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RAÍZA SÉRIE
30:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA
Série de
Cristina Ravela
Episódio 13 de 20
© 2009, WEBTV.
Todos os direitos reservados.
FADE IN
CENA 1
[EXT./NOITE]
[Legenda
- 7
de Outubro de 1987]
A cena é
vista de cima. A chuva cai torrencialmente batendo, de forma
irritante, no telhado de uma casa. Pelo clarão que um raio faz
ilumina a placa.
[placa - Nº
137]
De repente,
um choro de criança quebra o silêncio da casa.
[CORREDOR -
INT.]
Um rapaz se
vira erguendo as mãos e olhando para baixo. É um rapaz sem barba,
no alto de seus 21 anos.
RAPAZ:
Ela nasceu! Nasceu!
MENINO:
Ela, não tio! Ele!
O rapaz
pega o menino no colo, feliz e abraça uma mulher que demora a
devolver o abraço. Tem no olhar uma inquietude estranha. É uma
jovem mulher, loira, cabelos longos e estatura média.
A porta do
quarto é aberta e uma mulher sai.
MULHER
1:
É uma linda menina, seu Josué.
Josué olha
para o menino com ar sacana.
JOSUÉ:
Viu só, João? Eu sabia que era menina.
A tal
mulher que havia saído do quarto o encara estranhamente.
JOSUÉ:
E a Ramona? Como ela tá?
A parteira
faz um olhar de suspense.
QUARTO
[INT.]
Josué
senta na cama ao lado de Ramona. Ela está pálida, tem cabelos
longos e negros, mas ainda sim, bonita.
JOSUÉ:
Você vai ficar bem, tá querida?
A moça que
Josué abraçou no corredor está à soleira da porta.
JOSUÉ:
Juliana! Entra!
Juliana
sorri um sorriso amarelo e olha meio atravessado para as mãos unidas
de Josué e Ramona.
JULIANA:
A dona parteira foi preparar um chá...
JOSUÉ:
Dona parteira, Juh? (sorri) é dona Maria.
JULIANA:
Que seja, você sabe que não sou boa em nomes...
Ramona
aperta a mão de Josué. Juliana observa, disfarça e sai.
RAMONA:
Eu sei que não passo de hoje, Josué...(sua voz sai ofegante) Eu
sei...
JOSUÉ:
Não fale besteira...De novo aquela história?
RAMONA:
Eu queria que o Bruno estivesse aqui...Eu falei pra ele estar comigo,
mas ele tinha que trabalhar até tarde hoje...
Josué
acaricia suas mãos, tenta mudar de assunto.
JOSUÉ:
Já sabe que nome vai dar pra minha sobrinha?
RAMONA
(cansada): Raíza...
A cena move
pro lado e no canto do quarto, Raíza olha, assustada. Em seguida,
pende a cabeça pra direita onde está uma criança no berço.
FADE OUT
1X13 PASSADO
FADE IN
CENA 2
CASA
Nº 137 – COZINHA [INT./NOITE]
Juliana
observa dona Maria preparar um chá.
Dona Maria
leva o bule até o copo e acaba derramando um pouco na própria mão.
MARIA:
Aah!
Dona Maria
abre a torneira e coloca a mão debaixo d’água.
MARIA:
Pega pra mim uma toalha, minha filha.
JULIANA
(finge): Ah...Toalha?...É que não sei...
MARIA
(nervosa):
Ah, deixa que eu vou buscar!
Dona Maria
sai e Juliana faz cara feia.
JULIANA
(resmunga): Velha idiota!
A moça
olha para trás, se aproxima do bule e põe a mão no bolso da
camisa. Tira um pequeno frasco com líquido transparente feito água.
Despeja-o tudo ali de uma só vez.
RAÍZA:
O que tá fazendo?
Raíza
grita, mas ninguém a ouve.
QUARTO
[INT.]
Ramona
toma todo o chá e é observada por Juliana à soleira da porta.
Ramona
entrega o copo a Josué e este entrega para dona Maria.
Em seguida,
ajeita a cabeça de Ramona no travesseiro enquanto ela faz cara de
dor.
Dona Maria
sai e Juliana também.
RAMONA:
Promete pra mim, Josué, que nunca a minha filha vai viver o que eu
vivi?
JOSUÉ:
Já mandei você parar com isso, Ramona. Quando você melhorar, te
dou uma bifa, espere só pra ver...
Ramona ri e
logo tosse.
Raíza
senta na cama, triste.
RAÍZA:
Mãe! Eu tô aqui! Eu tô aqui!
RAMONA
(murmura): Eu sei que vou morrer...Eu vivenciei tudo isso,
Josué...Não há nada o que evitar...
JOSUÉ:
Sendo assim, por que não evita sua morte?
RAMONA:
Para isso eu não poderia ter a Raíza...(Josué a olha penalizado)
Eu vi o futuro...Mas eu quis ter essa filha...Eu quis, entende?
Raíza
derrama uma lágrima.
JOSUÉ:
Eu não me conformo com isso.
Ramona
aperta sua mão e sorri resignada.
RAMONA:
Você não me prometeu; Eu não quero que a minha filha passe por
isso. Não deixe que o Cipriano a envolva.
Ramona
pisca os olhos cansados, tenta mantê-los abertos.
RAMONA:
Promete! Promete que a Raíza nunca vai passar por isso, promete!
Josué
reluta. Ramona dá um suspiro seguido de gemido de dor.
RAMONA
(murmura): Promete...
JOSUÉ:
Eu...
Ramona
respira ofegante, arregala os olhos.
JOSUÉ:
O que foi, Ramona! O que foi?
Ele sacode
seu braço e ela mantém os olhos acesos e parados.
JOSUÉ:
ALGUÉM AJUDA!
Raíza se
desespera, toca o rosto da mãe.
Um rapaz
moreno chega correndo da porta, afobado, e vê seu Josué chorando
sobre o corpo morto da esposa.
RAPAZ:
O que tá acontecendo? (ecoa) O que tá acontecendo? (ecoa) O que tá
acontecendo?
Raíza está
sentada na cama, triste, cabisbaixa.
O cenário
muda gradativamente para...
APTº 403 –
QUARTO [INT./MANHÃ]
...E Raíza
está acariciando um livro grosso, de capa dura escura e surrada.
Olha para o lado e vê seu pai na porta.
