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RAÍZA SÉRIE
30:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA
Série de
Cristina Ravela
Episódio 15 de 20
© 2009, WEBTV.
Todos os direitos reservados.
Todos os direitos reservados.
FADE IN
= Music On - Suspense =
CENA 1 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT./NOITE]
A
cena mostra o quintal do edifício visto de cima.
Corta para o portão de entrada e vemos apenas
os pés de um homem. Vira-se e pára. Close no chão de frente para ele onde há um
chaveiro em forma de 'R'. Ele pega e pelo seu ponto de vista ele olha para o
lado esquerdo do prédio. Caminha até lá calmamente.
O
corredor é escuro e estreito. A mão desse alguém afasta um galho de planta da
sua frente.
Adiante
há uma garota de costas. O sujeito espreita-se pelas paredes e de repente,
ouvimos um barulho. Olha para baixo e ele levanta a sola revelando uma pedra.
Quando torna a olhar pra frente, a tal garota vira avançando com um cabo de
vassoura. É Raíza.
= Music Off =
FADE OUT
1X15 ATAQUE
FADE IN
CENA 2 HDM CONSTRUTORA
[INT./MANHÃ DO MESMO DIA]
Ouvimos alguém bater na porta e em seguida,
Bruno entra com um papel na mão.
BRUNO: Com licença (ele fecha a
porta) Vim trazer os custos do novo empreendimento... (se aproxima da mesa).
O
escritório é arejado, janela de persiana branca, pisos caramelos, mesa, móveis
e poltronas pretas. Dois quadros de pintura colorida e intensa enfeitam a sala.
A
cadeira atrás da mesa vira-se e Marco esboça um sorriso irônico. Bruno não
esconde a surpresa. Ele vê uma placa na mesa escrita ‘Marco Bedlin –
Administrador’.
MARCO: Espero que não esteja
desapontado.
Bruno
faz aquela cara como se admirasse a ousadia da pergunta.
BRUNO: Surpreso, apenas. Seremos
colegas de trabalho.
Marco
levanta e dá a mão.
MARCO (irônico): Será um prazer
trabalhar contigo.
Bruno
olha para a mão estendida e para o dono dela. Se mostra arredio, mas acaba por
apertar sua mão e rapidamente soltá-la.
BRUNO: Eu só vim trazer isso.
E
põe a folha sobre a mesa e sai.
Marco
olha para a própria mão, devagar vai abaixando-a com uma expressão nada
amistosa.
CORTA
PARA
CENA 3 LAN-HOUSE - FACHADA [MANHÃ]
[INT.]
A cena mostra a tela do computador com uma
página aberta no blog ‘Dirce me Disse’. Há um vídeo sendo carregado.
RAÍZA (V.O): Vamos ver quem será a
próxima vítima.
ARI (V.O): Olha só isso: ‘Colabore
você também!’ pelo visto ela não tá sozinha.
RAÍZA: É a máfia dos blogs.
As
duas riem.
O
vídeo é exibido. Ambiente de muitas luzes, lembra uma casa noturna. Música alta
e pessoas dançando. No meio delas, close em Raíza.
[vídeo]
RAÍZA (entre dentes): Será que você
pode falar só com a boca? Não precisa ficar me tocando!
Ela
se solta bruscamente, se desequilibra e cai nos braços de Cael.
A
moça o olha fixamente.
CAEL: Posso saber o que tá havendo
aqui?
[Raíza
olha o vídeo, estarrecida]
Tudo
que aconteceu na festa de Cael ali, exposto pra todo mundo ver.
RAÍZA: Não tô acreditando...(ela
pára a exibição e clica em links antigos).
[P.O.V
de Raíza]
Ela
clica no link do mês de fevereiro. Um vídeo carrega e abre exibindo novamente a
casa noturna.
RAÍZA: Não pode ser...Isso foi na
festa à fantasia!...
Ari
observa tão assustada quanto a amiga.
RAÍZA: Isso não pode tá acontecendo,
Ari. Tem alguém interessado na minha vida.
As duas se olham, assustadas.
FADE OUT
FADE IN
CENA 4
LAN-HOUSE [EXT./MANHÃ]
Ari e Raíza saem da Lan e caminham até a calçada. Raíza olha
para os lados e as duas andam para atravessar.
ARI: ‘Cê’ podia falar com o Dcr;
De repente ele descobre de onde essa Dirce anda publicando esse blog.
RAÍZA: E o que importa? Meio milhão
de gente já deve ter visto...
Ela
pára, de repente, assustada.
Raíza
avança o braço direito no estômago de Ari fazendo-a parar também. Um carro
preto passa a sua frente, devagar, estranhamente, devagar. Não é possível ver
quem está dentro devido ao insulfilm.
Ari
não entende nada. Raíza puxa Ari até a calçada oposta.
RAÍZA: ‘Cê’ viu isso Ari? De onde
surgiu aquele carro?
Ari
olha para trás e não vê nada.
ARI: Do que você tá falando,
Raíza? Por que ficamos paradas no meio da rua?
RAÍZA: Ai Ari! Aquele carro (ela
aponta para o nada, na direção para onde o carro parecia ter ido) O carro preto
que quase nos pegou!
ARI: Não vi nada, Raíza. Nenhum
carro passou por aqui agora.
