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GATO PRETO CAPÍTULO 2
32:00 min
CYBERTV APRESENTA
GATO PRETO
Minissérie
de
Cristina Ravela
Capítulo 2 de 13
© 2018, CyberTV.
Todos os direitos reservados.
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ATO DE ABERTURA
FADE
IN
CENA
1 EXT. - CASARÃO / FAZENDA
SANTOS – DIA
Pouquíssimos
convidados fazendo buchicho, curiosos. Alguns até comendo os quitutes que
sobraram.
CORTA
PARA
CENA
2 INT. - CASARÃO / FAZENDA
SANTOS / SALA – DIA
Ampla,
com chão de taco, móveis rústicos, ambiente fechado, bem diferente da sala da
fazenda Guerra.
Avelino
sentado, nitidamente incomodado e impaciente; No canto, próximo ao corredor que
leva à cozinha, estão Maria José e Cícero fofocando e olhando para Maria Alice,
isolada no canto, perto da porta.
Corta
imediatamente para o
SEGUNDO
PISO, EM UM CORREDOR
Onde
Alessandro e Mazinho, ao lado de uma porta, cochicham.
MAZINHO
Tu tá achando também que isso teve o dedo da Alice?
Tu tá achando também que isso teve o dedo da Alice?
ALESSANDRO
Com toda a certeza, tio! Meu pai mandou a garota embora, e aí ela volta bem atrás da Catarina? Ela deve ter falado alguma coisa que a deixou perturbada, com certeza.
Com toda a certeza, tio! Meu pai mandou a garota embora, e aí ela volta bem atrás da Catarina? Ela deve ter falado alguma coisa que a deixou perturbada, com certeza.
MAZINHO
Vamos combinar que ela nunca soube cavalgar direito né? (imita)
Sempre meio capenga, meio pro lado (ri).
Vamos combinar que ela nunca soube cavalgar direito né? (imita)
Sempre meio capenga, meio pro lado (ri).
ALESSANDRO
Não fala assim, tio. O João não ia dar um cavalo de puro sangue se ela não soubesse cavalgar né?
Não fala assim, tio. O João não ia dar um cavalo de puro sangue se ela não soubesse cavalgar né?
MAZINHO
Sei lá. Acha que a queda foi grande?
Sei lá. Acha que a queda foi grande?
ALESSANDRO
Foi terrível. A propósito, onde o senhor tava hen? Precisava de um apoio moral e o senhor nada.
Foi terrível. A propósito, onde o senhor tava hen? Precisava de um apoio moral e o senhor nada.
MAZINHO
Ué, eu tava por aí. Festa chata e a certeza da sua desgraça. Ia tá lá pra quê?
Ué, eu tava por aí. Festa chata e a certeza da sua desgraça. Ia tá lá pra quê?
Mazinho
desvia o olhar, mas Alessandro não tem tempo de responder. A porta é aberta. Um
médico encara ambos, desolado e SAI. Alessandro e Mazinho OUVEM o choro vindo
lá de dentro.
CORTE
DESCONTÍNUO
DE
VOLTA À SALA
Alessandro
desce as escadas, rápido, furioso. Mazinho atrás.
ALESSANDRO
Isso não teria acontecido se ela não tivesse vindo.
Isso não teria acontecido se ela não tivesse vindo.
TODOS
em alerta.
MAZINHO
Olha o que tu vai fazer, garoto!
Olha o que tu vai fazer, garoto!
Alessandro
vai pra cima de Alice, muito alterado.
ALESSANDRO
Tá satisfeita, garota? É pra isso que você voltou? Pra completar a desgraça?
Tá satisfeita, garota? É pra isso que você voltou? Pra completar a desgraça?
ALICE
Por que cê tá falando assim? Como tá a Catarina?
Por que cê tá falando assim? Como tá a Catarina?
Alessandro
agarra seu braço, ríspido.
ALESSANDRO
Como você acha que ela tá? Ela tá morta! MORTA!
Como você acha que ela tá? Ela tá morta! MORTA!
Baque
em Alice. Ela cobre a boca, penalizada. Todos na sala se surpreendem.
ALICE
Alguém atiçou o cavalo, eu vi.
Alguém atiçou o cavalo, eu vi.
ALESSANDRO
Você viu, é? Viu? Você tem culpa nisso. Você tem culpa nisso!
Você viu, é? Viu? Você tem culpa nisso. Você tem culpa nisso!
Noel
chega de surpresa já apontando o dedo.
NOEL
Eu quero ver você provar isso!
Eu quero ver você provar isso!
Olho
no olho. Cortes alternados entre os presentes.
ALESSANDRO
Olha quem chegou! Tava onde? Dando um tempo pra ninguém desconfiar de nada?
Olha quem chegou! Tava onde? Dando um tempo pra ninguém desconfiar de nada?
NOEL
Tá me acusando de alguma coisa?
Tá me acusando de alguma coisa?
Alessandro
abre os braços, olha para todos.
ALESSANDRO
Não parece óbvio? Os dois são escorraçados daqui, e de repente voltam justo no momento em que Catarina cai do cavalo? Que tipo de suspense vocês andam assistindo pra nem saberem disfarçar?
Não parece óbvio? Os dois são escorraçados daqui, e de repente voltam justo no momento em que Catarina cai do cavalo? Que tipo de suspense vocês andam assistindo pra nem saberem disfarçar?
ALICE
O mesmo que você deve ter usado para fingir tanto drama? Você não queria o casamento, aí a garota aparece morta?
O mesmo que você deve ter usado para fingir tanto drama? Você não queria o casamento, aí a garota aparece morta?
ALESSANDRO
Isso você não pode provar, mas todo mundo viu você chegando logo atrás dela. Isso é incontestável.
Isso você não pode provar, mas todo mundo viu você chegando logo atrás dela. Isso é incontestável.
AVELINO
CHEGA!
CHEGA!
Avelino
levantando-se, irado.
AVELINO
A desgraça já foi feita. Vocês dois, fora! Quero os dois o mais longe possível daqui.
A desgraça já foi feita. Vocês dois, fora! Quero os dois o mais longe possível daqui.
