. Rafaela olha pela janela, sentada ao lado do motorista.
Seus cabelos esvoaçam pelo vento.
Ouve-se o som de uma música de ritmo rápido.
Rafaela abre a bolsa, pega o celular e o som é estridente.
RAFAELA: Alô?...Dcr! Tudo bem?
APTº
215 – QUARTO [INT.]
Dcr está sentado, diante do computador ligado e
conectado na página ‘Dirce me disse’.
DCR: Tudo bem uma pinóia! Você
quer ser processada, é?
TÁXI
[INT.]
Rafaela
dá uma pausa e olha pro lado do taxista.
RAFAELA (tom baixo): Do que você vai
me acusar agora? (pausa) Só agora você viu? Eu publiquei esse vídeo já faz
tempo e não atualizei mais. (pausa) Eu cortei a cena em que a Raíza,
enfim...Tira o capuz. (pausa) Ai Dc! Você se preocupa demais...
RUAS DA CIDADE – LADO OPOSTO [MANHÃ]
Na mesma estrada vem um carro preto.
[INT.]
Marco traja camisa de manga comprida amarela.
MARCO: A garota atrapalha minha vida
de todos os ângulos e você me pede bom senso?
CIPRIANO (V.O): Você já tentou matá-la
e...
Marco
olha pro lado e pra baixo. Há um celular no viva-voz na poltrona.
MARCO (surpreso): Como é que é?
CIPRIANO (V.O): Matá-la! (repete com
deboche) Matá-la! Vai me dizer que tem outro nome para suas tentativas de jogar
o carro pra cima dela ou de mandar alguém fazer o serviço?
MARCO: Em matéria de jogar o carro
pra cima de alguém, você é especialista. Ela deve ter batido com a cabeça e por
isso nem sabia em que época estava...
Cipriano
suspira, do outro lado, parecendo cansado.
CIPRIANO (V.O / calmo): Ah
Marco...Você, em alguns aspectos, parece gostar de viver do passado. Se não
fosse essa sua obsessão pela Raíza você viveria mais feliz...
Marco
vira os olhos para sua esquerda não gostando do comentário.
MARCO: Você fala isso porque não é a
tua vida que ela está pondo abaixo.
CIPRIANO (V.O): Tá, tá! Como eu ia
dizendo...Você já tentou matá-la, sem sucesso. Mas sabia que afastando os
amigos dela, deixando-a sozinha, você também estará matando-a...Só que em vida?
Marco esboça esperança e dúvida.
TÁXI [INT.]
RAFAELA (ao telefone): Ai você fala
como se eu fosse uma bandida. Tente ver pelo lado bom da coisa: As pessoas sabem
que ainda existem pessoas boas no mundo.
DCR (V.O): Esse seu discurso de
boa samaritana não cola. Se fosse pelo bem da humanidade por que não conta a
Raíza?
RAFAELA: Você vai empacar agora é?
DCR (V.O): Você não respondeu.
RAFAELA: Ela jamais concordaria com
isso.
DCR (V.O): AH! Tá vendo? Rafaela,
se esses vídeos caem nas mãos erradas, sem cortes, sem edição, como é que você
vai ficar, me diz?
O
carro acelera mais. O vento bate nos cabelos de Rafaela a atrapalhando.
RAFAELA (abafa o fone / para o taxista):
Não dá pra diminuir não?
O
motorista diminui um pouco.
[POV
do taxista]
Ele
vê o semáforo na luz verde. Adiante, o carro preto vem pela transversal.
RAFAELA (ao telefone): Olha Dc, os
originais estão comigo. Tem até um aqui comigo que esqueci de guardar no
pc...Não se preocupe, nada pode dar errado...
O
semáforo marca luz vermelha, o taxista acelera mais que pode.
[POV
de Rafaela]
O
carro preto se aproxima daquela estrada.
RAFAELA: CUIDADO!
O
táxi dá uma guinada...
[VISTA
PANORÂMICA]
...Freia até cantar os pneus, o outro carro
pára e o táxi rodopia duas vezes até bater violentamente contra o poste.
Marco
desce do carro, corre até o local do acidente. Abaixa o rosto e se surpreende.
[INT.]
Rafaela está com a testa ensanguentada, a
cabeça encostada à janela, inconsciente.
= Music Off =
FADE OUT
1X17 ESCOLHAS
FADE
IN
CENA 2 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]
A
ambulância, a polícia e muita gente cercam o táxi.
Dcr
vem correndo, passa entre as pessoas, mas uma faixa o impede de chegar mais
perto do táxi. Vai até a ambulância e presencia Rafaela ser levada na maca.
Quando os enfermeiros atravessam, Dcr olha estranhando a cena.
DCR: Marco? O que você...
MARCO: Eu chamei a ambulância.
Espero que eu tenha feito isso a tempo.
Dcr
ora olha para ele; Ora pro lado do táxi onde ainda consta a bolsa de Rafaela.
Ele
volta os olhos para Marco e sorri não querendo sorrir.
CORTA
PARA
CENA 3 ED. CIRANDA DE PEDRA
[EXT./MANHÃ]
APTº
403 – SALA [INT.]
Raíza está diante do computador, sentada.
Josué, no sofá, escreve alguma coisa. João, em pé, próximo do computador, lendo
um jornal.
Ouve-se
o telefone tocar.
João
não faz sequer um movimento pra atender.
RAÍZA (em OFF / chateada): Ele tá
tão quieto que parece nem respirar...
JOSUÉ: Será que eu vou ter que ir
até aí pra atender?
A
garota se zanga e tira o fone do gancho de qualquer jeito.
