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RAÍZA SÉRIE
30:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA
Série de
Cristina Ravela
Episódio 16 de 20
© 2009, WEBTV.
Todos os direitos reservados.
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FADE
IN
CENA 1 APTº 403 – SALA
[INT./MANHÃ]
Close
na porta.
Ouvimos
a chave girar mais que roleta de cassino. Quando abre, Josué, com um saco de
pães na mão, pára um pouco, faz uma expressão de cansaço. Sua cara entorpecente
não nega sua condição; Não dormiu bem.
Bruno,
sentado no sofá, espia a cena pelo lado do jornal que lê.
BRUNO: Pensei que fosse arrancar o
trinco da porta...
Josué
não entende.
JOSUÉ: Hã?
Bruno
fecha o jornal e põe do seu lado. Aspira e depois faz cara de desagrado.
BRUNO: Cheiro de cerveja...Tá
sentindo?
Josué
joga a chave de qualquer jeito no sofá, mas cai no chão. Coça a testa com o
polegar e faz expressão de dor de cabeça.
JOSUÉ: Ahn?...Ah, deve ser por que
passei perto de um boteco...Aquele boteco, ‘cê’ sabe... (Ele explica sempre com
a mania de achar que todos sabem do que ele falava) O cheiro deve ter
impregnado na minha roupa...
RAÍZA: E como, hein! (ela sai da
cozinha) Parece até que entrou no teu corpo...
Josué nota seu irmão a olhá-lo meio de canto. E
Raíza levanta as sobrancelhas como a esperá-lo dizer algo. Ele entende o que
aqueles comentários insinuam.
JOSUÉ: Eu não bebo, se é isso que
estão pensando.
Entrega
o saco de pães para Raíza e vai direto pro banheiro.
RAÍZA (murmura): Pai, o senhor num
acha que ele anda meio estranho? Tipo, tem chegado cansado e de mau humor...Mal
consegue preparar a pauta da próxima aula...
BRUNO: Eu não sei não (ele se
levanta) Mas vai ver é muito trabalho. Seu tio sempre foi mais ponderado que
eu.
Bruno
vai à cozinha e deixa a filha pensativa.
RAÍZA (em OFF): Essas não parecem
ser atitudes de um cara ponderado...
JOÃO (O.S): Já não basta você já
ter me atacado, quer atacar o nosso tio também?
A
garota leva um susto com a aproximidade dele.
RAÍZA: Do que você tá falando,
garoto?
JOÃO: Você sabe muito bem do que eu
tô falando. Ele deve tá assim, estranho como ‘tu’ falou, de decepção. Não deve
ser nada fácil ter uma sobrinha feito você.
Bruno, à espreita da cozinha, escuta,
pensativo. Mas não perplexo...
CORTA
PARA
CENA 2 ED. CIRANDA DE PEDRA
[EXT./MANHÃ]
Raíza
e Ari chegam no térreo em passos rápidos. Correm até o portão e dão de cara com
Dcr.
DCR: Oi gente! Animadas pro
passeio? A Rafaela deve tá chegando.
RAÍZA (tom irônico):
Animadíssimas...
Dcr
e Ari cruzam o olhar.
DCR: Aconteceu alguma coisa? Vocês
não vão mais?
ARI: Não, Dc. É que ela não tá nos
seus melhores dias.
DCR (entende errado):
Ah...Sei.(pausa) Bom, mas...Vamos?
Os
três caminham pela calçada, Dcr e Ari cruzam o olhar novamente.
DCR: E o João? Não veio dessa vez?
Ari
faz aquela cara de ‘pra que perguntar isso...?’.
RAÍZA: É bom mesmo que ele não tenha
vindo...Já amanheceu de olho virado comigo.
DCR: Vão ficar assim até quando?
(ele faz uma breve pausa quando Ari faz um olhar pra ele não insistir) Não
pense que tô querendo me intrometer, mas...(ele olha pra frente) Meu Deus do
Céu! Mas o que é aquilo?
As duas olham pra direção que Dcr mira, de
olhos arregalados.
Adiante,
Rafaela vem em companhia de um cara visualmente extravagante. Traja camisa
branca, calça preta e de couro, bem justa, um par de coturnos batido e um lenço
azul, extremamente azul, enrolado ao pescoço. À medida que se aproximam, a
imagem assusta mais o Dcr e encanta Ari, que não desgruda os olhos. O cabelo do
rapaz é repicado com uma franja longa caído sobre os grandes e intensos olhos
verde-água. Claríssimos, contrastava com sua pele pálida e em volta deles, um
risco azul delineava-os. Mira nos negros olhos acesos de Raíza.
RAFAELA: Oi gente! Deixa eu
apresentar: Esse é Johnny Land.
Raíza
volta a cabeça um pouco pra trás ao ouvir aquele nome. O rapaz usa um piercing
na sobrancelha.
RAÍZA: Johnny Land?
Os
dois trocam olhares como se houvesse ali uma certa cumplicidade. Cumprimentam
com as mãos e, assim que o toca, Raíza tem uma visão.
[VISÃO]
O ambiente é agitado. Ari está com umas fichas
na mão e ao seu lado, Johnny Land entregando-a uma bebida.
[FIM
DA VISÃO]
Ela larga a mão e se esquiva. Os dois se
fitam.
1X16 AZAR
FADE
IN
CENA 3 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]
Rafaela,
Dcr, Ari, Raíza e Johnny caminham pela calçada. Johnny está com as mãos dentro
dos bolsos do sobretudo, ora abaixa a cabeça, ora se ergue.
ARI: E onde foi que vocês se
conheceram?
RAFAELA: Na Internet. Ele é vocalista
da banda Blueberry.
Raíza
olha para o rapaz que mira nela.
RAÍZA: Amigo virtual?...Hum...
Tanto
Ari quanto Dcr se entreolham.
RAFAELA: Não liga não, Johnny. A Raíza
tem problemas com amigos virtuais...
Dcr
se mostra indiferente à banda do rapaz e acaba trocando as bolas.
DCR: “BlueDead”, né? E que música
vocês cantam? Pra vê se eu lembro.
Rafaela
lhe dá uma olhada e, em seguida, ri timidamente.
RAFAELA: Dc! É BlueBerry. Berry,
entendeu?
Dcr
olha para as garotas com cara de bobo, mas Johnny não dá importância. Ri
daquela troca de nomes.
