- O que você fez? – Indaga Adam.
- Arranquei o mal pela raiz, matei aquele desgraçado.
Adam faz uma careta de surpreso.
- Bem, eu lutei com o administrador dessa facção e o algemei em um ferro.
- Será que ele consegue fugir? – David pergunta.
- Acho pouco provável.
- E o Patrick?
- Parece que não está aqui no navio.
Diversos barcos da polícia brasileira deslizavam em direção ao transatlântico. Enquanto a polícia federal prendia os traficantes e confiscava as drogas e armas com a ajuda da agência de inteligência civil, David e Adam descem para o porto do Rio de Janeiro, salvos.
David teve um tempo para pensar, mesmo com o barulho dos helicópteros, sentia a presença da mãe lhe observando, era complicado, nunca conseguiu superar a perda, mas percebia que ela ia estar lhe acolhendo, em qualquer lugar que estivesse.
A polícia brasileira com o apoio da Interpol não ia conseguir cessar a organização mafiosa que movimentava 37% do narcotráfico e do contrabando de armas em escala mundial e mais de 70% em nível nacional. Mesmo com Junior Brandão morto e Herbert Viana preso, sendo enviado para uma cadeia de segurança máxima, dava para controlar a conjunção apenas no Brasil com grande parte dos capangas atrás das grades, mas e no restante do planeta? Teriam que dar um passo de cada vez, o "cérebro" já tinha de sido detonado e mais do que nunca os países tinham que se coligar.
Era quase uma hora da manhã e David estava a mais de 20 mil pés de altitude dentro do avião da FAB (Força Aérea Brasileira) regressando a São Paulo,finalmente sua vida voltaria ao normal depois daquele pesadelo. Ainda era madrugada quando saltou do carro no bairro onde morava, o patriarca o aguardava junto com os amigos, Matheus e Jefferson, Dona Hilda, Professora Maria, Amanda Lopez e Andressa Yamashita. David abraçou cada um deles, regressou como um vencedor dessa guerra, a pagina tinha virado e agora pode seguir adiante.
Agora tudo parece um sonho, inclusive sair na rua sem ter a leve sensação de estar sendo seguido. Os dias transformaram-se em meses, David estava feliz ao lado de Andressa e junto aos amigos, na escola as notas são as melhores da sala como de praxe. Amanda Lopez segue namorando firme Adam Smith, o que parecia apenas um namoro típico, agora é quase um casamento.
15 de outubro de 2015.
Falta apenas um dia para o aniversário de David, o garoto encontra-se acomodado na sala de português fazendo uma atividade. Ao ouvir o barulho do sinal, espera todos saírem da sala para finalmente conversar com a professora Maria.
- Lembra do primeiro dia de aula? – Ele indaga.
- Eu falei que tínhamos algo em comum. A morte de pessoas que amamos e você, foi além de ficar só a margem e prosseguiu em uma rota, que os covardes não teríamos mesmos punhos.
- Amanhã é o meu aniversário professora e quero te convidar para uma pequena confraternização que vai ter lá em casa, apenas com alguns amigos, coisa básica.
- Pode me esperar.
David contempla a face da professora, os dois sempre se entenderam apenas no olhar, o garoto retira-se da sala, caminhando entre os corredores ao lado dos dois amigos.
- Isso está prestes a acabar. – Jefferson começa a falar. – Só de pensar que ano que vem, não estaremos aqui, vamos ser amigos a vida toda, mas a escola sempre foi o centro de tudo. Por mais que seja chato vim para cá, é difícil pensar em sair.
Jefferson, Google e David acomodam-se no banco entre os corredores para prosseguir o diálogo.
- Um dia seremos pais, avós e isso aqui é uma lembrança.
- Isso mesmo Google, passageiro. – Disse David.
- Estão ligados no The Big Bang Theory? Vamos marcar um dia da semana, que sempre vamos nos encontrar ou na casa de um de nós, ou, por exemplo, num restaurante.– Matheus sugere uma ideia.
- Ainda acho cedo para pensar no amanhã, vamos deixar acontecer, ainda falta dois meses para o final do ano. – Justifica Jefferson.
David se levanta ao avistar Andressa subindo as escadas, ele a puxa para um local mais reservado próximo da saída de emergência no terceiro andar, para que ambos os lábios se encontrassem um intenso beijo.
- Preciso te mostrar uma coisa que escrevi faz um certo tempo.
- O que é David?
O adolescente retira uma carta do bolso e entrega nas mãos da namorada, meio envergonhado.
- Escrevi alguns dias antes de ser testemunha de um crime.
Andy começa a ler cada palavrinha transcrita na folha de caderno:
"Querida Andressa, tinha que escrever o que estou sentindo ou não aguentaria mais respirar, talvez não sinta o mesmo, o que é bem obvio, mas quero que saiba que tu iluminas a minha jornada chamada: vida. Lembro-me vagamente o dia o qual nos conhecemos, sempre conversamos pouco, mas acredito esse ano será diferente, assim como numa música, esse é o nosso destino de viver juntos, estou apaixonado por você, simplesmente viciado em seu perfume,como uma criança anseia pelos doces, infelizmente não estamos caminhando em plena meia-noite. "
- É simplesmente perfeito.
- Achou mesmo?
- É uma linda carta, pena que não me entregou antes.
- Estava com medo.
- Não deveria, o sentimento sempre foi recíproco.