RAÍZA: Alô?...Dcr? (sorri) Tudo bem
contigo? (pausa) Como? (séria) Como isso foi acontecer? (pausa)
RAÍZA (em OFF): Por que eu não vi
isso?
DCR (V.O): Raíza! ‘Cê’ tá
prestando atenção?
RAÍZA: Ah! Oi...Diz aí o endereço do
hospital. (pausa) Não, depois ‘cê’ me conta o resto.
Desliga
o telefone, estático.
JOSUÉ: O que aconteceu?
RAÍZA (absorta): A Rafaela...Sofreu
um acidente de carro...
João
fecha o jornal e o coloca sobre o sofá.
JOÃO: Você fala de um jeito como se
isso fosse espantoso. Tanta gente que sofre acidente...
Josué
olha pra ele sem esboçar espanto. João sai da sala.
JOSUÉ (irônico): A idéia não era
você ver o futuro e evitá-lo?
Ari
chega da sala, atônita.
ARI: A Rafaela sofreu um acidente?
Meu Deus! Vou pegar nossa bolsa e a gente vai junto.
Ari
sai da sala.
JOSUÉ: E então?
RAÍZA: Se eu pudesse ver tudo, eu
teria me poupado de escutar isso...
CORTA
PARA
CENA 4 HOSPITAL [EXT./ MANHÃ]
[INT.]
Raíza e Ari caminham pelo corredor, entram no
elevador e antes que a porta se feche, Dcr surge a segurando.
RAÍZA: Caraca, Dc! Pela sua cara
acho que foi feio o acidente, hein.
Dcr
entra, olhar inquieto, aperta o número três.
DCR: O importante é que ela tá
viva ‘né’?...É só isso que importa...
Ari
coloca seus cabelos para trás da orelha e apóia a mão esquerda no ombro do
amigo. Este vira o rosto pro seu lado e a olha fixo.
ARI: É, o que mais importaria
‘né’...
O
elevador pára, abre e os três saem.
Assim
que chegam na porta do quarto, Raíza faz que vai pôr a mão na maçaneta.
DCR: Espera, Raíza!
RAÍZA (murmura): Aaai Dc! Que susto!
O que foi?
DCR: É que...Que...
ARI: Vixi! ( Ari abre a porta do
quarto) Esse processo de conjunção não me agrada...
Ari
nem termina de falar e pára diante do que vê. Raíza ainda sorri, entra e bate
os olhos em Marco, de pé, à cabeceira da cama.
Os
dois se fitam.
A
garota praticamente corre até a cama.
RAÍZA: Rafaela!
Aliviada
por vê-la acordada, Raíza nem torna a olhar para aquele cara.
RAÍZA: O que ele faz aqui?
Rafaela
ainda está meio tonta. Esboça uma satisfação que soa ridícula para a amiga.
RAFAELA: Foi ele...Ele me trouxe até
aqui.
RAÍZA: Foi ele? (precipita-se) Ele quem te trouxe até aqui?
Então foi ele que fez o taxista perder a direção e não um sinal vermelho?
Marco
mantém-se quieto.
RAFAELA: Não, garota! Ele me trouxe
até aqui porque foi ele quem me salvou!
Raíza
dá uma pausa e uma olhada de canto para Marco.
RAÍZA: Não entendi.
DCR: Se ele não tivesse chamado a
ambulância ela poderia ter sofrido alguma sequela ou até morrido.
RAÍZA: Que bom que você está bem,
Rafinha...Mas vou deixá-la descansar e (ela faz um gesto rápido com as mãos)
pensar no que vai dar em troca ao seu herói...
MARCO: As pessoas costumam dar algo
em troca a você, Raíza? (ele disfarça um sorriso no canto da boca).
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 5 HOSPITAL – RECEPÇÃO
[INT./ MANHÃ]
Marco caminha e é interceptado por uma mulher
alta, cabelos negros e compridos, olhar vivo.
MULHER (toca suas mãos): Eu ainda não
agradeci por você ter salvado a minha filha. Obrigada.
Marco
se mostra apressado.
MARCO: Não precisa agradecer; Eu fiz
o que estava ao meu alcance.
MULHER: Deus lhe pague!
Marco
sorri falso e sai.
HOSPITAL [EXT.]
Marco entra no carro, fecha a porta e olha para
o lado. Há um celular diferente do seu.
Ele
apanha, dá alguns cliques e olha curioso.
MARCO:
Interessante...
[POV
de Marco]
No
vídeo é mostrada a cena de dentro da boate com destaque para Raíza. O tempo em
que ela corre na direção da cunhada e o tempo em que ela é atingida decorre
normalmente apesar de que, Raíza não aparece nesse meio tempo.
A
tela se fecha num baque.
FADE IN
CENA 6
APTº 303 [EXT. / MANHÃ]
A mão de alguém aperta a
campainha.
A
porta é aberta.
MARCO: Bom dia! Eu trouxe o celular
da Rafaela antes que a polícia apreendesse.
HOMEM: Você...
MARCO: Ah, desculpe não me
apresentar. Meu nome é Marco. Eu chamei a...
HOMEM: Você que salvou minha sobrinha?
Entre, por favor. Eu sou o Alberto.
Marco
entra e Alberto fecha a porta.
ALBERTO: Senta!...Olha se não fosse por
você...
Marco
senta e se mostra meio injuriado.
MARCO: Por favor, só fiz o que
estava ao meu alcance.
Marco
entrega o celular e Alberto apanha com ar de aliviado.
ALBERTO: Você não imagina como isso é
importante pra ela. Ela vive com isso na mão. Acredito que ela filma mais que
atende as chamadas.
Marco
sorri. Ouve-se o toque de um celular. Marco põe a mão no bolso do paletó, tira
o celular e olha o visor.
[POV
de Marco]
O
visor é uma chamada programada dele para ele mesmo.