JOHNNY (sotaque americano): BlueDead
não seria um nome ruim...E respondendo a sua pergunta, uma das músicas mais
tocadas é O dia em que tentei viver.
Ari
não disfarça o encantamento daqueles olhos verdes - água reluzente.
ARI: E conseguiu, ‘né’?
Johnny
franze as sobrancelhas sem entender:
JOHNNY: Consegui o quê?
ARI: Viver. Você tentou e...( ela
o olha de cima em baixo quase que suspirando)conseguiu viver.
Rafaela
balança a cabeça negativamente e olha para Dcr que estranhamente se irrita com
a cena. Mas controla-se.
ARI: Você não gostaria de nos
mostrar sua música, Johnny?
O rapaz abre um sorrisinho e levemente alisa o
lábio inferior com o dente.
CORTA
PARA
CENA 4 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
APT
º 403 – COZINHA [INT.]
Bruno, sentado, espia pelo portal da cozinha
Josué entrar no banheiro novamente. Vira-se e observa seu sobrinho limpar a
mesa de farelo de pão.
João
tem o semblante calmo, totalmente diferente da revolta logo cedo quando
discutiu com a prima. É como se nada tivesse acontecido.
BRUNO: O que você achou do seu tio
hoje?
João
faz um tremelique.
JOÃO: Aaai! Que susto!...Faz um par
de horas que ninguém fala nada nessa casa.
Depois,
continua a limpar a mesa.
JOÃO (cont./tom de desdém): Meu
tio? Tenho a impressão dele ter bebido...Não sei. Mas se ele diz que não...
BRUNO: Então por que não gostou do
comentário da Raíza?
Ele
vira para o tio, meio surpreso.
JOÃO: Ela não fez um comentário;
Ela insinuou.
BRUNO: E que mal há nisso? Se ela
insinuou ou não é por que se preocupa com o tio.
João
pára de limpar a mesa e apóia-se nela com as mãos.
JOÃO: Ela deve achar que todos têm
fraqueza por bebida que nem ela.
BRUNO: Eu queria muito que vocês se
dessem bem. Eu e seu tio não vamos viver para sempre e eu não queria deixar
vocês brigados.
João
larga a toalha e senta ao seu lado.
JOÃO (falsa preocupação): Mas eu
também não quero isso! O que depender de mim ficaremos unidos para sempre. Mas
é ela que faz as acusações, aponta o dedo pra mim. O senhor tá de prova!
Bruno
toca seu ombro e sorri sem muita fé no que ouve.
BRUNO: Se você ao menos tentasse
compreendê-la...Ela tem passado por cada coisa...
João
se levanta, dá as costas pondo as mãos na cintura.
JOÃO: Eu que o diga. Por causa
‘dessas coisas’ eu quase morri...
Bruno
mostra-se irritado com o mesmo comentário de sempre.
BRUNO: Se vai começar com isso é
melhor...
JOÃO: Não tá mais aqui quem falou!
BRUNO:...Nem louca ela faria
isso...Nem...
João
gira os olhos, pensativo e estranho quanto àquela afirmação.
CORTA
PARA
CENA 5 ED. INGLESA [EXT./MANHÃ]
Johnny dá um passo a frente e aponta para o
prédio.
JOHNNY: É aqui que estou hospedado.
No apartamento de um amigo.
O
edifício de cor branca e detalhes vermelhos chamam atenção pela beleza. Seis
andares, sacadas com grades pretas, janelas de vidro.
Eles
entram.
Há
interfone na entrada e até um elevador. As pessoas passam olhando meio
enviesado para Johnny, mas como Ari e Raíza podem observar, ele não dá
importância. Toda vez que alguém passa ele olha reto, firme e de cabeça
erguida.
RAÍZA (em OFF): Não sei como ele
consegue...Será que eu conseguiria fazer isso com o João?
Eles
entram no elevador, chique, com um espelho atrás. Johnny aperta o botão ‘3’.
TERCEIRO
ANDAR...
A porta se abre, eles saem e caminham pelo
corredor. Pisos caramelo com listras brancas, balde de lixo em cada uma das
três portas, luminária no teto.
RAÍZA: Nossa...Isso aqui perto de
onde moro é um palácio.
JOHNNY: Você tem bom gosto, talvez eu
não. Isso tudo é muito brega.
Raíza
não gosta do comentário e se cala.
Ele
põe a mão no bolso do sobretudo, tira a chave e coloca na fechadura da porta à
esquerda.
Dcr
e Raíza olham pra cima: APTº 30.
Raíza pisa naquele piso como se fosse um
território inimigo. É um ambiente totalmente em preto e branco. Sofá preto com
almofadas brancas. Lajotas grandes e em preto e branco. E até alguns objetos
sobre os móveis tem a mesma tonalidade.
JOHNNY: Vamos pro quarto!
Dcr
se espanta e Johnny levanta as sobrancelhas num ar sapeca.
JOHNNY (cont.): Conhecer meus cd’s...
CORTA
PARA
CENA 6 APTº 30 – QUARTO
[INT./MANHÃ]
Há fotos espalhadas por tudo quanto é canto.
Fotos de bandas de rock das mais pesadas que deixam Dcr assustado. Sobre a cama
e um móvel há cd’s jogados, mala aberta, mas não desfeita. Johnny não demonstra
incômodo.
Dcr
apanha um livro cuja capa, vermelha tem um título branco e vermelho em degradê.
Como se tivesse escorrido sangue.
DCR (lê): ‘À sangue frio’. (ele
olha para as fotos na parede) É desse tipo de livro que você curte...
JOHNNY: Nem sempre as coisas são os
que parecem.
Dcr
torna a olhar para as fotos na parede com cantores magros até a morte,
incluindo Johnny e sua banda.
DCR: Nem imagino...
RAFAELA: Ai Johnny, não liga não. O Dc
prefere romances policiais sem muito derramamento de sangue.
JOHNNY (debocha): É
sensível...Entendo.
Dcr
põe o livro de volta ao móvel, aborrecido.
Ari
consegue ficar bem perto do cara, próximo da janela.
ARI: Onde você formou sua banda?
Aliás, qual o estilo de música?
Dcr,
com os olhos vidrados naquela imagem na parede onde era possível ver com mais
nitidez, Johnny, no auge de sua magreza respondeu a Ari.
DCR: Sertanejo! (resmunga) Com
esse visual o que mais seria?...
