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RAÍZA SÉRIE
30:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA
Série de
Cristina Ravela
Episódio 1 de 20
© 2008, WEBTV.Todos os direitos reservados.
FADE IN
CENA 1 CASA
Nº 137 (INT./ MANHÃ)
A cena abre com
uma porta sendo aberta. Um homem entra com o jornal debaixo do braço
e um saco de pães na outra mão. Ele fecha a porta e joga a chave na
mesinha central.
A casa tem chão
de taco, uma mesa de centro, dois sofás cor mostarda; Um abaixo da
janela à direita da porta; Outro ao lado e de frente, em relação a
porta. Paredes brancas, nenhum quadro.
HOMEM:
Bruno!
Sua voz é
tenra ao chamar por Bruno. Cabelos bem aparados e aloirados, olhos
claros, barba feita. Traja jaqueta na cor azul ciano sobrepondo a
camiseta branca. Calça jeans e tênis preto. Tem 38 anos.
Não obtendo
resposta, ele joga o jornal sobre a mesa e vai em direção da
cozinha. Coloca o saco de pães sobre a mesa e volta.
HOMEM:
Bruno!
O homem sobe as
escadas e pára numa porta. Ouve-se um barulho vindo do sótão. A
porta está encostada. Quando abre encontra Bruno revirando um baú.
O tal homem não tem muito jeito pra falar.
HOMEM:
Mas o que você tá fazendo aí, cara?
De susto, Bruno
joga o livro que tem em mãos fazendo-o cair aos pés do homem.
BRUNO:
Tá maluco, Josué? Quer me matar de susto?
Bruno é um
sujeito que mantém uma expressão de sempre preocupado. Usa camisa
de manga listrada nas cores vinho e branco. Calça jeans e sapatos
simples. Há um relógio prateado no seu pulso esquerdo. É dois anos
mais velho que Josué.
Josué
abaixa-se para pegar o livro e observa a página em que abriu.
JOSUÉ:
Eu não acredito nisso! Eu pensei que você já tivesse queimado essa
porcaria.
BRUNO: E eu pensei que você já tivesse aprendido a ter modos...
BRUNO: E eu pensei que você já tivesse aprendido a ter modos...
Josué olha
admirado para uma cruz guardada dentro do livro.
JOSUÉ:
Isso pode atrair reações negativas...Só em saber que isso tá aqui
me assusta.
BRUNO:
Você já foi mais cético...(ele toma o livro de suas mãos) Mas eu
não posso jogá-lo fora, você sabe disso!
JOSUÉ:
É, eu sei, mas devia, então, esquecer que isso existe; Se alguém
perceber e pôr a mão nisso...
BRUNO:
Você quer dizer a Raíza? Às vezes eu acho que eu deveria contar
logo tudo pra ela, mas tenho medo do que pode acontecer...Eu acho que
é por isso que tô sempre aqui em cima...
JOSUÉ:
Você não pensou que se isso foi destinado a ela, uma hora ela
poderá sofrer algum dano por não usá-lo?
BRUNO:
E o que você...
Ouvimos a voz
de um homem gritar lá embaixo.
HOMEM:
Tios! Vamos tomar café ou não?
SÓTÃO [EXT.]
Ao pé da
escada há um rapaz de estatura média, branco, cabelos desgrenhados
e barba por fazer. Salta, de dois em dois degraus, subindo as
escadas.
SÓTÃO [INT.]
JOSUÉ:
Meu Deus! É o João Batista! (desesperado) É melhor jogá-lo fora!
BRUNO
(aturdido):
Jogar o quê?
JOSUÉ (toma
o livro do irmão):
Eu tô falando disso!
Ele joga o
livro para trás do baú fazendo-o cair aberto.
João Batista
chega na porta e observa os dois tios estáticos feito duas múmias.
INSERT - baú
Atrás do baú
uma luz emana da cruz fazendo um pequeno clarão. E se apaga de
repente.
FADE OUT
1X01 PILOTO
FADE IN
CENA 2 CASA
Nº 137 – COZINHA [INT.]
Sentados à
mesa, João Batista, de frente para Josué e Bruno no centro, coloca
o café em seu copo.
JOÃO:
Ainda não entendi o que vocês dois com cara de tacho faziam no
sótão...
Josué e Bruno
se entreolham quando uma moça adentra a sala com os olhos cansados e
os cadernos na mão.