MARCO: Com licença, tenho que
atender.
Marco
se levanta e vai até a porta.
MARCO (ao telefone / finge falar com
alguém): Sim?...Hã?...Tudo bem, vou resolver isso...Não, eu vou tentar mandar
pra você...Ok.
Ele
desliga o telefone fazendo cara de preocupado.
MARCO: Eu preciso muito enviar um
e-mail, mas...Até eu chegar em casa...Negócios, entende?
ALBERTO: Se você quiser, pode usar o
computador da Rafaela. Tenho certeza que ela não ficará chateada.
Marco
sorri maliciosamente.
CORTA
PARA
QUARTO
DE RAFAELA [INT.]
Cortinas ocultam a janela deixando o quarto um
pouco escuro. Marco senta diante do computador e olha pro lado da porta, de
frente.
ALBERTO: Fique à vontade, hein.
MARCO: Obrigado.
Marco
liga o monitor.
[POV
de Marco]
O
papel de parede é uma foto da Rafaela com Ari, Raíza e Dcr. Marco olha com ar
de esnobe.
Abre
os documentos e encontra os vídeos, em seguida, observa uma sub-pasta chamada
“Blog”.
Abre
e encontra páginas da Internet. Dá um duplo clique e a página abre num blog
chamado “Dirce me Disse”.
MARCO: Quer dizer que esse é seu
hobby, Rafaela?
A
tela se fecha num baque.
FADE IN
CENA 7 HOSPITAL [EXT.]
[INT.]
Raíza e Dcr caminham pelo corredor, ela mais agitada que ele.
Dcr tenta alcançá-la.
DCR: O que foi aquilo, Raíza? Você
vai ganhar alguma coisa atacando o Marco, vai?
Ela
se vira e pára, alterada.
RAÍZA: Mas você viu a cara dele,
‘D’? (ela abre as mãos num gesto intempestivo) Só faltou dizer ‘que faria tudo
outra vez’. Infeliz!
DCR: Raíza! Presta atenção: Tanto
a Rafaela quanto a família dela estão muito agradecidos. Não vai dar a entender
por aí que ele quer algo em troca, que tipos como ele não são dados a
heroísmo...Por favor ‘né’!
Close
no rosto de Raíza com raiva.
CORTA
PARA
CENA 8 HDM CONSTRUTORA [EXT./FIM DA MANHÃ]
[INT.]
Raíza vira-se de frente, olha de lado e ao
fundo está Dcr distraído com umas enquetes.
RAÍZA (cochicha): O senhor percebe,
pai? Eu não vi o que ia acontecer com a Rafaela. E não pude evitar! Por quê? Me
diz!
Bruno
senta na cadeira e segura sua mão.
BRUNO: Você vai achar que sou
repetitivo, mas você não pode salvar a vida de todo mundo. Você não pôde fazer
nada, mas Deus colocou Marco no caminho para ajudar sua amiga.
RAÍZA: Não sei se Deus tem alguma
coisa a ver com isso não.
BRUNO: Não diga uma coisa dessas,
filha!
RAÍZA: Ah é verdade! (ela faz um
gesto rápido com a mão para frente e cara de esnobe ) Agora não poderei falar
mais nada porque é capaz de usarem o ato heróico dele para defendê-lo.
Bruno
a observa.
BRUNO: Você tá assim porque não
conseguiu evitar o acidente ou só porque foi o Marco que a salvou?
Raíza
inquieta o olhar, chateada.
RAÍZA: Ah! Pra que vou negar se é
isso mesmo? (cruza os braços) Aposto como as faltas dele todo mundo será capaz
de esquecer, agora, as minhas que nem existe (ela aponta o indicador para cima)
tem sempre alguém pra me fazer lembrar.
Dcr
chega por trás e a envolve num abraço.
DCR: Sabe Raíza, até falando sério
você me faz rir; Parece até que você tá com inveja dele!
RAÍZA: Credo, Dc!
DCR: Tudo bem, tô brincando. Eu
sei que nessas condições o último sentimento que você teria por ele seria
inveja, mas...
RAÍZA: Mas...?
Dcr
faz um ar sapeca e dá um passo para trás.
DCR: Pra quando é o casamento?
RAÍZA: Quê?
DCR: Não é que...Dizem! Eu não
sei, mas dizem que o que não mata, enlaça...
Dcr
sorri brincando, mas nem Bruno acha graça. Raíza fita o pai, invocada.
RAÍZA: Tá vendo, pai? Tá vendo? O
Marco pode fazer o que quiser que é capaz d’eu ainda ter que dá graças a Deus
que ele existe!
Ela
dá as costas, com raiva, sai e bate a porta.
Dcr
olha Bruno o encarando com ar de reprovação.
ELEVADOR [EXT.]
A porta abre e Raíza sai como um vento.
RAÍZA (murmura): Era só o que me
faltava mesmo! Que droga!
Ela
sai da HDM e anda rápido até a calçada. Estabanada, coloca o pé na estrada, um
carro vem zampado e ela volta pra calçada num pulo. Atrás dela ao invés da HDM,
é o hospital.
Raíza
torna a olhar pra estrada.
[POV
de Raíza]
Ela
vê a placa do carro e vira dando com Dcr ao seu lado.
RAÍZA: Você viu Dcr? Era o Cael
naquele carro!
DCR: Eu não vi não. Mas se for
deve tá com uma pressa do caramba.
O
carro, desgovernado, dá uma virada na curva e desvia de outros carros. Raíza
segue.
Uma
carreta vem em alta velocidade pela transversal. O carro de Cael se aproxima.
Raíza
deixa sua bolsa cair, põe as mãos na cabeça, os dois veículos batem. O carro
explode.