RAÍZA: Isso não é possível, Ari. Eu
vi! Eu vi!
A
expressão dela é de certeza.
CORTA
PARA
CENA 5 MANSÃO – FACHADA [MANHÃ]
[INT.]
Alguém acaricia um mini frasco, líquido na cor magenta,
do lado de fora de uma bolsa.
LARA (V.O): Valentina?
Valentina
guarda o frasco na bolsa e a fecha, rapidamente. Ajeita os longos cabelos para
disfarçar.
VALENTINA (sorriso largo): Ah, como vai,
dona Lara? Eu tô esperando por Cael...
Lara
contorna o sofá.
LARA: Não podia ser por mim, não é?
(ela senta no outro sofá) Como anda seu relacionamento com ele? É pra casar
mesmo?
VALENTINA: O que depender de mim...
LARA: Nunca entendi por que você
preferiu o Cael ao Marco...
CAEL (V.O): Ela ainda tem bom
gosto, mãe...
Cael
está parado entre o corredor e a sala, mãos nos bolsos e sorriso fechado.
Caminha até o sofá, leva a mão na cabeça de Valentina e lhe dá um beijo na
boca.
LARA: Parece que a cena que aquela
menina, a...(finge esquecer) A...
CAEL: Raíza.
LARA: Sim. Parece que o que ela fez
outro dia não abalou em nada a relação de vocês, hein.
Valentina
segura a mão de Cael.
VALENTINA: Aquela garota não significa
nada pra gente (ela levanta a cabeça para Cael) Não é, meu amor?
Cael
olha para a mãe, confuso e apenas sorri.
CORTA
PARA
CENA 6 HDM CONSTRUTORA
[INT./MANHÃ]
A cadeira está virada pra janela. E nela está
Marco.
MARCO (V.O): Vamos ver se dessa vez
você acerta. (pausa) É apenas um susto...(sarcástico) Acho que todo mundo devia
levar um pra aprender a não se meter onde não se deve.(pausa) Não, dessa vez eu
quero ver se ela vai se salvar...
A
cadeira vira, Marco está ao celular, segura a caneta de outro.
MARCO: Temos que arrancar o mal pela
Raíz...Za...
E
sorri, um sorriso estremecido, e batendo com a caneta sobre a mesa de forma
irritante...
CORTA
PARA
CENA 7 APTº 403 – COZINHA
[INT./FIM DA MANHÃ]
Bruno
está sentado à mesa, diante do prato de comida. Gira o garfo no prato como se
quisesse arrancá-lo.
Ouvimos
o som de chave na porta da sala. João, diante do fogão, prepara o próprio
prato.
Ari
e Raíza entram na cozinha e esta se surpreende ao ver o pai almoçando.
RAÍZA: O que houve, pai? Nem nos
esperou pra almoçar...
JOÃO: Ele trabalha, Raíza. Não
achou que ele fosse esperar vocês saracotear por aí, ‘né’?
Josué
entra e vai direto pro armário.
JOSUÉ: Ele tá certo, Raíza. Ele tem
serviço assim como eu.
Raíza
olha para Ari não gostando muito. Esforça em ignorar. Bruno larga o garfo no
prato.
BRUNO: Se eu te contar quem é o mais
novo sócio da HDM você não ia acreditar.
RAÍZA (prepara-se para sentar à
mesa): E se não me contar eu não tenho como saber.
JOSUÉ: Raíza, você lavou essas mãos?
Raíza
fita seu tio, levanta em seguida.
RAÍZA: Eu só ia me sentar,
tio...(vira-se pro pai) Então pai? Quem é o novo sócio?
BRUNO: (pausa) Marco...Marco Bedlin.
Raíza
faz uma cara daquelas e se põe na defensiva.
RAÍZA: Ó, toma cuidado, hein! Ele já
roubou o irmão dele e duvido muito que ele pense duas vezes antes de fazer o
mesmo contigo.
JOÃO (põe o prato na mesa e senta):
‘Cê’ andou bebendo, Raíza?...De novo? (todos o olham surpresos e Raíza mais
ainda) Esse cara não roubaria teu pai por que teu pai não é dono e nem sócio de
lá.
Não
se ouve nenhuma reclamação por parte do pai nem pelo tio. Raíza lança um olhar
sério para o primo que não se mostra incomodado. Ao contrário dela que, sem
graça, não consegue nem falar direito com o pai.
RAÍZA: Pai, ele pode estragar com os
seus projetos...Empacar...Sei lá...
JOÃO (se serve de suco): Devia
largar logo esse emprego antes que seja tarde ( se dirige à prima novamente) A
Raíza pode pedir outro emprego pro senhor lá pro Cael...
RAÍZA (soca a mão na mesa,
irritada): Você quer parar com isso, que saco! (todos se assustam) Acha que ele
vai passar a vida ajudando a gente é?
JOÃO: É...Pensando bem... (ele leva
o copo com suco de laranja à boca, dá um gole e pára o copo na mão) Depois do
que ele descobriu sobre o irmão acho até que ele vai querer te cobrar por não
ter dado um fim nele...
BRUNO: Por favor, João! (ele apóia
os cotovelos sobre a mesa) Acha que a Raíza faz as coisas pra ter algo em
troca?
RAÍZA: Deixa, pai. Parece até que
ele não me conhece...O senhor não vai largar esse emprego. Esse infeliz do
Marco vai ter que te engolir!
