O Assassinato do Papai Noel






O Assassinato do Papai Noel

Conto

star 05 min | Comédia
Classificação: 14 anos
Formato: Conto
Autor: Eduardo Canesin
Estreia Original: 25 Nov 2020 (Wattpad)

Sinopse


É véspera de Natal e, num shopping center, encontram o corpo de um homem idoso, vestido de Papai Noel. Para investigar o crime, apenas uma pessoa poderia ser chamada: Douglas dos Santos, o detetive carapicuibano. Eis a primeira aparição do personagem que brilhou nas páginas de "A nova e fantástica vida de Astrogildo Arantes".

Curiosidades

O protagonista desta história participou do romance "A nova e fantástica vida de Astrogildo Arantes" (2020) e, em 2021, ganhou um livro próprio: "O roubo da ceroula dourada".

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O Assassinato do Papai Noel | Conto

O Assassinato do Papai Noel | Conto


WEBTVPLAY APRESENTA
O ASSASSINATO DO PAPAI NOEL



Conto de
Eduardo Canesin




© 2020, Wattpad.
Todos os direitos reservados.

A cena era grotesca: o corpo de um homem obeso e idoso, vestido de Papai Noel, fora encontrado. Estava enrolado em luzes natalinas e teve suas costas perfuradas por uma lâmina enfeitada com bolinhas coloridas. Não bastasse essa bizarria, o cadáver fora encontrado no presépio de um shopping center.

Era dia 24 de dezembro, véspera de Natal. Ainda eram cinco horas da manhã, mas o estabelecimento abriria em pouco tempo. Como explicar algo como isso? A polícia, as investigações e todo o inquérito afastariam clientes e prejudicariam a imagem do shopping. Logo esse shopping, que já estava com a imagem arranhada, após a confusão de alguns meses antes – quando um segurança deu coronhadas numa grávida que tentou furar fila numa loja de perfumes…

Diante de um cenário desses, a administração do estabelecimento cedeu a uma ideia ousada: contratar um detetive particular, que resolvesse as coisas rapidamente – de preferência antes de o shopping abrir. Seria mais fácil entregar o corpo e o assassino à polícia, pois pouparia tempo e permitiria, na medida do possível, que as coisas voltassem ao normal, sem policiais andando pelo edifício e fazendo investigações intermináveis.

Foi assim que Douglas dos Santos foi chamado ao local. Ele, desde jovem, sonhava em ser detetive. Obviamente, não teve sucesso, afinal, ninguém contrata detetives no mundo real. Por conta disso, acabou trabalhando como estoquista em um supermercado – e, nas horas vagas, em uma rede de fast food. Detestava trabalho intermitente, que pagava tão pouco, mas, ao menos, garantia o dinheiro necessário para divulgar seus serviços de investigador nas páginas amarelas, na esperança de um dia ser contratado. Não foi assim, contudo, que Douglas recebeu o caso.

Acontece que ele jogava pôquer com um dos seguranças do shopping. Diante de evento tão inusitado, tal segurança pensou em sugerir os serviços do amigo para os administradores – e acabou que deu certo. Nisso aprendemos que, às vezes, é melhor perder dinheiro no pôquer do que em classificados nas páginas amarelas: a primeira opção dá mais resultados que a segunda.

Douglas foi contatado, de madrugada, e aceitou a missão. Mal conseguia acreditar que finalmente conseguiria trabalhar como detetive, após sete anos sem ter um caso sequer. Sem nunca ter tido um caso sequer, melhor dizendo. A morte do Papai Noel foi a melhor coisa que lhe aconteceu, sem dúvida um milagre natalino!

Vestiu-se rapidamente e se preparou para sair de casa. Logo, porém, percebeu que um detetive de verdade sempre tem um parceiro imbecil que faz perguntas idiotas e que ajuda a esclarecer o mistério para os leitores. Ele também precisava disso (não que estivesse num conto, é claro).

Bateu na casa de seu vizinho e chamou Lineu, seu colega. Lineu era funcionário público e isso, na opinião de Douglas, o fazia um sério candidato a alguém que pergunta obviedades e não percebe coisas simples. Em pouco tempo, o vizinho saiu, radiante com o espírito natalino.

O que você quer às cinco e meia da manhã, seu desgraçado?

Fui contratado como detetive e preciso da sua ajuda, atuando como meu parceiro de investigações.

Estou cagando para você.

Te dou cinquenta paus…

Já estou saindo, espere aí fora.

Pouco depois, a dupla chegou ao destino, pronta para decifrar o misterioso caso que se lhes apresentava. Foram conduzidos pelo shopping e chegaram ao local do crime, no qual o corpo ainda jazia da forma como fora encontrado.

O que estamos fazendo aqui não é ilegal? - Quis saber Lineu, percebendo que talvez tivesse cometido uma estupidez ao sair de casa com o colega.

Talvez. Mas mais ilegal, até onde eu sei, é matar as pessoas. E nós vamos encontrar o culpado, não é mesmo?

Tá, tanto faz. Vamos acabar logo com isso.

Douglas virou o cadáver e ficou pensativo. A testa da vítima estava ferida, com marcas de sangue coagulado. Ele olhou ao redor e sorriu. Levantou-se e chamou seu parceiro.

Vamos andar pelo prédio. Acho que já vimos tudo o que podíamos ver por aqui.

Ele chamou o segurança que os acompanhava e perguntou pelas câmeras que filmavam o interior da loja. O segurança afirmou que já foram vasculhadas e que não mostravam nada: todas tinham sido convenientemente apagadas pelo assassino.

Douglas já esperava por isso, evidentemente, então apenas aquiesceu. Ele não sabia, contudo, que a verdade era bem outra: já fazia alguns meses que o shopping não comprava fitas de vídeo para gravar as filmagens.

