0:00 min
RAÍZA SÉRIE
30:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA
Série de
Cristina Ravela
Episódio 14 de 20
© 2009, WEBTV.
Todos os direitos reservados.
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FADE IN
FLASH
FORWARD
CENA
1
L.A
HOUSE [EXT./NOITE]
[Legenda:
21
de Março: 20:40 hs]
Há uma
movimentação na entrada da boate.
[INT.]
Tocando:
Lose
Control
– Evanescence
->
No meio de
tanta gente, tanta luz piscando, ouvimos o som de uma garrafa se
quebrar. As pessoas olham, assustadas.
RAÍZA
(O.S): NÃO TOQUEM EM MIM! NÃO TOQUEM EM MIM!
Raíza está
curvada,
João
e Valentina, cada um de um lado, a segura. João oculta a prima
quando ela levanta. Há uma garrafa quebrada em sua mão. Ela machuca
o primo no pescoço e derruba os dois sobre um grupo de pessoas.
Seu olhar
aceso, sua expressão desnorteada denuncia um estado nada normal. O
espanto é geral.
MARCO
(deboche): Coitada dela! Ela precisa de ajuda.
Raíza olha
a sua direção com raiva.
RAÍZA:
Ajuda quem vai precisar é você!
E avança
nele tapando sua boca.
CAEL
(a tira de cima de Marco): POR FAVOR, RAÍZA!
A garota se
volta.
Todos a
olham, espantados e outros, com ar de reprovação. Ela vai olhando
cada um e entre eles está Dcr,
Rafaela, Ari e João balançando a cabeça negativamente. As imagens
se entortam a sua frente.
Ela sai
empurrando todo mundo e corre.
[EXT.]
CAEL
(grita): Raíza!
ARI
(grita): Pra onde é que ‘cê’
vai?
Raíza
entra, correndo, dentro de um carro qualquer, bate com a porta.
INSERT –
chave do carro
Ela vira a
chave e liga.
VOLTA À
CENA
Cael corre,
bate na janela, mas ela sai cantando pneus, enfurecida.
ARI
(grita pra Cael): CORRE! CORRE!
Ao mesmo
tempo, Dcr
observa a cena com ar desconfiado.
Cael abre a
porta de um outro carro e alguém põe a mão na janela.
MARCO
(reprovando): O que pensa que vai fazer com o meu carro?
CAEL:
É melhor você tirar essa mão daí.
Cael entra,
bate a porta e sai em disparada.
CARRO –
RAÍZA [INT.]
Raíza está
de olhos arregalados, olhar fixo para frente.
O visor de
velocidade ultrapassa os 120 km/h.
VOLTA À
CENA
CARRO -
RAÍZA [EXT.]
CAEL:
PÁRA ESSE CARRO, RAÍZA!
RAÍZA
(balbucia): Cael...
Raíza olha
para baixo, olha para frente, ouve-se a voz de Cael embaralhar e se
transformar em vozes que ecoam. A expressão de seu rosto é confusa,
põe a mão na cabeça, aturdida.
INSERT –
Freios
Raíza pisa
em tudo que é lado menos nos freios.
RAÍZA:
Eu não consigo frear! Eu não consigo!
Lá
adiante, uma curva. A imagem vai escurecendo deixando-a desesperada.
Até que toda a imagem se torna negra.
TOYOTA
[EXT.]
Cael tenta
emparelhar com o carro onde Raíza está e a vê com o rosto caído
sobre o volante.
CAEL:
RAÍZA!
Cael
desacelera.
Um caminhão
vem pela transversal à direita.
Cael se
desespera.
O carro
onde Raíza está chega na transversal, o caminhão bate, joga o
carro adiante. O carro capota pela estrada.
Cael sai do
carro, deixa a porta aberta e corre. Quando ele vira a rua, pára,
chocado.
FADE OUT
1X14 DESCONTROLE
FADE IN
CENA 2
RUAS
DA CIDADE [MANHÃ]
[Legenda:
21
de Março: 09:00 hs]
A cena
acompanha os passos de alguém calçando tênis azul e branco e
calças compridas.
Caminha até
chegar em frente a um grande portão de madeira. Olha pra cima.
A cena
mostra uma placa: Clínica de Repouso e de Recuperação Novo
Horizonte.
CLÍNICA
NOVO
HORIZONTE – CALÇADA [INT.]
A pessoa
abre uma porta, entra e fecha em seguida. Anda até uma cama baixa,
com colchão fino. Não vê ninguém.
VOZ
MASCULINA:
Pensei que só viesse mais tarde.
Vemos
Daniel com um singelo sorriso.
A cena
mostra Dcr,
em seguida, com um olhar triste.
DCR:
Eu precisava te ver, pai.
CORTE
RÁPIDO
CENA 3
CONT.
Dcr,
de pé, abre uma sacola enquanto o pai, sentado na cama o olha fixo.
DANIEL:
Não deixa eles me darem mais remédio, filho. Eu tô bem, veja!
Dcr
vira-se pra ele com um pacote de biscoito nas mãos.
DCR:
Pai, da última vez que eu estive aqui o senhor atacou violentamente
uma parede como se achasse capaz de derrubá-la!
DANIEL:
Eu queria sair, filho! Mas acho que foi aquele remédio que eles
dão...
DCR:
O remédio é pra te acalmar, não o contrário.
Daniel faz
uma pausa. Olha pra baixo e depois, ao redor do quarto.
Um quarto
pequeno, com uma janela no alto, um frigobar,
armário e um banheiro.
DANIEL:
Eu não preciso de remédio...Eu preciso é sair daqui!
DCR:
O senhor sabe por que está aqui, não sabe?
Daniel
torna a dar uma pausa.
DANIEL:
Eu sei que eu bebia demais, mas...Nem eu sei como tudo aconteceu...De
repente, vim parar aqui.
DCR:
O senhor agrediu minha tia e quase atropelou uma criança. O senhor
‘tava’ irreconhecível, pai! (pausa) Eu trouxe esse biscoito.
Fiquei sabendo que o senhor não tem ido ao refeitório comer.
DANIEL
(pega o pacote): Quando vou sair daqui?
DCR
(senta na cama oposta): Quando o médico lhe der alta.
DANIEL:
O que depender dele eu só saio daqui morto!
DCR:
Pai!
DANIEL:
Mas é verdade, filho. Por conta desses remédios eu ando tendo
pesadelos até com seus amigos, acredita?
Dcr
se levanta e vai até o armário.
DCR
(finge dar importância): Ah é? E...(ele abre o armário) Quem
aparecia nos teus pesadelos?
Daniel põe
a mão na cabeça, coça a testa.
DANIEL:
Sabe aquela garota...A...A...Raíza! Esse é o nome dela ‘né’?
Então, sonhei tê-la visto aqui, certa vez, toda
descabelada...Cheguei a pedir ajuda a ela e nem sei por que...
Dcr
se volta, estranhando.
DCR:
A Raíza? (ele ri, mas contém o riso diante da seriedade do pai) Mas
quando foi isso?