E
sai da cozinha, apressada. Josué levanta os olhos, surpreso e desconfiado. Ari
nota sua expressão de dúvida quanto a alguma questão dita ali.
CORTA
PARA
CENA 8 ÔNIBUS [INT./INÍCIO DA
TARDE]
A maioria dos passageiros são alunos. De um
lado está Raíza, sentada com olhar pra janela. A pessoa que está ao seu lado
levanta. Ari senta em seu lugar.
ARI: Por que quis pegar ônibus se
você pode ir à pé?
RAÍZA: Não quis ir junto com meu
tio. Inventei que ia numa loja.
ARI: Você...Ficou assim depois que
o seu tio concordou com a grosseria do João?
Raíza
vira pra ela, ar insatisfeita.
RAÍZA: O problema não é sempre
quando ele fala, mas...Quando ele e meu pai se calam.
Ela
se levanta e puxa a cigarra. As duas vão para a porta, o ônibus pára.
ÔNIBUS
[EXT.]
As
duas descem, Raíza ajeita sua bolsa e Ari amarra seus cabelos.
Do
lado oposto, em outro ângulo, Raíza olha aquela rua de quando quase foi
atropelada por Cael. São coisas que ela não consegue esquecer.
ARI: Vamos atravessar? (ela segura
em seu braço e a puxa).
Raíza,
distraída, se deixa ser puxada. Na curva, um carro preto faz uma virada brusca.
RAÍZA (balbucia assustada): Aahn...
Empurra
Ari pra calçada e caem.
ARI: Caraca, Raíza! Isso já não
tinha acontecido? Com você?
Raíza
não consegue responder tamanho o susto.
RAÍZA (em OFF): Tão querendo me
matar...Tão querendo me matar...
Não
seria a primeira vez que teria uma idéia fixa.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 9 COLÉGIO FRANÇA - DIRETORIA [INT./INÍCIO DA TARDE]
Raíza põe a bolsa sobre a mesa e apóia as mãos
nela. Está visivelmente assustada.
RAÍZA: Tio! Eu quase fui atropelada!
Josué
está sentado, de frente com um diário de presença nas mãos.
JOSUÉ (expressão aborrecida): De
novo? Será que você nunca vai aprender, Raíza?
A
garota se espanta com a reação dele.
RAÍZA: Tio, presta atenção: Hoje
cedo eu tive uma visão de um carro quase me pegando...
JOSUÉ: E mesmo assim você não tomou
cuidado? Me diga, pra que serve suas visões se você mal consegue escapar do seu
próprio futuro?
A
garota continua espantada, esboça um riso de incrédula.
RAÍZA: Tio, pelo amor de Deus.
(tentando manter a calma) Eu quase fui atropelada. Entende isso?
A-tro-pe-la-da! Se a Ari fosse pega talvez não tivesse a mesma sorte que eu de
escapar. E ao invés d’eu receber seu apoio o senhor ainda acharia correto eu
ser pega por aí?
JOSUÉ: Não foi isso que eu quis
dizer, não distorça o que eu disse.
RAÍZA (alterada): Não distorcer?
Hoje o João zombou de mim ao insinuar que eu tivesse bebido e o senhor? O que
fez? Concordou com ele.
JOSUÉ: Não, eu não concordei...
RAÍZA: Desde o momento que não falou
nada é por que concordou sim! Se pensou que eu falei uma bobagem quem garante
que não tá pensando a mesma coisa agora? Parece que o senhor ainda não acredita
que posso ver o futuro...
JOSUÉ: O problema (ele levanta
segurando o diário) é que você, às vezes, implica de mais com seu primo, só
isso.
A
garota solta as mãos da mesa, vira o rosto com raiva.
RAÍZA: O problema é que o João
passou dos limites! Tenho medo até que ele tenha a cara de pau de ir pedir um
emprego ao Cael ainda alegando eu ter salvado a vida do irmão dele e dele
próprio na boate!
Josué
abaixa a cabeça, com aquele jeito dele, e desvia o olhar rapidamente. Coça o
rosto, levemente.
JOSUÉ: Ué, Raíza você salvou por que
quis...Ninguém pediu nada...O negócio agora é aguentar as consequências.
A
garota ainda está incrédula pelo o que ouve. Bate com a mão na cadeira.
RAÍZA: Quer saber? Não salvo mais
ninguém nessa vida! Vai que eu salve um assassino e ele mata o João ‘né’? É
capaz d’eu ir presa por omissão de socorro!
JOSUÉ: Raíza, não foi isso que eu
quis dizer...
RAÍZA (alterada): Não, mas isso foi
pra eu aprender a não me meter na vida de mais ninguém. Meu pai é que tinha
razão: O futuro só a Deus pertence! Eu não quero mais saber do futuro de mais
ninguém!
E sai batendo a porta.
Em
seguida, com a mão direita na maçaneta, o cenário é outro. Cenário escuro. O
vento bate em seus cabelos.
Há
um prédio do seu lado e um muro do outro. A garota olha para a mão direita e vê
que segura um pequeno cabo de vassoura cortado. Nota-se que está com medo.
Ouvimos um barulho, ela se volta tão assustada
que esmurra com o cabo da vassoura ao léu.
Depara-se
com o primo sendo golpeado por alguma coisa. Ela olha atenta a cena, João cai e
Cipriano surge a sua frente.