BRUNO:
O que tá acontecendo? O que faz parada aí, minha filha?
CORTA PARA
CENA 3
APTº
403 – COZINHA [INT.]
Bruno
senta à mesa e apanha o jarro com o café. Raíza também senta e
permanece parada.
BRUNO:
Por que essa pergunta agora, hein, minha filha? Sua mãe morreu em
consequência do parto.
RAÍZA:
O senhor não pode ter certeza disso...Num ‘tava’ na noite do
crime!
BRUNO:
É, isso é... (Ele leva o copo à boca e pára, de repente) QUÊ?
Crime? Que crime?...Mas ‘peraí’! Como sabe que eu não pude
estar presente ao seu nascimento?
Josué
chega da cozinha com o saco de pães na mão.
JOSUÉ:
Do que ‘cês’ estão falando?
Bruno
vira-se para o irmão.
BRUNO:
É a Raíza aqui que tá viajando...(ele vira para a filha) Acho que
eu não devia ter te dado aquele livro que foi de sua mãe. Anda
tendo pesadelo acordada...
RAÍZA:
Eu sei que é estranho. Eu toquei no livro pensando em como era minha
mãe e...De repente...Eu presenciei meu nascimento...Tio! num é
verdade que minha mãe sabia que ia morrer?
Josué e
Bruno se entreolham abismados.
RAÍZA:
Ela podia vivenciar o futuro, num é? Ela sabia que ia morrer e não
pôde evitar...É isso?
Josué
coloca o saco de pães sobre a mesa, pega o jarro de café com olhar
temeroso pra cima da sobrinha.
JOSUÉ:
Esse livro não é aquele...?...Aquele...?
BRUNO:
É aquele mesmo. (ele se volta para Raíza) Filha (pausa) certas
coisas na vida não podem ser evitadas. (desconversa) Você esperava
que ela fosse viver para sempre?
RAÍZA:
E nem podia...Aquela Juliana a matou, pai! A matou! Eu vi. Será que
minha mãe não viu isso? Será que ela não podia ter evitado mesmo?
JOSUÉ:
A Juh? Ela era minha amiga, que motivos ela teria pra matar sua mãe?
BRUNO:
‘Peraí’, gente! (Ele faz um gesto pra pararem e olha para a
filha) você não dizia que vivenciava o futuro? Que negócio é esse
de voltar no tempo?
COZINHA
[EXT.]
João
Batista, no corredor, pára, surpreso.
A tela se
fecha num baque.
FADE IN
CENA 4
CAFÉ-DÓRIA
[INT./MANHÃ]
A cena
mostra uma mulher loira de costas e Marco sentado à mesa à frente
dela.
MARCO:
Pensei ter ouvido você dizer que nunca mais voltaria ao Brasil...
MULHER
(V.O): E falei mesmo. Mas você sabe que o bom filho à casa retorna,
não é Marco?
Sentados a
uma mesa de madeira rústica e redonda com uma caixinha cheia de
grãos de café de enfeite, o ambiente é agradável.
MARCO:
Mas o que você tem feito? Não deu muito certo na Europa? (ele toma
o café).
MULHER:
Pelo o contrário, estudei muito lá e resolvi voltar. Cheguei mês
passado.
MARCO:
Quanta consideração...E só agora resolveu me ligar?...E a nossa
amizade? Ficou na Europa? Não trouxe em sua bagagem?
A moça
afasta o copo da boca e ri.
MULHER:
Você continua com esse seu estranho humor, hein...Mas não tive
tempo nem de desfazer minha mala. Comecei a trabalhar numa
construtora aqui perto e...
MARCO:
Construtora? Humm...Não sabia que gostava de construir...Da última
vez você estava pretendendo destruir um lar...
Ela sorri,
maliciosa.
MULHER:
Isso foi em outros tempos...Decidi olhar as coisas de uma forma
diferente.
MARCO:
Sério? (longa pausa) Quase fico espantado.
Eles riem.
Ela põe a mão no bolso da camisa listrada e retira um cartão.
MULHER:
Pra você ver que falo sério (ela entrega o cartão) Meu negócio
agora é construir...Construir (ênfase). Caso quiser mudar de
ramo...Tenho certeza que você seria um ótimo administrador de lá.
Marco pega
o cartão.
[POV de
Marco]
Ele vê
escrito ‘Juliana Matheus de Oliveira – Engenheira’.
Ele olha
para a moça, uma mulher loira, cabelos longos e ondulados e olhar
astuto.
CORTA PARA
CENA 5
APTº
403 – QUARTO DE BRUNO [INT./MANHÃ]
Em
primeira pessoa, vemos as mãos de alguém segurando uma foto de
Ramona.
RAÍZA
(V.O): Ela era tão bonita e de expressão tão tensa...
A cena vai
se afastando e há mais fotos espalhadas sobre a cama onde Raíza
está sentada.
Bruno vem
com uma caixa de madeira nas mãos. Ele a coloca sobre a cama e se
senta.
BRUNO:
Ela tinha sonhos perturbadores...
RAÍZA:
Não foi isso...
Os dois
param na presença de Ari.
Bruno abre
a caixa e retira chaveiros, brincos e alguns papéis. Ari mete a mão
e puxa do fundo do baú um cordão de ouro.
BRUNO:
Nossa! Nem lembrava mais disso. É do Josué. Ganhou da Juliana. Não
sei por que ele não quis usar.
Raíza toca
o cordão e a cena se aproxima das mãos dela.
Quando se
afasta, Raíza apanha o cordão que cai de uma cômoda. Ela está
sozinha.
Ouvimos
vozes alteradas vindas da...
SALA...
Raíza olha
tudo, mas não é a sala de seu apartamento. A tv, ligada, exibe uma
novela antiga. Em cima da estante de madeira rústica, há peças de
porcelana, porta retrato em preto e branco e um videogame também
antigo.
Raíza se
depara com Juliana, ao telefone, sentada de pernas sobre a mesa
central e acariciando um cordão de ouro.
JULIANA:
Mas eu gosto dele, tia...O Josué ainda será meu, você vai
ver...(pausa) É só eu tirar aquela mulher do caminho dele...(pausa)
Agora ela tinha que ficar grávida! Tomara que a criança
morra!...(pausa) Hã? É claro que eu tô falando da Ramona, de quem
mais?
Raíza,
surpresa, olha para as mãos onde ainda segura o cordão.