Rafaela
cutuca o amigo, mas Dcr já tinha falado mesmo.
Johnny não se abala.
JOHNNY: Rock Alternativo. (Ele apanha
o cd com capa igual ao do pôster e o coloca pra tocar) A banda surgiu na
Califórnia.
O som era forte e agradável de se ouvir. O que
dizia a letra Ari não prestou atenção.
Ari
apanha o cd e olha atrás.
ARI: “O dia em que eu tentei
viver”...Gostei dessa música.
JOHNNY (olhar malicioso): Depois eu
canto pra você...
ARI (sorri sem graça): Sabe,
quando eu era pequena lembro que o pastor da igreja que minha mãe frequentava
abominava esse estilo de música. Chegou a dizer que rock é coisa do demo...
Johnny
levanta a cabeça e desvia o olhar, por um instante. Balança a cabeça
negativamente.
JOHNNY: Não me fale de pastor. Me faz
lembrar de meu tio Jack...
ARI: Ele tem problemas com você?
JONNHY: Não. Ele tem problemas com ele
mesmo. Você tinha que ver como ele sacode aquela mão quando está palestrando.
Ari solta uma gargalhada e logo disfarça.
ARI: É tão absurdo assim?
JOHNNY: É. Juro que se eu soubesse
rezar eu até rezaria por ele.
Ari acha graça de novo do seu humor sarcástico,
enquanto Dcr e Raíza trocam olhares quanto àquela frase.
Dcr
visualiza a capa do cd dele.
DCR: As coisas não tem sido
fáceis...Hum.
RAFAELA: O que é dessa vez, Dc?
Dcr
vira o cd.
DCR: É o título dessa música aqui.
Raíza
sorri.
RAÍZA: É, está claro que em suas
músicas você desabafa.
Johnny
coloca a mão dentro do sobretudo, apanha um cigarro.
JOHNNY: Ah! Você tá prestando
atenção? (sarcasmo / Acende o cigarro) Pensei que tivesse mais atenta e
horrorizada com as minhas fotos...
Os
dois se encaram. Clima constrangedor.
JOHNNY (Antes de levar o cigarro à
boca): Se incomodam?
RAÍZA: Não...Q...Quer dizer, a casa
é do seu amigo ‘né’?
A
fumaça faz Raíza abanar com a mão.
RAÍZA: Cigarro mata aos poucos.
Johnny
traga e joga o ar pra fora da janela. Volta-se.
JOHNNY: Não tenho pressa de morrer...
Ari
se espanta com a resposta do cara e, ao mesmo tempo, encantada com sua atitude.
RAÍZA (resmunga): Cada um cuida da
saúde que lhe resta...
A
porta do quarto é aberta vagarosamente.
JOHNNY (sonoramente): Ah, olha meu
amigo aí! Chegou cedo.
Raíza
volta os olhos para a porta e se surpreende. Ela e Marco se olham fixamente.
Ele está com uma fina marca no rosto e ela desvia os olhos para Johnny
olhando-a com desconfiança.
Os
amigos de Raíza estão apreensivos como se algo de ruim pudesse acontecer.
RAÍZA: Então esse é seu
amigo...Johnny?
JOHNNY: Sim. (ele dá uma baforada pra
fora da janela e volta) Ele é o...
RAÍZA (para Rafaela): Você sabia
disso, não é?
RAFAELA: Eu juro que não eu...
Raíza
anda até a porta quando Marco põe o braço atravessado no portal.
MARCO: Vai sair só por que cheguei?
RAÍZA: Eu já ‘tava’ de saída...Eu
não devia nem ter vindo...
MARCO: Mas por quê? A melhor amiga
de meu irmão é bem-vinda aqui.
Raíza
dá uma olhada em seu rosto onde ainda é possível ver uma leve marca da primeira
vez em que o agrediu.
RAÍZA: Incomoda?...Espero que essa
suma logo...
Devagar,
ele solta o braço e ela sai. Johnny acaba deixando a ponta de cigarro cair
devido a atenção prestada à cena. Esboça satisfação.
CORTA
PARA
CENA 7 ED. INGLESA - CORREDOR [INT./MANHÃ]
Raíza desce as escadas a galope e atrás dela
vem Dcr. Ele a alcança ao pé da
escada.
DCR (indignado): Você perdeu o
juízo foi? Vai dar chance pro inimigo de te ver irritada é?
Raíza
fecha e abre as mãos, ainda aborrecida. Aponta para o alto.
RAÍZA: Você viu o cinismo dele?
Aposto que se estivéssemos sozinhos ele me escorraçava dali a ponta pé!
Dcr
levanta as mãos e balança em sinal pra ela se acalmar.
DCR: Tá certo, tá certo! Mas ele
foi esperto. Você não queria que ele te sentasse a mão na frente dos outros
‘né’? Ainda mais com um amigo dele ali.
RAÍZA: Amigo...Um tipinho que só
escreve letras depressivas. Tinha que ser amigo dele mesmo.
DCR: Só por que são amigos não
quer dizer que são iguais. Se fosse assim você nem olharia mais na cara de
Cael.
RAÍZA (argumentativa): Acontece que
Cael está unido a ele pelo sangue. Agora, esses dois (ela aponta de novo o dedo
pro alto da escada e gira) Esses dois são amigos. São unidos por afinidades,
entende? Afinidades! Eu vou embora daqui!
Ao dar as costas para o amigo, um novo cenário
se abre.
Se
vê dentro do cassino, à noite. Estática e sem ação, Raíza vê Johnny entregando
uma bebida a Ari.
JOHNNY: Você tem que acreditar na sua
sorte.
A
fumaça paira no ar, homens apostam até o que não tem e Ari segura as fichas.
Close
em suas mãos. Ari lança uma ficha no número 8.
Roletas
giram, giram, Raíza nota o prazer nos olhos do rapaz e o deslumbramento no de
Ari. A roleta pára no número 9.
JOHNNY: Tenta de novo que você
consegue.
RAÍZA: NÃO!
Alguém
toca seu braço, ela se volta e dá com Dcr.
DCR (intrigado): O que foi, Raíza?
‘Não’ o quê?
Ela
vira pro outro lado e vê que nada aconteceu.
A
tela se fecha num baque.
FADE
IN
CENA 8 APTº 30 – SALA
[INT./MANHÃ]
Marco está diante do bar, se serve de whisky.