CIPRIANO: Raíza? Tudo bem?
Raíza
se assusta, o cenário é o corredor do colégio. Ela se dá conta que segura a
maçaneta da porta, ainda.
Os
dois se fitam.
CORTA
PARA
CENA 10 COLÉGIO FRANÇA - PÁTIO [INT./TARDE]
Raíza
e Cipriano estão próximos à janela que dá no corredor.
RAÍZA: Então, Cipriano? Você já teve
que salvar alguém?
Cipriano
faz uma cara de bom conselheiro.
CIPRIANO (falso): Todos os dias
salvamos vidas, Raíza. Quando a gente escuta o próximo, quando damos um
conselho e até quando sorrimos.
RAÍZA: Tá, mas eu falo de evitar um
acidente, uma morte...Acha que devemos fazer tudo que está ao nosso alcance?
CIPRIANO: Pergunte a si mesma se todas
as pessoas que você ajudou até agora valeram a pena?
A
garota suspira.
RAÍZA: Nem todas...
CIPRIANO: E algumas delas até te deram
as costas, não é mesmo? Me diz se vale a pena dedicar seu tempo para elas? Você
acaba se esquecendo da sua própria vida.
RAÍZA: É que... (ela faz que vai
dizer a verdade, mas se contém) Ahn...Eu...Eu acho que se eu vejo alguém em
perigo não posso fingir que nada tá acontecendo.
CIPRIANO: Você tem que ter cuidado pra
não pôr seu segredo em risco...( ele tenta tocar o terror nas idéias da moça)
Se não será muito cobrada...
RAÍZA: Cobrada? Você acha que as
pessoas exigiriam que eu salve as pessoas?
CIPRIANO: Por que não? Passariam a te
culpar quando algo de ruim acontecesse. Como aqueles que dizem prever o
futuro...
RAÍZA (gagueja): Fu-futuro?
CIPRIANO: Sim, o futuro. Se a pessoa
erra a previsão ou não diz tudo que vai acontecer por uma questão de bom senso,
podem ser até mortos...
Raíza
arregala os olhos. Esboça medo, fricciona o pulso sobre a calça, disfarça.
RAÍZA: Talvez fosse melhor ignorar
meus poderes...
CIPRIANO: Ignorar o que lhe salvou?
(pausa) Não dá pra ignorar que você é especial. Aliás, a cruz revela um poder
oculto a quem dela faz uso...Você sabe...Não sabe?
RAÍZA: NÃO!...(gagueja) Que-quero
dizer, que poderes ocultos? Do que fala?
CIPRIANO: Nem eu sei. Eu queria saber.
Mas só sei que são poderes que lhe trarão muita responsabilidade...Talvez, algo
que traga angústia e, ao mesmo tempo, satisfação.
RAÍZA (em OFF): Será que esse tal
poder oculto seria o futuro?...
CIPRIANO: Não os ignore. Mas também não
os deixe de usar pra você mesma. Você não pode evitar o futuro dos outros
sempre e...(Raíza dá uma olhada pra ele, tensa) Às vezes, a pessoa precisa
passar por certas coisas para mudar o jeito de pensar...
A cena mostra os dois de lado. De frente, Josué
os observa pela janela, atento.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 11 COLÉGIO FRANÇA – CORREDOR
[INT./INÍCIO DA NOITE]
Os alunos descem as escadas e entre eles está
Raíza. Atravessa o corredor e olha para a porta da diretoria.
RAÍZA (em OFF): Eu que não vou
esperar pelo meu tio...
GAROTA: Professor chato esse de
matemática ‘né’?
Raíza
olha pra garota e em seguida, para a porta. Ela é aberta, Raíza puxa a garota e
as duas saem.
[EXT.]
GAROTA: O que houve?
RAÍZA: Ahn...Tô com pressa...Olha a
hora!
GAROTA: Por isso que digo: ô professor
mala esse de matemática. Sempre nos largando tarde.
As
duas riem.
Adiante,
há um carro preto estacionado fora da calçada.
CARRO
[INT.]
O dedo de um homem bate nervosamente sobre o
volante. Pelo retrovisor, olhos franzinos observam a saída dos alunos.
COLÉGIO
FRANÇA [EXT.]
Raíza e a tal garota caminham até a estrada e
lá se dispersam.
RAÍZA: Tchau Helana!
HELANA: Tchau! Vai com cuidado, hein!
Raíza
atravessa e caminha apressando os passos. De repente, ela olha para trás
estranhando algo. Torna a caminhar.
=
Music On - Suspense =
A
estrada está vazia de repente, estranhamente vazia. O carro preto vem atrás.
Raíza olha para trás e a luz projeta em seu rosto, ela desvia e a luz se apaga.
CARRO
[INT.]
[POV
do motorista]
Ele
vê Raíza apressar o passo, olhar para trás com ar desconfiada. Ela corre.
CARRO
[EXT.]
O
carro acelera e a garota acaba mudando de rumo, desesperada. Diante daquelas
luzes das ruas, Raíza não tem coragem de ficar invisível. A rua por onde entra
está mais vazia que a anterior. Não se ouve nenhum som além da aproximação
daquele carro.
Raíza
abre a bolsa, apanha o celular e disca. Olha para trás.