ARI
(O.S): Raíza?...Raíza?
Ari toca o
ombro da amiga até que ela volta do transe.
BRUNO
(para Ari): ‘Cê’ pode pegar um copo d’água pra ela?
Ari sai
correndo e Raíza joga o cordão dentro da caixa.
RAÍZA:
Juliana achava que meu tio era casado com a minha mãe!
BRUNO:
QUÊ? Mas ele nunca foi casado...
RAÍZA:
Minha mãe morreu por engano!
BRUNO:
Isso é um absurdo! De onde você tirou essa idéia?
RAÍZA:
Eu acabei de voltar ao passado, pai! Eu ouvi essa mulher dizer que
precisava tirar a minha mãe do caminho dele.
Bruno se
levanta, passa as mãos na cabeça.
BRUNO:
Filha (pausa) Será que não pode ser um engano? Eles eram amigos.
Como a Juliana não ia saber que ele não era casado?
Raíza nada
responde.
CORTA PARA
CENA 6
CAFÉ-DÓRIA
[INT./MANHÃ]
Marco e
Juliana continuam sentados à mesa.
JULIANA:
Mas você não me disse como anda sua vida desde que voltou ao
Brasil.
MARCO
(falso): Tudo na mais santa paz...
JULIANA:
Nenhuma paixão avassaladora?
MARCO:
Não sou homem de paixões. Essa coisa mundana e passageira. Prefiro
as coisas mais sólidas, você sabe.
Juliana
mexe o café delicadamente.
JULIANA:
Entendo...
Um rapaz
moreno e magro, passa perto deles e estica os olhos para Marco. Este
tenta disfarçar, mas Juliana observa.
JULIANA:
Conhece?
MARCO:
Quem?
Adiante, o
tal rapaz se vira e senta. É Matias.
JULIANA:
Aquele rapaz que acabou de passar por aqui.
MARCO:
Não vi...Não deve ser ninguém conhecido, se não teria me
cumprimentado...Não acha?
Juliana se
mostra desconfiada.
CORTA PARA
CENA 7
CASA
Nº 77 [INT./MANHÃ]
Raíza
está sentada num sofá de couro preto de frente para a pequena
estante.
CIPRIANO
(V.O): Eu já estou indo, Raíza!
RAÍZA:
Não tem pressa!
A garota vê
um porta retrato na estante. Ela levanta e caminha até lá.
[POV de
Raíza]
Na foto
estão Cipriano e Ramona grávida. Ele aparenta mais idade,
estranhamente. Raíza pega o porta retrato, retira a foto de dentro.
Ouve-se
vozes. A cena se afasta e ela olha para trás. No lugar do sofá,
mesa de restaurante e nele, Juliana e Josué. Há muitas pessoas e o
ambiente é bem iluminado.
JULIANA:
Você não me convidou aqui pra ficar falando da minha faculdade,
‘né’?
Josué está
sem jeito. Abaixa a cabeça para desviar do olhar libidinoso da moça.
JOSUÉ:
Não...Eu não gosto de...Rodeios, você sabe...
JULIANA:
Eu sei.
Ele junta
suas mãos com as delas e tenta não olhar muito para aqueles olhos
fixos.
JOSUÉ:
Eu gosto muito de você, é outra coisa que você sabe, ‘né’?
JULIANA:
Ih! Vai me pedir em namoro, já vi tudo...
Josué
solta suas mãos das delas e faz uma pausa.
JOSUÉ:
Eu sou casado, Juh.
Juliana dá
uma respirada, sorri, sem graça, mas faz parecer que está tudo bem.
Raíza
mantém-se de pé, olhando, abismada, para expressão fria do tio. E
olha, olha, enquanto o cenário, gradualmente, vai mudando. A imagem
esmorece e a de Cipriano, com um copo nas mãos, surge a sua frente.
CIPRIANO:
Desculpe a demora. Trouxe um suco de manga pra você.
Raíza se
mostra absorta.
FADE OUT
FADE IN
CENA
8 L.A
HOUSE [EXT./MANHÃ]
Um
carro pára em frente à boate.
Valentina
sai da boate, apressada, óculos escuros.
Marco desce
do carro, fecha a porta e os dois se encaram.
MARCO:
Quem te ver sair assim, pensa que você é uma mulher de negócios,
muito atarefada...
VALENTINA:
‘Cê’ tá maluco? Quer que nos vejam juntos?
MARCO:
O que tem de mais? Você é minha cunhada...E além do mais quase não
te encontro na sua casa...Anda fugindo de mim, é?
A cena
mostra os dois distantes. Uma mulher observa. Contorce os dedos,
nervosa.
L.A HOUSE
[EXT.]
MARCO:
Agora sua imagem diante do Cael deve estar ótima, não? Ele agora
sabe que foi você quem denunciou o Paulo...E ainda inventou que
encontrou o vídeo por acaso...Queria ver você contar que foi você
quem gravou o vídeo na cama dele.
Valentina
leva a mão, mas Marco a contém. Puxa seu braço e lhe dá um beijo
próximo à boca.
VALENTINA:
O que você quer?
MARCO:
De você, nada. (ele a solta e ajeita a própria gola) Mas você viu
o que ele fez comigo por causa da Raíza, não? Me expulsou de casa e
posso até perder minha sociedade aqui...
VALENTINA:
Já sei! Você quer que eu fale com o Cael pra não tirar...
MARCO:
Não é nada disso. E duvido que você tenha capacidade pra tanto,
mas...A Raíza...
VALENTINA:
O que tem ela?...Anda! Fale!
MARCO:
Ouvi dizer...Que os dois estariam juntos se não fosse por aquele
episódio em que eles cortaram relações...
Valentina
parece absorta ao encará-lo. De repente, ri de forma espontânea,
quase querendo chorar de raiva.
VALENTINA:
Devia estar feliz...Ou não? Tem medo de sentir falta daquela varinha
de condão?
Marco não
diz nada. Está sem reação. Valentina o deixa ali parado e entra no
Toyota.
ESQUINA...
JULIANA
(murmura): Ele mentiu pra mim...Ele mentiu pra mim...
Ela vai
andando para trás e acaba se esbarrando num rapaz. Matias. Ele
sorri, encantadoramente e olha a cena que a moça assistia até
então.
Marco está
parado ao meio fio.
CORTA PARA
CENA 9
CASA
Nº 77 [INT.]