As câmeras ficavam no alto para dar paz de espírito aos consumidores, mas a verdade é que nada do que acontecia no lugar era gravado. Até aquele momento, aliás, não fora necessário gravar coisa alguma. Agora, no entanto, tinham de inventar a desculpa de que apagaram-nas… Esperavam que acreditassem nessa história – não que isso se relacione com o caso em questão.

Douglas e Lineu começaram a andar pelo shopping. A primeira coisa que fizeram foi parar no banheiro, pois o intestino de Lineu funcionava melhor naquele horário. Terminado o processo, continuaram com as buscas. Douglas subiu alguns andares e começou a percorrer o corredor da loja de brinquedos. Após alguns instantes, chamou o companheiro:

Ei, Lineu, veja isso: está vendo essa mancha minúscula no chão?

Estou, o que é isso?

Sangue.

Sangue? Como assim?

Pois é. Lembra quando eu virei o cadáver do Papai Noel e ele estava com uma pequena ferida na testa? Pois bem, eu vi que houve sangramento, mas não entendi o motivo… Ele foi perfurado por uma lâmina que varou suas costas, então por qual razão bateriam na sua cabeça depois disso?

Ele deveria ser muito odiado e provavelmente devia dinheiro a algum traficante…

Nada disso, os traficantes daqui o queimariam no porta-malas de um carro, se fosse o caso. O que aconteceu foi o seguinte: ele não morreu trespassado.

Não?

Não. Ele morreu com uma pancada na cabeça, apenas isso. Após morrer, seu corpo foi amarrado nas luzes natalinas e perfurado com a lâmina, como uma forma de desviar a atenção. Eu já suspeitava disso, pois não haveria motivos para uma pessoa ser amarrada em luzes natalinas e não se soltar ou, ao menos, não se debater. Ele estava amarrado de um jeito simples demais, indicava que aquilo fora feito quando já estava morto e não podia esboçar resistência.

Ou que curtia um fetiche sadomasoquista natalino.

Certamente essa foi minha primeira hipótese, mas a descartei quando percebi o quão velho e gordo ele era. Não se tratava de um pervertido, mas de um idoso que foi assassinado.

Tá, mas como isso?

Vejamos o que temos até o momento: ele foi assassinado com uma pancada e o resto foi um ardil. Eu olhei o chão do presépio e não achei nem sinal de sangue, sabe o que isso significava?

Sei, mas imagino que você queira dizer em voz alta, então fale…

Significava que ele foi assassinado em outra parte e que o corpo foi arrastado. A questão agora é saber o porquê, já que o culpado é óbvio.

É óbvio? Como assim? Agora eu me perdi. Me explique isso direito.

Espere um instante e pare para refletir. Vamos tentar entender o motivo do crime. Dificilmente alguém conseguiria entrar num shopping fechado, de noite, e trazer um cadáver. Assim sendo, o assassinato ocorreu no próprio shopping. A questão era saber onde. Felizmente para a narrativa… digo, para o caso… eu passo muito tempo nas redes sociais, fazendo as coisas mais inúteis possíveis. Em um grupo no qual participo, há uma teoria da conspiração que fala que diversas lojas de brinquedo têm sido roubadas nos últimos tempos. Na verdade, todos os anos, nesse mesmo período.

Todos os anos? Como ninguém falou nada na televisão?

Pois é. Os lojistas colocam como perdas que ocorrem durante o dia, com pessoas que cometem pequenos furtos. A verdade, no entanto, é que os objetos são roubados durante a madrugada, sempre no mês de dezembro (e os crimes acabam no dia do Natal). Poucos brinquedos são roubados em cada loja, não há um prejuízo muito grande, mas o curioso é que os roubos acontecem no mundo inteiro.

No mundo inteiro? Isso soa mesmo como uma teoria da conspiração, não faz sentido algum.

Talvez não, mas eu tinha uma pista e decidi segui-la. Era melhor do que nada e, pelo menos, pareceria que estávamos fazendo alguma coisa (algo que é importante, já que estou ganhando por hora).

Hmm…

E aí andamos aqui, por este corredor, que eu olhei minuciosamente. E, então, encontrei essas gotículas de sangue… Percebi duas coisas: que as lendas eram um pouco mais do que lendas e que a vítima era uma espécie de gatuno. Ele foi morto aqui, enquanto invadia a loja, e, depois, levado até o local em que o encontramos.

Agora eu vejo, faz sentido, mas e sobre o culpado, que você falou que era óbvio?

Meu caro Lineu, sua presença aqui é uma benção natalina! Não fosse isso, nossa história teria de ser narrada em primeira pessoa, ou ninguém saberia o que eu estava pensando. Seria cansativa e muito pouco fluída…

Do que diabos você está falando?

Nada. Vamos responder sua pergunta: quem você acha que é mais provável que tenha matado alguém num shopping vazio, onde só há seguranças e a vítima?

Quem?

Um segurança, Lineu. Essa é a resposta. Um segurança viu o crime que estava em vias de acontecer e agiu. Deu a coronhada no gatuno e o matou. Imagino que não queria matá-lo, só foi truculento. Como se tratava de um idoso, não resistiu ao ferimento e morreu. Desesperado, ele carregou o corpo e criou todo o subterfúgio que nós vimos.

Minha nossa, faz todo sentido! Mas qual segurança fez isso?

Nós já vamos descobrir, se é que foi um só. Basta pedirmos para ver a escala de rondas e rotas. Veremos quem andou por esse andar nas últimas horas e, então, saberemos quem é o culpado. Se o presépio ficava em sua rota, provavelmente agiu sozinho. Caso contrário, aposto que teve ajuda de alguém, já que teria sido visto pelo segurança da outra rota, ao arrastar o corpo.

O detetive e seu parceiro foram à administração do shopping e pediram pela escala de rondas. Ao obtê-la, viram quem era o culpado e chegaram à conclusão de que ele provavelmente recebera ajuda de outra pessoa.