RAÍZA: João? João, pelo amor de
Deus! Tô sendo seguida! (pausa) Eu...Eu não sei que rua é essa! Não sei!
(pausa) É um carro, o carro está na minha cola!
Acaba
tropeçando, cai na calçada de um viaduto, seu celular desliza adiante.
O carro pára. Um rapaz sai dele trajando um
sobretudo marrom, capuz preto. Anda na direção da garota e saca, de dentro da
roupa, uma arma.
Ele
olha de cima Raíza caída no chão, olhando para ele, temerosa. A garota rasteja
para trás enquanto o rapaz aponta-lhe o revólver.
RAÍZA: O que você quer de mim? (
indaga, nervosa, com uma daquelas perguntas fora de hora)
O
rapaz nada responde. Engatilha e continua a mirar.
INSERT
– arma
[efeito câmera lenta] O dedo do sujeito desliza
pelo gatilho, aperta, a bala sai e segue a trajetória.
VOLTA
À CENA
Raíza,
tensa fecha os olhos forçando uma concentração.
Quando
a bala chega perto [FIM do efeito câmera lenta] Raíza desaparece e a bala
atravessa o nada.
O
sujeito se espanta e pelas suas costas está Raíza, de pé.
RAÍZA: Quem te mandou aqui?
O
sujeito se volta, sobressaltado e aponta novamente a arma.
HOMEM: Como é que ‘cê’ fez isso,
garota? Como é que ‘cê’ fez isso?
Foi
a vez dela de não responder. Aquele silêncio irrita o rapaz de olhar aceso.
HOMEM: De uma você escapou, mas dessa
aqui...
Mais
uma vez ela some e reaparece pelas suas costas. Sua expressão é de medo e
dúvida, talvez por ainda estar ali e não sumir de vez.
Quando
o sujeito se volta, Raíza, tomada por um desespero, aperta seu braço e o ergue
até que ele atira pro alto. Ela aperta tanto que ele deixa a arma cair.
HOMEM: ‘Tu’ tá me machucando! Me
solta! Me solta! (ele trinca os dentes tentando medir forças com ela)
Ele
dá um grito de dor, escorre lágrimas de seus olhos e seu rosto já não cabia de
tanta ruga de expressão.
HOMEM: PÁRA! PÁRA! ASSIM ‘TU’ VAI
ARRANCAR MEU BRAÇO!
Raíza
não diz nada, apenas o olha fixo de um jeito descontrolado.
Os
olhos do rapaz expressam dor.
Raíza
lhe dá um empurrão e o sujeito, cai no chão. Vai se rastejando, para o meio da
pista, de costas com os cotovelos. Assustado, mescla horror e desorientação.
HOMEM (balbucia, espantosamente):
Não me mate!...Não me mate...
Tenta
se levantar quando não vê o menor sinal de que aquela garota fosse exterminá-lo
ali.
O
som de um carro se aproxima na curva, o sujeito olha assustado e a luz projeta
forte em suas vistas.
Não
há tempo. O carro o atropela.
Raíza
leva um susto, mas ao vê-lo estirado no asfalto trata de apanhar seu celular e
sumir dali.
= Music Off =
FADE OUT
FADE IN
CENA 12 ED. CIRANDA DE PEDRA
[EXT./NOITE]
Raíza chega do portão, espavorida. Pára para
respirar melhor.
De
repente, olha para o lado esquerdo do quintal, desconfiada. Caminha até lá.
INSERT
– bolsa
Um
chaveiro em forma de ‘R’ cai.
VOLTA
À CENA
Raíza
adentra aquele breu, sorrateiramente desconfiada de que alguém, talvez,
estivesse ali. Sua curiosidade é maior que o medo.
ED.
CIRANDA DE PEDRA – PORTARIA [EXT.]
João desce a escada e vai até o portão.
JOÃO: Onde será que essa garota se
meteu que nem celular ela atende?
POV
de João
A
rua está calma.
Olha o relógio, se volta e vê um chaveiro com a
letra “R” no chão. Abaixa-se e pega. Analisa e logo olha para o lado esquerdo
do prédio.
Em
primeiro plano, caminha até lá, corredor escuro. Adiante está Raíza de costas.
Espreita-se pelas paredes, ouvimos um barulho. João olha para baixo e levanta a
sola revelando uma pedra.
Raíza,
tensa, rapidamente pega um cabo de vassoura, segura firme e se volta esmurrando
ao léu.
Surpresa
vê algo golpeando o primo na cabeça.
RAÍZA (assustada): João!
A
tela se fecha num baque.
FADE
IN
CENA 13 HOSPITAL – FACHADA
[EXT./NOITE]
[INT.]
João está deitado na cama, consciente diante
dos tios. Expressa dor e põe a mão na cabeça.
JOÃO: É como eu ‘tava’ dizendo. A
Raíza me ligou dizendo que ‘tava’ sendo seguida por um carro...
JOSUÉ: De novo essa história do
carro. Ela fica dando mole, isso que dá.
BRUNO (surpreso): Josué!
JOÃO (falso): Aí eu fiquei
preocupado e desci pra esperá-la já que se depender de ligar pra ela, ‘né’?
BRUNO: Hã, e o que mais?
JOÃO: Foi quando eu encontrei o
chaveiro dela jogado no chão...Segui a direção em que ele ‘tava’ e vi a
Raíza...Parada naquele breu. Ela se assustou e voltou com o cabo de vassoura...