Raíza e
Cipriano estão sentados no sofá. Ela põe o copo sobre a mesa e em
seguida, passa as mãos nos joelhos.
CIPRIANO:
Então, quer dizer que você acredita que sua mãe não morreu em
consequência do parto? Se baseia em quê?
Raíza mexe
a boca na tentativa de dizer a verdade, mas inventa.
RAÍZA:
Sonhei...Sonhei ter visto a tal de Juliana dar um chá pra minha mãe
e, em seguida, ela morrer.
CIPRIANO:
Não poderia ser uma coincidência?
RAÍZA:
Tenho duvidado muito que isso exista...
CIPRIANO:
Mas foi apenas um sonho...Eu...Não vou alimentar suas idéias...
RAÍZA:
O que você sabe?
CIPRIANO
(intriga): Eu não sei o que ele fez, mas qualquer um no lugar dele
inventaria qualquer desculpa para se livrar daquele encosto...
RAÍZA:
Inventar que é casado é uma boa desculpa?
CIPRIANO:
Pr’aquela época, sim. E duvido que, mesmo hoje, o Josué tivesse
amante. Ele é sério demais para isso. Então, pra uma mulher ficar
com ele, uma outra não poderia existir...
Raíza está
impressionada e chocada ao mesmo tempo.
Ouve-se o
celular tocar. Raíza vira-se, pega a bolsa e apanha o celular.
RAÍZA:
Rafaela? (pausa) Tudo bem (pausa) Não, tá de pé sim, nós vamos ao
shopping. (pausa) Ah! Seu computador deu problema? Pode usar lá de
casa. Nos encontramos lá. (pausa) Até!
Raíza
desliga, guarda na bolsa e se levanta. Cipriano faz o mesmo e a
garota toca seus ombros.
RAÍZA:
Valeu aí pela paciência, viu.
CIPRIANO:
Não foi nada. Quando quiser voltar...
Os dois se
abraçam e por suas costas, ele deixa um sorriso malicioso escorrer
por entre os lábios.
CORTA PARA
CENA 10
LANCHONETE [INT.]
Juliana e
Matias estão sentados um de frente pro outro. Ela não bebe nada;
Ele, café.
O rapaz
aparenta tranquilidade.
JULIANA:
Vocês se conhecem há muito tempo?
MATIAS:
Quem? Eu e esse tal que a senhora falou?
JULIANA:
Eu não sou idiota, não me trate como tal.
MATIAS
(toma o café): Não sei onde quer chegar com isso...
Juliana
apanha a carteira, abre e Matias faz um gesto para ela parar.
MATIAS
(falso orgulho): Eu não tô pedindo dinheiro. Se quer saber se
aquela moça que ‘tava’ com ele era a namorada...Não precisa me
pagar só pra isso...
Juliana
sorri, guarda a carteira.
JULIANA:
E em que casos você aceita dinheiro?
MATIAS:
Em casos em que há serviço... (ela apóia os braços sobre a mesa
aproximando o rosto) A senhora tem algum pra mim?
JULIANA:
Ela é namorada do Marco?
MATIAS
(afasta
o rosto): Namorada, nem digo...Mas amante sim...Parece um rolo a
história deles.
JULIANA:
E sai por quanto desenrolar essa história?
Os dois
trocam olhares maliciosos.
FADE OUT
FADE IN
CENA 11
ÔNIBUS
[INT./FIM DA MANHÃ]
O ônibus
dá uma parada em frente à L.A House. Raíza olha pela janela e vê
Marco saindo de lá.
Os dois
cruzam os olhares. Marco ajeita a gola, sério. Raíza desvia o olhar
e o ônibus parte.
CORTA PARA
CENA 12
ED.
CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
Josué e
João saem do carro e o tio abre o porta malas.
Nesse
instante, os dois são vistos de longe.
[POV –
carro / int.]
As mãos
no volante são de mulher. O carro se aproxima do edifício e pára.
João olha
e vê um Toyota preto.
JOÃO:
Ih...Será que é o Cael?
Josué
também olha.
Juliana
desce do carro, bate com a porta e caminha até o carro branco.
Está
vestida de blusa de manga branca de cetim, calça jeans e sapato de
bico fino.
JULIANA
(surpresa): Josué? (pausa) Quanto tempo!
JOSUÉ:
Ahn...Desculpe, mas eu...
JULIANA:
Juliana... (ela dá a mão) Juliana Matheus de Oliveira.
JOSUÉ
(impressionado): Juliana?! (ela a olha de cima em baixo) Você tá
ótima!
Os dois se
abraçam sob o olhar desconfiado de João.
JOSUÉ:
Vamos entrar!
CORTA PARA
CENA 13
ED.
CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
Raíza
desce do ônibus, apressada. Corre e alcança a calçada do edifício.
Quase tropeça.
Pára ao
ver um Toyota, ali, parado. Anda, em passos mais brandos.
RAÍZA
(em OFF): Será que o Cael tá por aqui?
Ela faz que
vai tocar o carro.
RAÍZA
(em OFF): Vai que eu descubro um passado cabuloso dele... (ela
desiste de tocar) Chega de confusão com aquela gente...
Corre até
a entrada do prédio e observa o corredor iluminado com uma luz
fraca. Inicialmente, ela estranha. Mas em seguida, age naturalmente.
É um
corredor com pisos e azulejos claros, típico de banheiro.
Ela se olha
no espelho e vê o reflexo de uma mulher loira (Juliana) ao seu lado.
Ela se volta, sobressaltada e percebe estar em um toillete, com cinco
banheiros e espelhos de canto a canto. Seu semblante muda, de
repente.
As duas se
fitam e Juliana dá um grito.
JULIANA:
ME DÁ ISSO AQUI!
Juliana,
alterada, arranca o mp3 das mãos de Raíza e sai batendo a porta.
Raíza
esboça lembrar de algo.
RAÍZA
(grita): VOLTA AQUI!
Raíza
corre atrás da mulher.
O cenário
é um shopping e as pessoas olham, assustados com a cena. Juliana
desce as escadas e adentra o estacionamento ao ar livre.
Raíza dá
um salto para chegar logo ao fim da escada e quando põe a mão na
soleira do portal, Juliana, com o celular nas mãos, lhe dá uma
última olhada e entra no Toyota preto.
Raíza faz
cara de suspense. Juliana bate com a porta do carro.