Douglas pediu a presença de toda a equipe, bem como dos administradores, e começou a contar sobre o passo a passo de sua investigação. Ao terminar, apontou para Giovan, o segurança que cometera o crime – e que era o colega que o tinha indicado para o trabalho.

Já sabemos que foi você, não há nada que possa ser feito. Eu sou um grande detetive, juntei todas as pontas soltas. Você quer acrescentar algo em minha história?

Você está certo – disse o segurança, cabisbaixo.

Mas é claro que estou.

De fato eu não queria matar o Papai Noel, foi só um acidente infeliz. Ao ver o corpo, entrei em pânico e tentei me livrar dele. Meus colegas me ajudaram a colocá-lo no presépio e a fazer toda aquela camuflagem. Pensávamos que isso desviaria as suspeitas (já que nós o encontraríamos) e que a estranheza do acontecimento nos tiraria dos holofotes.

Imagino que sim, mas vocês cometeram dois erros. Um foi o de não olharem o local do crime, para ver se havia vestígios de sangue. Graças a esse vestígio, cheguei a vocês mais rápido. Devem ter limpado o objeto que usaram para dar a pancada, mas deixaram essa ponta solta… O segundo erro, que não consigo entender, é porque vocês me chamaram. Por que você me chamou, Giovan, se você era o culpado?

Pô, você jogando pôquer é burrão, achei que nunca ia descobri nada e que seria mais fácil de lidar do que com um monte de policial fazendo pergunta, até porque eu tenho passagem…

Douglas fingiu não se importar com o menosprezo que sofreu, satisfeito por ter resolvido o caso. Ofereceu-se para chamar a polícia, mas a administração disse que não seria necessário, que eles mesmos fariam isso. Nenhum segurança tentaria fugir e, no mais, eles explicariam o ocorrido aos policiais, mostrando que foi um acidente e fornecendo apoio jurídico aos funcionários.

Assim, após prometer que lhe enviaria o pagamento no começo de janeiro, o administrador despediu-se da dupla, que começou a sair do edifício.

Será que todos eles serão presos? - Quis saber Lineu.

Olha, para ser sincero, imagino que, agora que sabem quem é o culpado e que não há um serial killer por aí, vão esconder o corpo, para não estragar as compras de Natal, já que a polícia arruinaria os negócios… Ou eles “descobrirão” o corpo no dia 26, em algum refrigerador (para não entrar em decomposição), ou, o que é mais provável, a administradora dará um jeito de colocar o cadáver no porta-malas de um carro e de o queimar, para parecer um acerto de contas com o tráfico. E o carro estará bem longe do shopping… talvez no estacionamento da concorrência.

Você acha que isso é possível?

Você não tem em ideia do que as lojas fazem nesse período. No mercado em que trabalho, por exemplo, você ficaria surpreso com o que há no estoque.

Mas e os familiares da vítima, não vão reclamar o corpo? Será que não sabiam onde ele estava? Aliás, qual era o nome dele?

Eu olhei em seus bolsos e não tinha carteira, identificação, nem nada do tipo. Os seguranças eram bonachões demais, não acho que tenham pegado. Acho que ele não se identificava por um motivo e imagino que ninguém vá notificar a polícia por seu corpo.

Mas quem será que ele era?

Você tem filhos, não tem, Lineu? Imagino que talvez você tenha a resposta a essa pergunta amanhã de manhã, quando olhar embaixo da árvore-de-natal. Tenha ótimas festas, meu caro. Passar bem!

Ei, e meus cinquenta paus?

Uma Aventura de Natal






Uma Aventura de Natal

Conto

star 14 min | Fantasia
Classificação: Livre
Formato: Conto
Autor: Marcos Vinícius da Silva
Estreia Original: Dez 2020 (Widcyber)

Sinopse


Vilarejo de Saint Dumas, sul do Brasil, em um futuro próximo.

Em uma chácara no interior do vilarejo vive um humilde casal de camponeses e sua pequena filha Giulia Emanuelle, de 7 anos de idade, uma menina muito feliz, serelepe, inteligente e de imaginação fértil.

Em uma manhã antecedendo o dia de Natal, Giulia desperta com o cântico de uma espécie de pássaros que ela jamais viu por ali. Curiosa, sai segui-los pela floresta que rodeia a chácara, quando acaba encontrando uma misteriosa ponte guardada por estranhos elfos. Ao atravessá-la, ela é transportada para as montanhas de Korvatunturi, na Lapônia - Finlândia, no topo do mundo, um lugar típico de conto de fadas.

Giulia é recebida pelo elfo Libereth, que a leva para a Vila dos Brinquedos, onde além de ser ajudante do Papai Noel separando os presentes do Natal, ela embarcará em uma aventura para defender a vila dos "Grinch's da Lapônia, que querem impedir a saída do bom velhinho para cumprir seu papel.

Curiosidades



Giulia Emanuelle, protagonista da história, é o nome da filha do autor. Na história ela é uma criança mais velha, mas na vida real ela tem 2 anos e 2 meses.

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Destaques Backstage (2021)

Melhor conto (voto técnico);
Melhor personagem de conto (voto técnico e voto popular).

Uma Aventura de Natal | Conto

Uma Aventura de Natal | Conto


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UMA AVENTURA DE NATAL



Conto de
Marcos Vinícius da Silva




© 2021, Widcyber.
Todos os direitos reservados.

***

Vilarejo de Saint Dumas - sul do Brasil

Era uma vez um singelo vilarejo no sul do Brasil. Um lugar de difícil acesso onde a principal fonte de renda vinha do cultivo e das plantações dos seus próprios alimentos e das criações de ovelhas. Um lugar onde a paz reinava entre os povos e que a loucura dos grandes centros passava longe.