JOSUÉ: Ela te deu um golpe? Foi ela?
JOÃO: Não...Não sei (finge
confusão) na hora pisei numa pedra, me distraí...
Josué
dá as costas, inconformado e torna a olhar pra ele.
JOSUÉ (crédulo): Eu não tô
acreditando nisso.
JOÃO (falsa complacência): Quem
sabe ela não achou que fosse outra pessoa?
JOSUÉ: Muito estranho. Ela liga
avisando que está sendo seguida depois de ter reclamado de você pra mim, daí
ela some, deixa cair um chaveiro no quintal...Parece até armadilha...
Bruno,
espantado com tal insinuação, tenta falar, mas João se adianta.
JOÃO: Será que ela não andou
tomando...Ai eu não devia ter brincado com ela essa manhã...
JOSUÉ (irritado): Você tá
justificando as atitudes de sua prima?
BRUNO: Peraí gente! Raíza não é
viciada e tampouco assassina. Vocês estão falando da minha filha!
JOSUÉ: ‘Cê’ vai me desculpar Bruno,
mas ela não é mais a mesma desde que voltou...Desde que...Desde que voltou,
‘cê’ sabe...
A porta é aberta e Raíza adentra o quarto. Pára diante daqueles
olhares. O clima não está muito bom e João disfarça um sorriso estremecido nos
lábios.
CORTA
PARA
CENA 14 CASA DE VALENTINA
[INT./NOITE]
A cena adentra um corredor, ouvimos som de
talheres. Na sala de jantar, Valentina e Cael estão sentados um de frente pro
outro.
Cael
limpa a boca no guardanapo olhando para a namorada.
CAEL: Eu já tinha me esquecido como
é jantar aqui.
VALENTINA: Não farei você esquecer mais,
certo?
Ele
sorri, levanta e cambaleia.
VALENTINA (falsa): O que foi? Se sente
mal?
Ele
puxa a gola da camisa azul para um lado e faz uma expressão de calor.
CAEL: Acho que essa comida estava
um pouco quente...
Ele
caminha até a janela, deixa o ar tocar seu rosto. Valentina surge por trás
tocando seus ombros. A expressão dele é de prazer.
VALENTINA: Você está tenso, meu
amor...(ela massageia seus ombros) Tente relaxar.
Ela
o aperta e o abraça. Cael se vira e Valentina o beija na boca, devagar.
CAEL (murmura): Eu...Eu tô com
muito calor...Essa comida...
Ela
o pega pelo braço.
VALENTINA: Vem comigo. Você tá
precisando relaxar...
QUARTO...
Os dois entram se beijando, arrancando a roupa
um do outro e caem na cama.
Cael
pára, em cima dela e a olha estranhamente. Ao invés de Valentina, vê Raíza.
Respiração ofegante, Cael torna a beijá-la.
CORTA
PARA
CENA 15 HOSPITAL [EXT./NOITE]
QUARTO
[INT.]
Raíza está de frente pra cama onde João mantém
um olhar acusador pra ela. Josué e Bruno estão, cada um de um lado da cama.
RAÍZA: Gente, Eu juro por Deus! Eu
não fiz nada!
JOSUÉ (tom acusador): Então quem
foi, Raíza? O João garante que só havia vocês dois lá.
RAÍZA: Olha eu vi alguma coisa
golpeá-lo, parecia invisível que nem aquela vez que eu caí do barranco, lembra?
JOSUÉ: E por que você estava com um
cabo de vassoura nas mãos? Quem estava atrás de você?
A
garota faz uma pausa profunda, olha para o pai que tem uma expressão de que
acredita nela.
RAÍZA: Eu fui perseguida, tio!
Tentaram me matar! Daí achei que havia mais alguém que tivesse vindo atrás de
mim.
BRUNO (se aproxima, preocupado): Que
isso, filha? Como assim? Te fizeram alguma coisa?
A
notícia não causa espanto algum para Josué.
JOSUÉ: E você foi num beco escuro se
certificar de que não havia ninguém mais atrás de você? (João esconde um riso)
Depois esmurrou seu primo pensando ser o seu agressor, é isso?
RAÍZA (se altera): Eu já disse que
não!
JOÃO: Raíza eu vou entender se você
disser que agiu sem pensar.
RAÍZA (raiva): Vocês não têm nada
pra entender por que eu não fiz nada! Será que vou pagar pelo resto da minha
vida o escândalo que fiz na boate?
JOÃO: Depois daquela, não duvido de
mais nada...
BRUNO: Pára com isso, João! (pausa.
Olha para Josué) Ela também sofreu um atentado. Será que dá pra parar com as acusações?
Raíza
vira, põe as mãos no quadril.
JOSUÉ: Ninguém aqui tá acusando
ninguém, Bruno (Josué mantém uma calma irritante até o último fio da barba) O
João só afirmou o que viu.
A
garota se volta rindo, nervosa.
RAÍZA: Agora é assim. Tudo que ele
afirma é lei!
JOSUÉ: Não foi bem isso que eu quis
dizer...
RAÍZA: Esse é o problema! Nada que o
senhor diz é exatamente o que o senhor queria dizer. Será que isso só vale pra
mim?