NOEL
(debocha)
Mais longe? Como posso ir mais longe se meu coração aqui permanece?
(debocha)
Mais longe? Como posso ir mais longe se meu coração aqui permanece?
Avelino
se enfurece e avança sobre eles.
AVELINO
Não me venha com essas frases feitas, anda, fora!
Não me venha com essas frases feitas, anda, fora!
Ambos
são enxotados para o
EXTERIOR
DO CASARÃO
Onde
são encarados pelos poucos convidados. Alice e Noel descem as escadas, quietos,
sem olhar para trás.
AVELINO
E saibam que desta vez eu não pretendo amenizar o lado de vocês com a polícia. Ouviram?
E saibam que desta vez eu não pretendo amenizar o lado de vocês com a polícia. Ouviram?
Alice
e Noel apenas seguem até atravessarem a tela.
Em Avelino, Mazinho e Alessandro assistindo a cena.
Em Avelino, Mazinho e Alessandro assistindo a cena.
FADE
OUT
FIM DO ATO DE ABERTURA
CAPÍTULO 2
DOIS PESOS,
DUAS MEDIDAS
PRIMEIRO ATO
FADE
IN
Vista
aérea da zona rural, muito verde, sítios e fazendas. Até encontrar a Fazenda
Guerra/
CENA
3 EXT. - CASARÃO / FAZENDA
GUERRA – DIA
Uma
pickup preta estacionando alí. Paulo a postos, preocupado, observa Helô, Alice
e Noel saindo do carro, desolados, expressão de choro.
Helô
nem bate a porta.
HELÔ
Paulo, pode deixar o carro aqui mesmo. Não vou demorar.
Paulo, pode deixar o carro aqui mesmo. Não vou demorar.
PAULO
Sim, senhora.
Sim, senhora.
Helô,
Alice e Noel entram no casarão. Em Paulo, confuso.
CENA
4 INT. - CASARÃO / FAZENDA
GUERRA / SALA – DIA
Helô
sentando-se, angustiada. Noel ao seu lado, apoiando. Alice não para quieta.
HELÔ
João não cansa de se culpar, coitado. Falei tanto pra ele não se precipitar, que a Catarina não tava preparada pra montar um puro sangue, mas /
João não cansa de se culpar, coitado. Falei tanto pra ele não se precipitar, que a Catarina não tava preparada pra montar um puro sangue, mas /
NOEL
(por cima) Mãe, a culpa não é do João. E de mais a mais, cavalo é cavalo quando é atiçado. A Alice garante ter visto alguém dar um soco de vara no lombo dele.
(por cima) Mãe, a culpa não é do João. E de mais a mais, cavalo é cavalo quando é atiçado. A Alice garante ter visto alguém dar um soco de vara no lombo dele.
ALICE
(agitada) Alguém conhecido, com certeza. Ela falava com ele normalmente, quando foi surpreendida. Aquilo não foi um acidente!
(agitada) Alguém conhecido, com certeza. Ela falava com ele normalmente, quando foi surpreendida. Aquilo não foi um acidente!
HELÔ
Mas quem ia querer a morte dela? Ela sempre foi uma garota bacana, nunca mexeu com ninguém.
Mas quem ia querer a morte dela? Ela sempre foi uma garota bacana, nunca mexeu com ninguém.
NOEL
Pra algumas pessoas, basta a gente tá vivo pra sermos alvos. E eu não ponho minha mão no fogo por aquele Mazinho.
Pra algumas pessoas, basta a gente tá vivo pra sermos alvos. E eu não ponho minha mão no fogo por aquele Mazinho.
ALICE
Eu ouvi muito bem esse Mazinho dizendo que se o casamento acontecesse, ele daria um jeito nela. O que não entendo é por que o Alessandro ameaçou dar a parte dele da herança para a Catarina, se pretendia não casar de verdade.
Eu ouvi muito bem esse Mazinho dizendo que se o casamento acontecesse, ele daria um jeito nela. O que não entendo é por que o Alessandro ameaçou dar a parte dele da herança para a Catarina, se pretendia não casar de verdade.
NOEL
É porque foi apenas uma ameaça. Parece que tem jogo aí no meio.
É porque foi apenas uma ameaça. Parece que tem jogo aí no meio.
HELÔ
Vamos deixar que o João decida o que será feito. Se não foi acidente, a polícia vai ter que apurar.
Vamos deixar que o João decida o que será feito. Se não foi acidente, a polícia vai ter que apurar.
No
olhar de cada um, até a CAM BUSCAR Paulo, espreitando-se na janela, ouvindo a
conversa. Ele SAI, rapidamente.
CENA
5 INT. - CASARÃO / FAZENDA
SANTOS / QUARTO DE ALESSANDRO – DIA
Catarina,
deitada na cama, ainda trajando o vestido de noiva, sujo. Nem parece morta. CAM
revela Maria José a observando, de pé e roendo a unha.
O
quarto é grande, arejado, com móveis modernos, mas de tonalidades rústicas.
Janela dando para uma pequena varanda.
Maria
José se aproxima, curiosa.
MARIA JOSÉ
(murmura) Parece que tá dormindo. Aposto que morreu virgem (tapa a boca, controla o riso). Achou mesmo que ia ter o Sandrinho todo pra você, né? Bobinha. Daqui a pouco, só os vermes vão querer te comer.
(murmura) Parece que tá dormindo. Aposto que morreu virgem (tapa a boca, controla o riso). Achou mesmo que ia ter o Sandrinho todo pra você, né? Bobinha. Daqui a pouco, só os vermes vão querer te comer.
BARULHO
da porta abrindo. Maria José se recompõe, força a expressão sofrida. João e
Cícero adentram.
JOÃO
Muito obrigado por ter ficado com ela. Eu sei que parece estranho, mas não me sinto bem deixando minha filha sozinha neste lugar.
Muito obrigado por ter ficado com ela. Eu sei que parece estranho, mas não me sinto bem deixando minha filha sozinha neste lugar.
Maria
José toca o ombro de João, se solidariza, falsamente.
MARIA JOSÉ
Eu entendo, tio. Sinto muito.
Eu entendo, tio. Sinto muito.
