Quase Perfeito: Capítulo 04

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QUASE PERFEITO


Minissérie de
Wesley Alcântara

Episódio 04 de 08



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  CENA 01. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.

Joanne lê o papel e olha chocada para Élio.

JOANNE – Meu Deus! Isso não é possível. Coitado do Kléber.

ÉLIO – Acho que ele estava sendo ludibriado e nem sabia.

JOANNE – Mas ele precisa saber. Precisa saber que essas joias eram falsificadas, que alguém estava passando a perna nele. E você sabe, se essa estória vier à tona, ele pode ser acusado por outros clientes. A gente teve conhecimento agora, mas essas falsas joias podem estar sendo comercializadas faz tempo.

ÉLIO – Desculpa, doutora, bancar agora o advogado do diabo, mas a responsabilidade é desse Kléber também. Imagine só: se outras pessoas foram ludibriadas, elas têm o direito de serem ressarcidas.

Joanne anda de um lado para o outro, pensativa.

JOANNE – Você tem razão. Eu tô aqui misturando as coisas.

ÉLIO – Que coisas?

Joanne se aproxima de Élio, acaricia seu rosto.

JOANNE – Coisas que eu não deveria estar envolvendo, mas envolvi.

Joanne se afasta e desvia o olhar.

JOANNE – E a carta criptografada?

ÉLIO – Ninguém da Técnica conseguiu decifrar.

JOANNE – Eu vou dar um pulo na casa do Kléber e avisá-lo sobre essas joias. Enquanto isso, você chama o Edgar Zampari aqui.

ÉLIO – Aquele jornalistazinho?

JOANNE – O próprio. Vamos usar as mídias dele ao nosso favor.

Joanne pega sua bolsa e um casaco e vai saindo.

CENA 02. DELEGACIA. ANTESSALA. INT. DIA.

Joanne vai andando afoita, enquanto Élio corre atrás dela.

ÉLIO – Mas você quer esse jornalista pra quando?

JOANNE – Hoje, agora! Dentro de uma hora eu estarei de volta.

Joanne sai. Élio permanece ali, parado.

CENA 03. MANSÃO DE ESTHER. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

Sabine e Lucas se olham, encantados.

SABINE – Olá, eu sou a cabelereira de dona Esther.

Lucas cai em si, disfarça o encantamento.

LUCAS (sem jeito) – Ah sim... É isso, minha mãe havia falado... Acho que está no banho. Bem, entre.

Lucas dá a passagem, Sabine entra.

SABINE – Com licença.

Sabine olha tudo ao redor, encantada.

SABINE – Dona Esther tem bom gosto.

LUCAS (cochichando) – Inclusive para cabelereiras.

SABINE – Você disse algo?

LUCAS (disfarçando) – Perguntei se aceita algo para beber.

SABINE – Não, obrigada. Estou bem.

LUCAS – Sente-se.

Sabine senta e Lucas senta-se de frente para ela.

LUCAS – Eu sou filho da dona Esther. Prazer, Lucas.

SABINE – Me chamo Sabine. Muito prazer!

Os dois sorriem.

CENA 04. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

Tamires está sentada no sofá lendo revista de moda, quando Marta vem da rua com roupa de ginástica.

MARTA – Quem é você?

Tamires abaixa a revista e olha para Marta.

TAMIRES – Eu?

MARTA – E existe alguma outra pessoa aqui?

Tamires se levanta, sorri amigavelmente.

TAMIRES (estendendo a mão) – Prazer, eu sou Tamires, a nova dama de companhia de dona Consuelo.

Marta despreza o cumprimento de Tamires e se senta numa poltrona próxima.

MARTA – Espero que você saiba onde é seu lugar nessa casa.

TAMIRES – Você é sempre assim?

MARTA – Assim como?

TAMIRES – Inconveniente. Estou aqui tentando ser amigável, estabelecer uma relação bacana e você vem me ferindo.

Marta se levanta, se aproxima de Tamires.

MARTA – Eu sou a dona dessa casa. Então trata de se desculpar comigo, que sou sua chefe.

Tamires se levanta, fica frente a frente com Marta. Não se intimida.

TAMIRES – Quem tem chefe é índio, coisa que dá pra notar que não sou. E nessa casa eu só recebo ordens de dona Consuelo, ninguém mais. Quer pisar em alguma coisa? Compra um tapete, é mais útil.

As duas se olham sérias. Consuelo vai descendo as escadas e percebe o clima.

CONSUELO (se aproximando) – Vejo que você já conheceu minha mais nova amiga, né, Marta?

Tamires se afasta, sorri para Consuelo.

MARTA – Conheci e não gostei. Você vai demiti-la agora.

CONSUELO – Quem mandava em mim já morreu faz tempo, Marta. A Tamires fica, sim. Ela não é sua empregada, é minha.

MARTA – Não gostei dela, muito atrevida. Me disse coisas desagradáveis.

CONSUELO – Coisas que aposto que você merecia. Mas se não gostou dela, é só fingir que ela não existe.

Tamires dá um sorriso sínico para Marta, que bufa de raiva.

CONSUELO – Venha, Tamires. Vamos ao shopping renovar esse seu estilo.

Consuelo e Tamires saem. Marta joga uma jarra longe.

CENA 05. MANSÃO DE ESTHER. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

Lucas toca piano enquanto Sabine o olha encantada. Pouco depois, Esther aparece.

ESTHER – Sabine, minha querida!

SABINE (sorridente) – Dona Esther!

As duas se abraçam. Lucas para de tocar e se aproxima.

ESTHER – Esse é o meu filho que eu tanto falava, Sabine. Veio passar uma temporada aqui no Brasil comigo.

SABINE – Seu filho é um artista, dona Esther.

ESTHER – Deus o abençoou demais, não acha?

Sabine olha para Lucas, que retribui.

SABINE – Acho sim.

ESTHER – Mas vamos parar com essa rasgação de seda e vamos ao trabalho? Hoje eu quero estar deslumbrante para o culto na igreja.

SABINE – A senhora já é deslumbrante. Não concorda, Lucas?

LUCAS – Vocês duas são mulheres deslumbrantes.

Esther abraça e beija Lucas.

ESTHER – Eu posso com um filho desses, Sabine?

Lucas e Sabine sorriem um para o outro.

CENA 06. BAIRRO PRAZERES. RUA. EXT. DIA.

Dos Anjos vai passando em frente ao ponto de moto táxi, onde Eleandro está. Ela se aproxima.

DOS ANJOS – Eleandro, meu filho, tudo bem? Viu Yago por aí?

ELEANDRO – Oi, dona Dos Anjos. Vi sim, tava no campinho da rua de baixo jogando bola com uns meninos.

DOS ANJOS – Quase na hora da escola e esse menino enfiado em rua. Não sente fome, não sente sede. Se deixar, vara a noite na rua.

ELEANDRO – É bom.

DOS ANJOS – Bom pra quem, meu filho? Esse bairro tem tráfico, daqui a pouco tão usando meu neto, tão levando Yago pra caminho errado.

ELEANDRO – Pode deixar que busco Yago pra senhora. Pode ficar tranquila, pode ir pra casa.

DOS ANJOS – Você faria isso pra mim, Eleandro?

ELEANDRO – Mas é claro. Eu gosto da senhora pra caramba, como se fosse uma mãe que eu nunca tive. Além de ter uma verdadeira paixão por aquele moleque.

Dos Anjos sorri.

DOS ANJOS – Você é um menino de ouro. Que Oxalá sempre te abençoe.

ELEANDRO – Axé, minha mãe!

Em Eleandro.

CENA 07. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

Uma empregada abre a porta e Joanne entra.

JOANNE – Olá! Eu sou delegada civil e gostaria de falar com o senhor Kléber de Magalhães.

EMPREGADA – Pois não, vou subir e chamá-lo. Só um instante.

A empregada se afasta. Joanne olha tudo ao redor, quando Marta desce as escadas.