VALENTINA
(para Juliana): Ei! Sai daí! (ela grita para o outro lado) Alguém
faz alguma coisa! Estão roubando meu carro!
TOYOTA
[INT.]
Juliana
vira a chave.
A cena se
afasta, o carro explode. Valentina é jogada para trás e Raíza cai
sentada.
Estarrecida
com o que vê, o cenário vai voltando a ser o interior do edifício.
Aquele som
da explosão e as faíscas caindo sobre outros carros vão sumindo.
Raíza se levanta e corre pelas escadas.
APTº 403 –
SALA [INT.]
A porta é
aberta bruscamente e Raíza pára diante da cena.
[POV de
Raíza]
Josué,
Bruno e a tal mulher, que viu no futuro sentados nos sofá. João e
Ari em pé perto de Rafaela no pc.
JOSUÉ:
Raíza. (ele se levanta) Essa é Juliana.
Juliana
levanta e estende a mão. Raíza olha aquele cumprimento e Bruno
observa, na expectativa.
Raíza
aperta sua mão e imediatamente vêm uns flashes estranhos.
[VISÃO]
A imagem
que aparece é de Juliana entregando uma quantia em dinheiro para um
sujeito moreno (Matias).
JULIANA:
Quero o serviço pra hoje...
[FIM DA
VISÃO]
Raíza
larga sua mão, de repente de forma agressiva.
RAÍZA:
O que veio fazer aqui? Veio ver se dessa vez a senhora ‘traça’ o
meu tio?
BRUNO:
Filha! Isso são modos?
RAÍZA:
Pai, o senhor não devia receber esse tipo de gente na nossa casa!
Lembra! Lembra!
JOÃO:
A casa é de seu pai, Raíza, acho que ele pode receber quem ele
quiser aqui.
Raíza lhe
uma olhada.
JOSUÉ:
‘Cê’ me desculpe, Juliana, mas é que a Raíza costuma ter mau
humor pela manhã devido a...Pesadelos...
JULIANA
(sarcástica): Sabe o que é bom pra não ter mais
pesadelos?...Receber sempre bem as pessoas...
Soa como
uma brincadeira, mas Raíza não gosta. Disfarça e vai até ao
computador.
RAFAELA:
Você me deixou usar e...
Raíza a
interrompe olhando para o tio.
RAÍZA
(voz alta): Eu não tô de mau humor, Rafa...
CORTA PARA
CENA 14
APTº
403 – QUARTO DE RAÍZA [INT.]
Raíza
penteia os cabelos diante do espelho e Rafaela tenta fazer o mesmo.
Ari está sentada, calçando uma sandália.
Bruno bate
na porta aberta.
BRUNO:
Raíza...A Juliana nos chamou pra ir ao shopping...Ela quer
aproveitar que vocês duas vão e...
Raíza pára
de pentear os cabelos e olha para Rafaela.
RAÍZA:
Se incomoda da gente ir outro dia?
BRUNO:
Raíza!
Ele faz um
sinal pra ela vir até ele.
BRUNO
(cochicha): Filha (pausa) Você não pode tratar os outros baseado no
que viu ou deixou de ver. Vá que você se enganou?
RAÍZA
(cochicha): Eu sei muito bem o que vi.
BRUNO
(cochicha): Tudo bem. Mas você viu o que aconteceu entre você e o
Marco, ‘né’? Não precisou você tratá-lo mal pra ele querer te
matar...
Raíza
respira fundo e olha para as amigas. Torna a olhar pro pai.
RAÍZA
(cochicha): Vou me esforçar...
CORTA PARA
CENA 15
SHOPPING – ESTACIONAMENTO [INT./INÍCIO DA TARDE]
Raíza sai
do carro, desliga o mp3 e guarda dentro do bolso da calça.
Bruno sai
em seguida e Raíza segura em seu braço.
RAÍZA
(murmura): Como ela é cínica...
O toyota
preto estaciona mais adiante e Juliana e Josué saem dele.
BRUNO:
Confesso que me incomodo depois do que você disse, mas o Josué...
ARI:
O que foi, gente?
Juliana e
Josué aproximam.
RAÍZA:
Ah! Eu ‘tava’ aqui comentando...Pena o Dcr não ter vindo também,
‘né’?
RAFAELA
(confere sua bolsa): O pior é que tem sido assim na maioria dos
domingos, viu.
ARI:
Vai vê ele arrumou namorada e tá com medo que a gente fique com
ciúmes.
Ela sorri e
João a olha estranhamente.
JULIANA:
Ou tem medo que a amizade atrapalhe o romance.
RAÍZA:
A senhora deve saber bem o que é isso ‘né’?
Juliana faz
uma pausa profunda, olha para os demais, calados. Bruno está tenso.
JULIANA
(gagueja): O-o que você quer dizer com isso?
Raíza
levanta a face como se quisesse um confronto.
RAÍZA:
A senhora é mais experiente...Deve ter vi...Visto algo
semelhante...Por isso disse o que disse...Não?
Bruno
esboça alívio.
CORTA PARA
CENA 16
SHOPPING
[INT.] - LANCHONETE [EXT./TARDE]
Raíza está
sentada junto de Ari, Rafaela e João.
Ouve-se
risadas vindas logo atrás, na outra mesa. Raíza vê Juliana e Josué
rindo, relembrando os velhos tempos enquanto Bruno está sério.
RAÍZA
(murmura): Tomara que se engasgue.
RAFAELA:
O que ‘cê’ disse aí, amiga?
RAÍZA:
Hã?
JULIANA
(V.O): Se eu não tivesse visto a Raíza nascer nem diria ser filha
de Ramona. São tão diferentes...
Raíza
apóia o cotovelo esquerdo na própria cadeira e vira para trás.
RAÍZA:
A biologia explica...Caso não se lembre.
Juliana
ajeita a mecha do cabelo para trás da orelha e engole a saliva, sem
graça.
JOSUÉ:
Raíza, por favor! Você tá sendo grosseira.
JULIANA:
Tudo bem, Josué. Ela disse a verdade. Se a Ramona estivesse aqui
certamente diria a mesma coisa.
RAÍZA
(irônica): Pena ela não poder estar aqui, não é mesmo?
JOSUÉ:
Raíza! Não tô gostando desse seu tom...
A garota se
volta para os amigos, com raiva. Cruza os braços, inconformada.