DANIEL:
Ah...Tem tempo. Aquela sua outra amiga ainda estava por aqui...
DCR
(em OFF): Isso é loucura...Ahn,
bem...Vindo dele...Mas como duas pessoas podem sonhar com a mesma
coisa?
CORTA PARA
CENA 4
MANSÃO
– SALA [INT./MANHÃ]
[Legenda:
09:45
hs]
Marco desce
as escadas, de andar cauteloso e olhar atento.
CAEL
(V.O): Discrição sempre foi teu forte?
Marco se
volta, sobressaltado.
MARCO:
Me chamou aqui pra quê? (sarcástico) Será que é pra me convidar
pra sua festa de aniversário?
Cael está
sentado numa poltrona, de costas para onde Marco entrou.
CAEL:
Não seria por gosto, tenha certeza... (ele se levanta e põe as mãos
no bolso)
Mas
pela minha mãe você pode aparecer por lá. Mesmo por que a boate
não é restrita somente a convidados.
MARCO:
Claro! Eu ainda sou sócio...
CAEL:
Até o fim desta noite...
Marco faz
cara de desentendido.
MARCO:
O que você quer dizer com isso?
Cael
caminha até o bar, vira e encosta-se ao balcão.
CAEL:
Eu quero comprar suas ações.
Marco anda
até ele olhando-o nos olhos.
MARCO:
E quem te disse que eu venderia?
Cael sorri,
maliciosamente.
CAEL:
O seu bom senso. Depois de tudo que você fez...Não fica bem
continuar trabalhando comigo.
MARCO:
Você quer ficar com a boate só pra você. Sempre quis ser o único
dono. O meu pai cedeu o terreno pra nós dois! Ouviu bem?
CAEL:
Você quer que eu diga a ele as minhas razões?
Marco vira
o rosto.
CAEL
(cont.): Estou tentando resolver o assunto da melhor maneira
possível. Eu poderia denunciar seus crimes como omissão de
criminoso, lavagem de dinheiro e tentativa de assassinato, mas não!
Eu quero resolver tudo de um jeito que nem eu e nem você saiamos
prejudicados.
MARCO
(contendo a raiva): Você já deve ter o apoio do meu pai, não?
CAEL:
É justamente por ele que não te denuncio.
Os dois se
fitam.
CORTA PARA
CENA
5
LAN-HOUSE
[INT.]
[Legenda:
10:20 hs]
Raíza
senta de frente para um computador. Olha para a tela e vê uma página
já aberta deixada por algum distraído.
[POV de
Raíza]
Raíza leva
a seta até o botão ‘fechar’, mas desiste. É um blog
de fofocas cujo nome é: Dirce
Me Disse.
Passeando
por entre os links,
Raíza, sem querer, clica no link do mês de janeiro. Aparecem
vídeos, cada um com nome impactante.
RAÍZA
(lê em OFF): ‘O
calor do heroísmo’
Que brega! Deixa
eu
ver o impacto que isso vai me causar...
O vídeo é
exibido. Vemos duas pessoas, um terreno, um carro em chamas e em
seguida, o rosto de Raíza aparece nítido abrindo a porta do carro.
RAÍZA
(em OFF): Mas...O que é isso?
Receosa,
Raíza clica em outros links
e encontra fotos de Valentina com Marco naquele beco.
RAÍZA
(põe a mão na boca): Isso não pode tá acontecendo...Tem alguém
me vigiando...(pausa)Mas,
se o Dc
garante que nunca que aquele cd saiu da casa dele, então...(sua
expressão contrai) João!
CORTA PARA
CENA 6
CASA Nº 77 – PORÃO [INT.]
Cipriano
está de costas. Vira-se exibindo na mão, três comprimidos rosa.
CIPRIANO:
Acho que é disso que você tá procurando...
Ele estende
a mão e uma outra faz que vai pegar. Porém, Cipriano esquiva-se.
CIPRIANO:
Eu levarei pra você, na festa de hoje à noite.
A cena
revela Marco que observa os comprimidos.
CIPRIANO:
É preciso misturar isso à bebida alcoólica. Os três de uma vez!
MARCO:
Pode levar à morte?
CIPRIANO:
Você quer isso pro seu irmão?...
CORTA PARA
CENA 7
RUAS
DA CIDADE
[Legenda:
10:35
hs]
Raíza
caminha pela calçada com o celular na orelha. Desliga em seguida,
nervosa.
RAÍZA
(voz baixa): Droga! O Dcr
não atende. (longa pausa) Se o João tiver alguma coisa a ver com
isso eu nem sei, nem sei.
CORTA PARA
ED. CIRANDA
DE PEDRA [INT.]
Raíza
chega ao 4º andar, põe a chave na fechadura e abre. Pára com a
porta aberta diante da cena. Cael, sentado no sofá ao lado de João
Batista e Ari, em pé, param de falar ao vê-la chegar. Raíza fecha
a porta, lentamente, estasiada
e mirando no rapaz.
RAÍZA:
Bom dia...
A garota
atravessa a sala sem mais olhar para Cael.
ARI:
Raíza, ele veio falar contigo também.
Cael se
levanta e sorri um sorriso meio que sem graça.
CAEL:
Eu quero desfazer a má impressão que deixei outro dia (pausa) Eu
espero não ter vindo muito cedo...(pausa) E nem em cima da hora
pra...
JOÃO:
Ele veio nos convidar pra uma festa na boate, Pronto! Falei!
Raíza lhe
dá uma olhada como se não quisesse nem que ele se pronunciasse.
Joga a bolsa no sofá e coloca as mãos por detrás dos bolsos da
calça.
RAÍZA
(para Cael): Festa, é?...Não gosto de festas...
JOÃO:
Raíza! O cara veio até aqui nos convidar e, claro, tentar fazer as
pazes com você, ‘né’...
RAÍZA
(seriamente / olha para João): Pazes? (olha para Cael) E estamos
brigados, por acaso?
Cael sorri,
sem graça de novo.
CAEL:
Eu pensei que...Da última vez...
ARI:
Raíza,
é
aniversário dele.
RAÍZA:
Hoje é seu aniversário, Cael? (séria) Parabéns!
CAEL:
Obrigado (ele engole a saliva, sua expressão é de frustração)
Será que posso contar com a sua presença?
Os dois se
encaram. Raíza esfrega os lábios, pensativa.
RAÍZA:
É...Se der eu passo lá.
Raíza pega
a bolsa e deixa a sala.
CORTA PARA
CENA 8
APTº
403 – QUARTO DE RAÍZA [INT.]
[Legenda:
10:50
hs]
Raíza está
sentada na cama com uns papéis sobre ela. Desconcentra-se.
RAÍZA
(em OFF): Acho que fiz tudo errado...(pausa) Acabei destratando
quando na verdade, eu queria...Eu queria...
João entra
sem cerimônia.
JOÃO:
Eu posso saber o que te deu?
RAÍZA:
Ai João! Que susto, pô!
JOÃO:
Consciência pesada ‘né’?
Aposto como tá arrependida pelo o que fez. Você praticamente mandou
o Cael pastar!