MARTA – Mas é muito descaramento vir até a minha casa atrás de meu marido, Joanne.

Joanne e Marta se olham sérias.




QUASE PERFEITO - CAPÍTULO 4


CENA 08. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

JOANNE – Fica tranquila. Eu vim a trabalho.

MARTA – Trabalho de cortesã?

JOANNE – Eu estou a serviço da lei e se continuar me insultando, Marta, serei obrigada a lhe prender por desacato.

MARTA – Por que não mandou vir outro policial?

JOANNE – Porque há trabalhos que eu mesma devo fazer. É um assunto extrapolicial que pode prejudicar o seu marido. Estou tentando ajudar.

MARTA – Ajudar? Aposto que isso vai custar um preço muito caro.

JOANNE – O mundo não gira em torno do seu marido, Marta. Eu sei perder, mesmo quando a outra parte joga sujo.

MARTA – Tá querendo dizer o que com isso?

JOANNE – Que eu tenho muito mais coisa pra fazer da vida do que ficar segurando homem. E que vim aqui pra tentar ajudar a sua família.

Marta debocha.

JOANNE – Por favor, chama o Kléber para mim.

MARTA – Ele não está.

JOANNE – Pior pra ele, pra vocês.

MARTA – Isso foi uma ameaça, delegada?

JOANNE – Foi um aviso do que pode vir, dá bomba que pode estourar no colo de vocês. Mas eu já vou indo.

Joanne vai saindo, quando dá de cara com Kléber.

KLÉBER (surpreso) – Joanne?

JOANNE – Eu tenho um assunto muito importante a tratar com você. Tem um minuto pra mim.

Close em Marta, irritada. Em Kléber, surpreso.

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 09. MANSÃO MAGALHÃES. GABINETE. INT. DIA.

KLÉBER (chocado) – O que, Joanne?

JOANNE – Falsas. As joias que a Tânia pegou naquele assalto eram falsas.

KLÉBER – Então quer dizer que uma coleção que eu paguei milhões não valem nada?

Joanne retira da sua bolsa um envelope e entrega à Kléber.

JOANNE – No caminho para cá eu tirei uma cópia do laudo da polícia técnica. Sugiro que você leia com calma e chame seu advogado e o avaliador de joias da sua joalheria e tenham uma conversa muito séria.

KLÉBER – São anos vendendo peças exclusivas. Milhões e milhões, Joanne. E se esse pessoal resolver me colocar na justiça?

JOANNE – Na delegacia tudo corre sob segredo e assim vai continuar por um tempo. O que sugiro agora é que você mova seus pauzinhos, converse com um advogado e reveja tudo isso. A sua situação pode se complicar muito.

KLÉBER – Eu posso ficar pobre.

JOANNE – Eu preciso ir. Tem uma pessoa me esperando na delegacia.

Joanne vai saindo, quando Kléber a puxa pelo braço. Os dois ficam cara a cara.

SONOPLASTIA: TE ESPERANDO – LUAN SANTANA.

KLÉBER – Eu tô com saudade.

JOANNE – Enquanto essa sua situação não se resolver, eu não quero errar mais.

KLÉBER – Mas a gente se ama, não é errado.

JOANNE – Tem a Marta. Enquanto ela estiver entre nós dois, qualquer aproximação vai ser errada.

Joanne se desvencilha e sai. Em Kléber.

MÚSICA CESSA.

CENA 10. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

Marta está sentada no sofá, tomando champanhe. Pouco depois, Joanne vem vindo do gabinete, passa por ela e vai saindo.

MARTA – Aceita uma tacinha, querida?

Joanne vira-se para Marta, dá um sorriso amarelo.

JOANNE – Não, querida. Aproveita essa tacinha e se afoga no seu ressentimento. Beijos de luz.

Joanne sai. Kléber aparece.

MARTA – Dentro da minha casa e essa asinha aí me afrontando. Não sabe perder mesmo.

KLÉBER – Ela está nos ajudando, Marta.

MARTA – Eu sei o preço dela. Pode apostar que não é barato.

Marta toma todo o champanhe em uma única vez.

CENA 11. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. DIA.

Yago (7 anos, moreno, uniforme escolar) está sentado a mesa almoçando. Dos Anjos está lavando louça e assistindo tevê.

DOS ANJOS – Demora não, Yago. Daqui a pouco a van passa e você ainda está aqui.

YAGO – Vó, quando é que minha mãe vai voltar?

DOS ANJOS – Eu já te disse, meu filho, sua mãe foi fazer uma entrega muito, muito longe e não vai poder estar aqui por esses dias.

Yago olha para a tevê, que passa o velório de Tânia.

YAGO – Olha, vó. Aquela na tevê não é a senhora?

Dos Anjos olha para a tevê e fica surpresa.

DOS ANJOS – Malditos repórteres!

YAGO – O que a senhora tá fazendo na tevê?

DOS ANJOS – Nada! Agora trata de escovar dente, pegar a mochila e ir pra calçada esperar a van.

Yago se afasta. Dos Anjos senta, totalmente estarrecida.

CENA 12. BARRASHOPPING. FACHADA. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: CORPO SENSUAL – PABLLO VITTAR FEAT. MATEUS CARRILHO.

Takes da fachada do local.

TAMIRES (V.O) – Como eu tô, dona Consuelo?

MÚSICA CESSA.

CENA 13. BARASHOPPING. BOUTIQUE. INT. DIA.

Consuelo está sentada numa poltrona com uma taça de champanhe na mão, olhando horrorizada para Tamires, que está com um vestido rosa-choque curto e extremamente apertado.

CONSUELO (em choque) – Mas o que é isso?

Tamires desfila e gira na frente de Consuelo.

TAMIRES – É um vestido tubete bafônico. A senhora curtiu?

CONSUELO – Pode tratar de tirar isso agora. Você quer ser respeitada no meio da alta roda ou quer ser confundida com uma dessas garotas da Vila Mimosa?

TAMIRES – Então a senhora não curtiu, né?!

Consuelo se levanta e faz sinal para uma vendedora, que se aproxima.

VENDEDORA – Pois não, dona Consuelo?

CONSUELO – Leva a minha amiga lá dentro e escolha peças essenciais para uma jovem da alta, ok? Terninhos, vestidos, saias, sapatos... Cores elegantes e cortes nobres.

VENDEDORA – Mas é claro. Deixa comigo. (a Tamires) Vamos, moça?

Tamires vai saindo com a vendedora. Consuelo dá uma golada no champanhe.

CONSUELO – Essa menina vai me dar uma mão-de-obra danada.

CENA 14. MANSÃO DE ESTHER. QUARTO DE ESTHER. INT. DIA.

Sabine acaba de fazer um penteado em Esther, que se olha no espelho e sorri.

SABINE – E então, dona Esther, gostou?

ESTHER – Eu amei, minha linda. Simplesmente perfeito.

SABINE – Fico feliz.

ESTHER – Você tem o dom com as madeixas.

Sabine começa a guardar seus objetos.

ESTHER – Será que você teria um tempinho para um café comigo, querida?

SABINE – Claro que sim.

As duas sorriem.

CENA 15. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.

Joanne está sentada de frente para Edgar.

JOANNE – Edgar Zampari, te chamei aqui para um assunto muito importante.

EDGAR – Eu não sei quem matou aquela motoqueira.

JOANNE – Eu não te fiz nenhuma pergunta ainda.

EDGAR – Bom, eu não me lembro de ter cometido qualquer crime.

JOANNE – Eu vou te explicar o motivo de estar aqui.

Joanne se levanta, fecha a porta e volta para seu lugar.

JOANNE – Eu preciso que você me ajude na investigação do caso da Tânia.

EDGAR (surpreso) – Eu? Mas nem policial eu sou.

JOANNE – Preciso que você use as suas redes sociais. Você é o...como é que chamam hoje? Ah, lembrei: você é o maior digital influencer que conheço.

Edgar sorri, se enche.