Atrás dele, em segundo plano, encostado na parede, está Johnny, mãos nos bolsos
da calça.
JOHNNY: O que você andou aprontando
pra ela ter arrancado seu coro, hein?
Marco,
segurando o copo, vira e solta os ombros.
MARCO: Eu nada. Ela que cisma
comigo. E você? (ele toca as fotos da banda do rapaz com certo asco do que vê)
Soube que até incendiou uma igreja, o que você pensa da vida hen garoto?
Johnny se volta para trás, meio surpreso.
JOHNNY: EI! Quem andou me caluniando?
Eu não fiz nada!
Marco
lhe dá uma olhada de cima esperando que ele adivinhasse primeiro.
JOHNNY: Ah, claro! (Johnny dá um tapa
na própria mão como quem mata a charada) Só pode ter sido a porra do meu tio
Jack! Aquela porra não me deixa em paz nem do outro lado da fronteira!
Marco
estende a bebida e Johnny pega.
MARCO: Vamos esquecer o seu tio Jack
e o que ele significa em sua vida...
Marco
volta pro bar e se serve de outra bebida.
MARCO: O que achou dos amigos da
Rafaela?
Johnny
bebe todo o whisky, contorna o sofá e se joga nele.
JOHNNY: Tirando a Ari e a Rafaela, os
outros dois são estranhos, implicantes e inquietos. Mas juro que eu pensava que
a Raíza fosse alta, forte dessas de espantar.
Marco
vira pra ele com o copo na mão.
JOHNNY (cont.): Como você pôde se
deixar vencer por ela? Você é um fiasco, sabia?
MARCO: Essa frase eu conheço; É do
livro ‘À sangue frio’. Você não perde essa mania de misturar ficção com
realidade, hein.
JOHNNY: Eu tenho que aproveitar as
oportunidades.
Marco
ignora, senta no sofá e Johnny senta direito.
MARCO: O que pensa em fazer hoje à
noite?
JOHNNY: Eu não penso. Eu vou fazer. O
cassino ainda funciona...Sem você?
Marco
dá um sorrisinho de canto e seus olhos brilham.
MARCO: Sim, mas...Você não poderá
entrar lá com a minha referência...
JOHNNY: Por que? Ela está suja?
MARCO: Não seja abusado!...(pausa)
Mas não se preocupe; Tem um amigo que me ajudará nisso. Pretende ir sozinho?
Johnny
meneia com a cabeça.
MARCO: A Ari me pareceu interessada
em você...Uma moça de família gostar de você não é sempre, você sabe.
JOHNNY: Acha que ela ia querer?
MARCO: Se você não a convidar...
CORTA
PARA
CENA 9 ED. CIRANDA DE PEDRA
[EXT./INÍCIO DA TARDE]
APTº
403 – SALA [INT.]
Ouve-se a campainha tocar. Josué abre a porta e
é tomado de susto.
Johnny
está com camisa preta de manga justa, calça na mesma cor e olhos pintados.
JOSUÉ: Ahn...Você...
João
não sabe para o que olhar; Se pro seu tênis o qual tenta encaixar no calcanhar
ou se pro rapaz extravagante.
JOÃO: Quem é, tio?
Raíza
chega do corredor e nem pôde acreditar.
RAÍZA: Tio, deixa ele entrar. É
Johnny Land.
JOSUÉ (para Raíza): Você...(ele
aponta discretamente para o rapaz com um certo desprezo pela figura) Você o
conhece?
RAÍZA: Sim. Entra, Johnny!
JOHNNY (entra com as mãos voltadas
pra trás): Oi, tudo bem com vocês?
Josué
não consegue balbuciar um fonema.
JOHNNY: Eu queria falar com a Ari.
Ari
entra na sala, encantada pela visita.
ARI (senta ao lado de João):
Senta, Johnny! Senta!
Johnny
senta também ao lado de João.
João
Batista finge demorar mais a encaixar o tênis no pé apenas pra não sair da
sala. Continua ali, empacado entre os dois no sofá. Até que não dá mais e
levanta.
JOÃO (pra Ari): Não vai se atrasar
pra aula, hein.
João
sai e Raíza vai junto.
QUARTO
DE RAÍZA...
JOÃO (indignado): Raíza, quem é esse
maluco?
RAÍZA: Amigo da Rafaela.
JOÃO: Amigo da Rafaela? É só isso
que ‘cê’ tem pra me dizer?
Raíza
senta na cama com ar de desolada.
RAÍZA: Nos conhecemos essa
manhã...(resmunga) Como me arrependo disso...
JOÃO: E por quê? Por que ele quis
falar com a Ari e não com você?
RAÍZA: Deixa de besteira, garoto!
Ele é amigo do Marco!
João
se aproxima, ainda com o tênis mal encaixado.
JOÃO: Essa coisa é amigo do Marco e
você vai deixar a Ari sozinha com ele?
Os
dois se encaram.
SALA...
Raíza,
entre o corredor e a sala, fita Johnny com as botas sobre a mesa central.
RAÍZA: Botas bonitas...Mas prefiro
vê-las no chão.
Johnny
põe os pés no chão.
JOHNNY: Você não tá atrasada?
RAÍZA: Ela também.
Johnny
se levanta com cara de cínico.
JOHNNY: Acho melhor eu ir antes que
eu seja enxotado...
Ari
leva o rapaz até a porta, abre e antes dele ir, a beija próximo da boca.
JOHNNY: Tchau! Até de noite!
Ari
fecha a porta com um sorriso de canto a canto.
João
atravessa a sala, joga a bolsa sobre o sofá e pára na frente dela.
JOÃO: Diz pra mim, Ari (ele toca em
seus ombros) Isso...Esse...Aquela coisa que acabou de sair é amigo da Raíza
‘né’? Foi ela que te apresentou, ‘né’? ‘Cê’ pode dizer, sem problemas.
RAÍZA: Ô João Batista! Acho que você
tá atrasado. Não é melhor você ir?
João
larga Ari e faz um gesto com a mão próximo ao olho.
JOÃO: Eu tô de olho em você, hein
Raíza.
Raíza
ignora. João apanha a bolsa e sai.
Quando
a porta fecha e os passos se afastam, Raíza mira em Ari.
RAÍZA: Você não o conhece. Ele pode
sumir do mesmo jeito que apareceu. Fora que ele tem duas coisas que abomino em
alguém...