A garota
pára com o papel na mão e em seguida, torna a mostrar-se
concentrada.
RAÍZA:
Não precisa forçar o drama, ‘né’?
JOÃO:
Drama? (ele tira o papel de suas mãos com força) Você dispensa uma
mina de ouro dessas e...
Raíza,
finalmente, o encara.
RAÍZA:
Olha, qualquer dia desse eu mando ele vim pedir a mão do meu pai pra
se casar contigo por que você, meu filho! Tá pedindo pra ficar com
o Cael, hein!
JOÃO:
Raíza...Ele tá louco pra voltar às boas contigo, será que você
não percebe isso?
RAÍZA:
Não delira, João! Mas que inferno! Vai você nessa festa logo!
JOÃO:
Qual é o teu problema, hein, Raíza? Chegou com uma cara de que ia
matar um e agora tá aí! O que tá pegando?
Ouve-se o
som de um celular. Raíza pega a bolsa atrás dela, apanha o celular
e atende.
RAÍZA:
Dcr!
Ai que bom que você retornou.
DCR
(V.O): Recebi suas três chamadas. Fiquei até preocupado.
RAÍZA:
‘D’, escuta: Tem alguém me vigiando.
DCR
(V.O): Quê? Não entendi.
RAÍZA:
Eu descobri um blog
chamado Dirce me Disse no qual postaram um vídeo daquela vez que eu
salvei o Camilo.
João
observa, atento.
RAÍZA:
Diz pra mim, Dcr:
Como isso pôde acontecer?
DCR
(V.O / Gagueja): Ah...E-eu
ne-nem
sei co-como
isso foi...Acontecer...(pausa / fala normal) Você sabe ‘né’?
Hoje em dia qualquer um com câmera se torna cineasta...
RAÍZA:
Mas e as fotos do Marco? Só você e o pessoal daqui que sabia!
DCR
(V.O): Eu jamais violaria um documento dos outros, você sabe. Eu
trabalho com isso.
Raíza olha
para o primo como se acabasse de matar a charada, de vez.
RAÍZA:
Foi mal, Dcr.
Não quero que pense que tô te acusando, mas...(pausa) Tudo bem, eu
sei que você entende (pausa) Tchau.
Ela desliga
o celular e o aponta para o primo.
RAÍZA
(desconfiada): Você tem alguma coisa a ver com isso, João?
JOÃO:
Eu? Do que ‘cê’
tá falando?
RAÍZA
(levanta, caminha até ele): Você mandou as fotos do Marco com a
Valentina pra Internet. De quem é esse blog,
hein? Você é um dos colaboradores ‘né’?
JOÃO
(anda pra trás): Você pirou? Tô tão surpreso quanto você.
Raíza
mostra querer tirar a verdade dele a
todo
custo.
RAÍZA:
Não pensa que eu esqueci daquela vez que você me fez passar por
louca, não viu. Inventou que nunca tirou aquelas fotos da Valentina
com o Marco. Nem pra assumir seu erro você foi capaz!
JOÃO:
Eu não acredito que você guardou ressentimento, menina (sonso) Eu
nunca tive intenção de te fazer passar por uma louca, mas você não
me deu alternativa...
RAÍZA:
“Não me deu alternativa...” sei, sei. Daqui a pouco ‘cê’
vai tá fazendo coisas erradas e jogando a culpa em cima de mim.
JOSUÉ:
Mas o que tá acontecendo aqui?
JOÃO:
É ela, tio. Tá me acusando de publicar umas fotos do Marco e a
Valentina na Internet. Nem sei de foto nenhuma.
JOSUÉ
(olha repreendendo Raíza): Mas ainda isso? Seja quem for que tirou
essas fotos o problema não é nosso.
A garota
fica irada, mas controla-se.
RAÍZA:
Não é só isso. Alguém filmou o momento que eu salvei o Camilo.
Tem alguém me vigiando.
JOSUÉ
(incrédulo): E por causa dessa paranóia você quer acusar seu
primo?
RAÍZA:
Paranóia? (olhar de cumplicidade) Tio, alguém pode tá querendo
transformar minha vida num reallity
show e o senhor chama de paranóia?
JOÃO:
O que tem de tão surpreendente nesse vídeo, Raíza? Você fez uma
coisa que qualquer um faria...Não?
Raíza e o
tio se entreolham.
JOSUÉ:
O João tá certo. Certamente esse alguém quer mostrar que ainda
existem pessoas boas nesse mundo. ‘Cê’
tá nervosa à toa, Raíza.
RAÍZA:
À toa?
JOSUÉ
(cont.): Eu sei que ultimamente andam acontecendo coisas e...
RAÍZA
(interrompendo): Não são as coisas que me deixam nervosas, tio...
(ela mira no primo que esboça um sorriso) São as pessoas...
CORTA PARA
CENA 9
MANSÃO
– SALA [INT.]
[Legenda:
11:15
hs]
Cael está
no bar, se servindo de whisky com duas pedras de gelo. Pára com o
copo na mão e olha erguido para frente.
Em segundo
plano, à soleira da porta está uma mulher de uns 50 anos, cabelos
amarrados e ruivos, bonita e de olhar irônico.
MULHER:
Não parece animado para sua festa...
Cael se
vira com ar surpreso.
CAEL:
Mãe?...(ele larga o copo na mesa e vai até ela) Por que a senhora
não avisou que vinha?
A mulher
desvia do abraço dele e caminha até o sofá.
MULHER:
Eu detesto recepção. (ela se senta e cruza as pernas). Essa sua
falta de ânimo se deve a quê?
Cael
contorna o sofá.
CAEL:
Nossa, estou impressionado! (irônico) Quase 1
ano sem nos ver e é isso que tem pra me dizer, senhora Lara Bedlin?
LARA:
E o que quer que eu diga? Que minhas viagens foram ótimas até que
lembrei ter dois filhos? E que o pai de nenhum dos dois se digna a
vir visitá-los?
Cael fecha
a cara e volta pro bar.
CAEL:
Eu só considero o drº
Bedlin
como meu pai. (ele apanha o copo) Que mania de me lembrar do outro
que nem meu nome deve saber direito.
LARA:
Está nervoso...(ela olha as unhas) Ansiedade pela festa?
Ele está
de costas, vira a cabeça pro lado, mas não diz nada.
LARA:
E onde está o Marco?
CAEL:
Digamos que ele...Tirou umas férias dessa casa...
LARA
(raiva):
Você mandou ele ir embora? O que você fez dessa vez?
Cael se
volta esboçando um sorriso indiferente.
CAEL:
Eu não preciso fazer nada...(murmura) Ele faz sozinho...
LARA:
Como disse?
CAEL:
Ele tem sua própria vida...A senhora sabe que quando ele decide uma
coisa...
LARA
(desconfiada): Pelo menos ele vai à sua festa?
CAEL:
Se ele ainda quiser comemorar comigo o meu aniversário...(ele toma
um gole)
LARA:
Espero que ele vá por que senão a festa será um fiasco...