JOANNE – Eu preciso que você descubra se um dos seus seguidores consegue desvendar uma carta criptografada, que provavelmente foi escrita e deixada pelo assassino.

EDGAR – Carta criptografada?

JOANNE – Exatamente. Mas eu iria te dando trechos da carta. Você faria tipo um quiz ou algo do tipo. Mas ninguém pode saber do que se trata, compreendeu?

EDGAR – Compreendi. Mas o que eu ganharia com isso?

JOANNE – Reconhecimento da polícia por seu trabalho prestado.

EDGAR – Não me leve a mal, delegada, mas reconhecimento não é muito a minha praia. A não ser que esse reconhecimento venha em dólares ou seguidores, se é que me entende.

JOANNE – Bom, que pena, nós não trabalhamos com nenhuma dessas opções.

Edgar se levanta.

EDGAR – Perdi foi meu tempo vindo até aqui. Passar bem, delegada.

Edgar vai saindo.

JOANNE – Uma pena, pois esse reconhecimento seria numa grande emissora e com jornalistas e celebridades. Seria o prêmio personalidade do ano.

Edgar para e vira-se para Joanne.

SONOPLASTIA: SOLTA A BATIDA – LUDMILLA.

EDGAR – Prêmio personalidade do ano? Com artistas?

JOANNE – É. Mas agora tenho que encontrar outra pessoa.

EDGAR – Não. Calma aí. Acho que posso te ajudar. Não vai me custar nada.

Edgar se senta e Joanne continua falando.

MÚSICA CESSA.

CENA 16. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.

SONOPLASTIA: PRA MINHA MINA – BOM GOSTO.

Tomadas de bairros suburbanos do Rio de Janeiro. Trens cortando a cidade. Ônibus lotados parando nos pontos. Camelôs e mototáxis circulando.

Close numa placa na Avenida Brasil com o letreiro: PRAZERES.

MÚSICA CESSA.

CENA 17. CASA DE DOS ANJOS. EXT. NOITE.

Bastião (60 anos, branco, rosto bastante enrugado, magro, roupas simples) vem da rua e entra.

CENA 18. CASA DE DOS ANJOS. QUARTINHO DE SANTO. INT. NOITE.

Uma mulher está de pé com os braços abertos, enquanto Dos Anjos a reza com um rosário de prata bem em frente a imagem de Nossa Senhora Aparecida.

DOS ANJOS (rezando/ tom mais baixo) - Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva; a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei; e depois deste desterro nos mostrai Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria. 

Nesse instante, Bastião aparece na porta e olha fixamente para Dos Anjos, que não o nota.

SONOPLASTIA: SUSPENSE.

O rosário arrebenta e cai no chão. Dos Anjos se assusta, olha para a porta e vê Bastião, que sorri.

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 19. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. NOITE.

CAM abre numa caneca sendo depositada na mesa.

Panorâmica do ambiente. Bastião sentado, dá uma golada no líquido da caneca. Dos Anjos o observa séria.

BASTIÃO – Bom esse seu café, hein, nega.

DOS ANJOS – Fala logo o que tu veio fazer aqui. Sabe que tá proibido de vir aqui.

BASTIÃO – Não gostou de me ver, nega?

DOS ANJOS – Fala logo, Bastião. Daqui a pouco Sabine e Yago tão aí. Diz o que veio fazer aqui.

BASTIÃO – Vou ser breve: tô precisando de dinheiro.

Dos Anjos se surpreende.

DOS ANJOS – Mais? Eu te dei o combinado na semana passada.

BASTIÃO – Acontece que acabou, nega. Aquela mixaria mal dá pra comprar o básico e pagar luz e aluguel.

DOS ANJOS – Eu não deveria era te dar nada. Deixar você morrer na miséria. Mendigar na sarjeta. Isso sim que eu deveria fazer.

Bastião se levanta, se aproxima de Dos Anjos, que fica amedrontada. Os dois ficam cara a cara.

BASTIÃO – Experimenta fazer isso, nega. Eu abro essa minha boca maldita e conto toda a sujeira que tem debaixo desse teto. Aí vamos ver quem vai mendigar na sarjeta.

DOS ANJOS – Nós temos um combinado.

Bastião se afasta, mais calmo.

BASTIÃO – Só que eu não tenho nada a perder, ao contrário de você. Vai me dar a grana ou eu vou ter que esperar a sua família linda chegar?

Dos Anjos põe a mão sobre o rosto, pensa por um instante.

DOS ANJOS – Se for pra te ver o mais longe de mim e da minha família, eu aceito. Fica aqui que vou lá dentro pegar o dinheiro.

Dos Anjos se afasta. Bastião sorri e se serve de mais café.

CENA 20. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. NOITE.

Joanne está sentada, mexendo no celular. Élio entra.

ÉLIO – Posso falar um pouco com você?

JOANNE – Mas é claro. Senta aí.

Élio fecha a porta e se senta de frente para Joanne.

JOANNE – E então, Élio?

ÉLIO – Quero falar sobre a nossa noite.

Joanne fica visivelmente constrangida.

ÉLIO – Eu sei que tem alguém na sua, sei que é um laço forte e tal. Sei que a bebida e carência foram o que te fizeram ir para a cama comigo. Mas eu queria te dizer algumas coisas. Mesmo que não valha de nada, mesmo que você me ache um chato.

JOANNE – É impressionante como você me conhece, Élio. Eu acho que me precipitei aquele dia e.../

ÉLIO (por cima) – Há muito tempo que eu gosto de você.

SONOPLASTIA: AMOR MAIOR – JOTA QUEST

ÉLIO – E você pode não me curtir, não querer nada comigo. Mas saiba que tudo que eu queria era estar com você. Nos bons e nos momentos difíceis.

Élio se levanta, se aproxima de Joanne e lhe dá um beijo. Em seguida, sai da sala.

JOANNE (surpresa) – Meu Deus, o que foi isso?

MÚSICA CESSA.

CENA 21. CASA DE DOS ANJOS. SALA. INT. NOITE.

Bastião está de pé, de frente para Dos Anjos.

DOS ANJOS – Espero, de verdade, que você não volte aqui nunca mais. Eu te procuro pra cumprir nosso acordo, como tenho feito religiosamente todos esses anos.

BASTIÃO – Não sei como o povo acredita nessa sua reza.

DOS ANJOS – Porque é verdadeira.

BASTIÃO – Tu tem alma podre, nega. Agora passa a grana pra cá, anda.

Quando Dos Anjos está entregando um maço de dinheiro para Bastião, Yago chega e vê.

YAGO – Vó? Que isso?

Yago olha para Bastião.

YAGO – Quem é você?

Na agonia de Dos Anjos.

CENA 22. APARTAMENTO DE EDGAR. QUARTO. INT. NOITE.

Ayres e Edgar estão deitados assistindo filme e comendo pipoca.

AYRES – Aquela live sobre as palavras criptografadas ficou ótima, hein, Edgar. Você ainda vai dar recompensa pra quem conseguir desvendar as três partes.

EDGAR – É lógico, querida. Tudo para dar um up na minha popularidade. Daqui a pouco eu desbanco Hugo Gloss. Quer apostar?

Nesse instante o celular de Edgar toca. Ele atende.

EDGAR (cel.) – Alô. Quem é?

VOZ MISTERIOSA (V.O) – Edgar Zampari?

EDGAR (cel.) – O próprio. Quem é?

VOZ MISTERIOSA (V.O) – Aqui é uma pessoa que te conhece muito bem, sabe de todos os seus passos. Eu só quero te dar um recado.

EDGAR (cel.) – Então diga, pessoa.

VOZ MISTERIOSA (V.O) – Eu decifrei os seus enigmas. E acho bom você parar com o desafio. Ou algo de muito ruim vai te acontecer.

EDGAR (cel.) – Tipo o que?

VOZ MISTERIOSA (V.O) – A morte. Eu tô agora na porta do seu apartamento. Ouve só.

A campainha toca. Edgar se assusta e deixa o celular cair no chão.