Ari
se mostra curiosa.
RAÍZA: É fumante e amigo do Marco.
ARI: Olha que você não tope com o
Marco eu até entendo, mas não quer dizer que o Johnny seja igual, ‘né’?
RAÍZA: Mas ele é amigo do Marco! Que
idéias você acha que ele tem?
ARI: Você é amiga do Cael e nunca
pensou que ele pudesse ser igual ao irmão.
RAÍZA: Olha eu vou dizer o mesmo que
disse pro Dcr...
ARI: Raíza...As pessoas têm o
direito de serem diferentes do Marco, hã?
Raíza
não reage.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 10 APTº 403 – SALA
[INT./INÍCIO DA NOITE]
A porta é aberta e Raíza entra olhando por toda
a sala. Fecha a porta e põe a chave na estante ao lado.
Caminha
até o...
QUARTO...
E
vê a roupa intacta de Ari sobre a cama.
RAÍZA (em OFF): Ela ainda não
chegou?
Volta
e fecha a porta do quarto. Joga a bolsa na cama, tira o uniforme e abre o
guarda-roupa. Pega uma blusa preta, de manga curta com paetês no peitilho e
continua com a calça de jeans preta.
Anda
até a porta, abre ao mesmo tempo em que solta os cabelos. Leva um susto com a
cara de reprovação de João.
JOÃO: Não me diga que vai à boate?
Raíza
demora um pouco pra responder. Passa por ele ainda ajeitando os cabelos.
RAÍZA: Sim, por quê? Não tô bem?
João
Batista faz uma cara de poucos amigos.
JOÃO: Você vai se divertir? E a
Ari? Pra onde ela foi com aquele cara? Você não se importa ‘né’?
RAÍZA: Eu tô indo lá justamente por
isso...Aliás, ela não ligou?
JOÃO: Vocês duas têm a mania de não
se darem bem com celulares... (ele exibe na mão o celular de Ari)
Raíza
suspira profundamente.
RAÍZA: Mais essa!
JOÃO (irritado): Viu só! Agora a
Ari pode tá correndo perigo de vida! O que pensa em fazer? Já que a meteu
nisso...
RAÍZA: Mas como eu a meti nisso,
garoto! Eu não sou amiga de Johnny Land! Eu...Eu...Nem devia ter ido ao
apartamento dele...
JOÃO: Meteu ela nisso sim!
RAÍZA: Olha eu não posso ficar aqui
discutindo contigo... (ela dá as costas, apanha a chave e abre a porta)
JOÃO: ‘Peraí’! Que eu tô falando
contigo!
APTº
403 [EXT.]
E
a garota desce as escadas com aquele burburio em seus ouvidos.
JOÃO: Se teu pai descobre que a Ari
anda em má companhia, eu nem sei viu, nem sei!
Raíza
pára bruscamente e João esbarra nela.
RAÍZA: Eu não tenho culpa se a Ari
gostou dele, caramba!
JOÃO: Ela gostou dele por que ele é
livre! Ele não tem limites! É só olhar pra aquele visual ridículo pra gente
perceber.
RAÍZA: O que você tá querendo dizer
com isso?
JOÃO: Você praticamente não deixa a
Ari respirar desde que ela saiu da clínica! Chego a pensar que ela se
arrependeu de ter saído de lá...
RAÍZA (extasiada): Você endoideceu?
JOÃO: Não, mas pensa! Quase que ela
não sai sozinha, você sempre tá por perto. Aí aparece esse sujeito...Se você
não tivesse prendido tanto a garota talvez ela não andasse com esse tipo.
Os
dois se fitam. Raíza abre a bolsa, apanha o celular e disca.
RAÍZA: Alô? Rafaela? (pausa) Diz pra
mim: Você sabe qual o telefone do Johnny? (pausa) Não, é que...Ele...(finge não
saber) Ele saiu com a Ari e não sei pra onde foram...(pausa) Ele não gosta de
celular? Um cara metido a moderninho feito ele?
JOÃO (resmunga): Outro com
problemas com celulares...
RAÍZA (cont.): Ele te disse pra onde
ia?(pausa / close em seu rosto) L.A House?
CORTA
PARA
CENA 11 L.A HOUSE [EXT./NOITE]
Johnny, abraçado a Ari, a conduz para o beco
mal iluminado, mas ela recua.
Ari
está diferente; Cabelos amarrados, bata roxa e calça jeans, olhos pintados de
preto.
ARI: Tá me levando pra onde?
JOHNNY: Pro cassino.
Ari
se mostra surpresa.
JOHNNY: Vai me dizer que você não
sabia que aqui também funciona um cassino?
ARI: Não...Eu só trabalho na
chapelaria da boate... E se o Cael não gostar de me ver aí?
JOHNNY: Mas hoje não é sua noite de
folga? Você escolhe aonde irá se divertir.
Ele
sorri e ela corresponde, trêmula.
CORTA
PARA
CENA 12 L.A HOUSE [EXT.]
Raíza e João atravessam a calçada. As pessoas
estacionam os carros, outras entram na boate, aquele burburio é incômodo para
Raíza.
JOÃO: Vamos lá, Raíza! A gente pode
entrar sem convite.
Raíza
esboça raiva, olha para o tal beco e se volta, apressada.
RAÍZA: Melhor você ligar pro
Cael...Vai ali por que aqui tá muito barulhento.
João,
já com celular na mão, dá as costas e disca.
JOÃO: Seria mais fácil se
falássemos com o segurança (ele se volta e não vê mais a prima) Ei!
CASSINO
[INT.]
Ouvimos uma música tocar abafado. Vem da boate.
Raíza está próxima do bar, Ninguém pode vê-la. A fumaça do cigarro paira no ar.
Pigarreia.
O
garçom que passa com a bandeja vira o rosto e, receosa, Raíza estaca. O garçom
passa direto sem vê-la.
Raíza
caminha com cuidado por entre as pessoas, observa, penalizada, alguns perderem
na aposta e outros vibrarem com a vitória.
Pára
ao ver alguém.
[POV
de Raíza]
Avista Johnny entregando um copo para Ari na
mesa do jogo. Se surpreende ao vê-la com estilo diferente. Aproxima e, de
repente, ela mete a mão derrubando o copo. Ari se assusta.
JOHNNY: Tudo bem, Ari você deve tá
nervosa...
ARI (olha a sua volta,
desconfiada): Bem...Eu acho melhor não beber...
