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RAÍZA SÉRIE
30:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA
Série de
Cristina Ravela
Episódio 4 de 20
© 2008, WEBTV.
Todos os direitos reservados.
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FADE IN
CENA 1
APTº
403 – SALA[INT./MANHÃ – 08:00]
A cena
focaliza a porta e ouvimos o toque da campainha. Bruno atravessa a
sala, gira a chave e abre. Dcr e Rafaela sorriem.
RAFAELA:
Bom dia!
DCR
(sorriso de canto a canto):
Espero não termos chegado cedo demais.
Raíza
aparece da porta da cozinha e abre um sorriso também.
RAÍZA:
Chegaram na hora certa; Vamos tomar café?
Dcr entra
e, sem cerimônia coloca a bolsa tipo carteiro e cor de palha sobre o
sofá.
DCR:
Bom, já que insiste vou deixar minha bolsa aqui. Posso?
Rafaela dá
um tapa no ombro dele.
RAFAELA:
Credo, Dc! Como ‘tu’ é cara de pau!
Raíza e o
pai riem. Os quatro seguem para a...
COZINHA...
João está
sentado; Josué tira o jarro da cafeteira e o coloca sobre uma toalha
de prato estendida sobre a mesa.
Na mesa há
um recipiente com pães e outro com torradas, manteiga e no meio,
cesto de frutas. A mesa só tem quatro lugares, mas Raíza apanha
outras duas e os deixa ali perto.
RAFAELA:
Não precisa, Raíza. Eu fico em pé mesmo.
Raíza a
faz sentar.
RAÍZA:
Nem pensar! Amiga minha em pé? Depois ‘cê’ vai sair daqui
dizendo que comeu em pé no apartamento da Raíza.
As visitas
riem. Bruno e Josué também.
RAFAELA:
Mas Raíza, me conta: Por onde você andou? Os sequestradores
desistiram de vocês? (ela olha para João que entreolha com a prima)
Foi isso?
Dcr abaixa
a cabeça, Bruno e Josué se entreolham também.
RAÍZA:
Mais ou menos...Digamos que... (ela serve a amiga com café) Os
sequestradores eram de uma seita estranha que cultuava a vaidade e
que nós, eu e o João, éramos a beleza que eles procuravam...Uma
verdadeira obra de arte.
Josué
segura o riso. Dcr também.
RAFAELA
(olhar desconfiado):
Mas vocês fugiram deles? O que houve?
Raíza
coloca o jarro de volta à mesa e a contorna.
RAÍZA:
Eles se cansaram da nossa beleza-mor e nos fizeram prometer nunca
falar sobre eles.
JOÃO
(tom de falso assustado):
Raíza! Você já está falando neles!
RAÍZA:
Ai meu Deus! É mesmo!
Rafaela
fecha a cara e olha desconfiada para Dcr. Este faz um gesto em
direção a Raíza.
DCR:
Me serve um café!
Todos riem.
RAÍZA:
Mas e você, Rafaela? Quer dizer que você tá fazendo faculdade de
fisioterapia?
Rafaela
pega a faca, corta o pão...
RAFAELA:
Comecei tem 1 ano...
...Ela
passa a manteiga no pão e o abocanha.
RAÍZA:
E você, ‘D’? Lecionando informática, hein. Acho que preciso me
atualizar...
DCR
(boca cheia):
Quando quiser é só falar...
RAFAELA:
Ai ‘D’! Olha a boca.
Todos riem,
menos João Batista que come o pão quieto. A campainha toca.
Bruno vai
atender enquanto todos comem.
Logo em
seguida, Bruno aparece da porta da cozinha acompanhado de Marco.
Raíza, com
o pedaço de pão na mão e a boca cheia, olha surpresa para ele.
Todos fazem o mesmo.
Marco
observa, com olhar estranho, a cozinha cheia de gente.
MARCO:
Desculpe chegar assim, mas é que vim fazer um favor pro meu irmão
(ele olha pro Bruno) Cael.
BRUNO:
Ah claro! Ele já havia me falado sobre você. Muito obrigado por ter
acolhido minha filha e meu sobrinho.
Marco mira
em Raíza e sorri com um sorriso no canto da boca.
MARCO:
Foi um prazer...
BRUNO:
Mas, por favor (ele toca na cadeira onde ele estava sentado)
sente-se! Já tomou café?
Marco faz
um gesto e põe a mão por dentro do paletó.
MARCO:
Obrigado, mas já tomei café...Eu vim trazer isso...
Ele tira do
bolso algumas fotografias e mostra para Bruno. Este pega, olha para
os outros e torna a olhar para as fotos.
BRUNO:
Isso aqui parece...O auditório da faculdade?
Raíza
levanta-se imediatamente e puxa as mãos do pai para ver melhor.
RAÍZA:
Deve tá aí o cara que tentou te matar, pai!
Ela e Marco
trocam olhares rápidos. Raíza observa a foto. Ela nota a boca do
suspeito, seu cavanhaque e sua expressão. Únicas coisas que pôde
notar já que ele usava no dia da formatura sobretudo e óculos
escuros.
MARCO:
O senhor não tem inimigos?...Alguém que, por ventura, não goste do
senhor?
DCR
(murmura):
Caraca! Falou bonito...
Marco
desvia o olhar para ele e continua com sua pose imponente.
Bruno olha
a foto atentamente.
BRUNO
(Em OFF):
Será que isso foi coisa do Cipriano?...
MARCO:
E então? Reconhece?
Bruno
desperta de seus pensamentos e engole a saliva.
BRUNO:
Nunca vi na minha vida...
Rafaela
toma, rapidamente o gole de café.
RAFAELA:
Seu Bruno, será que o exterminador de formando não era alguém do
seu tempo de escola? Sempre tem um aluno que nutre um ódio sinistro
pela gente...
BRUNO:
Como?
DCR:
Ela quis dizer alguém motivado pela inveja, seu Bruno...Alguém com
raiva contida, sabe?