CAEL:
E eu espero que ao menos hoje a senhora não estrague tudo com seu
mau humor...
CORTA PARA
CENA 10
APTº
403 – COZINHA [INT.]
[Legenda:
11:30
hs]
Raíza está
diante da mesa com uma faca na mão. Corta a cebola enquanto Josué
está no fogão cozinhando.
Ouve-se o
telefone tocar. Raíza larga a faca, seca as mãos numa toalha de
prato e sai para a...
SALA...
...Vai até
a rack
do computador e atende
o
telefone.
RAÍZA:
Alô?...Cipriano?...(ela estranhamente fica séria)
Josué
descansa o ombro à soleira da porta e, sem cerimônias, se põe a
escutar a conversa. A garota observa e não gosta.
RAÍZA
(ao telefone): Festa? Ah! Fiquei sabendo sim...Por quê? Você vai?
CIPRIANO
(V.O): Pensei em ir contigo. Nunca saímos para um passeio antes,
não?
RAÍZA:
Eu não vou. O Cael veio me convidar, mas...
CIPRIANO
(V.O): Mas aí você achou que é muito cedo pra compartilhar uma
alegria com ele depois do que aconteceu, ‘né’?
Raíza
suspira.
RAÍZA:
Não me sentiria bem por lá. Sei que poderei ser tratada como uma
coisa qualquer.
CIPRIANO
(falso conselho): Você vai deixar que ele pense que o primeiro
desentendimento de vocês já é motivo de separação? Muita água
ainda pode rolar até que vocês entendam que é preciso compreender
os erros dos outros pra se perdoarem...
A garota
não tem argumentos. Suspira, mais uma vez.
RAÍZA:
Falou bonito, hein, mas...Na prática é bem mais difícil. (pausa)
Mas vou pensar. Quem sabe
eu
não mudo de idéia? (pausa) Pra você também, tchau!
Ela abaixa
o fone devagar, desliga o telefone.
JOSUÉ:
Se você não quer ir à boate, não vá, hein.
RAÍZA:
Sabia que é feio ficar ouvindo a conversa dos outros?
JOSUÉ
(tom sarcástico): ‘Cê’
tem mais algum segredo que eu não saiba?
Os dois se
fitam estranhamente.
CORTA PARA
CENA 11
L.A
HOUSE [INT./NOITE]
O som da
música é alta, ensurdecedora. As luzes piscam freneticamente e as
pessoas dançam sem olharem pros lados.
A cena vira
e mostra Raíza vestida com um conjunto preto. Tem um
semblante tenso, incerto.
Olha para
Cael lá adiante segurando uma taça de champanhe vazia.
Ele sorri
para ela, feliz. Os dois fazem menção de se aproximarem quando ele
pára, de repente.
Sua
expressão é confusa. Ele passa a mão pela nuca, esboça fraqueza.
Olha para o copo e a deixa cair.
[efeito
câmera lenta] O copo cai e se espatifa no chão.
Cael,
tonto, cambaleia entre as pessoas e vem cair nos braços de Raíza. A
moça o apóia até o chão. [Fim do efeito]
RAÍZA:
Cael?...(ela o sacode) CAEL?
Marco se
agacha e toca seu pulso. Olha para Raíza e esboça um sorriso
sarcástico discretamente.
MARCO:
Ele está morto.
A imagem
esmorece e no lugar aparece o azulejo do banheiro do...
APTº
403.
Raíza está
sentada olhando para a parede com cara de aflita.
RAÍZA
(murmura): Vão tentar matá-lo no dia do aniversário!
CORTA PARA
CENA 12
L.A
HOUSE [EXT.]
[Legenda:
19:30
hs]
Entre
tantos carros, um verde pára próximo à calçada, a porta é aberta
e Raíza sai, num vestido preto, cabelos amarrados e um singelo batom
rosa.
Cipriano
bate a porta e contorna o carro.
CIPRIANO:
Me explica de novo; Você disse que sonhou ter visto o Cael passar
mal?
RAÍZA:
Sim. Eu (pausa) Eu sei que é absurdo, mas...Você sabe como eu ligo
pra esse negócio de sonho, ‘né’?
CIPRIANO
(desconfiado): Sei...O que eu sei é que você dá muita importância
a isso...
Os dois
caminham até a entrada.
[INT.]
Assim que
Raíza entra na boate, atrai os olhares de algumas pessoas, inclusive
de Valentina que a olha de cima em baixo.
Valentina
está elegante com seu vestido branco, reto e cheio de brilho; como
se estivesse repleta de lantejoulas. O cabelo amarrado realça seu
rosto sério e descontente com a presença de Raíza.
VALENTINA:
Ora! Pensei que por um bom tempo não a veria por aqui.
RAÍZA:
Boa noite pra você também, Valentina. (ela procura com os olhos por
Cael) Como tem passado?
VALENTINA:
Graças a você, viva...Não?
CIPRIANO:
E o aniversariante?
CAEL:
Alguém me chamou? Eu tô aqui.
Cael e
Raíza se olham fixamente. Tanto um quanto o outro faz menção para
se abraçarem e, naquele vai ou não vai, Marco aparece
interrompendo.
MARCO
(sorriso malicioso): Raíza! Que bom te ver...Tão linda...
Valentina
revira os olhos, chateada. Raíza, por sua vez, nada responde.
RAÍZA:
Ahn...Licença,
Eu vou até ali.
21 de
Março: 19:35 hs
Ari pára o
que está fazendo, de trás do balcão, quando a amiga se aproxima.
ARI:
Menina!...Essa produção toda é pro...
RAÍZA:
Nem termina o que começou, hein (ela sorri e apóia o cotovelo
direito sobre o balcão) Me conta: como tem sido o serviço aqui?
ARI:
Ah, eu gosto muito daqui. O chato é quando alguém vem pegar a bolsa
de volta e dá por falta de alguma coisa. Aí quer me acusar... ‘Cê’
já viu ‘né’?
RAÍZA:
E como é que você faz pra sair dessa?
ARI:
Mantenho a calma. Às vezes, o Marco até que me ajudava viu...Eu sei
que ele é o que é, mas no trabalho, pelo menos...
Raíza nota
que Marco a olha, de braços voltados para trás e com aquela cara de
cínico.
RAÍZA:
‘Cê’
abre o olho com ele, hein...Aquilo ali não vale o que come...
As duas
riem. Em seguida, Raíza olha por todo o salão.
RAÍZA:
Ah! Olha o Dc
ali em má companhia...
Dcr
está ao lado de João Batista no balcão de bebidas.
ARI:
Mas aquele ali é o seu primo, amiga...
RAÍZA:
Por isso que digo...
Ela sai e
vai atravessando a pista. Alguém a puxa pelo braço.
VALENTINA:
O que pretende, hein? Você não devia ter vindo...
Raíza
solta seu braço do dela.
RAÍZA:
O Cael me convidou...Dizem que negar um convite é...Feio.
VALENTINA:
Eu só espero que você não tenha nenhum ato heróico em mente.
Raíza
engole a saliva e olha, inquieta para os lados.