Em uma chácara rodeada por uma densa floresta no interior deste vilarejo, vivia uma humilde família: o pai Marcus, a mãe Angel e a pequena Giulia Emanuelle, de 7 anos de idade, uma menina meiga e feliz, serelepe e inteligente e de uma imaginação bastante fértil.

As datas comemorativas tinham um lugar especial nos corações de cada morador do vilarejo. A pequena praça, a igreja central, as ruas e as casas estavam todas enfeitadas com o brilho e as cores do Natal. Era o dia 24 de dezembro de 2026 que nascia repleto de luz.

Giulia Emanuelle abriu os olhos heterocromáticos. Estava deitada em sua cama rodeada de ursos de pelúcia, no seu quarto no topo da casa de dois pisos. Olhou para a janela entreaberta onde as cortinas rosas tremulavam com o vento suave que soprava em todas as manhãs, e viu um estranho pássaro azul pousando no parapeito. Seu canto emitia um som doce e forte como notas de um violino. Levantou com seus cabelos loiros ondulados e bagunçados, calçou seus chinelos e correu até a janela. O estranho pássaro lhe encarou com uma expressão como se estivesse sorrindo e alçou vôo ganhando o céu azul além da floresta.

A vista da janela do quarto de Giulia era o que mais especial se tinha daquela casa no alto da colina. A densa floresta rodeava toda a chácara e, além da mata, os campos verdes eram cortados por um rio de águas cristalinas que findavam em uma linda cachoeira, onde a menina fazia questão de brincar e se banhar todo final de tarde vendo o sol se pôr atrás dos montes. Giulia suspirou encantada com a vista de todos os dias, mas além disso, encantou-se com aquele pássaro de beleza exótica que pousou e cantou na sua janela e agora voava livre por cima da floresta. "Bom dia sol", disse ela contente ao mesmo tempo em que outros pássaros da mesma espécie se juntavam ao companheiro em uma dança sob aquele céu azul.

Giulia Emanuelle desceu as escadas esvoaçando seus cabelos loiros. Passou como um jato pelo pai que subia com uma bandeja na mão e, pela mãe Angel que estava preparando o desjejum na cozinha, ela mais pareceu um vulto passando depressa em direção à porta. Ficou na pontinha dos pés para abrir o trinco do alto da porta e saiu para fora deixando a mesma entreaberta. Habib, seu velho gato de estimação, dormia atirado no sofá mas não se aguentou ao ver a luz do sol lá fora e saiu correndo atrás da garota.

Aquele dia lindo trazia um brilho fora do comum naquela véspera de Natal. Tudo parecia estar diferente. No curral as ovelhas berraram contentes quando viram a pequena Giulia passar correndo através do caminho de pedras que levava até a entrada da floresta. Habib corria atrás da menina parecendo saber que devia estar perto para cuidar dela quando precisasse. Foi quando, de repente, aqueles pássaros de beleza exótica pousaram no caminho de pedras fazendo a garota de cabelos dourados interromper sua corrida. Habib parou ao seu lado miando em direção às aves e, então, Giulia o pegou no colo. Os pássaros, um a um, começaram a voar rasantes entrando na mata fechada desviando dos galhos e troncos. O último pássaro, o mesmo que pousou no parapeito da janela, deu duas voltas ao redor da garota e seguiu o mesmo caminho. Giulia abraçou firme o gatinho Habib e entrou na floresta cuidadosamente.

- Ei, pássaros, me esperem! - dizia Giulia ao mesmo tempo em que Habib se desvencilhava do seu colo e corria na sua frente.

O gatinho saltou sobre alguns galhos troncos caídos e sentou-se sobre uma pedra com os olhos amarelos arregalados perante uma grande ponte. Giulia surgiu logo atrás escalando os troncos caídos com dificuldade. Espantou-se ao avistar a ponte, algo que ela jamais tinha ouvido falar que existia naquela floresta. Diante dela apareceram os pássaros rodeando uma criatura esquisita que fez a pequena menina serelepe e o seu gatinho se esconderem atrás do tronco grosso de uma árvore milenar. Espiando com cuidado ela pôde reparar naquela estranha criatura. Corpo verde e magro, levemente arqueado com grandes pés peludos e longos e finos dedos nas mãos. Seu rosto dava medo em uma primeira vista, mas depois transmitia uma certa paz através dos seus olhos grandes e escuros, nariz arrebitado, boca de dentes muito brancos e orelhas pontudas. "É um elfo parecido com aqueles das histórias que o papai conta", pensou Giulia. Os pássaros exóticos pareciam à vontade ao redor daquela criatura.

- Gareth já sabe que você está aqui. - disse a criatura emitindo uma voz rouca e serena. - pode sair de trás da grande árvore...você e seu felino. - complementou o elfo.

Sem jeito, Giulia e Habib foram saindo de trás do tronco grosso da árvore e, quando ela olhou para o elfo, mais outros dois apareciam através da ponte. Mesmas características, mesmo jeito esquisito, apenas o que os diferenciava eram as vestes. Enquanto Gareth usava uma túnica azul, um usava amarelo e o outro usava vermelho.

- Não tenha medo. Eu sou Gareth, das Terras Rubras, e estes são Fereth e Pireth, meus irmãos. Somos os guardiões da Ponte de Korvatunturi. E estamos aqui para lhe fazer um convite especial.

E então um grande clarão tomou conta daquela ponte e os três guardiões elfos deram passagem para a pequena Giulia, que exitou em um primeiro momento, mas aos poucos sua coragem e sua curiosidade falaram mais alto e ela, passo a passo, adentrou naquele clarão sempre seguida de perto pelo seu gatinho Habib, que ia miando passando por debaixo de suas pernas de um lado para o outro.