Com uma respiração ofegante e espavorida,
ouve-se o som da buzina logo atrás. Raíza se volta sobressaltada.
Marco
põe a cabeça pro lado de fora.
MARCO (grita): Você quer morrer,
é?...(ele se dá conta de quem é) Raíza?
Marco
sai do carro com uma certa empáfia e deixa a porta aberta.
MARCO: O que foi? Quer que eu te
salve também?
A
garota o olha, transtornada. Aponta para o lado do acidente.
RAÍZA: Isso não podia ter
acontecido, não podia...
Ao
olhar para onde aponta, vê apenas o táxi onde Rafaela havia sofrido o acidente.
Abaixa a mão e a cabeça, estasiada.
MARCO: Você está bem? (ela faz que
vai tocá-la)
A
moça não responde. Olha pro outro lado, vê que ainda está diante da HDM e Dcr
sai de lá.
DCR: Ô Raíza! Ainda bem que ‘cê’
ainda tá aqui...(ele desacelera o passo) O que aconteceu?
Raíza
apanha sua bolsa do chão, apressa o passo e corre.
DCR: O que deu nela?
MARCO: É o que eu sempre quis
saber...
Ele
vê a garota correr sem expressar sarcasmo. Depois, olha para o táxi, intrigado.
FADE OUT
FADE IN
CENA 9 MANSÃO [EXT.]
QUARTO [INT.]
O quarto é mobiliado em cores claras, persiana
branca, cobrindo toda a janela, e pisos azuis.
Cael
está diante do espelho, ajeita a gola da camisa branca de manga comprida.
Ouve-se o celular tocar. Ele vira o rosto.
VISÃO
DE FRENTE
O
celular está sobre a cama.
Cael
pega e atende.
RAÍZA (V.O): Cael? Oi...(ofegante)
Tudo bem?
Ele
estremece um sorriso por entre os lábios.
CAEL: Tudo, mas...Você me parece um
pouco nervosa...
RAÍZA (V.O / murmura): Ultimamente
eu tenho escutado muito isso.
CAEL: Como? Não entendi.
RAÍZA (V.O): Hã? Ah! Não, é
que...Ahn...Onde você tá?
CAEL: Em casa. Aliás, eu queria
mesmo falar contigo.
RAÍZA (V.O): Pode falar!
CAEL: Não...Eu...Estou indo pr’aí.
RAÍZA (V.O): NÃO!
Cael
estranha.
CAEL: Algum problema, Raíza?
Ouve-se
a garota bufar.
RAÍZA: Não, Cael...Nenhum problema,
mas é que...
CAEL: Então tá certo! Daqui a pouco
estarei em sua casa.
CORTA
PARA
CENA 10 MANSÃO – SALA [INT.]
Cael
desce as escadas e dá com Valentina e Lara sentadas no sofá. Observa o
champanhe sobre a mesa e Valentina, com seu cabelo amarrado, seu franjão de
sempre e o vestido branco que mais parecia capa de botijão de gás.
Ela
se levanta e o abraça pelo pescoço. Entretanto, ele não mais a olha como antes.
CAEL: Posso saber a que se deve...
(ele quase é indelicado) Esse champanhe?
LARA: Você logo saberá. Só estamos
esperando uma pessoa...
Marco
surge da porta. Desce o degrau para a sala sob o olhar fixo do irmão.
CAEL: O que você faz aqui?
LARA: Eu pedi que ele viesse porque
ele ainda (ela frisa bem mirando em Cael) faz parte da família. E porque
temos duas comemorações a fazer...
Valentina
faz pouco caso.
VALENTINA: Hum...E o que foi que ele
fez...Desta vez?
LARA: Ele salvou a vida de uma de
suas amigas, Cael!
Tanto
ele quanto a namorada estão perplexos. Os dois se sentam.
CAEL: É mesmo? E quem foi?
Marco
ajeita o paletó e senta no sofá.
MARCO: Rafaela. Parece que o taxista
quis ultrapassar o sinal vermelho...Mas ela está bem agora.
LARA: Viu só, Cael? Ele salvou uma
vida! E você ainda o trata mal.
CAEL: Eu não trato ninguém mal!
LARA: Trata sim! Tirou ele da
sociedade, da sua casa, daqui a pouco da sua vida.
VALENTINA (falsa compreensão): Lara,
isso não tem nada a ver com a boa ação dele...
MARCO (forçando uma calma): Já
chega! Não aguento mais esse papo de ‘Salvou uma vida’, ‘obrigada’, que coisa!
CAEL (irônico): Você está irritado
com sua própria boa ação, Marco? Devia dá graças a Deus que as pessoas ainda
agradecem; Raíza não recebeu nem a metade disso...
Marco,
impaciente coloca a perna em cima da outra e a mão esquerda sobre o braço do
sofá.
MARCO: Qual outra razão pra eu estar
aqui?
Valentina
abre a bolsa no sofá, pega um papel e entrega para Cael com um sorriso de canto
a canto.
CAEL: O que é isso?
VALENTINA: Olha!
Cael
abre, olha e faz uma expressão confusa.
CAEL: Eu não estou...Eu não estou
entendendo.
VALENTINA: Isso é um exame de
gravidez...Você vai ser papai!
Ela
o abraça feliz e ao fundo, Marco está espantado.
A
tela se fecha num baque.
FADE
IN
CENA 11 ED. CIRANDA DE PEDRA
[EXT./INÍCIO DA TARDE]
Raíza
e Dcr alcançam a calçada, ela olha pro prédio e se volta.
RAÍZA: Pronto! O mocinho já me
trouxe em casa. Pode deixar que daqui eu entro.
DCR: Isso aí, boa menina. Não
quero mais te ver no meio das estradas hein.