JOHNNY: Ninguém morre ao tomar uma ou
outra ‘né’?
Raíza
fecha a mão, nervosa.
RAÍZA (murmura): ‘Cê’ vai tomar uma
daqui a pouco seu...Seu...
Raíza
tenta cochichar no ouvido de Ari, mas o som da música, a conversaria tornava
sua voz baixa demais.
CORTA
PARA
CENA 13 L.A HOUSE [EXT.]
João
está com o celular na orelha e caminhando de um lado e de outro como a procurar
alguém. Quando se volta, dá com Cael prestes a tocar seu ombro.
CAEL: João? O que faz aí que não
entrou?
JOÃO: Tô sem convite.
CAEL: Vem! A...(ele olha ao redor)
A Raíza não veio contigo?
JOÃO: Pois é. Ela veio, mas sumiu.
A verdade é que estamos atrás da Ari. Ficamos sabendo que um cara a levaria pra
um cassino, mas...
CAEL (abismado): O que disse?
JOÃO: Cassino...Por quê? Algum
problema?
CAEL: Não...(a resposta quase some
da boca) Mas...Vocês vieram pra cá...
JOÃO: Pois então. Não sei por que,
mas a Raíza cismou que eles estão aqui.
Cael,
curioso, entra na boate.
João volta achando estranha a atitude de Cael.
Direciona os olhos para a calçada adiante e, dentro de um carro, Marco espia.
João
faz um sinal com a cabeça, para baixo.
CORTA
PARA
CENA 14 L.A HOUSE – CASSINO
[INT.]
Johnny entrega outra bebida para Ari.
JOHNNY: Você tem que acreditar na sua
sorte.
A
fumaça paira no ar, homens apostam até o que não tem e Ari segura as fichas.
RAÍZA (cochicha): Número 9! Número
9!
Close
ns mãos de Ari. Ela lança uma ficha no número 9.
Raíza
respira aliviada.
Roletas
giram, giram, Raíza nota o prazer nos olhos do rapaz e o deslumbramento no de
Ari. A roleta pára no número 9.
JOHNNY: Sortuda você, hein! Estou vendo
que essa noite promete! Vamos ganhar muito!
Raíza
se desespera. Toca no ombro de Ari e quando esta se volta, dá de cara com Cael.
CAEL (ele a puxa pelo braço): Esse
ambiente não é pra você.
ARI: Ma-mas Cael! Eu não sou mais
criança pra ter ou deixar de ter ambiente pra mim. Eu sou maior de idade!
JOHNNY: Que isso, cara! Solta ela!
CAEL: Não se traz uma garota como
ela pra um lugar como esse.
ARI: Cael, pelo amor de Deus assim
ele vai pensar que sou careta!
Cael
disfarça.
CAEL (murmura): Você se esquece que
se algo te acontecer a responsabilidade é do Bruno?
ARI: Não, mas...
CAEL: Quer que ele pense que você é
careta ou prefere que eu conte ao rapaz do por que o Bruno ser responsável por
você apesar de você ser maior de idade?
Ari
o encara, amedrontada.
Raíza
sai na frente.
CORTA
PARA
CENA 15 L.A HOUSE [EXT.]
Cael ainda segura o braço de Ari, eles aparecem
na entrada do beco. Ari, injuriada, se solta da mão de Cael e dá com Raíza,
João, Dcr e Rafaela na calçada. Lança um olhar de raiva pra Raíza.
ARI: Foi você, não foi? Você
contou pro Cael e pediu que ele me tirasse de lá?
Raíza
vira para o primo, esperando que ele dissesse algo. Mas ele permanece quieto.
Johnny abraça Ari que cruza os braços.
JOHNNY: Eu não entendo qual o
problema de uma garota querer se divertir um pouquinho só...
RAÍZA (aponta-lhe o dedo): O que tem
de mais? O que tem de mais? Eu vou dizer pra Ari o que tem de mais: O que tem é
que ela é responsabilidade do meu pai e tudo o que acontecer a ela de ruim quem
pagará é meu pai! Entendeu?
ARI (ressentida): É essa sua
preocupação, não é? O seu pai pagar por minha culpa. Se não fosse isso você nem
estaria aqui.
RAÍZA: Não diga besteira!
ARI: É isso sim! (ela desprende os
braços e os abre, nervosa) Eu não a culpo por isso, mas é que às vezes você
parece não querer me deixar sozinha. Como se tivesse medo que eu cometesse
alguma loucura, entende? Loucura.
João
faz cara de sabichão, mas Raíza nem o olha na cara.
RAÍZA: Se fosse assim eu não teria
feito o que fiz por você. Você sabe e...Se meu pai perdesse a sua guarda você
voltaria pra sua mãe, ‘né’...
Ari
abaixa a cabeça.
JOHNNY: Papo de doido! Vamos embora
daqui.
RAÍZA: É melhor não! Vai que ‘tu’
leva a garota pra algum outro lugar que não deve?
JOHNNY: Eu não obrigo ninguém a vir
comigo, pára de achar que sou o culpado de tudo! Que merda!
RAFAELA: Por favor, Johnny!
RAÍZA (se altera): Depois de
trazê-la pro cassino e quase embebedá-la não podemos esperar outra coisa ‘né’?
Johnny
larga Ari e se aproxima de Raíza como a confrontá-la.
JOHNNY: Eu não faço nada que não
queiram!
DCR: Mas influencia!
ARI: Gente pára com isso! Eu não
me deixei influenciar. Eu que quis experimentar coisas novas.
RAÍZA: Coisas novas que poderiam
fazer meu pai perder a sua guarda provisória se algo lhe acontecesse! Você tem
idéia de onde ‘tu’ ia parar, Ari? Tem?
JOHNNY: Que papo é esse de guarda?
Ari é maior de idade, caramba!
RAÍZA: Coisas de justiça, sabe
Johnny? (deboche) Acho que você não ia querer entender. A coisa aqui é grave.
Meu pai podia ir preso se a justiça souber que ele larga a Ari por aí. (ela se
dirige a Ari) Imagine sua mãe, Ari! Imagine ela saber disso? Que prato cheio
seria...
Ari
se cala, envergonhada.
JOHNNY: Nossa eu não imaginava causar
tanta confusão. (ele sorri com um sorrisinho no canto da boca)
RAÍZA (irritada): Claro que
imaginava! Duvido que a idéia de trazer a Ari pra cá não tenha sido do Marco.