Ela
o abraça e dá as costas. Dá uma olhada de tédio para Cícero e este sorri,
sacando a falsidade. João se senta na beirada da cama, segura na mão de
Catarina.
CÍCERO
O Avelino disse que tá providenciando o velório. Não vai trocar a roupinha dela?
O Avelino disse que tá providenciando o velório. Não vai trocar a roupinha dela?
JOÃO
A Helô já foi ver isso.
(T) Perdi minha única filha, Cícero. (limpa as lágrimas)
Avelino deve tá rindo por dentro.
A Helô já foi ver isso.
(T) Perdi minha única filha, Cícero. (limpa as lágrimas)
Avelino deve tá rindo por dentro.
CÍCERO
Não diga isso, irmão. Avelino é turrão daquele jeito, mas não ia rir de uma coisa dessas.
Não diga isso, irmão. Avelino é turrão daquele jeito, mas não ia rir de uma coisa dessas.
JOÃO
Eu bem sei como ele é.
(close em sua expressão de rancor) Minha filha não merecia esse fim. Não merecia.
Eu bem sei como ele é.
(close em sua expressão de rancor) Minha filha não merecia esse fim. Não merecia.
DESFOQUE
para Cícero, lamentando.
CENA
6 EXT. - CASARÃO / FAZENDA
GUERRA – DIA
Alice
SAINDO com uma pequena mala, olha para a direção da porta.
ALICE
VOU ESPERAR NO CARRO!
VOU ESPERAR NO CARRO!
Alice
se aproxima do carro, coloca a mala na carroceria. Paulo se aproxima,
sorrateiro.
PAULO
Senhorita!
Senhorita!
ALICE
Paulo! Que susto...A gente tá voltando lá /
Paulo! Que susto...A gente tá voltando lá /
PAULO
A senhorita acha que a dona Catarina foi assassinada mesmo?
A senhorita acha que a dona Catarina foi assassinada mesmo?
Alice
hesita, ajeita os cabelos, sem saber o que responder.
PAULO
Pode falar. Mataram ela, né?
Pode falar. Mataram ela, né?
ALICE
Olha, eu não sei o que você ouviu, mas ainda não posso afirmar nada. Não tenho provas /
Olha, eu não sei o que você ouviu, mas ainda não posso afirmar nada. Não tenho provas /
Paulo
dá um soco na lataria do carro, inconformado.
PAULO
Bem que a dona Tina avisou! A dona Catarina não tinha nada que casar.
Bem que a dona Tina avisou! A dona Catarina não tinha nada que casar.
ALICE
Dona Tina? Tá falando daquela cartomante que previu uma desgraça pra Catarina?
Dona Tina? Tá falando daquela cartomante que previu uma desgraça pra Catarina?
PAULO
(interessado)
Então ela te contou? Dona Tina não erra uma, e mesmo a menina acreditando nela, não desistiu do casório.
(interessado)
Então ela te contou? Dona Tina não erra uma, e mesmo a menina acreditando nela, não desistiu do casório.
ALICE
É...Parece que só eu não fui com a cara dela. Mas ela acertou em cheio, né?...
É...Parece que só eu não fui com a cara dela. Mas ela acertou em cheio, né?...
PAULO
Tomara que o patrão consiga pegar o culpado. A senhorita tem ideia de quem seja?
Tomara que o patrão consiga pegar o culpado. A senhorita tem ideia de quem seja?
Alice
olha para trás, pensativa.
ALICE
Eu não. Mas talvez alguém saiba.
Eu não. Mas talvez alguém saiba.
Ao
fundo, Paulo ouve, atento.
CENA
7 EXT. - CABANA – DIA
Uma
trilha estreita, cercada por arvoredos e pés de bambu. O feixe de luz solar
adentrando pelas folhagens nos faz enxergar uma fina poeira levantando do chão.
Adiante, no alto, a cabana de madeira coberta por sapê e sustentada por toras;
Logo abaixo, espaço para algum carro.
Alice
caminha com cuidado, mas seus passos fazem barulho ao pisar em folhas secas.
Ela vai em direção a uma escada.
CORTA
PARA
CENA
8 INT. - CABANA – DIA
Alice
dá uma leve batida na porta. A CAM dá uma geral na SALA, paredes com belos
quadros de pintura a óleo, sofá amarelo, até chegar numa mesa redonda na qual
está uma mulher.
MULHER #1
Eu sabia que tu voltaria, menina.
Eu sabia que tu voltaria, menina.
Alice
vai até ela, uma mulher de 50 anos, branca, olhos castanhos, cabelos longos e
loiros. Muito bonita, apesar dos trajes neutros, envolvido por um manto verde.
Na mesa, baralho cigano já aberto com três cartas dispostas.
MULHER #1
Sente-se.
Sente-se.
Alice
se senta, encarando a cigana.
ALICE
(incisiva)
Já soube que a sua previsão deu certo, dona Tina?
(incisiva)
Já soube que a sua previsão deu certo, dona Tina?
TINA
E recebi a notícia com muita tristeza, menina.
(olha para as cartas)
Mas estava no destino. Ninguém podia impedir.
E recebi a notícia com muita tristeza, menina.
(olha para as cartas)
Mas estava no destino. Ninguém podia impedir.
ALICE
(por cima / irada)
Ninguém nasce destinado a ser assassinado!
(as duas se encaram) Catarina era boa, amiga de todo mundo, só queria união e paz entre as famílias.
(por cima / irada)
Ninguém nasce destinado a ser assassinado!
(as duas se encaram) Catarina era boa, amiga de todo mundo, só queria união e paz entre as famílias.
TINA
Não há paz quando as pessoas não querem, Alice. Ninguém busca paz fazendo guerra. Em lugar algum.
Não há paz quando as pessoas não querem, Alice. Ninguém busca paz fazendo guerra. Em lugar algum.
ALICE
Eu vim buscar a paz. Só me dizer quem matou Catarina. Prometo que não vou mencionar o seu nome.
Eu vim buscar a paz. Só me dizer quem matou Catarina. Prometo que não vou mencionar o seu nome.
Tina
mexe nas cartas já dispostas.
TINA
Não é assim que funciona, Maria Alice. As cartas não me revelam tudo.