Na medida que a pequena garota ganhava cada vez mais a ponte, a mesma ia desaparecendo às suas costas, onde os três elfos ficavam a lhe observar da mata. Quando chegou ao final Giulia agarrou seu gatinho, pois o mesmo ficou amedrontado com um grande urro que vinha do outro lado. E tudo escureceu por alguns longos segundos. Quando a claridade voltou a reinar, Giulia ficou espantada com o que viu. Encolheu-se de frio, pois estava em meio a uma floresta coberta de neve. Avistou lá longe uma carruagem se aproximando e não sabia se esperava ou se fugia. Mas o frio estava quase a congelando, então ali ela ficou.


Montanhas de Korvatunturi - Lapônia, Finlândia

Quando deu um passo à frente, seus pés descalços e gelados enterraram-se na neve congelante. Habib se encolhia todo em seus braços. Então, ouviu-se uma linda canção cantada por aquele que se aproximava na carruagem...

"Já notou quão cintilante a cidade está

Eu vejo verde e vermelho não importa a direção.

É tanto som, tantas canções que sei contar de cor

Histórias que ouvi pequeno e me acompanham desde então..."

A carruagem puxada por duas renas enfeitadas de verde e vermelho chegou perto da pequena garota. Giulia observou um elfo de feições parecidas com àqueles que lhe conduziram através da ponte saltar da condução. Ele vestia uma linda túnica verde e vermelho e também usava um cachecol brilhante enrolado ao pescoço.

- Libereth, ao seu dispor, minha soberana! - disse o elfo fazendo uma reverência para Giulia.

Imediatamente ele se recompôs e, vendo o quanto àquela garota tremia de frio, sacou de sua pequena bolsa um agasalho de lã verde escuro e a cobriu ajudando-a subir na carruagem. Debaixo do agasalho, Habib observava tudo com os olhos arregalados.

- Que lugar é este? - perguntou Giulia espantada e ao mesmo tempo encantada com tudo ao seu redor.

Saltando novamente para a carruagem, o elfo baixinho e sorridente, tratou de respondê-la.

- Bem vinda à Korvatunturi, minha soberana. Você acaba de chegar às Terras Rubras do Noel.

Giulia lembrou-se que Gareth, o elfo da ponte, tinha dito que era desta terra também.

- E como eu vim parar aqui? - perguntou Giulia enquanto a carruagem dava meia volta e retornava.

- Você é a Escolhida para ajudar Noel neste Natal, minha soberana. As crianças do mundo inteiro não podem ficar sem presentes. Temos pouco menos de vinte e quatro horas para o Natal e a Vila dos Brinquedos está numa correria gigante. Noel necessita de uma ajudante.

Giulia ouviu tudo com atenção. Não fazia a menor ideia do que estava por vir, mas estava gostando. Não sabia como ela poderia ser útil e fazer a diferença, mas sabia que podia confiar naquele pequeno ser que a levava não sei pra onde.

- Agora vamos acelerar, minha soberana. - disse Libereth falando algumas palavras mágicas e fazendo as renas acelerarem o passo.

Giulia segurou-se firme e Habib se escondeu dentro do agasalho. Libereth voltou a cantar e as renas correram como nunca. Lá longe já se via os muros enfeitados que rodeavam um grande palácio.

"Há pressa pois uma ceia não se apronta só.

A casa pra arrumar com tudo ao seu melhor.

E cada abraço espalha esta sensação

de algo que não pode ser maior..."


Palácio do Noel

Uma mão calejada pousou sobre a aldraba dourada e empurrou a grande porta do salão dourado revelando o grande motivo do seu nome. Um mago de agasalho cinza de capuz e longa barba acinzentada adentrou o local iluminado por candelabros de ambos os lados do corredor e caminhou apoiado em seu cajado. Rodeado de anões e elfos, Papai Noel levantou de sua cadeira estofada descendo o lance de cinco degraus sorrindo.

- Atrasado, Merthiel! - disse Noel.

O mago chegou à sua frente, olhou dentro dos seus olhos e abriu um sorriso amarelado entregando o cajado para um dos elfos serviçais.

- Um mago nunca se atrasa...e nem se adianta, meu caro amigo. Um mago chega sempre no horário que pretende chegar. - respondeu o mago Merthiel abrindo os braços e abraçando Noel.

O mago Merthiel era morador do norte de Korvatunturi, de uma ilha isolada. Nos dias que antecediam o Natal era ele e seus outros quatro irmãos magos que rodeavam o mundo em busca de crianças aptas a ajudarem Noel com os presentes. Foi ele que descobriu Giulia em Saint Dumas.

- Seus irmãos já estão aqui. As crianças escolhidas também já se encontram na Vila dos Brinquedos. Só estava faltando você e a menina que você escolheu. - disse Noel conduzindo Merthiel para um outro salão privado nos fundos.

- Libereth já deve estar chegando com ela na Vila. - respondeu o mago atravessando o grande portal para o salão dos fundos.

No grande salão havia um grande banquete sendo preparado por elfos serviçais em uma grande mesa enfeitada. Já sentados estavam os magos Barthiel, Calathiel, Jasthiel e Rasthiel. Levantaram contentes ao avistarem o irmão chegar com o Noel. Ficaram a jogar conversa fora enquanto comeram e beberam à véspera do Natal. Uma cerimônia que se repetia todos os anos e servia de confraternização entre os magos da Lapônia e Noel em comemoração a mais um ano de conquistas e alegrias.

Enquanto isso em outra parte de Korvatunturi, centenas de duendes e elfos e mais quatro crianças selecionadas ao redor do mundo estavam nos preparativos dos presentes do Natal que a carruagem do Noel levaria percorrendo os quatro cantos.

Da entrada da vila se aproximava a carruagem conduzida por Libereth que chegava com Giulia e seu gatinho Habib. A garota se encantou ao ver a grande placa brilhante na entrada com os escritos: "Vila dos Brinquedos". Seus olhos brilharam.

- Estamos chegando, minha soberana. - disse Libereth.