RAÍZA:
Ato heróico?
VALENTINA:
É! Ato heróico. Eu não sei o que você arruma, mas onde você tá
sempre acontece algo de surpreendente. Não vá querer chamar a
atenção, hein!
Raíza dá
as costas, ar preocupado. Caminha em direção ao bar, pensativa.
RAÍZA
(em OFF): Será que ela desconfia de alguma coisa? Será que ela viu
algo que não devia?
JOÃO
(cínico): Você veio, prima?
Raíza dá
uma parada diante dele e uma olhada daquela.
RAÍZA:
Precisa mesmo que eu responda?
DCR:
O que houve, Raíza? Algum problema?
RAÍZA
(em OFF): Ai que saco! Sempre essa pergunta: O que houve? Algum
problema?...Parece que eu vivo carregada disso...
JOÃO:
Ih Dcr,
topou com o Marco, aposto.
A
brincadeira arranca risos de Dcr.
RAÍZA:
Não, gente, tá tudo bem...
A garota
não pára de olhar para o lado de Cael e, ao mesmo tempo, para o
garçom.
CORTA PARA
CENA 13
21
de Março: 20:00 hs
Lara chega
com seu vestido bege cheio de brilho. Marco se aproxima e pega sua
bolsa.
LARA:
Essas luzes, um dia me mata!
Marco sorri
e vai até a chapelaria. Entrega a bolsa e sorri para Ari.
MARCO:
Tem tido problemas aqui?
Ari dá as
costas e guarda a bolsa de Lara.
ARI:
Pouco. Com o tempo vou tirar de letra.
Ele apóia
o cotovelo sobre o balcão e olha para trás.
MARCO:
A Raíza que me parece não estar muito bem...
Ari olha
adiante e vê Cipriano de cochichos com Camilo no bar.
BAR...
Cipriano
abaixa a cabeça diante de Camilo a fim de disfarçar.
CIPRIANO:
Você já sabe o que tem que fazer, não?
CAMILO:
Eu sei. Só espero que você também saiba...
CIPRIANO:
Eu sempre sei o que tenho que fazer.
Ele olha
para trás e vê Marco do outro lado.
CIPRIANO:
As coisas nem sempre saem conforme planejamos...
CAMILO:
E tudo isso por conta de um sonho da Raíza...
CIPRIANO
(ele torna a olhar para Camilo): É isso que tem que ser. Apenas um
sonho.
CHAPELARIA...
Rafaela se
aproxima do balcão e sorri para Ari. Marco está de costas.
RAFAELA:
E aí, Ari? Tudo bem? A Raíza já chegou?
Marco se
vira com aquele sorrisinho de canto.
MARCO:
Olá. Parece que o Cael tem bastantes amigos, hein.
Rafaela
sorri meio que sem saber o que dizer. Em seguida, olha adiante.
RAFAELA:
Não parece, apenas.
Os dois
sorriem, mas nota-se que Marco não gosta da resposta, diminuindo o
sorriso.
BALCÃO...
Camilo
caminha na direção de Raíza com a bandeja com três coquetéis.
Ele estende a bandeja, João pega o dele, Dcr
faz o mesmo e quando Raíza leva a mão, Rafaela pega no lugar dela.
RAFAELA:
Bebendo, hein, Raíza. O que seu pai diria disso?
Todos riem.
Em segundo
plano, Cipriano observa apreensivo.
Rafaela
entrega o coquetel a Raíza e esta leva a boca. Camilo olha, ansioso
e Raíza nota.
RAÍZA:
Quer me dizer alguma coisa, Camilo?
CAMILO:
Ahn...Não...Com
licença.
Ele sai.
DCR:
Esse cara é sinistro, hein.
RAÍZA:
Humm...
Raíza bebe
de uma só vez, close na taça.
JOÃO:
Raíza, ‘cê’
não tá acostumada. Vá com calma.
RAÍZA:
Sua preocupação é tocante.
Rafaela e
Dcr
riem, mas não notam a ironia em sua frase.
21 de
Março: 20:15 hs
Cael se
aproxima pelas costas de Raíza.
CAEL:
Raíza.
Ela se
volta, seus olhos estão avermelhados.
CAEL:
Obrigado por ter vindo. Eu pensei que não viesse...(pausa) Seus
olhos...Estão vermelhos.
RAÍZA:
Deve ser essas luzes.
Um garçom
passa com apenas um coquetel. Se dirige à
Cael, mas Raíza se antecipa e pega em seu lugar.
RAÍZA
(toma tudo de uma vez): Desculpe. Não resisti.
Ele a olha,
sorri meio desconfiado de sua ação.
CAEL:
Algum problema, Raíza?
Ela lhe dá
uma olhada rápida, abaixa a cabeça.
RAÍZA:
Tá tudo bem comigo...
CHAPELARIA...
Ari observa
a amiga e faz que vai sair detrás do balcão.
MARCO:
Aonde você vai?
ARI:
Eu preciso falar com a Raíza.
MARCO:
Acho que o Cael não vai gostar se você abandonar a chapelaria.
(pausa) Se quiser eu a chamo aqui.
Ari ora
olha para Raíza, ora para Marco.
ARI
(desconfiada):
Faria isso?
Ele sorri
em tom malicioso.
CORTA PARA
CENA 14
APTº
403 – COZINHA [INT./NOITE]
Bruno entra
apressado e Josué vem atrás. Bruno parece querer ignorá-lo e o
irmão é insistente.
JOSUÉ:
A Raíza está acusando o João de uma coisa que ele não fez! Se ele
tivesse tirado aquelas fotos, ele teria me dito.
Bruno abre
a geladeira.
BRUNO:
Você tá querendo me dizer que a Raíza deu pra mentir?
JOSUÉ:
Não foi isso que eu quis dizer...
BRUNO:
Tenho certeza que ela deve ter tido seus motivos.
JOSUÉ:
Agora é você que acha que o João tá mentindo?
Bruno pega
a garrafa d’água e fecha a geladeira.
BRUNO:
Eu não disse isso. Acontece que ela sempre acerta quando diz que viu
o futuro.
Josué
senta à mesa e Bruno apanha o copo.
JOSUÉ:
Você confia demais nos poderes dela. Qualquer um pode falhar.
BRUNO:
Deve ser por isso que você concordou em não contar o segredo dela
para o João? (ele coloca água no copo) Ele pode falhar na missão
de guardar o segredo?
Os dois se
fitam.
CORTA PARA
CENA 15
L.A
HOUSE [INT.]
21 de
Março: 20:20 hs
Raíza não
tira os olhos de Cael do outro lado perto de Valentina.
As luzes
passam pelo seu rosto mostrando seus olhos mais vermelhos. Ela olha
adiante.
[POV de
Raíza]
As luzes
piscam freneticamente, as pessoas dançam, se sacodem e na visão de
Raíza tudo começa a se fundir, embaralhar.
JOÃO:
Que cara é essa, Raíza? Algum problema?
A garota
lhe dá uma olhada seca.
RAÍZA:
Por quê? Tô com cara de quem tá com problemas?