JOÃO:
A gente quase não sai em família e quando isso acontece você quer
estragar tudo!
A prima
bate o pé, descruza os braços e levanta.
RAÍZA:
Dá licença!
Ao dar as
costas, Raíza se esbarra em Valentina deixando suas sacolas caírem.
VALENTINA:
EI! Olha pro onde anda!... (ela encara a garota e trinca os dentes)
Raíza...
RAÍZA:
Como vai? (forçando a gentileza).
VALENTINA:
Como vê! Cheia de sacolas...(irônica) Não vai perguntar pelo Cael?
Raíza sai
em disparada, irritada.
Valentina sorri forçado para os demais.
CORTA PARA
CENA 17
TOILLETE
[INT.]
Raíza
entra, fecha a porta e vai até o lavatório. Tira a bolsa, põe
sobre a pia, abre a torneira e molha o rosto.
Ouve-se um
ranger de porta. Raíza olha para o espelho e vê o reflexo de
Juliana ao seu lado.
JULIANA:
Veio esfriar a cabeça ou preparar um novo rol de grosserias?
RAÍZA
(fecha a torneira): Não sei a que se refere...
Raíza seca
as mãos numa toalha de papel e Juliana a encara.
JULIANA:
Desde que eu pisei na sua casa eu tenho notado um mal estar no ar. E
você ainda ajudou com suas ironias. O que foi que eu te fiz?
Raíza joga
o papel no lixo, põe a mão na bolsa. Juliana a segura pelo braço.
Raíza lança um olhar matador pra aquela mão.
JULIANA:
O que foi que eu te fiz?
RAÍZA:
A mim, nada. Quem sabe à minha mãe...
Juliana a
solta e se faz de desentendida.
JULIANA:
Agora sou eu que não sei a que se refere. Eu sou amiga de seu tio.
Nunca fui da sua mãe.
RAÍZA:
Se fosse, teria sido a pior amiga...
JULIANA:
Seu tio não vai gostar de saber que fui destratada...De novo. (ela
dá as costas).
RAÍZA:
Nem de saber como a cunhada morreu...De fato.
JULIANA:
Por que esse assunto agora? ...(pausa) Ah! Já sei! Não se conforma
de ter causado a morte da sua mãe, ‘né’?
Raíza
aperta seu braço.
JULIANA:
Aaah!
RAÍZA:
‘Tu’ engole isso, hein! Você é uma despeitada que nunca deu
sorte no amor!
JULIANA:
Ai! Pára com isso! ‘cê’ tá louca! Eu não tenho culpa da sua
mãe tá morta!
RAÍZA:
Tem culpa sim! Você matou minha mãe com um vidrinho assim ó (ela
faz um gesto com o dedo indicador e o polegar) desse tamanho e
colocou no chá dela!
Juliana se
solta, volta para trás e bate contra o lavatório. Acaricia o
próprio braço, marcado.
JULIANA
(falso controle): Já pensou em ser escritora? Tem muita imaginação.
RAÍZA:
Tanta que eu até imagino o momento em que você entrou na cozinha.
Fingiu que não sabia onde estava a toalha só pra ficar sozinha.
Depois, despejou aquele líquido transparente no chá dela.
JULIANA
(nervosa): Você não tinha como saber disso, você era só um bebê!
As duas se
encaram. Raíza sorri.
RAÍZA:
Você já disse tudo.
JULIANA
(arregala os olhos): Não! Você tá querendo me acusar de uma coisa
muito grave!
RAÍZA
(instigante): Se fosse feita uma autópsia naquele tempo,
descobririam o veneno ou é um desses que não deixam rastros?
JULIANA:
Eu-Não-Sei!
RAÍZA:
Você matou minha mãe por achar que ela era casada com Josué, ‘né’?
Juliana ri,
nervosa. Entranha os dedos por entre os cabelos.
JULIANA:
Isso não tem cabimento...
RAÍZA:
Como pode sair fazendo as coisas sem ter certeza, hein? Hein?
JULIANA:
CHEGA! Vai cobrar isso do seu tio! Ele que inventou ser casado com
ela!
Raíza está
chocada.
JULIANA
(cont./ olhos lacrimejam): Um homem inventaria qualquer coisa pra se
livrar de uma pedante feita eu, não?
RAÍZA:
E depois? Quando matou minha mãe? Quando descobriu o erro que
cometeu, o que sentiu?
Juliana põe
a mão na boca, arregala os olhos, esboça ansiedade.
JULIANA:
Um vazio enorme... (Seus olhos lacrimejavam, aparenta raiva) no meu
bolso. Não queira saber quanto custou aquela poçãozinha...
Leva um
tapa.
RAÍZA:
Meu tio vai saber dessa história!
Juliana ri
atordoada.
JULIANA:
Bobinha, você não tem como provar.
Raíza
pára, um instante. Olha para baixo, para o bolso e retira o mp3.
Serenamente, com ar de esperta, a exibe para Juliana.
RAÍZA:
Fim de gravação.
JULIANA:
Ma-mas o que é isso?
RAÍZA:
Eu agora tenho como provar.
JULIANA:
Há! Você acha mesmo que eu me importo com isso? A amizade dele não
me interessa mais! E o crime já prescreveu.
RAÍZA:
Mas aposto como sua profissão ainda importa...
Raíza põe
a mão na bolsa e rapidamente as duas se fitam.
Juliana dá
um grito.
JULIANA:
ME DÁ ISSO AQUI!
Juliana,
alterada, arranca o mp3 das mãos de Raíza e sai batendo a porta.
Raíza
esboça lembrar de algo.
Tocando:
Echelon
– 30 Seconds To Mars
->
RAÍZA
(grita): VOLTA AQUI!
Raíza sai
atrás da mulher.
As pessoas
olham, assustados com a cena. Seguranças correm atrás também.
Bruno, Josué, João, Ari e Rafaela ao longe, se levantam ao ver a
cena.
No meio do
percurso, sem parar, ouve-se o som de celular. Juliana tira do bolso
e atende, nervosa.
JULIANA:
O que é? Fala logo! ... (pausa)O quê? ...(pausa)Sim, sim, me ligou
pra isso? Já te paguei, quero o serviço pronto!
Ela
desliga.
ESTACIONAMENTO
[INT.]
Valentina
abre a porta do Toyota.
HOMEM:
Moça! A senhora deixou cair seu brinco.
Valentina
volta até a calçada do shopping.