No desespero de Edgar.

CENA 23. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. NOITE.

Joanne está guardando alguns pertences em sua bolsa, quando Daiana entra apressada com uma pequena caixa de som em mãos.

DAIANA (aterrorizada) – Doutora, por favor, ouve isso.

JOANNE – Mas o que foi? Como conseguiu entrar aqui?

DAIANA – A delegacia tá quase vazia, não foi difícil.

Daiana fica inquieta, treme muito.

JOANNE – Mas o que foi? Por que está assim, Daiana?

Daiana entrega a caixa de som para Joanne.

DAIANA – Ouça. Ouça e tire suas conclusões.

Joanne põe dá play e ouve o barulho alto de um tiro. Joanne fica sem entender.

Rapidamente chegam vários policiais a sala dela, entre eles, Élio.

ÉLIO – Vocês ouviram? Parecia ser daqui.

JOANNE – Tá tudo bem. Foi a caixa de som. Podem sair.

Os policiais saem, mas Élio permanece.

JOANNE – Não entendi, Daiana.

DAIANA – Essa caixa de som tava num teto falso do restaurante. Eu estive lá agorinha recolhendo meus pertences e lembrei que havia deixado uma bolsa nesse teto. Quando abri, achei essa caixinha e só tem gravado esse som de tiro.

JOANNE – Então você tá querendo dizer que.../

DAIANA – Que o Teodoro não se suicidou com parecia. Alguém o matou e fez parecer um suicídio.

JOANNE – Mas quem?

DAIANA – O Teodoro sabia de muitos segredos do passado da Tânia. E ele andou chantageando uma pessoa que tinha algo nesse passado.

JOANNE – Que passado? Que pessoa?

DAIANA – Eu não sei o nome. Não sei que história é essa.

ÉLIO – Então voltamos à estaca zero.

DAIANA – Não. Eu cheguei a ir uma vez com o Teodoro lá. Não saí do carro, mas eu lembro perfeitamente onde fica.

JOANNE – Então vamos para lá agora.

Joanne, Élio e Daiana saem apressados.

CENA 24. DELEGACIA. PÁTIO. EXT. NOITE.

Local escuro. Joanne, Élio e Daiana vão andando por ali em direção a uma viatura da polícia.

JOANNE – Você sabe pelo menos o nome do bairro, Daiana?

DAIANA – Prazeres. Na Zona Norte.

Eles continuam andando, quando uma moto se aproxima, põe farol alto no rosto deles. O motociclista, sem ser identificado, saca uma arma e rapidamente atira em Daiana, que cai.



Autor:

Wesley Alcântara

Elenco:

Carolina Ferraz como Joanne Andrade
Dalton Vigh como Kléber de Magalhães
Deborah Evelyn como Marta Beatriz Castelo Branco de Magalhães
Marco Pigossi como Edgar Zampari
Letícia Persiles como Sabine dos Anjos Souza
Rômulo Estrela como Élio Fiúza
Marcello Melo Jr. como Eleandro Silva
Caio Paduan como Lucas D’Ávila
Narjara Turetta como Daiana Oliveira
Gabriella Mustafá como Tamires dos Anjos Souza
Luka como Ayres Costa
Cauã Reymond como Valeska Moretti
Ângela Vieira como Esther D’Ávila

Atores Convidados:

Stenio Garcia como Orestes Blumenau
Francisco Cuoco como Bastião Souza

Atrizes Convidadas:

Eva Wilma como Consuelo Castelo Branco
Zezé Motta como Dos Anjos

Participações Especiais:

Cris Vianna como Tânia dos Anjos
Carmo Dalla Vecchia como Teodoro Malta

Trilha Sonora:

Martelo Bigorna – Lenine (abertura)
Te Esperando – Luan Santana
Corpo Sensual – Pabllo Vittar feat. Mateus Carrilho
Solta a Batida – Ludmilla
Pra Minha Mina – Bom Gosto
Amor Maior – Jota Quest

Produção:


Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


Quase Perfeito: Capítulo 03

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QUASE PERFEITO


Minissérie de
Wesley Alcântara

Episódio 03 de 08



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CENA 01. RESTAURANTE RANGO BOM. ENTRADA. EXT. DIA.

Élio, Daiana e Joanne se olham, surpresos.

JOANNNE – Deve ter alguém lá dentro.

DAIANA (em desespero) – Meu Deus do céu, deve ser o assassino.

Joanne empunha sua arma.

JOANNE – Élio, liga pra delegacia e pede reforço.

Élio se afasta, discando no celular. Daiana se aproxima de Joanne.

DAIANA – Cê acha que o assassino tá aí?

JOANNE – Isso é o que a gente vai descobrir agora. Mas preciso que você se mantenha aqui, afastada.

Élio volta, guardando o celular.

ÉLIO – Já estão a caminho, doutora.

JOANNE – Ótimo. Vamos entrar assim que o reforço chegar. Não sabemos quantas pessoas podem estar lá dentro.

Em Daiana, muito amedrontada.

CENA 02. MANSÃO MAGALHÃES. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.

Marta está sentada diante do espelho, passando máscara de pepino no rosto. Kléber entra afoito.

KLÉBER – A gente precisa conversar, Marta.

Marta vira-se para ele, que se assusta.

KLÉBER – Credo. Que creme verde é esse na tua cara?

MARTA – É uma máscara refrescante. Deixa a pele mais jovial.

KLÉBER – Realmente... De madura, sua pele tá ficando bem verdinha.

Kléber dá uma risada. Marta o olha séria.

MARTA – Era sobre os meus tratamentos de pele que você iria falar, meu bem?

Kléber fica sério.

KLÉBER – Não.

Marta se levanta, o olha com certa veemência.

MARTA – Então para de suspense e diz logo, Kléber. Daqui quinze minutos a máscara plastifica e eu não consigo dizer uma única palavra sequer.

KLÉBER – Que porcaria foi aquela de Direitos Humanos na tevê? Tu tá doida?

MARTA – Doida? Eu estava defendendo uma classe.

KLÉBER – Você estava querendo se aparecer, querendo atrapalhar a Joanne e.../

MARTA (por cima) – Não fala o nome dessa neurótica dentro da minha casa.

KLÉBER – Só que você atirou no que viu e acertou no que não viu. Você é mesmo muito burra. Atrapalhar o caso do assalto a joalheria é atrapalhar o nosso lucro.

Marta fica meio sem jeito.

MARTA – É... Eu realmente não havia pensado por esse lado.

KLÉBER – Então pense, Marta Beatriz. Pense muito bem antes de tomar medidas tão estapafúrdias. Porque o que você fez só gera consequências para você mesma. (saindo) Onde já se viu... Defensora, heroína.

Kléber sai. Marta se senta na cama, irritada.

CENA 03. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.

SONOPLASTIA: PESADÃO – IZA FEAT. MARCELO FALCÃO.

Um giro pela Zona Sul, mostrando seus principais pontos, desde a Praia de Copacabana até o Morro do Vidigal.

MÚSICA CESSA.

CENA 04. SALÃO DE BELEZA. INT. DIA.

Local amplo e muito elegante.

Sabine está escovando o cabelo de Esther.

SABINE – Achei que a senhora tivesse me abandonado, dona Esther. Duas semanas sem vir ao salão.

ESTHER – Jamais, minha querida. Você tem mãos de fada. Só confio em você para cuidar do meu cabelo.

SABINE – Eu fico lisonjeada com esse elogio. Talvez um dia eu ainda chegue a ser tão elegante quanto a senhora.

ESTHER – Olha pra você, Sabine. É bonita, talentosa e tem o essencial: a discrição. Homem detesta mulher espalhafatosa, que mais parece alegoria de carnaval.

SABINE – Um dia eu ainda me caso.

ESTHER – E eu farei muito gosto em estar presente. Deus há de te arrumar um bom varão, minha linda. Mas, mudando um pouco de assunto, você não conhece nenhuma jovem estudada, bonita, que queira ser dama de companhia, não?