A moça, de
longos cabelos negros e ondulados é magra, do mesmo tamanho que
João, lábios grandes e olhos negros e vivos. Está uniformizada com
roupa de escola e não cumprimenta ninguém. Tem 17 anos enquanto
João, 21.
BRUNO:
Dormiu tarde ‘né’, minha filha? Aposto que ficou no computador a
noite toda.
JOÃO:
Eu tenho até medo de passar perto do seu quarto (boca cheia) pode
ser que eu veja um zumbi ao invés de você (ele ri se engasgando).
GAROTA
(ignora):
Eu tive que fazer um trabalho pra escola e um amigo meu da Internet
me ajudou. Se você tivesse me ajudado...
JOSUÉ (tom
repreensivo, interrompe):
Como sempre deixando tudo pra última hora não é, Raíza?
Raíza senta,
põe os cadernos na cadeira ao lado e em seguida coloca café em seu
copo. Depois mistura com leite. Pega o pão, passa manteiga e
abocanha um grande pedaço.
JOSUÉ:
Você vai acabar tendo uma indigestão, hen menina.
Bruno toma seu
café rápido. Olha seu relógio e levanta-se.
BRUNO:
Uma obra sem o mestre de obras não existe. E eu prefiro que seja eu.
Josué ri e faz
o mesmo. Levanta-se e empurra a cadeira.
JOSUÉ:
Um colégio sem professor de geografia existe e eu prefiro que seja
eu.
Raíza e João
sorriem. Josué vai até o corredor, volta e olha pra Raíza.
JOSUÉ:
Um colégio sem alunos não existe, mas aluno sem colégio é
inaceitável.
Raíza vira o
rosto para ele e balança a cabeça afirmativamente.
RAÍZA:
Eu já tô indo.
Bruno e Josué
saem.
João Batista,
tomando seu café, fita sua prima e olha o relógio da parede, logo
de frente, insistentemente.
JOÃO:
Não é melhor você ir logo...Se não vai chegar tarde...De novo.
A prima o olha,
pára e termina de dar o gole no seu café com leite.
RAÍZA:
Se quer tanto que eu me vá... (ela se levanta) já tô indo.
João Batista
observa quando ela sai e rapidamente se levanta, sai da cozinha, sobe
as escadas para um quarto. A porta está entreaberta, ele entra
correndo.
QUARTO [INT.]
Apressadamente,
ele abre gavetas, armários e olha debaixo do colchão. De joelhos no
chão, ele soca a cama.
JOÃO [Em
OFF]:
Onde será que está essa chave? Onde?
Seu rosto tem
uma expressão de raiva. Levemente ele vira a cabeça e olha o
porta-retrato de Bruno sobre a cabeceira.
FADE OUT
FADE IN
CENA 3 RUAS
DA CIDADE
A cena mostra
ruas paralelas, cruzadas e uma ou outra sem saída. Raíza sobe uma
delas apressada.
TOYOTA [INT.]
Um homem dirige
com o celular no ouvido. Tem cabelos castanhos bem batidos, rosto
liso e oval. Aparência de rico. Usa terno preto sobrepondo a camisa
azul.
HOMEM 1:
Você não tem o que se preocupar com isso.
HOMEM
2(V.O):
Só falta me dizer que você confia neles...
HOMEM 1:
Não, eu não tô dizendo que confio neles, mas eles precisam do
dinheiro...Eles falam qualquer coisa, mas sempre voltam...
HOMEM
2(V.O):
Cael, você não conhece esses caras, não conhece a família
deles...
AO MESMO
TEMPO...
Raíza
atravessa a rua correndo, o Toyota se aproxima.
TOYOTA [INT.]
CAEL:
Escuta! Você é meu amigo ou meu anjo da guarda?
[POV de Cael]
Cael vê a
garota no meio da rua, pisa no freio de repente, joga o celular que
cai na poltrona ao lado. Ouve-se o som dos pneus cantando. É buzina
pra tudo quanto é lado.
VOZ:
Tá maluca, garota!
Cael, com um
olhar que não sabe que direção olhar, está meio perturbado. Sai
do carro, dá um giro com os olhos à procura daquela moça. A cena
mostra o momento em que Raíza e ele cruzam o olhar (efeito câmera
lenta).
Ele dá um
passo em sua direção, mas pára (fim do efeito). Vê um rapaz
segurar no braço da garota e a levar dali.