O grande portão onde haviam dois gigantes ursos de pelúcia, um de cada lado, se abriu para a carruagem entrar. Do lado de dentro aquilo tudo mais parecia um enorme parque de diversões, com brinquedos para todos os lados. Elfos e duendes corriam apressadamente em seus afazeres. A carruagem parou em frente à um pavilhão comprido. O elfo Libereth desceu e ajudou Giulia a descer. Um duende de nariz comprido e olhos grandes apareceu rapidamente com uma bolsa na mão.

- Se apresse, soberana. Troque-se. Está atrasada e há muitos brinquedos para se preparar. - disse ele.

Giulia pegou a sacola e seguiu o duende até uma barraca ao lado. Entrou e se trocou saindo de dentro vestida com um belo vestido comprido de lã verde escuro, gorro da mesma cor e cachecol brilhante. Habib, que a esperava sentado do lado de fora, miou ao ver a garota.

- Habib vai comigo. - disse ela para o duende.

- Sim, os gatinhos são bem-vindos aqui na vila. Lá dentro há um espaço destinado a eles.

E então o duende abriu o portal que levava para o interior do pavilhão. Giulia espantou-se positivamente ao ver todo o colorido daquela produção. Mesas compridas à se perderem de vistas estavam dispostas uma ao lado da outra, totalizando cinco. Ao redor delas os duendes e elfos preparavam os brinquedos. Havia toda uma linha de produção: um duende ou elfo abria a carta, lia o pedido e outro duende ou elfo já preparava e embrulhava o presente. Após isso os presentes eram colocados em um grande carrinho de duas rodas e, quando este estava lotado, uma das crianças selecionadas buscava e o empurrava até uma porta nos fundos.

O duende apontou com o seu dedo indicador comprido para a mesa do canto direito. Giulia olhou e viu três grandes carrinhos lotados de presentes até a borda

- Eu disse que está atrasada. Aquela mesa é sua, soberana. - disse o duende.

Giulia se dirigiu para seu lugar já tendo muito trabalho a fazer. Mas tudo era algo muito gratificante, pois de relance, ela conseguia ouvir algumas leituras das cartas das crianças para o papai Noel, lidas pelos duendes e elfos em seu árduo trabalho.

Os segundos passaram rápido. Os minutos corriam depressa. Giulia logo se adaptou às atividades e as cartas pareciam já estarem acabando. Foi quando um elfo alto e magro de longo nariz arrebitado apareceu em cima de um palco no fundo do pavilhão. Pediu silêncio e prontamente foi atendido.

- Agora, para a honra de todos nós, vamos receber com uma salva de palmas, o nosso querido Noel! - disse o duende apontando para a porta dos fundos.

Da porta surgiu aquele velhinho corcundo e de longas barbas brancas. Sorria feliz vendo toda a ajuda recebida. Duendes, elfos e as crianças aplaudiram sua entrada. Ele se posicionou ao lado do duende alto e magro e ergueu a mão pedindo para que as palmas cessassem.

- Este ano está sendo muito especial pra mim. O meu último ano em frente a este trabalho. Quero dizer que sou grato a todos que contribuíram para que o trabalho do Noel fosse levado a sério sempre enchendo de alegria o coração de milhares de crianças ao redor do mundo. - dizia o Papai Noel.

Era visível a sua emoção.

- Agora quero que venham aqui comigo as cinco crianças selecionadas este ano: Chong Yang, da China. Martina, da Itália, Potrescu, da Romênia, Ferdinand, dos EUA e Giulia, Brasil. - complementou o bom velhinho.

As cinco crianças se juntaram à Noel no pequeno palco.

- Após concluir os trabalhos vocês poderão levar de volta para sua terra e seus lares, os brinquedos que quiserem. - falou Noel arrancando sorrisos e olhares felizes dos cinco escolhidos.


Palácio do Noel

No pátio grande do palácio os cinco irmãos magos se despediam entre si. Cada um com a sua magia voltava para seu lar. Suas funções neste Natal já haviam sido concluídas. Quando o último mago ganhou os céus e sumiu em um rastro de fumaça, o silêncio perpetuou no local e nenhuma outra alma viva se fazia presente, exceto as nove renas responsáveis pela carruagem do Noel. Foi aí que ouviu-se ruídos vindo de trás de alguns arbustos embranquiçados pela neve do lado de fora do pátio. Quatro figuras estranhas, de coloração verde e peludas e expressões carrancudas, se cutucavam e se empurravam para ver quem seria o primeiro a pular o grande muro que rodeava o palácio.

Os "Grinch's da Lapônia", assim chamados e conhecidos na região, eram uma comunidade de seres mágicos que viviam em uma região isolada no sul e que detestavam o Natal. Todo ano quando chegava esta época eles se alvoroçavam planejando alguma artimanha na busca por estragar o Natal. A arte da vez seria capturar as únicas renas consideradas aptas a realizarem o serviço de levar Noel aos quatro cantos distribuindo seus presentes.

O ser mais velho e carrancudo deu um empurrão em um grinch magricelo que o fez cair bem em frente ao portão de entrada do palácio. Assustado, ele se levantou encarando o enorme portão enfeitado e passou as mãos sentindo as saliências da madeira percorrendo toda a entrada até chegar no grande muro. Olhou para os outros três que o encaravam curiosos e abriu um sorriso de orelha a orelha. "Sim, aqui dá pra escalar facilmente", disse ele.

Do lado de dentro as renas estavam tranquilas à espera do momento da partida. Aquelas nove renas, assim como o Noel, provavelmente fariam sua última viagem. Outras renas já estavam sendo preparadas para o serviço do próximo ano. Quando o grinch magricelo apareceu no topo do muro as renas levantaram suas cabeças assustadas, pressentindo o perigo que estava por vir. Elas se alvorotaram mais ainda quando os outros três grinchs surgiram com seus sorrisos maquiavélicos. Eles saltaram para o interior do pátio do palácio e cada um tratou de laçar uma rena com grossas cordas trançadas. Cinco delas tentaram escapar, mas o grande portão estava fechado. As quatro renas laçadas não conseguiram se mover e, desesperadas, foram ao chão, assim dando tempo para que suas companheiras também fossem vítimas dos Grinch.