Sabine olha meio estarrecida para Esther.

SABINE – Eu ouvi direito? Dama de companhia?

ESTHER – Sim.

SABINE – Eu achei que essa profissão tivesse sido extinta com o fim da monarquia.

ESTHER – Eu também, minha querida. O negócio é que eu tenho uma amiga que parou no tempo a respeito disso e me incumbiu de arrumar uma jovem para lhe fazer companhia. Eu tenho pena, claro. É uma mulher muito sozinha e, na verdade, ela quer uma moça para lhe acompanhar nos passeios, chás. Tudo que a filha dela pouco faz. Entende?

SABINE – Ah, claro. Agora eu compreendi, dona Esther. Bom, eu posso lhe indicar uma pessoa. Minha irmã. Ela está sem emprego mesmo e adoraria estar transitando na alta roda da sociedade.

ESTHER – Se ela for metade do que você é, a Consuelo estará em ótima companhia.

Sabine sorri.

CENA 05. RESTAURANTE RANGO BOM. ENTRADA. EXT. DIA.

Daiana está afastada, sentada na calçada. Élio e Joanne estão de pé, na frente da porta de entrada.

Ouve-se barulhos de sirene. Pouco depois, duas viaturas da polícia chegam e cercam o local. Um policial se aproxima.

POLICIAL – E aí, doutora?

JOANNE – Pede pro pessoal cercar o local. Élio e eu entraremos agora.

POLICIAL – Positivo.

Élio e Joanne entram. O policial segue dando ordem aos demais.

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 06. RESTAURANTE RANGO BOM. SALÃO. INT. DIA.

Joanne e Élio entram com a arma em punho, mas logo se surpreendem.

ÉLIO – Meu Deus!

Joanne leva uma das mãos até a boca.

JOANNE (estarrecida) – Não pode ser!




QUASE PERFEITO - CAPÍTULO 3


CENA 07. RESTAURANTE RANGO BOM. SALÃO. INT. DIA.

CAM abre em panorama. O corpo de Teodoro sentado em uma cadeira, com a arma na mão esquerda e a boca aberta, deixando cair sangue por ali.

ÉLIO – Ele tá morto. Suicídio.

Joanne se aproxima, mas com certo pudor. Olha para Teodoro, olha tudo em volta.

JOANNE – Ele era a nossa chance. Merda!

Joanne coloca as mãos sobre a cabeça, anda de um lado para o outro, desorientada.

ÉLIO (se afastando) – Vou chamar a polícia técnica.

CENA 08. RESTAURANTE RANGO BOM. RUA. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: SUSPENSE.

CAM segue até uma árvore, onde é mostrada a sombra de uma pessoa, sem identificar quem é. Apenas uma sombra.

Do PV dessa sombra, vemos a polícia técnica chegar e conversar com Joanne e Élio, que em seguida embarcam num carro e saem.

MÚSICA CESSA.

CENA 09. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.

SONOPLASTIA: PRA MINHA MINA – BOM GOSTO.

Tomadas noturnas de bairros suburbanos do Rio de Janeiro. Ônibus lotados parando nos pontos. Bares movimentados.

MÚSICA CESSA.

TAMIRES (V.O) – É verdade o que você está me dizendo, maninha?

CENA 10. CASA DE DOS ANJOS. COZINHA. INT. NOITE.

Sabine, Tamires e Dos anjos estão à mesa, jantando.

SABINE – Dona Esther me perguntou e eu disse que talvez você se interessasse.

Tamires vibra.

TAMIRES – Estar na alta roda. É tudo que eu sempre sonhei.

SABINE – Você não está ficando rica, garota. Acorda! Você tá indo ver se consegue o emprego de dama de companhia de uma granfina.

TAMIRES – Eu sabia que meu lugar era na Zona Sul, com gente de classe.

SABINE – Bom, esteja lá amanhã às nove. Sem falta e sem essas roupas provocantes. (se levanta) Agora eu vou lá na Valeska.

Sabine SAI. Tamires olha para Dos Anjos, que está apática.

TAMIRES – Mãe, a senhora não tá feliz por mim?

DOS ANJOS (sem entusiasmo) – Que bom, minha filha.

TAMIRES – Nossa, mãe. Parece até que eu tô indo pra guerra.

DOS ANJOS – Dá um tempo, Tamires. Eu enterrei uma filha a pouquíssimo tempo. Não tá sendo fácil pra mim.

TAMIRES – Não tá sendo fácil pra ninguém. Acha que a Sabine foi feliz trabalhar depois de ter enterrado a irmã? Acha que eu tô satisfeita em ter de conviver aqui assim? Não tô.

Tamires se levanta.

DOS ANJOS – Desculpa. Senta aqui.

TAMIRES – Perdi a fome. Eu vou dar uma volta nesse bairro xexelento. Tá um forno dentro dessa casa. Misericórdia.

Tamires sai. Em Dos Anjos, triste.

CENA 11. DELEGACIA. INT. NOITE.

Joanne e Élio caminham por entre as repartições, indo em direção à sala da delegada.

JOANNE – Não tô acreditando até agora que a minha principal fonte de achar o culpado está morta.

ÉLIO – Será que ele se suicidou por fazer parte do esquema ou por ter sofrido ameaça?

JOANNE – Taí uma pergunta que vai ser difícil de ser respondida.

Joanne vê as horas no relógio de pulso.

JOANNE – Fim do nosso plantão. Agora só amanhã depois do almoço.

ÉLIO – Ainda bem, doutora.

JOANNE – Vou pegar minha bolsa e correr para casa. Necessito de uma boa taça de vinho e de um banho bem gelado. Os últimos dias não têm sido fáceis.

ÉLIO – Taí, boa ideia. Vou fazer o mesmo.

Joanne abre a porta e ENTRA, seguida por Élio.

CENA 12. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. NOITE.

Joanne e Élio entram e se surpreendem ao ver Orestes (55 anos, branco, calvo, terno e gravata), sentado na cadeira de Joanne e com os pés sobre a mesa.

JOANNE (surpresa) – Orestes?

ORESTES – Acho que a gente precisa conversar um pouquinho, não é?

Em Joanne e Orestes se olhando.

CENA 13. BAIRRO PRAZERES. RUA. EXT. NOITE.

Tamires caminha pela rua tomando um sorvete de casquinha, quando Eleandro se aproxima.

ELEANDRO – O que uma gata dessas faz sozinha a noite pela rua?

Tamires passa por Eleandro sem olhá-lo. Eleandro a cerca.

ELEANDRO – A gatinha não vai dizer?

Tamires para, bufa e olha fixamente nos olhos de Eleandro.

TAMIRES – Estou tomando um sorvete, posso?

ELEANDRO – Comigo cê pode tudo, gata. Sabe que sou xonado na sua, né?

TAMIRES – Te enxerga, Eleandro. Eu não sou pro teu bico. Olha pra mim. Olha pra tu. É muita areia pra essa tua carretinha.

ELEANDRO – Eu não me importo, gata, faço quantas viagens forem necessárias. Mas papo sério agora, tu num topa tomar uma cerva comigo ali no bar da esquina, não? Tua irmã tá lá com Valeska.

Tamires nega com a cabeça.

ELEANDRO – Por quê?

TAMIRES – Sou mulher de champanhe, uísque, dry Martini. Eu não sou mulher de cerva e pagode, por favor!

Eleandro se aproxima, olhar malicioso. Encosta seu rosto no de Tamires, as bocas quase se colam.

SONOPLASTIA: CORPO SENSUAL – PABLLO VITTAR feat MATEUS CARRILHO.

ELEANDRO – Diz que tu tem coragem de esnobar um nego desses. Tô aqui de quatro pra ti, morena.

TAMIRES (sensual) – Esse é o problema, baby. Eu quero um homem inteiro, não quero um garoto de quatro.

Tamires dá um selinho em Eleandro e sai rebolando.