Não é assim que funciona, Maria Alice. As cartas não me revelam tudo.
ALICE
(alterada) Entendi, a senhora só vê desgraça aí, né? Toca o terror, faz um drama, depois diz que não sabe de nada, entendi. O que tá vendo agora? O assassino sem rosto saindo impune?
(alterada) Entendi, a senhora só vê desgraça aí, né? Toca o terror, faz um drama, depois diz que não sabe de nada, entendi. O que tá vendo agora? O assassino sem rosto saindo impune?
TINA
O que vejo é que você precisa partir. Você está no meio de um berço de lobos, menina. Vá, enquanto é tempo.
O que vejo é que você precisa partir. Você está no meio de um berço de lobos, menina. Vá, enquanto é tempo.
ALICE
Como pode me pedir isso? Uma garota foi assassinada /
Como pode me pedir isso? Uma garota foi assassinada /
TINA
(por cima) A ambição cairá por si só. Se você ficar, sofrerá muito. Aquele chão, há muito, está manchado de sangue.
(por cima) A ambição cairá por si só. Se você ficar, sofrerá muito. Aquele chão, há muito, está manchado de sangue.
Alice
soca a mesa e se levanta, indo em direção à porta.
TINA
É pro seu bem.
É pro seu bem.
Alice
para, mas nem olha. Vai embora.
Em Tina, ainda encarando as cartas.
Em Tina, ainda encarando as cartas.
FADE
OUT
FIM DO PRIMEIRO ATO
SEGUNDO ATO
FADE
IN
CENA
9 INT. - FAZENDA SANTOS /
ESTÁBULO – DIA
Alguns
cavalos agitados, presos em seus cercados. A medida em que a CAM avança,
COCHICHOS e RISOS se tornam mais próximos. Em um chão coberto por palhas,
Mazinho e Maria José rolam, aos beijos.
MARIA JOSÉ
Se nos pegam aqui…
Se nos pegam aqui…
MAZINHO
Ah, tá todo mundo cuidando da defunta lá. Vamos aproveitar, porque amanhã temos que fingir drama no enterro.
Ah, tá todo mundo cuidando da defunta lá. Vamos aproveitar, porque amanhã temos que fingir drama no enterro.
Maria
José dá a sua risadinha, safada. Os dois se agarram de novo.
CENA
10 INT. - CASARÃO / FAZENDA
SANTOS / SALA – DIA
Helô
entra, seguida por Noel, este segurando uma mala. Alessandro já chega apontando
o dedo, Walter tenta contê-lo, mas não consegue.
ALESSANDRO
Será que o meu pai não foi claro com vocês?
Será que o meu pai não foi claro com vocês?
HELÔ
Por favor, filho, ele só veio me ajudar.
Por favor, filho, ele só veio me ajudar.
ALESSANDRO
E a Alice não veio junto? Ou tá à espreita?
E a Alice não veio junto? Ou tá à espreita?
WALTER
Alessandro, não é hora pra brigas, por Deus!
Alessandro, não é hora pra brigas, por Deus!
Avelino
sai de um corredor, de cara amarrada, como sempre.
AVELINO
Será que eu vou ter que falar grego pra você entender?
Será que eu vou ter que falar grego pra você entender?
NOEL
Eu vou embora /
Eu vou embora /
Helô
segura seu braço.
HELÔ
Você fica. (para Avelino) Ou será que você também tá me expulsando?
Você fica. (para Avelino) Ou será que você também tá me expulsando?
Na
troca de olhares entre eles.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA
11 EXT. - CASARÃO / FAZENDA
SANTOS – NOITE
Alice
vem caminhando, cansada. Noel aparece da porta e vai até ela, curioso.
NOEL
Alice! Onde esteve?
Alice! Onde esteve?
ALICE
Fui tentar resolver um assunto. Em vão.
Fui tentar resolver um assunto. Em vão.
NOEL
Vem, vamos entrar.
Vem, vamos entrar.
ALICE
Melhor não. Tá muito difícil ficar lá dentro quando você sabe que existe um culpado por essa morte e que não foi a gente.
Melhor não. Tá muito difícil ficar lá dentro quando você sabe que existe um culpado por essa morte e que não foi a gente.
NOEL
E vai ficar aqui? Prometo que depois a gente vai dormir na outra fazenda, ok?
E vai ficar aqui? Prometo que depois a gente vai dormir na outra fazenda, ok?
Alice
faz a pensativa.
ALICE
Cê vem comigo?
Cê vem comigo?
Em
Noel.
CENA
12 INT. - FAZENDA SANTOS /
ESTÁBULO – NOITE
ÂNGULO
ALTO – Mazinho, sem camisa, deitado ao lado de Maria José, de calcinha e sutiã.
MARIA JOSÉ
Que fofoca! Eu achava que a implicância do Avelino era só por conta do passado da Alice. Quer dizer que ele tem medo que ela descubra a verdade?
Que fofoca! Eu achava que a implicância do Avelino era só por conta do passado da Alice. Quer dizer que ele tem medo que ela descubra a verdade?
MAZINHO
Avelino é um velho safado. Aposto contigo que foi ele que armou toda aquela papagaiada pra expulsar a garota daqui.
Avelino é um velho safado. Aposto contigo que foi ele que armou toda aquela papagaiada pra expulsar a garota daqui.
MARIA JOSÉ
Mas e o Noel? Por que foi deserdado mesmo? Nunca entendi.
Mas e o Noel? Por que foi deserdado mesmo? Nunca entendi.
MAZINHO
O moleque ficou do lado dela. O pai ameaçou deserdá-lo, se ele fosse atrás dela. Dito e feito.
O moleque ficou do lado dela. O pai ameaçou deserdá-lo, se ele fosse atrás dela. Dito e feito.
MARIA JOSÉ
Que desapegado hen.
Que desapegado hen.
MAZINHO
Fui tomado pela emoção.
Fui tomado pela emoção.
Ambos
gargalham.
ALTERNA
PARA
O
EXT. DO ESTÁBULO
Onde
Alice e Noel se aproximam.
NOEL
Acha que pode encontrar algum vestígio do assassino aí?
Acha que pode encontrar algum vestígio do assassino aí?