Ela dá as
costas e caminha na direção do banheiro.
JOÃO:
Minha nossa!
Marco a
puxa pelo braço e se assusta com sua expressão.
MARCO:
Algum problema, querida?
RAÍZA
(alterada / imitando o que já ouviu): ‘O que houve? Algum
problema?’ (ela repete fechando as mãos) Sempre essa
pergunta...Será que não posso ter a cara que eu quiser sem ter um
problema?
MARCO:
Uh!
Está nervosa? (ele ainda segura seu braço e aproxima o rosto,
murmura) Eu te deixo nervosa?
Ela mira na
mão dele a apertando.
RAÍZA
(compassadamente):
Dá pra me soltar?
MARCO:
Isso é porque o Cael não está lhe dando atenção?
Ouvem-se
vozes altas por parte de Marco que se misturam ao som da música, mas
apenas Raíza ouve o som estridente. Ela fecha os olhos, abre,
nota-se que se perturba.
RAÍZA
(entre dentes): Será que você pode falar só com a boca? Não
precisa ficar me tocando!
Ela se
solta bruscamente, se desequilibra e cai nos braços de Cael.
A moça o
olha fixamente.
CAEL:
Posso saber o que tá havendo aqui?
Tocando:
Lose
Control
– Evanescence
->
Na visão
de Raíza, o rosto de Cael parece se dividir em dois, sua voz sai
leve e distante. A garota fita seus lábios se mexerem, pisca os
olhos como se tivesse dificuldade pra enxergar.
Ela toca
seus ombros e aperta, deixando-o tenso. Rapidamente, a garota toca
seu rosto e o rapaz disfarça um prazer. Acaricia sua nuca, ele fecha
os olhos e subitamente abre. Ela lhe dá um beijo na boca.
Algumas
pessoas, como Marco, Valentina, João, Dcr
e Rafaela olham estarrecidos.
VALENTINA:
SOLTA ELE, SUA LOUCA!
LARA
(murmura): Aquela magrinha, sem graça é bem ousada, hein...
Valentina
dá um tapa em Raíza causando alvoroço.
Rafaela já
está com sua câmera a postos.
Marco
segura Raíza pelas costas.
RAÍZA
(se debate): Me solta!... Me
solta!...
ME
SOLTA!
VALENTINA
(aponta-lhe o dedo): EU FALEI PRA VOCÊ NÃO APRONTAR NADA, SUA
LOUCA!
21 de
Março: 20:35 hs
As imagens
para Raíza dão voltas, as luzes se fundem violentamente.
CAEL:
SOLTA ELA, CARAMBA! (ele puxa o braço do irmão).
Enfurecida,
Raíza volta pro balcão, apanha uma garrafa, dá um giro e bate no
rosto de Marco.
MARCO:
Aaai!
JOÃO
(murmura, possesso): Ela perdeu o juízo, meu Deus!
Marco toca
o rosto que sangra.
MARCO:
Seguranças! Tirem essa doida daqui!
Cael o
contém.
CAEL:
Você não manda mais aqui, Marco!
LARA:
Como é?
MARCO:
Olha o que ela me fez, Cael? Olha! Quer que ela faça o mesmo com
você? Quer?
Raíza
ainda mantém a garrafa nas mãos, olhar
fixo,
vermelhos, medonhos.
RAÍZA
(ainda com a garrafa na mão): Você é um cínico, descarado! Aposto
como é você que quer matar seu irmão!
Ouvimos
vozes de surpresa.
LARA:
Você perdeu a noção, garota?
MARCO
(tentando manter a calma): Isso é um absurdo!
VALENTINA:
Faça alguma coisa, Cael!
Ele mira em
Raíza e a vê perturbada, estranhamente perturbada.
RAÍZA:
Tô te falando, Cael! Ele (ela aponta a garrafa de olhos arregalados)
Alguém quis te matar, só pode ser ele!
CAEL:
Por que insiste nisso? Se
baseia
em quê?
RAÍZA
(olhar parado): Eu vi...Eu vi...(sua voz é ofegante)
Marco a
pega pelo braço.
MARCO:
É melhor você sair daqui, está tumultuando.
Ela levanta
o braço e dá-lhe outra garrafada.
João a
puxa pelo braço a força.
JOÃO
(entre dentes): ‘Cê’
já deu seu showzinho,
agora vamos embora!
RAÍZA
(murmura): Me larga...
VALENTINA:
Eu quero garantir que você vai sair daqui.
Ela segura
a garota por outro lado e nota-se a expressão nervosa em Raíza.
Esta se curva para baixo tentando se desvencilhar.
21 de
Março: 20:40 hs
RAÍZA
(O.S): NÃO TOQUEM EM MIM! NÃO TOQUEM EM MIM!
Raíza está
curvada,
João
e Valentina, cada um de um lado, a segura. João oculta a prima
quando ela levanta. Ela mete a garrafa no pescoço do primo e derruba
os dois sobre um grupo de pessoas.
Seu olhar
aceso, sua expressão desnorteada denuncia um estado nada normal. O
espanto é geral.
MARCO
(deboche): Coitada dela! Ela precisa de ajuda.
Raíza olha
a sua direção com raiva.
RAÍZA:
Ajuda quem vai precisar é você!
E avança
nele tapando sua boca.
CAEL
(a tira de cima de Marco): POR FAVOR, RAÍZA!
A garota se
volta.
Todos a
olham, espantados e outros, com ar de reprovação. Ela vai olhando
cada um e entre eles está Dcr,
Rafaela, Ari e João balançando a cabeça negativamente. As imagens
se entortam a sua frente.
Ela sai
empurrando todo mundo e corre.
[EXT.]
CAEL
(grita): Raíza!
ARI
(grita): Pra onde é que ‘cê’
vai?
Raíza
entra, correndo, dentro de um carro qualquer, bate com a porta.
INSERT –
chave do carro
Ela vira a
chave e liga.
VOLTA À
CENA
Cael corre,
bate na janela, mas ela sai cantando pneus, enfurecida.
ARI
(grita pra Cael): CORRE! CORRE!
Ao mesmo
tempo, Dcr
observa a cena com ar desconfiado.
Cael abre a
porta de um outro carro e alguém põe a mão na janela.
MARCO
(reprovando): O que pensa que vai fazer com o meu carro?
CAEL:
É melhor você tirar essa mão daí.
Cael entra,
bate a porta e sai em disparada.
CARRO –
RAÍZA [INT.]
Raíza está
de olhos arregalados, olhar fixo para frente.
INSERT –
visor de velocidade
A marcação
ultrapassa os 120 km/h.
VOLTA À
CENA
CARRO -
RAÍZA [EXT.]
CAEL:
PÁRA ESSE CARRO, RAÍZA!
RAÍZA
(balbucia): Cael...
Raíza olha
para baixo, olha para frente, ouve-se a voz de Cael embaralhar e se
transformar em vozes que ecoam. A expressão de seu rosto é confusa,
põe a mão na cabeça, aturdida.
INSERT –
Freios
Raíza pisa
em tudo que é lado menos nos freios.