Os Grinch's da Lapônia eram desprovidos de uma força foram do normal. Abriram o grande portão, amarraram as renas e as puxaram para fora. Só então, foi que do alto da torre, um guarda - elfo magro e de roupa verde escura, acordou de sua soneca e viu, já ao longe, as renas sendo levadas pelas destemidas criaturas. Apavorado, tocou o grande sino diversas vezes seguidas até que outros guarda - elfos surgiram. Porém, nada puderam fazer naquele momento.

O elfo serviçal, eufórico, chegou à Vila dos Brinquedos acompanhado de dois duendes. Noel encontrava-se no pavilhão conferindo a linha de produção dos pedidos das crianças do mundo todo. Foi chamado de canto por Libereth, que estava na companhia daquele elfo.

Noel não podia crer no que acabara de ouvir. Suas renas foram raptadas pelos Grinch's justamente na véspera da partida. Ficou sem reação. Sua expressão era de total tristeza. Giulia o observava da sua mesa de produção. Preocupada, chamou as demais crianças e se aproximaram do bom velhinho e seus acompanhantes. Escutaram o final da conversa e, então, a pequena garota puxou a manga do casaco vermelho de Noel. Ele olhou para baixo, para aquela menina de olhos lacrimejantes, e lá no fundo sentiu que havia bondade naquele olhar.

- Diga, soberana. - disse Noel.

Giulia, um pouco envergonhada, abriu um leve sorriso.

- Nós vamos te ajudar a salvar as renas, papai Noel. - respondeu a menina com sua doce voz.


Alguns minutos mais tarde

Chegando na estrada estreita que os levaria de volta às suas terras, os Grinch's acharam que desta vez seus planos dariam certo. Arrastaram as renas e as colocaram em cima de uma carruagem conduzida por uma estranha criatura de chifres, que os esperava escondida debaixo da forte neve sob uma enorme árvore milenar.

Aqueles flocos de neve rodopiavam e caíam em quantidades enormes tornando o trajeto cada vez mais difícil. Uma carruagem puxada por três cervos gigantes surgiu na estreita estrada, a mesma que os Grinch's a pouco tempo cruzaram. Na carruagem estavam Libereth e mais dois guardas - elfos e as cinco crianças escolhidas, dentre elas, Giulia e seu gatinho Habib.

O desejo de Giulia, que ia na parte da frente ao lado do elfo Libereth olhando atenta em tudo, era de salvar o Natal. Um filme passou em sua cabecinha e ela lembrou-se dos Natais em família, da ceia farta na casa dos avós e do momento de abrir os presentes. Sorriu e abraçou seu gatinho quando ele se aconchegou perto dela sentindo os gélidos flocos de neve caírem sobre seu pelo preto. Lembrou de quando ele saltou sobre a grande árvore de Natal que seus pais Marcus e Angel haviam montado na sala e a derrubou espalhando todos os enfeites. Lembrou dos pais: "Nossa! Eles devem estarem preocupados com meu sumiço".

Mas a pequena garota e seu felino não tiveram muito tempo para suas lembranças natalinas. Libereth apontou com o dedo mostrando a carruagem puxada por aquela estranha criatura de chifres.

- Olhem! É a carruagem dos Grinch's! - disse ele.

As crianças e os dois guardas - elfos se levantaram dos seus assentos atentas e se preparando. Precisavam agir. Libereth falou algumas palavras mágicas e os três cervos gigantes aceleraram o passo sobre a neve que só aumentava.

Sentindo a aproximação os Grinch's também fizeram com que a criatura de chifres aumentasse o ritmo. Foi uma perseguição bastante agitada através das montanhas geladas da Lapônia.

Em uma descida bastante intensa a criatura de chifres se perdeu e a carruagem capotou algumas vezes. Os Grinch's saltaram longe rolando pela neve densa e as renas caíram sem que pudessem se soltar das amarras. O acidente fez com que a carruagem dos elfos e crianças se aproximassem ainda mais. Vendo uma possibilidade de cumprir os seus objetivos, Libereth e os elfos se armaram com suas lanças e imobilizaram os Grinch's. As crianças, por sua vez, correram até as renas para soltá-las. Habib se ouriçou todo com a criatura de chifres que se contorcia tentando se desvencilhar da neve alta que o prendia.

Se não fosse o descuido dos guardas - elfos este poderia ser o desfecho da perseguição. Porém, um deles deu brecha e o Grinch roubou sua lança tornando-o seu refém. Os elfos possuíam uma característica de nunca deixar para trás um dos seus, e isso foi o que prejudicaria os seus objetivos, não fosse pela audácia da pequena Giulia Emanuelle. A garota tomou a frente do grupo ficando junto às renas já desamarradas.

- Nós todos vamos embora daqui com as renas e vocês podem seguir seus caminhos! - disse ela em tom alto e firme.

As outras crianças, impressionadas com a coragem de Giulia, se juntaram a ela. Os Grinch's se olharam. Àquele que estava com o guarda - elfo como seu refém foi o largando devagar. Quando sentiu-se livre, o elfo correu para junto dos companheiros.

- A lança! - disse Libereth apontando a sua na direção dos Grinch's.

Então o Grinch jogou a lança que tinha roubado ao chão na frente do pequeno grupo. Os quatro ajudaram a criatura de chifres a se desvencilhar da neve e ficar de pé. Contaram ainda com o bom coração de Giulia e das demais crianças que ergueram a carruagem para eles.

- Agora podem partir! - falou Libereth apontando sua lança em direção à estrada que seguia em frente.