ALICE
Sei que parece besteira. Se for alguém da fazenda, vestígios é o que não vão faltar.
Sei que parece besteira. Se for alguém da fazenda, vestígios é o que não vão faltar.
OUVIMOS
risos.
Alice e Noel estranham, mas avançam até a porta.
Alice e Noel estranham, mas avançam até a porta.
ALTERNA
PARA
O
INTERIOR
Em
Mazinho e Maria José, distraídos; Em segundo plano, Alice e Noel, afastados,
mas atentos.
MAZINHO
To dizendo. Se Alice descobre que o Avelino roubou os irmãos e que isso tudo aqui é fruto de uma herança que também pertence a Tarsila...Cara...Vai dar ruim, mas tão ruim, que tu não ia querer ver.
To dizendo. Se Alice descobre que o Avelino roubou os irmãos e que isso tudo aqui é fruto de uma herança que também pertence a Tarsila...Cara...Vai dar ruim, mas tão ruim, que tu não ia querer ver.
MARIA JOSÉ
Mas ela ia poder fazer o quê? Avelino é mais influente aqui do que os políticos da cidade.
Mas ela ia poder fazer o quê? Avelino é mais influente aqui do que os políticos da cidade.
MAZINHO
Ora, imagina o que é descobrir que o cara que te odeia tem o rabo preso? Prato cheio pra garota não sair daqui nunca mais.
Ora, imagina o que é descobrir que o cara que te odeia tem o rabo preso? Prato cheio pra garota não sair daqui nunca mais.
MARIA JOSÉ
(acha graça) Ai, que horror!
(acha graça) Ai, que horror!
ZOOM
IN em Alice, chocada.
FADE
OUT
FADE
IN
Sol
surge no horizonte. Takes da praia, os bares próximos abrindo, pessoas entrando
num ônibus, tudo com uma certa morbidez no ar /
CENA
13 INT. - CEMITÉRIO – DIA
ÂNGULO
ALTO – Muita gente cerca o caixão sendo levado por João, Alessandro, Avelino e
Walter, todos trajando luto.
CORTE
DESCONTÍNUO
As
pessoas diante do caixão, ao lado do jazigo de mármore cinza. O padre Batista
com a bíblia, faz teu discurso.
BATISTA
Deus, Pai, todo Poderoso, estamos reunidos este dia para recordar a vida preciosa de Catarina Guerra dos Santos. Nos reunimos também para despedir-nos pela última vez e celebrar a vida que ela viveu aqui na terra e agradecer-te por todos os momentos e lembranças que temos dela. Oramos para que tua paz e presença esteja presente entre nós agora e oramos em nome de Cristo. Amém.
Deus, Pai, todo Poderoso, estamos reunidos este dia para recordar a vida preciosa de Catarina Guerra dos Santos. Nos reunimos também para despedir-nos pela última vez e celebrar a vida que ela viveu aqui na terra e agradecer-te por todos os momentos e lembranças que temos dela. Oramos para que tua paz e presença esteja presente entre nós agora e oramos em nome de Cristo. Amém.
Cortes
descontínuos em João,
chorando ao discursar, sem que possamos ouvir; A vez de Helô, que mantém uma
postura firme. João a abraça, desconsolado. Chega a vez de Cícero, com
semblante de quem lamenta muito.
CÍCERO
Catarina era uma menina muito doce, sabe? Super da paz, do tipo que sofria as dores do mundo e que não fazia questão de quase nada. Só queria paz. Que descanse em paz, minha flor.
Catarina era uma menina muito doce, sabe? Super da paz, do tipo que sofria as dores do mundo e que não fazia questão de quase nada. Só queria paz. Que descanse em paz, minha flor.
Maria
José, trajando um vestido curto e preto, bem provocante, esconde o riso; Alice,
abraçada a Noel, faz cara feia para o discurso e vai até Cícero. O velho sai de
perto, rapidinho.
ALESSANDRO
O que tu vai falar aí, garota?
O que tu vai falar aí, garota?
Walter
o cutuca, Alessandro se chateia.
ALICE
Catarina era quase como minha irmã. Passei dez anos fora porque fui expulsa daqui pela minha própria família.
Catarina era quase como minha irmã. Passei dez anos fora porque fui expulsa daqui pela minha própria família.
Avelino
resmunga; Alessandro e Mazinho debocham.
ALICE
Mas resolvi atender ao pedido dela, e voltei. Voltei para vê-la pela última vez. Catarina realmente gostava do noivo (Alessandro abaixa a cabeça, sem graça) a ponto de ignorar uma previsão: Dona Tina, que muitos aqui conhecem, anunciou sua desgraça caso ela casasse.
Mas resolvi atender ao pedido dela, e voltei. Voltei para vê-la pela última vez. Catarina realmente gostava do noivo (Alessandro abaixa a cabeça, sem graça) a ponto de ignorar uma previsão: Dona Tina, que muitos aqui conhecem, anunciou sua desgraça caso ela casasse.
Muitos
BUCHICHOS, pessoas chocadas. O padre, sem ação.
ALICE
A cartomante que ela mais confiava, e ela ignorou. Eu vi o cavalo dela sendo atiçado /
A cartomante que ela mais confiava, e ela ignorou. Eu vi o cavalo dela sendo atiçado /
ALESSANDRO
Você vai insistir nisso?
Você vai insistir nisso?
ALICE
(corta / altera a voz) Dona Tina não previu um acidente, previu um crime! Um crime!
(corta / altera a voz) Dona Tina não previu um acidente, previu um crime! Um crime!
Em
João e Helô, impressionados. Alessandro avança sobre Alice, Walter tenta
conter.
ALESSANDRO
Você vai parar de falar besteira, e vai ser agora!
Você vai parar de falar besteira, e vai ser agora!
O
rapaz pega Alice pela nuca e vai empurrando-a.
WALTER
Para com isso, seu moleque! Não te ensinei a tratar mulher nenhuma assim!
Para com isso, seu moleque! Não te ensinei a tratar mulher nenhuma assim!
ALICE
A verdade doeu, é Alessandro?
A verdade doeu, é Alessandro?
NOEL
Solta ela!