RAÍZA:
Um psicopata, pai, é isso que esses dois estão querendo dizer.
Marco
observa aquela opinião formada dita de formas diferentes. Tem uma
expressão satisfeita, aparentemente a situação o intriga.
BRUNO
(Em OFF):
Cipriano só pode tá querendo acabar comigo, só pode!
MARCO:
Seja quem for, ele será descoberto. Tenho certeza que o Bruno não
pensa em outra coisa... Não é?
RAÍZA:
‘Peraí’ gente! A Rafaela pode ter razão. (ela se dirige ao pai
e troca um olhar rapidamente com Marco) O senhor não tem fotos do
seu tempo de escola, pai?
Bruno não
reage.
MARCO:
Me parece uma ótima idéia...(ele sorri maliciosamente para Raíza).
BRUNO:
...Eu nunca tive inimigos...
DCR:
Tem gente que não sabe quando tem um...
Marco olha
para ele e Dcr fica quieto.
JOÃO
(se dirige ao tio Josué):
Vai lá, tio. Pega essas fotos logo porque se depender do tio Bruno a
gente fica aqui até sabe Deus quando...
Josué se
levanta.
BRUNO:
Não! Eu pego...Mas vai demorar um pouco (ele olha para Marco) porque
eu nem sei direito onde guardei...
MARCO:
Não se preocupe. Vou deixar as fotos aqui e quando você se lembrar
de alguma coisa que possa esclarecer... (ele põe a mão por dentro
do paletó, tira um cartão e exibe para Bruno) É só ligar pra esse
número...
Bruno
visualiza o cartão. Marco levanta as sobrancelhas num ato de
exclamação.
MARCO:
Ah, esqueci que ela (Raíza) deve ter esse número...(ele a olha
instigante) Não é? Até na mansão dele ela já dormiu...Com
licença...
Ele dá as
costas. Bruno não se dá conta da malícia naquelas palavras e o
leva até a porta.
JOÃO:
Aquilo foi uma provocação?
Raíza vira
o rosto para ele, visivelmente, chateada.
RAÍZA:
É isso que vou descobrir!
Josué
segura em seu braço de repente a fazendo voltar-se.
JOSUÉ:
Ele não disse nenhuma mentira. Ou disse?
RAÍZA:
O problema não foi o que ele disse...Foi a maneira como ele disse.
Ela se
desprende, passa pelo pai feito vento, abre a porta e a deixa bater.
Bruno vai
até a cozinha e olha para todos sem entender.
BRUNO:
O que houve com ela?
CORTA PARA
CENA 2
ED.
CIRANDA DE PEDRA – ESCADAS [INT.]
Raíza
desce as escadas correndo, passa pela portaria, alcança o quintal e
chega ao portão.
O carro de
Marco acelera. Raíza se desmonta e respira fundo. Bate as mãos nas
pernas e se volta.
Raíza
quase se desequilibra e segura firme numa grade.
A cena se
afasta, o ambiente é outro. Raíza está na alta estrada, em cima de
um viaduto.
A tela se
fecha num baque.
1X04
REVELAÇÃO
FADE IN
CENA 3
VIADUTO
[EXT./MANHÃ]
A garota,
assustada, olha por todos os lados e titubeia na direção que deve
tomar. Aperta o pulso e faz uma expressão de medo e dor. Não se dá
conta do que está acontecendo.
RAÍZA:
Eu acho que vou...Pra esse lado...
A garota
vai para a direita, aperta os passos. Corre.
Avista a
boate L.A House e pára.
RAÍZA
(Em OFF):
Como é que eu vim parar aqui? Longe de casa?
Ela
aproxima da boate. Tudo fechado. A garota toca na maçaneta, a porta
dá um tranco. Está destrancada.
Ela pára.
RAÍZA
(Em OFF):
O que eu tô fazendo, meu Deus? O que eu tô fazendo?
Enquanto
repete ela abre a porta, olha meio de canto para o interior da boate
e não vê ninguém. Entra e fecha a porta.
L.A HOUSE
[INT.]
Caminhando
vagarosamente, Raíza olha por todo o salão. Pára e faz que vai
voltar.
Ouve um
ruído. Ela olha rapidamente para o alto, mas sua atenção se volta
imediatamente para o solo. O som vem debaixo.
Raíza sobe
as escadas alternando os passos lentos em rápidos. Encontra uma
porta aberta, titubeia, mas entra. Não há ninguém.
RAÍZA
(murmura):
Como alguém deixa a boate aberta pra qualquer um entrar?
Ouve o som
mais próximo; São de vozes masculinas. Procura alguma outra porta,
mas não encontra.
RAÍZA:
Eu não sei o que tô fazendo aqui...É melhor eu dar o fora...
Seus olhos
miram em um detalhe diferente na parede. Ela chega perto, toca e num
movimento rápido, a porta abre. É uma porta de correr.
RAÍZA
(Em OFF):
Acho melhor eu ir embora mesmo...
Mas algo a
instiga a entrar. E assim o faz. Há uma escada circular e Raíza
desce por ele devagar. A medida em que desce, as vozes são mais
nítidas.
RAÍZA
(murmura):
Eu conheço essa voz...
VOZ
MASCULINA (V.O):
Você não tinha nada que ter feito isso sem me consultar!
VOZ
MASCULINA 2 (V.O):
Te consultar? Você me falou que me ajudaria e eu fiquei que nem um
tonto fazendo tudo que você mandava. Agora, até fugindo da polícia
eu tô!
A voz do
segundo homem é agressiva e conhecida.
VOZ
MASCULINA (V.O):
Eu estou te ajudando, não estou? Eu trouxe dinheiro pra você sumir.
VOZ
MASCULINA 2 (V.O):
E como é que eu fico, hein? Não consegui me vingar do Bruno e agora
tenho que ficar me escondendo?
VOZ
MASCULINA (V.O):
Dê graças a Deus que você não conseguiu seu propósito...Se o
Cael te pega e descobre isso, eu nem sei viu...Do jeito que aquela
Raíza consegue atrair pena...