Os
dois sorriem.
DCR: Você ainda não me contou o
que houve...O Marco fez alguma gracinha?
RAÍZA: Prefiro não falar mais
dele...O que tá feito, tá feito ‘né’?
DCR: Ainda é sobre o acidente da
Rafaela? Mas isso te incomoda mesmo hein.
RAÍZA (desvia o olhar): Isso era a
última coisa que podia ter acontecido.
DCR: Você fala de um jeito como se
você pudesse ter evitado no lugar dele...
Raíza
se cala, fitando-o.
CORTA
PARA
CENA 12 MANSÃO – SALA DE JANTAR
[INT./INÍCIO DA TARDE]
Na mesa grande, Lara está sentada na ponta, de
frente. Cael ao lado de Valentina. Esta ergue a taça de champanhe com um
sorriso rasgado.
VALENTINA: Vamos brindar de novo?
CAEL: Valentina, essa a segunda
taça que você bebe.
VALENTINA: Ah, adoro sua preocupação
(ela aperta sua bochecha) Que bonitinho!
LARA: Você me parece desatento,
Cael...(tom maldoso) Não está feliz?
Cael
hesita um pouco. Pega o copo das mãos de Valentina e põe na mesa.
CAEL: Você não deve mais beber como
antes; Tem que tomar seus cuidados.
LARA: Você não respondeu, Cael;
Está feliz?
VALENTINA: Mas é claro que ele tá. Tá
até preocupado comigo.
Lara
e Cael se fitam.
LARA: E o Marco? Onde ele está?
CAEL: Ah é verdade. Nem me dei
conta da sua ausência...
CORTA
PARA
CENA 13 MANSÃO – GARAGEM [INT.]
Marco surge de frente na porta. Ao fundo, um
homem com aparência pobre e sacana levanta uma ferramenta.
HOMEM: Terminei, doutor.
Marco
olha de lado, mas não chega a encará-lo. Exibe um maço de dinheiros entre o
dedo indicador e o médio.
MARCO: Agora suma daqui. Não deixe
ninguém te ver...
O
homem pega o maço, sério e sai.
Marco
se vira e mira num carro verde.
CORTA
PARA
CENA 14 MANSÃO – SALA
[INT.]
Marco,
com as mãos dentro dos bolsos da calça, entra e sorri cinicamente para os que
estão presentes.
MARCO: Vim ver se a festinha acabou
pra me despedir...
Lara
está sentada, enquanto Valentina e Cael, de pé.
LARA: Onde você estava, Marco? Saiu
no meio do almoço.
MARCO (calmo / olha pra Cael): Fui
ver se o jardim sobrevivia sem mim.
CAEL: Levando-se em conta o tempo
que você dedicava a ele...
LARA: Cael!
Valentina
fecha os olhos e respira ofegante. Sua expressão é de dor.
CAEL: O que há, Valentina?
Ela
tenta chegar ao sofá e cai sentada.
VALENTINA (balbucia): Eu tô passando
mal...Tô passando mal.
CAEL: Só pode ter sido o champanhe.
LARA: Vou ligar pro médico.
Lara
abre a bolsa e apanha o celular.
Marco
observa aquela cena com ar satisfeito.
LARA: Só dá fora de área.
CAEL: Temos que levá-la ao
hospital, agora! Eu só preciso pegar a chave do carro.
Valentina
apóia a cabeça no sofá. Cael sai da sala e entra no escritório.
LARA: Anda logo com isso, Cael!
Cael
volta, apressado.
CAEL (nervoso): Eu não lembro onde
deixei a chave!
MARCO: Eu até ofereceria meu carro,
mas...Eu o estacionei a uns 50 metros daqui...(Lara e Cael se mostram
surpresos) Pra não ter problema contigo...
LARA: Tá vendo só, Cael? A
Valentina pode perder o bebê por sua culpa!
MARCO: Por que não vão no carro
dela?
CORTA
PARA
CENA 15 GARAGEM
[INT.]
Cael ajuda a colocar Valentina no banco de trás
do carro. Em seguida, contorna-o, abre a porta e entra.
Lara
abre no lado dela e faz que vai entrar. Marco segura a porta, receoso.
MARCO: O que pensa em fazer?
LARA: Vou acompanhar a minha nora.
Você não vem?
MARCO: Ahn...Acho que muita gente só
atrapalha.
LARA: Eu vou pra assegurar que tudo
dará certo com meu neto. Sabe Deus quando que Cael me dará outro, ‘né’...
CAEL: Vamos logo com isso!
MARCO (para Lara): A senhora está
nervosa. Isso não fará bem a ela.
Lara
hesita, vê a expressão de dor na nora e o nervosismo aparente em Cael. Empurra
Marco pra dentro do carro.
LARA: Então você vai com eles! E
vai atrás ao lado dela!
Marco
estaca, mas não tem jeito; Ele entra e senta, inquieto.
CORTA
PARA
CENA 16 HOSPITAL [EXT. / INÍCIO
DA TARDE]
[INT] SALA DE ESPERA
Raíza e Dcr, com as mãos para trás, andam de um
lado e de outro em sentidos opostos e cabisbaixos. Chega uma hora em que os
dois quase se esbarram, ficam cara a cara.
RAÍZA e DCR: Por que você não senta?
Pausa
entre os dois. Ela dá as costas.
DCR: Você quer pedir a Rafaela que
ela não se deixe deslumbrar por Marco, ‘né’?
RAÍZA: Esse não deve ser o seu
motivo pra estar aí quase em cólicas, hein.
Ouve-se
o celular tocar. Raíza pega, verifica quem é pelo visor e atende.