Solta ela!
Noel
empurra o irmão. Ambos se encaram, com ódio.
ALESSANDRO
(provoca) Tá defendendo sua amante, né irmãozinho? Quanto ela tá valendo pra você posar de galo pra cima de mim, hen? Ela dá quanto pra você?
(provoca) Tá defendendo sua amante, né irmãozinho? Quanto ela tá valendo pra você posar de galo pra cima de mim, hen? Ela dá quanto pra você?
Noel
tenta dar um soco, mas Alessandro desvia e acerta uma JOELHADA em sua barriga.
Noel vai ao chão, se contorcendo de dor.
Forte clima.
Forte clima.
ALESSANDRO
Você não pode comigo, garoto. Olha o seu tamanho e olha o meu.
Você não pode comigo, garoto. Olha o seu tamanho e olha o meu.
ALICE
Seu estúpido! Covarde!
Seu estúpido! Covarde!
Walter
ajuda Noel a se levantar.
NOEL
Você é tão pobre de caráter que já está exalando.
Você é tão pobre de caráter que já está exalando.
JOÃO
(para Helô) Meu Deus, quanta baixaria. Minha filha não merecia isso.
(para Helô) Meu Deus, quanta baixaria. Minha filha não merecia isso.
AVELINO
Quem tá exalando aqui são vocês. Respeitem a dor do nosso amigo João.
Quem tá exalando aqui são vocês. Respeitem a dor do nosso amigo João.
ALICE
Amigo? (ri) Você ouviu isso, Noel?
Amigo? (ri) Você ouviu isso, Noel?
NOEL
(sarcástico / dor) Minha barriga dói sem eu precisar rir.
(sarcástico / dor) Minha barriga dói sem eu precisar rir.
WALTER
Por favor, vamos parar?
Por favor, vamos parar?
AVELINO
(ignora) Vocês não tinham nem que tá aqui. Eu avisei que ia dar merda. Querem envergonhar minha família diante dos meus amigos.
(ignora) Vocês não tinham nem que tá aqui. Eu avisei que ia dar merda. Querem envergonhar minha família diante dos meus amigos.
ALICE
Ué, seus amigos sabem que o senhor é ladrão?
Ué, seus amigos sabem que o senhor é ladrão?
BAQUE.
Avelino chega a tremer o canto da boca, de ira. Walter, Mazinho e Alessandro
cruzam olhares. Forte tensão.
AVELINO
O que foi que você disse?
O que foi que você disse?
ALICE
O senhor roubou a herança dos seus irmãos, roubou a minha mãe e vem dizer que eu e o seu filho envergonhamos a sua família que é a nossa família? Isso tudo que o senhor tem pertence a cada um dos seus irmãos, (bate no peito) pertence a mim, pertence a seus filhos. Se acha que fui bandida, tenho a quem puxar!
O senhor roubou a herança dos seus irmãos, roubou a minha mãe e vem dizer que eu e o seu filho envergonhamos a sua família que é a nossa família? Isso tudo que o senhor tem pertence a cada um dos seus irmãos, (bate no peito) pertence a mim, pertence a seus filhos. Se acha que fui bandida, tenho a quem puxar!
AVELINO
(resmunga baixo) Vadia!
(resmunga baixo) Vadia!
Avelino
lhe dá um TAPA, Walter ampara a garota. Começa a confusão. Alessandro contém
Avelino, mas este ainda tenta ir pra cima de Alice.
AVELINO
Isso é falta de uma boa surra!
Isso é falta de uma boa surra!
Mazinho
segura, mas acaba empurrado, se desequilibra e CAI certeiro na COVA.
NOEL
Ih olha lá! Coube direitinho.
Ih olha lá! Coube direitinho.
Walter
acaba rindo. Algumas pessoas também.
Ao fundo, o padre Batista observa. Em João e Helô pasmados com o escândalo.
Ao fundo, o padre Batista observa. Em João e Helô pasmados com o escândalo.
FADE
OUT
FIM DO SEGUNDO ATO
ATO FINAL
FADE
IN
Em
dois carros de polícia a frente do casarão da Fazenda Santos /
CENA
14 INT. - CASARÃO / FAZENDA
SANTOS / ESCRITÓRIO – DIA
Estão
reunidos Avelino, sentado atrás da mesa; João, Walter e Alessandro ouvindo,
atentos, um policial (moreno, 40 anos, alto, boa pinta). Estes de pé.
POLICIAL
Agilizamos a perícia a pedido do seu Avelino e constatamos que a cela do cavalo estava solta. Foi um lamentável acidente. Sinto muito.
Agilizamos a perícia a pedido do seu Avelino e constatamos que a cela do cavalo estava solta. Foi um lamentável acidente. Sinto muito.
JOÃO
Acidente? Maria Alice afirma que viu alguém atiçar o cavalo. Isso não foi acidente.
Acidente? Maria Alice afirma que viu alguém atiçar o cavalo. Isso não foi acidente.
POLICIAL
Maria Alice…? Seria a mesma que /
Maria Alice…? Seria a mesma que /
AVELINO
(pouco caso) Sim, Lucas. A mesma.
(pouco caso) Sim, Lucas. A mesma.
LUCAS
Essa menina estava...Bem quando garante ter visto a cena?
Essa menina estava...Bem quando garante ter visto a cena?
JOÃO
Maria Alice sempre esteve bem.
Maria Alice sempre esteve bem.
LUCAS
O senhor garante que ela estava BEM quando VIU a cena?
O senhor garante que ela estava BEM quando VIU a cena?
JOÃO
Eu acredito nela, poxa! Isso, pra mim, basta!
Eu acredito nela, poxa! Isso, pra mim, basta!
Lucas
meneia a cabeça, olha para Avelino. Walter desconfia.
LUCAS
Veja bem, seu João, a cela do cavalo estava solta e, pelo que foi relatado, dona Catarina não sabia conduzir muito bem, o que levou a essa fatalidade /
Veja bem, seu João, a cela do cavalo estava solta e, pelo que foi relatado, dona Catarina não sabia conduzir muito bem, o que levou a essa fatalidade /
JOÃO
(incisivo) O senhor tá insinuando que a culpa foi minha?