CALÇADA...
RAPAZ:
Parece que o tal cara foi embora.
RAÍZA:
Ainda bem que ‘Cê’ me arrancou de lá Dcr...Já pensou se ele me
dá um fora daqueles? Um sermão bem dado? Pensa a cara que eu ia
ficar.
Dcr olha pra
cara dela surpreso.
DCR:
Eu não ia pensar nada, que mania de exagerar. Te tirei de lá por
que você tá atrasada pra aula e a nossa colega Ari tá esperando o
trabalho.
Raíza olha
para trás meio abismada com aquele acontecido.
Alguém observa
a cena de dentro de um carro verde com vidro escuro.
CORTA PARA
CENA 4 L.A
HOUSE [EXT.]
Cael pára seu
carro em frente a uma casa noturna.
A casa tem
colunas brancas que se estendem até alcançarem a janela. As janelas
frontais, todas em pequenos quadrados, são em tom azul-esverdeado. A
cena sobe e mostra o título em vermelho: L.A House.
Cael sai do
carro. Um homem se aproxima.
CAEL:
Não precisa estacionar.
Ele abre a
porta e entra procurando alguém.
O chão é um
multicolorido de várias tonalidades de preto até ao branco. Há uma
grande bola azul-esverdeada acima da pista de dança.
HOMEM (O.S /
sotaque europeu):
Um minuto atrasado...Está perdendo sua pontualidade, Cael?
CAEL:
Ora vê se não enche! (ele se dirige ao bar mais a frente) O que
você quer?
O homem, com um
copo de uísque na mão, desce as escadas. Loiro, cabelos curtos e
lisos, rosto liso, olhos azuis. Observa Cael se servir de vodka. Sua
voz soa em tom manso e discreto.
HOMEM:
Eu tenho percebido que você passa muito tempo com o Paulo...
CAEL:
Ciúmes de irmão, Marco?
MARCO:
Ah você sabe do que estou falando.
Cael bebe um
gole de vodka. Olha para o irmão.
CAEL:
Vai voltar a dizer que ele se mete muito...
MARCO:
Nos nossos negócios, exatamente. (ele deixa o copo sobre a mesa) Ele
parece uma boa pessoa, mas...Você sabe, sempre fracassou nos
negócios, que tipo de conselho ele poderia lhe dar?
CAEL:
O conselho da experiência do que seja um fracasso nos negócios.
MARCO:
Ora você não precisa de um livro de auto-ajuda, mas sim de abrir os
olhos (ele toca o ombro do irmão).
Cael dá uma
olhada naquele toque.
CAEL:
Não acredito, Marco; Me chamou aqui pra falar do Paulo? Podíamos
ter falado em casa.
MARCO:
Em casa as paredes têm ouvido.
Cael anda em
direção à escada, inconformado.
CAEL:
Eu saí da minha casa, quase atropelei uma doida pra ouvir você
falar do Paulo? (de repente, ele pára e volta-se de olhos
arregalados) Nossa, naquela confusão eu acabei desligando o telefone
na cara dele...
MARCO:
Você falava com ele? Já tão cedo? Cuidado, Cael, ele pode está
querendo saber alguma coisa sobre o...
CAEL:
Ele já sabe.
Marco faz cara
de espantado.
CORTA PARA
CENA 5
COLÉGIO
FRANÇA - QUINTAL
Raíza abre os
cadernos e até a bolsa preta. Ela caça alguma coisa sob os olhares
de duas pessoas, incluindo Dcr. Pára, extasiada.
GAROTA:
O que foi?
Raíza esfrega
a mão no rosto, irritada.
RAÍZA:
Eu não acredito nisso! Eu não acredito nisso! Esqueci o trabalho em
casa!
GAROTA:
Eu não acredito nisso! O que ‘cê’ tem que fazer agora é ir lá
buscar.
RAÍZA
(alterada):
Você fala isso, Ari por que não é você que tem que encarar o meu
primo te passando sermão só no olhar.
Dcr esboça um
riso.
Ari aparenta
nervosismo. Estala os dedos, passa a mão nos longos cabelos
castanhos e amarrados e põe a outra mão na cintura. Tem as
pálpebras cansadas e expressão de que não dormiu bem.
Dcr faz um
gesto rápido em direção a portaria.
DCR:
Escuta, Raíza, a aula de matemática só será no 2º tempo; Dá
tranquilo pra você ir lá...Eu acho.