Juliana sai
correndo e passa por Valentina fazendo-a cair as sacolas.
VALENTINA:
Aai!
SHOPPING –
ESCADAS [INT.]
Raíza dá
um salto para chegar logo ao fim da escada e quando põe a mão na
soleira do portal, Juliana, com o celular nas mãos, lhe dá uma
última olhada e entra no Toyota preto.
Raíza faz
cara de suspense. Juliana bate com a porta do carro.
VALENTINA
(para Juliana): Ei! Sai daí! (ela grita para o outro lado) Alguém
faz alguma coisa! Estão roubando meu carro!
TOYOTA
[INT.]
Juliana
engata a chave e ao virar, a cena se afasta.
O carro
explode.
Valentina é
jogada para trás e Raíza cai sentada.
Apavorada,
ela observa a cena fixamente.
FADE OUT
FADE IN
CENA 18
ESTACIONAMENTO
[INT./FIM DE TARDE]
Há
bombeiros, polícia e muita gente curiosa no local. Ouvimos vozes e
sirene de ambulância.
Um lacre
cerca o Toyota destruído e vemos
Valentina,
trêmula e suja de fumaça de frente para um policial.
VALENTINA:
Eu não tenho inimigos (ela mira em Marco que vem a sua direção).
Marco se
aproxima e o policial se afasta.
MARCO:
O Cael já foi avisado ele...
VALENTINA
(olhar esquisito): Foi você, não foi?
MARCO:
Hã? Do que...
VALENTINA:
Eu sabia que aquele encontro em frente à boate não foi à
toa...Você ‘tava’ querendo me intimidar.
MARCO:
Você deve estar muito cansada, vem que eu te ajudo...
Ela se
esquiva.
VALENTINA:
Se não fosse pelo meu brinco eu estaria morta agora!
MARCO:
Você me acha capaz de uma atrocidade dessas?
Valentina
mantém o olhar seco pra ele.
MARCO:
Eu jamais matei alguém e não seria agora que eu faria isso.
Valentina
sai da frente dele, irritada.
Ele sorri,
debochado.
Ouve-se o
som de um celular. Marco põe a mão no bolso da camisa e tira o
celular.
MARCO
(abafa a voz): O que é, Matias?
MATIAS
(V.O):
Essa mulher que morreu...
MARCO:
A Juliana? O que tem ela?
MATIAS
(V.O): Era pra dona Valentina ter morrido no lugar dela.
MARCO:
Isso deu pra perceber...
MATIAS
(V.O): Ela encomendou a morte da dona Valentina...Era pra ela ter
explodido...
Marco olha
para os destroços do toyota.
MARCO:
Você está me dizendo que...
MATIAS:
O que você acha, doutor? Essa tal de Juliana, que Deus a tenha em
sua santa glória, era apaixonada por você. Sua amante (pausa) digo,
a Valentina era um problema.
Marco dá
um soco ao léu.
MARCO:
Eu não acredito! E mais uma vez ela escapa!
Ele afasta
o celular da orelha e olha para o lado, na saída do shopping.
[POV de
Marco]
Raíza está
com o rosto encostado ao ombro do pai e os outros, parentes e amigos
ao seu redor.
Os dois se
encaram estranhamente.
FADE OUT
FADE IN
CENA
19 APTº
403 – SALA [INT./NOITE]
Raíza
está diante do computador. Passa as mãos pelo rosto,
desconcentrada.
Bruno pega
uma cadeira e senta ao seu lado.
BRUNO:
Ainda pensando no que aconteceu?
RAÍZA:
E tem como ser diferente? (ela suspira com pesar) Conversou com meu
tio?
BRUNO:
Hunf...Falei que eu acredito que nunca foi a intenção dele provocar
uma tragédia, mas...Ele saiu sem dizer pra onde ia...Acho que tá
sofrendo mais que eu.
RAÍZA:
Eu queria que a Juliana tivesse falado a verdade pra ele...
BRUNO:
Mas ele sabe que cometeu um erro ao mentir. A gente nunca sabe quando
vamos nos deparar com uma louca ‘né’?
Ela lhe dá
uma olhada e abaixa a cabeça.
BRUNO:
Ainda se sentindo culpada é?
RAÍZA:
Eu podia ter evitado, pai. Eu deixei tudo acontecer...
O pai toca
seu ombro e sorri, tentando consolá-la.
BRUNO:
Uma vez eu te disse: O futuro só a Deus pertence. ELE que decidiu
isso. ELE quem quis isso, tá?
RAÍZA:
Faz tanta questão de lembrar disso, mas sabe que não é bem assim,
não é?
Bruno
afasta seu braço da filha e faz que vai se levantar. Raíza apóia
sua mão na perna dele.
RAÍZA:
Por que nunca me contou que minha mãe também podia vivenciar o
futuro? Por que fingia não acreditar em mim quando sabia que eu
sempre dizia a verdade?
O pai torna
a sentar, segura em suas mãos.
BRUNO
(tom ressentido): Pra quê uma pessoa tem um poder desse se não pode
evitar a própria morte?
CORTA PARA
CENA 20
APTº 403 – SACADA DO QUARTO [INT./NOITE]
A cena vai
se aproximando pelas costas de Raíza e Ari.
ARI:
Ele vai voltar bem, tenha fé.
Raíza olha
para trás e torna a olhar para frente debruçando os braços no
ferro.
RAÍZA:
Ele cometeu um grande erro, mas... (Ari debruça os braços também,
ao seu lado) Mas tenho certeza que deve tá se sentindo o pior do
mundo...
Seus olhos
lacrimejam. Ari observa.
ARI:
Todos nós cometemos erros, Raíza. A gente precisa aprender com
eles.
RAÍZA:
Deixar alguém morrer não é um erro qualquer, Ari...E eu deixei a
Juliana morrer...
Ari envolve
seu braço em seu pescoço.
ARI:
Deixa disso, amiga. Você não é a heroína do mundo; Não pode
evitar, sempre, o que tá predestinado a acontecer. Além do mais,
ela roubou seu mp3, a prova de que tudo que você disse era verdade.
Silêncio.
Raíza engole a saliva e molha os lábios. Suspense.
RAÍZA:
Eu não gravei nada, Ari...(ela mira na amiga) Eu menti.
Ari se
assusta.
RAÍZA:
Eu disse aquilo pra deixá-la com medo.