- Ainda não acredito que isso é verdade, sabe?
- Porquê?
- Tudo parece mais um sonho, um devaneio adolescente.
- Foram dias de tristeza.
- Sim, finalmente desvendei o mistério, o seu enigma.
- Que enigma?
- O do seu olhar, sempre achei você muito tímida.
- E ainda sou, a diferença é que você me conhece agora.
- E te amo muito.
Mais um dia de aula se acaba, David segue andando para casa, os amigos foram fazer um trabalho na biblioteca do C.E.U e Andressa Yamashita ajudar o restaurante da família, os pais da garota alegres como nunca, não apenas com os negócios, também com o lar. Ao chegar em casa e assear-se, o garoto esquenta seu prato no micro-ondas e começa a se alimentar, tomando um suco de maracujá, a campainha branda algumas vezes, ao abrir o portão da garagem espanta-se com a visita, trata-se de Adam, seu novo e velho amigo.
- Tudo bem, Adam?
Os dois infiltram-se na sala, sentando no estofado.
- Como anda a vida do melhor agente civil do Brasil?
- Muito boa.
- E a família? Cadê a Amanda e o Nick?
- Em casa, os dois se dão bem juntos.
- Com certeza.
- E como está a Andressa e os seus amigos?
- Todo mundo triste, pois vamos sair da escola.
- É uma época de amadurecimento. Você escolheu a sua profissão?
- Depois de tudo que aconteceu, penso em me tornar um agente secreto que nem você Adam ou um advogado.
- Seria muito bom te ter como colega de trabalho.
- Adam, uma curiosidade, ainda tem notícias do Patrick Salvatore?
- Infelizmente não, parece que fugiu do país.
Os dois conversaram por bastante tempo, colocando o papo em dia, Adam vai embora deixando o adolescente sozinho na morada, aguardando o pai. Aquele momento era de expectativa para o futuro, amanhã seria o dia de sua maioridade, pode fazer o que quiser agora nos seus 18 anos, deve carregar muitas responsabilidades nas costas.
A noite acoberta a metrópole, seguindo da madrugada e de uma nova manhã, um novo tempo para David, não haveria aula por causa do conselho de classe. Ao despertar e observar o relógio, leva um susto de Dona Hilda, que tem essa mania de vê-lo dormindo.
- Feliz aniversário, trouxe um presente!
Hilda entrega ao garoto o embrulho azul com um pequeno laço, ao abrir, maravilha-se ao tocar no acrílico da embalagem do CD, do cantor britânico Ed Sheeran: X.
- Obrigado Dona Hilda, é o meu álbum favorito!
- Você merece, é simples, mas de coração.
- É tudo o que eu queria nesse momento.
Dona Hilda tinha muitas coisas para ajeitar, lanches e salgados para fazer, e o bolo do aniversário feito de chocolate meio amargo, o predileto de David. A senhora tem apenas um filho crescido e um neto, mas ambos moram em outro estado, o adolescente é que nem uma família.
As visitas começam a chegar cedo, para ajudar, Jefferson, Matheus e Andressa que começa a arrumar a casa e montar uma pequena decoração na sala, com as melhores fotos de David, desde que se conheceram. A professora Maria adentra na casa com uma caixa embrulhada para presente.
- Esse é um presente de nós quatro, eu a Andressa, Jefferson e Matheus.
David faz uma cara de espanto.
- Posso abrir?
- Não vejo nenhum problema né gente?
Em pleno acordo, David rasga o papel de presente e se assusta ao contemplar o seu videogame dos sonhos, o Xbox One.
- Não dá para acreditar galera, vocês são doidos, muito obrigado.
- Você merece isso amor.
Andressa se aproxima e beija o garoto.
A campainha toca novamente, trata-se de Adam, Nicolas e Amanda, aquele presente ainda era maior, as principais pessoas de sua vida, reunida em apenas um ambiente, faltava uma mais especial, o patriarca.
Nick abraça o adolescente.
- Eu estava com saudades de você. – Afirma a criança.
- Também Nick, sumiu.
- Você quase não vai visitar a gente.
Amanda esboça um sorriso ao ficar de frente com o amigo, os dois enfrentaram muitas coisas juntos e agora estão libertos daquela temporada de horror.
- Ainda sinto falta daqueles momentos. – Ironiza Amanda.
- Foi um ensinamento.
- Para nós dois.
Escuta-se uma buzina do lado externo, David corre para saber de quem se trata, é do pai que salta de um veículo simples, provavelmente usado, comprado de algumas economias, esse é o seu presente para o filho, que tinha se tornado um homem íntegro. Roberto abraça o garoto, da mesma forma que sempre o abraçou desde a infância no interior de São Paulo.
- Eu te amo, pai.
- Também te amo filho, mas terá que tirar sua carteira primeiro, agendei tudo e suas aulas começam semana que vem.
- Sério?
- Sim.
- Dois presentes? Você é o melhor pai do mundo.
- Eu não era antes?
- Sempre foi!
Os dois sorriram, David pode retornar para o interior da morada, sente uma pequena tontura e eleva-se para o segundo andar. No quarto encontra uma pequena caixinha branca acima da escrivaninha, provavelmente uma nova lembrança.
- Dona Hilda atacando novamente!
Ao abrir divisa uma foto sua de minutos atrás, com uma pequena legenda escrita de caneta vermelha: AINDA NÃO ACABOU.