Raíza faz
uma expressão de surpresa.
RAÍZA
(murmura):
É a voz do Marco!
VOZ
MASCULINA 2 (V.O):
Como é que eu ia adivinhar que a filha do cara era sua conhecida,
hein?
MARCO
(V.O):
Eu não te pago pra ser adivinho mesmo...Se tivesse me falado
antes...Imagine a cara que eu fiz quando vi sua foto ao lado de seu
pai...E o outro? O que você mandou explodir o Bruno, deu um sumiço
nele?
Raíza põe
as mãos na boca, espantada.
VOZ
MASCULINA 2 (V.O):
Você acha que eu fico dando sumiço nos outros é?
MARCO
(V.O):
Não era o que você quase conseguiu com o Bruno?
A voz do
segundo homem se altera.
VOZ
MASCULINA 2 (V.O):
Mas o Bruno tinha que morrer, pombas! Você fala assim por que não
foi seu pai que ele matou! Você não me serviu pra nada!
Raíza
coloca a mão no bolso da calça e o encontra vazio.
RAÍZA
(murmurando):
Droga! Esqueci que não tenho celular...
MARCO
(V.O):
Escuta aqui! Quando eu te conheci você era um ladrãozinho de
quinta. Eu te dei estudo pra você ficar na cola do meu irmão! Se
você é alguém hoje é por que deve a mim!
VOZ
MASCULINA 2 (V.O):
Muito obrigado, mas não preciso mais de você!
Ouve-se um
tiro e Raíza se assusta.
Ela dá um
passo pra trás, tropica e cai sentada na escada. Levanta e tenta
fugir dali, mas a porta é aberta abruptamente.
A garota,
de quatro na escada, olha para trás assustada. Vê Paulo a olhá-la
surpreso e com uma arma em punho.
PAULO:
Mas o que você tá fazendo aqui, menina?!
Ele a
agarra pelo braço e a empurra para dentro do ambiente. Raíza quase
cai e pára diante do corpo estendido de Marco.
Este está
com camisa de manga comprida bege e calça social preta.
O ambiente
tem mesa de jogo, roletas e bar. É um cassino clandestino.
A garota se
volta e Paulo está lhe apontando uma arma. Há alguém escondido
atrás do balcão observando a cena pelo canto esquerdo. Sua mão
aparece empunhando um revólver.
PAULO:
Você não tinha nada que tá fazendo aqui...
RAÍZA:
Calma...Você não precisa fazer isso...
PAULO:
Já estou fazendo.
Ouve-se um
tiro, Paulo e Raíza olham para o teto que desaba em seguida sobre os
dois.
A garota
levanta, limpa o corpo da poeira e vê que Paulo está sob os
tijolos, sem reação.
Sem saber o
que fazer, ela corre para uma porta dos fundos e sai.
CORTA PARA
FADE IN
CENA 4
MANSÃO
- SALA [INT.]
A campainha
toca. Cael está sentado no sofá com um laptop à mão.
Raíza anda
até a sala esbaforida. Pára e Cael a olha. Desliga o laptop.
CAEL:
Raíza! Bom dia! (ele levanta e caminha na sua direção) Aconteceu
alguma coisa? O Marco lhe entregou o que pedi? Eu não pude ir...
RAÍZA:
Cael...(ela engole a saliva, inquieta o olhar) Eu...O Marco...Ele...
Cael toca
em suas mãos e atenta para elas.
CAEL:
Você está tremendo! Vem, senta aqui. (ele a conduz ao sofá).
Os dois
sentam e em seguida ela levanta.
RAÍZA:
Cael eu tenho que te contar uma coisa...
O celular
toca. Cael estende a mão para apanhar o celular na mesa central sob
o olhar apreensivo da garota. Ele olha para o visor e não reconhece
o número.
CAEL:
É melhor eu atender.
Ele
levanta, aperta o botão e dá as costas.
CAEL
(ao telefone): Alô?...Sim, sou eu...Como? (tom surpreso)...Mas como
foi isso?
Raíza
torce as mãos de olhar atento ao que ouvia.
CAEL
(cont.): Quem tá falando?...Alô? Alô?
A pessoa
desliga na cara dele e ele olha assustado para Raíza que não
pergunta nada.
CAEL:
Meu irmão...Está morto!
A garota
esboça a mesma expressão dele; De impotência.
FADE OUT
FADE IN
CENA
5 L.A
HOUSE – FUNDOS [EXT.]
Cael e
Raíza vêem o corpo de Marco na maca, sendo retirado da boate. Há
dois carros de polícia, um nos fundos e outro à frente da boate e
uma ambulância.
O corpo de
Marco é colocado na ambulância e nesse instante, Cael deixa
escorrer uma lágrima. Raíza junta os lábios numa expressão de
penalidade e toca seu braço.
RAÍZA
(balbucia): Sinto muito...
Cael a
olha, triste e tenta conter as lágrimas, mas acaba vencido. A abraça
forte.
CAEL
(voz embargada): O que adiantou Deus colocar você no caminho dele
para salvá-lo se ele tinha que morrer.
Raíza dá
uma pausa.
RAÍZA:
Talvez não fosse a hora dele...
Os dois
continuam a abraçar fortemente enquanto a garota olha para o muro,
quieta.
CORTA PARA
CENA 6
CEMITÉRIO
[EXT./TARDE]
Diante de
algumas pessoas, o caixão onde está Marco é içado na direção da
cova.
Raíza se
aproxima de Cael e Valentina, de óculos escuros, faz o mesmo. Ela o
abraça e Cael, com o rosto sobre seu ombro, olha, com os olhos
vermelhos, para Raíza. Esta se afasta, abaixa a cabeça e olha o
caixão descer.
Algumas
daquelas pessoas começam a jogar terra e outras, flores. Raíza pega
um pouco da terra, olha sua mão e o leva acima da cova. Em seguida,
solta em cima do caixão lentamente.
Um policial
se aproxima de Cael com um documento em mãos.