RAÍZA:
Eu não consigo frear! Eu não consigo!
Lá
adiante, uma curva. A imagem vai escurecendo deixando-a desesperada.
Até que toda a imagem se torna negra.
TOYOTA
[EXT.]
Cael tenta
emparelhar com o carro onde Raíza está e a vê com o rosto caído
sobre o volante.
CAEL:
RAÍZA!
Cael
desacelera.
Um caminhão
vem pela transversal à direita.
Cael se
desespera.
O carro
onde Raíza está chega na transversal.
O caminhão
bate, joga o carro adiante. O carro capota pela estrada.
Cael sai do
carro e corre. Quando ele vira a rua, pára, chocado.
O carro
está com a porta aberta. Cael anda devagar e vê Raíza caída no
chão sem ferimentos.
A música
termina...
FADE OUT
FADE IN
CENA 16
HOSPITAL
[EXT./NOITE]
Ouvimos o
som de ambulância.
QUARTO
[INT.]
Raíza está
no soro, desacordada.
SALA DE
ESPERA [INT.]
O relógio
marca 21:30 hs.
Josué,
desassossegado, anda de um lado e de outro com as mãos voltadas para
trás. Bruno, sentado no banco de espera, segura sua mão assim que
tem oportunidade.
BRUNO:
Dá pra ficar quieto, por favor!
Josué
pára, finalmente e leva a mão para frente, fechando-a.
JOSUÉ:
Você tem idéia da gravidade, Bruno? Sua filha bebendo e tomando
remédios!
BRUNO:
Minha filha não faria isso por vontade própria. Não mesmo.
Josué
abaixa a cabeça, olha para ambos os lados.
JOSUÉ
(murmura querendo gritar): Eu não sei. Eu só sei que ultimamente
ela anda muito nervosa...Não se esqueça que hoje ela acusou o João
sem fundamento e ainda o agrediu!
BRUNO
(pensativo): Sei, mas...Essa não seria uma atitude sensata dela. Ela
nunca se drogaria e não acho que o Cael permitiria isso.
JOSUÉ
(nervoso): Ele é dono de uma casa noturna. Que tipo de ambiente você
acha que é?
Os dois se
encaram.
BRUNO:
Tem algo errado nessa história.
JOSUÉ:
Claro que tem! O médico encontrou uma quantidade absurda de remédio
no organismo dela. O suficiente para matá-la. E veja bem! (murmura)
é remédio pra cabeça você entende ‘né’?...
Em segundo
plano, Dcr
está no bebedouro, escuta paralisado e ainda desconfiado.
FADE OUT
FADE IN
CENA 17
HOSPITAL
– QUARTO [INT./NOITE]
A porta é
aberta e João Batista, com um curativo no pescoço, entra, pára
perto da porta e olha para a prima. A garota está com olheiras
profundas,
pálida e sem força pra se levantar.
JOÃO:
Como se sente depois do vexame?
RAÍZA:
Se veio aqui me avacalhar...
JOÃO
(ele encosta a porta): Parece que você não está tão mal assim; Já
tá querendo me agredir, de novo.
A garota
tenta se ajeitar na cama, incrédula.
RAÍZA:
De novo, João?
JOÃO
(agressivo): Não se lembra? (ele põe o dedo no pescoço) tá vendo
isso aqui? Obra sua! (pausa) Enquanto você dá uma de heroína a
quem nada seu é eu quase morri essa noite.
RAÍZA:
Eu não estava em mim, garoto!
João
aproxima e quase encosta o rosto no dela.
JOÃO:
Mentira! Como é que você se lembra então? Se não estava em si
devia ao menos ter se esquecido.
RAÍZA:
Eu não sei!
JOÃO:
Mas eu sei. Você pensa que fui eu quem publicou aqueles vídeos lá
e queria acabar comigo ‘né’?
Sei que lúcida você não faria, mas aí você se drogou pra tomar
coragem não?
RAÍZA:
Francamente, João? (irritada) Se fosse pra te matar não seria num
lugar tão cheio de gente ‘né’?
Josué está
atrás da porta, espantado.
CORTA PARA
CENA 18
QUARTO
[INT./NOITE – mais tarde]
Ouvimos
alguém bater na porta.
RAÍZA:
Entra!
A porta é
aberta e aparece Cipriano, sorriso meigo, fingido. Ele entra e fecha
a porta.
CIPRIANO:
Vim saber como você está.
RAÍZA
(sorri): Como você pode ver, deitada após passar por uma sessão de
desintoxicação.
Os dois
sorriem. Ele chega perto e senta na beirada da cama.
CIPRIANO:
Como isso foi acontecer, hein?
RAÍZA:
Eu não sei. Mas aposto como aquilo era pro Cael. Veja como tudo se
encaixa: Cael tomaria a bebida e, como cada um pode responder
diferente ao remédio, o irmão poderia dá-lo como incapaz de
dirigir seus negócios ou...o
mataria logo!
Cipriano a
olha fingindo estar impressionado e ao mesmo tempo, incrédulo.
RAÍZA:
Você acha loucura minha ‘né’?
Ele toca
suas mãos.
CIPRIANO:
Raíza,
será
que não é cisma sua? Afinal, você acreditou no seu sonho e olha
quem está aqui.
RAÍZA
(pensativa): É...Tem razão.
Ele sorri
mal intencionado.
CORTA PARA
CENA 19
MANSÃO
[EXT./NOITE]
MARCO
(V.O): Posso saber por que a Raíza tomou o coquetel no lugar do
Cael? (pausa) Como assim você não faz idéia?
As vozes
vêm de dentro de um carro. Marco, com um curativo no rosto, está ao
telefone.
MARCO:
Eu sei que ela tomou os dois coquetéis dirigidos ao Cael, mas por
que ela fez isso? Parece até que estava adivinhando.
CIPRIANO
(V.O / calmo): Já ouviu falar em intuição feminina? Ela disse que
teve um sonho ruim com o seu irmão. Talvez vem daí a atitude dela.
MARCO:
Não me venha com gracinhas. Você acha mesmo que alguém se
arriscaria por causa de um sonho?
CIPRIANO
(V.O): Você devia perguntar se o sonho fosse contigo se ela
arriscaria tanto assim pra te salvar.
Marco faz
uma cara de dúvida, titubeia.
MARCO:
Mas ela já se arriscou, um dia.
CIPRIANO
(V.O): Quando nem te conhecia...Direito.
Close na
expressão sentida de Marco.
CIPRIANO:
Lamento se ela anda te dando trabalho...
O telefone
é desligado. Marco desliza o fone pelo rosto com ar pensativo.
CORTA PARA
CENA 20
MANSÃO
– ESCRITÓRIO [INT./NOITE]
Marco entra
com as mãos dentro dos bolsos da calça.
Cael está
sentado atrás da mesa, tranquilo.
MARCO
(irônico): Pensei que fosse fazer serão no hospital...
Cael vira a
folha na direção do irmão que o olha com deboche. Cael observa a
cicatriz em seu rosto.