(incisivo) O senhor tá insinuando que a culpa foi minha?
WALTER
Calma, João, ele apenas tá repassando o que os peritos descobriram.
Calma, João, ele apenas tá repassando o que os peritos descobriram.
JOÃO
Não, ele tá me acusando!
Não, ele tá me acusando!
LUCAS
Eu só quero que o senhor fique ciente de que, em caso de insistir que houve crime, a justiça vai considerar apenas o resultado da perícia, não as palavras de Maria Alice. E isso pode prejudicar muito o senhor.
Eu só quero que o senhor fique ciente de que, em caso de insistir que houve crime, a justiça vai considerar apenas o resultado da perícia, não as palavras de Maria Alice. E isso pode prejudicar muito o senhor.
JOÃO
Isso é uma ultraje! (para Avelino) Isso é coisa tua, né? Minha filha morre nas suas terras, você manda adiantar a perícia e a polícia conclui rapidamente que foi um acidente, (bate palmas) Bravo!
Isso é uma ultraje! (para Avelino) Isso é coisa tua, né? Minha filha morre nas suas terras, você manda adiantar a perícia e a polícia conclui rapidamente que foi um acidente, (bate palmas) Bravo!
AVELINO
(falso) Não é bem assim, meu amigo /
(falso) Não é bem assim, meu amigo /
João
mete um soco na mesa, assustando a todos.
JOÃO
Eu não sou teu amigo! Chega dessa farsa! Minha filha tá morta, enterrada e eu to sendo convidado a esquecer o assunto pra não ser preso.
Eu não sou teu amigo! Chega dessa farsa! Minha filha tá morta, enterrada e eu to sendo convidado a esquecer o assunto pra não ser preso.
Alessandro
se aproxima, com calma.
ALESSANDRO
João, por favor, a gente entende o que você tá sentindo /
João, por favor, a gente entende o que você tá sentindo /
João
se afasta, arredio.
JOÃO
O que eu to sentindo? E você não sente nada? (para geral) Olha a calma desse rapaz! Você enterrou a sua esposa, lembra? (faz a negativa) Aquilo não foi um acidente.
O que eu to sentindo? E você não sente nada? (para geral) Olha a calma desse rapaz! Você enterrou a sua esposa, lembra? (faz a negativa) Aquilo não foi um acidente.
E
João abre a porta com força e sai. Avelino e Lucas cruzam os olhares,
cúmplices.
CENA
15 INT. - CASARÃO / FAZENDA
SANTOS / SALA – DIA
Maria
Alice e Noel perto da porta; Helô anda de um lado para o outro, angustiada;
Mazinho, sentado, ao lado de Cícero; Maria José roendo as unhas, ao fundo.
João
aparece, nervoso, cruzando o cenário. Os demais que estavam no escritório vêm
atrás.
JOÃO
Vamos embora, Helô!
Vamos embora, Helô!
HELÔ
Mas então? O que a polícia concluiu?
Mas então? O que a polícia concluiu?
JOÃO
(nervoso) Foi um acidente, acredita?
(nervoso) Foi um acidente, acredita?
ALICE
Como assim “acidente”?
Como assim “acidente”?
JOÃO
Isso pra evitar que eu seja preso. Porque ficou muito claro pra polícia que quem matou minha filha fui eu.
Isso pra evitar que eu seja preso. Porque ficou muito claro pra polícia que quem matou minha filha fui eu.
TODOS
pasmos, menos Avelino, Lucas, Walter e Alessandro.
NOEL
Que absurdo! O senhor não merecia passar por isso.
Que absurdo! O senhor não merecia passar por isso.
MAZINHO
Absurdo é a Alice plantar besteira na cabeça dele, isso sim.
Absurdo é a Alice plantar besteira na cabeça dele, isso sim.
JOÃO
Já chega! Já me exauri. Quem me acompanha?
Já chega! Já me exauri. Quem me acompanha?
João
SAI. Helô, Alice e Noel vão atrás.
FADE
OUT
FADE
IN
[MUSIC
ON – Alive – SIA]
CENA
16 EXT. - CARRO DE POLÍCIA –
DIA
Dentro
do carro, Avelino troca algumas palavras com Lucas. Repassa um envelope pardo
volumoso, e o policial apanha. Abre, puxa um bom maço de dinheiro. Ambos
sorriem.
CAM BUSCA Maria José, escondida no canto do CASARÃO, filmando a cena com o seu celular.
CAM BUSCA Maria José, escondida no canto do CASARÃO, filmando a cena com o seu celular.
FUSÃO
PARA
CENA
17 INT. - CEMITÉRIO – DIA
ÂNGULO
BAIXO – PASSOS podem ser ouvidos, se aproximando de um jazigo. A lápide revela
a inscrição:
“Catarina
Guerra dos Santos
12.09.1995 – 07.10.2016
Ótima filha e amiga de todos, sempre em busca de harmonia. Suas boas intenções não passarão.”
12.09.1995 – 07.10.2016
Ótima filha e amiga de todos, sempre em busca de harmonia. Suas boas intenções não passarão.”
Uma
rosa vermelha é jogada sobre o jazigo. CLOSE na rosa com seus vários espinhos,
enquanto os PASSOS se distanciam.
FUSÃO
PARA
Uma
fotografia de Catarina, ainda criança, ao lado de Alice e Noel, adolescentes.
Todos sorrindo /
CENA
18 INT. - CASARÃO / FAZENDA
GUERRA / QUARTO DE CATARINA – NOITE
A
foto é vista por Alice, próxima da janela. Ela deixa escorrer uma lágrima, mas limpa
imediatamente e olha pelo vidro da janela. CAM SE AFASTA
Ganha
o EXTERIOR DO CASARÃO
Até
que a imagem de Alice esteja distante.
FUSÃO
PARA
Cartas
de tarô viradas sendo dispostas à mesa /
CENA
19 INT. - CABANA – NOITE
Duas
cartas, de cada canto, são descobertas: A carta que revela uma figura masculina
e a outra feminina. A terceira carta, do meio, é desvirada e revela a imagem de
um rato. Tina cobre as cartas com a mão, não gostando nem um pouco.