POLICIAL:
Micael Bedlin?...Meus pêsames...
CAEL
(se volta e balbucia): Obrigado...
POLICIAL:
Me desculpe ter que vir aqui, mas viemos trazer uma intimação a...
(o policial verifica o nome no documento) Raíza Maciel.
Raíza
desvia a atenção e deixa escapar por entre os dedos aquela terra.
VALENTINA
(irritada): Vocês não tinham outro momento pra fazer isso não?
Raíza se
aproxima e observa a cara de desagrado de Valentina.
RAÍZA:
O senhor quer falar comigo?
POLICIAL:
Você está sendo intimada a depor...
RAÍZA
(balbucia em tom de surpresa): Quê?
CAEL
(surpreso): Como? Mas por quê?
POLICIAL:
Testemunhas afirmam tê-la visto sair da boate pelos fundos minutos
após seu Marco aparecer...Morto.
Cael se
dirige a Raíza com uma expressão de dúvida.
CAEL:
Isso é verdade?
POLICIAL:
Câmeras internas mostram que ela invadiu seu escritório, abriu uma
porta que dá no cassino...Clandestino.
Cael não
encara o policial.
POLICIAL
(cont.): ...O senhor também terá contas a acertar sobre isso.
Cael não
dá atenção ao que ele diz por último. Se desprende da namorada e
segura Raíza pelos ombros.
CAEL:
O que fazia lá?...Diz que tem uma boa explicação, Raíza. Diz!
Raíza se
mantém calada, assustada com a pressão. Cael a olha, desconfiado
por seu silêncio.
CAEL
(alterado, engole a vontade de chorar): Você não vai se defender,
não é?...(ele sacode seus ombros) Não vai dizer nada?
VALENTINA
(tirando os óculos): E ela vai dizer o quê?...Eu sabia que acolher
gente estranha daria nisso; Um dia salva e no outro mata.
Raíza
solta os braços de Cael de si, agressivamente.
RAÍZA:
Mas que droga! Eu não fiz nada!
E corre
pelo cemitério.
VALENTINA:
CORRE ATRÁS DELA, GENTE! ELA TÁ FUGINDO!
O policial
liga o rádio transmissor e corre também.
Cael não
diz uma palavra. Mudo, observa a cena com a expressão tensa.
Raíza,
desesperada, se aproxima do portão de saída, olha para trás e sai
de costas.
VOZ
MASCULINA:
Ô Raíza!
A garota se
volta assustada, o ambiente torna a mudar.
Ela está
novamente no portão do edifício Ciranda de pedra, ainda pela manhã.
Olha para
Dcr e se volta para olhar a rua. Nada de cemitério.
DCR:
Ele se foi ‘né’?
A garota se
surpreende com o que acaba de ouvir.
CORTA PARA
CENA 7
APTº
403 - COZINHA [INT./MANHÃ]
Sentada na
cadeira, Raíza está quieta, absorta. Aperta o pulso, contorce os
dedos. Medo.
Na cozinha
estão Bruno, Josué, Rafaela e Dcr.
RAFAELA:
Fica assim não, amiga. O Marco não falou por mal...
RAÍZA
(tom baixo e seco): Isso agora já não tem o menor sentido...
Dcr, em pé
e atrás de Raíza, coça a nuca e levanta as sobrancelhas para
Rafaela.
DCR:
Bom...Foi muito bom o papo, mas agora eu tenho que ir...Você também
‘né’ Rafaela?
RAFAELA:
Ah!...É...(ela se levanta) Tenho que comprar um livro pra aula...
JOSUÉ:
Então vão com Deus!
DCR:
Tchau Raíza!... Tchau gente!
Enquanto
Bruno leva as visitas até a porta, Josué nota a expressão de
angústia no rosto da sobrinha.
Bruno
entra, senta e Raíza encara os dois.
RAÍZA
(receosa): Gente...Estão atrás de mim...
BRUNO:
Hã? Não entendi.
RAÍZA:
Eles pensam que eu fiz alguma coisa, mas eu não fiz! (ela cobre o
rosto com as mãos) Mas não sei como vou provar isso, não sei!
JOSUÉ:
Do que você tá falando, criatura?
RAÍZA
(alterada): Da morte do Marco!
BRUNO:
Quê?...Mas...
JOSUÉ:
Você só pode tá brincando. Quando foi isso? O corpo tá lá
embaixo? Ele bateu com o carro?
RAÍZA:
Por que vocês se comportam como se não soubessem?...Ah, claro!
Vocês nem foram ao cemitério...Aliás, por que não foram?
BRUNO
(incrédulo):
Filha, espere um pouco; Você disse que tinha gente atrás de você.
Agora diz que o Marco tá morto. O que realmente aconteceu?
RAÍZA:
Estão me acusando pelo crime, pai! Fui intimada a depor!
Bruno e
Josué se entreolham abismados.
RAÍZA:
O que foi? Não estão acreditando?
BRUNO:
Não, não é isso é que...Isso tudo não poderia ter acontecido em
tão pouco tempo.
RAÍZA:
Ué, mas não foi em pouco tempo.
JOSUÉ:
Não tem nem 15 minutos que você desceu.
A garota
olha para o relógio da cozinha. Ele marca 08:10 hs.
Raíza se
levanta irada.
João sai
do banheiro e pára ao ouvir a conversa vindo da cozinha.
Espreita-se.
RAÍZA:
Já vão começar a dizer que sonhei?... Gente eu vi!... Vivi aquilo!
Bruno e o
tio continuam a olhá-la penalizados com sua certeza.
RAÍZA:
Não acreditam ‘né’?
Ela vê
alguma coisa no bolso da camisa do pai e arranca.
[POV de
Raíza]
São fotos
do tempo de escola.
BRUNO:
Que isso, filha?!
RAÍZA
(olhar fixo na foto): Eu lembro que o senhor contou a história desse
seu amigo...Eu lembro muito bem disso...(ela vira para o pai) Tinha
um suspeito e não me contou na hora, pai. Eu podia estar morta
agora!