CAEL
(aponta o dedo / debochado): Ainda dói muito?
MARCO:
Isso não foi nada (ele tira as mãos dos bolsos e apóia sobre a
mesa) E a festa de hoje? Vai doer por quanto tempo?
Cael põe
os braços sobre a mesa, desprende os lábios numa expressão
indiferente.
CAEL:
A única coisa que lamento foi a Raíza ter sofrido o acidente. (Ele
puxa a caneta de dentro de um pote e a coloca sobre os documentos) E
juro que foi a única coisa da qual lamento.
Marco olha
para o papel, para o irmão e, seriamente, segura a caneta com tanta
força que dá a impressão de que vai quebrar.
Assina sob
o olhar de Cael com os cotovelos na mesa e as mãos juntas.
CAEL:
Agora você está oficialmente fora da boate.
Em segundo
plano, Lara, pela fresta da porta, observa a cena, inconformada.
FUSÃO PARA
CENA 21
HOSPITAL
– QUARTO [INT./NOITE]
A cena
mostra as costas de Dcr
sentado na beirada da cama.
DCR:
E então, Raíza? Aquela bebida era pra outra pessoa ‘né’?
A cena vira
e mostra Raíza, deitada sem saber o que dizer.
DCR:
Você sonhou ‘né’?
A garota
esboça surpresa.
DCR:
Se foi sonho eu acredito viu. Imagine você que meu pai sonhou ter te
visto naquela clínica do mesmo jeito que você disse ter sonhado?
Raíza
desvia o olhar, sem entender.
RAÍZA:
Sério?
DCR:
Te juro por Deus! Pelo Marco mortinho da silva!
A garota se
põe a rir.
DCR:
Parece coincidência viu, mas acho que você pode ver o futuro!
Raíza pára
de rir.
DCR:
Tô brincando. (sorri) Mas acho estranho você ter tomado duas vezes
a bebida dirigida a Cael...Por que fez aquilo?
RAÍZA:
Ahn...Eu...Eu
já tinha tomado umas e...Acho que nem sabia o que fazia...
DCR:
Humm...(desconfiado)
Você não se arriscaria por qualquer um, não?
RAÍZA:
Dc!
Eu não fiz aquilo pra salvar ninguém, que coisa! (pausa) Diz aí, o
que era exatamente a substância que encontraram no meu organismo?
DCR:
Era uma dose exagerada de remédio pros nervos...É
incrível que você não tenha morrido...Pelo contrário, até
dirigir você dirigiu...Quando foi que você tirou a carteira?
A garota
não sabe o que responder e se mostra tão surpresa quanto ele.
DCR:
Ah,
entendo.
Você não tirou a carteira...(Ele sorri e ela se mostra sem graça)
Deu medo, viu.
RAÍZA:
Você teve medo...De mim?
DCR:
Qualquer um teria. Foi horrível pensar que você poderia acabar como
o meu pai...
RAÍZA:
Seu pai? O que tem ele?
Dcr
mostra-se que falou demais. Aperta sua mão e fecha os olhos
abrindo-os rapidamente.
DCR:
Você teve os mesmos sintomas que ele no ano passado...Ele começou a
se irritar facilmente, não falava coisa com coisa até que, agindo
como louco, ele bateu com o carro.
RAÍZA:
Dcr!...Então...Ele
tá internado? Aquele...Aquele sonho que tive era verdade?
DCR:
Não é espantoso?
Raíza
segura suas mãos, mas o semblante de Dcr
é calmo.
DCR
(esperançoso): E hoje, Raíza, graças a você, eu me dou conta de
uma coisa importante.
RAÍZA:
O que eu fiz dessa vez?
DCR:
É que, das três vezes que ele voltava pra casa a
gente dava o remédio, exatamente esse que você tomou e...Só que
ele bebia. A mistura o deixava fora de si. Você sabe o que isso
significa ‘né’?
RAÍZA:
Que ele nunca esteve louco?
DCR
(sorri): É.
A garota
demonstra felicidade, mas uma ruga de expressão em sua testa denota
temor.
RAÍZA:
Será que mais um pouco eu poderia ser internada num lugar assim?
Tocando:
So
Far
Away
– Staind
->
Dcr
levanta os ombros.
FUSÃO PARA
CENA 22
HOSPITAL
[EXT./MANHÃ SEGUINTE]
QUARTO
[INT.]
A cena
mostra a porta, ouvimos alguém bater e abrir em seguida.
Cael põe a
cara para dentro e sorri um sorriso fechado.
CAEL:
Posso entrar?
RAÍZA:
Claro!
Ele entra
com um ramalhete de rosas brancas e fecha a porta. Tem um brilho nos
olhos, uma expressão animada.
CAEL:
Eu vim ontem, mas você estava dormindo...(ele mostra as rosas) Dizem
que branca é a cor da paz, então...
RAÍZA:
Pelo o que eu soube, estraguei sua festa ‘né’?
Ele se
aproxima, põe as rosas do lado da cama e senta.
CAEL:
Não diga isso. O importante é que você está bem. É de admirar
que depois de ter ingerido tantos remédios e bater com o carro você
tenha saído ilesa...
Raíza
demonstra vergonha.
RAÍZA
(finge): Eu não lembro disso...
CAEL:
Nem de quando...
RAÍZA:
De nada.
Cael não
esconde uma certa frustração.
CAEL:
Embora você não se lembre...Você salvou minha vida ontem...Eu não
sei se eu tivesse bebido...
Ela o
olha sentida
como se acreditasse que ele é apenas grato e que sua amizade se
resumisse a isso. Gratidão.
Ele nota
Raíza a olhá-lo, quieta.
CAEL:
Tá tudo bem?
Ela sorri,
timidamente.
RAÍZA:
Ahn...‘Cê’
é tão diferente do seu irmão...
CAEL:
Melhor não falarmos dele, não é mesmo?
Ela sorri
novamente.
CAEL:
‘Taí’
alguém que eu gostaria que você esquecesse.
Ela se
levanta, se ajeita na cama e segura sua mão.
INSERT –
Mãos dos dois
Ela
acaricia e ele corresponde.
VOLTA À
CENA
RAÍZA:
Eu esqueci de muita coisa, mas tem algo que eu lembro de não ter
feito ontem.
Cael não
entende e tão logo recebe um abraço dela. Surpreso, ele não reage.
RAÍZA:
Ainda dá tempo de um abraço de feliz aniversário?
Ele fecha
os olhos e apóia o queixo sobre seu ombro correspondendo ao abraço.
Sorri.
A cena vai
se afastando...
FADE TO
BLACK
FIM DO EPISÓDIO
A música
termina nos créditos...
Autora:
Cristina Ravela
Elenco:
Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Ari (Nathália Dill)
Dcr (Aaron Ashmore)
Valentina (Alinne Moraes)
Cipriano (Thiago Rodrigues)
Participação Especial:
Camilo (Sérgio Marone)
Lara (Jane Saymour)
Daniel (Zecarlos Machado)
Trilha Sonora:
Lose Control – Evanescence
So Far Away – Staind
Produção:
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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