JOSUÉ (ignora): E o que você quer
que eu diga? Que você não esmurrou seu primo? Mesmo sem querer? Que ele está
mentindo?
Raíza
o encara com um cansaço nítido no olhar manchado de vermelho depois da noite
que teve.
RAÍZA (série e firme): Não...Eu só
queria que o senhor perguntasse se eu to bem...
Ela
dá as costas e sai quase batendo a porta. Bruno vai atrás.
João
deixa esboçar um sorriso.
CORREDOR...
Bruno pára a filha e ela se volta, revoltada.
BRUNO: Você viu o futuro de novo,
num é? Viu que o João seria atacado?
RAÍZA: O que adianta isso agora? Ele
foi atacado e eu também.
Bruno
toca seu rosto e seus ombros com ar preocupado.
BRUNO: Foi tentativa de assalto? Te
fizeram alguma coisa?
RAÍZA: Não, pai, não. Parece que
aquele lá foi encomendado pra me matar...
JOSUÉ (O.S): O estranho (Josué
aparece) É que você tenha visto o futuro do seu primo e nem pôde evitar o
próprio...Você viu o que ia te acontecer?
A garota não esconde o semblante de raiva pelo
tio duvidar dela.
RAÍZA: Talvez por me preocupar
demais com o futuro dos outros, eu acabo me esquecendo de cuidar do meu.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 16 CASA DE VALENTINA – QUARTO [INT./NOITE]
A cena mostra roupas espalhadas pelo chão,
sapatos, as pernas do casal na cama.
Valentina
está com o cigarro na boca, acende, sob a luz do abajur. Cael olha para o teto
com o braço direito por trás da cabeça.
CAEL: Eu pensei que você soubesse
que eu não fumo.
Valentina
tira o cigarro da boca e olha para ele.
VALENTINA: Desculpe. (ela apaga o
cigarro no cinzeiro e se volta) Foi só pra relaxar...
Ela
acaricia o peito do namorado jogando os cabelos de um lado do ombro.
VALENTINA: Espero que essa noite se
repita muitas vezes, hein...
Cael
se deixa ser beijado no rosto enquanto olha para o lado, de olhar perdido.
CORTA
PARA
CENA 17 HOSPITAL [EXT./NOITE]
CORREDOR
[INT.]
Marco
caminha, procurando alguém ou alguma coisa. Depara-se com Josué e Bruno na sala
de espera. Sorri de forma temerosa e ao mesmo tempo, cheio de esperança.
SALA
DE ESPERA...
MARCO: Bruno? Josué? (ele
cumprimenta com a mão na maior cara de pau) Aconteceu alguma coisa com a Raíza?
RAÍZA (O.S): E deveria ter
acontecido?
Marco
vira-se e vê Raíza, mãos na cintura, expressão de ataque.
MARCO: Desculpe. Eu só fiquei
preocupado...
Raíza
fixa os olhos nele.
RAÍZA: Nota-se...
Marco
se mostra calmo, mãos nos bolsos da calça e vira o rosto para o lado de Bruno e
Josué.
MARCO: Mas então? Aconteceu alguma
coisa?
RAÍZA: O João...Sofreu um...Pequeno
acidente.
JOSUÉ: Pequeno por que não foi
contigo, ‘né’?
Bruno
o cutuca.
MARCO: Espero que não seja grave...
Ele
sorri para a garota e vai saindo enquanto a encara. Raíza o segue com os olhos
e fecha a boca fazendo movimentos de quem quer falar e não pode. Seus olhos
lacrimejam e não é de tristeza...É de ódio.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 18 HOSPITAL – QUARTO [INT.]
A porta é aberta de repente e Raíza entra,
fecha a porta e caminha até a beirada da cama.
RAÍZA: Agora você vai me dizer o que
tá havendo.
João
mantém aquele semblante de vítima, irritantemente falso e a olha com medo.
RAÍZA: Não se preocupe; Eu não vim
terminar o que você supõe eu ter começado.
JOÃO: Ó eu nem falei nada e você já
vem na defensiva.
A
garota fecha a mão e vai na direção dele. Porém, se controla.
RAÍZA: Você me acusou de tentar te
matar! O que há contigo? O que eu te fiz?
JOÃO: Esse é o problema. Você não
faz! Enquanto até o Marco é salvo por você eu sou agredido. EU! Seu primo!
Ela
dá as costas, põe as mãos por dentro dos bolsos.
RAÍZA: Pára de me lembrar daquele
dia infeliz! Qualquer coisa já é motivo pra ‘tu’ meter ele no meio!
JOÃO: Tudo bem. Vamos falar de nós.
Você ‘tava’ lá e nada fez pra evitar o que aconteceu.
Raíza
põe as mãos na cabeça e comprime o rosto.
RAÍZA: Mas será possível? Você sabe
que pela distância não fui eu quem te golpeou, não fui eu!
JOÃO: E quem acredita em papai
Noel?
Raíza
desmonta, surpresa e não diz nada.
CORTA
PARA
CENA 19 CASA Nº 77 – SALA [INT./NOITE]
CIPRIANO (O.S): Fez um bom trabalho.
Não poderia ter se saído melhor.
Ele
está de costas para um bar e vira-se, olha para Camilo com cara de arrependido.
CAMILO: Pensei que a Raíza ter estado
lá fosse obra sua.