RAÍZA: Oi tio (pausa) Não, eu não
pretendo almoçar fora (pausa) Não, hoje eu não tenho aula (pausa) Não eu já tô
indo.
Raíza
desliga o celular.
DCR: Eu vou com você até lá fora.
RAÍZA: Ah, sim! Meu segurança
particular.
Os
dois riem.
HOSPITAL
[EXT.]
Raíza e Dcr alcançam a calçada e param de
frente para o outro. Ao fundo, um carro vem em alta velocidade.
RAÍZA: Vou logo antes que meu tio se
estresse.
Ela
põe os pés fora da calçada e Dcr a puxa de volta.
DCR: CUIDADO!
O
carro passa zampado fazendo os cabelos da garota esvoaçarem.
Ela
vê a placa do carro e vira para Dcr ao seu lado.
RAÍZA: Você viu Dcr? Era o Cael
naquele carro!
DCR: Eu não vi não. Mas se for
deve tá com uma pressa do caramba.
O
carro, desgovernado, dá uma virada na curva e desvia de outros carros.
Ela,
com o celular ainda na mão, faz uma discagem.
CORTA
PARA
CENA 17 RUAS DA CIDADE - CARRO [INT.]
Cael
olha pelo retrovisor. Marco, tenso, se segura no teto do carro e Valentina está
com o rosto apoiado no ombro dele.
MARCO: Liga pra polícia!
Antes
que Cael o fizesse ouve-se o celular tocar. Ele alcança na parte de trás do
volante, atende quase deixando-o cair.
CAEL: Raíza? Raíza, eu não consigo
frear!
RAÍZA (V.O): Quê? Co-como assim? O
que aconteceu?
CAEL: Está sem freios! O que eu
faço agora? O que eu faço agora?
De
repente, não se escuta mais a voz de Raíza.
CAEL: Alô? Alô?
Ele
olha o visor e vê a mensagem: ‘Bateria fraca’.
CAEL: Droga! Tinha que acabar a
bateria agora?
MARCO: Se ela não tivesse ligado,
esse tempinho que você ficou aí daria pra chamar a polícia!
Marco
põe a mão no bolso da calça, do paletó e nada.
MARCO: Droga! Devo ter deixado meu
celular no meu carro!
Cael
desvia dos carros o quanto pode. Faz ultrapassagens perigosas sempre em linha
reta.
CORTA
PARA
CENA 18 HOSPITAL
[EXT.]
Raíza disca um número sob o olhar apreensivo de
Dcr.
DCR: Pra quem você vai ligar
agora?
RAÍZA: Pra polícia. Eles devem saber
o que fazer agora.
DCR: Mas você não sabe nem em que
rua eles devem estar agora...A não ser que o carro dele tenha GPS...
Raíza
coloca o celular na orelha.
RAÍZA: Aquele carro era da
Valentina. (ao telefone) Alô? É da polícia?
Dcr
observa a amiga.
DCR (em OFF): Desde que a
encontrei na calçada da HDM que ela tá estranha...Parece até que previu isso...
CORTA
PARA
CENA 19 RUAS DA CIDADE – CARRO
[INT.]
Cael alcança a estrada principal. A estrada
está vazia.
[POV
de Cael]
Ele vê uma tropa de policiais e tonéis cercando
a rua.
MARCO: Mas...Como isso é possível?
Valentina
está desacordada sobre seus ombros.
CAEL (emocionado): Eu acho que sei
como...
O
policial faz sinal para que ele não tente desviar da barreira.
A
visão se afasta e Raíza e Dcr chegam numa calçada próxima.
Raíza
fixa os olhos naquele carro como se desejasse vê-lo parar. Dcr observa sua
reação com ar desconfiado.
CARRO
– [INT.]
Ouve-se
um som estranho vindo de baixo.
CARRO
– [EXT]
INSERT
- pneus
Há
uma esteira de pequenas tachas que engatam nos pneus esvaziando-os.
VOLTA
Á CENA
RAÍZA (em OFF): Pára (pausa) pára
(pausa) pára!
[1º
plano]
O carro vem de frente, perdendo a velocidade,
dá a impressão que vai bater nos tonéis, e pára suave rente a eles.
Raíza
esboça alívio e cansaço. Dcr franze as sobrancelhas mais encucado ainda.
DCR: Vamos lá, Raíza!
Ela
hesita, mas ele a puxa pelo braço.
CARRO
[EXT.]
Cael sai do carro, esbaforido.
POLÍCIA: Vocês são pessoas de sorte.
Tudo bem com vocês?
CAEL (ofegante): A minha
namorada...Ela tá grávida e precisa ir ao hospital. (pausa) Mas como vocês
souberam? Como...
O
policial desvia o olhar para trás de Cael e este faz o mesmo.
CAEL: Raíza...
Marco
sai do carro ajudando os policiais a apoiar Valentina.
Raíza
não acredita no que vê. Os dois se encaram.
CAEL: Foi você que ligou pra
polícia, não foi?
A
garota olha pra ele, hesitante.
DCR: Ela foi incrível... (mirando
nela).
POLÍCIA: Vamos?
Cael
demora a dar as costas como se quisesse fazer algo ainda. Ele vai pro carro da
polícia. Dcr olha pro chão e vê as tachas. Sua expressão é de quem agora
entende o que aconteceu.
Marco
se aproxima de Raíza.
MARCO: Agora você vai querer que eu
agradeça, não?
A
garota despreza aquela figura, ora tensa, ora com o mesmo ar de superioridade.
RAÍZA: Eu nem sabia que você estava
nesse carro...
Ela
e Dcr dão as costas, caminham e ela pára. Volta-se.
RAÍZA: Esqueci de perguntar,
mas...Qual é a sensação de salvar uma vida?