Ele se
levanta e tenta pegar na foto. Ela recua.
BRUNO:
Filha...Não é nada disso...Presta atenção...
Raíza
desvia a foto e vai se afastando.
BRUNO:
O que vai fazer?
RAÍZA:
Eu tenho que provar a minha inocência. Não posso deixar que o Marco
vire santo depois de morto.
Ela sai, o
pai tenta puxá-la, mas é inútil. A filha atravessa a sala e não
vê seu primo à espreita.
Abre a
porta e fecha rapidamente.
Bruno vê o
sobrinho, assustado.
BRUNO:
Ah, você taí, João? (ele aponta para a porta) Faça alguma coisa,
corra atrás de sua prima!
João
Batista sai muito curioso...
Bruno olha
para o irmão, de repente.
BRUNO:
Eu devia tê-la lembrado daquela vez em que ela me salvou... Acho que
ela andou sonhando de novo...Ou teve uma visão...Eu não sei.
CORTA PARA
CENA 8
MANSÃO
– ESCRITÓRIO[INT.]
Cael está
sentado atrás da mesa. A porta está aberta. Nesse instante, Raíza
adentra a sala sob o olhar assustado da empregada. Se aproxima
esticando o olho para dentro do escritório.
CAEL:
Raíza?...Entra.
A garota
engole a saliva e entra, apreensiva.
RAÍZA:
Cael...Eu...Sei que...
Cael se
levanta assustado com a expressão da moça.
VOZ
MASCULINA:
Seu pai se lembrou de alguma coisa, Raíza?...
Raíza
enrijece os músculos. Susto. Olha aceso para Cael, pálida, sem voz.
Vira o rosto devagar para esquerda e vê Marco sentado na poltrona
verde.
Ele está
com camisa de manga comprida bege e calça social preta.
MARCO(cont.):
Pensei que fosse demorar mais...
Raíza
cambaleia e cai sentada na cadeira de frente para Cael.
RAÍZA
(Em OFF): Não é possível...Isso não tá acontecendo...Ele estava
morto, eu vi!
Cael
contorna a mesa, toca em seu ombro, Marco levanta.
CAEL:
Você está bem, Raíza?...Tá sentindo alguma coisa?
Raíza
torna a olhar para Marco.
RAÍZA
(Em OFF): A mesma roupa...
CAEL
(para Marco): Pega um copo d’água!
RAÍZA:
...Acho que foi minha pressão...
Marco sai.
Cael encosta à mesa e olha a garota com um semblante inquieto. Raíza
não consegue encará-lo.
CAEL:
Ei...(Raíza vai levantando os olhos devagar) Tem certeza que foi só
pressão?
Marco entra
com uma bandeja e um copo d’água. Oferece a Raíza que o olha no
fundo dos olhos, pega o copo e vai desviando o olhar.
MARCO:
Certamente não deve ter se alimentado direito...
Raíza, com
o copo já na boca, toma um gole e pára. Vira o rosto para ele e
devolve o copo à bandeja.
RAÍZA
(tom seco): Obrigada...
CAEL:
Se sente melhor?...
RAÍZA:
Sim...(pausa)...Eu queria falar contigo...(ela olha para Marco) em
particular.
MARCO:
Se é sobre o suspeito de ter atacado seu pai...
RAÍZA:
...Espero que não se incomode...
Cael e o
irmão se entreolham e Cael faz um gesto em direção a porta. Marco
fecha a cara.
MARCO:
Com licença...
Ele sai e
fecha a porta.
CAEL:
É impressão minha ou vocês dois...
RAÍZA:
É impressão!
CAEL:
Mas eu nem disse qual a minha impressão...Ele te fez alguma
coisa?...
Raíza põe
a mão no bolso da calça e retira uma foto. Estende a mão.
RAÍZA:
Reconhece o da foto?
Cael pega
na foto, olha rápido.
CAEL:
Não, eu...
RAÍZA:
Olha direito.
Ele torna a
olhar minuciosamente.
CAEL:
Eu não sei, Raíza...Eu realmente...
RAÍZA:
É Paulo!
Cael a olha
de repente.
EM OUTRO
PLANO:
Marco se
espanta. Ele está atrás da porta.
VOLTA À
CENA:
CAEL:
Paulo...Paulo...Não conheço...A não ser, é claro, O Paulo de
Queiroz que é...’Peraí’, você falou de um jeito como se eu
conhecesse...
RAÍZA
(aponta para a foto nas mãos dele): Esse menino é filho desse cara
aí que supostamente se suicidou. Como ele e meu pai eram amigos, e
me parece que o Paulo nunca se conformou em achar que o pai era um
suicida...
CAEL:
Como?...Você tá querendo dizer que o Paulo...Mas como é que você
tem certeza de que esse da foto é ele? Você mal o conhece!
A garota
titubeia.
RAÍZA:
...Ué...O...O meu pai ele...Ele se lembrou, foi isso.
CAEL
(olhando a foto): Não dá pra acreditar...
RAÍZA
(abaixa a cabeça, põe a mão na testa): Desculpe...Eu nem sei por
que eu vim, viu...O pai é meu e o Paulo não é problema seu ‘né’.
Ela se
levanta, ele segura sua mão.
CAEL:
Não, espere! Você me pegou de surpresa. Quer dizer que seu pai
garante que esse garoto é Paulo de Queiroz? E o nome do pai dele?
A garota
tenta sair pela tangente.
RAÍZA:
Num tô lembrada...Eu...Eu saí e nem perguntei isso...
CAEL:
Calma. Você está nervosa. (ele a faz sentar novamente) Fica aqui
que eu já volto. Vou resolver uma coisa, me espere.
Cael sai e
Raíza o vê fechar a porta.
= =
Passagem de Tempo = =
CENA 9
MANSÃO
– CORREDOR/2º ANDAR [INT.]
Marco está
próximo ao seu quarto com o celular na orelha. Ora olha para trás;
Ora para frente.