ARI
(temerosa): Você não teve culpa. Se não fosse ela seria a
Valentina.
RAÍZA:
É...No fim de tudo ela morreu que nem minha mãe: por um engano.
A cena
volta pra trás, dá um giro rápido e mostra que a porta está
entreaberta e que pela fresta João Batista, de olhar arregalado,
ouve a conversa.
CORTA PARA
CENA 21
L.A HOUSE - CASSINO [INT./NOITE]
Tocando:
If
Everyone Cared – Nickelback ->
Ouvimos
uma música eletrônica abafada. A cena mostra jogadores perdendo e
outros ganhando.
Muitos com
o copo nas mãos, risos, conversaria. O cupriê fecha as apostas.
Vemos o
corpo de um homem passando pelos apostadores. Pára atrás de outro
onde vemos somente as mãos balançando um copo.
HOMEM
(em pé / V.O): Veio desafogar suas tristezas?
A cena
revela Josué, sentado e com ar desolado. Olha sobressaltado para
cima.
JOSUÉ:
Não é da sua conta.
O homem
senta ao seu lado com um copo na mão. É Cipriano.
CIPRIANO:
A última vez que te vi assim foi há mais de 20 anos quando seu
irmão, pai de João, morreu.
JOSUÉ:
Preocupado?
CIPRIANO:
Quem sabe...(ele desvia o olhar e vira o rosto para frente) Está
assim por causa da Juliana? Não devia...Se for verdade o que a Raíza
disse, ela matou minha irmã...
Josué o
encara.
JOSUÉ:
Como assim “se for verdade”?
CIPRIANO
(meneia a cabeça): É somente a palavra dela. Talvez ela queira
culpar alguém pela morte da mãe por não aceitar que ela é a
culpada.
JOSUÉ
(balança o copo): Ela era só uma criança...Só uma criança...
CIPRIANO
(tentando fazer intriga): Que se não tivesse nascido não teria
causado a morte prematura de Ramona...
Josué para
de balançar o copo e o encara.
JOSUÉ:
O que você quer afinal?
CIPRIANO:
Tentar te ajudar, oras. A Raíza diz que a Juliana confessou um feito
de uns 20 anos atrás e você acredita? (desconfiado) Passou a ter
mais fé nas pessoas, é?
JOSUÉ:
O que importa é que eu sei o que eu fiz.
CIPRIANO:
Imagine se Raíza soubesse tudo...
Cipriano
sai do balcão e Josué segura o copo de olhar fixo.
FUSÃO PARA
= = Music
Off = =
CENA 22
APTº 403 – QUARTO [INT./NOITE]
A cena
adentra pela janela. Raíza está deitada na cama, pensativa. Bruno
chega da porta com uma agenda nas mãos.
BRUNO:
Não vai jantar de novo?
RAÍZA:
Não consigo comer nada.
Bruno
entra, vacila os passos e senta na beirada da cama.
BRUNO:
Filha, Eu sei que tudo tem sido difícil, mas...Você não pode se
sentir culpada pelas coisas que precisam acontecer.
RAÍZA
(tom agressivo): Se as coisas precisam acontecer por que é que tenho
que ver? Que serventia isso teria pra minha vida?
Bruno
abaixa a cabeça. Raíza relaxa.
RAÍZA:
Eu sei...(ela se levanta e senta) Nem o senhor sabe. (ela dobra os
joelhos e apóia as mãos nele).
Bruno toca
suas mãos, amável.
RAÍZA:
Que agenda é essa?
BRUNO:
Era da sua mãe. Trouxe pra você. Ela começou a escrever quando
soube que ‘tava’ grávida. Quero que fique contigo.
Ele estende
a mão, mas ela não pega.
RAÍZA:
Tenho medo de tocar e vê o que não devo.
BRUNO:
Filha, Você não pode evitar de ver o futuro, mas não tem que se
sentir obrigada a evitá-lo, entende? Querer controlar o futuro é
querer controlar o mundo!
RAÍZA:
O senhor não estaria me dizendo isso agora se eu não tivesse
evitado a sua morte...
Ele olha
para a agenda, cabisbaixo.
BRUNO:
‘Cê’ tem razão...
Os dois se
olham por instantes.
BRUNO:
De qualquer maneira, vou deixar isso aqui (ele deixa a agenda aos pés
da filha).
Ele
levanta, sorri e sai do quarto.
Em primeiro
plano, Raíza visualiza a capa da agenda. Reluta, mas acaba abrindo
aleatoriamente e pára numa página com pouca escrita.
RAÍZA
(em OFF / voz de Ramona): Está escuro. Caminho, mas não sinto meus
pés tocarem o chão. Passo por entre árvores secas ao meu redor...
Raíza
arrisca em tocar na folha.
[FLASHBACK]
A cena
adentra um caminho de terra, estreito. Ouvimos apenas o pulsar de um
coração.
Por entre
árvores secas uma paisagem se faz mostrar adiante. A cena vai se
aproximando, vira na curva e ao longe, poeira sai do chão iluminada
por um pequeno foco de luz que entra pelas folhagens.
A poeira
cessa e revela uma sepultura de costas. Ouvimos o pulsar de um
coração mais forte e abafado.
A cena
entra na sepultura, vaza pelo caixão rapidamente e pára no rosto de
Raíza, inerte.
De repente,
ela abre os olhos, o som do coração batendo, pára.
FADE TO
BLACK
FIM DO EPISÓDIO
Autora:
Cristina Ravela
Elenco:
Raíza
(Maria Flor)
João
Batista (Caio Blat)
Bruno
(Juan Alba)
Josué
(Caco Ciocler)
Cael
(Michael Rosenbaum)
Marco
(Pierre Kiwitt)
Rafaela
(Fernanda Vasconscellos)
Ari
(Nathália Dill)
Valentina
(Alinne Moraes)
Cipriano
(Thiago Rodrigues)
Participação Especial:
Participação Especial:
Juliana
(Drica Moraes)
Juliana
- Jovem (Nathália Rodrigues)
Bruno-Jovem
(Guilherme Winter)
Josué-Jovem
(Léo Rosa)
João
Batista-criança (João Pedro Carvalho)
Dona
Maria (Laura Cardoso)
Trilha Sonora:
Trilha Sonora:
Echelon
- 30 Seconds To Mars
If
Everyone Cared - Nickelback
Produção:
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com
nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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