RAÍZA:
Ah é claro que você acha ‘né’? Como é que vou passar pelo
porteiro, hã?
Ari olha para
os fundos do colégio.
ARI:
Bom, eu acho que sei de um jeito...
CORTA PARA
CENA 6
COLÉGIO
FRANÇA - FUNDOS
Raíza,
amparada pelos amigos, tenta subir o muro. Consegue pôr a perna do
outro lado e senta, cansada.
Ofegante, as
palavras são cuspidas em vez de faladas.
RAÍZA:
Sabe, Ari...Eu adorei...Esse seu...Jeeeeeeeeitoooo...
Ela rala o
braço e cai do outro lado.
ARI:
Tudo bem aí?
RAÍZA:
Pergunta pro meu braço...
Dcr acha graça.
CORTA PARA
CENA 7
CASA Nº 137 [INT.]
No chão do
sótão há um grampo perto da porta, livros espalhados. A poeira
levanta do piso. A cena mostra João Batista vasculhando e tirando as
coisas do lugar. De repente, seus olhos ficam vidrados em alguma
coisa. Ele apanha o livro detrás do baú e vislumbra a cruz.
CASA Nº 137
[EXT.]
Raíza coloca a
chave na porta, abre e entra. Põe a chave sobre a mesa de centro e
olha para a cozinha. A mesa está do mesmo jeito que ela deixou
quando saiu. Ouve um barulho e olha, sobressaltada, para o alto da
escada. Ela sobe com um olhar tenso, uma sensação medonha. Não
consegue falar nada. Toca na maçaneta.
SÓTÃO [ INT.]
João toca na
cruz e uma luz emana amarela. As vistas queimam.
JOÃO:
AAaah!
A porta é
aberta. A luz projeta-se nos olhos de Raíza que, aturdida volta-se
para trás.
CORREDOR/ESCADA
Em seguida,
perdendo o equilíbrio, a moça cai da escada. João Batista aparece
da porta, vê a prima caída ao pé da escada, mas foge com a cruz.
CASA Nº 137
[EXT.]
O rapaz,
desorientado e de olhos vermelhos, corre pelas ruas. Uma ventania do
nada abate sobre ele. Mal consegue abrir os olhos. Naquela situação,
a cruz cai no chão, o rapaz coça as vistas e abre os olhos. A cruz
não está mais alí.
A tela se fecha
num baque.
FADE IN
CENA 8
CASA Nº 137 [ INT./minutos depois]
Raíza volta a
si. Levanta com dores no corpo e a vista embaçada. Olha em direção
ao sótão e faz que vai subir, mas seu celular toca.
COLÉGIO FRANÇA
- BANHEIRO [INT.]
Ari, com o
celular no ouvido, tem um olhar apreensivo.
ARI:
E aí amiga? Onde é que você tá?
RAÍZA
(V.O):
Tô em casa, Ari...
ARI:
Ainda? O professor está prestes a ir pra sala e você sabe como ele
é, ‘né’?
RAÍZA
(V.O):
Calma! você tá agitada.
ARI:
Mas é claro ‘né’, a professora de português faltou e ele
resolveu juntar as turmas e dá aulas no lugar dela.
RAÍZA
(V.O):
Nossa, que falta de sorte...Mas e se a gente entregasse depois? Você
e o Dcr poderiam explicar e...
ARI:
Não! Com ele não tem essa de depois não, pega logo essa droga e
venha!
Ari desliga.
Suas mãos não se controlam e quase deixa o celular cair.
CASA Nº 137
[INT.]
Raíza bufa.
Ela vai até a cozinha, apanha o trabalho sobre a cadeira e sai
desesperada.
CORTA PARA
CENA 9
TOYOTA
[ EXT.]
Cael e seu
irmão seguem de carro. Em um dado momento, Cael pega um atalho.
MARCO:
Você não devia ter comentado a respeito do cassino com o Paulo...
Cael, ora olha
pros lados; Ora pra frente. Aquilo o irrita.
CAEL:
Eu e o Paulo estudamos na mesma faculdade. Eu vi o esforço dele em
todos os passos que ele deu. Ele tem capacidade de fazer o que ele
quer e nunca precisou do meu dinheiro...
MARCO:
Mas nunca conseguiu concretizar nada do que começou! (Ele puxa um
cigarro)
CAEL:
E não fume aqui dentro.