MARCO
(murmura): Não interessa!...Vamos nos encontrar lá
mesmo...(pausa)...Você faz a burrada e quer decidir onde
(ele enfatiza) a gente deve se encontrar?... Não! Eu não te pago
pra fazer servicinho extra...Vamos resolver isso hoje! (Ele desliga o
celular)
CAEL
(O.S): O que você tem que resolver hoje, Marco?
Marco se
assusta com a presença do irmão.
MARCO
(sem graça): Ouvindo a conversa dos outros, Cael?
CAEL:
Apenas te achei um pouco nervoso...Tem algo a ver com a boate?
Marco
recebe uma luz.
MARCO:
Ah, sim...Eu não queria ter que te aborrecer com isso, mas...Parece
que há uma infiltração no cassino...Acho melhor resolvermos isso
logo antes que o cheiro de mofo afaste os clientes...
CAEL
(suspira): Ah tá...Olha eu vou sair...Faz companhia pra Raíza. Não
a deixe sair, tá?
Marco
balança a cabeça afirmativamente, mas assim que o irmão sai Marco
faz cara de insatisfeito. Olha o relógio e em seguida, caminha pelo
corredor e abre a porta que dá no escritório.
CORTA PARA
CENA 10
ESCRITÓRIO [INT.]
Raíza
continua sentada com o olhar perdido. Marco desce as escadas e a
assusta com sua voz em tom instigante.
MARCO:
Pra onde será que o Cael foi tão apressado, hein? (ele senta na
poltrona).
Raíza olha
para trás e torna a ficar de costas.
RAÍZA:
Não sei...
MARCO:
Por que não quis me contar o que seu pai descobriu? Tem alguma coisa
contra a minha pessoa?
RAÍZA
(olha surpresa pra ele): Ouviu atrás da porta?
MARCO:
Só faço isso quando estou na minha casa...
Raíza se
levanta irritada.
RAÍZA:
Vou embora...
Marco se
levanta também.
MARCO:
Achei que Cael não quisesse que você saísse daqui...
RAÍZA:
Não. Ele disse pra eu esperar...
MARCO
(tom de falsa insensatez): Ah me desculpe...Eu e minha mania de
interpretar tudo errado...Tive quase certeza que ele não queria que
você saísse daqui...
RAÍZA
: Não...Ele só pediu pra eu esperar aqui...
MARCO
(volta a sentar): Ah...Ele não disse pra onde foi, não é?
Raíza
franze as sobrancelhas, sem responder.
MARCO:
...Será que ele não foi confirmar a história que você contou?
A garota
ora olha para ele, ora desvia o olhar para qualquer coisa. Close em
seu rosto e ao fundo, Marco sorri discretamente.
MARCO
(cont.): Cael e sua mania de querer ter certeza de tudo...
Raíza não
diz nada. Sai varada dali. Marco esboça satisfação e em seguida,
ele levanta, vai até a janela e vê quando a garota passa quase
derrubando João Batista. Sorri com um sorriso de canto, malicioso.
CORTA PARA
CENA 11
APTº
403 – SALA [INT.]
Vozes
masculinas vêm da COZINHA...
Bruno,
sentado à mesa, olha a foto e para a visita, em seguida.
BRUNO:
Ela te falou isso?...Só isso?
O rosto da
visita é mostrado.
CAEL:
É só isso, mas é grave. É praticamente uma acusação que ela
fez. Acha que o Paulo poderia ter tentado contra a sua vida?
Bruno se
levanta, pensativo com a foto nas mãos.
BRUNO
(Em
OFF): De onde ela tirou isso? Como ela sabia o nome desse garoto?...
CAEL:
E então?...Acha que foi ele?
BRUNO:
Bom...Ele começou a me tratar mal como se me culpasse de alguma
coisa...Mas depois nunca mais o vi...Então ele é seu amigo ‘né’?
CAEL
(dá uma pausa e não responde à pergunta): Talvez ela queira tanto
saber quem faria mal a você que acabou sonhando ‘né’?
RAÍZA
(O.S / alterada): Se queria confirmar a história não precisava me
deixar plantada na sua casa.
Cael e
Bruno olham Raíza, assustados.
CAEL:
Raíza?...Não é bem assim...
RAÍZA:
... Tudo bem, Cael. Você não tem que acreditar em mim. Desculpe eu
devo ter confundido as coisas...Quer saber? Eu devo ter sonhado
mesmo, viu. É isso...Eu sonhei...
Ela dá as
costas e apressa os passos até a porta.
CAEL:
Raíza! espere!
CORTA PARA
FADE IN
CENA 12
ED.
CIRANDA DE PEDRA – ESCADAS [INT.]
Cael a
alcança e a puxa pelo braço. A moça tenta se desvencilhar, mas ele
não a solta.
CAEL:
Espere, Raíza! Você não entende! O Paulo...
RAÍZA:
(Ela tenta, ainda, se desvencilhar dele) Eu já entendi! Não tem nem
um mês que a gente se conhece, é normal que prefira não acreditar
em mim...
Ele
consegue contê-la.
CAEL:
Não é nada disso! (ele pára de segurá-la e faz uma pausa) Mas
acontece que já ouvi falarem mal dele antes e eu o conheço desde a
faculdade...Nunca que ele mencionou ter raiva de alguém...
RAÍZA:
Essas coisas não se mencionam...Nem pro melhor amigo...
CAEL:
Ele deixou de ser meu amigo quando descobri que era ele quem me
roubava na boate!
A garota se
surpreende.
RAÍZA
(Em OFF): Então era por isso que eu ouvi o Paulo dizer que fugia da
polícia...
CAEL
(cont.): ...Mas daí a querer matar?...Nunca vi um ato violento da
parte dele.
RAÍZA
(Em OFF): Será que ele ainda vai se encontrar com o Marco?
CAEL:
Você está me ouvindo?
A garota
desperta de seus pensamentos.
RAÍZA:
Ah, claro!...Eu estava pensando que...Se o Paulo mandou alguém
acabar com meu pai, então existe um cúmplice...