ELEANDRO – Eleandro, Eleandro, um dia tu fisga essa gata.

MÚSICA CESSA.

CENA 14. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. NOITE.

Joanne e Élio estão de pé, olhando para Orestes, que se levanta, rodeia a sala.

JOANNE – Sobre o que mesmo você quer conversar, Orestes? Eu já terminei meu plantão.

ORESTES – É uma conversa particular entre delegado chefe e uma subalterna.

Joanne consente com a cabeça.

JOANNE (a Élio) – Você poderia nos trazer uma bebida?

ÉLIO – Mas é claro. O que o doutor Orestes bebe?

ORESTES – Pra mim pode ser um uísque com gelo num copo curto.

Élio olha surpreso para Orestes, que debocha.

ORESTES – Eu sei que não tem bebida alcóolica aqui, rapaz. Foi uma piada.

Élio dá uma risadinha sem graça.

JOANNE – Duas águas, Élio. Por favor!

Élio SAI e fecha a porta.

JOANNE – Pronto, Orestes. Qual foi?

ORESTES – Eu fui chamado agora a pouco pelo Secretário de Segurança pra falar da sua diligência. Melhor, da sua incompetência. E você sabe como ele é carinhoso.

Joanne passa a mão pelo rosto, se apoia na mesa.

JOANNE – Eu tenho culpa se a principal peça do caso resolveu se matar?

ORESTES – Tem. Você tá dando corda pra que eu mesmo te enforque. Onde já se viu isso. Esse caso tá repercutindo nos Estados Unidos, na Europa toda. E você não para de fazer merda atrás de merda. É direitos humanos batendo nas nossas costas, é uma imprensa marrom fazendo sensacionalismo do caso. Caso esse que não anda.

JOANNE – Estamos progredin.../

ORESTES (corta/ por cima) – Você tá vacilando. Uma besta que já deveria ter interrogado as testemunhas, que deveria ter andado com esse caso. Mas não, tá preocupada em explicar como o crime aconteceu para blogueirinhos. Se não sabe tomar as rédeas disso aqui, dá o lugar pra um homem mais qualificado e vai fazer tutorial de maquiagem na internet, porra.

Joanne engole em seco. Assente com a cabeça.

ORESTES – A próxima vez que eu aparecer aqui, vai ser pra te tirar do caso e te dar férias forçadas. Estamos entendidos? Estamos.

Orestes SAI, bate a porta com força. Joanne se senta, abaixa a cabeça na mesa. Élio ENTRA.

ÉLIO – Doutora, tá precisando de alguma coisa?

JOANNE – De um porre.

Joanne levanta a cabeça e olha para Élio.

JOANNE – Me faz companhia?

Em Élio.

CENA 15. APÊ DE EDGAR. SALAR. INT. NOITE.

Edgar está sentado no sofá assistindo tevê, quando a campainha toca insistentemente.

EDGAR (gritando/se levantando) – Calma, gente! Eu não vou tirar meu pai da forca, não.

Edgar abre a porta e Ayres entra afoita.

EDGAR – O que você quer, projeto malsucedido?

AYRES – Fecha, fecha, fecha! Eu tenho um bafo com ph pra te contar.

Edgar rapidamente fecha a porta.

AYRES – Aquela emissora de tevê comprou a sua filmagem do velório. Vão passar amanhã em cadeia nacional.

Edgar sorri.

EDGAR – Diz que é mentira?

AYRES – É verdade!

EDGAR – Meu Santo dos blogueirinhos e digitais influencers, é muita sorte. E falaram como vai ser a forma de pagamento? Seguidores? Dinheiro? Uma parceria?

Edgar começa a andar de um lado para o outro, desfila, acena, sorri, faz pose para fotos.

EDGAR – Já tô até vendo, Ayres, o dia em que serei uma estrela da tevê e da internet. Falta bem pouco pra eu ser popular, falta bem pouco pra eu ter o verificado azul nas minhas redes.

AYRES – Não querendo tirar você desse sonho, Edgar, mas a emissora deu duzentos reais só.

Edgar olha surpreso para ela.

EDGAR – O que? Você vendeu uma filmagem rara dessas por duas notinhas de cem?

AYRES – Na verdade foram quatro de cinquenta.

EDGAR – Eu deveria era esganar você, sua incompetente. Sua besta quadrada. Me diz aí, por que eu ainda te mantenho comigo?

AYRES (mansa) – Por que eu não cobro cachê?

Edgar grita de ódio, pega um jarro e arremessa na direção de Ayres, que se abaixa.

EDGAR – Some daqui, antes que eu suma com você. PESTE!

Ayres choraminga.

CENA 16. BAR. INT. NOITE.

SOM AMBIENTE: LINGUAGEM DOS OLHOS – PÉRICLES.

Várias mesas espalhadas pelo salão. Pessoas felizes conversam. Garçons servem as mesas. Numa delas está sentada Sabine e Valeska (33 anos, cabelos loiros, morena, trajando macacão jeans colado).

Valeska dá uma golada na cerveja, cantarola um pouco o refrão da música.

SABINE – Tá inspirada, hein, amiga.

VALESKA – Essa música é minha e dele. (suspira) Ah, amiga, ele é tudo de bom.

SABINE – Vai devagar nesse amor, mulher. Eleandro ainda não te viu com os olhos de um homem.

VALESKA – Ele vive correndo atrás daquela esnobe da sua irmã. Desculpa, amiga, mas a Tamires é uma esnobe.

SABINE – A gente lá em casa também não acha certo esse jeito dela.

VALESKA – Eu aqui de quatro por Eleandro e ele de quatro por Tamires.

SABINE – Carlos Drummond de Andrade, se hoje fosse escrever novamente o poema Quadrilha, com certeza pegaria vocês de exemplo: Valeska ama Eleandro que ama Tamires que não ama ninguém.

Valeska dá mais uma golada na sua cerveja.

VALESKA – Acho que ele nunca nem vai me olhar. Eu não sou uma mulher.

SABINE – Ora, como não é mulher? É muito mulher, sim.

VALESKA – Sou uma travesti. Imagina. Ele poderia até pegar pra sexo na calada da noite e só. Agora assumir, montar família e dar casa, isso ele quer com Tamires.

SABINE – Mas ela não quer ele.

VALESKA – Se não for com ela, vai ser com tantas outras. Eu conheço essa estória, amiga. Eu aprendi que minha sina é perder desde o dia em que eu me assumi ser quem eu era de verdade.

SABINE – Amiga, será que a gente pode continuar esse papo amanhã? Tô morta de cansada e ainda tenho que levar Tamires cedo pra entrevista de emprego.

VALESKA – Vai lá. Eu vou tomar uma saideira. Vou mais tarde!

SABINE (se levantando) – Vou pagar umas lá, tá?

VALESKA – Vai com Deus, meu bem.

Sabine se afasta. Valeska beberica um pouco seu copo, olha pros lados, pras pessoas. De repente, Eleandro aparece.

ELEANDRO – Uma dama sozinha?

Valeska olha surpresa para ele e ri.

VALESKA – Sabine me deixou e não tô afim de ir embora.

ELEANDRO – Posso me sentar e tomar umas com você?

VALESKA – Mas é agora.

Eleandro se senta, o garçom traz um copo. Eles brindam.

ELEANDRO – A paz!

VALESKA – Ao impossível!

Os dois riem.

MÚSICA CESSA.

CENA 17. RIO DE JANEIRO. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.

SONOPLASTIA: FOR YOU – RITA ORA

Takes rápidos e pontuados dos principais pontos turísticos da cidade.

CENA 18. CASA DE JOANNE. RUA. EXT. NOITE.

Joanne desce do carro acompanhada de Élio. Os dois visivelmente bêbados.

JOANNE – Agora você vê, Élio, eu fui chamada de besta.

ÉLIO – Isso não pode. Tá errado.

JOANNE – Malditos homens.

ÉLIO – Malditos homens que não sabem tratar bem uma mulher.