MARCO:
Hunf...(ele guarda o cigarro) Mas como eu estava dizendo, uma hora
ele vai se cansar disso e vai precisar de muito apoio seu...Apoio
financeiro, que fique claro.
CAEL:
Eu não vejo problema em ajudá-lo, sei que ele jamais ficaria na
minha aba.
RUAS DA
CIDADE...
A cena mostra
Raíza correndo pelas ruas e a frente, bem adiante, uma transversal.
TOYOTA [EXT.]
MARCO:
Essa sua confiança me assusta, sabia? Em se tratando de negócios
como os nossos nunca temos amigos e sim, contatos.
CAEL:
Essa sua mania de se meter em minhas amizades não me anima nem um
pouco...
CORTA PARA
FADE IN
CENA 10 RUAS
DA
CIDADE...
Raíza vai se
aproximando pela transversal quando folhas de seu trabalho caem. A
cena focaliza um carro verde estranho vindo pela esquerda e
imediatamente muda o foco para o carro adiante, o de Cael.
TOYOTA [INT.]
MARCO:
Eu, como irmão mais velho, tenho a obrigação de te proteger contra
os malefícios de uma amizade.
Cael bate no
volante fazendo soar a buzina, quase gritando.
CAEL:
Eu não quero sua proteção!
Ouve-se a
buzina, Raíza olha assustada e volta-se para o lado esquerdo. O
carro verde vai pra cima da moça. A garota não tem mais tempo.
TOYOTA [INT.]
Cael pisa no
freio, faz uma curva para não colidir. Marco bate com a testa na
janela.
TOYOTA [EXT.]
A moça bate de
frente no carro verde e cai pra trás.
O motorista,
moreno claro, cavanhaque, pára o carro, abre e sai apressado. Ele
usa um sobretudo preto sobre a camisa vermelha e calça social preta.
Tenta removê-la dali. Cael corre e chama sua atenção.
CAEL:
Ei! O que vai fazer? (ele olha a moça e a reconhece).
HOMEM:
Eu tô tentando ajudá-la. Sou o tio dela, não se preocupe. Nossa,
ela e essa mania de não olhar por onde anda.
CAEL:
Sei bem o que é isso...Olha! Parece que ela quer dizer alguma coisa.
Raíza olha
aquele moço e desfalece.
CAEL:
Espere aqui que eu vou ligar pro hospital.
Cael volta pro
carro.
MARCO( ele
toca a ferida em sua testa):
Não se meta nisso, Cael! Pode ser armadilha.
Quando se
volta, o tal moço já está colocando a garota no carro.
CAEL(grita):
Ei! Você tem que esperar a ambulância!
O moço entra
no carro e acelera.
HOMEM:
Não gosto de burocracias...
Cael pega o
carro e acelera na direção dele.
MARCO:
O que vai fazer? Você está maluco?
Cael nada
responde, mas sem entender, o carro verde some de suas vistas como um
passe de mágica.
FADE OUT
FADE IN
CENA 11 CASA
Nº 137 [ INT./FIM DE TARDE ]
Bruno abre a
porta e entra. Fecha e joga a chave na mesa central.
BRUNO:
Raíza?
O pai chama,
mas não se ouve nada. Ele olha para o alto da escada e vê a porta
do sótão aberta. Sobe as escadas, atento e pára à soleira da
porta.
SÓTÃO [INT.]
Bruno encontra
tudo revirado e desespera-se. Dá com o livro largado sem a cruz. Ele
agacha e antes de pegá-lo, ouve a porta da sala abrir. Sai e do alto
da escada vê Josué com uns papéis na mão e sua bolsa a tiracolo.
SALA...
Josué senta no
sofá, põe a bolsa cor marfim ao seu lado e suspira.
JOSUÉ:
O João taí?
BRUNO:
Acho que não eu cheguei agora e...
JOSUÉ:
E?
BRUNO:
A cruz. A cruz sumiu!
JOSUÉ:
Sumiu? Como assim?
BRUNO:
O sótão tá todo revirado, Josué. E se foi o Cipriano?
JOSUÉ:
Você acha que ele ainda usa aquelas poções pra ficar invisível?
Será que ele tá por aqui?
BRUNO:
Não...Se ele já pegou a cruz ele vai atrás da...
Os dois se
fitam de repente.
BRUNO e
JOSUÉ:
Raíza!
BRUNO
(assustado):
Onde ela tá? Não veio contigo?