CAEL:
...Ou um matador de aluguel...
RAÍZA
(tom perspicaz): Mas matadores de aluguel só matam. Acha que Paulo
‘quebraria’ sua empresa sozinho?
CAEL:
Quebraria? Não entendi.
RAÍZA:
Quero dizer, acha que o Paulo te roubaria sem ajuda?
CAEL:
Será que foi o Camilo? Será que mandei soltar o cúmplice do Paulo?
Raíza fixa
os olhos nele.
RAÍZA
(Em OFF): Pensa no seu irmão, Cael...Pensa!
CAEL:
Isso agora não adianta mais...À essas alturas ele já deve ter
saído do estado...
RAÍZA:
Então, mas para isso ele teria que ter um cúmplice, você não
acha?
CAEL:
Você realmente acha isso ou...É uma insinuação?
RAÍZA
(A moça põe as mãos nas cadeiras): Eu acabei de sonhar, acredita?
Cael ri.
CAEL:
Desculpe...Mas é que você afirma de uma tal maneira...
RAÍZA:
Filmes e livros de suspense...É isso.
CAEL:
E o que esses filmes e livros mostram além de crimes e cúmplices?
RAÍZA:
Já ouviu dizer que o criminoso sempre volta ao local do crime?
CAEL:
Boate?
FADE OUT
FADE IN
CENA 13
TOYOTA
- RUA
PRÓXIMA A BOATE [EXT./FIM DA MANHÃ]
Cael, com o
celular na mão, guarda-o no bolso da camisa branca.
TOYOTA
[INT.]
CAEL:
O celular do Marco só dá fora de área.
Raíza olha
para ele e para a boate, em seguida.
RAÍZA
(Em OFF): Será que ele já tá lá dentro?...Será que ele já tá...
RAÍZA:
Não é melhor você ir logo, Cael?...O Paulo já pode estar lá
dentro...Aliás, (ela faz uma cara de esperta) por que não chama a
polícia?
Cael vira o
rosto pra ela com um ar intrigante.
CAEL:
Melhor não envolver a polícia por agora...A gente nem sabe se ele
está lá dentro...
RAÍZA:
Nem se o que contei é verdade, ‘né’?
Ele
estremece um sorriso por entre os lábios, tenta dizer algo, mas se
cala.
RAÍZA:
Acho melhor você ir logo, ‘né’?
Cael vira o
rosto para a boate.
CAEL:
Tem razão...
Ele abre a
porta do carro, fecha e o contorna.
Raíza
coloca a cabeça para fora e ele apóia as mãos sobre a janela.
RAÍZA:
Entra pelos fundos...
CAEL:
Melhor não; Se acontecer alguma coisa e descobrirem que entrei pelos
fundos vão achar que tenho algo a esconder...
A garota
ergue as sobrancelhas.
RAÍZA:
Ah...É verdade, mas...A boate é sua; Você entra por onde quiser...
Cael
balança a cabeça pro lado.
CAEL:
A boate é minha e eu tenho que dar satisfação pro governo...
Raíza
volta-se pra dentro do carro.
RAÍZA
(murmura): Menos do cassino...
CAEL:
Hã?
A garota
aponta para a boate.
RAÍZA:
É melhor você ir logo, não acha?
Ele esboça
um sorriso e dá as costas.
A garota vê
Cael se distanciar. Desvia o olhar e de repente, ela olha de súbito
para ele.
RAÍZA:
E se em vez de Marco pegarem o Cael?...E se eu me vi no lugar de
Cael?...Não...Isso é loucura...
A garota
abre a porta do carro, sai e fecha olhando para ele lá adiante.
Logo ela vê
um carro preto entrar na rua dos fundos da boate.
Ela dá uma
corrida no instante em que Cael entra na boate. Atravessa a rua sem
olhar direito para os lados e as buzinas soam.
Raíza
chega perto da coluna da casa e espreita. Marco sai do carro, bate
com a porta e se dirige à escada.
RAÍZA
(Em OFF): Eu preciso fazer alguma coisa...Mas o que meu Deus? O quê?
Um dos dois...Ou os dois estão prestes a morrer e eu não faço
nada? Ah, se eu pudesse entrar lá sem ser vista...(ela fecha a mão
com força) Se eu pudesse...
Raíza vira
os olhos para os lados, inquieta-se.
Marco está
de costas e prestes a descer as escadas.
Raíza
suspira, entra no beco correndo, levanta a mão direita e faz que vai
gritar.
Raíza se
esbarra violentamente em alguma coisa, rodopia e no instante em que
vai de encontro à parede, ela o ultrapassa.
Marco olha
para trás e não vê nada. Torna a descer. Em seguida, a cena mostra
Cipriano sorrindo no mesmo lugar onde a garota se esbarrou.
CORTA PARA
CENA 14
L.A HOUSE – CASSINO [INT.]
Raíza cai
no chão e no baque ouvem-se vozes.
VOZ
MASCULINA:
O que foi isso?
VOZ
MASCULINA 2 :
Não sei...Deve ter vindo lá de fora...
Raíza
levanta a cabeça e ergue os olhos enquanto ouve as vozes. Dá de
cara com uma arma na mão de um sujeito. Olha para o outro lado e vê
Paulo empunhando uma arma e olhando em sua direção.
A garota se
levanta, recua o passo sem tirar os olhos dele.
RAÍZA
(Em OFF): Meu Deus...Ele vai atirar...Ele vai atirar...
Ouve-se
passos na escada. Raíza franze as sobrancelhas, confusa.
RAÍZA
(Em OFF): Mas o que tá havendo?...Eles não estão me vendo aqui?
PAULO:
Assim que ele apontar naquela porta, Camilo e eu o olhar com um
sorrisinho de canto, como ele faz, você atira.
CAMILO:
Com muito prazer...
O som dos
passos chega ao fim.
EM OUTRO
PLANO:
Cael desce
as escadas do seu escritório ao cassino.
VOLTA À
CENA:
Raíza
avança um passo, esbarra na mesa de pôquer e Camilo faz menção
pra atirar.