Ele
anda até ela.
MARCO: O mesmo de fechar um negócio.
(pausa) E você?
A
garota faz aquele suspense.
RAÍZA: Eu não tenho negócios a
fechar.
Dcr
esboça um sorriso tímido.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 20 HOSPITAL [EXT./FIM DE
TARDE]
[INT.]
QUARTO
Valentina abre os olhos e sorri. Cael está
diante dela, deitada na cama.
VALENTINA: Eu pensei que fossemos
morrer.
CAEL: Agora está tudo bem. Tente
relaxar; Você teve uma indigestão, graças a Deus não foi nada com o bebê.
Ela
alisa a barriga, feliz.
VALENTINA: Como isso foi acontecer?
Cael
coloca as mãos nos bolsos, anda pelo quarto.
CAEL: Acho que foi problema nos
freios (finge não ter certeza) Mas graças a Deus existe gente boa nesse mundo.
VALENTINA: Você fala dos policiais? Vi
em algum momento, mas...Como eles sabiam o que ‘tava’ acontecendo?
CAEL: Raíza...(sorri timidamente)
Foi ela que avisou à polícia.
Valentina
vira os olhos e bufa.
VALENTINA: Sempre essa garota...Vem cá,
a gente tem algum imã pra atraí-la, é isso?
CAEL: Valentina, ela salvou a tua
vida e a vida de teu filho...
VALENTINA: Nosso! Nosso filho...(muda de
assunto) E já descobriu por que os freios não funcionaram? Por que comigo eles
estavam ótimos.
CAEL (desconfiado): Ainda não...
CORTA
PARA
CENA 21 SALA DE ESPERA...
Raíza está no bebedouro colocando água num
pequeno copo plástico. Leva à boca e vira-se. Dá com Marco a sua frente. Ela
pára e não toma a água.
MARCO: Dia agitado hoje, não acha?
Raíza
só balança a cabeça, confirmando. Toma a água num gole.
MARCO: Me responda uma coisa (pausa)
Se eu fosse o único a estar naquele carro, você teria me ajudado?
A
garota se inquieta, olha pros lados e adiante está Dcr, Josué, João e Ari
observando-a.
RAÍZA: Eu acho que você seria a
última pessoa pra quem eu ligaria...Não?
Afasta-se
dele deixando-o pensativo.
Raíza
chega perto da família esboçando cansaço.
JOÃO: Não sou eu que vou dizer,
hein; São os fatos que gritam!
A
garota não se mostra curiosa, mas o rapaz e os outros estão esperando.
RAÍZA: E o que os fatos gritam pra
você?
JOÃO: Que você nasceu pra salvar a
vida do Marco!
RAÍZA: ‘Cê’ tá maluco, garoto? Ele
não ‘tava’ sozinho e eu nem sabia que ele ‘tava’ no carro!
JOÃO: A-ham! Então quer dizer que se
você soubesse que o Marco estava lá você não teria ajudado?
Raíza
não gosta de ouvir aquilo de novo. É muito difícil saber o que faria.
CIPRIANO (O.S): E então, Raíza? (ela
olha para trás) Você teria ajudado?
RAÍZA: Cipriano?...Você por aqui?
CIPRIANO: Vim saber da Rafaela
e...Fiquei surpreso com o que houve com seu outro amigo, Cael. Foi um dia de
heroísmo, hein.
JOSUÉ (sarcasmo): Comovente, não é?
Cipriano
fita Josué.
JOÃO: Mas Raíza você não respondeu.
Você teria ajudado o Marco se soubesse que...
ARI: Que diferença isso faz agora?
Estão todos salvos, não?
JOÃO: Deixa ela responder, que
enrolação, meu Deus! Fala logo!
RAÍZA: Que saco, viu! Não se pode
terminar o dia bem, tem que ser chato até o fim!
Ela
sai, Marco nota sua pressa. Cipriano vai atrás.
CORREDOR...
CIPRIANO: Raíza!
Ela
se volta, injuriada.
RAÍZA: Se vai insistir na
pergunta...
CIPRIANO: Eu sei qual é a resposta.
(pausa) Você quer salvar todos por que acredita que essa é sua missão (longa
pausa / eles se encaram) Mas isso está na sua cabeça! Até quando você vai
salvar a vida de quem amanhã irá te apunhalar? De novo.
Raíza
coça a sobrancelha, demora a responder.
RAÍZA: Eu não tive escolhas!
CIPRIANO: E se tivesse? Deixaria ele
viver?
Ari
surge por detrás dele.
ARI: Se ela tivesse escolhas ainda
sim o salvaria. Não por ele, mas por ela mesma. (ela se dirige a Raíza) Salvar
uma vida é uma benção, lembra? Independente de quem for.
Cipriano
força o sorriso. A olha com um olhar medonho como uma ameaça.
CORTA
PARA
CENA 22 CORREDOR – QUARTOS [ EXT.]
Cael sai do quarto, meio triste. Dá com Raíza, segurando a bolsa transpassada.
RAÍZA: Tudo bem com a Valentina?
CAEL: Sim... Você conseguiu evitar
um futuro trágico. Sinto que estaríamos todos mortos a essa hora.
Raíza
resolve dar uma de seu pai.
RAÍZA: O futuro a Deus pertence,
Cael. Eu só fiz o que estava ao meu alcance.
CAEL: Tenho que discordar.
RAÍZA: Hã? Por quê?
CAEL: O futuro somos nós mesmos que
fazemos. Se é ruim ou bom vai depender do que fizermos agora.
A
garota suspira aliviada, discretamente.
CAEL: Se bem que nesse caso você
que fez nosso futuro, num é?
A
garota ri, nervosa acreditando ter sido transparente em seus atos.