Josué olha os
papéis em sua mão. O nome no cabeçalho da folha é o de Raíza.
FADE OUT
FADE IN
CENA 12
AMBIENTE
ESTRANHO [INT./FIM DE TARDE]
= = Music On
= =
Raíza acorda
em cima de uma tábua, no meio de um terreiro, sozinha. Levanta-se e
de repente observa, pela janela, o tempo lá fora. Desespera-se. Olha
seu pulso e vê uma cicatriz. A garota sai da tábua e pisa no chão
de terra. Olha à direita e velas estão acesas. Faz cara de quem não
está gostando do cheiro.
HOMEM (O.S):
Está se sentindo bem?
Raíza vira-se
e dá com aquele rapaz bonito, simpático, usando uma camisa vermelha
por dentro do sobretudo preto.
RAÍZA:
Quem é você? Onde é que eu tô?
HOMEM:
Pelo visto está muito bem, hen...
RAÍZA:
Quero ir pra casa...Não tô gostando disso...Ai! (ela aperta o pulso
esquerdo) que dor é essa? Que cicatriz é essa?
HOMEM:
Pare de sentir medo que ela passa.
RAÍZA:
Que?
O rapaz se
aproxima e Raíza recua. Ele pára diante da sua resistência.
HOMEM:
Você foi batizada com uma cruz no seu pulso. Todo sentimento avesso
à coragem a fará sentir dor.
RAÍZA:
Tá brincando...
HOMEM:
Eu não brinco com coisa séria.
Raíza torna a
olhar para o pulso e num instante, começa a arranhá-lo
impulsivamente.
RAÍZA:
Tira isso aqui, tira isso aqui! Isso é mandinga ‘né’? O que
você quer de mim?
HOMEM
(contorna a tábua):
Essa cruz passou por toda geração até chegar à sua mãe. Ela
oferece poder de todo tipo a quem dela fizer uso, apenas a quem foi
destinada. Como você é a geração mais nova, é a você que ela
pertence.
RAÍZA:
Eu sei que minha mãe era ligada a magia, mas quem disse que eu quero
esse tal poder? Você perguntou pra mim o que eu pensava sobre isso?
Quem você pensa que é pra decidir o meu futuro?
HOMEM:
Seu tio! Sou irmão de sua mãe.
Raíza olha
espantada e franze as sobrancelhas.
RAÍZA:
Meu pai nunca falou de você. Nem dessa cruz.
HOMEM:
Seu pai é um incrédulo. Deve ser lucro pra ele acreditar somente em
Deus.
RAÍZA:
Não é a única coisa que importa?
HOMEM:
Você verá que não...
=
= Music Off = =
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 13
CASA Nº
137 [ INT.]
Bruno pega o
fone, disca e depois de um tempo, desliga.
BRUNO:
Caixa postal.
JOSUÉ:
Isso é muito estranho. Deixa que eu ligo pro...(ele mira na mesa e
vê um celular) O celular do João (ele pega) Ele nunca sai sem ele.
Josué levanta,
assustado.
JOSUÉ:
O jeito é a gente ir à polícia.
BRUNO:
Não! A vida da minha filha pode está em jogo!
JOSUÉ:
Você acha mesmo que o Cipriano a levou? Mas se só a Raíza pode
usar a cruz...
BRUNO:
Mas é através dela que ele pode conseguir o que quer.
Josué não se
conforma e avança no telefone.
JOSUÉ:
Eu não vou esperar pra ver no que isso vai dar.
Bruno,
revoltado toca em sua mão tapando as teclas.
BRUNO:
Ele pode ter levado o João também!
Josué fica
estagnado e vai afrouxando a mão do telefone lentamente.
CORTA PARA
CENA 14
AMBIENTE ESTRANHO [INT.]
Raíza se
volta, sem acreditar no que está ouvindo.
RAÍZA:
Eu fui atropelada e você me salvou, é isso?
O sujeito dá
as costas e olha de canto, estranhamente.
HOMEM:
É o que eu tô dizendo...Se eu não te batizasse hoje... (Ele se
volta) Você poderia estar morta.
RAÍZA:
...Isso se Deus quisesse ‘né’...
HOMEM:
Deus é poderoso, mas nós podemos ser também. Uma empresa não
funciona só com o patrão.