SÉRIE DE
PLANOS:
- A moça dá-lhe um chute na mão.
- Marco abre a porta de um lado.
- A arma de Camilo dispara pro teto.
- Paulo olha estagnado para a cena e em seguida para cima.
- Marco entra e o teto desaba sobre Paulo.
Raíza
cobre a boca com as mãos, em desespero.
Marco
escapa pelos fundos e Camilo se esconde atrás do balcão.
Cael entra
e pára estagnado com o que vê. Apressa o passo, agacha-se e vira o
rosto do sujeito. Paulo está inerte.
Enquanto
isso, Raíza corre em passos como quem está a pisar em ovos e cores
disformes de sua roupa começam a aparecer...
FADE TO
BLACK
FADE IN
CENA
15
APTº 403 – QUARTO [INT./TARDE]
Raíza está
sentada na cama. Há uma blusa preta e uma calça estendida sobre
ela. Bruno chega da porta e dá uma batida.
A filha
olha, levanta e fica diante do espelho. Ele olha para a roupa na cama
dela.
BRUNO:
Vai ao enterro?
Ela só
balança a cabeça afirmativamente.
BRUNO:
Você sabe que não precisa ir ‘né’?
Raíza pára
de mexer no cabelo e olha seu pai pelo reflexo do espelho.
BRUNO
(cont.): Você não fez nada, portanto não precisa prestar
solidariedade à família dele. Nem o Cael bancou o velório por ele.
RAÍZA
(se volta): Eu vi tudo que ia acontecer, pai...Ter evitado que o
Marco e o Cael morressem não evitou que o futuro de alguém acabasse
ali, naquele cassino...Clandestino...
Bruno se
aproxima e toca seus ombros.
BRUNO:
Você sabe o que penso disso, não sabe?
RAÍZA
(bufa): Acha que sonhei?
BRUNO:
Não, mas pode ter sido uma visão. Mas daí a vivenciar uma coisa
que nem aconteceu...
RAÍZA
(ela se vira): Pai...Isso é sério. E não tô gostando dessas
coisas. Até invisível aos outros eu fico!
Bruno
inquieta o olhar.
RAÍZA
(cont.): Desde que voltei, digamos assim, à realidade que não tenho
tido paz. Tenho medo de ser assim pra sempre...
Os dois se
olham; Ele numa expressão preocupada; Ela, confusa.
FADE OUT
FADE IN
CENA 16
CEMITÉRIO
[EXT./TARDE]
Tocando:
She’s A Mistery – Bon Jovi ->
Há dois
homens, uma mulher, Cael, Marco e Valentina.
Cael
cochicha perto de Valentina e caminha na direção de Marco.
Disfarça, fica de costas para a cova e ao lado do irmão. Este está
de frente para a cova.
CAEL:
Tudo resolvido por lá?
MARCO:
Se está querendo saber se os policiais aceitaram o suborno para não
pedirem a documentação do cassino...
CAEL
(murmura alterado): Você subornou antes deles pedirem a
documentação?!
MARCO:
Não desmereça o trabalho da polícia, Cael...Acha mesmo que foi
preciso?
Os dois se
fitam. Cael avista alguém e se afasta. Marco olha para trás e vê
Raíza.
Ela e Cael
fazem que vão se abraçar, mas desistem.
CAEL:
Pensei que não viesse...
Raíza olha
adiante, dá de cara com Marco a olhá-la. Valentina, de óculos
escuros, faz o mesmo do outro lado.
RAÍZA:
Tão pouca gente...
CAEL:
Ele sempre foi de poucos amigos...A família nem quis velório
e...Deixei o Marco cuidar de tudo.
Silêncio.
CAEL:
No fim de tudo você tinha razão; O criminoso voltou ao local do
crime.
A garota
sorri timidamente.
CAEL:
Mas você não veio por ele, não é?
RAÍZA:
Mais ou menos...Afinal, junto com Paulo será enterrada a verdade
sobre o atentado contra meu pai...
Cael olha
para baixo e, segura suas mãos. Alisa com o polegar.
CAEL:
Ele estava armado...Isso indica que propensão pra matar ele tinha.
RAÍZA:
Por isso você acredita em mim?
CAEL:
Não. Acredito por não acreditar que você inventaria uma história
dessas. Não tem razão de ser.
RAÍZA:
Deixa pra lá você não tem por que acreditar em mim. (ela solta as
mãos dele e faz gestos rápidos) Aconteceu tudo que tinha que
acontecer...Essa é que a verdade (ela põe as mãos nos bolsos da
calça).
CAEL:
O que eu acho estranho é por que o cúmplice atiraria pro alto...A
perícia tem suspeita de que uma terceira pessoa estaria no local...
Raíza
engole a saliva.
RAÍZA:
É mesmo?...Bom...Vai ver eram dois cúmplices e...Brigaram na
hora...Sei lá.
CAEL:
Estou começando a achar que você é mais perspicaz do que quer
aparentar.
RAÍZA
(levanta os ombros): Livros de suspense...É isso.
Os dois
sorriem e meio sem jeito, se abraçam.
Raíza
repousa o queixo sobre o ombro de Cael. Observa Marco a mirando, meio
de lado, semblante sério e sisudo.
FADE OUT
FIM DO EPISÓDIO
Autora:
Cristina Ravela
Elenco:
Raíza (Maria Flor)
Raíza (Maria Flor)
João
Batista (Caio Blat)
Bruno
(Juan Alba)
Josué
(Caco Ciocler)
Cael
(Michael Rosenbaum)
Marco
(Pierre Kiwitt)
Valentina
(Alinne Moares)
Rafaela
(Fernanda Vasconscellos)
Dcr
(Aaron Ashmore)
Cipriano
(Thiago Rodrigues)
Participação
Especial:
Camilo
(Sérgio Marone)
Paulo (Sidney Sampaio)
Trilha Sonora:
She’s
A Mistery – Bon Jovi
Produção:
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com
nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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