Joanne vai andando em direção ao portão, até que para, tira os saltos e olha para Élio.

SONOPLASTIA: AMOR MAIOR – JOTA QUEST

JOANNE – E como é que se trata bem uma mulher?

Élio se aproxima e beija Joanne ardentemente.

MÚSICA CESSA.

CENA 19. BAIRRO PRAZERES. RUA. EXT. NOITE.

Eleandro e Valeska vão conversando e caminhando.

ELEANDRO – Deve ser mó da ora ser professora, né, não?!

VALESKA – Não é fácil. Ainda mais por eu não me encaixar tão perfeitamente nos padrões, né. Mas eu sou concursada e eles têm que me engolir.

ELEANDRO – Que mané padrão. Tu é magnífica do jeitinho que é. É doce, simpática, nunca desmereceu ninguém. É cria do nosso bairro e geral te respeita e você respeita geral.

VALESKA – Vejo que você me tem em alta conta, Eleandro. Obrigada!

ELEANDRO – Tu sonha em se casar, Valeska?

Valeska para e o olha bem dentro dos olhos.

VALESKA – Só tem um homem que eu sonho em fazer isso. Um único.

Eleandro se aproxima.

ELEANDRO – Posso saber quem é?

Os dois se olham, respiração ofegante. Nesse instante um carro preto aparece e para perto dos dois.

VALESKA – Meu Uber chegou. Outra hora a gente termina esse papo.

Valeska entra no carro, que dá partida.

Em Eleandro.

CENA 20. STOCK SHOTS. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: SO NICE – BEBEL GILBERTO

Imagens bucólicas do dia amanhecendo no Rio. O corcovado, o Pão-de-Açúcar, pessoas caminhando pela orla de Copacabana, correndo em volta da Lagoa Rodrigo de Freitas.

CENA 21. CASA DE JOANNE. FACHADA. EXT. DIA.

A sonoplastia vai dando lugar ao barulho de um celular despertando.

CENA 22. CASA DE JOANNE. QUARTO. INT. DIA.

ABRE em PLANO FECHADO no celular despertando e sendo desligado pela mão de Joanne.

JOANNE (V.O) – Meu Deus, que dor de cabeça! Pra que eu fui beber?

PANORAMA do ambiente. Joanne seminua deitada na cama ao lado de Élio, que permanece dormindo. Ela olha para o lado e se assusta.

JOANNE – Meu Deus! Élio?

Ela se cobre, um tanto envergonhada. Élio vai acordando vagarosamente, se espreguiça, olha para Joanne e sorri.

ÉLIO – Bom dia, doutora!

JOANNE – Você...Eu. A gente. É isso?

Élio sorri e assente com a cabeça.

Ela se levanta enrolada num lençol e abre as cortinas, fazendo entrar muita claridade.

JOANNE – Acho melhor você ir embora. Mais tarde a gente tem que estar na delegacia, lembra? E eu preciso correr, colocar a...a cachaça pra fora. (tom baixo) E o juízo pra dentro.

Élio se levanta, mostrando estar completamente nu.

ÉLIO (sedutor) – Posso tomar uma chuveirada?

Joanne fica sem jeito.

JOANNE (atarantada) – Vou pegar uma toalha pra você.

Élio sai em direção ao banheiro. Joanne se senta na cama, completamente perplexa.

CENA 23. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

Consuelo está sentada a mesa tomando café, quando Marta aparece.

MARTA – Bom dia, mãe.

CONSUELO – Bom dia! Quanto tempo não desce cedo para tomar café, hein, Marta.

Marta se senta e se serve.

MARTA – Deixei o Kléber dormir até um pouco mais tarde. Mãe, eu tô radiante.

CONSUELO – Lá vem bomba. Faz favor, Marta, não estraga meu dia já nas primeiras horas, não. Deixa pra me contar via aplicativo daqui uma semana, pode ser?

MARTA – É coisa boa mesmo, mãe.

Consuelo a olha séria.

CONSUELO – O que é? Desembucha.

Marta sorri e alisa a barriga.

CONSUELO – Diz logo, Marta. Eu não sou adivinha e nem tenho superpoderes feito esses pretos macumbeiros.

MARTA – Minha regra tá atrasada um mês e meio. Eu tenho quase certeza de que tô grávida.

Consuelo a olha com desdém.

CONSUELO – Na sua idade, Marta? Já passou dos quarenta, tá ali dividindo campo com metade do século, minha filha. Se não teve filho jovenzinha, fica feio ter nessa altura do campeonato. Fora que pode ter complicação, ter depressão, o corpo não volta mais ao normal, e o pior: a criança pode vir com defeito. Já imaginou um defeituoso andando por essa casa?

Marta olha chocada para Consuelo.

MARTA – Eu me recuso a acreditar no que a senhora acabou de dizer, de vociferar. Como pode ser tão venal?

CONSUELO – Eu sou realista. Mas fico feliz pela sua aquisição. Saiba que filho não é garantia de marido fiel.

Consuelo se levanta e vai saindo, quando vira-se para Marta.

CONSUELO – Não é garantia nem de marido. Abre seu olho.

Consuelo sai. Em Marta, em choque.

CENA 24. LAGOA RODRIGO DE FREITAS. EXT. DIA.

CAM busca Joanne em traje esportivo correndo em volta da lagoa. Ela olha o relógio, acelera e para próximo a uma árvore, se escora nela.

***FLASHBACK CAPÍTULO 03: CENA 18. CASA DE JOANNE. RUA. EXT. NOITE.***

Joanne desce do carro acompanhada de Élio. Os dois visivelmente bêbados.

JOANNE – Agora você vê, Élio, eu fui chamada de besta.

ÉLIO – Isso não pode. Tá errado.

JOANNE – Malditos homens.

ÉLIO – Malditos homens que não sabem tratar bem uma mulher.

Joanne vai andando em direção ao portão, até que para, tira os saltos e olha para Élio.

SONOPLASTIA: AMOR MAIOR – JOTA QUEST

JOANNE – E como é que se trata bem uma mulher?

Élio se aproxima e beija Joanne ardentemente.

***FIM DO FLASHBACK***

A sonoplastia continua. Joanne coloca as duas mãos sobre o rosto.

JOANNE – Isso não podia ter acontecido. Não podia!

Joanne volta a correr. CAM aérea a acompanha.

MÚSICA CESSA.

CENA 25. MANSÃO MAGALHÃES. GABINETE. INT. DIA.

Tamires está sentada de frente para Consuelo, que a analisa dos pés à cabeça.

CONSUELO – Eu não sei se te passaram bem as informações, mas procuro uma jovem para ser minha dama de companhia. Circular na alta roda da sociedade carioca comigo.

TAMIRES – Sim. A minha irmã me explicou tudo muito bem.

CONSUELO – Lhe darei um bom ordenado, além de alguns cursos de idiomas, boas maneiras. Pois vi que você se esforçou, mas é xucra.

TAMIRES – Estou aberta a tudo isso e muito grata pela oportunidade, dona Consuelo.

CONSUELO – Há coisas que deve saber, garota: odeio puxa-sacos, assuntos de família ficam em família e se engravidar é rua.

Consuelo se aproxima de Tamires, olhar intimidador.

CONSUELO – Entendidas?

TAMIRES – Sim!

CONSUELO – Boa garota. Me aguarde aqui, já volto!

Consuelo sai. Tamires se levanta, olha tudo ao redor, quando Kléber de supetão.

KLÉBER – Consuelo, você sabe onde a Marta foi? (interrompe a própria fala)

Tamires vira-se para Kléber e sorri.

TAMIRES – Bom dia, senhor.

Kléber olha encantado para Tamires.

KLÉBER – Que dia que pode ser ruim ao encontrar uma deusa como você? E, por favor, não me chame de senhor.

Kléber se aproxima, beija de forma cortês a mão de Tamires.

KLÉBER – Sou Kléber, qual a sua graça?

TAMIRES – Tamires, a nova dama de companhia de dona Consuelo.