RAÍZA:
Você... É um bruxo? (se afasta)
HOMEM:
Não gosto desse rótulo. Prefiro místico. E você também é. Mas
você é especial...Vi uma energia pairar no ar como nunca vi antes.
Tive que fazer uma limpeza na cruz por que parece que alguém de más
vibrações andou bisbilhotando...Mas do resto ocorreu tudo bem.
RAÍZA:
Tá, mas agora eu tô bem. Tira essa coisa de mim.
HOMEM:
Como? Num entendi.
RAÍZA
(olhando firme para ele):
Tira essa cruz do meu pulso.
O sujeito cruza
os braços e a olha como se fosse superior.
HOMEM:
Acho que você não entendeu nada do que eu disse; A cruz a salvou e
sem ela todos os males que você sentia até as dores que você viria
a ter pelo acidente vão aparecer.
Raíza se
espanta.
RAÍZA:
Eu nunca mais poderei tirar isso daqui?
HOMEM:
Se você quiser se arriscar a morrer...
RAÍZA:
Não acredito em coisas materiais...Vou tratar de arrancar essa coisa
daqui.
Ela vai na
direção da porta de madeira e ouve aquele rapaz, ainda de costas.
HOMEM (O.S):
Você pode ser punida! Se você ousar falar mal ou não aceitar sua
nova condição será punida...Por tempo indeterminado.
Ela se volta,
irritada e segurando seu pulso.
RAÍZA:
Isso é ameaça? Eu não acredito que uma coisa material possa reger
o meu destino.
HOMEM:
Você não sabe o mal que poderá te acontecer...
RAÍZA:
Eu não pedi isso pra minha vida.
Raíza tenta
sair. O sujeito vai até ela e a toca nos ombros.
HOMEM:
Vê lá o que você vai fazer hen...Você tem uma família...
A garota,
espantada, corre para fora dali e lá adiante, pára na escuridão.
Olha em torno de si e não há uma viva alma para pedir ajuda.
A tela se fecha
num baque.
FADE IN
CENA 15
CASA Nº 137 – SALA [INT./NOITE]
Bruno não
consegue ficar sossegado. Estala os dedos e se inquieta cada vez mais
com a presença dos amigos da filha. Josué serve um lanche e quase
deixa a bandeja cair. Preocupado demais.
DCR:
Gente, por que não ligam pra polícia hen? A essa altura eu não me
surpreenderia se ela já tiver sido levada pra fora do estado.
ARI:
Você tá falando em...
GAROTA:
Seqüestro, é isso que o cara tá falando.
DCR
(dramatizando):
É, o caso pode ser sério, Rafaela. Eles levam a pessoa pra fora do
estado e depois de tudo pronto, saem do país.
ARI:
‘Cê’ tá viajando, cara. O seu Bruno não é rico, suponho que
não tenha inimigos...Por que levariam a garota?
Rafaela, após
um gole rápido no suco, se volta para o amigo.
RAFAELA:
Você tá viajando mesmo. Vai vê ela só matou a aula e pronto.
ARI:
Ou seja, nos deixou na mão...
BRUNO:
Desculpem, mas...Já está tarde. É perigoso andar na rua a essa
hora...
Os amigos
deixam a xícara na mesa central, levantam-se.
ARI:
Ah, a gente já ‘tava’ de saída...Não é pessoal?
RAFAELA
(para Bruno):
Qualquer coisa o senhor nos liga tá?
BRUNO:
Tudo bem...
Dcr, Rafaela e
Ari se despedem.
Assim que eles
saem, Bruno com os braços sobre os joelhos olha para o telefone.
BRUNO:
Eu não tô aguentando mais essa agonia...
CORTA PARA
CENA 16 RUAS
DA CIDADE [NOITE]
Raíza caminha
rápido pela calçada, chega a correr, mas desacelera. Ouve-se a
trovoada. O céu se ilumina todo.
RAÍZA:
Meu Deus do céu! (caminha olhando para trás) Que lugar é esse?
TOYOTA [INT.]
Cael dirige
quieto. Ao seu lado, Marco o observa. Coloca o cotovelo na janela,
passa a mão pela boca e continua a encará-lo.
CAEL:
Posso saber por que tanto me olha?
MARCO:
Você está quieto desde que aquela garota foi atropelada.
CAEL:
Sujeito estranho aquele, não acha?
MARCO:
Os dois me pareceram estranhos.
Silêncio.
Pingos de chuva batem na janela.