JOHNNY: Marco? Ele...(confuso) Ele...
RAÍZA: Você quer saber de uma coisa?
Vá levar seu péssimo exemplo lá de volta de onde você veio!
CAEL: Raíza, leva sua amiga de
volta pra casa...
JOHNNY: Pode deixar que eu levo, já
disse. (ele dá as mãos a ela)
RAÍZA: E eu disse que não!
JOHNNY: Vem cá! Eu não sei que rolo é
esse que vocês tem na justiça, mas vocês não acham que a sufocam com tanta
proteção não?
JOÃO (resmunga): Foi o que eu disse
a ela...
Raíza
lhe dá uma olhada mortal.
JOÃO: Mas é verdade! ‘Cê’ mal deixa
a garota respirar!
RAÍZA: Vai me dizer que ‘tu’
concorda com isso?
JOÃO: Não! A pessoa não precisa
frequentar certos lugares pra ser livre. Se você falasse com jeito ‘né’...
Johnny
ri. Raíza se irrita.
RAÍZA: Agora a culpa é minha é?
JOÃO: Minha é que não é.
JOHNNY: Estranho essa sua preocupação
com ela, Raíza; Nem da família ela é...
JOÃO: Pra você ver só! Enquanto que
eu você nem queira saber o que ela já...
Raíza
lhe dá um safanão e ele faz que vai fazer o mesmo, mas é contido por Cael.
JOHNNY: Eu não sei o que tá havendo,
mas eu ia odiar essa proteção toda.
RAÍZA (aborrecida): Você IA odiar
por que você não TEM essa proteção ‘né’? Vai vê sua família nem se importa
contigo e você acha que tem que ser assim com todo mundo.
Johnny
arregala os olhos, aparenta ter se magoado. Entretanto, finge ignorar.
JOHNNY: Se ela tem mãe por que é seu
pai que toma conta dela?
RAÍZA: Ela tem mãe, mas é como se
não tivesse.
Johnny
se cala por um instante. Olha para os outros e se revolta.
JOHNNY: Ah, mas que droga! Quanto
sentimentalismo! Aposto que você não recebe nem 1/3 do que você faz pelos
outros.
Raíza
se cala. João sorri disfarçadamente enquanto Dcr e Rafaela se entreolham.
Adiante,
há um carro preto estacionado.
CAEL: Ela é uma garota muito
especial. (olha para Ari) Tenho certeza que ela não faz nada querendo algo em
troca.
ARI (em relação a João): Mas ela
sabe que não tem recebido nem a metade do que faz ‘né’?
Raíza
se surpreende.
RAÍZA (interpreta mal): Eu já
entendi...Já entendi. Eu nem devia ter vindo...Eu nem devia ter começado
com isso tudo (ela frisa olhando pra Ari) Eu sou mesmo uma imbecil!
CARRO
[INT.]
[POV
de Marco]
Marco
observa a cena, Raíza alterada, vira-se e faz que vai atravessar a rua.
Marco
segura o freio de mão, engata e acelera. O carro se aproxima rápido.
JOHNNY: CUIDADO!
[POV
de Marco]
Raíza
olha em direção ao carro e se assusta.
Johnny
corre para a pista, a abraça pela cintura e dá um giro de volta à calçada.
O
carro passa zampado.
Cael,
assustado, respira afobado. João olha para onde o carro vai.
Abraçada a Johnny, os dois se olham surpresos e
ela, assustada por ter sido salva por ele.
Ele
olha, estranhamente para a direção do carro que some na estrada.
FADE OUT
FADE IN
CENA 16 APTº 30 – SALA [INT./NOITE]
A porta é aberta bruscamente e
Johnny entra com cara de poucos amigos. Bate com a porta fazendo Marco sair da
cozinha.
Seca
as mãos na toalha.
MARCO: O que aconteceu? Não se deu
bem com as roletas ou...
Johnny
avança em seu colarinho e aperta deixando-o apreensivo. O rapaz está alterado
com semblante medonho. Os olhos pintados saltam pra fora.
JOHNNY: Você tentou atropelar a
Raíza, não foi?
MARCO: Do que você está falando?
O
rapaz o sacode.
JOHNNY: Você avançou o carro pra cima
dela, não tente negar! Eu vi tudo!
MARCO: Me solta! Está me machucando!
JOHNNY: Além de querer matá-la,
também queria prejudicar o pai dela não é? Você queria me usar pra isso!
Marco,
quase perdendo a voz.
MARCO (deboche / calmo): Acho que um
tempo ao lado da Ari te deixou maluco.
JOHNNY: Não se faça de desentendido!
A Raíza deu a entender que você sabia de tudo. O que tem a Ari pro pai da Raíza
ter a guarda dela?
Marco
tenta se soltar, se esforça, mas Johnny o sacode.
JOHNNY: Anda! Diga!
MARCO: Ela já esteve num hospício!
Johnny
o larga, devagar, estarrecido. Marco ajeita a camisa.
MARCO: A Raíza a tirou da clínica
por acreditar que ela nunca esteve louca. O Cael ajudou pra que o Bruno tivesse
a guarda provisória da garota.
JOHNNY: E você quis prejudicar uma
família tão boa quanto essa?...Espero que tenha tido uma boa razão pra isso.
Marco
se cala. Depois, caminha por trás dele e enrola a toalha nas mãos.
MARCO: Eu não faço nada. Ela que já
me fez perder o respeito de meu irmão, um amigo e até uma sociedade...
JOHNNY: Perdeu pouco. (ele se vira
com ar de asco) Eu o faria perder mais.
MARCO (sonso): Você não entende! Ela
prejudica a minha vida desde que apareceu.
JOHNNY: E por causa disso você quer
tentar atingir a família dela? A Ari só tenta viver a vida dela, cara!
MARCO: Aquela lá pode tentar o que
quiser já a Raíza...Ela tenta tudo, menos viver...A própria vida.
Johnny
dá uma olhada séria pra ele. Um olhar de raiva.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 17 APTº 403 – SALA [INT./MANHÃ]
Ouve-se a campainha tocar. Raíza sai da cozinha
com uma toalha nas mãos.
RAÍZA: Deixa que eu atenda!
Olha
pelo olho-mágico, sorri. Avança a mão na maçaneta e abre. Cael sorri um sorriso
fechado e sem graça.