CIPRIANO (dois copos nas mãos): Não sei
o que ela faz, mas sempre aparece na hora certa...
CAMILO: E se o João tivesse morrido?
Cipriano
estende um copo para ele e, Camilo, pega.
CIPRIANO: Seria um a menos (ele toma um
gole) Mas ele ainda tem proveito.
CORTA
PARA
CENA 20 HOSPITAL
[EXT./MANHÃ]
CORREDOR [INT.]
Raíza e Ari chegam em passos rápidos e Raíza
para de repente.
ARI: O que houve?
RAÍZA: Eu acho que eu não devia
estar aqui.
Ari
se aproxima e suspira.
ARI: Vai vê ele nem sabe por que
falou aquelas coisas...
Raíza
aponta-lhe o dedo, objetiva.
RAÍZA: É nisso que o João quis que
eu acreditasse quando ele afrouxou o ferro daquela sacada para eu cair. Como
fui burra de ter relevado...
ARI: Raíza, vocês ficaram perdidos
no tempo, acordaram quatro anos depois... A mente dele deve estar confusa.
RAÍZA: Ele não parecia confuso na
última conversa que tivemos...(ela olha pra qualquer lado) A gente não acredita
que um parente vai tentar contra nós...Acho que eu não quis aceitar o que tava
claro e agora não posso fingir que tenho um primo em quem posso contar.
Ari
toca seu ombro num gesto complacente.
Raíza
olha adiante e Ari faz o mesmo.
João
sai do quarto acompanhado de Bruno e Josué.
Marco
chega por trás das garotas, ao mesmo tempo e, com aquele sorrisinho sacana, se
dirige a todos.
MARCO: Olá, bom dia! (se dirige a
João) Pelo visto já está melhor.
JOÃO: Nada como um dia após o
outro.
Marco
sorri e quando olha pra Raíza, semblante fechado, ele fecha o sorriso.
MARCO: Espero que esteja tudo bem
com você mesmo.
JOÃO: Obrigado.
RAÍZA (indignada): Você ainda
agradece, João? (Ari tenta apertar seu braço, em vão) Ele lá espera que esteja
tudo bem contigo! Ele deve tá pouco se lixando!
JOÃO (rebate): E você tá?
Raíza
se cala, deixa João e seus tios passarem enquanto olha de soslaio para a
direção deles.
Marco, por sua vez, com os braços voltados para
trás, não faz o menor sinal de abalo. Aproxima por suas costas.
MARCO: Sei que você não deve ter
tido um bom dia ontem. Vou relevar. Você deve estar...Nervosa.
Ele
sai deixando-a morder os lábios de raiva.
RAÍZA: A vontade que tenho...
(resmunga) Ele tinha que levar uma bifa!
ARI (cochicha): Controle sua
raiva, Raíza. Imagine o estrago que seria se você usasse sua raiva junto com
seus poderes?
Raíza
lhe dá uma olhada, temerosa.
Tocando: Teardrop – Massive Attack ->
RAÍZA: Talvez... Eu já os tenha
usado...
FUSÃO
PARA
CENA 21 QUARTO [INT.]
Close
no aparelho cardíaco. Ouvimos seu som.
A
cena mostra Matias deitado na cama e respirando através de aparelhos.
MARCO (V.O): Como ele está?
MÉDICO (V.O): Muito mal. Além de
fraturar a coluna, seu braço quase foi quebrado...A pessoa que fez isso devia
estar com muita raiva.
QUARTO
[EXT]
Os dois estão olhando o paciente pelo vidro. O
médico segura um prontuário nas mãos.
MARCO: Como assim?
MÉDICO: Humm...O motorista disse que
antes de desmaiar, o rapaz balbuciou ‘Não me mate’. E tinha uma expressão
perturbada.
Marco
faz cara de quem sabe o que pode ter acontecido.
MARCO: Será que...
MÉDICO: Sabe de algo?
MARCO (inventa): Ahn...É que quando
ele trabalhava pra mim ele tinha o costume de falar sozinho...Falava alto,
brigava e quando ele me via dizia que estava nervoso...Sempre achei normal, mas
depois dessa...
MÉDICO: Ele não tem ninguém da
família?
MARCO: Ninguém...
O
médico olha o prontuário, cabisbaixo.
MÉDICO: Então você acha que ele tem
problemas...?
MARCO (semblante calmo): Eu não acho
nada; O doutor é quem tem que achar alguma coisa.
O
médico torna a olhar para o quarto, olha o prontuário e anda sem tirar os olhos
da prancheta.
MARCO: Já tem uma opinião?
O
doutor se volta, o encara penalizado como se pensasse que Marco fosse se
importar.
MÉDICO: Me procure mais tarde para eu
lhe indicar uma clínica psiquiátrica para ele...
O
doutor dá as costas e Marco se vira para o lado do vidro.
Close
no rosto dele, sorriso cínico.
FADE
TO BLACK
FIM DO EPISÓDIO
Autora:
Cristina Ravela
Elenco:
Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Ari (Nathália Dill)
Valentina (Alinne Moraes)
Cipriano (Thiago Rodrigues)
Participação Especial:
Lara (Jane Saymour)
Helana (Ariela Massoti)
Matias (Ângelo Paes Leme)
Médico (Mateus Solano)
Trilha Sonora:
Teardrop – Massive Attack
Produção:
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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