MARCO:
Olha só o que você fez! Pegou um caminho errado!
CAEL:
Tudo bem. (irônico) Não vamos chegar amanhã na boate.
MARCO:
Isso por causa daquele incidente? Esquece isso. Aquela garota nem
sabe que você existe e duvido que voltaremos a vê-la...
[POV de Cael]
Cael vê uma
garota indo de costas pro meio da rua. Buzina.
TOYOTA [EXT.]
Raíza se vira,
Cael freia rapidamente e as mãos da garota pousam sobre o capô.
Cael a olha,
espantado; Raíza também.
TOYOTA [INT.]
Cael faz que
vai sair. Marco o impede.
MARCO:
Você não vai fazer nada!
Cael não
responde. Se solta dele, abre a porta e quando sai, não vê mais
ninguém. Marco também sai e apóia o braço em cima do carro.
MARCO:
Não anda tendo muita sorte com seus atos benevolentes, Cael?
Cael vira pra
ele, calado.
CORTA PARA
CENA 17
RUAS DA CIDADE [NOITE]
SÉRIE DE
PLANOS:
a) A cena
mostra João Batista andando em passos largos numa estrada.
b) Ouve-se
trovoadas.
c) Raíza
apanha seu celular, disca com o dedo tremendo. Toca o pulso e fecha
os olhos de dor.
CORTA PARA
CASA Nº 137 [
INT./NOITE]
O telefone
toca. Bruno avança e atende.
BRUNO:
Raíza?... Minha filha, onde você tá?
RAÍZA:
Eu não sei, pai...Tô chegando perto de um viaduto de grades
amarelas...Ai pai, um louco falou de uma cruz...Vem me buscar.
BRUNO:
Descreve o lugar, filha...
RUAS DA CIDADE
- VIADUTO...
RAÍZA:
Tem uma torre de...
Raíza tem o
telefone bruscamente arrancado de sua mão.
RAÍZA:
João, ‘cê’ tá maluco? Por que fez isso?
Ela vê o
celular ser jogado abaixo do viaduto.
João está com
uma aparência desorientada, olhos vermelhos e a olha fixamente.
JOÃO:
Foi você que me tomou a cruz não foi? Não sei como você fez, mas
só pode ter sido. Quem é esse cara que ficou falando de uma cruz
contigo?
RAÍZA:
Eu não sei...( ela alisa o pulso e se afasta do primo) ele é um
cara muito sinistro, inventou que colocou uma cruz ...
Ele a segura
pelos ombros.
JOÃO:
Cadê? (ele tenta puxar sua bolsa, mas ela se esquiva) era pra ser
minha! Eu esperei muito por isso pra você vir e me tomar!
RAÍZA
(assustada):
Ele falou que a cruz me pertencia e...
JOÃO:
Quem decide isso sou eu!
João avança,
mas Raíza consegue empurrá-lo e sair correndo. João levanta, toma
impulso e a alcança. Os dois caem na mesma hora. A garota se segura
firme na grade do viaduto e dá um chute na cara dele.
RAÍZA
(berra):
PÁRA COM ISSO! VOCÊ TÁ AGINDO FEITO UM LOUCO!
JOÃO
(berra):
VOCÊ SEMPRE TOMA TUDO QUE É MEU!
Raíza tenta se
levantar para correr. João puxa seu braço direito e ela se volta
com uma braçada.
Ele crava as
unhas em seu pulso esquerdo e o grito de dor dela soa pela estrada.
Uma trovoada
ilumina o céu.
Os dois ficam
estáticos; A cena gira em torno deles rapidamente; Raíza, com a mão
estendida; O primo segurando seu pulso. O mundo corre a volta deles.
De repente, os
dois caem.
O dia clareia
no rosto deles, ouve-se o som dos pássaros cantando por perto. O
rosto de Raíza é sereno e a cena se aproxima ao máximo. Ela abre
os olhos subitamente.
A
tela se fecha num baque.
Continua...
Bruno
(Juan Alba)
Josué
(Caco Ciocler)
João
Batista (Caio Blat)
Dcr
(Aaron Ashmore)
Ari
(Nathália Dill)
Rafaela
(Fernanda Vasconcellos)
Cael
(Michael Rosenbaum)
Marco
(Pierre Kiwitt)
Cipriano
(Thiago Rodrigues)
Paulo
(V.O) (Sidney Sampaio)
Produção:
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com
nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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