Kléber ri.

KLÉBER – Dama de companhia? A Consuelo é louca mesmo. O bom é que moraremos na mesma casa. Te ver todos os dias será um colírio.

TAMIRES – O senhor, quer dizer, você é muito gentil.

Kléber olha no relógio de pulso.

KLÉBER – Bom, Tamires, agora eu preciso ir. Tenho uma reunião importante. Saiba que foi um prazer te conhecer.

Kléber sai. Tamires sorri.

CENA 26. STOCK SHOTS. EXT. DIA.

SONOPLASTIA: PRA MINHA MINA – BOM GOSTO.

Tomadas de bairros suburbanos do Rio de Janeiro. Trens cortando a cidade. Ônibus lotados parando nos pontos. Camelôs e mototáxis circulando.

Close numa placa na Avenida Brasil com o letreiro: PRAZERES.

MÚSICA CESSA.

CENA 27. PONTO DE MOTOTÁXI. EXT. DIA.

Eleandro está de pé ao lado de um rapaz, quando Valeska passa.

ELEANDRO – Bom trabalho, Valeska.

Valeska sorri e acena.

ELEANDRO – Mermão, gente boa tá aí.

RAPAZ – Valeska?

ELEANDRO – Papo bom, é inteligente e gente da gente. Nascida e criada no Prazeres e fala com geral. Diferente de umas e outras que tem aí.

RAPAZ – Tá falando da sua musa Tamires, né?

ELEANDRO – Tamires é muito nariz em pé. Muito cheia de dengo, cara. Ela quer gente rica, sonha com luxo.

RAPAZ – Quem não sonha?

ELEANDRO – Até posso sonhar, mas eu prefiro ter uma vidinha tranquila ao lado de quem eu gosto. Olha nos filme, nas novela. Lá mostra tudo isso. Quem casa com rico sem amor é infeliz.

RAPAZ – É fase. Daqui um tempo a Tamires cai em si.

ELEANDRO – Será? Eu tô partindo pra outra. Tamires num é mulher pra mim não, mano. Tamires, como ela mesma sempre deixou claro, tá num patamar mais elevado. Não tenho cacife pra bancar.

Eleandro sobe na moto, coloca o capacete.

ELEANDRO – Deixa eu trabalhar, que Tamires não dá futuro, não.

Eleandro dá partida na moto e sai disparado.

CENA 28. AEROPORTO INTERNACIONAL. SAGUÃO. INT. DIA.

Fluxo normal de pessoas. Entre elas, Esther, que aguarda ansiosa. Até que Lucas (35 anos, branco, cabelo preto, alto) vem em sua direção. Os dois se abraçam calorosamente.

ESTHER – Meu filho!

LUCAS – Que saudade, mãe.

ESTHER – Vamos pra casa? Você deve estar exausto da viagem.

LUCAS – Estou mesmo. E com fome também.

ESTHER – Mamãe fez aquele salmão pra você.

LUCAS – Que delícia.

Lucas e Esther caminham em direção a saída.

CENA 29. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.

Joanne e Daiana estão sentadas uma de frente para outra.

JOANNE – Daiana, eu te trouxe aqui por dois motivos. O primeiro é que a investigação em torno da morte da Tânia chegou no estágio de interrogar as vítimas, o que é de praxe e fundamental.

DAIANA – E a outra coisa?

JOANNE – A morte do Teodoro, que de fato está ligada a morte da Tânia. Como você sabia que ele tinha conhecimento de quem havia matado a Tânia?

DAIANA – Desde que a Tânia morreu, o Teodoro ficou estranho, tinha medo de atender o celular. Mas eu sei que ele falava com alguém que o ameaçava.

JOANNE – E você não sabe quem é?

DAIANA – Não sei. Quando eu tentava me aproximar, ele desligava.

JOANNE – Qual a sua relação com o Teodoro?

DAIANA – Eu trabalhava com ele há muito tempo. Uns dez anos, mais ou menos. Mas a gente nunca teve uma relação de amizade mais próxima.

JOANNE – O que sabe da vida do Teodoro?

DAIANA – Que ele tem um irmão. Um irmão e uma mãe. Uma vez ele me disse o nome da mãe dele. Eu lembro que ele sempre falava dela.

JOANNE – Talvez essa mãe ou esse irmão nos ajude a entender algo do passado do Teodoro.

DAIANA – Esqueça. Ele e o irmão romperam na adolescência. Acho que nem tinham mais contatos. Mas a mãe eu sei que ainda é viva.

JOANNE – Tenta lembrar o nome.

DAIANA – Dona Maria José. É esse o nome. Maria José. Ele falou uma vez.

Joanne se levanta. Anda de um lado para o outro.

JOANNE – Maria José, Maria José, por onde andarás?

DAIANA – Isso eu não sei. Com o outro filho, ou num asilo, ou morando sozinha. Deve ser uma dessas.

Joanne põe as mãos sobre a cabeça, respira fundo.

JOANNE – Tá liberada, Daiana. Mas não saia da cidade.

Daiana sai. Joanne fica pensativa.

CENA 30. MANSÃO DE ESTHER. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

Lucas está sentado ao piano, tocando. Quando Esther aparece e o admira. Tempo na canção.

ESTHER – Pianista igual ao seu pai.

LUCAS – Meu pai encantava a Suécia inteira. Eu só encanto a senhora.

ESTHER – Ah, meu filho! Hoje irei lhe apresentar a Congregação Deus e Terra. Lá eu me sinto tão bem.

LUCAS – Se lhe faz feliz, já me faz feliz.

ESTHER – Eu vou tomar um banho, a cabelereira deve estar a caminho. Quero estar linda hoje a noite na igreja. Com licença!

Esther sai. Lucas volta a tocar. Pouco depois a campainha toca, ele se levanta e atende.

LUCAS – Pois não?

Lucas e Sabine se olham. Os dois sorriem e se encantam.

CENA 31. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.

Joanne está sentada a mesa, digitando algo no computador, quando Élio entra.

ÉLIO – Achou alguma suposta Maria José, doutora?

JOANNE – Nada. Mas ela deve ser do Rio, né?

ÉLIO – Será? De onde o Teodoro era?

JOANNE – Preciso pesquisar nos documentos dele.

ÉLIO – Acho que antes seria melhor a senhora ver isso.

Élio entrega um papel para Joanne.

JOANNE – É o relatório... E ele diz que as peças da Joalheria Cintra eram/

ÉLIO (por cima) – Falsas! Tudo roubado era falso.

Em Joanne, surpresa.


Autor:

Wesley Alcântara

Elenco:

Carolina Ferraz como Joanne Andrade
Dalton Vigh como Kléber de Magalhães
Deborah Evelyn como Marta Beatriz Castelo Branco de Magalhães
Marco Pigossi como Edgar Zampari
Letícia Persiles como Sabine dos Anjos Souza
Rômulo Estrela como Élio Fiúza
Marcello Melo Jr. como Eleandro Silva
Caio Paduan como Lucas D’Ávila
Narjara Turetta como Daiana Oliveira
Gabriella Mustafá como Tamires dos Anjos Souza
Luka como Ayres Costa
Cauã Reymond como Valeska Moretti
Ângela Vieira como Esther D’Ávila

Atores Convidados:

Stenio Garcia como Orestes Blumenau
Francisco Cuoco como Bastião Souza

Atrizes Convidadas:

Eva Wilma como Consuelo Castelo Branco
Zezé Motta como Dos Anjos

Participações Especiais:

Cris Vianna como Tânia dos Anjos
Carmo Dalla Vecchia como Teodoro Malta

Trilha Sonora:

Martelo Bigorna – Lenine (abertura)
Pesadão – Iza feat. Marcelo Falcão
Pra Minha Mina – Bom Gosto
Corpo Sensual – Pabllo Vittar feat Mateus Carrilho
For You – Rita Ora
Amor Maior – Jota Quest
So Nice – Bebel Gilberto

Produção:


Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.