CAEL: Bom dia, Raíza... (ele dá uma
olhada para a sala)
Raíza
olha pra trás e vê Ari e Bruno à soleira da cozinha.
CAEL (cont.): Bom dia! Vim saber
como vocês estão...Depois de ontem.
Raíza
se afasta e faz um gesto pra ele entrar. Fecha a porta calmamente.
RAÍZA: Bem... Sobrevivemos.
Cael
faz menção pra falar, hesita e Raíza se adianta.
RAÍZA: Não quer sentar?
CAEL: Ah...
Ele
senta ainda com ar hesitante.
RAÍZA: É sobre o fato de eu saber do
seu cassino?
Cael
hesita mais uma vez.
CAEL: Não quero que você pense
mal...
RAÍZA: Eu já sabia há um bom tempo e
nem por isso mudei minha opinião sobre você.
CAEL: E...Qual a sua opinião sobre
mim?
ARI: As piores possíveis.
Raíza
ri e Cael sorri sem graça.
CAEL (para Raíza): Espirituosa essa
sua amiga, hein.
Ouve-se
a campainha tocar de novo. Raíza torna a olhar pelo olho-mágico e abre.
Johnny,
com uma guitarra e Rafaela sorriem.
ARI: Johnny? Achei que tivesse
ficado magoado por ontem à noite...
O
rapaz olha para Raíza com um sorriso.
JOHNNY: Acho que já me redimi...Um
pouco.
RAFAELA: E como, hein?
Raíza
olha para baixo, sorri e os deixa entrar.
JOHNNY: Vim me despedir (Nisso, Ari
faz uma expressão de desconsolo. O rapaz a abraça) Mas tem uma coisa que fiquei
devendo.
João
e Josué surgem na sala. Este, com um jornal nas mãos, observa primeiro o seu
visual pra depois olhar na cara. Johnny está menos escandaloso, mas não menos
exótico. Traja uma camiseta preta, calça jeans surrada, o mesmo sobretudo e o
mesmo preto dos olhos.
JOSUÉ: Deve tá devendo mesmo (olha o
jornal) Tá economizando nas roupas...
Johnny
finge que não ouve.
JOHNNY: Cantar O dia em que tentei
viver, lembra?
Ari
corre pra sentar e Johnny faz o mesmo.
JOHNNY: Mas antes preciso dizer uma
coisa para Raíza...
Raíza
não entende.
JOHNNY: Quando fiz essa música eu
pensava nas pessoas que só conseguiam criticar e julgar a escolha dos outros em
serem como queriam ser. Pessoas que queriam que eu seguisse um modelo de vida,
sabe?
João
e Josué, de pé, escutam com má vontade.
ARI: O que quer dizer com isso?
Johnny
sorri carinhoso sem o deboche que lhe era habitual.
JOHNNY: É que hoje eu percebo que nem
todo mundo faz isso por preconceito...Mas por gostar muito. Existem pessoas que
todo dia tentam salvar os outros e...Não tem poderes (ele ri e ouve-se risos
também), são pessoas comuns que querem o bem e acabam mal interpretadas.
Ari
se emociona e Raíza também. Olha para Cael ao seu lado que entende aquelas
palavras com um sorriso.
RAÍZA: Não tenho nem o que dizer.
Tocando: Every Day - Stevie Nicks ->
Johnny
e os demais riem, menos João que demonstra não gostar.
Johnny
abraça Raíza e ela, meio sem graça com a situação, disfarça e levanta.
RAÍZA: Antes que a gente comece a
chorar, vou buscar café pra vocês.
Todos
riem, menos João que insiste naquela cara de quem comeu e não gostou.
Johnny
se posiciona feito uma estrela do rock que é e a primeira nota é tocada. João
ouve com cara de cansado.
A
música dele é abafada pela música de fundo.
Raíza
vai até a...
COZINHA...
Ari
entra em seguida. Raíza abre a porta do armário e pega 4 xícaras. Põe na mesa.
Em seguida, pega mais 4.
ARI (voz baixa): Agora você pensa
diferente depois que ele te salvou?
Raíza
põe as xícaras na mesa e olha pela janela o rapaz cantar.
RAÍZA: Me salvou...Estranho não?
ARI: Levando em conta que esse tem
sido o seu papel ‘né’...
RAÍZA: É verdade, mas...Heróis podem
existir e...Não precisam de poderes...E podem ser até bem estranhos...
Ari
ri.
ARI: ‘Cê’ me desculpa por ontem?
Eu não queria ter falado aquilo...
Raíza
se aproxima dela, sorrindo, meiga.
RAÍZA: Você só falou a verdade. Às
vezes eu faço as coisas sem me dar conta que posso estar impedindo a caminhada
dos outros. E acho que é o que eu tenho feito ultimamente...
ARI: Não. Você só quer ajudar.
Como disse Cael: Você é uma garota muito especial.
As
duas riem e se abraçam.
Raíza,
com o rosto sobre seu ombro, olha para o rapaz através da abertura.
RAÍZA (em OFF): É, Johnny salvou
minha vida...(a cena volta a mostrar seu rosto e vai girando) Se eu tivesse
previsto certamente eu não ia acreditar...
A
cena vai intercalando entre as duas e mostrando o pensamento de cada uma.
ARI (em OFF): É, Johnny salvou a
vida dela...Acho que nem se ela previsse ia acreditar...(sorri) Com isso, acho
que ela descobriu que não pode salvar a vida de todo mundo...
RAÍZA (em OFF): Não posso salvar a
vida de todo mundo...É pensando nos outros que as coisas acontecem comigo...Mas
eu bem que tento...Tento...
ARI (em OFF): E não consegue ser diferente...Acho
que essa música devia ser pra ela. Afinal, ontem, como todos esses dias, foi o
dia em que ela tentou viver...
RAÍZA (em OFF): ...Em paz. (sorri).
FADE
OUT
=
= Music Off = =
FIM DO EPISÓDIO
Autora:
Cristina Ravela
Elenco:
Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Ari (Nathália Dill)
Dcr (Aaron Ashmore)
Valentina (Alinne Moraes)
Cipriano (Thiago Rodrigues)
Participação Especial:
Johnny Land (Jared Leto)
* Da minissérie O Dia Em Que Tentei Viver (Tina Black Rose)
Trilha Sonora:
Every Day – Stevie Nicks
Produção:
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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