FADE
OUT
FADE
IN
O
sol se destaca no horizonte. Alguns takes das fazendas, da vegetação, do gado
espalhado no campo /
CENA
20 EXT. - CASARÃO / FAZENDA
GUERRA – DIA
[MUSIC
OFF]
Um
carro preto estaciona. Paulo, de prontidão, se aproxima quando a porta do carro
é aberta. Um homem (branco, 60 anos, magro, de bigode, trajando terno cinza)
desce segurando uma pasta e cumprimenta Paulo.
CORTA
PARA
CENA
21 INT. - CASARÃO / FAZENDA
GUERRA – DIA
João
cumprimenta o tal homem, dando-se as mãos. Faz o mesmo com Helô.
HOMEM #1
Meus pêsames. Não pude comparecer ao enterro, mas espero que minhas flores tenham chegado.
Meus pêsames. Não pude comparecer ao enterro, mas espero que minhas flores tenham chegado.
HELÔ
Sim, chegaram. Nós agradecemos muito.
Sim, chegaram. Nós agradecemos muito.
JOÃO
Por favor, Rafael, vamos nos sentar. Você disse ao telefone que Catarina fez alterações no testamento?
Por favor, Rafael, vamos nos sentar. Você disse ao telefone que Catarina fez alterações no testamento?
RAFAEL
Sim, mas acho melhor você se preparar, meu amigo. O documento envolve outras pessoas e, principalmente, outro local para a leitura do testamento.
Sim, mas acho melhor você se preparar, meu amigo. O documento envolve outras pessoas e, principalmente, outro local para a leitura do testamento.
JOÃO
Outro local? Onde?
Outro local? Onde?
Em
Rafael, receoso em responder.
CENA
22 INT. - CASARÃO / FAZENDA
SANTOS / SALA - DIA
PLANO
GERAL – Rafael sentado numa poltrona preta, munido de uma pasta aberta, cheia
de papéis; No sofá, Avelino, Mazinho e Cícero, curiosos; João anda de um lado
para outro, inconformado. Helô tenta acalmá-lo; Maria José mais atrás, roendo
as unhas; Alessandro, sentado em outro sofá, de braços cruzados; Perto da
porta, Walter está de pé, ao lado de Alice e Noel.
RAFAEL
Posso começar? (lendo) “Eu, Catarina Guerra, em plenas faculdades mentais, livre de qualquer coação, decidi fazer esse meu testamento particular, como efetivamente o faço, sem constrangimento.”
Posso começar? (lendo) “Eu, Catarina Guerra, em plenas faculdades mentais, livre de qualquer coação, decidi fazer esse meu testamento particular, como efetivamente o faço, sem constrangimento.”
CORTE
DESCONTÍNUO
No
rosto de cada um, atento.
RAFAEL
(lendo) “Deixo 50% da minha herança a cargo de meu pai, João Amado Guerra e peço que, os 50% restantes sejam entregues aos meus amigos Maria Alice Pimentel dos Santos e Noel Castro dos Santos, nomeando-os, portanto, os novos herdeiros da família Guerra.”
(lendo) “Deixo 50% da minha herança a cargo de meu pai, João Amado Guerra e peço que, os 50% restantes sejam entregues aos meus amigos Maria Alice Pimentel dos Santos e Noel Castro dos Santos, nomeando-os, portanto, os novos herdeiros da família Guerra.”
TODOS
se mostram CHOCADOS. Avelino quase salta do sofá.
RAFAEL
(lendo) “Salvo uma condição: Para que eles possam receber os 25% cada, faz-se necessário a permanência de Maria Alice Pimentel e Noel Santos à fazenda Santos por UM ano, nem mais nem menos, para que possam aprender a conviverem juntos e estreitarem os laços familiares.”
(lendo) “Salvo uma condição: Para que eles possam receber os 25% cada, faz-se necessário a permanência de Maria Alice Pimentel e Noel Santos à fazenda Santos por UM ano, nem mais nem menos, para que possam aprender a conviverem juntos e estreitarem os laços familiares.”
AVELINO
Isso só pode ser piada!
Isso só pode ser piada!
JOÃO
Você respeita a decisão da minha filha!
Você respeita a decisão da minha filha!
RAFAEL
(lendo / aumenta o tom de voz) A convivência de ambos será monitorada pelo meu advogado, Rafael Campos e, caso não seja cumprido o acordo, Alessandro Castro dos Santos, então meu marido, passará a ter posse dos 50% da minha herança.
(lendo / aumenta o tom de voz) A convivência de ambos será monitorada pelo meu advogado, Rafael Campos e, caso não seja cumprido o acordo, Alessandro Castro dos Santos, então meu marido, passará a ter posse dos 50% da minha herança.
Em
Alessandro, pasmo. Mazinho lhe dá uma olhada sacana. Em cada um, surpreso com a
decisão, até chegar em Alice e Noel, entreolhando-se, tensos.
FADE
OUT
FIM DO CAPÍTULO
APRESENTANDO
CHRISTIANA UBACK.......................Maria Alice Pimentel
JOÃO VÍTHOR OLIVEIRA........................…...Noel Santos
MARCO PIGOSSI.............................Alessandro Santos
OSVALDO
MIL..................................Mazinho Santos
JULIANA LOHMANN...........................Maria
José Guerra
LUCINHA
LINS....................................Helô Castro
HERSON
CAPRI…................................Avelino Santos
LUCCI
FERREIRA................................Walter Santos
MURILO GROSSI............................…………...João
Guerra
TONICO
PEREIRA................................Cícero Guerra
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL
BIA
ARANTES.................................Catarina Guerra
ELENCO SECUNDÁRIO
RAPHAEL VIANA..................................Paulo
Borges
CAIO
BLAT.....................................Padre Batista
CLÁUDIA
NETTO..............................………………Tina
DANI
BARROS...................................Tarsila Santos
MARCO RICCA..................................Wagner Pimentel
ATORES CONVIDADOS NESSE CAPÍTULO
GENÉZIO DE
BARROS..............................Rafael Campos
SÉRGIO
MARONE.................................Policial Lucas
Essa
obra não possui nenhum vínculo/contrato com os atores citados acima.
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