CAEL (sorri): Tô brincando.
RAÍZA: Mesmo por que se fosse assim
eu teria evitado o acidente da Rafaela, ‘né’?
CAEL: Sim. E com seus super
poderes! (os dois riem) Obrigado pela ajuda (ele a abraça e ela corresponde,
timidamente.
CAEL (ainda abraçado): Falando
nela, por que não me contou o que houve por telefone?
RAÍZA: Ahn...(sai do abraço)Nossa!
Eu nem...
CAEL: Lembrou? Deve ser muito
estranho lembrar o nome do Marco como salvador de sua amiga, não é?
RAÍZA: Aliás, O que você queria
falar comigo?
De
repente, Lara chega apressada, quase atropelando quem vem na frente. Segura nos
ombros do filho, preocupada.
LARA: Como eles estão? Fiquei
sabendo que ela foi trazida pela polícia. Até pra trazer sua namorada grávida
você é um desastre!
CAEL: Mãe, não foi nada disso...
Raíza
interpreta mal.
RAÍZA: Era isso que você queria me
dizer, Cael?
Lara
nem nota a expressão de dúvida no rosto de Cael.
[2º
plano]
Dcr,
na curva do corredor, está com semblante abismado. Nota-se que ouviu toda a
conversa.
CORTA
PARA
CENA 23 QUARTO [INT./NOITE]
Rafaela está aparentemente angustiada, ainda
deitada num leito de hospital.
Ouve-se
o bater na porta e ela leva um susto ao ver Marco, com um laptop na mão
adentrar o quarto com aqueles olhos azuis grandes pra cima dela.
MARCO (sorriso falso): Como está?
RAFAELA: Bem...E você? Soube que
escapou de uma boa...
MARCO: De uma péssima...Pena ninguém
ter estado lá pra filmar...Parecia cena de filme.
Rafaela
esboça seriedade demais. E medo também.
MARCO: Ah! (ele põe o laptop sobre a
moça) Suponho que tenha sentido falta disso.
Rafaela
segura, sem entender.
RAFAELA: Parece meu...
MARCO: E é. Seu tio quis lhe
entregar, mas eu quis fazer esse favor.
Ela
levanta a aba e olha pra ele subitamente.
RAFAELA (assustada): O que é isso?
MARCO (calmo): Parece um blog...Não
se lembra mais?
A
tela mostra o blog ‘Dirce me Disse’. A página é onde tem um vídeo em que Raíza
está na casa noturna.
MARCO: Você sabe usar bem essas
câmeras... (irônico) Acho até que você está seguindo a profissão errada...
RAFAELA: Eu não sei do que você está
falando.
MARCO: Me parece uma daquelas frases
típicas de quem quer esconder algo.
RAFAELA: Eu sempre guardo páginas que
me agradam.
MARCO: E todos os arquivos nela
presentes, incluindo os vídeos não editados.
RAFAELA (séria): Isso é violação!
MARCO: Ah! Desculpe se eu não pedi
autorização pra ver todo o conteúdo do seu computador assim como você não pediu
pra filmar dentro de um estabelecimento comercial.
RAFAELA: Isso que eu faço é só por
diversão...
MARCO (pensativo): Dirce... Nome
sugestivo. Pena que esse vídeo (ele aponta para o que está na tela) esteja com
defeito...Você, por acaso, apagou a cena em que a Raíza corre pra salvar Valentina?
RAFAELA: Não...Não sei o que houve...
MARCO: Talvez fosse o caso de
perguntar a Raíza, de repente...
RAFAELA (nervosa): NÃO!
Marco
se faz de desentendido.
MARCO: Qual o problema? Não vai me
dizer que...
Ela
nada responde, apreensiva.
MARCO: Parece que ter ética não é
divertido pra você, hein.
RAFAELA: Olha... Eu sei que eu nem
teria o direito de te pedir isso, mas...Ela não precisa saber, ‘né’? Ela não
gosta de chamar atenção e isso seria a morte pra ela.
MARCO: A morte? (sarcástico) Ela
morreria por causa de suas boas ações na Internet?
RAFAELA: Ela pode não ser a garota
mais normal do mundo, mas... (hesitante) É minha amiga...
MARCO: Não vou contar nada não, não se preocupe...(falso) Eu jamais faria
algo contra uma amiga sua.
RAFAELA: Eu sei que vocês não se dão
bem...
MARCO: Da parte dela, claro...Você
viu como ela se comportou hoje cedo; Nem se sensibilizou em ter a amiga dela
salva de um acidente...(ele toca sua mão e aproxima o corpo da cama) Quem dera
todos fossem como você, não? Agradecida...
Marco
afasta o rosto. Rafaela tem uma expressão de quem está pressionada e o vê,
sorrindo e indo até a porta.
MARCO: Tenha uma boa noite.
QUARTO
[EXT.]
Ele
fecha a porta sorrindo e, caminha calmo até sumir da frente da cena.
QUARTO
[INT.]
Rafaela olha para tela.
[POV
de Rafaela]
Ela vê um novo comentário em seu blog.
‘Postado
por: ‘M’
“Será
que a Raíza sabe que você, Dirce, é Rafaela?”.
A
seta do mouse passa no link ‘Excluir’.
Clica.
FADE
TO BLACK
FIM DO EPISÓDIO
FIM DO EPISÓDIO
Autora:
Cristina Ravela
Elenco:
Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Ari (Nathália Dill)
Dcr (Aaron Ashmore)
Valentina (Alinne Moraes)
Cipriano (Thiago Rodrigues)
Participação Especial:
Lara (Jane Saymour)
Alberto (Craig Sheffer)
Mulher / Mãe de Rafaela (Bete Coelho)
Produção:
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com
nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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