E assim eles fizeram. Os Grinch's baixaram suas cabeças e seguiram tristes pelo fato de não conseguirem atingir seus objetivos. Já a carruagem de Libereth e as crianças recebeu a ajuda das nove renas para retornar para o Palácio do Noel.

A mão enluvada de Libereth empurrou a aldraba da porta de entrada do grande palácio. Noel, rodeado de elfos e duendes, estava de costas e virou-se quando ouviu o barulho da porta se abrindo. Seus olhos brilharam ao ver os companheiros chegarem em segurança. Desceu o lance de cinco degraus na medida em que os elfos e duendes abriam caminho para ele.

- E então, Libereth? - perguntou Noel se aproximando do elfo.

Giulia entrou correndo e foi de encontro ao Noel agarrando suas pernas. Ele sorriu e acariciou seus cabelos loiros ondulados. Ela levantou a cabecinha encarando o senhor de barba branca.

- O Natal está salvo. - disse a pequena com um brilho no olhar.

- Ela está certa. - disse Libereth. - as renas estão à salve lhe esperando para a grande viagem, Noel.

As outras crianças também entraram e rodearam o bom velhinho. Noel foi muito grato a todos. Era seu último Natal nesta função, logo se aposentava e um outro assumiria o cargo. Ele queria que este ano fosse especial. E seria.

Noel levou as crianças de volta até a Vila dos Brinquedos onde tudo já estava organizado para a grande noite. Sentou-se em uma cadeira estofada e pediu para que elas sentassem nas almofadas felpudas ao seu redor. Chamou um dos seus duendes e falou algo em seu ouvido e ele logo se retirou voltando minutos depois acompanhado de mais quatro, cada um carregando uma grande sacola e largando-as em frente ao bom velhinho.

- Chong Yung! - chamou Noel.

O chinesinho de olhinhos puxados se levantou e parou em frente à Noel. Este acariciou sua cabeça e entregou uma sacola para ele. Quando abriu aquela grande bolsa os olhos puxados de Chong Yung se encheram de lágrimas e ele abraçou o velhinho à sua frente.

E assim seguiu-se até chegar a vez da última criança: a pequena Giulia Emanuelle.

- Giulia Emanuelle. - disse Noel já pegando a grande sacola.

A garota parou na sua frente segurando seu gatinho Habib no colo.

- Pela sua disposição e coragem, minha pequena, eu lhe entrego estes pequenos mimos da nossa Vila dos Brinquedos. Uma pequena lembrança para que você nunca se esqueça deste Natal. - disse Noel.

Giulia pegou a sacola imediatamente, abrindo-a. Encantou-se ao ver todos aqueles brinquedos construídos na Vila. Largou a sacola e abraçou as pernas de Noel, que gentilmente cedeu ao carinho sentando e colocando a menina sentada em sua perna.

- Seja sempre esta menina gentil e corajosa, soberana Giulia. O que você fez aqui em Korvatunturi ficará para sempre em nossas lembranças. Você salvou o Natal de milhares de crianças.

Os olhinhos heterocromáticos da pequena Giulia se encheram de lágrimas, que foram prontamente limpas pela luva branca de Noel.

- Obrigada, Papai Noel. - respondeu Giulia.

Habib roçava nas pernas do bom velhinho miando de um lado para o outro.


Montanhas de Korvatunturi


Libereth apareceu acompanhado da pequena Giulia e seu gatinho. Despediu-se da menina lhe dando um forte abraço e prendeu uma pequena estrela dourada em sua roupa. Apontou para um ponto específico em meio a algumas árvores e um clarão surgiu.

- Agora vá, minha soberana. Volte para casa. - disse o elfo.

Giulia, agarrada na sua sacola de brinquedos, ainda pegou Habib no colo e seguiu em direção àquela luz. Passo a passo foi atravessando o portal e...

...do outro lado saiu com a ponte aparecendo pouco a pouco na sua frente. Gareth, Fereth e Pireth estavam na mata do outro lado com seus cajados apontados. Era através deles que a ponte aparecia. Gareth sorriu e fez sinal com a mão chamando pela menina.

Os pássaros cantavam felizes sobre o topo das árvores da floresta. Giulia ouviu as vozes do pai e da mãe fora da mata e acelerou o passo. Habib saltou do seu colo e correu na frente.

- Habib, que faz aqui? - disse Marcus surpreso ao ver o gatinho saindo da mata.

Angel se agachou acariciando o bichano. Marcus largou as ferramentas com que trabalhava e fez o mesmo. Foi quando ouviram passos se aproximando e viraram na direção da floresta. Era a pequena Giulia que surgia carregando aquela grande sacola. A menina largou a sacola e correu abraçar os pais.

- Papai! Mamãe! Que saudades! - dizia ela.

Estranhando aquela atitude da menina os pais fizeram menção de questionar, mas aquele abraço era tão gostoso e apertado que seria impossível perder a ternura do momento.

- Recém acordamos, minha filha. Passamos no seu quarto e você não estava...vamos tomar nosso café da manhã, venha! - disse Angel acariciando os cabelos da menina.

Da hora que Giulia acordou até agora tinham se passado pouco mais de uma hora, mas para a garota e seu gatinho parecia ter sido um dia todo de aventura.

- O Natal está salvo, papai e mamãe. Todas as crianças vão poder receber os seus presentes. - dizia Giulia enquanto caminhava de mãos dadas com os pais em direção à casa.

A garota se virou para trás e voltou correndo.

- Meus presentes... - disse ela voltando buscar sua sacola sob olhares curiosos dos pais.

É uma crueldade dizer para uma criança que o Papai Noel não existe, que o Natal é uma farsa...Papai Noel e o Natal existem até para os adultos que neles acreditam. Deixe florescer sua ânsia de amar, de perdoar e se pôr no lugar do próximo. Deixe fluir sua imaginação como a de uma criança...e sejas feliz!